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Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP Curso de Graduação em História América Colonial – Profº Dr. Dario Horacio Gutiérrez Gallardo Millena Benicio Silva Aulas: ● Fontes indígenas ● Conquista espiritual ● Conquista territorial e econômica Textos: ● Os índios e a conquista espanhola – Nathan Wachtel ● A Igreja Católica na América espanhola colonial – Josep Barnadas FICHAMENTO DAS AULAS ➢ Fontes indígenas Ao iniciar a aula, o professor Horacio apresentou um roteiro dividido em 3 partes para a ministração do conteúdo sobre Fontes Indígenas, onde a primeira era Textos em línguas indígenas, a segunda Arqueologia e, por fim, a terceira análise de textos próprios de algumas regiões. ● Exemplos de cronistas espanhóis. Os cronistas espanhóis predominantemente tinham uma visão eurocêntrica, isto é, retratavam a cultura europeia como sendo superior à cultura indígena, porém existiram exceções. O primeiro exemplo citado foi Bartolomé de Las Casas, um padre que veio para a América, especificamente na região onde atualmente é o Caribe e México, com o intuito de evangelizar as populações nativas; sucedeu que ele passou a defender outros métodos de evangelização, como por exemplo, o do convencimento, uma vez que os que eram utilizados pelos colonizadores e outros padres, tal como a punição, tinham um impacto negativo para com as populações indígenas. Bartolomé de Las Casas foi processado pela Inquisição por ter sido um insurgente em prol dos indígenas; nos séculos seguintes, foi tomado como um símbolo de defesa das populações nativas, especialmente na historiografia do século XX. Inca Garcilaso de la Vega nasceu em Cusco, principal cidade e capital do império Inca; foi filho de um conquistador espanhol importante, Sebastián Garcilaso de la Vega, e de uma indígena também importante, Isabel Chimpu Ocllo, tornando-o, assim, um cronista mestiço que viveu na região dos Andes. Além disso, ele escreveu uma obra polêmica intitulada de “Los Comentarios Reales de los Incas”, que teve enorme influência na historiografia do império Inca dos séculos XIX e XX, além de que baseou muitos textos que foram escritos na própria época colonial. Felipe Guamán Poma de Ayala foi outro cronista da segunda metade do século XVI e que, assim como Inca Garcilaso de la Vega, também era mestiço. Publicou uma obra chamada de “Nueva Cornica y Buen Gobierno” que, por sua vez, não influenciou na historiografia do século XIX, pois só foi descoberta em 1936, em uma biblioteca na Espanha, mas desde que foi descoberta, passou a exercer influência na historiografia do império Inca. ● Arqueologia A aula foi direcionada para um novo bloco onde o professor fez comentários introdutórios sobre a Arqueologia, sendo esta uma ciência recente que tem tido muitos aprimoramentos, além disso, ela se configura como um dispositivo que permite acessar partes do passado, que não estão documentadas em fontes espanholas nem em fontes indígenas, ou então corrigir, averiguar ou até mesmo complementar informações que estão presentes nessas fontes supracitadas. A Arqueologia é uma ciência muito mais cara e mais demorada do que a pesquisa histórica, necessitando de muitas equipes para conseguir encontrar as respostas para as definidas no início do projeto, além da necessidade de encontrar um sítio arqueológico para que seja possível investigar os vestígios através de escavações, onde tudo o que for sendo encontrado deve ser documentado. Dado que a pesquisa arqueológica tem um caráter muito caro, como já foi dito acima, empresas estrangeiras firmam acordos com universidades locais para patrocinar essas pesquisas, pois, somente com a Arqueologia que muitas vezes é possível conhecer e entender as características civilizatórias de povos que existiram, mas não deixaram registros e nem foram registrados por outros; um exemplo dado pelo professor Horacio para explicar uma das aplicações da Arqueologia é o descobrimento de possíveis epidemias que assolaram um determinado povo. ● Registros da Igreja Católica O documento classificado como fonte histórica que o professor Horacio trouxe para a aula visava a imagem da mulher e a Carta Pastoral, que era distribuída para todas as paróquias com o objetivo de ser seguida por todos os fiéis. A única religião aceita na época colonial era a Católica, vide isso, a Igreja tinha poder suficiente para emitir uma legislação e ditar comportamentos esperados na sociedade. O título de uma das cartas era “resumo do que há para fazer o cristão para se santificar e salvar”, além disso, ao se tratar das mulheres, o documento estaria dividido em 3 partes, contemplando o comportamento esperado da Igreja para uma mulher, de acordo com sua faixa etária, sendo estas: “obrigações de uma jovem”, “obrigação da mulher casada” e “obrigações da viúva”. Após a leitura desse documento, cujo professor Horacio deu ênfase na informação desse ter sido um documento emitido oficialmente pela Igreja Católica no século XIX, percebe-se o quão deveria ser estrito o comportamento das mulheres e, mais ainda, na época colonial, uma vez que todo esse sistema foi montado a partir de uma lógica conservadora e patriarcal, resultando em uma diferenciação e hierarquia entre os grupos dos homens e das mulheres. ● Textos em Línguas Indígenas Os exemplos trazidos pelo professor, Popol Vuh e Chilam Balam, correspondiam aos registros da civilização Maia, e foram escritos na língua quiché (K'iche'), um dos grupos indígenas, mas que ocupavam uma posição central e dominante nos maias; sua localização está situada no que hoje é a Guatemala, onde os guatemaltecos se consideram descendentes direto do que foi essa civilização. O Popol Vuh, assim que foi descoberto, foi traduzido para diversas línguas, como o espanhol, inglês e até mesmo o português. O livro narra tradições indígenas e a história do povo K'iche', mas como estes eram o grupo dominante dos maias, acabou-se entendendo como a narrativa da história maia, como um todo. Além disso, conta também sobre antigas tradições, cosmologia e cronologia de reis até a chegada dos espanhóis. O livro também tem em suas páginas profecias e oráculos. Um questionamento surge a respeito da escrita desse livro, uma vez que nenhum povo pré-colombiano conheceu o alfabeto e por consequência a escrita, portanto tem-se como hipótese que algum indígena, mestiço ou até mesmo padre, conhecendo o alfabeto espanhol, transcreveu e registrou a língua K’iche segundo o alfabeto dos hispânicos. Por fim, já tendo sido citado, o outro exemplo de registro escrito maia trazido para a aula é o Chilam Balam, que reúne um conteúdo muito diverso de conhecimento, a exemplo, tem textos de caráter religioso, histórico, médico, astrológicos e astronômicos, além de textos puramente literários. ➢ Conquista territorial e econômica Ao iniciar a aula, o professor Horacio explicou que esse tema “Conquista” será dividido em duas aulas, sendo que a primeira tratará da Conquista territorial e econômica e a segunda da Conquista Espiritual. Além disso, foi apresentado um roteiro para seguimento da aula dividido em 3 tópicos: o primeiro abordando sobre as Características Gerais da Conquista, o segundo os Mecanismos da Conquista e o último as Etapas da Conquista. ● Introdução – Contextualização da Conquista A Conquista ocorre no contexto de expansão europeia para o Oriente. Sucedeu que a América foi descoberta em uma dessas expedições ao Oriente, mas, por conta de características de regiões oceânicas, especialmente as correntes marítimas, o europeu foi levado ao novo mundo, descobrindo, assim, um novo continente. Dentro da Europa estavam ocorrendo muitas transformações, entre elas: a superação do feudalismo e ascensão do Capitalismo Primitivo, tendo como um de seus valores o metalismo e o mercantilismo; avanços tecnológicos nos meios de transporte, permitindo a navegação transatlântica; a imprensa permite a impressão de textos em larga escala, difundindo ideias por todoo continente, etc. ● Características Gerais da Conquista No que diz respeito às Características Gerais da Conquista, estuda-se, à priori, quais teriam sido os objetivos da conquista. Entende-se que o primeiro objetivo são os ganhos econômicos com a colonização do novo continente – não teriam investido capital se fossem expedições sem lucros econômicos. É ainda com esse objetivo, entendido também como a motivação central, que nessa época ascende muitos conquistadores dispostos a explorar as novas terras com os financiamentos. Em contraproposta, a Igreja Católica, juntamente de padres, coloca como objetivo mister a conquista espiritual dos indígenas. Um questionamento que aparece nos estudos da Conquista seria quem estava por trás dos financiamentos – esse capital era um investimento particular ou um empreendimento estatal, das coroas? –, especialmente quando o objeto de análise são as expedições marítimas e depois terrestres. Dado que a conclusão para isto é que as coroas não se envolveram nem no planejamento e nem no financiamento, porém, para esta afirmativa há exceções, a exemplo, a primeira viagem de Colombo, que foi parcialmente financiada pela Coroa. Acontece que para ser realizada uma determinada expedição, era necessária a aprovação e o consentimento da Coroa, dando a impressão de que elas participavam dos processos de realização. Portanto, uma segunda característica da Conquista é que boa parte das expedições foram financiadas apenas por capital particular. Por serem empreendimentos de alto risco, onde não se tinha certeza dos resultados, os cargos de chefes das expedições eram ocupados por membros da baixa nobreza, pois essa classe tinha certo capital e contatos com a alta nobreza para poder custear a viagem, que era o mais importante. As tropas que acompanhavam os chefes de expedição eram predominantemente formadas por homens do mar, que já tinham experiências de navegação, mas, além destes, havia também as mais variadas classes e profissões, como camponeses, artesãos, padres, já que necessariamente todas as composições de tropas exigiam pessoas com especialidade para o desenvolvimento de trabalhos no Novo Mundo. Dos objetivos e motivações que compunham o ideal das tropas das expedições, pode-se citar o desejo de ascensão financeira e social na sociedade europeia, o refúgio e a livre prática de uma religião diferente da Católica – pode-se observar este objetivo nas excursões e expedições inglesas na América do Norte, puritanismo e calvinismo; no caso da colonização espanhola, todos que participaram deveriam ser católicos ou terem se convertido ao catolicismo –, ademais, um terceiro motivo seria o gosto pela aventura, isto é, pessoas que tinham o desejo de conhecer novas terras e novas culturas. ● Mecanismos da Conquista A maior indagação que tange a historiografia acerca da Conquista é: como foi possível os sólidos impérios mesoamericanos e andinos, formados por milhões de indígenas, desmoronarem e serem subjugados por um grupo consideravelmente menor? Em outras palavras, quais foram os mecanismos utilizados pelos espanhóis para a Conquista? O primeiro mecanismo a se apontar seria o maior poderio bélico e superioridade militar dos conquistadores em relação aos exércitos das civilizações pré-colombianas, posto que a Conquista foi uma sucessão de guerras entre os europeus com os nativos americanos. Duas grandes divergências apontadas entre as sociedades são a utilização da arma de fogo, pelos espanhóis, até então tecnologia desconhecida na América, e o uso do cavalo, cujo animal não é endêmico do novo continente. Em contrapartida, as civilizações indígenas utilizavam arco e flecha e lanças, ferramentas de caráter inferior se comparadas à pólvora das armas de fogo. A morte de muitos indígenas por causas biológicas, sobretudo doenças trazidas por europeus que, até então, não existiam na América, se caracterizou como um colapso demográfico, social e econômico; a população nativa não tinha anticorpos nem formas de se defender, causando terríveis epidemias que levou ao genocídio generalizado, facilitando o trabalho do espanhol de agregar os povos. Este motivo pode ser também enquadrado como um mecanismo de médio a longo prazo dentro do contexto da Conquista. Por fim, um último mecanismo que se pode dizer é a cumplicidade entre os grupos indígenas que uniram-se aos espanhóis e ajudaram os estrangeiros a derrotarem outros grupos indígenas. Em tese, os espanhóis se aproveitaram dessas rivalidades já existentes e, após subjugar o grupo que era o objetivo primário, eles também subordinavam seus próprios aliados. ➢ Conquista espiritual No início da aula, o professor Horacio apresentou um roteiro para a ministração do conteúdo sobre a Conquista Espiritual. As características principais que foram abordadas em aula são Igreja e Estado, Ordens Religiosas, Missões e Inquisição. ● A Igreja e o Estado O Padroado foi uma instituição da Igreja, submissa ao Estado, que acompanhou o desenvolvimento das questões religiosas da Europa, continente onde teve sua origem. No contexto em que surgiu tinha a característica de ser tolerante com outras religiões, porém, após o século XV, onde a Igreja Católica passou a receber várias críticas, a intolerância tomou espaço – especialmente aqui na América, onde os indígenas foram proibidos de exercer suas próprias crenças. O acordo entre a Igreja e o Estado foi firmado, pois não se tinha ideia de que existiam milhões de indígenas a serem catequizados, e que para tal função dispunham padres, em menores proporções. Com isso, o Estado passou a ajudar, mas com condições que eram muito favoráveis a ele. ● Ordens Religiosas As Ordens Religiosas foram um mecanismo importante para a evangelização da América especialmente porque se pautavam em um sistema mais flexível de trabalho, uma vez que este novo continente possuía um cenário totalmente diferente daquele vivido na Europa. Em outras palavras, o Novo Mundo se configurava como um ambiente hostil para a instalação de padres e paróquias e era um investimento a ser feito para longo prazo, posto que a conversão de mente ao catolicismo não se daria do dia para a noite, configurando-se, assim, como um trabalho muito mais complexo do que a conquista territorial/material. Ainda se tratando do contexto da Conquista, é notório complementar que quatro Ordens Religiosas chegaram ao atual território do México. Vale dizer que a evangelização foi um sucesso para os espanhóis já na época colonial, pois a maior parte dos indígenas se converteram ao catolicismo, que, como já dito anteriormente, era a única religião permitida, mesmo que tenham sido compulsoriamente forçados a isso. Sobre os métodos de conversão, pode-se mencionar dois núcleos: a persuasão, defendida pelo Bartolomé de Las Casas que acreditava na conversão das almas através do convencimento –, e a punição, ou seja, a conversão através do uso da força, obrigando o indígena a seguir a religião Católica. A Inquisição era a instituição responsável por colocar em prática essa punição. Segundo a definição dos estudos antropológicos, é possível notar que o processo de aculturação esteve presente na chamada Conquista Espiritual, tendo em vista que muitos objetos considerados sagrados para os nativos americanos foram considerados proibidos e, posteriormente, queimados pelos espanhóis. ● Missões Grupos nômades faziam parte do diverso panorama que compunham as chamadas civilizações pré-colombianas, portanto era custoso a tarefa de evangelizar esses povos que não exerciam o sedentarismo como estilo de vida. As Ordens Religiosas, por sua vez, para contornar tal situação, criaram as Missões, cujo objetivo era enviar padres para alcançar as áreas mais longínquas. As Missões alcançaram regiões consideradas geograficamente interioranas, para citar como exemplo, tem-se a região do rio do Prata, especialmente na Argentina, Paraguai, nos três estados que atualmente compõem a região sul do Brasil tambémreceberam muitas missões. Há uma divergência nas interpretações historiográficas sobre esse tema. Ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, tem-se como relato visões positivas sobre a experiência de colonização, indicando os sucessos, os trabalhadores eram alegres, especialmente porque essa historiografia foi escrita em sua maioria por padres e por quem estava participando das missões. Em relação aos últimos 50 anos, a maneira de interpretar essa visão mudou bastante, desde autores que enxergam um sistema “comunista” de trabalho ao outro extremo, onde os autores dizem que esses trabalhos eram como um inferno na terra, realizado às custas dos indígenas, uma vez que estes foram expropriados de suas terras, separados de suas famílias e sua cultura foi proibida de ser exercida. ● Inquisição A Inquisição é um aparato criado pela Igreja Católica para manter a pureza das práticas religiosas voltadas ao catolicismo, além de eliminar o “duplo pensamento” evitando que os fiéis convertam-se para outras religiões. Esse dispositivo nasce em um momento onde a maior e mais poderosa instituição da Idade Média começa a receber muitas críticas em um contexto que ficou conhecido como Reformas Religiosas na Europa do século XV. Outro fator que justifica sua criação é punir aqueles que não seguiam o catolicismo como religião, complementando os motivos já citados da existência desse aparelho de controle social. Apesar de ter surgido na Europa, a Inquisição vem para América e funciona como um tribunal, porém sua preocupação não era judiciária, mas sim espiritual e religiosa, representando um símbolo de intolerância máxima contra as religiões de matrizes africanas e indígenas, taxando-as de paganismo. Estudos recentes interpretam que a Inquisição tinha outras preocupações além das já supracitadas, entre elas, pode-se apontar uma de cunho racista a partir de uma análise de um documento cuja Inquisição estava responsável de aplicar chamado de “Estatutos de Pureza de Sangue” ou “Exame de Habilitação de Gênero” – no caso, todos as pessoas que queriam entrar no exército, a igreja ou concorrer em cargos públicos eram submetidos a fazer este exame, onde a finalidade era mostrar que seus ascendentes eram todos brancos e católicos, mantendo, assim, a “pureza”, propagando e perpetuando a exclusão de indígenas e africanos. FICHAMENTO DOS TEXTOS ➢ Texto 6b: Os índios e a conquista espanhola – Nathan Wachtel Este capítulo tem por objetivo fazer uma análise descritiva de um evento que mudou todo o curso da história da América: a chegada do homem branco europeu e o contato com os impérios Inca e Asteca; o recorte é focado apenas na primeira fase do estágio de dominação colonial, isto é, até a década de 1570. Uma característica que pode ser considerada comum entre a maioria das civilizações é a utilização de mitologia para explicar o início e também o fim. Dito isso, assim também foi com as civilizações pré-colombianas, a exemplo, os maias, que deixaram registros de presságios e profecias que anunciavam o final dos tempos no livro Chilam Balam (já mencionado neste fichamento). Curiosamente, essas previsões não só coincidiram com a data da chegada do europeu à América, como também com as descrições, fazendo os nativos acreditarem que esse momento se tratava do retorno dos deuses, como havia sido previsto. O autor deixa claro que nem todos os indígenas acreditaram nessa ilusão. O encontro entre as duas realidades colocava em risco a existência de uma delas. Analisando amiúde este evento, nota-se que apesar dos impérios indígenas terem vantagem em relação ao número de pessoas e no conhecimento do território, os espanhóis, sendo conquistadores e expansionistas, mesmo em desvantagem numérica de homens, acabaram por levando a melhor. Isso se deve, é claro, a sua superioridade no aparato bélico, mas não somente, também sendo possível citar o impacto psicológico das consequências da chegada e a união de grupos indígenas com espanhóis, que viam nos estrangeiros uma oportunidade de se libertar da dominação dos impérios americanos. Desdobrando mais a fundo os impactos psicológicos, causados pela chegada dos europeus à América e o contato entre as culturas, pode-se entender dentro desse tema que a derrota dos nativos e a destruição dos impérios estava ligada a uma esfera religiosa e cósmica, significando para os indígenas o fim do reino do deus Sol. Além disso, outro fator de grande impacto na mentalidade dos mesoamericanos e andinos foi a brusca diminuição nos números de sua população, em outras palavras, um colapso demográfico foi causado cuja causa principal se remete às doenças trazidas do Velho Mundo para o Novo Mundo, a exemplo, varíola, sarampo, peste e gripe. No texto, o autor faz uma cronologia das epidemias que assolaram os indígenas. Referência: WACHTEL, Nathan. Os índios e a Conquista Espanhola. In: História da América Latina: A América Latina Colonial, São Paulo: Edusp, 1997. V. I, cap. 5, p. 195-239 ➢ Texto 7: A Igreja Católica na América espanhola colonial – Josep Barnadas O texto busca compreender o surgimento da Igreja Católica na América Espanhola, bem como seu sucesso. Para isso, é preciso analisar o contexto histórico da Península Ibérica no final da Idade Média. Em decorrência da reconquista do território cristão do invasor islamico, houve a fusão de culturas entre os castelhanos e seus adversários muçulmanos, por consequência, a absorção do messianismo religioso por parte dos hispânicos. A princípio ocorreu relativa tolerância religiosa aos não-cristaos, mas esse cenário foi mudando a partir do começo do século XV, contexto das Reformas Religiosas e críticas ao catolicismo, iniciando a imposição da cristandade aos judeus espanhóis. Ao mesmo tempo, novos modelos estatais surgiram, como resultado, os governantes obtiveram controle de forças sociais, e principalmente eclesiásticas, assim, não havendo um lugar reservado para teocracia política. Com a ausência de uma classe burguesa desenvolvida no século XV, as coroas de Portugal e Castela tomaram a frente da expansão territorial além da península: primeiramente ao longo da costa ocidental africana, nas ilhas Canárias, que serviu como experiência para a futura conquista da América. A fim de proteger e manter a Igreja Católica, o papado vinha interferindo em expedições de exploração a mais de um século, assim podendo promover a conversão dos habitantes nativos das terras conquistadas e expandir o catolicismo. Em troca havia a legitimação da conquista para a coroa espanhola por meio de uma missão: acelerar a submissão dos povos e europeizá-los pregando a lealdade à Coroa, tal que detinha o controle total da vida eclesiástica, podendo indicar candidatos a cargos, autorizar envio de eclesiásticos para o Novo Mundo, etc. A razão para tal submissão por parte da Igreja tinha como raiz a preocupação dos papas com o renascimento e a propagação do protestantismo, logo, Roma não teria como financiar a expansão da fé cristã na América, desse modo, o Rei da Espanha seria muito mais favorável para tal ato. Contudo, ao chegar no Novo Mundo, percebe-se a complexidade cultural e religiosa presente nos povos nativos, sendo necessário um esforço mais rigoroso na evangelização, porém, sempre posterior à conquista militar e política dos colonos. Na metade do século XV inicia-se uma série de movimentos protestantes na península ibérica, o que faz a Igreja ter mais fervor no seu propósito no novo mundo. Tinha-se como ideia uma seleção mais rigorosa e candidatos para pregar o evangelho, e surgiu como meta uma visão utópica da missão missionária. Vislumbra-se na América um “reino do evangelho”, onde o cristianismo seria puro. Posteriormente, com o Concílio de Trento e seu ideal reformador, surge a Companhia de Jesus, que parte para a América com seu ideal utópico buscando implantar um cristianismo isento de erros. Em suma, a Igreja no Novo Mundo era o fruto da união de duas correntes: Igreja Ibérica eConcílio de Trento. Referência: BARNADAS, Josep M., A Igreja Católica na América Espanhola Colonial. In: História da América Latina: A América Latina Colonial, São Paulo: Edusp, 1997. V. I, cap. 12, p. 521-551.
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