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Resenha do texto - Epistemologias do Sul

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Resenha do texto: SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes, In: SANTOS, Boaventura de Sousa & MENESES, Maria Paula (organizadores). Epistemologias do Sul, São Paulo: Cortez, 2013
O livro “Epistemologias do Sul” organizado por Boaventura de Sousa Santos, questiona a reflexão epistemológica dos últimos dois séculos, que segundo Boaventura, eliminou o contexto cultural e político.
		Boaventura, nascido em Portugal, mestre e doutor pela Yale University, dedicou sua vasta bibliografia à epistemologia, sociologia do direito, teoria pós-colonial, democracia, intercuturalidade, globalização, movimentos sociais e direitos humanos.
		Podemos dizer que o texto “Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes”, é a união de todas essas linhas de pesquisa desenvolvidas pelo autor ao longo da sua carreira.
		Inicialmente, Boaventura defende que Epistemologia é toda concepção refletida ou não sobre as condições de conhecimento válido. Não há conhecimento sem práticas e atores sociais, assim como diferentes tipos de relação originam diferentes epistemologias.
		O “sul” utilizado no texto está parcialmente de acordo com sua posição geográfica. O conjunto de países e regiões do mundo que foram submetidos ao colonialismo europeu e que, com exceção da Austrália e Nova Zelândia, não atingiram níveis de desenvolvimento econômico semelhantes com o norte global. A sobreposição somente é parcial, porque, segundo Boaventura – e como de fato podemos confirmar – há no norte o grupo sujeito à dominação capitalista e colonial, e há no sul as “pequenas Europas”, pequenas elites, que dominam.
		Algo importe a ser ressaltado, e que acredito ser o foco de todos esses estudos é que, de acordo com o autor, o colonialismo também foi uma dominação epistemológica, uma relação extremamente desigual de saber-poder que conduziu à supressão de muitas formas de saber próprios dos povos e/ou nações colonizadas.
		O livro vem justamente para denunciar essa supressão, as “epistemologias do Sul” valorizam os saberes que resistiram com êxito e investigam as condições de um diálogo horizontal entre conhecimentos. E a esse diálogo entre conhecimentos, dá-se o nome de ecologia dos saberes.
		Para Boaventura, a epistemologia ocidental dominante foi construída na base das necessidades de dominação colonial e assenta na ideia de um pensamento abissal. 
		Pensamento abissal é uma característica da modernidade ocidental, que consiste num sistema de distinções visíveis e invisíveis que dividem a realidade social em dois universos ontologicamente diferentes. De um lado, que o autor sempre se refere ao “lado de cá da linha”, é o norte imperial, colonial e neocolonial, do outro lado, que o autor se refere ao “lado de lá da linha”, é o sul colonizado, silente e oprimido. Esse abismo existente entre os dois lados, torna inexistente o que acontece do outro lado. A impossibilidade de coopresença entre os dois lado é o que caracteriza o pensamento abissal.
		Assim, nos dois grandes domínios, Direto e ciência, aquilo que se encontra do outro lado da linha é desconsiderado, eliminado. Tudo que pode ser verdadeiro ou falso, legal ou ilegal, ocorre sempre do lado colonial. Dessa forma, toda a experiência ocorrida no “sul” é desperdiçada, completamente ignorado, tornada invisível.
		O autor trata da regulação e emancipação social como a forma de domínio das civilizações e o aprisionamento de seus saberes, regulando seus conhecimento em benefício de uma superação de um saber dominantes. A apropriação e a violência por sua vez, tomam diferentes formas na linha abissal jurídica e na linha abissal epistemológica. De um lado a dominação do conhecimento e de outro, em relação ao direito, a apropriação e violência é complexa em sua relação com a extração de valor, causando uma radical ausência de humanidade, a sub-humanidade moderna, que sequer consideram esses seres candidatos à inclusão social.
		Essa ignorância em relação aos outros saberes de modo a suprimi-los, é chamado de fascismo epistemológico e que é comparado com o fascismo social que é uma forma de apartheid social e também o fascismo contratual (supressão de direitos trabalhistas, modificando o contrato por um contrato civil), e o fascismo territorial (poder de regulação social sobre os habitantes).
		O autor destaca que, para muitos, no decorrer da história estes aspectos dominantes da ciência teriam desaparecido, todavia, ele defende que essa realidade de predominância é tão verdadeira como no período colonial, o que segundo Boaventura, somente poderá ser superado mediante a co-presença, que seria a identificação das práticas e agentes dos dois lados da linha, que são sujeitos contemporâneos em questões igualitárias.
		Diante disso, o autor defende um pensamento pós abissal, caracterizado por um reconhecimento de diversidade inesgotável e que por sua vez, carece de uma epistemologia apropriada. Ainda, esse pensamento pós abissal, anseia pelo fim da exclusão social, visto que sem isso, jamais ser possível qualquer alternativa pós-capitalista progressista. Por fim, considera essencial a negação da guerra e da intolerância.
		Reconhecer essa multiplicidade de conhecimentos é o que o autor chama de ecologia de saberes que seria a solução para combater o pensamento abissal e toda carga negativa social que carrega com ele.
		Infelizmente, ao analisarmos nosso país, veremos sempre a classe dominada e a classe dominantes, seja no campo da ciência ou do direito. De fato somente com o extermínio dessa linha abissal é que se pode verdadeiramente estabelecer um democracia e uma aproximação de igualdade. Digo aproximação porque enquanto vivermos em um país neoliberal uma verdadeira igualdade e democracia jamais poderá ser vivida.

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