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INTRODUÇÃO Um dos maiores problemas com que se defronta a humanidade no quadro atual é como compatibilizar a modernização e a abertura econômica com a geração de emprego. O aumento de produtividade resultante da utilização de novas tecnologias e de novos modelos de gestão se apresenta, na prática, como inimigo do emprego. A Terceira Revolução Industrial levou à marginalização milhões de trabalhadores nos três setores da economia: agrícola, industrial e de serviços. As novas tecnologias abriram caminho para a reforma do sistema econômico global, o que levou a um declínio da forca de trabalho necessária para produzir bens e serviços. Uma das características mais marcantes dos mercados de trabalho do mundo atual é a substituição gradual do emprego fixo, de longa duração e em tempo integral por outras formas de trabalhar. O emprego, caracterizado pela posição que o trabalhador ocupava de forma contínua numa empresa, está em declínio. Dentre as novas formas de trabalhar, encontram-se o trabalho em tempo parcial, a subcontratação, a terceirização, entre outros. As empresas, com essas novas formas de trabalhar, buscam racionalizar o uso do fator trabalho, reduzir custos, aumentar a eficiência e adaptar a produção às novas tecnologias. Os trabalhadores, por sua vez, buscam adaptar-se às novas demandas para poderem trabalhar e obter renda. Segundo PASTORE (2000), tradicionalmente, o tempo dos seres humanos era dividido em duas partes: trabalho e lazer. Cada vez que eles, voluntariamente, diminuíam o tempo de trabalho, aumentavam o tempo de lazer - e vice-versa. O mundo atual, encontra-se perto da situação em que o tempo será dividido em três partes: trabalho, lazer e aprendizagem. A revolução tecnológica está exigindo dos seres humanos a dedicação de uma parcela crescente do seu tempo para aprender e dominar as inovações. O mercado de trabalho brasileiro se inclui nessa realidade, principalmente depois das transformações ocorridas na década de 1990. Essas transformações originaram-se, 2 principalmente, da reorientação do modelo brasileiro de desenvolvimento e da consolidação do Plano Real. O modelo de desenvolvimento do Brasil passou, nesta década, de um estilo de industrialização protegida para o de uma economia aberta e competitiva. A maior inserção da economia brasileira ao processo de globalização gerou significativas alterações sobre os fluxos de comércio e de capitais, sobre a base tecnológica, gerencial e organizacional das empresas e sobre o mercado e as relações de trabalho. O Plano Real, por sua vez, trouxe para o cotidiano da economia do país a estabilidade dos preços. O controle da inflação fez surgir a transparência de custos para as empresas e trouxe rendimentos maiores, em termos reais, para os trabalhadores. A eliminação do imposto inflacionário beneficiou principalmente os mais pobres, transferindo renda dos segmentos médio e alto da população para as camadas que se encontravam nos extratos mais baixos da distribuição de renda. As medidas adotadas para a redução do custo do trabalho tinham como horizonte tornar as empresas nacionais mais competitivas e ao mesmo tempo aumentar sua capacidade de empregar mão-de-obra, reduzindo assim a utilização de trabalho informal. Para tanto foram realizadas políticas para flexibilização de contratos e desregulamentação do mercado de trabalho. As necessidades daquele momento exigiram maior qualificação e reestruturação dos agentes, aqueles considerados atrasados, de baixa qualificação e ineficientes acabaram por serem excluídos do mercado, e como característica nacional, não receberam a assistência e suporte necessário a sua re-integração ao processo produtivo. A globalização, deixou as empresas nacionais à mercê da competição desigual com certos países produtores, isso fez com que o impacto da automação na elevação do desemprego aumentasse à medida que a indústria brasileira foi sendo obrigada a modernizar-se para alcançar níveis elevados de competitividade. 3 ________________________________________ 1 Consolidação das Leis Trabalhistas Essa situação tende a tornar-se cada vez mais explosiva porque grande parte da força de trabalho no Brasil é de baixa escolaridade, em descompasso com as exigências da moderna indústria que demanda mão-de-obra altamente qualificada. Além disso, o setor de serviços, que deveria compensar a redução dos postos de trabalho na indústria, está sofrendo, também, as conseqüências da automação. Portanto, a integração da economia brasileira ao processo de globalização competitiva e a adoção de inúmeras inovações tecnológicas foram os fatos econômicos mais importantes da primeira metade dos anos 90 no Brasil. Ambos estão influenciando o funcionamento do mercado de trabalho do país e mudando as relações entre capital e trabalho. Frente a esses problemas, a pesquisa pretende discutir e analisar as seguintes hipóteses: a abertura da economia brasileira, na década de 90, trouxe conseqüências ao mercado de trabalho? Quais foram essas conseqüências? as inovações tecnológicas, além de eliminarem postos de trabalho, exigem maior nível de qualificação profissional? na década de 90 houve alteração no perfil da mão-de-obra exigido pelas empresas? ocorreu uma maior terceirização no mercado de trabalho? Diante da realidade descrita busca-se analisar a variação quantitativa no emprego formal, regido pela CLT1, no município de Londrina, na década de 90, por setores produtivos. E de forma mais específica pretende-se: determinar de acordo com a teoria econômica a evolução do trabalho nas diversas fases do capitalismo; 4 estudar os efeitos das alterações tecnológicas e produtivas sobre o mercado de trabalho; apresentar os impactos da globalização no emprego formal; verificar o novo perfil do trabalhador londrinense. A pesquisa direciona-se ao mercado de trabalho, pois, este passou por grandes mudanças na década de 90, sendo afetado principalmente pelo desenvolvimento tecnológico e pela globalização. A principal conseqüência dessas alterações foi o aumento do desemprego, uma variável macroeconômica que traz prejuízos ao país como um todo por comprometer a estabilidade do desenvolvimento econômico. Em razão disso, é importante conhecer essas transformações, entender como elas se processaram e determinar qual o novo perfil de profissional exigido pelo mercado. O enfoque foi dado às transformações ocorridas no mercado de trabalho londrinense, pois, Londrina além de estar inserida no contexto nacional acima descrito é uma cidade de grande importância econômica tanto para o Estado quanto para o país. Outra característica foi a opção pela análise do mercado de trabalho formal regido pela CLT por esta regular as relações entre capital e trabalho no sistema produtivo privado, mais vulnerável às variáveis como abertura econômica e mecanização. Para a realização deste estudo, o procedimento utilizado foi a pesquisa bibliográfica. Através de livros da literatura econômica, artigos de revistas e consultas a sites da internet foi possível coletar dados e informações relacionados às transformações ocorridas no mercado de trabalho. Os dados obtidos a partir de anuários de instituições como, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Companhia de Desenvolvimento de Londrina (CODEL), e principalmente da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), foi possível a elaboração de 5 quadros estatísticos e gráficos para análise e identificação das características do mercado de trabalho londrinense ao longo da década de 90. O trabalho apresenta três capítulos, que discutem respectivamente: a evolução do trabalho e do emprego no sistema capitalista; o processo de abertura econômica e reestruturação produtiva; e as variações quantitativasno emprego formal em Londrina. 1 EVOLUÇÃO DO TRABALHO E DO EMPREGO NA PRODUÇÃO CAPITALISTA As transformações tecnológicas das economias capitalistas, têm como um dos efeitos mais evidentes e desfavoráveis a eliminação de postos de trabalho, ou seja, desemprego estrutural ou tecnológico crescente. Junto com essas mudanças tecnológicas, estão também as novas formas de organização do trabalho e da produção que exigem agora trabalhadores polivalentes. Essas novas características do processo produtivo, também uniu o “saber” e o “fazer” que na segunda revolução industrial haviam sido separados entre trabalhadores da linha de montagem e trabalhadores que faziam o gerenciamento científico. A forma de produção que antes desqualificava o trabalhador, ou seja, tornava o trabalho cada vez mais simples, traz conseqüências hoje, pois, cria um enorme excedente de mão-de-obra inapta ao trabalho (GARCIA & FARIA, 1997, p. 19-20). Todavia, a qualificação do trabalhador pode ser uma condição necessária, mas não suficiente para garantir o emprego, pois, se assim fosse a oferta estaria criando sua própria demanda. O que ocorre é que o próprio desenvolvimento industrial parece apontar para uma negação do trabalhador que se coloca hoje como necessidade do capital (GARCIA & FARIA, 1997, p. 20). Para analisar a evolução do trabalho nas diversas fases do capitalismo, torna-se necessário destacar que no início todas as etapas de produção eram realizadas por uma única pessoa, portanto, “fazer” significava “saber” o que se estava fazendo, existia união entre concepção e exercício, o que levava anos de aprendizagem, aperfeiçoamento e desenvolvimento tanto intelectual quanto manual (GARCIA & FARIA, 1997, p. 21). Segundo ALBAN (1999), como as pessoas sozinhas não conseguiam produzir tudo o que necessitavam, elas realizavam trocas, assim os indivíduos passam a se concentrar em um único tipo de trabalho para aumentar seu produto e com isso adquirir outros. 7 Para SMITH (1988), esse início da divisão do trabalho se deu através do surgimento da sociedade capitalista e do dinheiro. Com o dinheiro algumas pessoas puderam comprar o trabalho de outras e promover maior divisão e mecanização a fim de aumentarem seus ganhos. É neste ponto que ocorre a separação entre o trabalho e o emprego. A divisão do trabalho, na medida em que pode ser introduzida, gera, em cada ofício um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho. A diferenciação das ocupações e empregos parece haver-se efetuado em decorrência dessa vantagem[...] A divisão do trabalho reduzindo a atividade de cada pessoa a alguma operação simples e fazendo dela o único emprego de sua vida, necessariamente aumenta em muito a destreza do operário (SMITH, 1988, p. 42). RICARDO (1985), coloca o trabalho como sendo ações do trabalhador que possibilitam a transformação da matéria-prima em produto. Essas ações, como qualquer outra mercadoria, pode ser comprada e vendida separando dessa forma o trabalhador da propriedade dos meios de produção e também do produto elaborado por ele que passa a pertencer ao capitalista. MARX (1985), destaca que a divisão do trabalho e sua especialização leva ao extremo a exploração do trabalhador. A união do capital com a ciência agravou ainda mais esse quadro, pois, o conhecimento ao invés de se colocar ao lado do trabalhador, para aumentar suas forças produtivas, opôs-se a ele. A separação do trabalho intelectual e manual proporcionou também o desenvolvimento de grandes corporações industriais. 1.1 O Modelo Fordista No final do século XIX, com o advento da eletricidade, do petróleo e do motor a explosão o mundo vivencia a segunda revolução industrial. O processo de produção passa por grandes transformações, as máquinas tornaram-se mais precisas, flexíveis e fáceis de serem operadas. Isso permitiu que trabalhadores menos preparados pudessem ser rapidamente treinados e qualificados para o trabalho industrial (ALBAN, 1999, p.111). 8 Segundo ALBAN (1999), o processo de produção consistia basicamente de duas etapas: produção de peças e montagem formando o produto final. Segundo o autor, seriam as indústrias de montagem que iriam se transformar na base para a administração científica do trabalho, desenvolvidas por Taylor e difundidas por Ford, devido à baixa produtividade do setor. Taylor afirmou que o grande problema estava nos gerentes e trabalhadores que desconheciam métodos ótimos de trabalho sem os quais não havia como planejar a produção e maximizar a produtividade. A gerência deveria, através de experimentações, descobrir os melhores métodos de produção e repassá-los aos trabalhadores. Na divisão científica do trabalho, todo o desenvolvimento é concentrado na gerência, cabendo ao trabalhador apenas a execução da tarefa estabelecida (ALBAN,1999, p.129-130). De acordo com MICHEL & RIBEIRO (1997), entre a década de 40 e o início da década de 70, o capitalismo conviveu com taxas de crescimento jamais vistas em sua história, proporcionadas pelo modo de regulação fordista e pelos princípios tayloristas de divisão científica do trabalho e mecanização. Com a separação do trabalho de concepção e de execução a economia ganhou elevados índices de produtividade que sustentaram o desenvolvimento. O fordismo não cuidava somente da oferta, a demanda também tinha grande importância para a fluência do sistema. O “contrato social” fordista determinava que os trabalhadores participassem dos ganhos de produtividade, assegurando assim um movimento de acumulação crescente e estável sem ameaça de crises. A partir do desenvolvimento da automação, surgiu a possibilidade de substituir trabalhadores por máquinas, com a proposta de aumentar a produtividade do sistema frente às necessidades da época. Esta decisão foi responsável por um grande descontrole interno. Houve crescimento da produção, da produtividade e do investimento, o padrão de vida da população também foi elevado. Mas esse crescimento intenso começa a se esgotar após o primeiro choque do petróleo. A inflação e o desequilíbrio orçamentário do setor público passam a ser o centro das políticas econômicas. Inicia-se um período de 9 contenção da demanda agregada e conseqüente queda da produtividade como pode ser observado na Tabela 1: TABELA 1 – Taxa de crescimento da produtividade Países a) 1961-1970 b) 1981-1990 Alemanha 4,3 1,9 França 5,0 2,0 Itália 6,2 1,9 Inglaterra 3,3 2,0 EUA 1,9 1,1 Japão 9,1 3,0 Fonte: Eatwell 1995, p.273 apud Michel & Ribeiro (1997, p.4) Segundo MICHEL & RIBEIRO (1997), o crescimento intenso da economia começa a se esgotar quanto o fordismo entra em crise devido principalmente a dois fatores: o primeiro refere-se ao aumento da importância do comércio exterior, dificultando a capacidade de regulação e o segundo devido à estrutura de organização do trabalho que ao separar concepção e execução tornou as tarefas dos operários repetitivas, desqualificantes e desestimulantes. Isso fez surgir uma crise de eficiência e, consequentemente, de lucratividade. Os responsáveis pelo trabalho de concepção, que tinham como função elevar o nível de produtividade, perceberam que o problema seria resolvido através da substituição de trabalhadores desqualificados por máquinas. A conseqüência foi um aumento em valor de capital não compensado por ganhos de produtividade. As firmas repassavam esses gastos aos preços, gerando inflação de custos. O poder de compra dos assalariados foi reduzido comprometendo novamente a rentabilidade do capital. Desde o fim dos anos sessenta, Japão e Alemanha haviam superado os índices de produtividade norte-americana. Os Estados Unidos passaram a ter um déficit comercial estrutural e o dólar perdeu seu poder de referência. Para elevar a rentabilidade das multinacionais, o comérciointernacional começou a crescer mais que os mercados internos de cada país. Sem regulação internacional, veio a crise de demanda. 10 Esse desequilíbrio seria superado pelas exportações. Para isso os países procuraram conter a demanda interna e escoar o excesso de produção para o exterior. Mas todos os países procuraram fazer isso ao mesmo tempo, o resultado foi a intensificação da crise. ...a dissociação espacial do processo produtivo, segundo a tripartição fordista, inviabiliza a regulação e resulta em crise. Assim, à crise interna do fordismo quanto a oferta, acrescenta-se uma crise internacional quanto a demanda (MICHEL & RIBEIRO, 1997, p. 6). Com fim do modelo fordista, iniciou-se uma busca por outros modelos de organização do trabalho, que recuperasse os índices de produtividade e fosse compatível com um mercado instável e competitivo. 1.2 O Modelo de Acumulação Flexível O fim do regime de acumulação fordista determinou uma busca não só por um novo perfil de organização do trabalho, mas também por um novo padrão de desenvolvimento econômico baseado na revolução tecnológica e em novos conceitos sobre a relação capital e trabalho. O perfil do trabalhador, nesse cenário, é ser cada vez mais polivalente (MICHEL & RIBEIRO, 1997, p. 6). Esse novo modelo seria caracterizado por: inovações estratégicas na dinâmica de reprodução do capital; elevação da participação do setor de informação em relação ao setor produtor de bens materiais; uma economia cada vez mais global, internacionalizando capital, força de trabalho e tecnologia. 11 O questionamento ocorria sobre quais seriam os impactos deste novo padrão de desenvolvimento sobre as condições de trabalho e a determinação do nível de emprego. Segundo CASTELLS (1998), os baixos custos salariais não eram suficientes para garantir vantagens comparativas entre as empresas já que com o processo de automação podia-se substituir o trabalho pouco qualificado, melhorando a produção. Para manter o ritmo de competitividade deveria se automatizar parte da produção, elevar o componente tecnológico dos produtos, e manter baixo o nível salarial. De acordo com HARVEY (1996), a acumulação flexível não possuía um “contrato social” ela ocorria ao lado de um movimento de precarização das condições de trabalho. Devido à volatilidade do mercado, do aumento da competição, do estreitamento da margem de lucro e da quantidade de mão-de-obra excedente as empresas queriam impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis. A prioridade seria os “trabalhadores flexíveis”, trabalhadores em tempo parcial, temporários ou subcontratados. A Tabela 2 comprova essa realidade. TABELA 2 – Relação entre emprego a tempo parcial e emprego total (%) Países 1979 1983 1990 EUA 16,4 18,4 16,9 Japão 15,4 16,2 17,6 Alemanha 11,4 12,6 13,2 França 8,2 9,7 12,0 Canadá 12,5 12,4 15,4 Itália 5,2 4,0 5,7 Reino Unido 16,4 19,4 21,8 Fonte: OCDE, 1991 apud Michel & Ribeiro (1997, p.7) LIPIETZ (1991), observou que existia dois grupos de países com organizações distintas: o primeiro formado por EUA, Inglaterra e França teria praticado uma flexibilidade defensiva, promovendo desregulamentação salarial, distanciamento entre “conceptores e executores” e privilegiando formas precárias de contratação de mão-de-obra; outro grupo teria praticado uma flexibilização ofensiva, os assalariados ficaram responsáveis pela qualidade, produtividade e melhoria das novas tecnologias, tendo em troca vantagens sociais e determinadas garantias como foi o caso da Suécia, Alemanha, Japão, e Itália do Norte. 12 Um outro aspecto a considerar, como indicador de mudanças na organização dos trabalhadores, foram as alterações nas taxas de sindicalização. A partir dos anos 80, houve significativas reduções da participação dos trabalhadores em ralação aos anos anteriores (OLIVEIRA, 2001, p. 29). TABELA 3 – Taxa de sindicalização nos países desenvolvidos 1970-1988 (em percentual) Grupo de países 1970 1975 1980 1985 1988 Europa 38 43 44 40 38 América do Norte 30 30 26 19 18 Fonte: OCDE, 1991 apud OLIVEIRA (2001, p. 29) Mas apesar das medidas adotadas em relação à redução da rigidez das relações entre o capital e o trabalho, não houve garantia de queda na taxa de desemprego. 1.3 O Modelo Toyotista De acordo com MICHEL & RIBEIRO (1997), o final dos anos 70 caracterizam-se pela crise nas relações econômicas entre os países capitalistas. Essa crise alterou a rentabilidade do capital e exigia uma adaptação às condições de instabilidade para a retomada do crescimento industrial. Duas questões aparecem na superação da crise: novas formas de garantia dos ganhos de produtividade e a flexibilização da produção, necessárias para que o aparelho produtivo fosse adaptado as novas exigências do mercado. Foram introduzidas, então, inovações tecnológicas e organizacionais com base no sistema Toyota. O novo método apresentava dois pilares importantes: a produção Just in time/ Kaban e o princípio da auto ativação da produção. No sistema Just in time a produção em uma etapa era feita na quantidade que a próxima etapa iria demandar, eliminando a necessidade de grandes estoques. Na auto ativação pretendia-se dotar o trabalhador de 13 autonomia para reduzir os defeitos do processo de produção. Esse princípio levava à eliminação da especialização dos profissionais transformando-os em operários polivalentes. Os compromissos entre empresa e trabalhadores eram: emprego vitalício, salário por antigüidade e sindicalismo de empresa. Entretanto, deve-se ressaltar também o caráter dualista do modelo toyotista. Segundo GORENDER apud OLIVEIRA (2001), constatou-se no Japão ao final da década de 90, a existência de cerca de aproximadamente 30% dos trabalhadores mais qualificados com acesso às regalias do modelo, porém a grande maioria dos trabalhadores estava sujeita ao emprego temporário, precário, variável e mal remunerado. 2 AS PRINCIPAIS TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO NA DÉCADA DE 90 No início dos anos 80, após uma expansão vertiginosa na década de 70, o Brasil passou a apresentar sérios problemas de crescimento em face das questões associadas à divida externa e ao esgotamento do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações (BRUM, 2000). Através do desenvolvimento de indústrias era possível, até então, gerar empregos e absorver grande parte da população crescente nas cidades. A crise externa do início dos anos 80, no entanto, enfrentada com uma política econômica restritiva, provocou um movimento recessivo e a emergência de um novo fenômeno no mercado de trabalho urbano: o desemprego aberto (SABÓIA, 1986). Com a condução neoliberal das políticas públicas desde 1990, o desemprego passou a atingir patamares ainda não conhecidos. Em grande medida, a baixa expansão da economia nacional, aliada à abrupta abertura comercial, produtiva, financeira e tecnológica, resultou na geração de uma grande massa de trabalhadores sem emprego (POCHMANN, 2001, p.02). Depois de uma década de estagnação e inflação descontrolada, nos anos 90 passam a serem feitas tentativas para redirecionar a economia, reduzindo a participação do Estado e promovendo uma abertura à competição internacional. As mudanças na política econômica repercutiram diretamente sobre mercado de trabalho. Evidenciou-se o baixo nível de competitividade da maioria das empresas nacionais e ao mesmo tempo agravou-se o problema da falta de emprego (BALTAR & PRONI, 1996, p.109-110). A política baseada na abertura econômica e financeira, na sobrevalorização do Real e dos juros elevados resultou em um irrisório crescimento econômico incapaz de gerar trabalho para o enorme “exército de reserva” formado ao longo da década, e demonstrou a desestruturaçãodo sistema produtivo do país ainda incapacitado para concorrer no mercado mundial, sem oprimir seus trabalhadores. 15 De acordo com ROSANDISKI & SILVA (1999), essa política de estabilização levou a economia à recessão e a abertura econômica expôs as empresas às novas condições de concorrência. Diante desse quadro desfavorável, as empresas tiveram que associar projetos de modernização às tradicionais estratégias de racionalização da produção. De forma geral, as empresas nacionais, pressionadas pelo aumento da concorrência internacional, concentraram esforços em soluções capazes de reduzir, de maneira rápida, a defasagem que separava os padrões brasileiros de preço, qualidade e de prazos de entrega daqueles prevalecentes no mercado internacional. Estabelecidas as novas condições de concorrência, a possibilidade das empresas manterem posições de liderança no mercado é mais incerta, se comparadas às estruturas de mercado consolidadas no pós-guerra. Segundo DEDECCA (2002), os investimentos em desenvolvimento tecnológico mostram-se arriscados e custosos, dada sua rápida depreciação, isso faz com que as empresas busquem, acima de tudo, soluções que facilitem os ajustes necessários nos momentos de perda de lucratividade. Neste caso, flexibilidade produtiva e organizacional. Esse período foi marcado pela adoção de estratégias de adaptação por parte das empresas, no que diz respeito ao uso do trabalho, que visavam adequar suas estruturas de custo à nova realidade concorrencial. Como resultado tem-se uma redução do emprego assalariado nas grandes empresas fato que leva considerável contingente de força de trabalho para pequenas e médias atividades. O setor informal passa a receber tanto os migrantes que chegam ao meio urbano, como os assalariados expulsos pelo setor formal (DEDECCA, 2002,p.61-62). Segundo PASTORE (1995), à medida que a economia se globaliza, as empresas são forçadas a melhorar sua eficiência incorporando, entre outros recursos, as novas tecnologias, que resultam em menor geração de emprego. No período de 1985 a 1995, a produtividade da indústria nacional cresceu 33% enquanto que o emprego decresceu 11%. POCHMANN (2001), afirma que para gerar cerca de 1,5 milhão de novas vagas para atender o contingente de brasileiros que ingressam no mercado de trabalho anualmente, a economia nacional precisaria crescer acima de 5,5% ao ano. Nos últimos 10 16 anos, entretanto, o Brasil cresceu abaixo de 2% como média anual. O resultado disso não poderia ser outro, se não a forte presença do desemprego, da pobreza e da má distribuição de renda. DEDECCA (2002), destaca que devido a este cenário as empresas passaram também, a adotar posturas seletivas na demissão de trabalhadores, aqueles com menor qualificação tendem a ser demitidos em primeiro lugar. A flexibilização e a qualificação do trabalhador aparecem como as novas características presentes no mercado de trabalho formal. Considerando o novo padrão tecnológico, pode-se afirmar que agora as tarefas exigem uma compreensão mais global do processo, fazendo com que a força de trabalho interaja de forma mais criativa com o sistema produtivo. Em conseqüência o trabalhador deve possuir maiores habilidades para inserir-se no mundo do trabalho, deve saber se comunicar, trabalhar em grupo, aprender várias atividades, etc. será o período da polivalência e da multifuncionalidade. Portanto, a nova estrutura do mercado de trabalho está impedindo que os trabalhadores consigam encontrar empregos e também estabilidade a longo prazo; aumentando cada vez mais a quantidade de trabalho temporário, pois através da terceirização, muitas empresas conseguem reduzir os custos dos encargos trabalhistas. Uma boa educação ajuda a readaptar os trabalhadores às novas demandas., assim, torna-se fundamental investir na qualificação da mão de obra, de forma a oferecer a todos os trabalhadores a possibilidade de acesso a esse novo mercado de trabalho em constante transformação. 17 _____________________________________ 2 População economicamente ativa 2.1 O Emprego Formal no Brasil A forte recessão verificada nos primeiros anos da década, entre 1990 e 1992, afetou negativamente o nível de emprego como pode ser observado no Gráfico 1. Somente após 1993, inicia-se um período de recuperação da atividade econômica, porém o aumento da produção não foi acompanhado de um expressivo crescimento no nível de emprego formal. Entre 1990 e 1999 a variação do emprego no Brasil apesar de ter sido positiva (8,48%) não foi suficiente para gerar os postos de trabalho necessários para acompanhar o crescimento da população. GRÁFICO 1 – Evolução do emprego formal no Brasil 1990 - 1999 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD – ROM da RAIS (2003) ¹1990 ano base = 100 O crescimento da PEA2 nesse período não foi acompanhado por um crescimento na geração de postos de trabalho na mesma proporção. A PEA pode ser dividida em duas partes: pessoas ocupadas (empregadas) e pessoas desocupadas (desempregadas). O nível de emprego é medido pela proporção de pessoas ocupadas na PEA. O que se observa é 100 99,25 95,64 98,87 101,57 102,50 102,74 104,26 105,97 108,48 85 90 95 100 105 110 1990¹ 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 18 que nos anos 90 aumentou a proporção da PEA desempregada, com sensível redução do nível de emprego no Brasil (Tabela 4). TABELA 4 - Nível de emprego no Brasil– 1990 - 1999 População 1990 1999 Variação (%) PEA 64467981 79315287 23,03 População ocupada 62100499 71676219 15,42 Nível de emprego 96,33 % 90,37 % Fonte: PNAD/IBGE apud BORGES & DORNELAS (2001) NOTA: População Economicamente Ativa – Pessoas de 10 anos e mais que durante todos os 12 meses anteriores à data do Censo ou parte deles, exerceram trabalho remunerado, em dinheiro e/ou produtos ou mercadorias, inclusive as licenciadas, com remuneração, por doença, com bolsas de estudo, etc., e as sem remuneração que trabalharam habitualmente 15 horas ou mais por semana numa atividade econômica ajudando à pessoa com quem residiam ou à instituição de caridade, beneficente ou de cooperativismo ou, ainda, como aprendizes, estagiárias, etc.. Também foram consideradas nesta condição as pessoas de 10 anos ou mais de idade que não trabalharam nos 12 meses anteriores à data de referência do Censo, mas que nos últimos 2 meses em relação a essa data tomaram alguma providência para encontrar trabalho.(Censo Demográfico – IBGE). Em termos setoriais, ao longo da década de 1990, a indústria registrou redução no nível médio de ocupação, experimentando a chamada "desindustrialização" do emprego. Por sua vez, a agropecuária, o serviço e o comércio apresentaram as maiores elevações na ocupação média, expressando um processo ascendente de "terceirização" do emprego. De acordo com PASTORE (2000), o mundo do trabalho tem sofrido rápidas e radicais transformações, por meio da automação, da robótica e da telemática. Trata-se do processo de substituição da estrutura produtiva, que se acentuou a partir dos anos 80. A crescente automação da produção, resultou na redução da importância do setor secundário da economia como empregador de mão-de-obra. A atividade industrial, maior geradora de empregos nos anos 70, perdeu essa posição para o setor de serviços, nas décadas de 1980 e 1990 (Tabela 5). Em 1999, a indústria passou a empregar 13,8% a menos do que empregava em 1990, enquanto que o setor de comércio e serviços, portanto o setor terciário da economia, passou a empregar 60,04% a mais em relação ao mesmo ano. 19 TABELA 5 – Evolução do emprego formal no Brasil por setores selecionados 1990 - 1999 Setores Econômicos 19901 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Indústria 100 93,80 86,94 87,61 95,27 91,50 89,72 87,99 84,32 86,20 ConstruçãoCivil 100 101,65 94,26 92,83 114,38 112,58 116,98 121,20 118,89 109,29 Comércio 100 94,41 88,77 91,73 107,71 112,15 116,23 123,21 126,21 132,18 Serviços 100 98,85 95,10 93,89 100,97 114,50 116,36 118,81 124,46 127,86 Agropecuária2 100 97,87 126,40 135,78 266,67 267,77 264,79 266,81 270,53 277,62 Outros/Ignorado 100 127,93 134,90 172,72 71,02 15,62 5,58 1,82 0,49 0,12 Total 100 99,25 95,64 98,87 101,57 102,50 102,74 104,26 105,97 108,48 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD – ROM da RAIS (2003) 11990 ano base = 100 2Engloba extração vegetal, caça e pesca Observando à qualidade dos vínculos empregatícios, sob a forma de geração consistente de postos de trabalho formais entre 1990 e 1999, os indicadores mostram-se ligeiramente positivos. Conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS/MTE, o número de empregados, de acordo com os setores selecionados, cresceu de 20,7 milhões em 1990 para aproximadamente 22,4 milhões em 1999. Em fins de 1999, portanto, havia cerca de 1,7 milhão de pessoas a mais empregadas formalmente, quando comparadas à mesma data de 1990. TABELA 6 – Porcentagem que cada setor selecionado empregava em relação ao emprego formal total 1990 – 1999 Setores Econômicos 1990 1999 Indústria 27,83 22,12 Construção Civil 4,65 4,68 Comércio 14,44 17,60 Serviços 43,24 50,97 Agropecuária1 1,81 4,63 Outros/Ignorado 8,03 0,01 Total 100 100 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD- ROM da RAIS (2003) 1 Engloba extração vegetal, caça e pesca No ano de 1990 grande parte do total empregado estava no setor de serviços e na indústria, 43,24% e 27,83%, respectivamente (Tabela 6) já no ano de 1999 o setor de serviços passa a empregar pouco mais da metade (50,97%) de toda mão-de-obra formal do 20 país. Mais uma vez é possível perceber que a indústria gerou menos emprego ao longo da década, ao passo que, serviços e comércio são agora os setores que mais absorvem empregados. No capítulo seguinte será feita uma análise mais detalhada do mercado de trabalho no município de Londrina a fim de apontar o perfil da população empregada e os setores que mais contribuíram para a geração de emprego na cidade entre os anos de 1990 e 1999. 3 O EMPREGO FORMAL EM LONDRINA Considerações Iniciais O município de Londrina possuía em 1990 uma população residente de aproximadamente 390.100 habitantes, sendo 94% residindo na área urbana e 6% na zona rural. Em 2000 o total de habitantes passou a ser de 447.065 dos quais 96,93% residiam na área urbana e apenas 3,07% na área rural. Londrina mantém um crescimento constante, consolidando-se, pouco a pouco, como principal ponto de referência do Norte do Paraná e exercendo grande influência e atração regional. 3.1 Características do Emprego Formal em Londrina de 1990 a 1999 Entre os anos de 1990 e 1992, assim como ocorreu no país como um todo, houve uma queda no emprego formal em Londrina. A partir de 1993 inicia-se uma recuperação dos níveis de emprego como pode ser visto no Gráfico 2. O ano de 1999, de acordo com a Tabela 7, termina com uma variação positiva no número de pessoas empregadas de 4,69% em relação a 1990. Essa variação torna-se pequena ao ser comparada com o crescimento da PEA do município nessa década. Em 1990 Londrina possuía 43,21% da população em idade ativa, ou seja, 168.565 pessoas, em 2000 essa porcentagem passou para 51,70%, portanto, 231.144 pessoas. Conclui-se que houve um crescimento na PEA de Londrina de aproximadamente 37% de 1990 para 1999 enquanto a população empregada formalmente cresceu apenas 4,69%. 22 GRÁFICO 2 - Evolução do emprego formal em Londrina 1990 – 1999 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) ¹1990 ano base = 100 Entre os setores que mais sofreram variação estão: a construção civil que passou a empregar 49,32% de pessoas a menos em relação a 1990; a agropecuária que apresentou uma variação positiva de 437,06% e o setor terciário, compreendendo comércio e serviços, que geraram respectivamente 19,93% e 12,74% de novos postos de trabalho. TABELA 7 – Variação do emprego formal em Londrina por setores selecionados 1990 - 1999 Setores Econômicos 19901 1999 Variação (%) Indústria 100 108,07 8,07 Construção Civil 100 50,68 -49,32 Comércio 100 119,93 19,93 Serviços 100 112,74 12,74 Agropecuária2 100 537,06 437,06 Outros/Ignorado 100 0,03 -99,97 Total 100 104,69 4,69 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) 1 1990 ano base = 100 2 Engloba extração vegetal, caça e pesca Segundo BALTAR & PRONI (1996), o desempenho positivo do comércio e dos serviços indica uma tendência à terceirização de funções, que desloca principalmente para a prestação de serviços, uma série de atividades antes localizadas em grandes empresas. 100 93 ,61 91,34 95,71 100,06 98,22 98,86 102,36 101,73 104,69 80 85 90 95 100 105 110 1990 ¹ 1991 1992 1993 1994 1995 1996 19 97 1998 1999 23 A Tabela 8 apresenta a porcentagem que cada setor da economia londrinense empregava em relação ao número total de pessoas trabalhando. Percebe-se que os setores mais importantes na geração de emprego em 1990 eram: a indústria, o comércio e principalmente serviços que empregava quase a metade de toda mão-de-obra em atividade. No final da década a importância de cada setor praticamente se manteve, com destaque para o setor terciário. Apenas a construção civil reduziu sua participação no emprego. TABELA 8 – Porcentagem que cada setor selecionado empregava em relação ao total 1990 - 1999 Setores Econômicos 1990 1999 Indústria 17,98 18,56 Construção Civil 9,76 4,72 Comércio 18,87 21,62 Serviços 49,00 52,77 Agropecuária1 0,45 2,33 Outros/Ignorado 3,94 0,001 Total 100 100 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) 1 Engloba extração vegetal, caça e pesca Através dessa análise foi possível perceber que na cidade de Londrina o setor que mais gerou desemprego foi o da construção civil, este ramo de atividade não conseguiu ao longo da década recuperar-se da crise dos anos iniciais. Até 1993 houve queda no emprego em quase todos os setores sendo essa queda mais acentuada na construção civil, além disso após 1994 quando inicia-se uma recuperação da economia este setor é o único que não consegue melhorar seu índice de empregabilidade (Tabela 9). 24 TABELA 9 – Evolução do emprego formal em Londrina por setores selecionados 1990 - 1999 Setores Econômicos 19901 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Indústria 100 95,83 81,75 96,79 111,54 101,59 104,56 105,48 102,94 108,07 Construção Civil 100 82,95 49,94 41,00 67,55 60,31 68,69 63,69 63,98 50,68 Comércio 100 90,62 84,44 86,24 110,21 108,83 106,08 110,05 109,63 119,93 Serviços 100 93,71 94,20 87,25 86,84 101,96 102,65 109,08 109,44 112,74 Agropecuária2 100 100,75 249,75 289,05 494,03 621,89 640,80 648,76 586,32 537,06 Outros/Ignorado 100 122,18 217,02 354,92 198,74 18,97 3,24 0,49 0,11 0,03 Total 100 93,61 91,34 95,71 100,06 98,22 98,86 102,36 101,73 104,69 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos CD - ROM da RAIS (2003) 1 1990 ano base = 100 2 Engloba extração vegetal, caça e pesca De acordo com os dados, a agropecuária apresentou uma grande melhora de 1990 para 1999 e isso se deve principalmente à uma maior regulamentação do setor, muitos trabalhadores que não possuíam registro passaram a ser formalmente empregados. 3.2 Perfil do Trabalhador Londrinense Para determinar se ao longo da década de 90 houve alteração no perfil da mão-de-obra empregada nos diversos ramos de atividade da cidade de Londrina, será feita uma análise quanto ao gênero, grau de instrução, idade e renda dos trabalhadores. A Tabela 10 destaca o aumentoda participação da mulher no mercado de trabalho. Entre 1990 e 1999 a participação masculina no total de pessoas empregadas caiu 4,89% a feminina, no entanto, aumentou em 23,45%. Entre os setores que mais empregaram mão-de-obra feminina estão a agropecuária, serviços e o comércio, e entre aqueles que mais desempregaram os homens estão a construção civil e serviços. Entre os fatores que explicam o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho está o próprio desemprego. Segundo DEDECCA (2002), as dificuldades de renda levam as mulheres ao mercado de trabalho e elas acabam contribuindo mais para o desemprego que os homens, pois, se por um lado elas conseguiram um maior número de 25 oportunidades de trabalho, por outro, o crescimento mais rápido da PEA específica jogou mais intensivamente as mulheres para o desemprego (DEDECCA, 2002, p. 65). TABELA 10 – Variação do emprego total e gênero por setores selecionados 1990 - 1999 Setores Econômicos 19901 1999 Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total Indústria 100 100 100 112,37 101,09 108,07 Construção Civil 100 100 100 49,11 79,29 50,68 Comércio 100 100 100 117,64 123,93 119,93 Serviços 100 100 100 96,40 140,19 112,74 Agropecuária2 100 100 100 558,57 392,31 537,06 Outros/Ignorado 100 100 100 0,00 0,09 0,03 Total 100 100 100 95,11 123,45 104,69 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) 1 1990 ano base = 100 2 Engloba extração vegetal, caça e pesca Um segundo fator importante para análise é a variação no grau de instrução das pessoas empregadas. No ano de 1999 em relação ao ano de 1990 pode-se perceber, através da Tabela 11, que houve uma redução no número total de pessoas empregadas que possuíam até a 8ª série incompleta. A maior variação positiva foi entre os que possuíam 2º grau completo (64,18%). Dessa forma pode-se afirmar que ocorreu, ao longo do período, melhora nos indicadores de escolaridade, tais estatísticas reforçam a visão que associa o problema do emprego à falta de qualificação. Para POCHMANN (1999), a oferta de trabalho tende a estar mais identificada com a busca de maior qualificação profissional e a escolaridade passa a ser um recurso inadiável de elevação da qualidade da mão-de-obra, já que há uma correlação direta entre baixa escolaridade e baixa qualidade ocupacional. Diante desse fato ROSANDISKI & SILVA (1999), argumentam que esse aumento de qualificação, dado pela melhoria da escolaridade, é reflexo da estratégia de corte de pessoal das empresas frente ao quadro recessivo de 1991-1992. Essa estratégia atingiu mais diretamente os trabalhadores menos qualificados. 26 Dessa forma, segundo os autores, não ocorreu uma substituição de trabalhadores menos escolarizados por outros com maior grau de escolaridade e, sim, a manutenção de empregados com melhores níveis de educação e demissão de menos qualificados. Assim trabalhadores mais escolarizados estão sendo admitidos para ocupações que anteriormente eram desempenhadas por trabalhadores menos instruídos. TABELA 11 – Variação do emprego total de acordo com o grau de instrução 1990 - 1999 Grau de instrução 19901 1999 variação (%) Analfabeto 100 52,07 -47,93 4ª Série Incompleta 100 51,82 -48,18 4ª Série Completa 100 60,72 -39,28 8ª Série Incompleta 100 85,15 -14,85 8ª Série Completa 100 145,43 45,43 2º Grau Incompleto 100 145,75 45,75 2º Grau Completo 100 164,18 64,18 Superior Incompleto 100 95,86 -4,14 Superior Completo 100 142,44 42,44 Total 100 104,69 4,69 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) 1 1990 ano base = 100 GRÁFICO 3 – Porcentagem do emprego formal de acordo com o grau de instrução 1990-1999 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) O Gráfico 3 também ilustra o resultado desse processo de reestruturação que vem afetando os diversos setores de atividade econômica, que ao provocar um enxugamento 0 ,00 3 ,00 6 ,0 0 9 ,0 0 1 2,00 15 ,00 18 ,00 21 ,0 0 24 ,0 0 Analfabeto 4 ª Série Incom pleta 4ª Série C om pleta 8 ª Série Incom pleta 8ª Série C om pleta 2 º G ra u Incom pleto 2º G rau C om pleto Su perior Incom pleto Superior C om pleto 19 9 0 1 9 99 27 na estrutura do emprego, promove, ao mesmo tempo, um aumento das exigências no processo seletivo de contratação de mão-de-obra. De toda mão-de-obra empregada no ano de 1990, 50,21% possuíam até a 8ª série incompleta, ao final da década esse valor passou para apenas 32,03% do total empregado. A maior queda foi entre os que possuíam 4ª série completa que passou de 16,7% para 9,69% em relação ao número total de mão-de-obra em atividade, o maior aumento foi entre os que possuíam 2º grau completo que em 1990 correspondiam a 13,19% e em 1999 passou a ser de 20,68% do emprego total. Observando a faixa etária dos trabalhadores londrinense percebe-se que o processo de absorção foi concentrado nas classes de idade entre 30 e 49 anos, indicando uma maior dificuldade de inserção dos jovens no mercado de trabalho. TABELA 12 – Variação do emprego total de acordo com a faixa etária 1990 - 1999 Idade 19901 1999 variação (%) 10 a 14 anos 100 4,35 -95,65 15 a 17 anos 100 57,69 -42,31 18 a 24 anos 100 94,68 -5,32 25 a 29 anos 100 99,56 -0,44 30 a 39 anos 100 120,90 20,90 40 a 49 anos 100 126,73 26,73 50 a 64 anos 100 107,43 7,43 65 anos ou mais 100 106,15 6,15 Ignorado 100 0,69 -99,31 Total 100 104,69 4,69 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) 1 1990 ano base = 100 A Tabela 12 mostra que em 1999 houve uma redução de 95,65% e de 42,31% no total de trabalhadores entre 10 e 14 anos e 15 e 17 anos respectivamente. Em contrapartida aumentou a participação de pessoas entre 30 e 49 anos. Tudo indica que tenha havido um acirramento da concorrência pelas oportunidades de trabalho sendo privilegiados aqueles com alguma experiência profissional e em faixa de idade considerada mais produtiva (DEDECCA, 2002. p.65). 28 A atratividade do mercado para as pessoas entre 30 e 49 anos está aumentando. Isto porque tem crescido a exigência das empresas por trabalhadores mais experientes e mais qualificados, justamente o que oferecem os jovens maduros. Uma outra questão é que cada vez mais, os jovens estão postergando sua entrada no mercado de trabalho. Essa situação ocorre, provavelmente, porque essas pessoas estão preferindo passar mais tempo na escola, seja formal, seja em cursos de qualificação profissional, antes de ir ao mercado. As empresas passaram a demandar maior qualificação e diante disso os jovens passaram a valorizar a educação e a formação profissional. E por fim o último aspecto a ser considerado é o comportamento dos salários no período em questão. TABELA 13 – Porcentagem do emprego total e renda média anual 1990 - 1999 Salários Mínimos 1990 1999 De 0,00 a 0,50 0,09 0,14 De 0,51 a 1,00 2,13 2,16 De 1,01 a 2,00 26,24 30,23 De 2,01 a 3,00 20,92 21,03 De 3,01 a 4,00 14,42 12,23 De 4,01 a 5,00 8,37 8,28 De 5,01 a 7,00 10,22 9,50 De 7,01 a 10,00 6,87 6,85 De 10,01 a 15,00 4,08 4,29 De 15,01 a 20,00 2,36 1,94 Mais de 20,00 3,24 2,88 Ignorado 1,05 0,47 Total 100 100 Fonte: Elaborado pela autora a partir do CD - ROM da RAIS (2003) O valor da renda média anual dos trabalhadores celetistas, ilustrado na Tabela 13, mostra que, de 1990 para 1999 houve um aumento considerável no número de pessoas que recebiam até 3 salários mínimos. Em 1990 esses trabalhadores correspondiam a quase 50% do total empregado, em 1999 eles passaram a representar aproximadamente 54% do total. Em 1990, 27% das pessoas recebiam mais de 5 salários em 1999 esse total passou a ser de 25%. 29 Para DEDECCA (2002), o comportamento desfavorável dos salários reais, reforça a tese da apropriação desigual dos ganhos de produtividadeobtidos no período. O autor afirma que a modernização realiza-se conjuntamente a um processo de empobrecimento dos trabalhadores. 4 CONCLUSÃO A nova dinâmica da economia brasileira nos anos 90 alterou as condições de absorção da mão-de-obra. A abertura comercial e a inserção do país no mercado financeiro internacional, impôs uma nova realidade para a economia nacional. A recuperação econômica após 1993 foi marcada por uma presença maior de bens e serviços importados, limitando o papel de algumas empresas nacionais e ao mesmo tempo pressionando para que elas elevassem seus níveis de produtividade fazendo uso das inovações tecnológicas que iam surgindo. A concorrência em um contexto de baixo crescimento tornou as reduções de custo a principal estratégia de sobrevivência dessas empresas. As indústrias implantadas nos países introduziram tecnologias avançadas, poupadoras de mão-de-obra, limitando, dessa forma, a capacidade de geração de empregos produtivos na economia. Além disso, o setor de serviços introduziu, computadores, caixas registradoras automáticas e equipamentos automatizados de escritório o que também provocou menor geração de emprego. Diante disso a pesquisa se propôs a realizar uma análise desses efeitos sobre o emprego formal, em especial na cidade de Londrina. Foi possível perceber através dos dados que a abertura comercial juntamente com as inovações tecnológicas realmente afetaram a demanda por trabalhadores e alteraram seu perfil. As mudanças mais significativas referem-se à melhoria dos indicadores de escolaridade dos trabalhadores e, para o município de Londrina, à redução no nível de emprego em especial no ramo da construção civil. Frente ao encolhimento das ofertas de trabalho, as poucas novas vagas criadas tendem a ser preenchidas por trabalhadores mais instruídos. A demanda por mão-de- obra com maior grau de aprendizagem, para ocupar postos que antes não exigiam alta escolaridade formal, evidencia a concorrência entre os trabalhadores em busca de uma vaga. 31 Na construção civil, a brusca redução no número de trabalhadores formais durante a década de 90 pode ser explicada, entre outros fatores, pela queda dos investimentos públicos em habitações populares e infra-estrutura. Esse fato comprometeu a geração de emprego no setor, que até hoje não se recuperou. Também destacou-se o considerável aumento do emprego formal na agropecuária e a maior participação das mulheres no mercado de trabalho em especial no setor de serviços. Em relação à idade das pessoas contratadas a pesquisa aponta para a dificuldade dos mais jovens em se posicionarem no mercado. Pode-se afirmar que tornou-se mais difícil, ao longo da década, a busca pelo primeiro emprego. O que é importante mencionar é que, embora necessário, não basta somente investir em qualificação e treinamento e adequar o perfil da oferta de mão-de-obra a sua demanda, uma vez que esta não é determinada unicamente pelas características da oferta de trabalho, mas sim por todo um contexto de crescimento, estabilidade e desenvolvimento econômico. BIBLIOGRAFIA ALBAN, Marcus. O desenvolvimento capitalista e sua crise contemporânea à luz das revoluções tecnológicas. In: Crescimento sem emprego. Salvador: Casa da Qualidade, 1999. BALTAR, P. E. A.; PRONI, M. W. 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