Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SANEAMENTO Eliane Conterato Processos gerais e estações de tratamento de esgoto Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir tratamento de esgoto. � Descrever quais são os processos usualmente utilizados. � Indicar as funções de cada nível dentro do processo de tratamento. Introdução Todos os dias, milhões de litros de esgoto são gerados no Brasil, e grande parte desse esgoto ainda é jogado na natureza sem tratamento. O esgoto não tratado tem uma grande quantidade de sólidos e organismos como vermes, bactérias, vírus e protozoários, que contaminam os recursos hídricos e prejudicam o desenvolvimento da vida aquática e da vida no seu entorno, inclusive transmitindo inúmeras doenças. As impurezas presentes no esgoto podem e devem ser removidas em grande parte pelos processos de tratamento, antes do efluente ser lançado na natureza, em córregos e rios. Neste capítulo, você estudará os principais métodos utilizados no tratamento de esgoto, que são capazes de tornar o efluente adequado para posterior lançamento na natureza. O tratamento de esgoto e sua importância Esgoto nada mais é do que a água transportando sólidos que são despejados de residências e indústrias todos os dias. Esses sólidos presentes no esgoto são responsáveis pela deterioração da qualidade de um corpo d’água quando lançados nele sem um tratamento adequado. Quando o esgoto é lançado sem tratamento, acaba consumindo grande parte do oxigênio dissolvido na água nos processos de degradação da matéria orgânica. Conforme Von Sperling (2005), o consumo se deve aos processos de estabilização da matéria orgânica realizados pelas bactérias decompositoras, que utilizam o oxigênio disponível no meio líquido para sua respiração. Essa redução de oxigênio dissolvido tem diversas implicações do ponto de vista ambiental, sendo um dos principais problemas de poluição das águas. Conforme menciona o autor, a autodepuração é a capacidade de um curso d’água se recuperar por meio de mecanismos puramente naturais. O tempo necessário para a autodepuração depende do corpo receptor: em um rio ou mar, o fenômeno pode durar menos que em lagos, pois a agitação favorece a aeração do escoamento, acelerando o processo. Um fator importante a con- siderar na autodepuração é a capacidade de assimilação do corpo d’água. O autor coloca que, sob uma visão prática, a capacidade de um corpo d’água de assimilar despejos é um recurso a ser explorado, desde que não apresente problemas do ponto de vista ambiental. Esse lançamento de cargas poluidoras não pode ser admitido acima do limite aceitável, ou seja, acima da capacidade de assimilação do corpo d’água. Durante o processo de autodepuração, pode-se distinguir duas etapas principais: decomposição e recuperação do oxigênio dissolvido (OD). Durante a decomposição, existe uma demanda por oxigênio. Conforme Braga et al. (2005), essa quantidade de oxigênio dissolvido na água, necessária para a decomposição da matéria orgânica, é chamada de demanda bioquímica de oxigênio (DBO); ela é a quantidade de oxigênio que vai ser respirado pelos decompositores aeróbios para a decomposição completa da matéria orgânica lançada na água. A DBO varia conforme o tipo de despejo e serve como pa- râmetro indicador do potencial poluidor de certas substâncias biodegradáveis em relação ao consumo de OD. A segunda etapa, recuperação do OD, representa o período em que o consumo de oxigênio torna-se menor que a reposição, então, o oxigênio volta a aumentar no corpo hídrico. Essa reposição, segundo Braga et al. (2005), acontece pelas trocas atmosféricas, devido à turbulência no curso de água, e pela fotossíntese. Durante o processo de decomposição, o consumo normalmente é maior que a reposição por ambas as fontes, e, apenas quando o processo de decomposição cessa, a quantidade de oxigênio volta a aumentar. O processo de autodepuração é apresentado na Figura 1. É possível ob- servar as zonas características desse processo: zona de águas limpas, zona de degradação, zona de decomposição ativa, zona de recuperação e zona de águas limpas novamente. Processos gerais e estações de tratamento de esgoto2 Figura 1. Regiões características do processo de autodepuração. Fonte: Adaptada de Braga et al. (2005, p. 90). O2 Vida aquática superior Zona de águas limpas Descarga de calor ou despejo Ti po s de or ga ni sm os Co nc en tr aç ão Tempo ou distância Zona de águas limpas Zona de degradação Zona de decom- posição ativa Zona de recuperação Vida aquática superior Organismos mais resistentes Organismos mais resistentes Bactérias e fungos (anaeróbicos) DBO Direção ou �uxo Na Figura 1 também se pode observar que o oxigênio dissolvido (repre- sentado pela linha tracejada), encontra-se em uma concentração mais elevada antes do lançamento do efluente, passando a diminuir na zona de degradação e atingindo o menor valor na zona de decomposição ativa. Na zona de recu- peração, volta a aumentar até atingir uma concentração satisfatória. Braga et al. (2005) enfatiza que o nível de oxigênio reestabelecido não significa que a zona esteja livre de organismos patogênicos. Em relação à DBO, ela é baixa antes do lançamento do efluente, passando para valores máximos no momento do lançamento e decaindo até atingir o nível satisfatório. Sem dúvida, esse processo natural de tratamento de um esgoto lançado gera consequências ao meio ambiente. Quando existe a sobrecarga de nutrientes na água, ocorre um fenômeno conhecido como eutrofização, no qual há uma grande proliferação de algas e cianobactérias, que impedem a penetração da luz solar no ambiente aquático. Sem luz, muitos organismos que dependem de fotossíntese acabam morrendo. A quantificação de DBO e OD durante o processo de autodepuração pode ser realizada através de modelos de qualidade de água. Segundo Von Sperling (2005), um dos primeiros modelos foi desenvolvido por Streeter e Phelps, em 1925, e representou um marco na história de Engenharia Sanitária e Ambiental. Posteriormente, vários outros modelos foram desenvolvidos, aumentando o número de variáveis e a complexidade, como o modelo de Camp (1954) e o 3Processos gerais e estações de tratamento de esgoto modelo QUAL2E, desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Para que o afeito do lançamento in natura de esgotos seja minimizado, o esgoto deve passar por estações de tratamento de esgoto (ETE), onde ocorre o mesmo processo que naturalmente aconteceria em um corpo d’água, porém em condições controladas, que garantem qualidade na remoção de poluição. No tratamento de esgoto, são utilizadas como agentes bactérias aeróbias ou anaeróbias que, quando encontram condições favoráveis, reproduzem-se em grande quantidade, degradando a matéria orgânica presente no meio. Para que as condições ideais sejam reproduzidas, deve ser feito um correto dimensionamento do sistema, considerando as características do esgoto que chega à ETE (afluente) e as características do corpo receptor que receberá o esgoto depois de tratado (efluente). O efluente da ETE deve ser adequado ao corpo receptor, ou seja, não pode interferir na qualidade da água a ponto de prejudicar os usos que dela são feitos. No Brasil, a Resolução nº. 430, de 13 de maio de 2011, do Conselho Nacional do Meio Ambiente dispõe sobre condições, parâmetros, padrões e diretrizes para a gestão do lançamento de efluentes em corpos de água receptores. Conforme a resolução, para o lançamento direto de efluentes oriundos de sistemas de tratamento de esgotos sanitários, devem ser obedecidas condições como: � pH entre 5 e 9; � temperatura inferior a 40° C, e que a variação de temperatura não exceda 3° C na zona de mistura; � presença de no máximo 1 ml/litro de materiais sedimentáveis, sendo que, para o lançamento em lagos e lagoas, esses materiais deverão ser virtualmente ausentes; � máximo de 120 mg/litro de DBO,sendo que esse limite somente poderá ser ultrapassado no caso de ser efluente de sistema de tratamento com eficiência mínima de 60% na remoção de DBO ou mediante estudo de autodepuração do corpo hídrico que comprove atendimento às metas do enquadramento do corpo receptor; � presença de óleos e graxas no limite máximo de 100 mg/litro; � ausência de materiais flutuantes. Processos gerais e estações de tratamento de esgoto4 Pelo link a seguir, você pode acessar o texto completo da Resolução nº. 430/2011 e ler mais sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, em diferentes condições. https://goo.gl/E3zLSj Para adequar o efluente ao corpo receptor, o grau de tratamento em uma ETE pode variar, podendo existir diversas configurações e processos que alcancem a eficiência necessária. Conforme Braga et al. (2005), o nível de tratamento pode ser classificado, segundo o grau de eficiência, em: � tratamento preliminar; � tratamento primário; � tratamento secundário; � tratamento terciário. Veja a seguir detalhadamente cada um desses tratamentos. Processos de tratamento de esgoto No Brasil, a NBR 12.2009/1989 fixa as condições exigíveis para a elaboração de projeto hidráulico-sanitário de estações de tratamento de esgoto sanitário (ETE). Veja a seguir quais são os principais processos de tratamento dentro de cada nível. Tratamento preliminar Nesse primeiro nível, são retirados do esgoto os sólidos grosseiros, como lixo jogado indevidamente na tubulação de esgoto, folhas secas, restos de vegetais e tudo mais que pode ficar retido em sistema de gradeamento e sedimentado em caixa de areia. Esse procedimento preliminar permite melhorar a eficiência dos processos seguintes, evitando a danificação de equipamentos, como abrasão de bombas e tubulações, entupimento de tubulações ou desgaste da estrutura. 5Processos gerais e estações de tratamento de esgoto Entretanto, a matéria orgânica não é retida nesse primeiro processo. Veja um esquema do tratamento preliminar na Figura 2. Figura 2. Processo preliminar de tratamento do esgoto. Gradeamento Caixa de areia Medidor de vazão Tratamento primário Após passar pelo processo primário, o esgoto ainda contém sólidos em sus- pensão. Conforme Nuvolari (2011), a função dessa etapa é clarificar o esgoto, removendo os sólidos que podem sedimentar pelo seu próprio peso. Esse primeiro lodo formado é chamado de lodo primário bruto. O processo de decomposição de parte desse lodo ocorre de forma anaeróbia no fundo do decantador. Posteriormente, esse lodo é removido com bombas, raspadores ou tubulações e tratado adequadamente, já que nem todo o volume retirado se encontra estabilizado (segundo a NBR 12.209/1989, o lodo estabilizado é um lodo que não está sujeito à putrefação). Nesse processo, também podem ser removidos sólidos flutuantes (óleos e graxas). Veja um esquema do tratamento primário na Figura 3. Figura 3. Processo primário de tratamento de esgoto. Esgoto a�uente Esgoto e�uente (já decantado) Lodo primário Partícula em suspensão Processos gerais e estações de tratamento de esgoto6 Tratamento secundário O tratamento secundário remove a matéria orgânica e os sólidos em suspensão por meio de processos biológicos. Esses processos utilizam reações bioquími- cas, realizadas por microrganismos, que podem ser bactérias aeróbias, aeróbias facultativas, protozoários e fungos. A participação dos microrganismos é fundamental nesse processo. Os principais poluentes removidos são a matéria orgânica em suspensão, os sólidos não sedimentáveis, os nutrientes e patógenos — esses dois últimos, parcialmente. Existem diferentes processos que são considerados tratamento secundário. A escolha do mais adequado depende, basicamente, das caracte- rísticas do esgoto, das características climáticas do local, da disponibilidade de energia, da disponibilidade de espaço, entre outros fatores. Estas são as características de alguns dos processos mais utilizados. Lodos ativados: segundo Jordão e Pessoa (2014), lodo ativado é o floco produzido em um esgoto bruto ou decantado pelo crescimento de bactérias ou outros organismos, na presença de oxigênio dissolvido, e acumulado em concentração suficiente devido ao retorno de outros flocos previamente formados. Basicamente, o lodo recircula logo após ser separado do es- goto por sedimentação. O excesso de lodo é descartado (após tratamento adequado) e a maior parte retorna para o sistema, entrando em contato novamente com o esgoto bruto. O esgoto tratado é coletado por canaletas na superfície, onde passa para a próxima etapa. Visualize esse processo na Figura 4. Filtros biológicos: conforme Jordão e Pessoa (2014), o contato do esgoto afluente com a massa biológica contida nos filtros biológicos realiza uma oxidação bioquímica. O mecanismo do processo é caracterizado pela percolação contínua do esgoto através do meio suporte. A Figura 5 mostra um esquema de filtro biológico, no qual se pode observar o sistema de aspersão e o meio filtrante. A coleta é realizada por tubulações localizadas no fundo do filtro. 7Processos gerais e estações de tratamento de esgoto Figura 4. Esquema do tratamento de esgotos por lodo ativado convencional. Fonte: Nuvolari (2011). Figura 5. Representação esquemática de filtro biológico. Fonte: Von Sperling (2005). Bio�lme Meio suporte Esgoto percolando Processos gerais e estações de tratamento de esgoto8 Reatores anaeróbios: essas estruturas são dimensionadas para que o trata- mento do esgoto seja realizado por microrganismos presentes em um manto de lodo formado no interior dos reatores anaeróbios. Conforme Jordão e Pessoa (2014), essas estruturas têm, basicamente, as seguintes partes: � câmara de digestão: onde se localiza o manto de lodo e onde se processa a digestão anaeróbia; � separador de fases: dispositivo que separa as fases líquida e gasosa da fase sólida (é, na verdade, um defletor de gases); � zona de transição: se encontra entre a zona de digestão e a zona de sedimentação superior; � zona de sedimentação: o esgoto, com uma velocidade ascensional, verte pelas aberturas superiores, permitindo que os sólidos ainda presentes sedimentem e retornem para as zonas de transição e digestão; � zona de acumulação de gás: zona onde o gás se acumula para ser co- letado posteriormente. Conforme os autores, um bom projeto de reator costuma obter um efluente com eficiência da ordem de 70% de remoção de DBO. No caso de esgotos domésticos, geralmente, pode-se obter um efluente com concentração má- xima de DBO inferior a 120 mg/litro e de sólidos suspensos inferior a 80 mg/ litro. Esses valores são influenciados pelo tempo de detenção hidráulico que, tipicamente, está entre 6 a 10 horas. O tempo de detenção hidráulico é o tempo que o efluente é retido no reator. A Figura 6 mostra um reator anaeróbio de fluxo ascendente (RAFA), conhecido também por sua sigla em inglês, UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket). 9Processos gerais e estações de tratamento de esgoto Figura 6. Representação esquemática de um reator tipo RAFA ou UASB. Fonte: Adaptada de Jordão e Pessoa (2014, p. 832). Saída de biogás Separador trifásico De�etor de gases Bolhas de gás Partículas de lodo Compartimento de digestão Compartimento de decantação Abertura para o decantador Manta de lodo Leito de lodo A�uente Coleta do e�uente Lagoas de estabilização: conforme Jordão e Pessoa (2014), lagoas de estabili- zação são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica e/ou redução fotossintética das águas. De acordo com a forma predominante pela qual se dá a estabilização da matéria orgânica, as lagoas podem ser classificadas em: � lagoas anaeróbias: nelas predominam processos de fermentação anaeró- bia; imediatamente abaixo da superfície, não existe oxigênio dissolvido; � lagoas facultativas: nelas ocorrem simultaneamente processos de fer- mentação anaeróbia,oxidação aeróbia e redução fotossintética; � lagoas de maturação: elas têm como objetivo principal a remoção de organismos patogênicos — bactérias, vírus, protozoários e ovos de helmintos. A redução de sólidos em suspensão e de DBO é praticamente nula, sendo esse tipo de lagoa utilizado no tratamento terciário. Processos gerais e estações de tratamento de esgoto10 A lagoa é basicamente um sistema onde o esgoto entra em uma extremidade e é coletado na extremidade oposta. Esse processo demora vários dias, e o tempo de permanência (tempo de detenção) depende do tipo de lagoa. A Tabela 1 resume algumas características das principais lagoas utilizadas atualmente: Fonte: Adaptada de Von Sperling (1995). lagoas facultativas lagoas anaeróbias lagoas de maturação tempo de detenção (dias) 15 a 45 3 a 6 * profundidade (m) 1,5 a 2 3 a 5 0,8 a 12 relação comprimento/ largura 2 a 4 1 a 3 ** relação comprimento/ largura 2 a 4 1 a 3 ** * depende do formato da lagoa e da eficiência requerida; ** em lagoas de maturação chicaneadas em célula única >10 e em série de mais de 3 lagoas, varia de 1 a 3. Tabela 1. Resumo das características das principais lagoas utilizadas As lagoas, apesar de demandarem uma área grande em relação a outros processos, apresentam boa eficiência, principalmente em regiões com clima quente. A Figura 7 mostra um esquema de funcionamento de uma lagoa fa- cultativa e de um sistema australiano, que é a utilização em conjunto de lagoa anaeróbia e lagoa facultativa. Esse sistema é bastante utilizado, pois, com a remoção de DBO na faixa de 50 a 70% na lagoa anaeróbia, o efluente entra em uma lagoa facultativa requerendo uma área menor. De acordo com Von Sperling (1995), esse sistema requer cerca de 45 a 70% da área em comparação a uma única lagoa facultativa. 11Processos gerais e estações de tratamento de esgoto Figura 7. Esquema mostrando o funcionamento de (a) lagoa facultativa e (b) lagoa anaeróbia seguida de facultativa (sistema australiano). Fonte: Adaptada de Von Sperling (1995, p. 19 e 62). Grade Caixa de areia Fase sólida Medidor de vazão Lagoa facultativa Lagoa facultativa Lagoa anaeróbica - lagoa facultativa Corpo receptor Grade Caixa de areia Fase sólida Medidor de vazão Lagoa facultativaLagoa anaeróbica Corpo receptor a) b) Além dos processos citados, existem alternativas para o tratamento se- cundário, que são utilizadas em tratamentos de volumes menores. Uma das experiências em maior escala no Brasil é a estação de tratamento ecológica de Juturnaíba, que faz parte do sistema de coleta e tratamento de esgoto dos municípios de Araruama, Saquarema e Silva Jardim, no Rio de Janeiro. Essa estação utiliza plantas para a absorção de nutrientes, principalmente nitrogê- nio e fósforo, como última etapa do tratamento. A Figura 8 mostra o sistema utilizado na estação de Juturnaíba. Processos gerais e estações de tratamento de esgoto12 Figura 8. Plantas usadas no lugar de produtos químicos na ETE ecológica de Juturnaíba (RJ). Fonte: Como será (2015). No link a seguir, você encontra um artigo sobre a utilização de plantas no tratamento de esgoto, “Componentes do sistema de tratamento de esgoto com plantas”. https://goo.gl/7na43W Tratamento terciário Este tratamento é utilizado quando se deseja obter um tratamento de qualidade superior para os esgotos. Nele são removidos poluentes específicos (micro- nutrientes e patógenos), além de outros poluentes não retidos no tratamento primário e secundário. No tratamento terciário, removem-se compostos como nitrogênio e fósforo, além da remoção completa da matéria orgânica. 13Processos gerais e estações de tratamento de esgoto Entre os principais métodos de tratamento terciário estão as lagoas de maturação e os processos de desinfecção por cloração, raios ultravioleta ou ozonização. A lagoa de maturação é uma alternativa mais barata a outros métodos, pois a desinfecção é possibilizada basicamente pela penetração da luz solar, elevado pH (devido à atividade fotossintética) e elevada presença de oxigênio dissolvido. Tratamento do lodo O lodo proveniente de estações de tratamento deve ser corretamente descar- tado. Conforme o Brasil (2008), as etapas de tratamento de lodo de ETEs são quatro: adensamento, estabilização, desidratação e higienização. Mas nem todo resíduo gerado durante o tratamento necessita passar por todas essas etapas. O adensamento consiste em concentrar os sólidos presentes no lodo para reduzir sua umidade. Pode ser realizado por gravidade ou por flotação, que consiste na adição de um polímero que facilita o arraste e o acúmulo do lodo na superfície do tanque. A estabilização pode ser realizada por digestão anaeróbia, aeróbia, tratamento térmico ou ainda estabilização química. A desidratação pode ser realizada por processos naturais ou mecânicos (leito de secagem, como exemplo de desidratação natural, e prensa desaguadora, como exemplo de desidratação mecânica). Existem diferentes métodos para a higienização; entre os mais usados estão a adição de cal e a composta- gem. A necessidade de higienização depende da destinação final, já que a incineração ou a disposição em aterro sanitário requerem uma higienização menos rigorosa. Veja na Figura 9 um esquema mostrando o método utilizado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) até o destino final do lodo gerado nas ETEs da companhia. Processos gerais e estações de tratamento de esgoto14 Figura 9. Processo de secagem e destinação final do logo gerado em ETEs da Sabesp. Fonte: São Paulo ([201-?]). Tratamentos em locais sem coleta pública de esgoto Existem locais onde não há coleta pública, então, deve ser dado um tratamento individual adequado ao esgoto gerado. Esses casos se aplicam principalmente 15Processos gerais e estações de tratamento de esgoto em áreas rurais. Um dos tratamentos mais utilizados em residências é a fossa séptica. De acordo com Jordão e Pessoa (2014), a fossa séptica consiste em uma câmara construída especialmente para reter os esgotos por determinado tempo, de modo a permitir a sedimentação dos sólidos e a retenção de materiais graxos, transformando-os em compostos mais simples e estáveis. Esse processo pode obter uma eficiência entre 30 e 65% na remoção de DBO. A retenção do esgoto na fossa pode variar de 24 a 12 horas, dependendo das condições do esgoto. Nesse período de retenção ocorre a sedimentação e a decomposição anaeróbia do lodo. O autor ainda cita os processos mais eficientes e econômicos de disposição do efluente da fossa séptica: diluição, sumidouro, vala de infiltração, vala de filtração e filtro de areia. A diluição deve satisfazer as exigências, tanto para o efluente quanto para o corpo receptor. O sumidouro é um poço absorvente onde o efluente se infiltra no solo. A vala de infiltração consiste em uma vala preparada para receber e infiltrar o efluente sobre o solo. A vala de filtração consiste em uma vala preparada com tubulações de coleta, onde o efluente é despejado na superfície e coletado pelas tubulações (pode ser usado como um tratamento complementar, podendo chegar a uma eficiência de 95% na remoção de DBO). Antes da destinação final, o efluente da fossa pode receber tratamento complementar; nesse caso, geralmente são utilizados filtros anaeróbios de fluxo ascendente, que consistem em uma câmara com camadas de material filtrante. A utilização de fossa e filtro em conjunto chegam a uma eficiência de 70 a 85% na remoção de DBO. A estação de tratamento de esgoto de Barueri é uma das maiores da Sabesp. Localizada no município de Barueri, ela serve a maior parte da cidade de São Paulo. Também atende aos municípios de Jandira, Itapevi, Barueri, Carapicuíba, Osasco, Taboão da Serra, Santana do Parnaíba e partes de Cotia, Embu e Itapecerica da Serra. Veja algumas características dessa ETE. � data de início da operação: 11 de maio de 1988; � pessoas beneficiadas: 5,76 milhões de habitantes;� vazão média de projeto: 12 mil litros por segundo; � vazão atual: 9.906 litros/segundo (média de 2016). O processo de tratamento empregado é o de lodo ativado convencional e em nível secundário, com grau de eficiência de cerca de 90% de remoção de carga orgânica. Processos gerais e estações de tratamento de esgoto16 Os esgotos são transportados para a estação através de um sistema de esgotamento constituído por coletores-tronco, emissários, interceptores e linha de recalque, totali- zando aproximadamente 251 quilômetros de extensão. Figura 10. Imagem da estação e tratamento de esgoto de Barueri (SP). Fonte: São Paulo ([201-?]). 1. Quais são os níveis de tratamento para o esgoto? a) Preliminar, primário, secundário, secundário complementar e terciário. b) Preliminar, primário, secundário e terciário. c) Primário, secundário e terciário. d) Preliminar, secundário e terciário. e) Secundário, preliminar, terciário e preliminar. 2. Quais são os efeitos positivos do saneamento básico? a) Melhoria da saúde da população e redução dos recursos aplicados no tratamento de doenças. b) Melhoria do potencial produtivo das pessoas; dinamização da economia e geração de empregos; eliminação da poluição estético-visual e desenvolvimento do turismo. c) Eliminação de barreiras não tarifárias para os produtos exportáveis das empresas locais; conservação ambiental; melhoria da imagem institucional; reconhecimento dos eleitores. d) Diminuição dos custos de tratamento da água. e) Todas as alternativas estão corretas 3. Os investimentos em esgoto sanitário têm um forte impacto positivo sobre a economia dos municípios, com valorização dos imóveis residenciais e comerciais. Além desse impacto, podem-se citar: a) a viabilização da instalação de novos negócios e o crescimento dos já instalados. b) o crescimento da atividade de construção civil para atender o aumento da procura 17Processos gerais e estações de tratamento de esgoto de imóveis; a criação de novos empregos a partir da dinamização da construção civil, da abertura de novos negócios ou do crescimento daqueles já existentes; o aumento da arrecadação municipal de tributos. c) a viabilização da instalação de novos negócios e o crescimento dos já instalados; o crescimento da atividade de construção civil para atender o aumento da procura de imóveis; a criação de novos empregos a partir da dinamização da construção civil, da abertura de novos negócios ou do crescimento daqueles já existentes; o aumento da arrecadação municipal de tributos. d) a criação de novos empregos a partir da dinamização da construção civil, da abertura de novos negócios ou do crescimento daqueles já existentes. e) a abertura de novos negócios ou do crescimento daqueles já existentes. 4. As características dos esgotos, de uma forma geral, são determinadas pelas impurezas incorporadas à água em decorrência do uso para o qual ela foi destinada. Considerando o esgoto doméstico, quais parâmetros devem ser analisados? a) Sólidos, indicadores de matéria orgânica, nutrientes e indicadores de contaminação fecal. b) Indicadores de matéria orgânica e indicadores de contaminação fecal. c) Indicadores de matéria orgânica, nutrientes e indicadores de contaminação fecal. d) Sólidos, indicadores de matéria orgânica e indicadores de contaminação fecal. e) Nutrientes e indicadores de contaminação fecal. 5. Quais são os principais impactos gerados pelo lançamento de poluentes nos cursos d’água? a) A contaminação pelos organismos patogênicos e a eutrofização. b) A redução da concentração de oxigênio dissolvido e a eutrofização. c) A redução da concentração de oxigênio dissolvido e a contaminação pelos organismos patogênicos e a eutrofização. d) A redução da concentração de oxigênio dissolvido e a contaminação pelos organismos patogênicos. e) Nenhuma alternativa anterior. Processos gerais e estações de tratamento de esgoto18 BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (Org.). Transversal: lodo gerado durante o tratamento de água e esgoto: guia do profissional em treinamento: nível 2. Brasília, DF: Ministério das Cidades, 2008. BRASIL. Resolução nº. 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e pa- drões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº. 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. DOU, Brasília, DF, n. 92, p. 89, 16 maio 2011. COMO SERÁ. Estação de tratamento usa plantas no lugar de produtos químicos. 2015. Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/como-sera/noticia/2015/07/estacao- de-tratamento-usa-plantas-no-lugar-de-produtos-quimicos.html>. Acesso em: 20 jun. 2018. JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 7. ed. Rio de Janeiro: ABES, 2014. NUVOLARI, A. (Coord.). Esgoto sanitário: coleta, transporte, tratamento e reúso agrícola. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2011. SÃO PAULO. Companhia de Saneamento Básico do Estado. Estação Barueri. [201?]. Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=49>. Acesso em: 20 jun. 2018. VON SPERLING, M. V. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: UMFG, 2005. (Princípios do tratamento biológico de águas residuárias, 1). VON SPERLING, M. V. Lagoas de estabilização. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995. Leituras recomendadas BARROS, R. Energia de biogás da digestão anaeróbia de resíduos sólidos orgânicos e de aterros sanitários. Revista O Futuro da Energia, v. 1, n. 1, p. 1-9, 2016. VON SPERLING, M. Lodos ativados. Belo Horizonte: UFMG/ABES, 1997. (Princípios do tratamento biológico de águas residuárias, 4). 19Processos gerais e estações de tratamento de esgoto Conteúdo:
Compartilhar