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AGRADECIMENTOS Ao Programa Florestabilidade do Canal Futura, Fundação Roberto Marinho, pela autori- zação de uso dos vídeos. O conteúdo deste curso foi desenvolvido a partir do caderno “Castanha - Boas práticas para o extrativismo sustentável orgânico”, no âmbito do Projeto Nacional de Ações Inte- gradas Público-Privadas para a Biodiversidade (ProBio II), contrato administrativo SFB nº 5/2013, firmado com o Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA). MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA Presidente da República EDSON DUARTE Ministro de Estado do Meio Ambiente – Substituto SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO RAIMUNDO DEUSDARÁ FILHO Diretor-Geral do Serviço Florestal Brasileiro CARLOS EDUARDO PORTELLA STURM Diretor de Cadastro e Fomento Florestal EQUIPE TÉCNICA NILTON REIS BATISTA JÚNIOR Gerente Executivo de Fomento e Inclusão Florestal CRISTINA GALVÃO ALVES Coordenadora de Fomento e Inclusão Florestal DÉBORA SILVA CARVALHO FLÁVIA REGINA RICO TORRES Equipe Técnica FLÁVIA REGINA RICO TORRES Coordenação Técnica Pedagógica AVANTE BRASIL Projeto gráfico e diagramaçã AVANTE BRASIL Ilustração Este produto faz parte das atividades previstas no Componente 3 do projeto Gestão Florestal para a Produção Sustentável, em junho de 2018. Sumário Módulo 1 - Ecologia da castanha 4 1.1 Apresentação 6 1.2 Botânica 9 1.2.1 Floração e polinização 9 1.2.2 Frutificação 9 1.3 Ocorrência e densidade 10 1.2.3 Dispersão 10 1.4 Principais produtos e usos 13 Encerramento do 17 Módulo 2 - Boas práticas no manejo da castanha 17 2. Apresentação 18 2.1 Atividades da pré-coleta 29 2.1.1 Identificação e demarcação das áreas produtivas 24 2.1.2 Seleção das árvores 25 2.1.3 Levantamento do potencial produtivo 29 2.1.4 Estimativa de produção 31 2.1.5 Limpeza na base das castanheiras 32 2.2 Atividades da coleta 33 2.2.1 Planejamento da coleta dos frutos 34 2.2.2 Equipamentos e materiais 37 2.2.3 Registro de procedimentos durante a coleta 38 2.2.4 Amontoamento 40 2.2.5 Transporte para a unidade de proteção 41 2.2.6 Ciclo e periodicidade da coleta 42 2.3 Atividades de pós-coleta 44 2.3.1 Lavagem e seleção 45 2.3.2 Secagem 47 2.3.3 Armazenamento 49 2.3.4 Conservação das áreas de coleta 51 2.3.6 Produção de mudas 54 Encerramento do Módulo 2 55 Módulo 3 - Cadeia produtiva 56 3. Apresentação 57 3.1 Beneficiamento da produção 58 3.1.1 Castanha com casca 62 3.1.2 Castanha sem casca 64 Encerramento do Módulo 66 Módulo 4 - Diretrizes técnicas e sua importância 67 4. Apresentação 68 4.1 Controle de qualidade fitossanitário da castanha, procedimentos para comercialização interna e externa 68 4.2 Legislação 73 4.2.1 Legislação orientadora para o manejo florestal 73 4.2.2 Legislação específica sobre castanha 75 4.2.3 Orientações para o produtor extrativista regularizar a sua produção orgânica 76 Encerramento do Módulo 4 79 Bibliografia 80 MÓDULO 1 ECOLOGIA DA CASTANHA 5 Manejo da Castanha - Módulo I Para ajudá-lo (a) no decorrer dos estudos, vamos contar com dois casais que trabalham com a Castanha e estão prontos para trocar informações, conhecimentos tradicionais e apresentar as principais técnicas e boas práticas para o Manejo da Castanha. 1.1 Apresentação Eu sou a Ana. Também atuo como técnica extensionista junto com meu colega Carlos. Meu nome é Carlos, sou técnico exten- sionista, e pretendo trazer informações importantes sobre o manejo da castanha e as boas práticas para produção orgânica! Eu sou o Sebastião, mas todos me cha- mam de Tião. Também sou extrativista e tra- balho com a Castanha desde menino. Estou aqui para aprender mais sobre as fases de planejamento e manejo, e posso ensi- nar o que eu aprendi com os mais velhos da minha comunidade. Meu nome é Francisca, ou Chica, como sou mais conhecida. Sou extrativista com muito orgulho! Eu e a minha família sempre traba- lhamos com Castanha. Ensinar e aprender faz parte do nosso modo de vida aqui na flore - ta! Melhorar a renda da nossa família e aprender mais sobre o manejo da castanha é comigo mesmo. Tenho muitas dúvidas sobre o manejo das castanhas e, principalmente, so- bre os aspectos legais relacionados à essa atividade. 6Manejo da Castanha - Módulo I A castanheira (Bertholletia excelsa H & B) é uma árvore de grande porte característica do bioma1 Amazônia. Ocorre em mata alta de terra firme e, em determinados locais, forma os chamados castanhais, em associação com outras espécies também de grande porte. 1.1 Apresentação A espécie foi descrita em 1807 por Humboldt e Bonpland, e incluída na família das Lecythidace- ae Poiteau, em 1825. Representa a única espécie existente no gênero Bertholletia e, embora exista uma considerável variação no tamanho, forma e número de sementes por fruto, não se constitui justificativa plausível para reconhecer mais de uma espécie (MORI & PRANCE, 1990 citado por BARBEIRO, 2012, p. 4). Seu porte se sobressai na floresta, chegando a 50 metros de altura e até 2 metros de diâmetro (CY- MERYS, et al., 2005). Seus frutos são conhecidos como “ouriços”, que chegam a pesar até 1,5 kg e conter até 25 sementes, denominadas como casta- nhas, estas são ricas em vitaminas, gorduras e pro- teínas. A descrição foi feita por estudo da Embrapa (2004), que será utilizado como referencial bibliográ- fico no decorrer do curso. A Castanheira está presente em estado nativo na Amazônia, sendo que as maiores concentrações ocorrem na porção brasileira, principalmente no planalto que separa a bacia formada pelos afluentes do baixo Amazonas, alto Tocantins e alto Moju, e em terras altas ao norte do rio Jarí, no estado do Pará e nos estados do Amazonas e Acre, até o alto Beni na Bolívia (MULLER, et al., 1995). Em seu fruto, encontramos as sementes ou amên- doas, de alto valor nutritivo, que recebem diversos nomes populares, como castanha-do-brasil, casta- nha-do-pará, castanha da Amazônia, castanha, cas- tanheira, amendoeira da América e castanha mansa (EMBRAPA, 2004). A espécie tem uma relevante importância para a estrutura e o funcionamento do ecossistema em que vive (CYMERYS, et al., 2005). Além disso, apresenta Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. 1Bioma: Conjunto de seres vivos e ambiente constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação, com condições geográficas e cl - máticas similares e compartilhadas. No Brasil, há seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. 7 Manejo da Castanha - Módulo I muitas interações com diferentes tipos de animais e é muito apreciada pelos valores comercial e nutritivo de suas sementes, além de ter uso medicinal. Sua regeneração é uma questão em debate contínuo. Estudos demonstram que o extrativismo, ao longo do último século, causou grande impacto no desenvolvi- mento natural de castanhais, indicando que os altos níveis de exploração das suas amêndoas sem um manejo favorável, em algumas regiões, resultaram em uma alteração nas idades e distribuição de árvores por área da espécie, constituindo florestas com alto nível de plantas adultas em processo de envelhecimento e, consequentemente, nível baixo de plantas jovens. No entanto, outros estudos realiza- dos indicaram que o extrativismo sustentável praticado nos casta- nhais da região amazônica tem baixo impacto, sendo viável por mais algumas décadas. Defendem que, em castanhais com longo histórico de coleta, o extrativismo, em prin- cípio, não compromete o estoque de plântulas2. O manejo adequa- do da regeneração natural das castanheiras em áreas alteradas, quando conciliado com um tipo de agricultura, favorece o crescimento das plântulase varetas, o que pode viabilizar a expansão dos castanhais e o aumento da produtividade. Atenção Vale destacar que a castanha-do-brasil é um produto muito apreciado no mercado internacional e, de acordo com o IBGE, em 2016, a produção da extração da amêndoa foi de 34.664 toneladas e movi- mentou 79,6 milhões de reais na produção primária. Essa produção vem em grande parte de ativida- des extrativistas coletadas em Unidades de Conservação, terras indígenas e assentamentos rurais e são responsáveis por boa parte da renda de milhares de famílias representantes de Povos e Comunida- des Tradicionais e Agricultores Familiares. E, portanto, as interações do modo de vida tradicional com a produção sustentável permitem a melhoria da qualidade de vida dos povos da floresta, segurança alimentar com a conservação da biodiversidade da Amazônia. 2Plântula: Embrião desde o início do seu desenvolvimento, em consequência da germinação da semen- te, até a formação das primeiras folhas. 8Manejo da Castanha - Módulo II Vamos apresentar neste curso informações básicas sobre a ecologia da castanheira; relevância so- cioeconômica da castanha-do-brasil, integrando o reconhecimento do modo de vida das comunidades extrativistas; as boas práticas de manejo da espécie (importância, técnicas, beneficiamento, armazen - mento, noções da legislações para a extração e co- mercialização da castanha, bem como as principais orientações para produção orgânica)! Agora é “entrar na floresta” e conhecer os benefícios de uma produção sustentável. Sejam bem-vindos! Isso mesmo, Ana! Vamos conhecer a Castanheira e todo o seu ciclo reprodutivo. 9 Manejo da Castanha - Módulo I 1.2.1 Floração e polinização As flores da castanheira possuem uma estrutura e - pecial, sendo polinizada apenas por abelhas grandes (dos gêneros Xilocopa e Bombus) capazes de abrir a flor e promover a troca de pólen. As flores são gr - des, de cor branco amarelada ou creme, formadas de seis pétalas e numerosos estames (BARBEIRO, 2012). 1.2 Botânica Fonte: Embrapa Segundo Barbeiro (2012), o início da floração varia de acordo com a região, ocorrendo de agosto a no- vembro, durante os meses secos do ano com menor índice de precipitação pluviométrica, [...]. No leste da Amazônia, a floração inicia-se no fim da estaçã chuvosa (setembro) com maior índice de precipitação pluviométrica] e estende-se até fevereiro com uma maior intensidade em outubro – dezembro. 1.2.2 Frutificação O fruto da castanheira tem forma de cápsula, possui casca lenhosa e espessa, variando de tamanho e peso conforme a região em que se desenvolve. Con- tém de 5 a 25 sementes (castanhas), dispostas em torno do eixo central. A castanheira produz frutos só uma vez por ano, pois demoram mais de um ano (14 a 15 meses) para se- rem formados (CYMERYS, et al., 2005). Geralmente, o período em que os frutos caem da copa da casta- nheira vai de novembro a março, mas pode variar de acordo com a região. Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. A produção de uma árvore varia muito em função de vários fatores, dentre os quais: o ano, a região, a grossura da árvore (Circunferência do tronco medida a 1, 30 m acima do solo – CAP), as condições da copa e da própria característica genética da árvore. Em função disso, a produção de um castanhal pode 10Manejo da Castanha - Módulo I ou não variar de uma safra para outra. Pode variar de 0 a 2000 frutos por árvore, por isso é fundamental fazer a estimativa da produção. 1.2.3 Dispersão A dispersão da castanheira depende da interação com a fauna. As cutias (Dasyprocta spp.) e os macacos caiarara (Cebus kaapori) e prego (Sapajus apella) são responsáveis por grande parte da dispersão de sementes. Estes animais, especialmente as cutias, enterram as sementes para servir de alimento na época de escassez e se esquecem de muitas delas que acabam germinando. Desta maneira, ocorre o processo de dispersão. No Brasil, a castanheira está presente na Amazônia Legal3 nos estados desta- cados no mapa e, predo- minantemente, nas áreas altas de terra firme, com melhor desenvolvimento em clareiras. Os maiores castanhais ocorrem, prin- cipalmente, nos estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Mato Grosso. 1.3 Ocorrência e densidade Mapa das regiões brasileiras e a ocorrência da castanheira Bertholletia excelsa H & B 11 Manejo da Castanha - Módulo I 3Amazônia Legal: Atualmente, a Amazônia Legal corresponde à àrea dos estados da Região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), acrescidos da totalidade do estado de Mato Grosso e dos municípios do estado do Maranhão situados a oeste do meridiano 44°. Fonte: IBGE 4Densidade: A densidade de uma espécie diz respeito à quantidade de plantas em determinada área, sendo expressa em número de árvores/ha. 5Reserva Extrativista: área natural utilizada por populações extrativistas tradicionais onde exercem suas atividades baseadas no extrativismo, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais existentes e a proteção dos meios de vida e da cultura dessas populações. Permite visitação pública e pesquisa científica A castanheira também está presente na Bolívia, Peru, Guianas, Suriname e Venezuela. Estudos demonstram que em áreas naturais a densidade4 de árvores adultas varia de 1 a 5 por hectare, mas de uma maneira geral costuma-se dizer que, em média, encontra-se 1 árvore em idade produtiva por hectare. A castanheira ocorre em agrupamentos conhe- cidos como castanhais ou “bolas”. O número de castanheiras por hectare pode variar. Por exemplo: no Acre, lá na Resex5 Chico Mendes pode ter de 1 a 4 árvores por hectare. Já no Pará na Flona6 de Caxuanã são de 10 a 12 árvores por hectare, e na 7Flota do Trombetas, a densidade varia muito, entre 0 a 15 árvores por hectare. Chica, temos também as RDS8, dentre elas a Piagaçú- -Purus, que possui os maiores castanhais nativos do Amazonas. Mas não vamos nos esquecer que mesmo sendo um grande castanhal, devemos manejar com boas práticas. Devemos lembrar de que durante muito tempo a floresta foi explorada sem nenhum cuidado, e por isso os rios estão secando, os animais já não têm tanto ali- mento, e isso tem que mudar! 12Manejo da Castanha - Módulo I 6Floresta Nacional: área com cobertura florestal onde predominam espécies nativas, visando o uso sustentável e diversificado dos recursos florestais e a pesquisa científica. É admitida a permanênc de populações tradicionais que a habitam desde sua criação. 7Floresta Estadual: Tal como as Flonas, as Flotas seguem as mesmas características na jurisdição estadual. 8Reserva de Desenvolvimento Sustentável: área natural onde vivem populações tradicionais que se baseiam em sistemas sustentáveis de exploração de recursos naturais desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais. Permite visitação pública e pesquisa científica A intensificação do uso da terra e dos recursos naturais, a partir da d - cada de 1970, por frentes de expansão agropecuária e construção de rodovias, ampliou a exploração madeireira ilegal e gerou desmatamen- to e conflitos com os povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares. Ao verem ameaçadas suas práticas tradicionais de extrativismo vegetal, essas populações passaram a se mobilizar e dar início a um histórico movimento de luta que se estende até os dias de hoje, reivindicando também visibilidade por parte do Estado, garantia de sua permanência em territórios tradicionalmente ocupados, respeito às suas práticas e saberes, melhores condições de vida e acesso às políticas de inclusão socioprodutiva. VOCÊ SABIA? Diante desse contexto, o Estado passou a unir esforços para atender de forma diferenciada a esse público tão diverso. Com vistas a fortalecer a prática extrativista sustentável e a manuten- ção das florestas, nas últimas décadas foram criadas políticas públicas e legislaçõesque vêm favorecendo o manejo sustentável de produtos florestais de uso múltiplo, da madeira ao óleo, de uma grande diversidade de espécies nativas, como você poderá conhecer mais no módulo 4. 13 Manejo da Castanha - Módulo I VOCÊ SABIA? Já há algum tempo, a castanha-do-brasil brilha no Brasil e no mundo, não somente pelo alto valor nutri- tivo, mas também pelo valor comercial. O produto é exportado para diversos países, entre os quais Esta- dos Unidos, Austrália, Alemanha, Escócia e Inglaterra. Na América Latina, a castanha-do-brasil também tem grande valor comercial, por exemplo, no Peru e na Bolívia. As inúmeras propriedades da castanha-do- -brasil são conhecidas de longa data. Existem relatos de que ela começou a ser cultivada há muito tempo por indígenas, que a teriam apresentado aos euro- peus com o início da colonização. 1.4 Principais produtos e usos A introdução da castanha-do-brasil na Europa teria ocorrido por intermédio dos holandeses, ainda no início do século XVII, quando estiveram no baixo rio Amazonas. Naquela época, já eram conhecidos os castanhais do rio Tocantins, no sudeste do Pará. O grande valor comercial da castanha-do-brasil no mercado internacional representa uma alternativa de renda para os povos da floresta e vem d - monstrando, cada vez mais, o potencial do produto para a organização das comunidades, a geração de trabalho e renda, a fixação das famílias à terra e a conservação do bioma Amazônia. Por isso, a produção da castanha está intimamente ligada à cultura das populações tradicionais da Amazônia. A Lei nº 11.284, de 2006, que dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção sustentável, considera manejo florestal sustentável a adm - nistração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e a - bientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema obje- to do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras e de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como o uso de outros bens e serviços de natureza florestal Da Castanheira, aproveitamos várias partes com os seus produtos e subprodutos. Venha ver! http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11284.htm 14Manejo da Castanha - Módulo I Casca Uso medicinal (chá) para diarreia. Amêndoa A grande “estrela” da castanha-do-brasil, entretanto, é a amên- doa, porque seja de que jeito for – fresca, seca, ralada, em forma de óleo ou de bagaço –, é utilizada para os mais diversos fins. A amêndoa fresca pode ser consumida in natura. É dela que são extraídos o “leite da castanha”, usado na preparação de bolos, sorvetes, pratos típicos da cozinha amazônica, e a farinha, de elevado teor nutritivo, usada na merenda escolar por todo o País como com- plemento/suplemento alimentar. Também são utilizadas como ingredientes de outros alimentos em confeitarias, indústrias de chocolates, sorve- terias. Tronco Do tronco, aproveitam-se popularmente a casca, para o preparo de chás con- tra disfunções gastrointestinais, e a madeira, que por ser de boa qualidade, é indicada para reflorestamento e empregada na construção civil e naval. E - tretanto, vale lembrar que, de acordo com a Lei nº 12.651, de 2012, apenas madeira de reflorestamento é passível de corte para fins madeireiro Óleo Ingredientes ou condimento de outros alimen- tos na culinária; Produção de cosméticos (cremes para a pele, xampus e condicionadores e sabonetes). Ouriço O ouriço é usado in natura na produção de artesanatos, ou quei- mado para a produção de carvão, e pode, ainda, ser cortado e utilizado na decoração de ambientes inter- nos. Também pode ser utilizado como medicamento caseiro para tratar anemia e hepatite. Bagaço O bagaço da castanha-do-brasil é aproveitado para a alimentação animal. A casca tem lugar de destaque como combustível para gerar energia em usi- nas. Ralada, tem uso similar ao do queijo ralado, utilizada na culinária alternativa e naturalista. 15 Manejo da Castanha - Módulo I Quando seca, a amêndoa pode ser consumida pura ou como ingrediente de outros produtos industrializados. Da amêndoa seca e cozida, é extraído o óleo, comestível ou não, utilizado na fabricação de produtos cos- méticos – já que a castanha- -do-brasil possui propriedades emolientes9 e hidratantes no- táveis – e farmacêuticos. Neste particular, a castanha tem sido considerada pelo potencial como remédio para muitos ma- les, inclusive do coração. ATER TÉCNICO ATER O Decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006, institui a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, para garantir o acesso seguro e o uso susten- tável de plantas medicinais; o desenvolvimento de tecnologias e inovações; o fortalecimento das cadeias e dos arranjos produtivos; o uso sustentável da biodiversidade brasileira; e o desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde. 9Emolientes: substâncias que têm a proprieda- de de amolecer. Importante Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a castanha-do-pará, além de nutrir, ajuda a combater doenças cardiovasculares. As chamadas gordu- ras saudáveis presentes na castanha promovem a diminuição do LDL (colesterol “ruim”) e o aumento do HDL (colesterol “bom”), prevenindo, assim, doenças cardiovasculares. Os benefícios da castanha-do-brasil para a saúde vão muito além: fontes de fibras, rica em vitaminas e minerais, como potássio, selênio, magnésio e zinco, ela é popularmente conhecida pelo combate ao envelhecimento das células, pelo seu papel em “ativar” o cérebro, podendo potencialmente contribuir para a prevenção de aparecimento de tumores e doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer e a esclerose múltipla. Também é utilizada no apoio a casos de desnutrição e anemia. Tantos benefícios sem a necessidade de um grande sacrifício, porque segun- do os conhecimentos locais, consumir uma só castanha-do-brasil por dia é o suficiente para colaborar para uma vida longa e de qualidade 16Manejo da Castanha - Módulo I Importante Tanto para os que trabalham e manipulam, como para os que consomem pro- dutos das plantas medicinais, é muito importante conhecer as dosagens e as contraindicações existentes, especialmente para gestantes, lactantes, crianças, idosos e pessoas com histórico de doença. Aprendemos que a Castanheira dá vários produtos e subprodutos impor- tantes para o susten- to de muitas famílias na Amazônia! Nele, aprendemos sobre o ciclo da castanheira e a importância dos animais na polini- zação e dispersão dos frutos. Os exercícios do mó- dulo estão a seguir. Vamos testar nosso aprendizado?. Fechamos o primei- ro conteúdo do nos- so curso. Espero que vocês tenham gostado. Nos ve- mos no próximo. Encerramento do módulo 1 Módulo 2 Boas práticas no manejo da castanha 18Manejo da Castanha - Módulo II Iniciamos o se- gundo módulo do curso. Nele, você aprenderá sobre o Manejo da Castanha. Você irá entender o processo de pré- -coleta, atividades da coleta e, por fim, as atividades de pós-coleta. ATER TÉCNICO ATER O extrativismo sustentável se baseia na visão de exploração de produtos florestais não m - deireiros aliada à conservação da floresta nativa, na medida em que combina conhecimentos e práticas tradicionais, diversas técnicas de coleta e extração de produtos florestais e conserv - ção das áreas de manejo. É isso mes- mo, Carlos. Dessa maneira, valoriza-se quem vive na e da floresta 2. Apresentação 19 Manejo da Castanha - Módulo II 2.1 Atividades da pré-coleta Por meio de boas práticas de manejo do fruto da castanha-do-brasil, será possível aprimorar o plane- jamento do trabalho a ser realizado, o que poderá incrementar a produtividade e a qualidade dos produtos a serem extraídos, e ainda garantir boa qualidade de vida dos extrativistas e do ambiente em que vivem. O sistema de produção tradicional é baseado na unidade familiar,administrada diretamente pelo produtor e denominada de colocação. Este sistema não envolve maiores investimentos tecnológicos, consistindo, basicamente, em técnicas tradicionais de coleta, amontoa e quebra dos ouriços, além do armazenamento na mata e transporte para as usi- nas de beneficiamento Saiba mais A descrição das etapas do manejo e os cuidados para o controle higiênico-sanitário de castanha-do- -brasil são apresentados nos documentos: • Procedimentos para o controle higiênico-sanitário da castanha-do-brasil na floresta (ALVARES, 2011) • Castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa H.B.K.) (BRASIL, 2012); • Manual de segurança e qualidade para a cultura da castanha-do-brasil (EM- BRAPA, 2004); • Orientações para as boas práticas de manejo da castanha-do-brasil (IDAM, 2011); e • Boas práticas para manejo florestal e agroindustrial de produtos florestai não madeireiros (PINTO et al., 2010). São informações oriundas do conhecimento técnico científico e das práticas tradicionais utilizadas por diversas instituições de apoio e fomento, que desenvolvem atividades relacionadas ao desenvol- vimento da cadeia produtiva da castanha-do-brasil. 20Manejo da Castanha - Módulo II O documento Diretrizes e recomendações técnicas para boas práticas de manejo a castanha-do-brasil cita que as boas práticas de coleta tornam-se um parâmetro seguro e de aplicação possível, não ape- nas por meio de normas, mas também por acordos entre os diversos atores de uma cadeia produtiva. Importante Saiba mais É importante fazer um mapeamento inicial da área em que será realizada a atividade de manejo, iden- tificando sua situação fundiária: se é uma área particular, uma área destinada pela União (Unidades de Conservação, Projetos de Assentamento etc.) ou uma área destinada estadual. É importante lembrar que de acordo com a Lei nº 12.651, de 2012, todos os imóveis rurais devem estar inscritos no Cadas- tro Ambiental Rural (CAR). Pesquise mais sobre o CAR no portal www.car.gov.br ou procure um órgão ambiental mais próximo de sua comunidade. Para os casos em que a coleta for feita em áreas de propriedade privada, é preciso solicitar permissão ao dono da área, de preferência, por escrito. Quando isso não for possível, recomenda-se obter, pelo menos, uma declara- ção expressa na presença de testemunhas. Caso a área de manejo esteja localizada dentro de uma Unidade de Conser- vação (UC), como Reservas Extrativistas (Resex)10, Reservas de Desenvol- vimento Sustentável (RDS)11 e Florestas Nacionais (Flonas)12, entre outras, todo o processo deve se nortear pelo plano de manejo, pelos planos de uso, pelos acordos de gestão comunitária e/ou acordos locais que se caracterizem como instrumentos de gestão. No caso específico de outros territórios, como Projetos de Assentamento da Reforma Agrária, também devem ser considerados os instrumentos de gestão existentes. Recomenda que é possível construir um protocolo mínimo de orientações que permitam assegurar que essas espécies serão manejadas de forma a não comprometer a estrutura e a dinâmica das popu- lações envolvidas e o ecossistema no qual estão inseridas (SOUZA, et al., 2009 citado por BRASIL, 2012, p. 6). http://www.car.gov.br 21 Manejo da Castanha - Módulo II 10Reserva Extrativista: área natural utilizada por populações extrativistas tradicionais onde exercem suas atividades baseadas no extrativismo, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais existentes e a proteção dos meios de vida e da cultura dessas populações. Permite visitação pública e pesquisa científica 11Reserva de Desenvolvimento Sustentável: área natural onde vivem populações tradicionais que se baseiam em sistemas sustentáveis de exploração de recursos naturais desenvolvidos ao longo de gera- ções e adaptados às condições ecológicas locais. Permite visitação pública e pesquisa científica 12Floresta Nacional: área com cobertura florestal onde predominam espécies nativas, visando o uso sustentável e diversificado dos recursos florestais e a pesquisa científica. É admitida a permanência populações tradicionais que a habitam desde sua criação. Mas existe alguma forma de organizar as tarefas na fase da pré-coleta? Claro, Tião! Para o planejamen- to das atividades, sugere-se a construção de um cronograma. Não se esqueça, para entrar na floresta só com equipamento de proteção individual. 22Manejo da Castanha - Módulo II Entenda que... A pré-coleta orienta o que fazer antes de tirar o produto da planta. É nesta etapa que o produtor conhece e define a área de manejo flo- restal, seu potencial para a coleta dos frutos da castanha-do-brasil e estima a produção. Quando bem executadas, as atividades de pré-coleta ajudam a aumen- tar a eficiência na etapa seguinte, a da coleta dos frutos, encurtando caminhos, melhorando a produtividade e reduzindo danos ambientais e acidentes de trabalho. Nesta etapa, faz-se a caracterização da área, o mapeamento, seleção e marcação das árvores para produção, a abertura e manutenção de picadas e tratos silviculturais como o corte de cipós. A aplicação destas técnicas garante uma coleta mais eficiente, melhorando a produção e o trabalho do extrativista. Para aprimorar o cálculo sobre a capacidade de produção, o ideal é que se anote a produção individualizada (por árvore) de, pelo menos, um conjunto determinado de castanheiras. Assim, será possível obter valores precisos da produção média por árvore e por safra. Para tanto, deve-se realizar uma seleção das castanheiras que serão acompanhadas de perto. 23 Manejo da Castanha - Módulo II Você sabia que a propos- ta de estimar a produção anual é importante para que inicie o registro de sua produção e comece, a cada safra, a projetar a produção total de sua área de coleta? Pois é, Ana. Tendo a estimativa da produção, podemos comparar a quantidade planejada com a quantidade coletada de fato. Com isso, podemos nos programar para aten- der os diferentes tipos de mercado. A primeira atividade a ser realizada é a identificação do castanhal, loc - lização das castanheiras, quantidade de árvores existentes, localização das casas, aldeias, vilas, barracões de armazenamento, rios, igarapés e estradas. Além disso, temos que conhecer a capacidade de produção da nossa área. Vamos tomar como base uma lata de 10 quilos e anotar quantas latas cada castanheira enche com os seus frutos. Vamos para um exemplo. Em uma área mapeada, temos 12 árvores com frutos e cada árvore enche duas latas, temos: Número de castanheiras com frutos: 12 x Número de latas (de 10kg) de castanhas por árvore: 2 Total de latas (de 10 kg) de castanhas na área mapeada: 24 x Peso médio de castanhas: 10 kg Capacidade de produção da área mapeada (em quilos): 240 kg de castanhas 12 x 2 = 24 24 x 10 = 240 24Manejo da Castanha - Módulo II Para calcular a produção por hectare (ou outra me- dida de área), basta dividir essa produção total pelo tamanho da(s) área(s) do castanhal. Pode ser feito de maneira bem simples, com um desenho feito manualmente ou também a partir de dados obtidos com aparelho receptor GPS (Global Positioning System13), bússola, passos calibrados, imagem de satélite ou até mesm o fotografias aéreas (ALECHANDRE et al., 2007; BRASIL, 2008; EMBRA- PA, 2004). 13Global Positioning System: significa, em português, sistema de posicionamento Global. Aparelho móvel que envia informa- ções e imagens georreferenciadas captadas via satélite sobre a posição de algo, em qualquer horário e em qualquer condição climática na Terra. 2.1.1 Identificação e demarcação das áreas produtivas 25 Manejo da Castanha - Módulo II Portanto, considera-se um bom mapa aquele que reúne todas as informações da área que se pre- tende manejar. Durante a coleta desses dados, também são anotados dados de CAP (circunfe- rência medida a 1,30 m acima do solo ou Circun- ferência à altura do peito) e observaçõessobre árvores produtivas, presença de cupins e cipós e condições do local, como área alagada ou outra restrição. Como resultado, é feito um croqui ou mapa com informações sobre acesso à área de manejo e localização das castanheiras já mapea- das e marcadas com plaquetas, tinta ou fitas 2.1.1 Identificação e demarcação das áreas produtivas 2.1.2 Seleção das árvores Inventário Florestal Quando for realizar a etapa de inventário florestal, é importante que faça antes a abertura das trilhas e limp - za da área a ser inventariada. Esta medida evita acidentes e facilita a identificação das árvores Trena (de 50 metros): Trena (de 50 metros): para medir a distância das árvores em relação às trilhas. Aparelho GPS: para envio de informações e imagens georreferenciadas. 26Manejo da Castanha - Módulo II Principais equipamentos de proteção individual (botas, capacete, calça comprida, luvas, bainha para o facão): para envio de informações e imagens georreferenciadas. Equipamentos de proteção individual (botas, capacete, calça comprida, luvas, bainha para o facão): para reduzir os riscos de acidentes causados por animais peçonhentos, por queda dos ouriços, pedaços de galhos ou cipós, por contato com espinhos, pedaços pontiagudos da vegetação ou com o próprio facão, entre outros riscos. Prego, martelo, plaquetas de alumínio ou fitas de plástico resistente: para identificar com um número de ordem (o mesmo anotado na planilha ou caderno) cada árvore inventariada, fixe a placa identificadora ou amarre a fita no prego fincado no tronco da árvo Fita métrica ou trena: para medir a espessura das árvores. Caso você tenha uma fita diamétrica, você pode anotar diretamente o diâmetro da árvore ao invés de sua circunferência; o importante é que você tenha uma medida confiável que lhe permita acompanhar o crescimento da árvore em espessura e associá-lo a sua capacidade produtiva. Prancheta: prancheta, lápis, borracha, planilha ou caderno de anotações – para anotar o número de identificação da árvore mapeada, a espécie (castanheira, andirobeira, copaibeira etc.), caso você decida mapear outros PFNMs, a circunferência da árvore à altura do peito (1,3 metro de altura) e observações sobre sua produção (por exemplo, está com flores? Com frutos imaturos? Já está “j - gando” os ouriços? Já produziu em alguma safra? Ou seja, você se lembra de já ter coletado ouriços dela?). 27 Manejo da Castanha - Módulo II Para realização do mapeamento, devemos elaborar uma ficha para anotações das informações a serem colet - das na floresta durante o mapeamento, as principais informações a serem coletadas são (PINT et al., 2010): Circunferência das árvores medida à altura de um metro e trinta acima do solo. Coordenada geográfica da árvore; Número da plaqueta de identificação da árvore; Estimativa de produção (pode-se utilizar a unidade local, mas deve ter um referencial em Kg ou hectolitro); Informações sobre floração, produtividade, existência de cipó (presença ou ausên- cia), oco no tronco (presença ou ausência). ATER TÉCNICO Na sequência, realiza-se, então, o mapeamento das árvores. O método mais utilizado é com receptor de GPS. Este momento deve ser planejado e realizado junto com o extrativista que maneja o castanhal. Deve-se planejar o trajeto a ser percor- rido e a estimativa de dias de trabalho. Recomenda-se uma equipe de, no mínimo, três pessoas para realizar as atividades de: operação do GPS, identificação e medição das árvores e anotação do dados. Deve-se utilizar uma ficha de mapeamento com informações sobre o produtor, a localização da área e dados das árvores (ALECHANDRE et al., 2007). Observe o modelo. 28Manejo da Castanha - Módulo II ATER TÉCNICO É importante con- figurar o aparelho GPS escolhendo o tipo de coordenada e datum normal- mente utilizado pelas instituições locais. Logo após o trabalho de cam- po, é fundamental passar os dados colhidos pelo GPS para o computador em pastas com indicação de data. No mapeamento e marcação de todas as cas- tanheiras adultas e jovens (árvores com porte para produção, mas que ainda não produzem) da colocação, serão selecionadas as árvores a serem exploradas. A recomendação é que seja adotada a circunferência da árvore medida à altura de um me- tro e trinta acima do solo (CAP) maior ou igual a 90 cm, ou diâmetro da árvore medida à altura de um metro e trinta acima do solo (DAP) maior ou igual a 30 cm para o mapeamento das castanheiras. Além do CAP, o inventário pode trazer informações sobre a produtividade da árvore, presença de cipós, entre outras informações que tenham rela- ção direta com a produtividade de cada indivíduo (BRASIL, 2012; PINTO et al., 2010). TÉCNICA Mapa 29 Manejo da Castanha - Módulo II Identificação da árvore (localização ou numeração) Georreferenciamento (opcional); Circunferência à altura do peito; Informação sobre a presença de florescência Identificação do estado da copa em relação à sua forma, classificando- em “boa”, “quebrada” ou “ruim” (com galhos comprometidos); Produção estimada (opcional – essa variável deve ser anotada nos casos em que o produtor tem uma estimativa média de produção para as árvo- res) – Ocorrência de cipós entrelaçados na copa, causando má formação dos galhos ou comprometendo a copa. 2.1.3 Levantamento do potencial produtivo Nesta fase, devem ser mapeadas as castanheiras com circunferência à altura do peito (CAP) mínima de 30 cm e identificados os pontos de amontoa e quebra dos frutos nos casos em que há predeterminação desses pontos. Em uma ficha de campo, devem ser anotados os seguintes dados: Esses dados são úteis ao monitoramento da produção e possibilitam a indicação de possíveis tratos silviculturais na etapa de conservação das áreas de coleta. O potencial produtivo para o manejo da castanha-do-brasil é determina- do por meio de um inventário florestal que, com base na contagem de plantas consideradas produtivas, permite que se faça uma estimativa da produção para toda a área manejo. ATER TÉCNICO 30Manejo da Castanha - Módulo II De posse desses dados, poderão ser geradas as seguintes informações: Identificação da estrutura e dinâmica populacional – curva diamétrica14 e estágios de desenvolvimento; Critérios para definir as árvores produtivas para a safra Estimativa da produção da área (por hectare e por árvores) e para a safra (anual). A contagem das castanheiras deverá ser registrada em ficha de campo, organizada com nome da área, quantidade de castanheiras, classificação da árvore – produt - va, jovem e improdutiva – e estimativa de quantidade de frutos. O inventário florestal indica se a floresta está se expandindo, se novas árvores estão crescendo na florest se estão saudáveis, a que espécies pertencem e qual seu potencial produtivo. Saber como as espécies se distribuem é importante para trabalhos de regeneração de áreas degradadas. Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. 14Curva diamétrica: representa a distri- buição do número de indivíduos en- contrados em cada classe de diâmetro. 31 Manejo da Castanha - Módulo II Deve-se estimar a produção da castanha-do-brasil considerando sempre o contexto regional e as unida- des de medida (lata, saca, hectolitro etc.), dado um referencial em quilograma, assim como apresentar a estimativa da produção por área (castanhal) e indicar a quantidade de castanheiras. Os dados cole- tados nos levantamentos das áreas de produção, seja por censo, seja por inventário florestal, geram as seguintes informações: Quantidade de árvores nas diferentes classes de diâmetro (a partir do diâmetro mínimo estabelecido para a realização do inventário florestal) Quantidade de árvores consideradas produtivas (considerando o poten- cial total de produção por classe de diâmetro e ocupação do dossel); Estágios de vida: crescimento, recrutamento e mortalidade; Densidade e frequência; Estimativa da produção por árvore e total (quilos, sacas etc.). 2.1.4 Estimativa de produção Que tal agoraa gente ver um exemplo de tabela? 32Manejo da Castanha - Módulo II Saiba mais A capacidade produtiva das castanheiras varia bastante de árvore para árvore, de safra para safra em uma mesma árvore, varia também com a idade e o tamanho da árvore entre outros fatores, ha- vendo inclusive árvores nativas, grandes e aparentemente saudáveis que não produzem. Por isso, é difícil chegar a uma quantidade média de produção por árvore que seja característica da espécie. Um estudo realizado no município paraense de Marabá observou que uma castanheira produz, em média, 29 ouriços por ano, equivalente a cerca de 3 quilos de castanha (amêndoa com casca) por árvore por ano (Salomão, 1991). Outro estudo informa que castanheiras jovens (em torno de 16 anos) produzem entre 30 a 50 ouriços por ano, porém, castanheiras com idade entre 200 a 400 anos chegam a produzir até 1.000 ouriços por ano! (Shanley et al., 2006). É comum encontrar ao redor das castanheiras restos de ouriços (inteiros e/ou quebrados) das safras passadas. O contato dos ou- riços e castanhas com o solo, em temperatura elevada e umidade durante todo o ano, favorece o desenvolvimento e proliferação de fungos. Portanto, é necessária a limpeza da base das castanheiras antes do início da nova safra com o objetivo de eliminar ouriços e restos de castanhas da safra anterior, como medida preventiva e dimi- nuição da contaminação dos frutos da nova safra. Esta prática é importante para manter a qualidade do produto, pois evita a sua contaminação por substâncias prejudiciais a saúde humana. Saiba mais O corte de cipós deve ser feito não só nas árvores que serão exploradas, mas como em castanhei- ras jovens que ainda não produzem frutos. Com o corte de cipós, as plantas jovens são liberadas para que cresçam e se desenvolvam sem impedimentos, enquanto as árvores produtivas têm sua a produção favorecida, uma vez que o lançamento de folhas novas está diretamente relacionado com a floração e, consequentemente, a produção de frutos. O corte de cipós só deve ser realizado para esses dois objetivos, pois também são importantes na floresta, sendo fonte de alimento para fauna, entre outras interações. 2.1.5 Limpeza na base das castanheiras Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. 33 Manejo da Castanha - Módulo II TÉCNICA Nossa, Chica! É isso aí, luvas, capacete e botas. A mudança dos hábitos e costumes é importante quando se quer melho- rar a produção e qua- lidade do produto que trabalhamos. Gostei, Ana! Muitas ativi- dades da pré-coleta nós da comunidade já fazía- mos, mas nem sempre a gente anotava e poucos usavam os equipamen- tos de segurança. Isso eu já aprendi! E agora? Vamos para a etapa da coleta? Essa eu quero acompanhar direitinho! Esta é a etapa em que se realiza o manejo propria- mente dito, desde a extração ou coleta dos produ- tos florestais não madeireiros até a sua retirada de dentro da floresta. É quando se põe em prática o que foi planejado na pré-coleta: os locais em que a castanha será coletada (áreas), quando e quantas vezes as coletas serão feitas (ciclo e periodicidade) e as técnicas e ferramentas que serão utilizadas. Além disso, é importante prever ações que reduzam impactos ou danos ao meio ambiente, como plane- jar os caminhos e acessos que serão utilizados na coleta, cuidando para que estejam limpos e bem sinalizados. 2.2 Atividades da coleta Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. 34Manejo da Castanha - Módulo II É importante realizar atividades que assegurem a eficiência da extração da castanha-do-brasil, com redução de riscos de aciden- tes e sem perda de qualidade dos frutos. Trata-se de atividades ligadas ao preparo e à manutenção das áreas produtivas, realiza- das ao longo do ano e fora do período de coleta. Nesta etapa, deverá ser definido um plano de coleta com a seleção e identificação dos castanhais produtivos, dos que serão dest - nados à coleta e daqueles que deverão ser mantidos sem coleta, para atender às necessidades da fauna local e para a regeneração natural da espécie. TÉCNICA Importante Do plano, deverá constar, também: a localização das áreas de coleta; a quantidade de árvores destinadas à coleta; a descrição do período de coleta; o tempo de descanso das áreas de coleta; o tempo de empilhamento e de quebra. Antes da coleta, deve-se realizar a limpeza embaixo das castanheiras para evitar acidentes com animais peçonhentos. Para essa tarefa, deve-se utilizar uma vara de cabo longo com uma foice na ponta. 2.2.1 Planejamento da coleta dos frutos 35 Manejo da Castanha - Módulo II 15Planilha: tipo de formulário em que se registram informações que podem ser atua- lizadas à medida que se altera um ou mais dados que a compõem. É recomendável definir um planilha15 para o controle da coleta, identificando: ár - as de coleta, dias de coleta, quantidade de árvores visitadas, quantidades coleta- das (quilos), número de pessoas envolvidas no trabalho, entre outras informações. O plano de coleta poderá ser refeito conforme a necessidade local (anual, bienal ou trienal) e sempre que houver necessidade de alterações. Área de coleta Dias de coleta Quantidade de árvores Quantidade de coletas Envolvidos no trabalho Planilha para controle de coleta Planilha para controle de coleta A queda dos ouriços de castanha-do-brasil acontece no período chuvoso (de maior índice pluviométrico), entre os meses de novembro a fevereiro. É nesta etapa que se realiza o manejo na prática, ou seja, a coleta dos produtos até a retirada de dentro da floresta (BRASIL, 2012). Os ouriços devem ser coletados em intervalos estabelecidos durante a safra, evitando-se o pico de queda por questões de segurança, mas também evi- tando que os ouriços fiquem muito tempo no chão da floresta para diminuir a contaminação por fungos. Por outro lado, a coleta após a intensa queda dos ouriços faz com que os animais tenham tempo sufi- ciente para dispersarem as sementes, favorecendo a manutenção dos castanhais ao longo do tempo (ALVARES, 2011). Para fazer a coleta com segurança, os coletores devem usar capacetes, além de retirar e amontoar os ouriços que estão debaixo das casta- nheiras para fora do alcance de suas copas. Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. 36Manejo da Castanha - Módulo II O planejamento da coleta e a definição do castanhal e da trilha a ser percorrida ocorrem a partir das atividades realizadas na etapa de pré-coleta. Com base nas diretrizes técnicas para as boas práticas de manejo (BRASIL, 2012), é recomendada a realização de um “Plano de coleta”, que deve conter basicamente: Os principais caminhos utilizados durante a coleta (descritos no mapa, desenho ou croqui); Identificação e localização das árvores que serão visitadas para coleta e, caso existam, os pontos de amontoa e quebra; Descrição das etapas de coleta como: época da coleta (período em meses), tempo de amontoa (em dias), forma de seleção das castanhas durante a quebra, estratégia de transporte (tempo e meio de transporte) da floresta para o armazenamento primário. O planejamento pode variar conforme as características de cada local e poderá ser atuali- zado conforme a necessidade local (anual, bienal ou trienal) e sempre que houver necessi- dade de alterações. Por exem- plo, no estado do Acre existem muitos extrativistas que coletam castanha e, geralmente, cada família possui um castanhal dentro de sua propriedade, o que facilita o planejamento e a coleta que é realizada na mes- ma trilha todos os anos. No Pará, é comum encontrar- mos castanhais coletivos, onde várias famílias coletam nas mesmas áreas e, muitas vezes, utilizando as mesmas trilhas de coleta. Portanto, a elaboração do plano de coleta deve ser discutida entre os produtores, levando em consideração as condições regionais (logística e sistema de coleta) e ambientais (época de queda dos frutos, períodos de chuvas ou secas, entre outros) (BRASIL, 2012). 37 Manejo da Castanha- Módulo II No planejamento da atividade, devem ser considerados todos os materiais e equipamentos necessários para o processo de coleta da castanha-do- -brasil, os quais podem evitar ou minimizar acidentes pelos coletores, bem como garantir o controle higiênico-sanitário da castanha. Dentre os princi- pais materiais e equipamentos, destacamos (BRASIL, 2012): 2.2.2 Equipamentos e materiais Lonas plásticas ou folhas de palmeiras: usados para evitar o contato das castanhas com o chão da floresta, minimizam a ocorrência de fungos que produzem a aflatoxina ou o armazenamento de água dentro dos frutos. Também são utilizadas mesas para organização e secagem dos ouriços, conhecidas como jirau7. Principais equipamentos de Proteção individual (EPIs): calça comprida, botas, luvas, camisa de manga longa e capacete. Os equipamentos de pro- teção individual, mais que obrigatórios, podem salvar vidas, principalmente quando a coleta é realizada durante a época de queda dos ouriços. Sacos e paneiros: utilizados para reunir e transportar as castanhas coleta- das na floresta e também para o transporte da floresta até a cidad Terçado ou mão de onça/luminária: são usados para içar o ouriço que está no chão e levá-lo até o paneiro localizado nas costas, evitando o movimento de abaixar para coletar com a mão, e também minimizar a possibilidade de ataque de animais peçonhentos, uma vez que cobras, escorpiões e aranhas costumam habitar o amontoado de castanheiras que estão na mata. 38Manejo da Castanha - Módulo II 7Jirau: estrutura feita de galhos da floresta e construída a no mínimo 80 cm do chão, utilizada para guardar os ouriços. Muito melhor e mais seguros! Os instrumentos utilizados na cole- ta, como facões, cestos paneiros ou sacos devem estar limpos e conser- vados para evitar outros tipos de contaminação (PINTO et al., 2010). E aí, Chica. Está se acostumando com o capacete? A IN n° 11/2010 do MAPA, que descreve os procedimentos para o controle higiênico sanitário da castanha- -do-brasil, determina que sejam feitos os registros de todos os procedimentos realizados durante as ativida- des, os quais devem ser feitos pelos próprios integrantes da cadeia. Tem como objetivo comprovar a aplica- ção das medidas de prevenção e redução da contaminação da castanha-do-brasil por aflatoxinas, por esta razão são denominados como autocontrole (ALVARES, 2011). Os registros podem ser feitos em cadernetas de campo ou fichas, as quais devem descrever o início e término de cada etapa realizada. O quadro ao lado apresenta um modelo de registro dos procedimentos durante a coleta. 2.2.3 Registro de procedimentos durante a coleta 39 Manejo da Castanha - Módulo II Importante ATER TÉCNICO Os registros também devem ser feitos pela associação ou cooperativa, caso o grupo realize a comercialização por meio dessas organizações. É importante também realizar o acompanhamento e monitoramento da produção, por meio de anotação de toda a produção de castanha coletada durante a safra. Essa atividade poderá auxiliar, futuramente, no cálculo da estimativa da capacidade de produção do castanhal. Com base nas árvores mapeadas, é realizada a anotação de produção por árvore. Isso é importante para saber se a quantidade produzida varia de uma safra para a outra. Essa ferramenta pode auxiliar a negociação da venda da castanha com o mercado consumidor (PINTO et al., 2010). 40Manejo da Castanha - Módulo II 2.2.4 Amontoamento Nas áreas de manejo de difícil acesso ou distantes da comunidade, o aconselhá- vel é fazer um pré-armazenamento em estruturas semelhantes aos jirais, feitos de galhos da floresta e construída a, no mínimo, 80 cm do chão. Este armazename - to deve ser feito no menor tempo possível, sendo quebrados posteriormente. O local deve ficar fora do alcance da copa da castanheira para evitar que acide - tes aconteçam com a queda de ouriços, e deve ser diferente daquele escolhido na safra anterior, pois restos que ficarem de um ano para o outro no chão da floresta podem ser fonte potencial de fungos produtores de aflatoxinas Se a pilha de ouriços for ficar por vários dias na floresta, estes devem ser espal - dos sobre os jirais, com a abertura na parte de baixo, para aumentar a circulação do ar, reduzir a retenção de umidade e o risco de contaminação das castanhas. O tempo de amontoa deve ser de, no máximo, 3 dias (ALVARES, 2011; BRASIL, 2012; EMBRAPA, 2004; IDAM, 2011; PINTO et al., 2010). Modelo de ficha para controle de produção 41 Manejo da Castanha - Módulo II Neste tópico, iremos tratar do trans- porte do produto da floresta para a casa do extrativista ou paiol (familiar ou comunitário). Após a quebra e embalagem, o transporte geralmente é feito por animais de carga em sacos de ráfia ou por pessoas utilizando cestos de fibras naturais denominados paneiros. Em ambos os casos, os ma- teriais devem estar limpos e em boas condições (BRASIL, 2012; EMBRAPA, 2004). Recomenda-se transportar as casta- nhas no mesmo dia da quebra dos frutos. Durante o transporte, é impor- tante que as castanhas não entrem em contato direto com o corpo do animal, portanto, deve ser colocada uma cobertura entre os sacos e o pelo do animal (ALVARES, 2011). 2.2.5 Transporte para a unidade de proteção ATER TÉCNICO O documento Diretrizes técnicas para as boas prati- cas de manejo (BRASIL, 2012) recomenda que todas as etapas de transporte sejam realizadas utilizando recipientes limpos e que permitam boa aeração (sacos com malhas adequadas e ou paneiros), protegidas contra a umidade e sujidades; e separado de outros produtos para evitar contaminações. 42Manejo da Castanha - Módulo II 2.2.6 Ciclo e periodicidade da coleta É importante planejar cada fase, principalmente o “onde” será coletado, o “quando” e “quantas vezes” serão feitas as coletas (ciclo e periodicidade) e quais as técnicas e ferramentas serão utilizadas (BRASIL, 2012). Deve-se definir um calendário de coleta ou cronograma, onde serão estabelecidas a época da coleta e quan- tas vezes por safra (periodicidade) essa coleta ocorrerá, o que é um dado fundamental para o manejo. Estas informações permitirão estabelecer as estimativas de produção esperadas e o estabelecimento de ciclos de coleta, com períodos definidos de não coleta para determinados indivíduos. Planejamento Onde? Quando? Quantas vezes? Realizar a primeira coleta após o pico de queda dos frutos, ou seja, depois que a maioria dos frutos cair; Considerar o intervalo mínimo de 30 dias para voltar a coletar frutos na mesma árvore. Para a castanha, recomenda-se realizar a coleta somente após o pico da queda dos frutos, para evitar acidentes e possibilitar a regeneração natural das sementes (BRASIL, 2008, 2012). Assim, deve-se realizar um calendário de coleta para precaver possíveis acidentes de trabalho e possibi- litar a dispersão e regeneração natural da espécie alvo. No cumprimento do ciclo e da periocidade da coleta, o extrativista deve: TÉCNICA É recomendável que os frutos não permaneçam muito tempo no chão da floresta por causa da contamin - ção por fungos que podem produzir aflatoxina8 nos frutos após a coleta, ou mais tarde, em outro momento da cadeia produtiva. 8Aflatoxina: Micotoxina, grupo de subs- tâncias tóxicas produzidas por alguns tipos de fungos, que se desenvolvem em produtos agrícolas e alimentos estoca- dos quando as condições de umidade do produto, umidade relativa do ar e tempe- ratura ambiente são favoráveis. 43 Manejo da Castanha - Módulo II A atividade de coleta da castanha é economi- camente inviável se um único produtor tiver que visitar várias vezes a mesma árvore. Em todas as etapas da produção, é importante se informar e ter todos os cuidados para evitar que um alimento que será comercializado ou consumido esteja contaminado. No caso da castanha-do-brasil, uma importante normativa é a Resolução do MS/Anvisa RCD nº 7, de 18 de fevereiro de 2011, que regulamenta os limi- tes máximos de micotoxinas paraalimentos. Importante Como estratégia de conservação da espécie, é fundamental definir ciclos de coleta e períodos de intervalos entre as coletas. O ideal é realizar as cole- tas da castanha-do-brasil somente depois do pico de queda dos frutos, para evitar acidentes e possibilitar a regeneração natural das sementes. Na Amazônia, a safra da castanha-do-brasil varia de acordo com as condições ambientais de suas diver- sas regiões, por isso é difícil definir um calendário de coleta único para a região como um todo, devido às variáveis que podem interferir na produção, principal- mente para aquelas espécies que têm como principal produto não madeireiro o fruto. 44Manejo da Castanha - Módulo II Assim, o plano de coleta deve ser discutido pelos produtores levando-se em conta as especificidades de cada região, a exemplo da logística e sistema de coleta e época de queda dos frutos, períodos de chuvas ou secas, dentre outras. Também é importante definir os períodos de não coleta para determinadas árvores em sistema de rodízio, para não saturar todas as castanheiras. Para garantir a qualidade das castanhas, a primeira coleta deve ser feita logo de- pois que a maioria dos frutos (ouriços) tiver caído. O ideal é que a coleta seja feita durante a safra, com intervalo mínimo de 30 dias entre uma coleta e outra. Eita, que esse curso tá bom demais! Estamos aprendendo bastante e melhorando o nos- so manejo de castanha. Mais produção, menos perdas e a qualidade do nosso produto cada vez melhor. E pra fechar, vamos para a fase da Pós-co- leta, né, Ana? Verdade, Carlos! As boas práticas do Manejo da Cas- tanha melhoram a qualidade e, é claro, agregam valor ao produto, além de gerar mais renda para as famílias e sustentabilidade para as florestas! Vamos lá então para a última etapa. 2.3 Atividades de pós-coleta ATER TÉCNICO ATER 45 Manejo da Castanha - Módulo II Recomenda-se quebrar apenas os frutos cujas castanhas serão transportadas no mesmo dia. Os ouriços devem ser quebrados sobre superfícies limpas e secas, e serem abertos com facão limpo. As castanhas devem ser colocadas sobre material de proteção, como lonas plásticas, folhas de palmeira ou sacos plásticos, evitando, assim, o contato das castanhas com a terra, protegendo da contaminação por fungos. Neste momento que é feita a primeira se- leção das castanhas, sendo retiradas as castanhas quebradas, chochas e estragadas e, até mesmo, as que foram feridas pelo uso do facão. É importante a retirada das impurezas, principalmente a estrutura conhecida como “umbigo” (ALVARES, 2011; BRASIL, 2012; EMBRAPA, 2004; PINTO et al., 2010). Em algumas regiões, a lavagem é uma prática pouco comum como uma segunda seleção. Em seringais e castanhais, esta lavagem é realizada em fontes de água corrente, como rios e igarapés. Na lavagem em tanques, a recomendação que se faz é que a água esteja limpa. Nesta etapa, devem-se retirar as casta- nhas podres e chochas que flutuam na água, ficand somente as boas, que tendem a afundar (EMBRAPA, 2004; PINTO et al., 2010). Entretanto, se a secagem posterior não for eficiente, pode resultar em aumento do teor de umidade da castanha, favorecendo o desenvolvimento de fungos produtores de microtoxinas (EMBRAPA, 2004). 2.3.1 Lavagem e seleção Fonte: Acervo/CTA. Contrato nº 05/2013. 46Manejo da Castanha - Módulo II Com base nas diretrizes técnicas para as boas práti- cas de manejo (BRASIL, 2012), esta etapa deve ser realizada da seguinte forma: A lavagem da castanha pode ser considerada um processo eficiente para a seleção das ca - tanhas, pois facilita a eliminação daquelas podres, vazias e chochas, além de impurezas que flutuam na água. Porém, esta prática só será benéfica se a secagem for imediata, caso cont - rio, é melhor não lavar as castanhas (BRASIL, 2012, p. 28). A lavagem deve ser realizada com auxílio de caixas plásticas de cor clara a fim de facilitar a d - tecção de impurezas, tais como folhas, pedações de galhos, insetos etc. Deve-se preencher as caixas com castanha, fazer imersão em água corrente movimentando rapidamente a caixa para arraste das impurezas. Em seguida, é necessário escorrer bem a água e distribuir as castanhas no local de secagem ou pré-secagem, que deve ser localizado o mais próximo possível. Após a lavagem, se as castanhas não forem secas, a umidade pode facilitar a proliferação de fungos e aumentar a porcentagem de perdas (BRASIL, 2012, p. 28). Para o estado do Amazonas, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), através do documento “Orientações para as boas práticas de manejo da castanha-do-brasil” recomenda a lavagem das castanhas coletadas (IDAM, 2011). Recomendações para lavagem Lavagem da castanha 47 Manejo da Castanha - Módulo II 2.3.2 Secagem Essa é a fase mais importante do manejo da castanha na floresta para evitar a co - taminação por aflatoxinas. As sementes d - verão secar naturalmente sobre mesas ou sobre o chão telado em paiol, sempre limpo, construído para esse fim. Em locais que não possuem mesas e paiol estruturado, as castanhas podem ser colocadas na sombra sobre uma lona estendida no chão. A cama- da de castanhas deve ser menor que 20 cm de altura e o revolvimento deve ser duas vezes ao dia. Neste momento é feita uma terceira seleção, eliminando as castanhas com rachaduras, podres, cortadas, chochas ou outro aspecto comprometedor. Com cerca de sete dias a castanha já poderá ser ensacada (ALVARES, 2011; ALVES, 2009; IDAM, 2011; PINTO et al., 2010). Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. É importante não misturar na mesma pilha de secagem as castanhas que já estão quase secas, com castanhas ainda úmidas. Deve-se impedir o contato de animais com o produto para evitar contaminações e, além disso, não permitir que as castanhas tenham contato direto com o sol ou com a chuva, pois o sol influenciará no sabor da amêndoa, deixando-a com gosto rançoso, e a chuva causará mofo (IDAM, 2011). 48Manejo da Castanha - Módulo II O documento Diretrizes técnicas para as boas práticas de manejo (BRASIL, 2012) recomenda que esta etapa seja realizada da seguinte forma: Deve ser realizada ainda na área do produtor, a fim de se reduzir o risco de ap - drecimento por excesso de umidade; Deve ocorrer em estrutura adequada (armazém ou paiol) e ter acesso restrito (es- cada removível, local para fechamento com cadeados ou chaves); Deve ser feita em superfície limpa (na estrutura citada no item anterior), onde as castanhas serão dispostas em camadas de 20 cm e revolvidas a cada dois (02) dias, fazendo uma segunda seleção das castanhas, com a retirada de castanhas estragadas e cortadas, além de outras impurezas; Nos locais onde a prática da lavagem das castanhas é realizada, a pré-secagem deve ser imediata e mais intensa. A camada de castanhas deve ser menor que 20 cm de altura e o revolvimento deve ser diário (BRASIL, 2012, p. 29). Segundo Leite (2008), a castanha-do-brasil, para ser armazenada na floresta, necessita de uma estrutura de secagem que permita uma rápida redução da atividade de água16 para teor seguro (menor que 0,70). Caso contrário a armazenagem prolongada só é recomendada se houver possibili- dade de controle local quanto à umidade relativa e temperatura do ambiente de armazenamento. Atenção 16Atividade de água (Aw): Relação entre a pressão de vapor de água em equilíbrio sobre o alimento (Ps) e a pressão de vapor da água pura (Po), à mesma temperatura, que expressa o teor de água livre no alimento. A importância da atividade de água está na sua relação com a conservação dos alimen- tos. O valor máximo da atividade de água é 1 na água pura. Fonte: Disponível em: ftp://www.ufv.br/Dea/Disciplinas/Evandro/Eng671/Atividade%20de%20agua/ atividade_de_ agua_e_reacoes.PDF> Acesso em: 17 abr. 2014. ftp://www.ufv.br/Dea/Disciplinas/Evandro/Eng671/Atividade%20de%20agua/ 49 Manejo da Castanha - Módulo II 2.3.3 ArmazenamentoO armazenamento é a etapa mais importante para a qualidade da castanha e para evitar a contaminação das amêndoas por fungos. Caso a produção não seja comercializada imediatamente, o produto deve ser ar- mazenado com casca (a granel) em galpão de madei- ra e tela. O tamanho do armazém deve ser de acordo com a produção, a fim de se evitar grandes pilhas de castanha, pois dificultam a circulação de ar. O galpão deve ser construído a uma altura de 0,8 m a 1,0 m do chão, para permitir a circulação do ar, e evitando, assim o contato com o solo, e elevada umidade. O galpão deve ter tamanho planejado conforme a quantidade da produção familiar para não ficar superlotado e ser mantido fechado durante a en- tressafra. Não é recomendável utilizar o galpão para armazenar outros produtos (insumos, produtos agrí- cola), bem como não deve permitir o acesso de ou frequentado por animais (PINTO et al., 2010). As paredes e assoalhos devem ter espaçamento entre a madeira de 1,5 cm para facilitar a ventilação. Meia parede deve ser constituída de tela. Os galpões devem ser protegidos contra entrada de animais (aves, animais domésticos e silvestres e roedores), para isso é importante que a escada seja removível e nos esteios da construção do armazém devem-se im- plantar cones invertidos ou saias de alumínio (ALVES, 2009; EMBRAPA, 2004; PINTO et al., 2010). 50Manejo da Castanha - Módulo II A utilização de sacos de ráfia para guardar as cast - nhas facilita o empilhamento, o transporte, além de proteger as castanhas e utilizar melhor o espaço, por isso é necessário que estes sacos estejam limpos, não sendo recomendada a sua reutilização (IDAM, 2011). A castanha armazenada pode ser embalada em sacas de 60 kg, devendo-se evitar empilhamento de mais de cinco sacas e permitir um espaçamento mí- nimo de 15 cm entre as pilhas de forma a favorecer a circulação de ar (BRASIL, 2012; EMBRAPA, 2004). Quando for ensacar, deve-se usar, preferencialmen- te, sacos novos e em boas condições; ensacar em data próxima ao embarque para o transporte secun- dário e identificar os lotes (produtor, data, local, etc.) (ALVARES, 2011; BRASIL, 2012). Em estudos realizados por Costa (2012) sobre a qualidade da castanha-do-brasil, foi verificado que a armazenagem da castanha deve ser evitada em grandes períodos devido à elevação da quantidade de fungos aflatoxigênicos e aflatoxinas após 30 dia Nesta etapa, deve ser realizado o tratamento silvicultural do castanhal. No extrativismo sustentável, essa atividade compreende as ações pelas quais o extrativista pode melhorar as condições ambientais da área em que ex- plora determinada espécie, como capinar, roçar, adubar, podar e controlar as pragas. A proteção das áreas de ocorrência dos castanhais é fundamental para assegurar a conservação da espécie na região de ocorrência. A castanhei- ra é uma espécie nativa de grande valor para a população que vive do seu extrativismo. Por isso, é importante cumprir algumas diretrizes para garan- tir sua conservação. Podem ser adotadas medidas tanto para manter e proteger as áreas, como para aumentar a produção de frutos. Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. 51 Manejo da Castanha - Módulo II Tratamentos silviculturais Os tratamentos silviculturais, para a grande maioria das espécies, representa melhoria da produção e conservação da espécie a partir do enriquecimento ou plantio de mudas, de forma a permitir a manu- tenção da espécie a longo prazo. Uma das atividades também recomendadas é a limpeza das trilhas e dos caminhos que interligam as castanheiras e castanhais. A limpeza facilita a coleta e o transporte dos ouriços e das castanhas. Da mesma forma, o corte de cipós deve ser adotado para liberação de castanheiras jovens e reprodutivas. Mas só deve ser feito nos casos em que esteja bem caracterizado que os cipós estão prejudicando, de alguma forma, a produção de frutos ou sementes da castanheira. Caso os cipós estejam causando danos que impeçam o crescimento, eles devem ser eliminados. Antes de cortar ou eliminar cipós, é preciso considerar que a densidade de cipós nas copas das árvo- res pode estar diretamente ligada à manutenção do habitat17, muitas vezes benéfico para os agentes polinizadores e dispersores de sementes. Importante 17Habitat: Conjunto de circunstâncias físicas e geográficas que oferece condições favoráveis à vida e ao desenvolvimento de determinada espécie animal ou vegetal. 2.3.4 Conservação das áreas de coleta Não deve ser utilizada a queimada para a limpeza dos castanhais. Para o controle de pragas e doenças, devem ser seguidas as orienta- ções da Instrução Normativa do MAPA nº 46, de 2011, com as modifi- cações da Instrução Normativa do MAPA nº 17, de 2014, que contém o regulamento técnico para os sistemas orgânicos de produção. 52Manejo da Castanha - Módulo II A abertura de estradas e caminhos de acesso ou manutenção dos existentes reduz custos e dimi- nui impactos negativos à vegetação causados pela atividade. Recomenda-se aproveitar os cami- nhos existentes, mantendo-os limpos. Isso facilita: o acesso à área de coleta; a proteção e manutenção da floresta as atividades de monitoramento da produção. Recomenda-se que o plantio das mudas seja feito no sentido de enriquecimento e garantia de manutenção da espécie a longo prazo, reforçando a semelhança com a forma que os sistemas acontecem na floresta, garantindo a diversidade de espécies e não reproduzindo o sistema de monocultura. Caso seja necessário realizar enriquecimentos como forma de aumentar os castanhais, é recomendável fazê-lo em áreas de clareiras, devido à boa resposta da espécie em termos de crescimento. Neste caso, recomenda-se localizar as clareiras e escolher es- paços abertos para o plantio de mudas. A distância mínima entre as mudas deve ser de, aproximada- mente, 12 metros. No plantio de mudas, a castanheira deve ser planta- da em covas profundas. Para o enchimento, reco- menda-se mistura de terra vegetal com esterco e/ ou biofertilizantes ou adubação orgânica. O espa- çamento e a densidade de plantio dependem da finalidade Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. 53 Manejo da Castanha - Módulo II A produção de mudas em grande escala deve ser feita em canteiros, chama- dos de sementeiras, colocando as sementes sob a areia, com o lado da raiz voltado para baixo a 1 cm de profundidade. As sementeiras devem ser de madeira, suspensas a um metro do solo. Podem ser construídas sob um ripado com 50% de sombra ou ter cobertura própria que evite a luz direta do sol e o excesso de chuva. O substrato pode ser preparado com areia e serragem na proporção de 1/1. Montada a sementeira, é hora de escolher as sementes e mudas. Elas devem ser de boa qualidade, prove- nientes de matrizes selecionadas. E a rega deve ser feita logo em seguida, devendo ser repetida a cada dois dias ou quando necessário. As sementes iniciam a germinação dez dias após a semeadura, podendo se estender até cinco meses. Em 80 dias, normalmente, já devem ter ocorri- do 70% do processo de germinação. As mudas devem ser colocadas em sacos ou em viveiro caseiro. Quando as mudas atingirem 40 cm de altura, ou emitirem em torno de 15 folhas, podem ser replantadas em local definitivo na época chuvosa. Plantas menos desenvolvidas deverão permanecer no viveiro até o próximo período de plantio, ou seja, a próxima estação chuvosa. Por ser uma espécie com potencial silvicultural, a castanheira é uma exce- lente opção para o reflorestamento de áreas degradadas de pastagens ou de cultivos anuais, consorciadas com outras espécies florestais. Caso seja necessário realizar enriquecimentos como forma de aumentar a população de castanheiras, é recomendável realizar o enriquecimento em áreas de clareiras devido à boa resposta da espécie em termos de cresci- mento (PAIVA et al., 2008, citado por BRASIL, 2012). ATER TÉCNICO ATER 54Manejo da Castanha - Módulo II http://blog.donacastanha.com.br/wp-content/uploads/2016/05/Coco-da-Castanha-do-par%C3%A1.jpg 2.3.6 Produção de mudas Cymerys et al., (2005), cita que um teste feito nos seringais acreanos comparou o crescimento de cas- tanheiras nas clareiras da floresta (onde ela nasce naturalmente), no roçado e no campo. Na floresta, elas sobreviveram bem, embora o seu crescimento tenha sido lento. Salienta que o campo oferece todas as condições para que a castanheira cresça bem, inclusive pleno sol, porém é preciso muito trabalho para construir cercados e limpar o mato ao redor para que ele não cubra a planta. Esse teste mostrou que o melhor lugar para plantar as castanheiras, nos seringais, é o roçado, plantando-as junto com o arroz e o milho, antes de o roçado virar capoeira. Assim, as plantas crescem rápido e não é pre- ciso muito esforço para mantê-las limpas. Elas podem crescer pelo menos 1 metro em altura por ano. Outro exemplo citado por Cymerys et al., (2005) é no estado de Rondônia, no qual colonos no Projeto Reca, na fronteira dos Estados do Acre e Rondônia, obtiveram sucesso no plantio de castanheiras em sistemas agroflorestais. Porem, é importante destacar a necessidade de realizar o plantio em lugares que tenham uma mata por perto para que a castanheira possa ser polinizada e assim produzir frutos. O documento Diretrizes técnicas para as boas práticas de manejo (BRASIL, 2012), destaca que estu- dos têm mostrado que uma pequena porção de árvores do castanhal é responsável pela maior parte da produção, isto indica que a maioria das árvores é pouco produtiva. Desta forma, não é recomenda- do utilizar qualquer semente para a produção de mudas destinadas a plantios que visem aumentar a produtividade de frutos. A coleta de sementes para produção de mudas deve ser feita em, no mínimo, 20 árvores para garantir a diversidade genética (BRASIL, 2012). Para a produção de mudas de castanha, é recomendável passar por um processo de rompimento me- cânico do tegumento das sementes, que não deve provocar danos ao embrião (BRASIL, 2012). Saiba mais Os plantios de castanheiras são relativamente jovens, tendo sido iniciados na década de 80, e por ser uma espécie de produção tardia, normalmente após dez anos do plantio, continuam sendo alvo de estudos para definição de sistemas de produção (EMBRAPA, 2004). Existe um número reduzido de castanhais de cultivo, localizados nos Estados do Amazonas e Pará. Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB n° 05/2013. http://blog.donacastanha.com.br/wp-content/uploads/2016/05/ 55 Manejo da Castanha - Módulo II Segundo Cymerys et al., (2005), uma boa forma de tratar as sementes para quebrar essa dormência é coletá-las bem frescas, logo depois da sua queda, e ar- mazená-las em recipiente com areia úmida. As sementes devem ser mantidas na sombra, em lugar bem ventilado e drenado. Após cinco meses, deve-se retirar as cascas das sementes (que agora estão muito mais soltas), jogando fora qualquer semente que foi danificada nas pontas. As sementes devem ser colocadas em um canto onde elas possam nascer sem serem atacadas por formigas nem ratos. Após duas semanas elas vão começar a germinar, com a maioria nascendo depois de um mês e meio. As mudinhas devem ser colocadas em um saco ou viveiro caseiro e, depois de atingirem 25 centíme- tros de altura ou 16 folhas, plantadas em lugar definitivo. ATER TÉCNICO ATER Essa conscientização é muito importante, Tião. Não deixe de testar seus co- nhecimentos praticando com os exercícios que estão no ambien- te virtual. Ufa! Quanta informa- ção valiosa, Carlos! Agora a nossa comuni- dade vai manejar com mais sabedoria! Fazer o uso das nossas fl - restas e conservando a nossa Amazônia! Encerramento do Módulo 2 Módulo 3 Cadeia produtiva 57 Manejo da Castanha - Módulo III Então vamos partir para a Cadeia Pro- dutiva? Conto com vocês! Pessoal, ficou claro para vocês quais são as etapas do proces- so de Manejo? Sim! Tudo o que aprendemos foi muito importante. Agora os procedimentos que devemos adotar estão mais claros. Apresentação ATER TÉCNICO ATER Com certeza! Apesar de termos vivência neste tipo de traba- lho, agora iremos saber trabalhar da melhor forma. 58Manejo da Castanha - Módulo III 3.1 Beneficiamento da produção O beneficiamento da castanha-do-brasil é extremamente diverso, dependendo, principalmente, do produto final que se deseja obter deste processo. É comum as famílias realizarem o beneficiamento simples, quando desejam realizar a comercialização em pequena escala e agregar valor ao produto. Um exemplo disso é a venda de castanha sem casca e preparação de doces com castanha para mercados locais e informais. Os produtos do beneficiamento também são diversos, como, por exemplo: castanha sem casca; castanha desidratada e salgada; fatiada; farinhas; doces de castanha; bolo; bolachas; barra de cereais; e óleo de castanha. 59 Manejo da Castanha - Módulo III Por ser comercializada dentro e fora do país, há duas principais formas de comercialização: 1) a castanha com casca, seca e polida (castanha dry) 2) a castanha sem casca, que é a amêndoa. Independentemente do produto final a ser gerado, ao chegar à unidade beneficiadora (usina), a castanha passará por três etapas: recepção, limpeza e seleção (ALVES, 2009; PINTO, et al., 2010). Como prometido, vamos conhecer as três etapas pelas quais passam as castanhas. Quando chega ao armazém da usina de beneficia- mento, a castanha-do-brasil é pesada, e coletada uma amostragem para o corte - análise visual quanti- tativa da qualidade da castanha recebida (EMBRAPA, 2004). As castanhas, ao serem entregues, devem estar limpas, secas, saudáveis e isentas de impu- rezas. Os lotes recebidos que tenham mais de 10% de castanhas defeituosas devem ser descartados e, após recebidos, os lotes deverão ser identificados com informações sobre o fornecedor, local de pro- dução, safra, condições de transporte e quantidade (EMBRAPA, 2004; PINTO, et al., 2010). A seleção das castanhas e amêndoas pode ser feita manualmente ou em máquinas classificató- rias que vibram, visando eliminar as deterioradas ou danificadas fisicamente. Após essa seleção, as castanhas serão preparadas para serem vendidas com ou sem casca, seguindo etapas de beneficiamento diferenciadas conforme o caso (EMBRAPA, 2004; PINTO, et al., 2010). Esta etapa tem o objetivo de remover o excesso de matéria orgânica e terra que ainda esteja aderido ao produto como também de pedaços do ouriço e umbigos de castanha e que não te- nham sido removidos nas limpezas realizadas em campo (PINTO, et al., 2010). 2 - Limpeza 1 - Recepção 3 - Seleção 60Manejo da Castanha - Módulo III Antes de serem armazenadas, as castanhas devem passar por um processo de pré-secagem, etapa que ocorre após a quebra e a primeira seleção das castanhas. A pré-secagem é fundamental tanto para as regiões em que não é feita a lavagem das sementes (Acre), como para as regi- ões em que a lavagem é feita (Amazonas, Pará e Amapá). Nas regiões em que as castanhas são lavadas, deve-se utilizar água corrente ou tanques com água limpa. Deve-se, ainda, espalhar as castanhas em superfície limpa (na estrutura descrita anteriormente), dispostas em camadas de 20 cm e revolvidas a cada dois dias durante a pré-secagem. É recomendável, durante essa atividade, realizar nova seleção das castanhas, retiran- do as castanhas murchas e podres, e os umbigos. Em algumas áreas, as castanhas são lavadas em rios ou cursos de água. É um momento adequado para iden- tificar castanhas estragadas ou murchas. São as que boiam na água. Fonte: Acervo CTA. Contrato SFB nº 05/2013. A pré-secagem deve ser realizada: após o primeiro transporte e antes de as castanhas entrarem no primeiro armazenamento; em estrutura adequada, que evite o contato com o solo. Essa estrutura deve permitir a ventilação do produto (presença de frestas, meia parede de tela, altura mínima de 80 cm do solo, e, de preferência, piso de tela) e acesso restrito (escada
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