Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
História da Arte Moderna Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Pio de Souza Santana Revisão Textual: Profa. Esp. Natalia Conti 5 Nesta unidade você vai conhecer dois importantes movimentos artísticos que deram início à História da Arte Moderna na Europa. São eles: o Impressionismo e o Pós-Impressionismo. O principal objetivo desta unidade é levá-lo a compreender os aspectos mais relevantes destes dois temas. Abordar o Impressionismo e o Pós-impressionismo; fazer reconhecer seus artistas, suas especificidades e características; facilitar o aprendizado estético entre os dois temas. Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante · Introdução · O Impressionismo · O pós-impressionismo 6 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante Contextualização Toda vez que chega ao Brasil e em outros países uma exposição dos Impressionistas ou dos artistas do Pós-impressionismo, podemos prever que, durante a exposição, teremos que esperar até quatro horas numa fila gigante, para entrar no museu. Sabe por quê? Por conta do grande sucesso que esses artistas fazem. Sobretudo os do Impressionismo, que é uma pintura totalmente colorida e agradável para a nossa retina. Ela nos emociona. Para entender esse sucesso, inicio esta unidade convidando você a conhecer os impressionistas. Para isso, vamos focar primeiramente em Claude Monet, por ser considerado o artista mais popular e significativo do movimento. Você perceberá como surge o termo Impressionismo e muito mais! Portanto, vamos ver este vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=hcDqgfbD7GI Gostou? A pintura impressionista é envolvente, empolgante para os nossos olhos, nos emociona e nos remete à contemplação da luz e sobra do sol refletida em suas mais diversas paisagens da vida cotidiana, trazendo consigo as vibrantes cores da natureza, captadas instantaneamente pelo artista. Além de Monet, vários outros artistas participaram desse movimento. Entre eles: Auguste Renoir, Edgard Degas, Paul Cezanne, Camile Pissarro, Alfred Sisley, Édouard Manet e Gustave Courbet. Estes dois últimos foram os pioneiros. Na sequencia você verá o Pós-Impressionismo. Um mapeamento de grandes artistas que não foram contra o impressionismo, mas sim, reagiram às limitações impostas por aquele movimento. Tal reação trouxe a retomada de alguns aspectos acadêmicos, como a volta dos contornos e estrutura da forma. O Pós-impressionismo abriu o leque para muitas outras descobertas artísticas que revolucionaram a História da Arte Moderna. Vamos conhecer? 7 Introdução O Impressionismo e o Pós-impressionismo foram importantes eventos artísticos que ocorreram na Europa, sem data precisa, na cidade de Paris, no final do Século XIX e com muita força, influenciaram toda a arte do Século XX. Para iniciarmos nossa reflexão, partiremos do Impressionismo. O Impressionismo Foi um movimento que surgiu como uma espécie de rebeldia artística de um grupo de jovens amigos na faixa entre 23 e 31 anos de idade, que na época, se conheceram em Paris, numa escola de arte de nome Academia Suíça, por volta de 1860. Os amigos almejavam produzir uma pintura diferente daquela já consolidada há tempos na Europa e presente nos grandes museus. Nessas instituições de até então, havia coleções de pinturas de diversos períodos da História, abordando múltiplos temas da humanidade, pintadas de modo naturalista. Isto significa que essas pinturas parecem fotografias do mundo real. Você pode ter uma ideia desse naturalismo, obsevando as imagens abaixo. São de coleções pertencentes aos períodos da arte renascentista, neoclássica e do realismo. Um sucesso naquele momento. Renascentista: Neoclássica: Realismo: “Mona Lisa” (1503-6), Leonardo da Vinci (1452–1519) “O Juramento dos Horácios” (1784), Jacques-Louis David (1748-1825) “Bonjour, Monsieur Courbet” (1854), Gustave Courbet (1819–1877) 8 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante O Público, assim como os críticos de arte e os historiadores apreciavam com muito orgulho esse tipo de pintura naturalista ou “do natural”, produzida pela academia. No Século XIX, para ganhar notoriedade, respeito e fama, os artistas tinham que produzir pinturas com técnicas muito apuradas, que revelassem detalhes de um realismo quase fotográfico e encantador conforme essas imagens que vimos. Mas, inconformados com esse modelo de pintura naturalista, os jovens queriam inovar. Assim como hoje, o espírito do jovem de todos os tempos não muda! Eles queriam dar outro rumo para a pintura, trazer para a cena artística uma nova forma de representar a realidade. Estavam dispostos a mostrar no Salão Oficial da Real Academia Francesa, uma pintura que pudesse revelar essa inquietação, uma vez que viviam na cidade de Paris, a mais moderna do mundo e buscavam inovações para a arte e, sobretudo, por meio de suas pinturas. É importante saber que o Salão Oficial era o espaço mais nobre da arte. O artista que conseguia ser selecionado a participar com sua arte das grandes exposições do Salão, estava com a vida artística encaminhada para o sucesso e o respeito do público e da crítica. Para os jovens, a tarefa não foi fácil. Inscreveram-se para a seleção do Salão Oficial de 1863, apresentaram suas pinturas, mas, infelizmente ou felizmente, foram recusados. Para o júri, que também era composto por artistas acadêmicos, as pinturas desses jovens mostravam-se inacabadas, grotescas, rebeldes, de mau gosto, de quem não sabia mesmo pintar. Mas não ficou assim tão fácil para o júri. Houve um forte barulho de tal modo que: Seguiu-se uma onda de agitação que levou as autoridades a expor todas as obras condenadas pelo júri numa mostra especial que recebeu o nome de “Salon dos Recusados”. O público afluiu principalmente para rir dos pobres e desiludidos principiantes que se haviam recusado a aceitar o veredicto dos seus superiores. Esse episódio marcou a primeira fase de uma batalha que duraria cerca de 30 anos. (GOMBRICH, 1995, p. 514). Como vemos, o Salão dos Recusados acabou acontecendo paralelamente ao Salão Oficial dos Artistas Franceses, da Real Academia Francesa de Pintura e Escultura de 1863, e foi um marco na História da Arte Moderna. Veja abaixo quem foi um dos jovens pintores e uma das pinturas do Salão dos Recusados: “Almoço na Relva” (1862/3), Édouar Manet 9 Podemos ver que Almoço na Relva, de Manet, foge daquele rigor presente na pintura realista. O primeiro estranhamento apontado pela crítica é o tema, onde se vê uma mulher nua num bosque, conversando com dois homens vestidos. Um “escândalo” para a sociedade. O segundo é o modo de pintar: sem sombreamentos, poucos contornos, sem profundidade a ponto de ter a mulher vestida no centro, apesar de distante dos outros personagens, tem erro na representação da perspectiva e parece quase voando... Era isso mesmo que Manet queria. Ele não estava interessado em fazer uma pintura aos moldes do realismo acadêmico, considerado para ele, coisa do passado e sim, uma pintura que, segundo Janson (1996, p. 330) “é um manifesto de liberdade artística, afirmando o privilégio do pintor de combinar quaisquer elementos que lhe agrade, visando apenas ao efeito estético”. Isto significa que a pintura de Manet começava a se preocupar em ser um espaço de manifestações e expressões pictóricas. Além de Manet, outros dois nomes que hoje são muito conhecidos, também participaram do Salão dos Recusados, são eles: Paul Cézanne e Camille Pissarro. Mas, como citou Gombrich, as recusas repetiram-se em vários outros Salões, até que onze anos após, em 15 de abril de 1874, aconteceu outro evento marcante na História da Arte e talvez o mais significativo, que foi o seguinte: Cansados de serem recusados nos Salões Oficiais, cerca de 30 artistas resolveram fazer uma exposição no ateliê do Sr. Félix Tournachon, um fotógrafo entusiasta da arte, mais conhecido pelo apelido de Nadar se solidarizava com os artistas nasituação de recusados. Entre eles estavam: Claude Monet, Paul Cézanne, Auguste Renoir, Edgar Degas, Camille Pissarro, Alfred Sisley e Berthe Morsot. Nadar Claude Monet Paul Cézanne Auguste Renoir Edgar Degas Camille Pissarro Alfred Sisley Berthe Morsot Imagens: Wikimedia Commons 10 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante A exposição é inaugurada no ateliê de Nadar, porém não bem recebida pelo público e muito menos pela crítica. Os visitantes muitas vezes ficavam indignados, zombavam da qualidade dos trabalhos e riam. Somente alguns intelectuais e artistas apoiavam os artistas. Essa exposição durou um mês de exibição. O mais radical e inimigo da exposição foi o Sr. Louis Leroy, crítico popular da imprensa parisiense naquele momento, escreveu um artigo intitulado “A exposição dos impressionistas”, conforme vemos: “Selvagens obstinados” - escreveu Louis Leroy - “não querem, preguiça ou incapacidade, terminar os seus quadros. Contentam-se com uns borrões que representam as suas impressões. Que farsantes! Impressionistas!”. A denominação impressionista, dada assim pejorativamente, fez sucesso nos meios artísticos. (CAVALCANTI, 1978, p. 72). Nessa crítica, o termo “impressionistas” que Leroy usou foi fazendo referência ao título de um quadro de Claude Monet: Impressão, sol nascente. Veja abaixo a imagem dessa pintura: “Impressão, sol nascente” (1872), Claude Monet É muito comum encontrarmos o título dessa obra traduzido como: Impressão, sol nascente; Impressão, nascer do sol; Impressão, sol nascendo; Impressão de um amanhecer. Mas o título original é: Impression, soleil levant. 11 Como podemos ver em Impressão, sol nascente, Monet estava decidido a usar cores intensas e ousadas, com pinceladas soltas, sem preocupação nenhuma com contornos e formas estruturadas da imagem. Assim como ele, seus outros jovens amigos inovaram os rumos da Pintura Moderna, tanto usando dessa técnica como também na temática, cujo objetivo era sair do ateliê para pintar ao ar livre. O artista Edgar Degas, além de produzir cenas urbanas e ao ar livre, fica muito conhecido com as pinturas das bailarinas. Veja como a imagem abaixo mostra uma cena de momento íntimo, de uma possível reunião para ouvir as orientações do mestre no ensaio da dança. É um enquadramento da cena, semelhante a um flash fotográfico do cotidiano. Podemos ver bailarinas com seus corpos incompletos, quase fora de cena. Degas estava interessado em registrar isso mesmo: o momento, o movimento rápido e passageiro. “A aula de dança” (1875), Edgar Degas Para finalizar, é importante saber que os artistas de todos os tempos, por meio de sua arte, de modo consciente ou não, anunciam ou apropriam-se das tecnologias disponíveis no seu tempo. Portanto, os valores expressivos do impressionismo estão em diálogo com as experiências e conquistas da ótica, da física e da química moderna daquele momento. Portanto, a pintura impressionista é eminentemente visual, é para os olhos, numa relação entre homem e natureza, ignora a alma. É inspirada no realismo momentâneo de registrar a sensação da luz do sol, da cor e suas sombras fluidas na paisagem. Uma pintura compacta, que imprime o dinamismo do universo, demonstra que tudo está em constante movimento. Sem contornos e estrutura, simplifica a forma, dá a ideia de totalidade, colorida e, sobretudo, produzida fora do ateliê do artista, em sua maioria ao ar livre. Na segunda metade do Século XVIII, artigos de porcelana do Japão chegavam à Europa e eram objetos de desejo dos colecionadores. As gravuras populares japonesas, consideradas uma sensação à parte. Pois, ilustravam as histórias populares daquele país, desconhecidas no Ocidente. Mostravam a moda e os entretenimentos da vida urbana, de modo muito curioso, colorido e atraente. Chamava atenção a forma de como eram elaboradas: transpareciam nitidamente o movimento preciso e rápido do pincel do artista japonês. Os artistas europeus, sobretudo os franceses as adoravam. Essas gravuras fizeram muito sucesso e influenciaram a Arte Moderna. 12 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante O Pós-impressionismo O Pós-impressionismo não foi um movimento, mas sim, um termo que mapeou o surgimento de produções individuais e inovadoras, de alguns artistas que vinham ou eram influenciados pelo impressionismo. Esses artistas não formavam um grupo e muito menos compartilhavam de um objetivo comum. O termo “pós-impressionismo” é usado para descrever as obras dos seguintes artistas: Paul Cézanne, Vicente Van Gogh, Paul Gauguin, Georges-Pierre Seurat. Vamos conhecê-los? Paul Cézanne Paul Cézanne, francês (1839-1906), era um artista que vivia entediado por conta de ser constantemente recusado dos Salões Oficiais e desejar o reconhecimento que merecia. Descontente de tudo desliga-se definitivamente dos impressionistas e em 1886, sendo de família rica, muda-se de Paris para isolar-se em sua casa no sul da França, em Aix-en-Provença. Paul Cézanne no início da carreira pertenceu ao grupo dos impressionistas, por ter participado de duas exposições com eles. A primeira em 1874 e a terceira em 1877. Depois disso abandonou o grupo. Autorretrato (detalhe), 1875. O objetivo desse isolamento era mergulhar numa experiência solitária com sua arte, uma vez que não acreditava naquela pintura puramente visual dos amigos impressionistas. Fez questão de manter contato apenas com alguns amigos mais próximos como Renoir, Monet e Pissaro, mas preferia não conversar sobre pintura. Mergulhado na produção solitária, Cézanne permitiu-se a observar com acuidade a natureza, revê a literatura e, sobretudo, a pintura romântica, especialmente, Delacroix. Estava se propondo a desenvolver uma pintura consistente, com muita pesquisa e que pudesse traspor a sensação visual da natureza, ao nível da consciência da forma. Numa carta de 1904, ele escreve que é preciso “tratar a natureza conforme o cilindro, a esfera, o cone, o conjunto posto em perspectiva”, e pretendeu-se ver nessa frase uma antecipação teórica do Cubismo, movimento que inquestionavelmente descende de sua pintura, mas interpreta-a em sentido racionalista. (ARGAN, 1992, p. 112). Perceber que na natureza há uma geometrização mental do que se observa, Cézanne trabalhou firmemente com os contornos e solidezes das formas que os impressionistas abandonaram. Como exemplo disso, veja a imagem a seguir: 13 “Mont Sainte-Victoire” (1902-1904), Paul Cézanne. Cézanne produziu várias versões do Monte Sainte-Victoire. Essa versão nos mostra o grau de lucidez estrutural que o artista desenvolveu. Como foi citado por Argan, o artista Picasso vai criar o Cubismo com base nas pesquisas e obras de Cézanne. Veja agora mais obras dele nesse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=5aI8k1V_usU Vincent Van Gogh Van Gogh (1853-1890) foi um importantíssimo pintor holandês que marcou a história. De personalidade pouco sociável, pessoa inquieta, angustiada, vivia questionando sua existência, a condição de estar no mundo e o sentido da vida. Era do tipo que falava a verdade nua e crua, não media palavras e nem poupava ninguém para se expressar. Mas desde criança interessava-se por observar a natureza e era fascinado por flores raras. De família protestante e burguesa, tentou ser comerciante de quadros, vendedor de livros, pastor e missionário, mas nada deu certo. Até que em 1880 foi estudar arte, em Haia, na Holanda e começa a pintar a partir da observação dos camponeses, em seu dia-a-dia.Autorretrato (detalhe), 1887-1888. Em 1886 vai morar em Paris, onde encontra os impressionistas e faz amizade com alguns pintores. Entre eles Toulouse-Lautrec e Gauguin. Nesse momento tem contato com os mais importantes acontecimentos artísticos parisienses e chega à conclusão de que a pintura deveria ser um instrumento de transformação social, verdadeira, viva, intensa e apaixonante. Como podemos perceber, Van Gogh é movido pela emoção. Em 1888, muda-se para Arles, uma cidadede belas paisagens que muito o impressionou. Assim como Cézanne, estava ligado ao impressionismo e gostava das gravuras japonesas. Em Arles, por volta de dois anos, produz uma grande quantidade de obras primas. Veja dois exemplos: 14 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante “Terraço do Café à Noite” (1888), Vincent van Gogh). “A noite Estrelada” (1889), Vincent van Gogh Podemos perceber que tanto em Terraço do Café à Noite quanto em A noite Estrelada, a cor é o elemento mais forte e mais significativo nas pinturas de Van Gogh, nos emociona e salta aos nossos olhos. O outro elemento muito importante de se perceber é o modo como o artista pinta suas obras. Por exemplo, a marca do pincel na obra, dá a sensação de que o artista acabou de pintá-la. Quase sentimos a presença física de Van Gogh, nessas fortes, expressivas e espessas camadas de tintas. Conforme Janson (1996, p. 346): “para o próprio Van Gogh era a cor, não a forma, que determinava o conteúdo expressivo de seus quadros”. Ele queria que sua pintura expressasse o que ele sentia, sobretudo, se apropriando das distorções das imagens para favorecer a ideia de sentimento. Esse modo de operar com densas camadas de tinta, distorções e o uso puro da cor na tela, é a novidade e ao mesmo tempo, a grande contribuição que Van Gogh traz para a História da Arte Moderna. Essa forma de expressão tão particular influenciou o que mais tarde vai se chamar de expressionismo. Veja mais sobre as obras e a vida de Van Gogh, no seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=kWefnelh5M0 Viu como Van Gogh é um artista é importante para a história? Agora vamos ver outro grande artista do Pós-impressionismo. 15 Paul Gauguin Eugène-Henri-Paul Gauguin (1848-1903), pintor Francês, de família de intelectuais, nasceu em Paris. Seu pai era jornalista e a mãe escritora. O Imperador Napoleão III exercia poder absoluto na França entre 1852 e 1858 e perseguia a imprensa. Por motivos autoritários desta política, com a família Gauguin foi viver parte de sua infância em Lima, no Peru, até os 7 anos de idade. Após mudanças no cenário político, em 1855, com a família volta a viver na França e ainda adolescente, aos 17 anos, serviu a Marinha que lhe oportunizou viajar por vários países. Essa experiência pode ter dado a Gauguin o gosto pela observação da natureza e de colecionador de arte. Autorretrato (detalhe), 1896. Chegou a comprar o quadro Fruteira, Copo e Maçãs, de Cézanne. Mais tarde foi corretor de Bolsa com sucesso em Paris, casa-se em 1873 e tem cinco filhos. Dez anos depois de casado, em 1883: Aos 35 anos, entretanto convenceu-se de que deveria dedicar-se inteiramente à arte: abandonou a carreira de negociante e a família e, por volta de 1889, era a figura central de um novo movimento chamado Simbolismo. Seu estilo, embora menos intensamente pessoal que o de Van Gogh, era um avanço ainda mais arrojado para além do Impressionismo. (JANSON, 1996, P. 346). A dedicação absoluta pela pintura autodidata fez Gauguin entrar numa profunda pobreza e, assim como Cézanne, buscar o isolamento. Para isso, em 1888 foi morar com Van Gogh em Arles, cidade onde a vida era mais barata e ali, viver uma experiência de convívio artístico com o amigo. Essa convivência promoveu grandes produções aos dois pintores que admiravam a gravura japonesa. Apesar da amizade que um tinha pelo outro, suas pinturas eram completamente diferentes. Gauguin, além das gravuras japonesas: Estudara também a arte medieval (escultura, tapeçaria e vitrais), a xilogravura primitiva e certos tipos de arte exótica que tinha visto na Feira Mundial de 1889; e sabia que a cor podia ser usada tanto simbólica como expressivamente. (READ, 1974, p. 22). Os estudos de Gauguin soma-se ao seu interesse por religiosidade e por cultura primitiva. Era uma pessoa de ideias originais, dotada de inteligência e sensibilidade artística. Ele dizia que: O pintor não deve ser apenas um olho, que registra as formas e as cores, como acreditavam e faziam os impressionistas. Deve recriar a natureza, conferindo a cada imagem visual um valor simbólico e decorativo, inexistente na realidade, que poderá ser alterada e deformada. (CAVALCANTI, 1978, P. 113). 16 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante Podemos perceber que a deformação e o colorido esplendoroso eram aspectos de interesse comum nas pinturas dos dois colegas. Porém, uma das principais diferenças entre eles é que Van Gogh pintava o que via, já Gauguin o que via, somado-se com o que estava em sua memória e não existia na realidade, como citou Cavalcanti. Nessa convivência vieram as discórdias e Van Gogh, num ataque de fúria quase mata Gauguin. Assustado, Gauguin volta a Paris e de lá, em 1891, vai para a ilha de Taiti, na Oceania, mais tarde muda-se para outra ilha, a de Fatu-Iva, onde morre em 1903, mergulhado numa absoluta pobreza. Foi nessa briga com Gauguin que Van Gogh cortou parte de sua própria orelha. Apesar da triste história de vida de Gauguin, sua pintura foi outro marco importante do Pós- impressionismo. Para Janson (1996, p. 346), “em obras como O Cristo Amarelo, ele tentou representar a fé simples e direta das pessoas do campo” veja abaixo como é uma imagem simbólica e não tem a preocupação em imitar o modelo natural. “O Cristo Amarelo” (1889), Paul Gauguin. Plenamente confiante no que estava produzindo, Paul Gauguin traz para a cena artística uma pintura consistente. Rica em detalhes, inovadora, com temas nada Europeus e como nos diz Janson (Idem, p. 238) “ele aconselhou seus amigos simbolistas a afastarem-se dos Gregos e voltarem-se para a Pérsia, o antigo Egito e o Extremo Oriente”. Veja mais sobre esse artista no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=hjbQhyrJn0c 17 Georges-Pierre Seurat Seurat (1859-1891) foi pintor francês, viveu apenas 32 anos. Nasceu e morreu em Paris, mas nessa curta vida colaborou para uma grande vertente da arte no Pós-impressionismo, como veremos. Estudou desenho numa escola municipal, depois foi para a Escola de Belas Artes e no museu do Louvre estudou os grandes mestres como Ingres, Delacroix, entre outros. Interessado por ciência, mergulhou em estudos de importantes teóricos a respeito dos dados científicos sobre as cores. Em seus experimentos entre 1882 e 1883, dedica-se ao desenho com o desejo de criar algo diferente do desenho tradicional. Retrato, 1888. Nesse exercício, evita criar linhas e inicia desenhando com formas. Ou seja, concentrando massas pretas de tinta e deixando partes brancas da tela, criando assim, desenhos com efeitos de luzes e sombras. Veja isso na imagem ao lado. Feliz com isso resolve de vez abandonar a linha e vai criar suas obras, sobretudo sua pintura, com essa técnica que é uma novidade para Paris naquele momento. Seurat, com os conhecimentos que adquiriu, vai criar uma pintura se apropriando de técnicas científicas, seguindo a lei do contraste, da degradação e da irradiação. E assim, de modo muito especial, faz uma mistura óptica com minúsculos pontinhos de cores, próximos uns dos outros. Essa aproximação de pequenos pontinhos coloridos faz o nosso cérebro somar uma cor com a outra, complementando o valor cromático da pintura. Seurat chama sua técnica de divisionismo, popularmente conhecido por pontilhismo. Veja na imagem abaixo essa forma de pintar do artista. “Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte” (1884-1886), Georges Seurat “Il nodo nero, matita Conté su carta” (1882). 18 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante O divisionismo ou pontilhismo de Seurat é a novidade que entusiasmou o amigo e também artista Paul Signac. Os dois seguiram com essa forma de pintar cuja base de pesquisa foram os estudos científicos. Veja mais obras de Seurat no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=1liX4-pu_6o Conhecemos os artistas Paul Cézanne, Vicente Van Gogh, Paul Gauguin e Georges Seurat, como os principais artistas do Pós-impressionismo. Além deles tivemos outros nomesimportantes como Henri Rousseau, Gustav Klimt e Toulouse-lautrec. Henri Rousseau Henri Rousseau (1844 - 1910), pintor francês, mesmo residindo em Paris, onde a novidade acontecia, interessou-se em desenvolver uma pintura primitivista, uma vertente das ideias de Gauguin. Esta, porém, mais conhecida por arte naïf, de caráter ingênuo e muito significativa para a época. Veja abaixo a imagem de uma de suas obras e saiba mais sobre esse artista no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=aU-KgFyUvIg Autorretrato, entre 1900-1903. “A Guerra” (1894), Henri Rousseau Gustav Klimt Gustav Klimt (1862-1918), pintor austríaco, produziu uma arte de também de caráter simbólico. Veja na imagem abaixo como ele se expressava. Entenda mais sobre a vida e obra de Klimt, no video: https://www.youtube.com/watch?v=7nUq_63xE-A Retrato, 1914. 19 “O beijo” (1907/8), Gustav Klimt/Wikimedia Commons Toulouse-Lautrec Toulouse-Lautrec (1864 - 1901), outro importante pintor francês, interessou-se em retratar a cena boêmia parisiense com pinturas e também com cartazes publicitários. Ele revolucionou o design gráfico e influenciou a Art Nouveau. Na imagem abaixo veja um dos cartazes. Para saber mais sobre ele, veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=0ElV1m1uPFM Retrato, entre 1880-90. “Jane Avril”, (cartaz 1893), Henri de Toulouse-Lautrec. 20 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante A Art Nouveau ou Arte Nova surgiu na Europa entre 1890 e 1910, é essencialmente decorativa, voltada ao design e à arquitetura. É um estilo floreado que imita formas orgânicas, inspiradas em folhagens, flores, cisnes, fogo e outros elementos. Explora os novos materiais da época, como o ferro e o vidro. Na área gráfica, com a técnica da litografia colorida, a Art Nouveau influencia a confecção dos cartazes daquele momento. Veja um exemplo dessa arte, empregada na arquitetura, na imagem abaixo e saiba mais: http://www.dailymotion.com/video/x19l02j_the-history-of-art-nouveau-painting-drawing-artist-documentary_creation Art Nouveau. Detalhe da fachada de um prédio do arquiteto Alfred Wagon, construído em 1905/Wikimedia Commons Chegamos ao final dos principais acontecimentos no Pós-impressionismo. Podemos perceber que, seja nos museus, na arquitetura ou em cartazes, convivemos até hoje com essas estéticas que foram consolidadas desde o final do Século XIX, chegando também ao Brasil. Diante desses conhecimentos, convido-lhe a participar do fórum, que é um ótimo espaço no qual você vai trocar ideias com seus colegas e aprender ainda mais sobre estes dois momentos da artes. 21 Material Complementar Vídeos sobre os artistas do Impressionismo: Claude Monet: ...................https://www.youtube.com/watch?v=hcDqgfbD7GI Edouard Manet: .................https://www.youtube.com/watch?v=CO03cOY1CYo Paul Cézzane: ....................https://www.youtube.com/watch?v=5aI8k1V_usU Auguste Renoir: .................https://www.youtube.com/watch?v=TRb-oQftjOk Edgar Degas: .....................https://www.youtube.com/watch?v=CGqdi53WeaQ Camille Pissarro: ................https://www.youtube.com/watch?v=HKOKiIcABY8 Alfred Sisley: .....................https://www.youtube.com/watch?v=N4ZoCHq7gkQ Berthe Morsot: ..................https://www.youtube.com/watch?v=BbSFTWqFTlQ Mais um artista do Pós-Impressionismo: Paul Signac .........................https://www.youtube.com/watch?v=jv_j2_zQo3k Indicação de livro importante: A pintura da vida moderna. Paris na arte de Manet e de seus seguidores. Autor: T.J. Clark. Editora Companhia das Letras. São Paulo. Museu: Museu dos Impressionistas: http://www.mdig.fr Sites de artistas: Van Gogh: .........................http://www.vangoghgallery.com Paul Gauguin: ....................http://www.paul-gauguin.net Cézanne (em construção): .http://cezannerio.com.br/tapume-pv-2014 Klimt: ................................http://www.klimt.com Toulouse-lautrec: ...............http://www.toulouse-lautrec-foundation.org Filme: Os Impressionistas. Acesso em: http://cantomagia.blogspot.com.br/2013/08/os-impressionistas-impressionismo-filme.html 22 Unidade: Do Olhar Encantado ao Cérebro Pensante Referências ARGAN, G. C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. CHIPP, H. B. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996. STANGOS, N. Conceitos da Arte Moderna: Com 123 ilustrações. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. Bibliografia Complementar BELL, J. Uma Nova Historia da Arte . São Paulo: Companhia das Letras, 2006. DEMPSEY, A. Estilos, Escolas e Movimentos: Guia Enciclopédico da Arte Moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. SCHAPIRO, M. Arte Moderna: Século XIX e Xx: Ensaios Escolhidos. ,v. , São Paulo: Edusp, 1996. HARRISON, C. Primitivismo, Cubismo, Abstração: Começo do Século XX. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. LITTLE, S. Ismos. Entender a Arte. Lisboa: Lisma, 2006. Webgrafia A influência da arte japonesa na representação da espacialidade impressionista. Disponível em: http://www.pucsp.br/iniciacaocientifica/20encontro/downloads/artigos/MARIA_ APARECIDA_CORDEIRO_KATSURAYAMA.pdf 23 Anotações História da Arte Moderna O sentimento da alma e a liberdade de instinto Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Pio de Souza Santana Revisão Textual: Profa. Esp. Natalia Conti 5 Nesta unidade você vai compreender como ocorreu o inicio das vanguardas europeias e o significado dessa palavra. Vai entender que o movimento artístico denominado Expressionismo foi tão importante que influenciou com profundidade grande parte da arte no Século XX, e ainda influencia a produção atual. Em seguida, verá que o chamado Fovismo, que significa “feras”, não foi diferente e tem o mesmo peso influenciador. Conhecerá como os artistas se reuniram e lutaram para que seus trabalhos ganhassem o reconhecimento merecido. Perceberá que a arte atual tem muito desses dois movimentos. Abordar o Expressionismo e o Fovismo, fazer reconhecer seus artistas e obras, suas especificidades, contextos e características; facilitar o aprendizado estético entre os dois movimentos. O sentimento da alma e a liberdade de instinto · Introdução · O Expressionismo · Fovismo 6 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto Contextualização Hoje em dia, quando visitamos um museu que apresenta Arte Moderna, é muito comum encontrarmos obras coloridas, estranhas, com aspecto de “descuidadas” na forma de pintar do artista. Até mesmo chegamos a pensar que “isso eu também faço” ou “parece coisa de criança”, entre outras reações. Esses são os modos de leituras que fazemos, quando não conhecemos a arte que vemos. Veja um exemplo na imagem abaixo: “Fränzi perante uma cadeira talhada” (1910), Ernst Ludwig Kirchner A partir do momento em que conhecemos o contexto daquela “coisa”, automaticamente passamos a gostar, a admirar, aprendemos até a achar “aquilo” muito bonito. Provavelmente isso acontecerá com você, por meio do conhecimento que terá sobre o Expressionismo e o Fovismo, nesta unidade. Portanto, convido você a se envolver numa incrível viagem de conhecimento sobre esses dois importantes movimentos de vanguarda da Arte Moderna. Para isso, faça a leitura do “conteúdo teórico”, assista aos vídeos propostos ao longo do texto e boa viagem! 7 Introdução São importantes movimentos das vanguardas artísticas que surgiram na Europa, no ano de 1905. O Expressionismo aparece na cidade de Dresden, na Alemanha e o Fovismo em Paris, na França. Os dois tiveram influências diretas de Van Gogh, Paul Gauguin, Henri Rousseau e Edvard Munch. Veja esses artistas nas imagens abaixo. O termo vanguarda, do francês avant-garde, é usado para definir os movimentos artísticos como o Expressionismo, Fovismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo entre outros “ismos” que radicalmente romperam com o modelo tradicional de pintura naturalista. “A noite Estrelada” (1889), Vincent van Gogh (1853–1890) Auto-retrato com auréola(1889) Paul Gauguin “A Guerra” (1894), Henri Rousseau 8 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto Para ver Edvard Munch, pintor norueguês que mais inspirou os artistas expressionistas, acesse o vídeo em: http://youtu.be/Au3XvuYdCcE Percebeu que as pinturas desses mestres não retratam imagens naturalistas? Do tipo como se vê na vida real? Essa foi a ideia que veio desses artistas do Pós-impressionismo. Mostrar imagens simbólicas, deformadas, com cores puras e, no caso de Van Gogh, densas camadas de tinta. Elas expressam sentimentos e visões individuais de mundo, daqueles pintores. Isto significa que, por meio deles, estava lançada a ideia de uma nova pintura, interessada em revelar o lado subjetivo, emotivo e simbólico, na criação artística. Essa ideia pegou. Daí em diante, os artistas do Expressionismo e do Fovismo inspirados nela romperam radicalmente com aquela pintura consagrada, que revela as imagens naturais do mundo real, a tradicional. E assim, ganharam força. Durante a primeira década do século XX essas novas forças se fizeram sentir de maneira poderosa (...) em Dresden e Munique, bem como em Paris. Esta era a capital cultural do mundo e permaneceu como principal imã e ponto focal do novo movimento. Artistas de todo o mundo continuaram a fluir para lá, reunindo-se em grupos de uma avant-garde. (CHIPP, 1996, p. 121). 9 O Expressionismo Apesar de Paris viver imersa nesse turbilhão de novidades artísticas, curiosamente foi na Alemanha, nas cidades de Dresden e Munique, que surgiram novidades. Em 1905, em Dresden, vários jovens pintores reuniram-se e formaram um grupo denominado simbolicamente de Die Brücke (A Ponte). Conforme Cavalcanti (1978, p. 115), era “a ponte entre o visível e o invisível. Recebem, mais tarde, a denominação de Expressionistas, dada por Herwart Walden, poeta e editor da revista Der Stürmer (A tempestade)”. Desse modo, o Expressionismo estava oficialmente criado, com os pintores: Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt Rottluff, Erich Heckel, Emil Nolde, Max Pechstein, entre outros. Explore: Veja os vídeos desses artistas em “Material complementar”. Gostou dos vídeos? Percebeu que nos remetem a interpretações subjetivas da vida cotidiana, como, por exemplo, revelam angústia, insatisfação, preconceito, enfim, o sofrimento da alma humana? Concorda que são assustadoramente belos? Esse grupo, A Ponte, resolveu definir seus objetivos: desenvolver pinturas com cores contrastantes e pinceladas vigorosas; figuras deformadas com caráter de crítica social; o interesse pela arte primitiva; e a retomada das artes gráficas, sobretudo da xilogravura. Vamos rever essas características nas imagens abaixo: Tavern (1909), Ernst Ludwig Kirchner Autorretrato, Erich Heckel Muito bem! Mas além desses artistas que acabamos de ver, surgem em 1911, na cidade de Munique, outros pintores. Além dos nativos alemães, havia, também, ali, emigrantes russos e todos eles de inspiração expressionista. Com a mesma atitude dos artistas de Dresden, reúnem- se e criam o grupo: Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul). 10 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto O “azul” em O Cavaleiro Azul era simbolicamente importante para o grupo, que acreditava que essa cor estava imbuída de qualidades espirituais singulares. A seu ver, o azul podia combinar a natureza interna das coisas - os sentimentos e a mente inconsciente - com o mundo externo e o universo. O “cavaleiro” era simbólico também. Os artistas compartilhavam um amor pelos cavalos que vinha de seu interesse romântico pelo folclore. Eles associavam a natureza primitiva do animal com suas próprias metas artísticas de aventura, liberdade, ação intuitiva e uma rejeição do mundo moderno, comercial. (GOMPERTZ, 2013, p. 176, 177). Wassily Kandinsky e Franz Marc são os criadores desse grupo, composto também por: Alexej von Jawlensky, August Macke, Paul Klee e Marianne von Werefkin. Kandinsky, além de pintor, artista gráfico, designer, professor e escritor, o mais intelectual do grupo, era muito atento às questões espirituais da vida humana, interessava-se por músicas clássicas e, sobretudo, pelas composições do maestro Richard Wagner. Produziu uma série numerada de obras, com o mesmo título de caráter musical: “improvisação”. Além disso, era fã da filosofia de Arthur Schopenhauer. Esse filósofo, ao refletir sobre a insatisfação e desejos humanos disse que: Somos todos escravos de nossa “vontade”, aprisionados por nossos desejos básicos e insaciáveis de sexo, alimento e segurança. (...) As artes eram o único meio ao nosso alcance para amenizar essa rotina enfadonha, pois podiam oferecer transcendência, uma fuga intelectual e um breve consolo. (...) A melhor forma artística para proporcionar esse tão ansiado lampejo de liberdade era a música, em razão de sua natureza abstrata - as notas são ouvidas e não vistas, libertando nossa imaginação da prisão de nossa “vontade” e razão. (Idem, p. 171). Influenciado por essa filosofia e inspirado pela música, aos poucos, Kandinsky foi abandonando a figuração e encontrando a total abstração em sua pintura. Em 1910 escreveu o livro de título: “Do Espiritual na Arte”. Mesmo ano em que pinta seu primeiro trabalho abstrato. Paul Klee, de certo modo chega, também, na abstração. Veja nas imagens a seguir. Obra abstrata em aquarela, Wassily Kandinsky 11 “Polifonia” (1932), Paul Klee “Cavalos vermelho e azul” (1912), Franz Marc Para ampliar seu conhecimento, convido-lhe agora, a uma nova seção de vídeos sobre as obras de todos os pintores do grupo Cavaleiro Azul. Explore: Veja os vídeos desses artistas em “Material complementar”. Esses vídeos são instigantes e curiosos, não é verdade? Agora que os assistiu, pergunto: houve algum artista em especial que lhe chamou mais a atenção? Sempre vale a pena pesquisar com profundidade sobre a vida e obra daquele que nos interessa. Hoje, com a internet à nossa disposição, isso é bem possível. Como também é possível ficar fascinado com os próximos pintores que vamos conhecer agora: os Fovistas. 12 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto Fovismo Este termo vem do francês fauvisme, derivado de fauves, que significa “feras”, usado pelo crítico Louis Vauxcelles, num comentário que fez sobre as pinturas de uma das salas da exposição do Salão de outono de 1905, em Paris. Havia trabalhos dos seguintes jovens: Henri Matisse, Maurice Vlaminck, Raoul Dufy, Albert Marquet, entre outros. Na sala havia pequena estátua de Cupido, em estilo renascentista, que lembrava trabalho semelhante do escultor pré-renascentista Florentino Donatello. Comentando a exposição desses novos artistas, ainda inteiramente desconhecido, escreveu um crítico que Donatello se achava numa verdadeira cage aux fauves, isto é, numa jaula de feras. O crítico falou assim pela violência e, mesmo, ferocidade com que aqueles pintores empregavam as cores, utilizando-as nos tons puros, sem misturas e nuanças. Eram vermelhos, azuis, verdes, amarelos estridentes, que pareciam doer nos olhos. (CAVALCANTI 1978, p. 121). O termo “feras” pegou de forma tal que serviu de presente a esses jovens pintores, completamente influenciados por Van Gogh e Paul Gauguin que, para Gombrich (1995, p. 571), “ambos tinham estimulado os artistas a abandonar o superficialismo habilidoso de uma arte demasiado refinada, e a serem diretos e francos em suas formas e esquemas de cores”. Os fovistas entenderam rapidamente a lição e assim propuseram uma nova pintura para o mundo. Agora, totalmente colorida, demonstrando sensações, total liberdade de expressão, instintiva e de impulso interior. Por todas essas razões, o céu de uma paisagem fovista, por exemplo, não precisa mais ser azul; pode ser verde, amarelo ou vermelho. Uma laranja pode ser pintada de azul, uma árvore pode levar outras cores dispensando o verde e assim sucessivamente. De modo que para Argan (1992, p. 259) “a pintura é concebida como uma arquiteturade elementos em tensão no espaço aberto; é síntese entre a representação e a decoração, o símbolo e a realidade”. Para os Fovistas, o espaço da tela - altura e largura - deve ser totalmente preenchido, colorindo com a mais intensa liberdade, como pensavam Henri Matisse e Maurice Vlaminck. Veja: Matisse: “o pintor escolhe a sua cor na intensidade e na profundidade que lhe convém, como o músico escolhe o timbre e a intensidade de seus instrumentos. A cor não governa o desenho - harmoniza-se com ele” (apud CHIPP, 1996, p. 139). Vlaminck: “nunca vou ao museu. Fujo de seu odor, de sua monotonia e de sua severidade. Reencontro ali as iras do meu avô quando eu cabulava a aula. Empenho-me em pintar com o coração e os rins, sem me preocupar com o estilo” (apud CHIPP, 1996, p. 140). 13 Explore: Veja os vídeos desses artistas, em “Material complementar”. Esses vídeos dos Fovistas são fascinantes, não é mesmo? As obras são compostas por um colorido tão forte e tão vibrante que chegam a ficar gravados em nossa memória. De todos os artistas, Matisse e Vlaminck nos parecem mais vigorosos, potentes e criativos, ou não? No Brasil, o expressionismo aparece no ano de 1914, com a primeira exposição da jovem artista paulistana de 24 anos, Anita Malfatti. De família pobre, em 1910 Anita ganhou a oportunidade e foi estudar arte na Alemanha, passou por Paris, conheceu os acontecimentos culturais e obras de Van Gogh, apaixonou-se pelo expressionismo e começa a produzir suas pinturas nessa perspectiva, tendo retornado ao Brasil em 1914. Naquele ano, por falta de dinheiro e necessitando arrecadar algum, animadíssima e querendo mostrar sua produção, Anita realiza em São Paulo, sua primeira exposição individual expressionista. Essa mostra causou grande estranhamento por parte do público e de amigos, que esperavam ver pintura acadêmica, naturalista! Enfim, uma decepção! Triste, em 1915, com ajuda de familiares, Malfatti volta ao exterior. Dessa vez vai aprofundar seus estudos artísticos nos Estados Unidos, onde fica um ano e volta para o Brasil em 1916 assumidamente pintora moderna. Em 1917, realiza sua segunda exposição, que foi a mais significativa de sua vida, motivada por uma crítica de Monteiro Lobato, publicada no jornal O Estado de São Paulo em 20 de dezembro de 1917, com o título “A Propósito da Exposição Malfatti”. Lobato, tomado de gosto acadêmico, apesar de elogiar o talento e a produção de Anita, discorre negativamente sobre a estética modernista europeia. Veja o vídeo de Anita Malfatti: https://www.youtube.com/watch?v=iaj_cvGJ0cc As obras dela que você acabou de ver no vídeo, nos remetem aos trabalhos de quem? Van gogh, Gauguin, Kirchner, Marc, Matisse, ou Vlaminck? Reflita sobre essa comparação e vamos lembrar que no início de Século XX, havia uma inquietação entre um grupo de artistas e intelectuais paulistanos com o desejo de rever a produção de arte no Brasil, terra ainda de gosto acadêmico. Cinco anos após aquela exposição de Anita Malfatti, acontece no Teatro Municipal de São Paulo a Semana de Arte Moderna de 1922. Outros importantes nomes do expressionismo produzido no Brasil, são os de Lasar Segall, Oswaldo Goeldi, Cândido Portinari, Flávio de Carvalho, Iberê Camargo, entre outros. Lasar Segall nasceu na Lituânia, vem morar no Brasil em 1923. Pintor, escultor e gravurista, conheceu as correntes artísticas da Europa, por ter estudado arte, viveu em Paris, Berlim, Dresden e foi amigo de vários artistas, entre eles, Kandinsky. Ao chegar no Brasil, já era um artista expressionista reconhecido. Veja agora algumas imagens de Lasar Segall em: http://youtu.be/6o9F6Wn3FAs e observe o talento desse artista, em terras brasileiras. 14 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto Oswaldo Goeldi, brasileiro, carioca, filho de cientista suíço. Em 1917, aos 22 anos de idade foi estudar arte em Genebra, Suíça e evidentemente conhece a cena cultural europeia e interessa-se pelo expressionismo. Em 1919 volta a morar no Rio de Janeiro e passa a trabalhar como ilustrador de algumas revistas. Em 1923 estuda gravura e em 1925 inicia a carreira de professor. Muito talentoso, ganha o Prêmio de Gravura da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951. Veja neste vídeo algumas imagens de suas gravuras http://youtu.be/zWo4irxE3T0 Espetacular, não acha? Vamos conhecer outro artista? Cândido Portinari, pintor brasileiro, nascido na cidade de Brodowski, São Paulo, em 1903. Em 1918 vai estudar arte no Rio de Janeiro. Em 1928, por conta de uma pintura acadêmica, ganha como premio uma de viagem à Europa, fica em Paris e conhece a cena artística. Em 1931, volta ao Brasil cheio de ideias. Faz uma brilhante carreira; em 1956 pinta os painéis Guerra e Paz para a sede da ONU-Organização das Nações Unidas, em Nova York. Veja na imagem abaixo um exemplo do talento desse artista. Fonte: Desenho preparatório para “Discovery of the Land” (1941), Cândido Portinari/Wikimedia Commons Veja mais obras de Portinari no vídeo https://www.youtube.com/watch?v=BvN31o_nwuQ Gostou? Veremos a seguir, outro importante nome do expressionismo brasileiro. 15 Flávio de Carvalho, nascido em Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro em 1899. É de família rica. Em 1911 foi estudar arte em Paris. Em 1914 deixa a França, segue para a Inglaterra e fica proibido de sair do país por conta do início da 1ª Guerra Mundial. Em 1918, na cidade de Newcastle, inicia seus estudos de engenharia e pintura, forma-se em 1922 e nesse mesmo ano retorna ao Brasil. Foi um artista inquieto e muito produtivo. Atuou como engenheiro, arquiteto, pintor, desenhista, figurinista, performer, decorador, escritor, teatrólogo, cenógrafo, músico, filósofo e outras profissões. Conheça suas produções no vídeo: http://youtu.be/v7bJnpl4fms Percebeu como Flávio de Carvalho foi uma personalidade criativa? Vamos ao próximo artista: Iberê Camargo nasceu em 1914 no Rio Grande do Sul, onde estudou pintura. Em 1942 foi morar no Rio de Janeiro e estuda na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1953, torna-se professor de gravura. Muito respeitado, realizou exposição na Bienal de São Paulo e na Bienal de Veneza. Veja esse outro grande artista brasileiro, numa recente exposição de 2014, em São Paulo. Acesse em: http://youtu.be/r73rHxZzvN0 Que tal? qual adjetivo você atribui a ele? Foi possível perceber até aqui que os dois movimentos - Expressionismo e Fovismo - possuem grandes afinidades? Seja do ponto de vista da cor e da liberdade de expressão. Vamos relembrar que: O Expressionismo - com seus dois grupos: A Ponte, e sua subjetividade melancólica e O Cavaleiro Azul, com a desconstrução da imagem que fez Kandinsky chegar à abstração, se aproxima do Fovismo, cujos artistas compõem o espaço da tela obedecendo apenas seus instintos. Similaridades tão próximas, mas cada qual com a sua especificidade, essas vanguardas imprimiram grande importância para a História da Arte. É importante saber que o Expressionismo se inicia na pintura, mas foi transversal, isto significa que surge, também, nas linguagens da literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia, como veremos na sequência: Na literatura brasileira, temos os modernistas: Mário de Andrade, autor das obras: Paulicéia Desvairada; Lira Paulistana; Contos Novos; Amar, Verbo Intransitivo; Macunaíma; A Escrava que não é Isaura e Os Filhos da Candinha. Oswald de Andrade, de: Pau-Brasil; Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade; Os Condenados; Memórias Sentimentais de João Miramar; Serafim Ponte Grande; O Rei da Vela; Um Homem sem Profissão. 16 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto Na música, encontramos os mais famosos autores austríacos: Arnold Schoenberg, ouça uma de suas obras em: http://youtu.be/U-pVz2LTakM Alban Berg, ouça em: http://youtu.be/1kPdwwvr0qo Anton Webern, ouça em: http://youtu.be/fQmXU-XMCIs O que você achou dessas músicas, com aspecto de trilhas sonoras? No cinema, os cineastas:Fritz Lang, famoso austríaco, possui uma filmografia extensa e o filme mais conhecido dele é Metrópolis, de1927. Assista essa obra imperdível em: http://youtu.be/Pqfc1Uxt91o Robert Wiene, nascido na Alemanha, produziu entre outros, o filme O gabinete do Dr. Caligari, de 1919. É outra obra encantadora, Veja em: http://youtu.be/ecowq77Y3C0 Friedrich Wilhelm Murnau, também alemão, possui uma grande produção, entre elas, Nosferatu, uma sinfonia de horrores, de 1922, é a mais popular. Veja em: http://youtu.be/KO5mMVeFZEQ Esses filmes pertencem ao seu gosto pessoal? Percebe como do ponto de vista das sensações humanas, as propostas que trazem, permanecem atuais? No teatro: Ernst Toller, dramaturgo alemão, escreveu a peça O homem-massa, de 1921. Antunes Filho, brasileiro, explora o texto Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues. Você já assistiu essa peça? 17 Na dança: Loie Fuller, americana, possui, entre outras, a Danse Serpentine by Lumière Brother, veja em: http://youtu.be/YNZ4WCFJGPc Isadora Duncan, também americana, com Repertory Dance Company veja em: http://youtu.be/nUvaraDf_3Y Ruth St Dennis, outra americana, com Exotic solo into Chinese, veja aqui: http://youtu.be/XMxm9rq0FHc Martha Graham, mais uma americana, Dance Vídeos, disponível em: http://youtu.be/b_63g5TICeY Emile Jacques, suíço com a produção Dalcroze, veja em: http://youtu.be/n5DdjXZkPfg Mary Wigman, alemã, veja a obra dela em: http://youtu.be/AtLSSuFlJ5c Rudolf von Laban, húngaro, muito popular na Arte/Educação. Veja parte de sua grande obra em: http://youtu.be/FSShj74qcwo Essas danças nos parecem atualíssimas, diante da possibilidade de assistirmos algum espetáculo de dança, em nossa cidade. Você já assistiu algum? Na fotografia há muitos fotógrafos expressionistas, veja esses dois: Werner Bischof, acesse em: http://goo.gl/yPn7nZ René Burri, no endereço: http://goo.gl/iGakRS Que tal, gostou? Finalizando essa viagem que fizemos para conhecer o Expressionismo e o Fovismo, você consegue perceber como ambos os movimentos estão muito presentes nas produções artísticas dos dias atuais? Proponho que faça uma visita em algum museu e observe essa curiosidade. Além disso, você pensa que o Expressionismo e o Fovismo pararam por aí? Não! Eles se desdobram em outros “ismos” que veremos em outros capítulos de nosso curso. Até o próximo! 18 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto Material Complementar Vídeos sobre os artistas expressionistas do grupo Die Brücke (A Ponte): Ernst Ludwig Kirchner: ..........http://youtu.be/_Y8Mo97putk Karl Schmidt Rottluff: ............http://youtu.be/VnQFyxG79F0 Erich Heckel: .........................http://youtu.be/0Gg7cvpiaZY Emil Nolde: ...........................http://youtu.be/5-vbAMTyIHc Max Pechstein: ......................http://youtu.be/Qp7N5l8g--g Playlist completa: ...................http://youtu.be/DgnNPoHJW9g?list=PLkVVQty3LEWPd83_CFGolq3jPhXNRAUp7 Vídeos sobre os artistas expressionistas do grupo Blaue Reiter (O cavaleiro azul): Wassily Kandinsk: ..................http://youtu.be/0YUpoZOPVIE Alexej von Jawlensky: ............http://youtu.be/gA6f_Uf-wIM Franz Marc: ...........................http://youtu.be/rEroJSYjDwo August Macke: .......................http://youtu.be/jLiCbzfEfAI Paul Klee: ..............................http://youtu.be/CzkwPUR2onk Marianne von Werefkin: ........http://youtu.be/Xk4kQw1solw Playlist completa: ...................http://youtu.be/jRIlx5dXO_M?list=PLkVVQty3LEWPVpeJ_QxYwoqIyKniasUu1 Vídeos sobre os artistas Fovistas: Henri Matisse: .....................http://youtu.be/AXV8BBUuT8c Maurice de Vlaminck: ...........http://youtu.be/bM6vYtV9OQs?list=PLJDLbffbi2v617YeIcFaXJ0vTWTTir0K0 Raoul Dufy: .........................http://youtu.be/nlJqIWdB3eY Albert Marquet: ...................http://youtu.be/5mFNxGSgITM Andre Derain: ......................http://youtu.be/W0aKgpARg9E George Rouault: ..................http://youtu.be/QqmcEIdxFD4 Jean Puy: ............................http://youtu.be/6ggXzIawstA Kees Van Dongen: ................http://youtu.be/3xQ0TbToSPo Anita Malfatti: ......................http://youtu.be/iaj_cvGJ0cc Playlist completa: .................http://youtu.be/Wp0Y8Cgbg1o?list=PLsBkv4oeAQsdX_-gn883JQljK1OL0itP6 19 Indicação de livro importante: O Fovismo e o Expressionismo. Autor: Bernard Denvir, Editora Labor do Brasil. Disponível para compra em: http://www.estantevirtual.com.br/b/bernard-denvir/o-fovismo-e-o-expressionismo/3145358690 Sites de artistas: Wassily Kandinsky: ................http://www.wassilykandinsky.com/ Matisse: .................................http://www.henri-matisse.net Maurice de Vlaminck: .............http://www.bbc.co.uk/arts/yourpaintings/artists/maurice-de-vlaminck Museus: Museu Lasar Segall:...............https://www.youtube.com/watch?v=CPxS3LHVTRo Fovismo: ................................http://www.metmuseum.org/toah/hd/fauv/hd_fauv.htm Emil Nolde: ...........................http://www.moma.org/collection_ge/artist.php?artist_id=4327 Filmes expressionistas: 30 filmes! Veja os títulos em: http://filmow.com/listas/os-30-melhores-filmes-expressionistas-que-eu-vi-l15715 20 Unidade: O sentimento da alma e a liberdade de instinto Referências ARGAN, G. C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. CHIPP, H. B. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996. STANGOS, N. Conceitos da Arte Moderna: Com 123 ilustrações. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. Bibliografia Complementar BELL, J. Uma Nova História da Arte . São Paulo: Companhia das Letras, 2006. DEMPSEY, A. Estilos, Escolas e Movimentos: Guia Enciclopédico da Arte Moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. SCHAPIRO, M. Arte Moderna: Século XIX e Xx: Ensaios Escolhidos. ,v. , São Paulo: Edusp, 1996. HARRISON, C. Primitivismo, Cubismo, Abstração: Começo do Século XX. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. LITTLE, S. Ismos. Entender a Arte. Lisboa: Lisma, 2006. Webgrafia Jornal O Estado de São Paulo, 29 maio de 1914. Disponível em: http://www.horadopovo.com. br/2012/06Jun/3063-08-06-2012/P8/pag8a.htm 21 Anotações História da Arte Moderna O Raciocínio e a Velocidade Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Pio de Souza Santana Revisão Textual: Profa. Esp. Natalia Conti 5 Nesta unidade você vai compreender como e quando surgiram as vanguardas artísticas europeias, denominadas de Cubismo e Futurismo. Entenderá como se deu a influência da arte africana no Cubismo e saberá como o Futurismo se impôs ao mundo, a partir de um manifesto escrito por um poeta italiano. Abordar a importância do Cubismo e do Futurismo para a Arte Moderna, fazer reconhecer seus artistas, contextos, especificidades e características; facilitar o aprendizado estético entre os dois temas. O Raciocínio e a Velocidade · Introdução · O Cubismo · O Futurismo 6 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade Contextualização É muito comum encontrarmos pessoas que dizem adorar as obras cubistas de Pablo Picasso, e outras, ao contrário, odiá-las. E você, qual é a sua opinião? Conhece algum aspecto sobre essa vanguarda artística? Independentemente de sua relação com o Cubismo, vou colocar-lhe em contato com essa arte, partindo primeiramente do convite para assistirmos ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=2JcI5yxOd8c E agora, o que tem a dizer sobre o conteúdo do vídeo? E o Cubismo como um todo? Você conseguiu saber brevemente como Picasso e Braque revolucionaram a arte de seu tempo? Com esse espírito revolucionário, o Cubismo chegou para ficar, como uma espécie de divisor de águas das questões estéticas da Arte Moderna. Além disso, você saberá neste módulo que outra vanguarda, também altamente revolucionária surge na Itália: o Futurismo. Mas, para iniciar a viagem por esse conhecimento, a proposta agora é outra seção de vídeo. Vamos ver? Então acesse aqui: https://www.youtube.com/watch?v=vo-QiK0vm_k Que tal? Viu como o termomanifesto foi citado? Se no Cubismo ouve-se falar muito de Picasso, no Futurismo iremos ouvir falar de Marinetti, com o seu violento manifesto. Agora que você já tem um pequeno panorama sobre os dois movimentos - Cubismo e Futurismo - vamos ampliar esse conhecimento. 7 Introdução A primeira década do Século XX foi extremamente frutífera. Entre os diversos acontecimentos, houve o surgimento das correntes artísticas modernistas. E, nesse fluxo, aparecem na Europa, mais dois importantes movimentos de vanguarda: o Cubismo e o Futurismo, que vieram com fortes visões, para mudar os rumos da Arte Moderna daquele momento em diante. Tudo isso, num período de grande progresso industrial, econômico, científico e social. Para você ter uma ideia, em 1905, Albert Einstein publica sua teoria da relatividade, lançando o conceito de espaço-tempo unificados. Entre outras invenções, em 1903 a França fabrica mais de 30 mil automóveis; a fotografia, o cinema e o trem já estavam em uso e em 1906 Santos Dumont cria o avião 14-bis. Certamente todas essas novidades tecnológicas encantam o mundo moderno e motivam o espírito criador dos artistas. A arte dos Impressionistas, assim, também a de Paul Cézanne, Van Gogh e Gauguin, entre outros tantos, estava em pleno vigor e debate; o Expressionismo e o Fovismo acabavam de ser criados e assim, nesse cenário de muita inquietação e criatividade, Pablo Picasso e Georges Braque criam o Cubismo, em 1908, na França. Um ano depois, em 1909, na Itália, inaugura-se o Futurismo. Vamos conhecer esses dois importantíssimos movimentos? 8 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade O Cubismo Você sabia que a maior inspiração para a arte cubista foi a obra do artista Paul Cézanne? Pois é verdade! Veja o trecho que ele escreveu, numa carta de 1904: É preciso “tratar a natureza conforme o cilindro, a esfera, o cone, o conjunto posto em perspectiva”, e pretendeu-se ver nessa frase uma antecipação teórica do Cubismo, movimento que inquestionavelmente descende de sua pintura, mas interpreta-a em sentido racionalista. (ARGAN, 1992, p. 112). A pintura discretamente geometrizada criada por Cézanne, foi um dos elementos mais importantes na pesquisa cubista. Veja esses elementos na imagem abaixo: Mont Sainte-Victoire, Paul Cézanne 1902-1904. Percebeu que há pequenos e discretos cubos, cilindros e esferas nessa pintura? Muito bem! Além do geometrismo que Cézanne deixou como lição, Picasso também aprendeu muito com outras pesquisas: as formas simbólicas e distorcidas da arte africana. Sobretudo com as máscaras ritualísticas e as esculturas. Sensibilizado com esses objetos vindos da África, Picasso chegou a colecionar algumas peças. 9 Conforme Farthing, (2011, p. 393) “a França estava colonizando a África e a mídia estava repleta de histórias exóticas (...) e muitos artistas do fauvismo colecionavam máscaras e estátuas africanas”. Como, por exemplo, Henri Matisse e Maurice Vlaminck. O fato é que a novidade virou uma espécie de “moda” nos ambientes de discussão entre pintores de olhar atento para as pesquisas estéticas. Uma vez que: O período mais generalizado de descoberta da arte africana pelos artistas europeus pode ter situado entre 1907 e 1910. A então recente fundação de uma série de museus etnográficos, em diversos países da Europa, contribuiu bastante para essa súbita eclosão de notável interesse de artistas e intelectuais europeus pela arte africana. (BARROS, 2011, p. 39). A arte africana trouxe para os artistas europeus um frescor criativo e uma novidade estética que faltava naquele cenário de vanguardas, mas ainda de tradição naturalista. Veja abaixo a imagem de uma dessas máscaras: Gabão - África. Artista desconhecido. Máscara Fang, utilizada para cerimônia. Século XIX Mas foi Picasso, de olhar mais atento, quem deu o foco e o salto maior. Em 1907 criou a obra Les Demoiselles d’Avignon, que significa: As meninas de Avignon. Ou, as prostitutas da rua Carrer Avinyó, prostíbulo de um bairro mal afamado de Barcelona. Avignon é o modo como se pronuncia na França. Les Demoiselles d’Avignon foi considerada a obra percussora do Cubismo. Veja a imagem a seguir: 10 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade Les Demoiselles d’Avignon (1907), Pablo Picasso. Veja, também, como foi o estudo da pintura, nesse vídeo: http://youtu.be/N0uqcawUGa0 O que você achou da obra e do vídeo? Notou que, de fato, Picasso se apropria com clareza da estética das máscaras? Muito bem! Mas isso foi só o começo. Porque outro artista, Georges Braque, inspirado na geometria de Cézanne, exibe em 1908, na Galeria Kahnweiler de Paris, algumas paisagens, cujas formas da natureza eram totalmente geométricas. Veja a imagem: Maisons à l’Estaque (1908), Georges Braque. 11 Foi nessa pintura que Georges Braque: Transformou os troncos de árvores em cilindros; as casas em verdadeiros cubos. As formas estavam reduzidas aos seus elementos geométricos básicos. Um crítico, Louis Vauxcelles, o mesmo da denominação fovista, comentando as paisagens, chamou-as de cubos, cúbicas. (...) A palavra também pegou, consagrou-se e universalizou-se. A nova pintura havia sido batizada. As pesquisas e experiências de Picasso e Braque começaram a interessar outros pintores. Entre 1910 e 1911, aderiram ao Cubismo Robert Delaunay, Auguste Herbin, Fernand Léger, Henri de Fauconnier, André Lhote, Jean Metzinger, Gino Severini, Francis Picabia, Roger de La Fresnay, Jacques Villon, Marcel Duchamp, Diego Rivera, Piet Mondrian e os escultores Alexander Archipenko e Louis Marcoussis. (CAVALCANTI, 1978, p. 127-128). Vamos ver mais obras de Georges Braque em: https://www.youtube.com/watch?v=CQtoFNqwqRM Gostou? Vamos então compreender o quê os cubistas faziam? Partiremos do princípio de que esses artistas eram conhecedores da teoria da relatividade de Einstein e do conceito de espaço- tempo unificados. Com essa informação em mente, somando-se com a lição de Cézanne e a influência da arte africana, os artistas do Cubismo rompem definitivamente com a ideia de arte que imita fielmente a natureza e lançaram uma pintura visual e intelectual. O que isso significa? é a pintura que com cores e planos revela interpretando cubicamente os ângulos que os olhos observam, num objeto representado. E, ao mesmo tempo, os não vistos, mas sabemos intelectualmente que existem. Assim, o artista cubista mostra ao mesmo tempo, todos os lados da figura, unificando-a cubicamente no tempo e no espaço da tela. Esse fazer artístico se dava, conforme Cavalcanti (1978, p. 129) “de modo arbitrário, sem obediência ou fidelidade à estrutura do objeto representado, mas conforme a imaginação ou as exigências da sensibilidade do artista”. Portanto, a liberdade expressiva e a imaginação foi tão a fundo que, na primeira fase de 1908 a 1911, o Cubismo foi chamado de Analítico, uma vez que tomado pela emoção inicial da descoberta, a decomposição da figura foi levada tão ao extremo que quase chega à abstração total da imagem. Nesse período, as obras de Picasso e de Braque são muito semelhantes. Fato este que causou severa crítica aos dois. A reação de Picasso e Braque foi a retomada dos estudos da obra de Cézanne e a construção de um novo Cubismo. Dessa vez, mais simplificado, mantendo a distorção e a geometrização, mas restabelecendo a imagem visual e assim, a segunda fase denominou-se de Sintético, inicia-se em 1911 e vai até 1914. O pintor Juan Gris inicia sua trajetória e é considerado o melhor cubista sintético. Veja uma de suas pinturas na imagem a seguir: 12 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade Retrato de Pablo Picasso (1912), Juan Gris. Vamos ver mais obras de Juan Gris em: https://www.youtube.com/watch?v=wOlJ2CeStV4 Para além da fase sintética, no ano de 1914, última fase do Cubismo, surgem na pintura de Picasso e de Braque novos elementos. Os dois inserem letras e palavras tipográficas em suas composições. E mais ainda, de acordo com Cavalcanti (1978, p. 133), “Braque passoua colar nos seus quadros, inicialmente, pedaços de papel colorido ou de jornal e, posteriormente, de madeira, metal e diferentes materiais, em lugar de procurar imitá-los”. Certamente a inserção desse materiais no quadro anunciam novas propostas que se desdobrarão em outras vanguardas, anos à frente. Assim, o Cubismo fascinou muitos outros pintores. Vamos conhecer alguns dos citados? • Robert Delaunay: ............. https://www.youtube.com/watch?v=T95GGeoltbc • Auguste Herbin: ............... https://www.youtube.com/watch?v=YPgs0X7ZaAI • Fernand Léger: .................. https://www.youtube.com/watch?v=_GBZ_QNwfdQ • André Lhote: ..................... https://www.youtube.com/watch?v=H5wVSTOBx38 • Jean Metzinger: ................ https://www.youtube.com/watch?v=ak_-7FzHD64 • Alexander Archipenko: ... https://www.youtube.com/watch?v=V8qrmpc19Gg • Louis Marcoussis: ............ https://www.youtube.com/watch?v=jk782vqX7fs 13 Com esse passeio que acabamos de fazer por meio das imagens e vídeos, para conhecer os artistas do Cubismo, é importante saber que esse movimento chegou também ao Brasil, e aparece nas obras dos seguintes artistas: Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral, e todos aqueles componentes da arte abstrata geométrica brasileira. Veja esse belo vídeo com obras de muitos desses artistas: https://www.youtube.com/watch?v=2JcI5yxOd8c Bacana esse vídeo não é verdade? Ele dá um bom panorama sobre o Cubismo, suas fases e importância para a Arte Moderna. Com ele finalizamos essa vanguarda e partiremos agora para o Futurismo. 14 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade O Futurismo Quem diria que um jovem de 33 anos de idade poderia fazer o estardalhaço que Filippo Tommaso Marinetti fez na Europa, em 1909. Primeiramente, ele não era artista plástico, mas poeta e romancista, vivendo em Milão, na Itália. Suas primeiras obras foram poemas que escreveu para revistas literárias e, mais tarde, para sua própria revista de nome: Poesia. Rapaz intelectual, ousado, de personalidade corajosa, provocativa, polêmica, e estrategista; exausto de ver os acontecimentos artísticos mais importantes surgirem recorrentemente em Paris, de uma hora para a outra, resolveu reivindicar para seu país, a Itália, uma elite da Arte Moderna. Conseguiu! E não há como não admirar sua ousadia. Ali estava ele, um poeta e escritor, não muito conhecido fora da vanguarda italiana, que decidiu publicar seu manifesto num jornal - na primeira página. E não se tratou de um jornalzinho local sem importância, ou mesmo de um jornal publicado em sua Itália natal (que já cobrira suas proclamações futuristas). Não; no sábado, 20 de fevereiro de 1909, Marinetti apresentou seu Manifesto futurista ao mundo por meio do jornal mais famoso da França, Le Fígaro. Foi um lance precoce, calculado e brilhante. Marinetti sabia que a única chance de fazer suas ideias serem notadas pela elite artística e intelectual internacional seria ir para o quintal deles - Paris. (GOMPERTZ, 2013, p. 156). O título do manifesto foi o seguinte: Le Futurisme, ou O Futurismo. Sua introdução já começa agressiva e esse documento compôs-se de onze decisivos pontos. Veja abaixo, uma seleção que fiz de alguns trechos: 1. Queremos cantar o nosso amor do perigo. 2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia. 3. Queremos exaltar o movimento agressivo, (...) a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro. 4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. (...) Um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia. 9. Queremos glorificar a guerra - a única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre. 10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo tipo. 11. É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo (...) Há muito tempo a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus (...) Museus: cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem. 15 (...) Bem-vindos, pois, os alegres incendiários (...) Ei-los! Ei-los!... Aqui! Ponham fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas! (...) Nossos corações não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de ódio e de velocidade!... (apud CHIPP, 1996, pp. 290-292). fonte: Wikimedia Commons A Vitória de Samotrácia é uma escultura que foi descoberta em 1863, na ilha grega de Samotrácia; estava dividida em várias peças e representa, conforme Janson (1996, p.64) “a deusa da vitória que acabou de pousar na proa de um navio de guerra; suas grandes asas têm uma grande abertura, e ela ainda se mantém parcialmente no ar graças ao forte vento contrário”. Foi construída para ser vista por baixo, por isso fica no alto de uma escadaria do Louvre. Você se assustou com o manifesto? Parece que Marinetti estava louco, você não acha? Essa mesma reação tiveram os artistas e intelectuais da França, tratando logo de ignorar o poeta e o chamando de sedento por publicidade e um alguém que quer “aparecer”. Mas essa crítica francesa não apagou as ideias de Marinetti. O fato é que o Manifesto futurista pegou e se ampliou. O mundo tomou conhecimento do documento e em pouco tempo ele realmente influenciou, incendiou e abalou as estruturas do mundo moderno. Você pode se perguntar: e as artes plásticas italianas, onde aparecem nessa história? Calma! Não demorou muito! Um ano após o lançamento de seu manifesto, Marinetti (Gompertz, 2013, p. 159) recrutou os artistas italianos Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Gino Severini e Giacomo Balla, para ilustrar suas teses, que falavam da beleza e do movimento agressivo das máquinas. Os artistas teriam que ilustrar de alguma forma o dinamismo da vida moderna. Nesse exercício de criação, identificaram-se profundamente com as ideias de Marinetti e com o apoio desse efervescente poeta, lançaram, em 1910: 16 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade Pintura futurista: Manifesto técnico Ou simplesmente: o Manifesto da pintura futurista. Esse documento foi assinado pelos pintores: Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Gino Severini, Giacomo Balla e Luigi Russolo, proclamando: 1. Que o complementarismo congênito é uma necessidade absoluta na pintura, como o verso livre da poesia e como a polifonia na música; 2. Que o dinamismo universal deve ser traduzido como sensação dinâmica; 3. Que na interpretação da natureza ocorrem sinceridade e virgindade; 4. Que o movimento e a luz destroem a materialidade dos corpos. (CHIPP, 1996, p. 296). Veja abaixo o exemplo de uma pintura futurista: “A cidade se levanta” (1910), Umberto Boccioni. Podemos ver que Umberto Boccioni cria uma pintura que demonstra ideia de movimento e dinamismo. Presentes nesses violentos traços coloridos, que dão a impressão de uma ventania. Agora veja os vídeos de: ·Umberto Boccioni: ......https://www.youtube.com/watch?v=ThnvQbkrLNc ·Carlo Carrà: .................https://www.youtube.com/watch?v=HbGGROkcKqo ·Gino Severini: ..............https://www.youtube.com/watch?v=LydMVUcSQTU ·Giacomo Balla:............https://www.youtube.com/watch?v=AbmdTjdlZSQ O que você achou dos vídeos? Percebeu que os artistas não estavam para brincadeira? Mas voltando aos manifestos, essa moda pegou firme; tanto é verdade que Umberto Boccioni aproveita a onda e lança, em 1912: 17 O Manifesto técnico da escultura futurista Esse manifesto apresenta nove pontos. Entre eles, veja alguns: 1. Proclamar que a esculturase baseia na reconstrução abstrata dos planos e dos volumes que determinam as formas, e não o seu valor figurativo. 2. Abolir na escultura, como em qualquer outra arte, a sublimidade tradicional dos motivos. 3. Afirmar a necessidade absoluta de servir-se de todas as realidades para voltar aos elementos essenciais da sensibilidade plástica. 4. Negar a exclusividade de uma matéria para a inteira construção de um conjunto escultórico. 9. A coisa que se cria nada mais é que a ponte entre o infinito plástico exterior e o infinito plástico interior. (CHIPP, 1996, pp. 307-308). Nota-se claramente que a proposta estética dos futuristas está voltada para o processo, a tecnologia, a continuidade, o movimento, a velocidade. Vejamos na imagem abaixo, a escultura do próprio Umberto Boccioni: “Formas Únicas de Continuidade no Espaço” (1913), Umberto Boccioni/Wikimedia Commons Formas Únicas de Continuidade no Espaço, nos remete a uma figura humana robótica, em ação, correndo. Boccioni foi muito feliz em empregar seus blocos de bronze na escultura, para dar a ideia de movimento em continuidade no espaço ambiental. Você concorda? 18 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade E desse modo, os artistas futuristas apresentam pinturas e esculturas com temáticas que nos remetem a máquinas, locomotivas ou corpos em constante trânsito. Ficando para trás aquela representação estática, anteriormente produzida pelos cubistas. Como nos diz Gompertz (2013, p. 159) “o futurismo era o cubismo em velocidade”. Certamente Marinetti conseguiu o foco e os olhos do mundo para a Itália. Com esse sucesso todo, juntaram-se aos futuristas, artistas de outros países e de outras linguagens da arte, em tempos diferentes. Aderiram profissionais da música, do cinema, do teatro e da arquitetura. Todos queriam ser futuristas. Explore Na música, já pertencia ao grupo Luigi Russolo. Ele acreditava que a vida moderna era acompanhada de ruídos, portanto tinha que produzir música futurista ruidosa. Veja o vídeo com a produção desse artista, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1WtCCunp6Bw Que música foi essa que Russolo criou? O cinema futurista pode ser visto por exemplo, no filme Thais: https://www.youtube.com/watch?v=7n15v0mou7o Gostou do filme ou achou muito estranho? O teatro futurista, veja a peça Vengono: https://www.youtube.com/watch?v=eG8ixJiO7fs E essa peça teatral? Até nos parece contemporâneo, não acha? Na arquitetura temos Antonio Sant’Elia, veja um exemplo se seu desenho na imagem abaixo: Antonio Sant’Elia, Desenho: Estação ferroviária e aeroporto daLa Città Nuova (Cidade Nova), 1914. 19 Esse desenho arquitetônico parece mais uma construção dos dias de hoje, você não acha? Ele lembra bem uma máquina em plena atividade, concorda? Muito bem! Mas o tempo foi passando e o futurismo também passou. Assim como suas propostas, voou. Durou pouco até que: Em fins de 1914 a primeira fase do futurismo chegava ao seu termo. Muitos dos seus partidários originais começaram a criticar- se mutuamente, protestando também contra a constante pressão exercida por Marinetti. Com a entrada da Itália na Guerra, em 1915, ardentemente defendida por Marinetti e seus companheiros, toda atividade artística efetiva cessou. Boccioni e Sant’Elia foram mortos na guerra e Russolo foi seriamente ferido. (...) O novo futurismo passou a identificar-se com o fascismo. (CHIPP, 1996, p. 287). Filippo Marinetti, com as habilidades literárias que tinha e a desenvoltura para a publicidade, acabou ajudando em 1919, a escrever o seguinte: O Manifesto fascista Esse manifesto ocorre: Exatamente dez anos após publicar seu Manifesto futurista. Ele faz amizade com Mussolini e até disputou uma cadeira no Parlamento em 1919 (sem sucesso) numa chapa fascista. Deve-se dizer que na visão de Marinetti, o fascismo era significativamente diferente da entidade venosa que se tornou. E essas diferenças logo se manifestaram, o que levou Marinetti a sair pela tangente. Mas ele permaneceu leal a Mussolini, defendendo-o resolutamente em público. (...) Dizer que o futurismo levou diretamente ao fascismo seria um exagero. Por outro lado, ignorar aquele tempo em que a arte influenciou a política de maneira tão surpreendente e calamitosa seria evitar uma verdade inconveniente. O futurismo estará para sempre inextricavelmente ligado ao fascismo. (GOMPERTZ, 2013, p. 166). Com essa citação da relação entre arte e política, chegamos ao final de mais dois importantes movimentos das vanguardas do Século XX: o Cubismo e o Futurismo, escolas estas, que deixaram grandes lições para a arte moderna e contemporânea. Mas a nossa política aqui é fazer você ficar cada vez mais interessado pelas propostas que os artistas depois do futurismo nos apresentaram. Para isso, nos encontramos no próximo módulo. Até Lá! 20 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade Material Complementar Livros: Cubismo Autor: David Cottington, tradução Luiz Antônio Araújo. Coleção: Tate - movimentos da arte moderna. Editora Cosac & Naify. Futurismo Autor: Richard Humphreys, tradução Luiz Antônio Araújo. Coleção: Tate - movimentos da arte moderna. Editora Cosac & Naify. Sites com imagens de artistas cubistas brasileiros: Lasar Segall: ...................... http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8580/lasar-segall Vicente do Rego Monteiro: ..... http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8953/vicente-do-rego-monteiro Tarsila do Amaral: ................. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa824/tarsila-do-amaral Museu: Guggenheim - Coleção de Georges Braque: http://www.guggenheim.org/new-york/collections/collection-online/artists/851 Sites de artistas: Pablo Picasso: ............................... http://www.picasso.fr/us/picasso_page_exhibitions-museums-books-auctions.php Cinema futurista: . http://www.loucosporfilmes.net/2014/02/10-filmes-futuristas-que-voce-deve-ver-1.html#.VLFd7fldXT8 21 Referências ARGAN, G. C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. CHIPP, H. B. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996. STANGOS, N. Conceitos da Arte Moderna: Com 123 ilustrações. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. Bibliografia Complementar BELL, J. Uma Nova História da Arte . São Paulo: Companhia das Letras, 2006. DEMPSEY, A. Estilos, Escolas e Movimentos: Guia Enciclopédico da Arte Moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. SCHAPIRO, M. Arte Moderna: Século XIX e Xx: Ensaios Escolhidos. ,v. , São Paulo: Edusp, 1996. HARRISON, C. Primitivismo, Cubismo, Abstração: Começo do Século XX. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. LITTLE, S. Ismos. Entender a Arte. Lisboa: Lisma, 2006. Webgrafia BARROS, J. D. As influências da arte africana na arte moderna. Revista Afro-Ásia, 44 (2011), 37-95. Disponível em: http://www.afroasia.ufba.br/pdf/AA_44_JABarros.pdf 22 Unidade: O Raciocínio e a Velocidade Anotações História da Arte Moderna Da forma subjetiva à construção objetiva Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Pio de Souza Santana. Revisão Textual: Profa. Esp. Natalia Conti. 5 Nesta unidade você vai compreender o que significa o Abstracionismo e uma de suas vertentes, o Construtivismo. Entenderá que o Abstracionismo é um conceito amplo que abarca toda a arte chamada de abstrata, uma arte que não representa as imagens do mundo objetivo, como as enxergamos no cotidiano. Saberá como o Abstracionismo se divide em Informal ou Sensível e Geométrico ou Formal. Nesta unidade você vai conhecer dois importantes movimentos artísticos europeus, que promoveram novos rumos e modos de fazer e pensar a Arte do Século XX. São eles: O Abstracionismo e o Construtivismo. O principal objetivo desta unidade é levá-lo a compreender os aspectos mais relevantes das vanguardas da arte abstrata. Da forma subjetiva à construção objetiva · Introdução · O Abstracionismo · O Suprematismo · O Raionismo · O Orfismo · O Construtivismo 6 Unidade: Da forma subjetiva
Compartilhar