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GENÉTICA MOLECULAR Determinação do Sexo Na espécie humana e em muitos outros animais, a determinação do sexo ocorre no momento da fecundação e depende dos cromossomos sexuais recebidos nos gametas. A reprodução sexual promove a segregação e recombinação dos genes, portanto é responsável pela enorme variabilidade genética gerada nas espécies. O material genético dos mamíferos, DNA, pode ser classificado em dois tipos, de acordo com a sua atividade genética: eucromatina e heterocromatina. A eucromatina é o DNA com atividade genética, os genes. As regiões dos cromossomos que não apresentam atividade genética (não codificam instruções para síntese de proteínas) são chamadas de heterocromatina constitutiva. Sistema XY A meiose de uma célula feminina XX dá origem a um único tipo de gameta, portador de um lote de autossomos e um cromossomo sexual X. A meiose masculina, por sua vez, origina dois tipos de espermatozoides onde 50% têm cromossomo X e 50% têm cromossomo Y. Nesse sistema: ● As femeas sao o sexo homogamético, pois formam apenas um tipo de gameta ● Os machos sao o sexo heterogametico, pois formam dois tipos de gameta Nos mamíferos, a determinação do sexo masculino depende de um gene localizado no cromossomo Y, denominado SRY, sigla de sex-determining region Y. A proteína codificada por esse gene induz, no embrião, a formação de testículos por ativar outros genes em diversos cromossomos. A testosterona e outras substâncias produzidas nos testículos atuam no desenvolvimento de órgãos genitais e de outras características típicas do sexo masculino. Desse modo, o responsavel por determinar o sexo da prole é o macho. Um gameta masculino portador de um cromossomo X, ao fecundar um óvulo (sempre portador de X), origina um zigoto XX, que se desenvolve como fêmea. No sistema XY, um gameta masculino portador de um cromossomo Y, ao fecundar o óvulo, dá origem a um zigoto XY, que se desenvolve como macho. Há casos em que o gene SRY sofre mutação, tornando afuncional proteína codificada por ele. Embriões mamíferos portadores dessa mutação, mesmo tendo cariótipo masculino (46, XY), desenvolvem fenótipo feminino. Em outras espécies, são verificados mecanismos com múltiplos cromossomos sexuais como por exemplo nas Echidna (mamífero que põe ovos, da ordem Monotrema), as fêmeas têm 64 cromossomos (X1X1X2X2) e os machos, 63 (X1 X2 Y). Cromossomo X O cromossomo X tem o mesmo tamanho relativo (próximo a 5% do genoma haplóide) em diferentes espécies de mamíferos. Há indicações de que o conteúdo gênico (mas não a sequência dos genes) também seja o mesmo nos mamíferos. Por exemplo, as enzimas HPRT, G6PD, PGK e GLA estão localizadas no cromossomo X em todos os primatas, roedores, carnívoros, ungulados e artiodáctilos em que foram estudadas. Em mamíferos ocorre o fenômeno da compensação de dose (Hipótese de Lyon). Onde no 14 dia de desenvolvimento embrionário, ocorre a inativação aleatória ao cromossomo X materno ou paterno. Uma vez inativado o cromossomo em uma célula, todas as células descendentes dela terão o mesmo X inativado. Portanto, o corpo de uma fêmea de mamíferos é um mosaico de áreas com células contendo ativo: em umas o X de origem materna e em outras, o X de origem paterna. A inativação dos cromossomos X em excesso explica por que a quantidade de produto dos genes localizados no cromossomo X é a mesma em machos e fêmeas, apesar da diferença de dose gênica. Esse cromossomo condensado em cromatina (ou seja, inativado) se chama corpúsculo de Barr e é caracterizado por se corar intensamente junto à membrana nuclear. Como esse corpúsculo não é observado em células XY e como nas células em que existem mais de dois cromossomos X também se observam mais corpúsculos de Barr, conclui-se que ele representa todos (menos um) os cromossomos X presentes na célula. Por esse motivo, o corpúsculo também é conhecido como cromatina sexual. Cromatinas sexuais ou corpúsculos de Barr presentes nas células: ● Normais: ✦ XY — nenhuma ✦ XX — 1 ● Síndrome de Turner (45, X0) ✦ X0 — nenhuma ● Super Fêmea ✦ XXX — 2 ● Tetrassomia ✦ XXXX — 3 ● A Síndrome de Klinefelter (SK) consiste num grupo de anomalias cromossômicas nas quais encontra-se dois ou mais cromossomos X em machos ✦ XXY — 1 A inativação é incompleta e reversível ● Cerca de 15% desse cromossomo permanece ativo ● O gene responsável pela inativação é o XIST ● Inicia-se em um único loco, mas depois se espalha para todo o cromossomo X. A inativação genética seria consequência da demora de um dos cromossomos X em se desespiralizar, ao término da mitose - quando ele consegue se desespiralizar, não existem mais, no núcleo, nem enzimas nem nucleotídeos para a síntese de RNAm (os outros cromossomos já estão em fase de duplicação, com enzimas e nucleotídeos apropriados à síntese de DNA). Por esse motivo, o cromossomo X "atrasado" não consegue, no período G1 da intérfase, transmitir sua mensagem genética. Ele apenas se duplica, no período S. Período S da intérfase: duplicação do DNA ● DNA condensado — heterocromatina ● DNA desespiralizado — eucromatina, apresenta superfície de contato para RNA mensageiro O material genético dos cromossomos inativados que era, antes da inativação, classificado como eucromatina, após esse processo de inativação passa a ser chamado de heterocromatina facultativa. Nos mamíferos marsupiais, ocorre a inativação de um dos dois cromossomos X das fêmeas, porém ela não é ao acaso: em todas as células, está inativado o cromossomo X de origem paterna. Essa inativação forçada do X paternal também ocorre em alguns tecidos placentários dos outros mamíferos. Características podem ser passadas a apenas metade das células do organismo devido a esse processo de inativação: ● Pelagem de Gatas Tricolores: as gatas heterozigotas para o loco O (situado no cromossomo X) apresentam em seu corpo áreas de pelagem com cor "laranja" e áreas de pelagem com cor não laranja (preto ou marrom). Isso ocorre porque, em determinadas áreas do corpo delas, está ativo o cromossomo X que tem o gene O e, em outras, o cromossomo X que tem o gene o. Outro exemplo: os cromossomos de uma mulher heterozigota para daltonismo são: , logo, durante a compensação gênica, 50% das células podem ser afetadas pelo gene e a mulher apresentar daltonismo em apenas um olho. Os cromossomos X normal e alterado são inativados ao acaso e, a partir daí, a seleção natural agirá: as células em que estiver inativado o X normal estarão em desvantagem em relação àquelas cujo cromossomo X inativado é o anormal. Com o tempo, a linhagem vantajosa estabelece-se; na época do nascimento, praticamente só ela existe. Cromossomo Y O cromossomo Y, além de ser bem menor do que o X, apresenta ainda uma região de heterocromatina constitutiva, por exemplo, em bovinos no braço curto e em humanos, no braço longo. Ele apresenta, portanto, bem menos genes. Os que possuem são relacionados apenas com a determinação do sexo. No início da vida intrauterina, o embrião de mamíferos, tanto XX como XY, não tem qualquer diferenciação sexual. Nessa época, cresce uma crista em cada um dos órgãos que servem ao embrião como rins temporários (os mesonefros). Essas cristas são conhecidas como cristas gonadais, e é a partir delas que a gônada, o ovário ou o testículo futuros se desenvolverão. As células dessas cristas, derivadas do mesonefro, serão as células somáticas dos testículos e ovários, isto é, aquelas que secretarão hormônios e as que sustentarão as células germinativas. As células germinativas (que, por meioses, originarão óvulos e espermatozóides) originam-se no epiblasto, próximo ao alantóide. O produto do gene ZFY, localizado no braço curto do cromossomo Y (na região pseudoautossômica), é, provavelmente, responsável pela proliferação e migração das células germinativas para a crista gonádica. O loco ZFY tem um loco homólogo no cromossomo X, ocupado pelo alelo ZFX, que escapa à inativação, nos cromossomos X inativos das fêmeas. Um único gene, dominante e localizado no braço curto do cromossomoY, o gene SRY, é necessário para que as gônadas bipotentes tomem-se testículos. Essa proteína é formada por uma sequência de 80 aminoácidos, que está conservada em várias espécies. O gene SRY expressa-se nas células de Sertoli primordiais, o que resulta na sua diferenciação. As células de Sertoli, então, promovem a organização celular e estrutural, ou seja, a diferenciação dos testículos, incluindo a formação dos cordões testiculares e das células de Leydig. Os passos seguintes na diferenciação masculina são promovidos pelos hormônios testosterona (produzido pelas células de Leydig) e antimülleriano (HAM - produzido pelas células de Sertoli) responsável pela regressão dos canais de Müller, e a testosterona induz o desenvolvimento dos canais de Wolff em epidídimos, canais deferentes e vesícula seminal Em outros órgãos-alvo, a testosterona é convertida em DHT pela enzima 5-a.-redutase. O desenvolvimento da próstata e a transformação do seio urogenital em genitália externa masculina ocorrem em resposta à presença de DHT. Na ausência do produto do gene SRY, ocorre o desenvolvimento dos ovários e o prosseguimento da diferenciação feminina, sem necessidade de produtos gonadais: regressão dos canais de Wolff e desenvolvimento dos canais de Müller em trompas, útero e terço superior da vagina e, finalmente, transformação do seio urogenital em genitália externa feminina. Além do gene SRY, outros genes também parecem participar da diferenciação sexual: ● Gene SOX9 (autossômico): Apresenta 71 % de sua sequência codificadora em comum com o gene SRY. Mutações em SOX9, assim como em SRY, podem resultar em falha total na formação de testículos. O produto do gene SRY não foi descrito em aves e répteis, mas o gene SOX9 é altamente conservado, de mamíferos até peixes, e expressa-se nas gônadas masculinas de mamíferos e aves. Assim, o gene SOX9 poderia ser parte de um processo de determinação do sexo ancestral, que atualmente está sob controle do SRY apenas em mamíferos. ● Gene WTI (autossômico): Em camundongos com mutações que resultam na ausência da proteína WTl, observa-se que os animais não têm rins nem gônadas. ● Gene DSS ou DAXI (situado no cromossomo X): Indivíduos XY com deleção de DSS/DAXl têm genitália masculina normal, mas indivíduos XY com duplicação do loco DSS/DAXl apresentam reversão sexual. Sabe-se que SRY e DSS/DAXl atuam de maneira antagônica e o produto de DSS/DAXl funciona como "fator antitestículo", e não como indutor de ovários. Assim, o SRY seria o inibidor da cópia única do DSS/DAXl presente nos indivíduos XY, o que permitiria a diferenciação dos testículos. Na ausência de SRY, uma cópia de DSS/DAXl presente nos indivíduos XX (a outra está no cromossomo X inativado) silenciaria os outros genes envolvidos na diferenciação testicular, permitindo o desenvolvimento dos ovários. Uma cópia única de SRY, no entanto, não seria capaz de inibir duas cópias ativas de DSS/DAXl, o que explicaria a reversão sexual em indivíduos XY com duplicação do braço curto do cromossomo X. ● Gene SFI (autossômico): O SFl expressa-se em todos os tecidos esteroidogênicos, onde atua como regulador das enzimas envolvidas na produção de esteróides, incluindo os hormônios sexuais. O SFl é, provavelmente, o ativador da produção de HAM e de testosterona pelos testículos, tendo função essencial para GONADOGENESE O passo final no desenvolvimento é a conversão da genitália externa indiferenciada à forma masculina ou feminina. Se houver testículos produzindo androgênios, a diferenciação será no sentido masculino. Em caso contrário, no feminino. O tubérculo genital transforma-se em pênis no macho e em clitóris na fêmea. Disso tudo fica claro que o fenótipo masculino depende, essencialmente, da presença de um cromossomo Y, pois o desenvolvimento embrionário, na ausência dos produtos dos genes do cromossomo Y, é, espontaneamente, em direção ao fenótipo feminino. Herança Ligada aos Cromossomos Sexuais A herança é influenciada pelo sexo quando a expressão de um gene autossômico é afetada pelas condições fisiológicas do sexo na qual se encontra. É no comportamento dos heterozigotos que detectamos essa influência, pois, nos homozigotos, o alelo se manifesta como deveria fazê-lo em qualquer sexo. Mas, no heterozigoto, ele age como dominante num sexo e como recessivo no outro. Um exemplo interessante a esse respeito é encontrado na raça Ayrshire de bovinos. Nessa raça de gado leiteiro, o animal é branco com manchas vermelhas no pescoço e espáduas, podendo atingir os flancos. Diz-se, então, que ele é vermelho-branco. Às vezes, porém, as malhas são de cor mogno e o animal é dito acaju - branco com mogno. O alelo que determina essa modificação na cor das manchas é simbolizado por M1, sendo que seu alelo M2 determina a cor vermelha. Assim sendo, se o animal for M1M2, ele será acaju, se macho, e vermelho branca, se fêmea. Herança Limitada Pelo Sexo Encontram-se aqui incluídos todos aqueles casos de caracteres cuja expressão só se manifesta em um dos sexos. De modo análogo à herança influenciada pelo sexo, oscaracteres limitados ao sexo são tambémcontrolados por genes autossômicos. Um exemplo ocorre em bovinos. Nesses animais, somente a fêmea apresenta produção de leite. Contudo, sabe-se que os touros têm um papel fundamental na determinação da produção de leite de suas crias fêmeas. Isso quer dizer que, apesar de não expressar fenotípicamente o caráter, os touros são portadores de alelos para a produção de leite. Sendo assim, o maior ou menor potencial para produção de leite dos touros é avaliado pelo comportamento de suas crias fêmeas obtidas pelo cruzamento do referido touro com diversas vacas. Anomalias na diferenciação sexual Estágios de diferenciação sexual: ● Diferenciação de testículos ou ovários, a partir de uma estrutura comum, a gônada indiferenciada. ● Desenvolvimento da genitália interna, a partir dos duetos de Müller e de Wolff, que coexistem no início do desenvolvimento, em ambos os sexos. ● Conversão da genitália externa, a partir de estruturas comuns a ambos os sexos, para a forma masculina ou feminina. ● Aparecimento das características sexuais secundárias e início da gametogênese, na puberdade. Em equinos, cães e gatos, foi descrita a síndrome de insensibilidade aos androgenios ou síndrome de feminização testicular. Essa é uma anomalia do desenvolvimento sexual na qual os indivíduos afetados têm constituição cromossômica XY, testículos intra-abdominais e fenótipo feminino (inclusive genitália externa feminina). No entanto, em vez dos derivados müllerianos normais (tubas uterinas, útero, colo de útero e terço superior da vagina), os afetados apresentam derivados wolffianos ( epidídimos, canais deferentes e vesícula seminal) rudimentares. Esse problema é decorrente da ausência do receptor celular dos androgênios, que é codificado por um gene dominante localizado no cromossomo X. A presença do cromossomo Y induz as gônadas indiferenciadas a se transformarem em testículos, mas, como não existem receptores na superfície das células-alvo, os androgênios produzidos pelos testículos não podem exercer efeito algum. Genes Masculinizantes e Feminilizantes Apesar da determinação do sexo ser explicada pelos cromossomos sexuais, entretanto, existem evidências em algumas espécies da presença de genes masculinizantes e feminilizantes localizados nos autossomos. Uma das evidências está baseada no fato de que, em alguns casos, o macho, geneticamente determinado, é influenciado pelos hormônios femininos ou vice-versa. Nessa espécie, um gene autossômico P, além de controlar a presença ou ausência de chifres, tem efeito masculinizante com penetrância completa nas fêmeas e incompleta nos machos. Assim, um animal mocho pode ser portador dos genótipos PP ou Pp, enquanto os recessivos pp são chifrudos. O homozigoto PP causa masculinização de todas as fêmeas, as quais são inférteis, sendo 34% do tipo intersexo e66% falso macho. Já, aquelas que se reproduzem são mochas heterozigóticas (Pp) ou chifrudas (pp). Nos bodes,o alelo P em homozigose frequentemente causa esterilidade. Os animais chifrudos (pp) ou mochos heterozigotos (Pp) aparentemente são férteis. É possível evitar o nascimento dos indivíduos intersexuados 60,XX homozigotos para o gene "mocho" (PP), se forem sempre utilizados como reprodutores do rebanho bodes que tenham chifres (pp). Ginandromorfos O comportamento cromossômico anormal em alguns animais pode resultar em mosaicos sexuais denominados ginandromorfos. Esse fenômeno consiste em o animal apresentar partes com características femininas, e outras partes com características masculinas. Em alguns casos, tanto as genitálias e gônadas masculinas quanto as femininas podem estar presentes no mesmo animal. Um caso bem conhecido ocorre normalmente em gêmeos de bovinos. Esses gêmeos, originados de dois ovos separados, podem consistir de dois machos, duas fêmeas ou um macho e uma fêmea. Quando os gêmeos são do mesmo sexo, o desenvolvimento ocorre normalmente. Mas quando um é macho e o outro é fêmea, como o testículo do feto masculino desenvolve-se antes do ovário do feto feminino, os hormônios masculinos passam para o organismo da fêmea, em decorrência da conexão de vasos sanguíneos nas placentas, tornando se intersexuada, estéril. Tais fêmeas anormais são conhecidas como vacas maninhas ou freemartin. A genitália externa geralmente é normal, mas os derivados müllerianos frequentemente estão ausentes ou são rudimentares; os derivados wolffianos estão presentes e, em muitos casos, as gônadas assemelham-se a pequenos testículos. Biologia reprodutiva e melhoramento animal Armazenagem de sêmen: ● Utilização de touros selecionados ● Nao ha necessidade de manter touros caros e comportamentais na fazenda ● O sêmen pode ser testado quanto a doenças; Inseminação artificial: disseminação de reprodutores geneticamente superiores mesmo após sua morte. Sincronização de cio: permite aumentar a produtividade Superovulação A superovulação, seguida de implantação em mães substitutas, permite a obtenção de maior número de descendentes de reprodutoras altamente selecionadas. As drogas usadas para induzir a superovulação são as gonadotrofinas PMSG e o FSH. Fusão celular E a fusão de dois óvulos (ou de dois núcleos de espermatozóides que serão colocados em um óvulo sem núcleo). A fusão de gametas de um mesmo animal é chamada de selfing.
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