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HIDRÁULICA APLICADA Lélis Espartel Estudo dos escoamentos de fl uidos em condutos forçados e livres Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identifi car a diferença entre escoamentos em conduto forçado e à superfície livre, por meio de seus principais elementos hidráulicos. Diferenciar um escoamento permanente de um escoamento variável por meio do conhecimento de suas principais características. Aplicar a soma de Bernoulli, equação que expressa a conservação de energia do líquido em movimento. Introdução Você consegue imaginar uma sociedade sem água corrente? Isso já não é mais possível por conta das mais diversas necessidades humanas. Qua- lificar os meios de transporte de água é um fator que impulsiona muitos dos avanços da sociedade, pois permite irrigar plantações, e também é responsável por cerca de 95 % da produção de energia elétrica no Brasil. Neste capítulo, você vai estudar sobre fluido que escoa, seja em um conduto forçado, ou seja à superfície livre. U N I D A D E 1 Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 11Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 11 18/01/2017 17:57:0518/01/2017 17:57:05 Conduto forçado x superfície livre A defi nição de conduto no ramo da hidráulica é de um contorno sólido de perímetro fechado. Se a seção transversal deste conduto está completamente submetida à uma pressão que não seja atmosférica, então este conduto é chamado de conduto forçado. Caso o escoamento ocupe parcialmente a seção transversal e apresente a superfície livre em contato com ar atmosférico através de uma camada de líquido praticamente horizontal, então ele é um escoamento à superfície livre. Este conceito exalta a importância de entender que um conduto deve possuir o perímetro fechado, pois o perímetro aberto sempre vai estar em contato com o ar atmosférico enquanto que o perímetro fechado pode ou não estar em contato com a pressão atmosférica. Todo escoamento de líquido que não ocorre em conduto forçado, ocorre à superfície livre. A Figura 1 ilustra a diferença entre conduto forçado e conduto com escoamento à superfície livre. Figura 1. Seção transversal de um conduto livre e de um conduto forçado. Hidráulica aplicada12 Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 12Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 12 18/01/2017 17:57:0518/01/2017 17:57:05 Elementos hidráulicos Na seção transversal de um escoamento existem três elementos hidráulicos im- portantes para cálculos de verifi cação e dimensionamento de condutos: a) Área molhada (AM): área da seção transversal do líquido que escoa dentro do conduto. b) Perímetro molhado (PM): perímetro da seção transversal do líquido que toca as paredes do conduto. c) Raio hidráulico (RH): razão entre a área molhada e o perímetro molhado. A principal característica para identificar condutos forçados é que eles possuem tanto AM quanto PM iguais às áreas e perímetros da própria seção do contorno sólido. Pois ele está completamente preenchido de líquido. O raio hidráulico é calculado através da seguinte equação: RH = AM/PM (equação 1): é inversamente proporcional à influência do contorno sólido no escoamento, ao relacionar o volume de fluido que escoa (AM) com a área da interface fluido-parede (PM), ele indica se essa parede tem ou não influência significativa no escoamento. Um alto raio hidráulico, significa que AM é muito maior que PM, ou seja, há muita massa líquida que não está em contato com as paredes, logo, as paredes têm pouca influência no escoamento. 13Estudo dos escoamentos de fluidos em condutos forçados e livres Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 13Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 13 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06 Qual a área molhada, perímetro molhado e raio hidráulico das seguintes seções trans- versais, medidas em metros? Resolução: A1 = 2 ∙ 20 = 40; PM1 = 20 + 2 + 2 = 24; RH1 = 40/24 = 1,67 A2 = 2 ∙ 2 + 2 ∙ (2 ∙ 1)/2 = 6; PM2 =2 + 2 ∙ √(22+12) = 6,47; RH2 = 6/6,47 = 0,93 A3 = π32 = 9 π; PM3 = 2π3 = 6π; RH3 = 9/6 = 1,5 Logo, o conduto com mais influência das paredes no desenvolvimento do escoa- mento é o 2, seguido pelo 3 e, por fim, pelo 1. Pois o raio hidráulico é inversamente proporcional a essa influência. Hidráulica aplicada14 Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 14Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 14 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06 Influência do raio hidráulico em uma seção circular de raio = 0,5 metro h AM PM RH 0,1 0,041 0,644 0,064 0,2 0,112 0,927 0,121 0,25 0,154 1,047 0,147 0,3 0,198 1,159 0,171 0,4 0,293 1,369 0,214 0,5 0,393 1,571 0,250 0,6 0,492 1,772 0,278 0,7 0,587 1,982 0,296 0,75 0,632 2,094 0,302 0,8 0,674 2,214 0,304 0,9 0,745 2,498 0,298 1 0,785 3,142 0,250 15Estudo dos escoamentos de fluidos em condutos forçados e livres Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 15Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 15 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06 Escoamento permanente x variável O estudo do escoamento busca simplifi cações da prática que facilitam os cálculos sem comprometer seus resultados. Uma abordagem com esse intuito é a classifi cação em escoamento permanente e escoamento variável. O es- coamento permanente aponta que as propriedades, como pressão, nível de água, força, velocidade, entre outras, do escoamento são invariáveis ao longo do tempo, função exclusiva do ponto e independente do tempo. Se as propriedades do fluido são constantes e a área da seção é indeformável, isso significa que a vazão também é constante ao longo do escoamento em regime permanente. Escoamento em regime permanente é raro de acontecer na prática, pois as propriedades variam em torno de um valor médio. Mas, dificilmente se mantém fiéis a um valor único. 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 0,000 0,050 0,100 0,150 0,200 0,250 0,300 0,350 Rh x h para R = 0,5m Note que a menor influência das paredes se encontra no momento em que o conduto está aproximadamente 80% preenchido. Hidráulica aplicada16 Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 16Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 16 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06 A vazão (Q) é definida como a quantidade volumétrica (V) de fluido que se desloca através de uma seção transversal (AM) em um determinado período de tempo (∆t). Logo: Q = V/∆t: o volume do fluido é o produto entre a seção transversal (AM) e o comprimento (l) que essa massa se desloca paralelamente a si mesma durante o tempo (∆t) em que ocorre o movimento. Q = AM l/∆t: percorrer uma distância em um dado intervalo de tempo é o conceito de velocidade (v). Q = AM v: equação da continuidade, para um escoamento permanente e incompressível. Expressa a vazão em função da velocidade média e da área da seção. A velocidade média de um escoamento é a razão entre a vazão e a seção transversal da área molhada de um conduto. A velocidade de um escoamento não é constante: sua maior variação se dá ao longo do eixo vertical. Porém, se trabalha com o conceito de velocidade média − uma velocidade imaginária constante ao longo de todo o escoamento, que resulta em uma vazão idêntica à gerada pelo perfil de velocidades. Soma de Bernoulli Daniel Bernoulli foi o primeiro a correlacionar energia cinética com energia potencial de pressão, por isso a equação que expressa a conservação de energia do líquido em movimento, leva o nome dele. Um conduto forçado possui três formas de energia: cinética, potencial de posição e potencial de pressão (veja a seguir). 17Estudo dos escoamentos de fluidos em condutos forçados e livres Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 17Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 17 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06 Energia cinética A energia cinética de um escoamento é chamada de taquicarga e expressa a capacidade de uma massa (m) de líquido realizar o trabalho devido à velocidade (V) que agita suas partículas. A equação da energia cinética é: Ec = mV²/2 Divide-se a energia cinética pela força peso W = mg, a fim de obter uma carga de energiaem metros: Ec/W = (mV²/2mg) Taquicarga: Ec/W = V²/2g Analisando as unidades: [m²/s² / m/s²] = [m] Energia potencial de posição A energia potencial de um fl uido, também chamada de cota piezométrica, é o trabalho necessário para elevar o fl uido até uma determinada posição, que é função de um plano referencial arbitrário. Se essa determinada posição for por exemplo uma altura h, a energia potencial de posição é dada pelo produto da massa m pela gravidade g e pela altura h, sendo: E = mgh Dividindo pela força peso (W = mg) do fluido, tem-se: Cota piezométrica: E/W = h cuja unidade também é em [m] Hidráulica aplicada18 Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 18Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 18 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06 Energia potencial de pressão A energia potencial de pressão é a medida do trabalho feito pela força de pressão P na massa líquida. Essa massa líquida possui uma área de seção A e translada paralela a ela mesma por um comprimento l. Assim, o empuxo total na seção transversal é PA. E o trabalho é a atuação dessa força ao longo de l. Ep = PAl Dividindo pela força-peso (mg) tem-se: Ep/W = PAl/mg Al é um volume e mg é uma força, logo, eles são o inverso do peso especí- fico, que é unidade de força por unidade de volume e é representado por γ, logo: Carga Piezométrica: Ep/W = P/γ cuja unidade é [N/m²]/[N/m³] = [m] Assim, a carga total de energia de um escoamento é dada por: H = Z + P/γ + v²/2g Somatório da taquicarga e energia potencial de cota e pressão. Nessa unidade todos os fluidos são considerados ideais e não admitirão dissipação de energia, logo, este valor de H é constante ao longo de todo escoamento. 19Estudo dos escoamentos de fluidos em condutos forçados e livres Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 19Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 19 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06 AZAVEDO NETTO, J. M. et al. Manual de hidráulica. 8. ed. atual. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. BAPTISTA, M.; LARA, M. Fundamentos de engenharia hidráulica. 3. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2010. Leituras recomendadas 23Estudo dos escoamentos de fluidos em condutos forçados e livres Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 23Hidraulica_aplicada_U1_C01.indd 23 18/01/2017 17:57:0618/01/2017 17:57:06
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