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Fichamento - Cidadania Tutelada

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Acadêmico: Luis Fernando Masiero
Fichamento Bibliográfico – Citação Direta
DEMO, Pedro. Cidadania tutelada e cidadania assistida. Autores associados, 1995.
I. DEFINIÇÕES PRELIMINARES
“Uma das conquistas mais importantes do fim deste século é o reconhecimento de que a
cidadania perfaz o componente mais fundamental do desenvolvimento. […] Não é viável
suprimir o fenômeno do poder, porque faz parte da estrutura da sociedade, mas é bem
possível administrá-lo de modo democrático. […] O fator essencial para esse progresso é
a cidadania, definida como competência humana de fazer-se sujeito, para fazer história
própria e coletivamente organizada.” (p. 1)
“O desafio maior da cidadania é a eliminação da pobreza política, que está na raiz da
ignorância acerca da condição de massa de manobra. […] Não-cidadão é sobretudo
quem, por estar coibido de tomar consciência crítica da marginalização que lhe é imposta,
não atinge a oportunidade de conceber uma historia alternativa e de organizar-se
politicamente para tanto”. (p. 2)
“Cidadania é, assim, a raiz dos direitos humanos, pois estes somente medram onde a
sociedade se faz sujeito histórico capaz de discernir e efetivar seu projeto de
desenvolvimento. Sobretudo, cidadania é fundante com respeito ao Estado. Este, por
mais que seja necessário e sobretudo inevitável como instância delegada de serviço
público, não precede e muito menos conduz a cidadania. A relação social e historicamente
correta é a contrária. Uma sociedade deveras cidadã atina para a necessidade de
constituir uma instância pública comum, a qual delega uma série de serviços e funções,
que somente têm razão de ser frente aos desafios do bem-estar comum”. (p. 3)
“O realce maior centra-se no reconhecimento, já consensual, de que o desenvolvimento
não se esgota na questão do mercado, por mais que seja meio indispensável e
estratégico, mas abrange caracteristicamente os fins comuns da sociedade como um
todo, descritos ora como sustentabilidade humana, ora como equidade, resumidos na
cidadania.” (p. 4)
“Com isso, colocamos os parâmetros básicos desta discussão, que podemos sintetizar
em algumas proposições de trabalho: O ideal da sociedade é a emancipação, com base
na cidadania organizada e na capacidade produtiva; Cidadania é fim, produção é meio, no
contexto do enfoque integrado matricial; É desafio ingente compor mercado e cidadania,
sendo que no capitalismo, é típico dilema, podendo-se dizer o mesmo para o processo de
desenvolvimento (p. 5).
“Cidadania tutelada expressa o tipo de cidadania que a direita (elite econômica e política)
cultiva ou suporta, a saber, aquela que se tem por dádiva ou concessão de cima. […] A
direita apela para o clientelismo e o paternalismo principalmente, com o objetivo de
manter a população atrelada a seus projetos políticos e econômicos. O resultado mais
típico da cidadania tutelada, que, na prática, é sua negação/repressão, é a reprodução
indefinida da sempre mesma elite histórica.” (p. 6)
“Cidadania assistida expressa forma mais amena de pobreza política, porque já permite a
elaboração de um embrião da noção de direito, que é o direito à assistência, integrante de
toda democracia. Entretanto, ao preferir assistência à emancipação, labora também na
reprodução da pobreza política, à medida que mantendo intocado o sistema produtivo e
passando ao largo das relações de mercado, não se compromete com a necessária
equalização de oportunidades. O atrelamento da população a um sistema sempre fajuto
de benefícios estatais é seu engôdo principal. Maquia a marginalização social.” (p. 6-7)
“Entendemos por relações de mercado o funcionamento concreto histórico, a maneira
prática como o mercado se organiza em cada sociedade, gerando uma trama de relações
sociais, nas quais, como regra, o mercado, de meio econômico, se impõe como fim de
tudo. […] Relações capitalistas de mercado representam, por sua vez, a forma histórica
própria do capitalismo de organizar as relações de mercado, fazendo parte do modo de
produção capitalista. […] A pobreza faculta o pagamento de salários aviltados,
representados classicamente por salários mínimos que jamais cobrem o mínimo de
subsistência. A ignorância faculta a manutenção do sistema, evitando que o trabalhador
se conscientize, se revolte e interfira nas relações de mercado.” (p. 8)
II. CONFLITOS DE PARADIGMAS SOBRE O PAPEL DO ESTADO
“O Estado cumpre a função de serviço público, criada e controlada pela sociedade
organizada. A discussão volta-se, então, para a qualificação do Estado: precisa ser
legítimo, democrático e de serviço público. Para fins de sistematização, podemos
distinguir aproximadamente 4 paradigmas de Estado, dois em cada sistema capitalista ou
socialista.” (p. 9)
“Estado Socialista Mínimo: Nunca foi praticado, e por isso não saiu da discussão teórica e
de arremedos de prática […]. Caracteristicamente, a esquerda evita discuti-lo, porque
adotou, com maior ou menor consciência, o paradigma falido do socialismo real sob a
designação muito duvidosa de “marxismo-leninismo”. […] O Estado é tolerado, em
“poucas mas importantes funções”, que deveriam ser controladas pela classe
trabalhadora. […] Todavia, a importância da Comuna está na proposta de democracia
popular de base, principalmente em dois sentidos eminentes: a) a organização
democrática começa sempre de baixo para cima; […] b) o Estado é estritamente de
serviço à base […] .” (p. 10-11)
“Nada que o Estado tenha lhe é próprio previamente, porque tudo recebe por delegação.
Quer se trate de autoridade, de recursos financeiros, de papéis específicos, de serviços
públicos, tudo é organizado e executado sob delegação das bases, que podem, a
qualquer momento, redefinir as funções históricas do Estado. É ponto de chegada, porque
o centro não pode elevar-se acima da base, transformando a esta em massa de
manobra.” (p. 12)
“A capacidade de controle por parte da base é o distintivo maior deste tipo de Estado,
uma característica que pervade hoje a busca de reformulação dos seus papéis. Esta
perspectiva coloca a necessidade de um tipo específico de competência, que é a
cidadania consciente e organizada, capaz de manter as políticas públicas sob rédea curta,
garantindo-lhes a qualidade. Esta competência imprime, na prática, o rodízio no poder, a
sanção contra os maus políticos, mudanças na e da elite, avaliação persistente do
funcionamento dos órgãos públicos, sob o crivo do bem-estar comum, critério essencial
da persistência e da mudança socioeconômica.” (p. 13)
“Estado Socialista Máximo: Tendo sido experiência histórica concreta, tem aí seu forte e
seu fraco. Sob a ótica do “socialismo real”, é considerado um aborto por várias razões,
algumas das quais pareceriam acertadas. Em termos da teoria marxista, a experiência
soviética foi prematura, já que não existiam condições objetivas para a transição do
capitalismo para o socialismo, por mais que a intervenção política tivesse sido exitosa.
[…] Jamais se conseguiu resolver a contento a questão produtiva. Este problema foi
decisivo para o fracasso do socialismo real.” (p. 14)
“Muitos dos problemas tiveram origem na substituição da ditadura do proletariado por um
Estado onipresente e total, que inverteu a relação de poder: em vez de ser instância
delegada de serviço público, passou a ser a concentração absoluta de poder, ao qual o
proletário como tal já não tinha acesso e muito menos controle. Assim, a ditadura do
proletariado se restringiu à ditadura do partido único, e este foi engolido na máquina
estatal, que a tudo definia: produção e cidadania.” (p. 15)
“Autores alternativos, alguns ocidentais como Marcuse e a Escola de Frankfurt, outros
expulsos do sistema socialista e radicados no Ocidente, como Bloch e Bahro, sinalizaram
o colapso do sistema […]. Um fenômenodesta grandeza não pode ser resumido em
algumas dimensões apenas, mas, para nossos fins de sistematização didática, podemos
ressaltar às seguintes: a) não se fez a abundância material; […] b) não se observou
adequado progresso tecnológico no sistema produtivo; […] c) por não existir suficiente
excedente econômico, os serviços sociais foram também declinando de qualidade; […] d)
o Estado total abafou a cidadania, impedindo formas de controle de baixo para cima; […]
e) a cidadania tutelada foi correspondida, crescentemente, com a formação de setores
privilegiados, concentrados na direção do partido e do Estado.” (p. 16)
“O socialismo real, na verdade, foi menos suplantado por confrontos políticos, do que
principalmente apodreceu, diante da dificuldade de manter, na população, a ignorância e
a miséria. As próprias autoridades centrais foram percebendo que lhes faltava chão sob
os pés […]. A ex-União Soviética desmoronou, havendo nisto pelo menos dois momentos
de rara significação: de um lado, a impossibilidade de restaurar o sovietismo quando se
tentou depor Gorbachev ou a impossibilidade de manter o sistema […], de outro, o
esfacelamento sistemático da dita “cortina de ferro”, onde atos de violência foram bem
menos marcantes que a saturação por parte da população.” (p. 17)
“Seja como for, o modelo do Estado Socialista Total mostrou-se inviável, porque
prejudicou profundamente as duas colunas mestras do desenvolvimento, a saber, a
capacidade produtiva e a cidadania. Feriu ostensivamente os anseios do bem-estar
material, e sobretudo os de liberdade e equidade. […] Cuba visivelmente agoniza, metida
em crise econômica incontornável, além de temer pela continuidade politica do regime.
China busca, apressadamente, modernizar-se na direção da economia de mercado,
enquanto mantém uma das ditaduras estatais mais rígidas do mundo. […] Todavia, o
Estado Máximo mostrou, pelo menos na experiência do socialismo real, ser improdutivo,
perdidamente burocratizado e repressor.” (p. 18) 
“Estado Capitalista Mínimo: Sendo o mercado, no sistema capitalista, o regulador
essencial também da sociedade, o Estado é sempre visto com suspeita, porque pode
tornar-se entrave às liberdades de um mercado que se quer livre. O liberalismo acredita
que a economia de livre mercado é a única que tem condições de praticar a produtividade
crescente, fazendo a abundância de bens e serviços, e com isto estabelecer um sistema
de acesso equilibrado, coordenado pela oferta e pela demanda. Esta marca do sistema
produtivo, caracterizada pela liberdade de iniciativa, risco da concorrência e consumo
desimpedido, é transferida para a sociedade como tal, submetendo as liberdades desta às
liberdades do mercado”. (p. 19)
“O neoliberalismo representa a fase atual desta crença, reforçada sobremaneira pelo
fracasso do socralismo real e pelo êxito de países competitivos, que souberam
transformar, via educação e conhecimento primordialmente, seus problemas e desafios
em oportunidade de desenvolvimento. Este paradigma representa a ideologia atual
dominante, que tem como carro-chefe a privatização crescente de empresas públicas e a
diminuição da área de abrangência da atuação do Estado. Faz parte desta tendência a
definição do Estado como promotor de políticas sociais compensatórias, para assistir aos
que não conseguem inserir-se adequadamente no mercado”. (p. 20)
“O Estado é mantido sob suspeita, como tática para que não se avolume além do
estritamente necessário, não se reproduza burocraticamente de modo parasitário, não
gaste o que não for comprovadamente indispensável, situação esta comparável “mutatis
mutandis” à concepção socialista do Estado Mínimo, e que tem também consequências
favoráveis. Entre estas destaca-se o rígido controle sobre o Estado, a começar pelos
gastos, já que o parâmetro do bom funcionamento do mercado e a produção de riquezas
em regime de livre iniciativa seria o “bem comum” maior. Esta atitude pode estar na raiz
das privatizações, à medida que muitos empreendimentos, cuja eficiência depende da
competitividade aberta, são melhor conduzidos pela iniciativa privada.” (p. 21) 
“O Estado Mínimo possui funções essenciais, apesar da suspeita sistemática em que é
mantido, inclusive no campo produtivo. Em grande medida, faz parte isto da ideologia
liberal, quando mascara, sob o discurso de um Estado menor possível, “direcionismos” e
protecionismos clássicos […]. Até certo ponto, o neoliberalismo é exatamente o contrário
do que se prega, em muitos sentidos: a) o mercado livre tem faces certamente positivas
com respeito à competência produtiva, mas mascara que a livre iniciativa é,
essencialmente, determinada pela posse econômica, não pela cidadania […]. b) o
discurso do livre comércio não consegue esconder relações internacionais selvagens […].
(p. 22). c) a capacidade produtiva reconhecidamente eficiente não compensa a destruição
crescente do meio ambiente […]. d) sobretudo, mascara-se a relação escandalosamente
duvidosa entre livre mercado e democracia, frente ao Terceiro Mundo arruinado.” (p. 23)
“Estado Capitalista Máximo: […] Neste caso, o Estado assumiu papéis de cobertura
generalizada de benefícios sociais, dentro da concepção de que a cidadania deveria ser o
regulador principal da economia e da sociedade. Recebeu destaque a universalização da
previdência, da assistência, da educação básica, do seguro-desemprego, da saúde, de tal
sorte que a todos, independentemente das relações de mercado, seria garantido acesso
satisfatório ao bem-estar. Este foi definido como mescla equilibrada de acesso a emprego
e renda, de um lado, e à qualidade de vida, de outro. […] O surgimento de tais sociedades
se deve a pelo menos dois fatores essenciais: a) aprimoramento das oportunidades
econômicas; […] b) aprimoramento da cidadania, representada sobretudo pela ação
sindical e partidária […]. (p. 24-25)
“Com isto emergiram democracias bastante estáveis, cada vez mais ligadas ao Estado de
Direito e comprometidas com os Direitos Humanos. Teve nisto influência a ONU, ainda
que sua ação detenha Iaivo neoliberal inegável e, até certo ponto, compreensível.
Tomando como padrão a Europa central e nórdica, parece claro que se trata de
sociedades razoavelmente equitativas, dotadas de democracias bastante controladas pela
população, munidas de um Estado mais ou menos abrangente, mas sempre com a função
de equalizar oportunidades, representativas de níveis jamais vistos de consumo e bem-
estar material. […] Entretanto, há nisto mais aparência do que realidade. Na prática o
welfare state está regredindo, por força da sempre mesma razão capitalista, ou seja,
diante da disjuntiva entre mercado e cidadania, esta acaba cedendo.” (p. 26)
“A assim dita social-democracia, a par das virtudes que merecem ser apreciadas, esconde
a chaga principal do sistema capitalista de produção, que é a determinação em última
instância do mercado. […] Esconde sobretudo que o bem-estar por vezes exuberante
produzido no centro se relaciona dialeticamente com a pobreza Iancinante do Terceiro
Mundo; em nenhum momento de sua história o capitalismo foi capaz de viver sem
periferias marginalizadas.” (p. 27)
“Tomando as coisas com realismo, a própria democracia é fenômeno contraditório e
estranho porque, ao lado de Estados de Direito notáveis, escamoteia guerras, conflitos
raciais, novas formas de violência, depredações ambientais incalculáveis, alto consumo
de drogas e assim por diante; até certo ponto, são democracias “particulares”, cujo apelo
universal é sobretudo ideológico; Escamoteia, sob uma das ideologias mais importantes
do século, a dos direitos humanos, a ideologia neoliberal, que coloca acima de tudo e de
todos as relações de mercado, em cujo contexto os países ditos desenvolvidos mantêm,
ferrenhamente, posição privilegiada.” (p. 28) 
“Ainda assim,trata-se de uma experiência pertinente e notável, porque mostra que é
possível civilizar o mercado desde que exista cidadania competente. Não se pode negar
que, no centro, florescem sociedades relativamente equilibradas, livres e ricas. A pobreza
política, juntamente com a pobreza material, desceram a níveis mínimos, revelando que é
possível conquistar outras oportunidades para o cidadão, embora nunca para além dos
limites das relações de mercado. Talvez a marca mais positiva esteja na luta crescente
contra a pobreza política, a medida que se valoriza, sempre mais, educação e
conhecimento como estratégia primordial do desenvolvimento. Nada preserva mais o
capitalismo selvagem do que a ignorância e a desinformação.” (p. 29)
“Os países mais pobres não dispõem, precisamente, das duas alavancas centrais do
bem-estar: economia dotada de considerável excedente, e cidadania exuberante capaz
de, pelo menos relativamente, controlar o Estado e as elites. Como regra, o Estado se
mete em tudo, para não fazer nada descente, Manipula o discurso dos direitos sociais
para posar de welfare state, reservando, entretanto, para os pobres uma oferta
tipicamente pobre. A política social aparece como tática de controle e desmobilização […].
(p. 30)
“Por falta de cidadania, o abuso dos recursos públicos torna-se regra, tendo como
resultado, tanto a malversação, quanto o aumento inútil do Estado, cuja direção é
comando de privilégios corporativos, a par da privatização corrupta levada a efeito
tradicionalmente pelas elites. Ninguém é mais subsidiado que a elite. Ninguém é mais
funcionário público que a elite. As empresas estatais dificilmente se submetem ao controle
do Estado e muito menos da população. Quando lhes convém, são simplesmente
empresas para inventarem sem cerimônia os próprios salarios, gratificações, vantagens,
fundos previdenciários, e fazer as greves que bem entendem. Ou, quando lhes convém,
são órgãos públicos, para impedir demissão, lançar mão de recursos públicos, fazer
previdência privilegiada etc.” (p. 31)
III. DESAFIOS E DILEMAS DO NEOLIBERALISMO
“Neoliberalismo, no ambiente de educadores e profissionais assemelhados, soa como
acusação, sobretudo para indicar, por parte das esquerdas, a posição da direita.
Enquanto os conteúdos atribuidos são extremamente vagos, a estigmatização ideológica
é ostensiva. Taxar alguém, ou posição acadêmica, ou corrente política, ou proposta social
de neoliberal significa imputar-lhe a herança de toda sorte de sandice capitalista,
sobretudo a perversidade histórica de um sistema comprometido com o massacre da
população.” (p. 33)
“Compreendemos como neoliberalismo algumas marcas históricas de sistemas produtivos
e sociopolíticos, tais como: a) privilégio das relações de mercado como regulador da
economia e da sociedade; […] b) liberdade de iniciativa privada produtiva como expoente
maior da realização humana histórica […]; c) concepção de Estado mínimo e subserviente
ao processo produtivo […]; d) entendimento tendencial das políticas sociais como gasto
duvidoso, tática de controle e desmobilização popular, esquema de acomodação da mão-
de-obra, expediente de clientelismo e paternalismo; […] e) hipostasia do mercado como
instância intocável, regido por leis dadas, às quais toda e qualquer história precisa se
curvar.” (p. 34) 
“Um fenômeno tão complexo e relevante como o neoliberalismo não poderia ser
sumariado em cinco pontos […]. Basta, entretanto, visualizar que é sobretudo uma
ideologia, no sentido de tática de justificação de vantagens, a sombra do poder. […]
Todavia, as relações de mercado, mais que relações de competência produtiva, são de
poder, e, à sombra da voracidade do lucro, vale tudo para escamotear a maximização de
vantagens, sobretudo às custas do trabalhador. “Leis de mercado” funcionam, então,
tipicamente como artifício ideológico para estabelecer a intocabilidade do lucro fácil e
desimpedido, à revelia de todos os direitos humanos fundamentais. Quando a iniciativa
privada livre é o direito humano fundamental, ao pobre só resta a sobrevivência, não bem-
estar”. (p. 35)
“De um lado, estaria a inconsciência histórica que não vê as barbaridades cometidas sob
a ótica de liberdade de mercado; de outro, a consciência da elite político-econômica em
manobrar processos e produtos de conhecimento prisioneiros da liberdade de mercado.
[…] Educação neoliberal teria, então, o sentido de reprodução ideológica desta
inconsciência e desta consciência, assumindo o manejo criativo do conhecimento papel
decisivo. Sistemas produtivos modernos competitivos reclamam um trabalhador educado,
porque as chances de mercado dependem de sua competência inovadora constante, mas
entendem educação mais como lugar privilegiado da inovação pela via do conhecimento,
do que como berço da cidadania. Competitividade exige saber pensar, aprender a
aprender, posicionamento crítico e criativo, mas facilmente tudo se restringe a qualidade
formal, deixando de lado ou empanada a qualidade política.” (p. 36)
“Parece correto entender neoliberalismo como a ideologia mais ideológica jamais
inventada, porque é sobretudo todo o contrário do que se apregoa, como era […] a
ditadura do proletariado. A fachada farsante não é muito diferente daquela crada pelo
socialismo real […]. Todavia, é importante reconhecer que o sistema produtivo capitalista
tem pelo menos uma virtude: é fantasticamente produtivo de necessita da inovação
educativa para maximizar a volúpia do lucro.” (p. 37)
“O capitalismo é tão produtivo porque, ao lado de aguçar a intermediação do
conhecimento inovador, vive da concorrência discriminatória, não tanto aquela do
mercado que pode ser benéfica ao consumidor, mas principalmente àquela da exploração
do trabalho alheio, a medida que a posse material, mormente financeira, ainda é o
instrumento maior de poder. O surgimento cada vez mais visível do fenômeno da
cidadania, em particular daquela organizada, trouxe a expectativa […] de civilizar o
mercado. Esta hipótese também durou pouco porque, advindo a crise do sistema
produtivo, sacrificou-se imediatamente a cidadania, do que foi exemplo peremptório o
governo de Thatcher na Inglaterra.” (p. 39)
“O neoliberalismo atinge culminância notável, ao comprometer-se com o conhecimento
inovador, porque descobre a arma mais decisiva da fabricação da ignorância: o
conhecimento apenas comprometido com a inovação competitiva, não com a cidadania.
Já se disse que qualidade total é uma revolução conservadora, em particular a
reengenharia, porque pretendem ser radicais na conservação inteligente do sistema.” (p.
40)
“O desafio primordial será o alargamento do bem-estar material, já que sua produção
constitui a competência maior do sistema produtivo capitalista. A rigor, sob o impacto do
conhecimento inovador, é possível satisfazer a todas as necessidades básicas materiais,
garantindo, por exemplo, comida farta para todos. Em grande medida, conseguiu-se isto
no centro, podendo-se facilmente averiguar nos altos índices de expectativa de vida e na
notável redistribuição de renda.” (p. 41)
“Entretanto, mesmo no centro há ainda expressões fortes de pobreza, a par de relações
de grande desigualdade entre nações, também na assim dita Comunidade Européia. O
desemprego alastra-se, não apenas com referência aos atuais trabalhadores, mas
sobretudo com relação às novas gerações, que encontram dificuldades crescentes de
empregar-se. Quanto ao Terceiro Mundo, os cenários estratégicos não são alentadores,
havendo mesmo a preocupação com a possibilidade de irrelevância crescente, em
particular com respeito a clássica função de provedor de matérias primas. A economia
competitiva moderna liberta-se cada vez mais desta dependência,reduzindo a
importância de mercado fornecedor, embora mantenha interesse ainda como possível
consumidor.” (p. 42)
“Assim como na esfera social o senso pela sobrevivência do sistema prolifera
assistencialismos suficientes para apaziguar os marginalizados, no campo do meio
ambiente será fatal regular o progresso para que não se anule a si mesmo […]. Sob a
capa ideológica de campanhas éticas funciona mesmo o risco que tais problemas
representam para as relações favoráveis de mercado.” (p. 43)
“O dilema figadal do neoliberalismo é a incapacidade de colocar a Cidadania acima das
relações de mercado, no sentido do concerto matricial de meio e fim. […]. O dilema está
em que as relações de mercado não se mantêm como meio, mas emergem
invariavelmente como fim estabelecendo uma inversão clássica em termos de valores
humanos e éticos. […] Dilema subsequente é a tendência aparentemente irrecuperável de
gerar empregos, já que a competitividade estabelece uma proporção inversa entre
investimento em conhecimento e produção de postos de trabalho.” (p. 44-45)
“Entretanto, o capitalismo competitivo não se torna com isto mais humano
necessariamente, porque a maximização sem precedentes da capacidade produtiva não
tende a eclodir em bem-estar proporcional. Cada vez mais trabalhadores terão de ser
assistidos, não obtendo, pois, renda de fonte estrutural produtiva, mas de programas
geralmente públicos de apoio. […] Neste sentido, a exploração do trabalhador apenas
muda de figura, não de essência: na mais-valia absoluta, prepondera a exploração
fundada na pobreza e na ignorância, atingindo níveis de indignidade ostensivamente
desumana, enquanto na mais-valia relativa prepondera outra forma de exclusão
provocada pelo estreitamento crescente do mercado de trabalho, menos violenta porque
ainda permite assistência, mas não menos marginalizante no final das contas. ”(p. 46)
“O risco que a educação sofre de ser avassalada pelas relações de mercado é
compensado pela chance muito mais significativa de ”civilizar o mercado” e contribuir para
a redução cada vez maior da pobreza politica entre a população mais necessitada. O fato
de a economia também depender essencialmente da qualidade da educação é, na
prática, o que poderia ter acontecido de melhor para o futuro da cidadania. Mais que
temer o risco, é mister aproveitar a chance.” (p. 47)
“O apreço à educação de qualidade se dirige obviamente às melhorias das condições de
lucro, o que, desde logo, primazia a face da inovação com base em conhecimento, não a
da cidadania. Qualidade restringe-se ao aspecto formal do conhecimento inovador,
necessário para a competitividade moderna […]. Dificilmente implicam a melhoria decisiva
do trabalhador em termos de formação, até porque se baseiam, como regra, em
treinamentos apressados e forçados. Tenta-se, por todos os truques, transformar o
aprimoramento dos recursos humanos em táticas de adesão competitiva, que servem em
primeiríssimo lugar para os objetivos da empresa. (p. 48)
“Com certeza, um trabalhador e um cliente mais satisfeitos significam um ambiente mais
digno, mais civilizado, mais atraente, mais compensador. Virtudes que não há por que
negar ou reprimir. Mas não podem escamotear que a primazia continua, como sempre e
tipicamente, nas mãos das relações de mercado. No capitalismo não há educação que
consiga sobrepor-se. Mesmo nos casos notórios de universalização da educação básica,
em que o impacto da e na cidadania é decisivo, se não fossem sobretudo úteis para as
condições e relações de produção, não seriam mantidos. Quer dizer, consegue-se civilizar
o mercado, não, porém, dobrá-lo.” (p. 49)
“A história mostrou, com grande dose de ironia, que o socialismo real não é páreo para o
capitalismo. Apregoado como solução e algoz, faleceu antes da vítima. A economia de
livre mercado mete medo na esquerda, porque, mesmo desumanizando as relações
sociais, funciona. É o modo de produção mais produtivo que jamais se viu, também
porque se aproveita de faces muito negativas de condições sociais humanas, como a
agressividade concorrencial, a ganância e a prepotência, a sede de poder. A encarnação
mais ostensiva do maquiavelismo não é o poder absoluto, mas o mercado livre, porque
aquele carece essencialmente da instrumentação deste, e, enquanto este é objetivamente
impiedoso, aquele o é subjetivamente. O mercado a tudo reduz a coisa, estereotipa na
moeda, que transforma as relações sociais de troca em meio impessoal.” (p. 50-51)
“A própria necessidade estrutural da produção material da subsistência induz a formação
de mercados, que serão instrumentos mais ou menos civilizados, dependendo
principalmente da qualidade da cidadania. A geração de recursos e riquezas é
indispensável, tanto para novos investimentos, quanto para as políticas sociais, a menos
que nos contentemos em distribuir a pobreza. […] O desprezo pelas relações de mercado
foi fatal no socialismo real, como é fatal nas políticas sociais. A necessidade de
redistribuição de renda, por exemplo, encontra no emprego sua via mais estrutural,
porque faz parte das relações de mercado. Nenhuma assistência pode ser mais relevante
que isto.”(p. 52) 
“Assim, o mercado tem a nos ensinar uma série de perspectivas murto pertinentes, tais
como: O Estado não tem uma conta infinita da qual saca bem entende; […] A
redistribuição da renda supõe condições favoráveis produtivas […]; A auto-sustentação do
cidadão é sempre muito mais relevante que o acesso à assistência […]; Tratando-se do
uso de recursos públicos, é absolutamente importante tratá-los com espírito empresarial
[…]; Mercados protegidos, sobretudo os monopolizados, tendem a perverter-se, porque
substituem a livre concorrência pela corrupção manipulada […].” (p. 53)
“A exacerbação ideológica é inútil, porque, além de nada mudar, evidencia ignorância
diante do fenômeno. De nada adianta tomar a economia de livre mercado como
excrescência, porque simplesmente é a realidade em que vivemos e sobretudo porque
não se inova o que se reprime ou ignora. Inúmeras polêmicas entre nós padecem deste
tipo de primarismo, sobretudo da esquerda no funcionalismo público, habituada à baixa
produtividade e à falta de cobrança por parte da população. […] A relativa ignorância
técnica é compensada pelo engajamento politico, decantado como panaceia para as
mudanças históricas. Da doutrinação da direita, que busca fabricar a ignorância, transita-
se para a doutrinação da esquerda, que persegue o atrelamento político, preferindo
sempre fidelidade à competência.” (p. 54)
“A cidadania é raramente vista como desafio de competência, bastando-se com o
engajamento político; não seria difícil mostrar que tal posicionamento fomenta um tipo de
ignorância, à medida que favorece o adesismo em detrimento da autonomia crítica; […] )
a cidadania é vista apenas como atividade política sem vinculação matricial com a
problemática produtiva, como se fossem dois mundos paralelos e mesmo estanques, e
não dialetiamente polarizados; esta posição desfaz a pretensa força da proposta, porque
acaba reduzindo-se apenas a uma diatribe ideológica.” (p. 55)
“Entre as crendices do socialismo real está o menosprezo pelo mercado, como se o
Estado tivesse uma conta infinita à disposição, da qual lançaria mão para financiar
inesgotavelmente as políticas sociais. […] Inclusive por falta de conhecimento adequado,
ambientes pedagógicos costumam fetichizar as relações de mercado, como se fossem
coisa totalmente espúria ou mesmo satânica. Com isto, jogam no neoliberalismo tudo que
possa haver de maligno na história conhecida. (p. 56)
“A fobia capitalista tende a funcionar como tática de fuga, propensa ao imobilismo e à
promoção da ignorância, porquanto nada valeria a pena, a nãoser a superação do
sistema. Trata-se de um imbróglio notável, a começar por uma hipótese de trabalho
totalmente contraditória, pois pretende-se construir um processo transformador
essencialmente baseado na ideologia do absenteísmo. […] Assim, investir numa escola
pública ruim, sob a alegação de evitar servir ao sistema, significa consagrar ainda mais o
sistema […].” (p. 57)
“A resistência a toda e qualquer proposta inspirada na competitividade, na transformação
produtiva, no saneamento das finanças públicas, na reestruturação do Estado, etc.,
advêm também de táticas de contra-doutrinação e corporativismo, por conta sobretudo do
medo a mudança. Nestas mudanças não existe apenas o espírito capitalista — por
definição maligno! — mas igualmente superações necessárias em nome da cidadania
popular, que exigem, cada vez mais, um Estado mais transparente e efetivo, menos
perdulário e corrupto, funcionários mais competentes e dedicados e menos privilegiados
[…].” (p. 58) 
“Quando esta pobreza se torna incômoda e sobretudo arriscada, o mercado, por razão de
sobrevivência, admite distribuir renda, sem entretanto tocar no espectro da desigualdade
social. Usa para tanto as políticas sociais, mormente as de assistência, capazes de
aplacar a reação, à medida que cultivam a pobreza politica sobretudo. Distribuir renda
significa retirar das sombras do excedente econômico, com o objetivo de espargir
migalhas, na medida suficiente para controlar e desmobilizar a população marginalizada.
Distribuir significa, assim, não atingir a lógica das relações de mercado. […] No outro lado
da mesma medalha neoliberal, os setores econômicos toleram as políticas sociais como
expediente inevitável de acomodação dos conflitos gerados no mercado, insuficiente para
dar conta das demandas, sobretudo de emprego.” (p. 59-60)
“O máximo que o neoliberalismo atingiu, no welfare state, é civilizar razoavelmente o
mercado, no sentido de lhe impor alguns reclamos da cidadania, como a universalização
da previdência, o seguro-desemprego, certos parâmetros da redistribuição da renda, e
assim por diante. A formação amplamente majoritária das classes médias é seu maior
troféu. Entretanto, cabe ao mercado a última palavra, sempre. Tanto assim que, advindo a
crise, cortam-se logo as assistências, os acessos gratuitos, as concessões sociais. Os
direitos sociais têm apenas o tamanho que o mercado suporta”. (p. 61)
“Esta critica, todavia, precisa estar bem calibrada, para não transitar para o extremo
oposto, como se cidadania, sozinha, fizesse o desenvolvimento humano sustentável. […]
Assim, cidadania competente, não é aquela que ignora ou despreza o mercado, mas a
que sabe usar. Um mercado sadio é essencial como instrumento do bem-estar comum.”
(p. 62) 
“O neoliberalismo está em festa, desde a queda do socialismo real. Até mesmo a Guerra
Fria esboroou-se, porque o adversário murchou. A primeira vista, a sociedade capitalista,
baseada na economia de livre mercado, emerge como paradigma que soube se
demonstrar, superando todas as crises e sobretudo sobrevivendo ao socialismo real. Ao
mesmo tempo, apresenta-se como o modelo mais democrático em vigência. […] O bem-
estar material generalizado somente foi obtido na economia de mercado, mesmo que seja
apenas no centro. São os lugares também onde existe, pelo menos aparentemente, o
maior interesse pelos direitos humanos, funciona melhor a cidadania, viceja a equalização
mais efetiva de oportunidades. Igualmente lá discute-se com maior ênfase a
sustentabilidade do desenvolvimento, não faltando o engajamento de inúmeras ONGs
dedicadas à causa. Por tudo isto, o capitalismo gostaria de representar a razão: uma
sociedade certamente problemática, mas a melhor jamais inventada. ” (p. 63-64)
“De outro lado existe o cansaço do progresso material, porquanto, se são muito
importantes as soluções da sobrevivência material, elas colocam sobretudo novos
problemas, para os quais a sociedade não está em absoluto preparada. Isolamento, tédio,
suicídio, falta de perspectiva, apelo a drogas, etnocentrismos, e mesmo guerras sujas
apontam para aquilo que a dialética, desde sempre, garante: todas as sociedades são
problemáticas estruturalmente, produzindo nelas mesmas as condições suficientes para
sua superação. Entretanto, tais contradições são, na prática, genéricas.” (p.65)
“A alma da preservação do capitalismo não é a economia de livre mercado, mas a
ignorância. Até certo ponto, vivenciamos isto na queda do socialismo real: Os fartos
investimentos na universalização da educação básia, mesmo que fosse em grande parte
“moral e cívica”, funcionaram como antídoto a repressão, porquanto fica mais dificil tapar
o sol com a peneira; o confronto violento foi apenas esporádico, porque o Sistema
simplesmente ruiu por conta das próprias incongruências. Só com muita ignorância seria
possível fazer alguém acreditar que na União Soviética havia uma autêntica ditadura do
proletariado, com base no comunismo científico e na dialética não antagônica”. (p. 67-68)
“O Brasil pretende ser, no discurso e sobretudo na Constituição e leis derivadas, um
welfare state. Na prática é uma mistura esdrúxula de sovietismo e neoliberalismo, levando
ao abuso do Estado tanto pela direita, quanto pela esquerda. Afinal, quem não tem
competência histórica para construir modelo próprio de desenvolvimento, encosta-se à
sombra dos outros, É bem mais fácil teorizar-se como Estado de Bem-estar e de Direito,
do que dar conta da miséria reinante e enfrentar as contradições de nosso sistema
produtivo. A direita continua em seu projeto de cidadania tutelada, tendo como aliado
principal a reprodução da ignorância popular, o que lhe permite privatizar e saquear o
Estado. A esquerda não consegue ir além da cidadania assistida, tendo como aliado
principal o discurso em torno dos direitos sociais, que lhe permite confortavelmente atrelar
a população e parasitar no poder ou à sombra dele.” (p. 69)
“Quanto a face econômica, o fato de sermos mais ou menos a 10a economia mundial não
pode obscurecer sua fraca ligação com as necessidades básicas da população. Oproduto
é considerável, mas está primordialmente voltado para fora e extremamente concentrado.
Temos uma das maiores concentrações de renda do mundo, e metade das pessoas
ocupadas se alojam no mercado informal, o que revela a extrema dificuldade de absorver
a população economicamente ativa”. (p. 71)
“Quanto à cidadania, é também muito menor do que se imagina, impedindo o controle
democrático do Estado e das elites, que encontram caminho aberto para saquear a coisa
pública. Nossos indicadores de educação básica estão entre os mais atrasados da
América Latina: para 1992, a média de anos de estudo na população de 15 anos ou mais
era de 4.0; Abaixo desta aparecia apenas o Haiti”. (p. 72)
“Parece haver dois tipos de superdimensionamento frente a cidadania: de um lado,
valoriza-se em excesso a cidadania de rua, intermitente e excitada, em movimentos tão
importantes quanto passageiros, como os caras-pintadas, as diretas já, etc., quando
decisiva é a cidadania cotidiana. Esta, como insinuam os dados, é esfarrapada. De outro
lado, é tradicional na esquerda a supervalorização do discurso ideológico, esquecendo,
por exemplo, que o voto consciente e crítico ainda não é majoritário.” (p. 74)
“A fraqueza de nossa cidadania pode ser vista, da maneira mais concreta, na dificuldade
de controlar os poderes executivo, legislativo e judiciário. Por sorte, temos no país o
fenômeno notável de uma imprensa mobilizada e severa com os dirigentes e instituições
públicas, motivando transparência por vezes surpreendente nas gestões e sobretudo nos
gastos. […] Assim, em termos de welfare state, o que existe no Brasil são sobretudo duas
caricaturas: a) forma jurídica, nos textos legais que supõemuma situação de bem-estar;
b) arremedos intermitentes e esporádicos, em alguns programas muito truncados de
universalização de benefícios, por exemplo. (p. 75)
“Na prática […] as coisas funcionam pelo avesso, ou melhor, na normalidade de um país
capitalista perverso, podendo se destacar: a) nenhum programa social é universal em
termos de qualidade: Se mais de 90% da população escolarizável chega a escola de 1o
grau, nada menos que 2/3 é expulsa antes de completá-la, continua tipicamente seletiva
contra os pobres e a escola pública é tipicamente coisa pobre para o pobre; Se a
previdência é, teoricamente, universal, sua inclusão se dá tipicamente pela via do salário
mínimo, o que já é absurdo gritante; mas o maior absurdo está em que foi montada de
modo tão contraditório, que se melhorar o salário mínimo, quebra”. (p. 76)
“O neoliberalismo sempre dá a última carta: a iniciativa privada é livre em educação e
saúde; toda a retórica circundante, que procura definir o bem comum como regulador dos
bens privados, não vai além de mascarar este privilégio; a função social da propriedade
também é retórica; […] no campo das comunicações, a farta retórica em tomo dos fins
educativos e culturais da televisão, por exemplo, apenas encobre a crueza das relações
de mercado que comandam o sistema. O corporativismo de estilo “soviético” tomou conta
das relações estatais: o cuidado com a autonomia dos poderes é sempre maior do que o
cuidado com o compromisso quantitativo e sobretudo qualitativo com a população;
conservam-se monopólios que já não são mais estratégicos para o desenvolvimento do
país, embora essenciais para corporações privilegiadas.” (p. 77)
“Do ponto de vista das políticas sociais, a imitação pobre do Welfare State tem como
sequela, desde logo, uma desproporção brutal entre a promessa fátua de benefícios e a
realidade da pobreza. Com efeito, nos países de bem-estar a pobreza é, como regra,
residual. Mesmo tomando-se em mente o desemprego, as taxas preocupam muito, mas é
minoria. Através da universalização qualitativa da educação básica alcança-se forte
impacto de equalização de oportunidades, sem falar em sistemas previdenciários
avançados. Jamais é o caso assistir a grandes massas, o que tem a vantagem marcante
de comprometer excedentes econômicos palatáveis.” (p. 78)
“Sucede, porém, exatamente o contrário num país como o Brasil. Sendo pobreza
problema de grandes maiorias, não há como produzir excedente suficiente para
universalizar a assistência, mesmo que não fosse saqueado pelas elites ou pela
malversação pública. Todos os programas param pelo caminho ou espargem
atendimentos precários, sem falar que variam de acordo com os humores políticos, até
porque escapam à proporcionandade do mercado. […] É balela, para não dizer
incompetência, imaginar políticas sociais desvinculadas das condições de mercado, que
continuam, também no welfare state, e mais ainda num sistema capitalista perverso, o
regulador decisivo da sociedade e da economia.” (p. 80)
“Numa situação de pobreza residual, assistências setoriais podem até ter sentido
tolerável, porque não há comprometimento preocupante do mercado (as sobras bastam) e
a cidadania é suficiente para servir de anteparo. Numa situação de capitalismo perverso,
nenhuma política social setorial tem relevância, já que, em vez de ser forma de atacar o
problema, é sobretudo de o cultivar, assim como a cidadania assistida é truque para coibir
a emancipação. Porquanto, cidadania assistida contenta-se com proteção e migalhas,
para evitar o confronto com relações indignas de mercado.” (p. 81)
“A imagem concreta do Brasil é a de uma economia significativa rodeada de extrema
pobreza. As análises do PNUD, relativas ao Índice de Desenvolvimento Humano,
invariavelmente castigam o pais como exemplo típico de capitalismo perverso. Há
recursos e há leis. Só não há justiça e bem-estar para todos. A impressão que fica é que
as leis são tão bonitas, para melhor encobrir a miséria. A maioria dos direitos previstos na
Constituição não dispõe de recursos financeiros. Mesmo a educação, para a qual existem
fontes expressas de recursos, é a própria imagem da subserviência às relações de
mercado e da precariedade da cidadania.” (p. 82)
“Entre as grandes mazelas brasileiras, podemos citar, a revelia de todas as cantilenas do
welfare state: a) uma das maiores concentrações de renda do mundo ; […] b) dificuldade
extrema de os recursos sociais chegarem a seu destino […]; c) corrupção generalizada no
orçamento da União […]; d) saque de recursos públicos, principalmente pela via do
superfaturamento, por parte de empresas privadas contratadas, com realce especial para
as Empreiteiras; e) viciamento incontrolável dos esquemas de financiamento de
campanhas políticas […]. f) A decadência sem precedentes dos serviços públicos, em
particular na área de saúde, reforçando o ritmo privatizante;” (p. 83) “g) Ilhas da fantasia
em termos de privilégios salariais e previdenciários dentro do Estado […]; h) manipulação
política dos Bancos Oficiais, sobretudo para fins eleitoreiros; […] i) agressões ostensivas
aos direitos humanos, através do extermínio em periferias metropolitanas, no campo, nas
prisões, das crianças e adolescentes. ” (p. 84)
“Confunde-se facilmente o ideário de Welfare State como se cultiva no Partido da Social
Democracia Brasileira – PSDB, com a realidade. Este Wishfull thinking não garante a
realidade, tal qual uma lei boa não faz a realidade. A qualificação do Welfare State para
um pais como o nosso não cabe stricto sensu abonar, nem para condenar. Quando se
pretende abonar, insinuando avanços que o neoliberalismo preza, a fantasia não cabe
porque, a rigor, sequer funciona adequadamente a economia de mercado.” (p. 85)
“Não se inventa, pela via da suposição gratuita, leis frouxas e arremedos, um Estado de
bem-estar. É mister construí-lo com a devida competência histórica. Antes de pretender
posar de welfare state, o país precisa tornar-se uma decente economia de livre mercado,
porque nem isto ainda é de modo suficiente. No contexto deste “capitalismo soviético”,
não podemos contar nem com as faces positivas do mercado, como produtividade,
concorrência livre, qualidade dos produtos e serviços, favorecimento do consumidor pela
via da oferta abundante, etc.” (p. 86)
“Mostrou ainda que a cidadania brasileira progride por conta da grande mobilização que
se obteve. Muito superestimada até porque se confunde mobilização esporádica com
cidadania cotidiana, ainda assim foi um espetáculo de rara significação. A pobreza
extrema tornou-se problema nacional, o que, pelo menos até certo ponto, permitiu colocar
que sua solução, se houver, depende sobretudo de competência política.” (p. 87)
“Qualquer crítica ao programa de renda mínima é confundida com a ideologia neoliberal.
Embora o neoliberalismo seja contra por razões óbvias, é possível (e necessário) ser
contra por outros motivos, sobretudo em nome da cidadania emancipada. Pois é uma
proposta típica da cidadania assistida. Sua inspiração advém do welfare state, sob o
argumento democrático correto de que o risco de sobrevivência é um atentado aos
direitos humanos fundamentais. O mercado não pode estar acima disso. Assistência é um
direito indiscutível. Pessoas e famílias que não conseguem autossustentar-se, teriam o
direito de receber do Estado um auxílio monetário mensal, como se fosse um substituto
do salário que o mercado nega. Também disto se trata, ou seja, é função do Estado
corrigir disfunções do mercado como estas.” (p. 88)
“Entre nós, o primeiro problema é a multidão dos que necessitam de renda mínima e que,
dentro da tradição parasitária promovida pelo Estado e pelas elites, facilmente se
multiplica, tornando-se inviável delimitar quem entra e quem Fica de fora. O ideal da
emancipação é logo substituídopelo da assistência, que, de preferência será definitiva. O
segundo problema são os recursos, sempre extremamente inferiores às necessidades
reais, já que atender minorias é totalmente diferente de atender maiorias ou grandes
números. Com efeito, a tendência será dar uma renda pequena, menor que a do salário
mínimo, que teria como resultado apenas “aliviar” a pobreza, mantendo-a no fundo
intacta.” (p. 90)
“A renda mínima não ataca o espectro da desigualdade social e as relações de mercado
em nenhum momento. Por mais elegante que fosse, deixa a pobreza onde está. Ademais,
tende a ser programa intermitente, e neste sentido totalmente contrário a lógica da
inserção no mercado de trabalho. Estas marcas hipostastam a assistência, tornando-a
engodo da cidadania. Assim, renda mínima é tática de atrelamento da população ao
Estado, revelando laivos claros do sovietismo, a medida que fantasia uma competência
impossível num Estado submetido a um sistema produtivo perverso. Neste sentido, é
proposta tipicamente parasitária em duplo sentido: porque prefere assistência à
emancipaçao, e porque evita atingir as relações de mercado. Ao contrário do que se
pensa, renda mínima é a bagagem típica do conservadorismo da esquerda. Coisa
eleitoreira.”(p. 91)
“O interesse pela renda mínima está também em seus impactos imediatos, ainda que
falsos na essência. Dentro da nossa pobreza política avassaladora, qualquer migalha é
correspondida com o voto. Enquanto isso, produzir uma política de emprego e
redistrubuição de renda demanda o confronto direto com a perversidade das relações de
mercado e tempo de maturação. […] A renda mínima transporta para o mercado a relação
falsa estatizante, na qual a fonte de recursos não seria problema, colocando nisto um
princípio incontrolável de corrupção.” (p. 92) 
“Depreende-se que os programas de renda mínima, dentro de nosso contexto histórico,
favorecem muito mais a manutenção do status quo, do que a passagem para um Estado
de bem-estar. É caso típico do abuso de Estado pela esquerda. Em vez de optar pela
redistribuição de renda, contenta-se com a distribuição, deixando o espectro das
desigualdades intocados. Capitula diante das relações de mercado porque, em vez de
forçar o mercado a absorver a mão de obra, tranquiliza e institucionaliza oficialmente o
exército da reserva.” (p. 93)
“Um dos truques mais eficientes para a reprodução da cidadania assistida é a mistura
perversa entre promoção comunitária e assistência. Em si, trata-se de um projeto da
direita, tipicamente liberal, portanto, voltado a cidadania tutelada. A direita sabe que não
tem como resolver o problema da miséria, pois faz parte integrante, estrutural do sistema
produtivo como tal. Partindo disso, elabora propostas que tenham a condição de, com
base na reprodução da pobreza política, controlar e desmobilizar qualquer tipo de reação
popular. A arma principal são políticas sociais clientelistas, que objetivam o atrelamento
ignorante. A esquerda, por sua vez, defende a assistência, não o clientelismo, porque
sabe que assistência é direito social para quem não consegue autossustentar-se.” (p. 94)
“Mesmo sendo direito democrático, assistência, frente à cidadania, conota mais distância
do que aproximação, porque um dos objetivos da emancipação é sempre livrar-se de
laços da dependência, em nome de um sujeito histórico autônomo e organizadamente
competente. […] Mesmo assim, vale sempre a regra básica de que, podendo haver
emancipação, é preferível a assistência, ou, assistência inteligente é aquela que sabe
desfazer-se.” (p. 95-96)
“Marcantemente a direita, mas também a esquerda, temem uma comunidade
emancipada. Do ponto de vista do poder, é preferível motivar a dependência, mesmo que
seja através de um direito democrático como assistência. Na prática, somente dentro do
contexto do sovietismo, assistência pode pretender ser alavanca da promoção
comunitária. Mesmo no neoliberalismo, a política pública mais próxima da promoção
comunitária é a universalização qualitativa da educação básica, ou seja, a formação da
competência histórica emancipatória. Porquanto, a mensagem primeira da promoção
comunitária é a autopromoção. Ou seja, é a descoberta de que, para enfrentar os
problemas, o primeiro desafio é a competência própria, não ajuda externa. […] Como
regra, os órgãos de assistência reduzem as comunidades a meros objetos de assistência,
reproduzindo candidamente a cidadania assistida.” (p. 97)
“A promoção comunitária funda-se no direito radical da participação política e alimenta-se
do fenômeno emancipatório, ou seja, tem como meta crucial combater e superar a
pobreza política. Inclui, pois, a necessidade de elaboração da consciência crítica, e, com
base nesta, capacidade de intervenção autônoma, alternativa e organizada. Uma das
conquistas essenciais e desfazer dependências e poder exercer o controle democrático
sobre as elites e o Estado.” (p. 98)
“Dificilmente uma comunidade pobre desperta por si para a consciência crítica e elabora
seu projeto próprio de desenvolvimento. Necessita de “intelectuais orgânicos”, lideranças
alternativas, contra-ideologia, e também de um Estado e de um governo que, por opção
democrática, se entendam como serviço público e como submetidos ao controle
democrático. Pode necessitar de apoios financeiros públicos que, no entanto, devem ser
estritamente apoios, não engodo eterno do clientelismo ou do assistencialismo.” (p. 99)
“Dentro de uma democracia correta, assistência, a rigor, não precisa ser reclamada,
forjada, imposta. Frente à impossibilidade ou incapacidade de autossustentação, é
simplesmente devida por direito de cidadania. Todavia, ao lado desta radicalidade própria,
assistência expressa uma típica dependência, já que é necessitada por conta de uma
deficiência ou de uma incapacidade, que são em certos casos definitivas. […] É neste
contexto que a mescla de promoção comunitária e assistência funciona de modo
perverso, porque, em vez de fomentar a emancipação comunitária, promove-se a
dependência diante de benefícios, geralmente residuais, do Estado e dos governos.” (p.
100) 
“A falha mais grave está, porém, na visão setorialista de política social, quando imagina
que o concerto das políticas sociais ditas básicas dariam conta do problema. A raiz mais
imediata do problema das crianças e adolescentes em situação de rua é a pobreza
material das respectivas famílias, ao lado de outras também relevantes como os
desajustes familiares. A pobreza material não é mais importante que a pobreza politica. Ao
contrário. Mas é mais imediata. Dói primeiro e empurra a criança e o adolescente para a
rua. Assim, se isto não for resolvido, educação e assistência não têm efeito, porque, na
prática, apenas deslocamos o problema para frente. ” (p. 101-102)
“Mundialmente se reconhece que até aos 14 anos, a criança não deveria ser submetida a
trabalho produtivo econômico, por conta do esforço a ser aplicado na formação cívica. Em
tese, é por demais correto, por representar também uma conquista da cidadania.
Entretanto, não se poderia deixar de levar em conta que, em situação de pobreza, o
trabalho é inevitável, já que renda não advém de leis, discursos e ideologias, mas de
atividade produtiva. Embora o trabalho de crianças deva ser condenado e extirpado, na
pratica existem circunstâncias que admitiram compreensão e por vezes tolerância.” (p.
103)
“Se o objetivo primordial é garantir acesso à educação, o adolescente não poderia
trabalhar mais que meio expediente […]. Seria, assim, mais coerente e prático exigir um
salário mínimo limpo, a título de uma bolsa de estudo, ligada necessariamente a
frequência e bom aproveitamento escolar. De pouco adianta alegar que os adolescentes
seriam explorados, porque no mercado capitalista é a regra.Todavia, é possível colocar
em termos esta exploração, a medida que o sistema de Conselhos de Direitos, previsto no
ECA, se encarregasse de selecionar as empresas, controlar rigorosamente a admissão e
dispensa dos adolescentes, […] e monitorar de perto a frequência e o desempenho
escolar.” (p. 104)
“O horror ao trabalho produtivo que o ECA alimenta já revela a preferência pela cidadania
assistida e a ideologia sovietizante do grupo mentor. Entidades como a Igreja e algumas
ONGs tendem a cultivar este parasitismo, mostrando tendência a conviver bem com a
miséria popular. Cidadania que não sabe instrumentar-se no trabalho acaba nos braços
do assistencialismo.” (p. 105)
“Existem pelo menos 100 mil crianças e adolescentes em situação de rua nas grandes
cidades do país, das quais por volta de 7% “dormem na rua” (cerca de 10 mil). O fato de
que não damos conta sequer destes 10 mil, significa duas coisas clássicas: a política
proposta é inóqua, pois late, mas não morde. E o Estado continua totalmente inepto,
porque não se confronta com o mercado.” (p. 106)
“Uma criança empurrada para a rua por razão de sobrevivência material dela e/ou da
família, somente sai se resolvermos este problema imediato. Como pobreza é, via de
regra, um fenômeno familiar, a recuperação da familia parece essencial. As pesquisas
mostram que quase todas as crianças e adolescentes têm familia, nas quais os problemas
materiais não são certamente os únicos. lsto denota, desde logo, que não vamos resolver
todos os problemas apenas melhorando a renda.” (p. 107)
“Na verdade, o ECA é filhote da Constituição. Tem as mesmas virtudes e defeitos.
lmitando alegremente o welfare state, imagina que, semeando direitos, “cuidar” dos
pobres é o suficiente, como se fossem um pequeno punhado de gente, o mercado já
fosse “civilizado” e a cidadania fosse exuberante. Nosso objetivo maior é o confronto
ostensivo com a pobreza política e material das maiorias, para que, superando-se em
definitivo o capitalismo perverso retrógrado, se consiga passar pelo Estado de bem-estar,
rumo a uma sociedade capaz de projeto moderno e próprio de desenvolvimento.
Parasitismo soviético e imitação canhestra não ajudam em nada. (p. 109)
“Assistência deve ser direito permanente, nos casos em que sobrevivência é problema
permanente. Destacam-se três grupos sociais: deficientes, idosos, crianças. Ao lado
disso, há necessidade de assistência intermitente e provisória: para grupos que padecem
de vulnerabilidade extrema (gestantes e nutrientes muito pobres, migrantes sem recursos,
desempregados etc.), e para quem foi atingido por calamidade inesperada […]. Nestes
casos, a finalidade da assistência é restaurar condições mínimas para que, no menor
prazo possível, seja possível dispensá-la.” (p. 110)
“Assim, assistência não é o contrario de cidadania, porque é parte integrante dela. Em
seu devido espaço é insubstituível. De nada precisa envergonhar-se. É simplesmente
digna e justa. Todavia, não pode prometer o que não faz parte de sua especificidade,
assim como consciência crítica não mata a fome, nem dá emprego. ” (p. 111)
“Entre as políticas sociais clássicas, educação é reconhecida como mais estratégica, e
muitos a têm como a estratégia primordial do desenvolvimento, pelo seu impacto matricial
na cidadania e na economia. […] Por outra, assistência leva vantagem no sentido de
corresponder, quase sempre, a necessidades sociais imediatas. É reclamada com
presteza. Isto não a torna mais importante, porque o mais imediato nem sempre é o mais
importante.” (p. 112)
“Há, pelo menos, dois equívocos em termos de política social dessa proposta: a) a
assistência pode contribuir para garantir os mínimos sociais, mas, como tal, esta garantia
depende de uma política global integrada, que não só aglutine a esfera social mas
sobretudo a questão produtiva e a Cidadania como um todo. b) é megalomania míope
pretender que assistência dê conta das necessidades básicas da população, que são
múltiplas, não se reduzem a sobrevivência material, e devem incluir inserção no mercado
de trabalho e igualmente cidadania, objetivos que desbordam a assistência social.” (p.
113)
“A integração da assistência social as politicas setoriais não garante a superação do
setorialismo, porque o certo é desfazer o caráter setorial das políticas, bem como é
inadequado, além de arcaico, pretender enfrentar a pobreza e garantir os mínimos sociais
pela via da assistência, por mais integrada que fosse (no fundo trata-se de integração
apenas social).” (p. 114)
“Nas competências da União, Estados, Distrito Federal e Municípios reaparece o objetivo
de enfrentar a pobreza, de maneira articulada. Este objetivo é essencial, mas é difícil
entender a razão de fazer parte de uma lei específica da assistência, a não ser para
insinuar que assistência seria o elemento aglutinador dos esforços integrados, sociais,
políticos e econômicos, o que é a megalomania desvairada.” (p. 115)
“Sempre foi marca crucial da direita seja pela via da privatização da coisa pública, seja
pelo saque dos recursos públicos, seja pelo clientelismo eleitoreiro. Entretanto,
alimentada pela herança do sovietismo e pela imitação empobrecida do welfare state,
também a esquerda encontrou sua maneira de abusar do Estado. De partida, a questão
do tamanho do Estado deve ser resolvida através de dois parâmetros fundamentais, não
através de premissas prévias: a) expectativa e determinação por parte da cidadania dos
serviços públicos que o Estado deve prestar; b) capacidade e disponibilidade de recursos
financeiros e institucionais.” (p. 119)
“Quanto as funções do Estado, existem alguns consensos adquiridos na história das
democracias. Para sistematizar didaticamente, podemos dividir em três universos mais
destacáveis: a) funções que seriam monopólios publicos, do Estado: defesa, diplomacia,
segurança pública, normatização e concessão, manutenção dos três poderes, fisco. b)
políticas sociais básicas que representariam direitos sociais essenciais para o cidadão,
com destaque para educação básica, saúde preventiva e assistência; c)
empreendimentos produtivos considerados estratégicos para as oportunidades de
desenvolvimento de cada pais, do que não decorre necessidade de monopólio produtivo.”
(p. 120)
“São formas recorrentes de abusar do Estado, por sovietismo ou imitação barata do
welfare state: a) burocratismo, que torna serviço público sinônimo de penalização contra o
cidadão […]; b) mau funcionamento, no sentido de coisa pobre para o pobre […]; c) baixa
qualidade dos serviços, nos casos em que a justificativa maior para serem públicos é a
qualidade […]; d) reduplicação de serviços, implicando gastos desnecessários […]; e)
multiplicar funcionários para além do que os serviços públicos exigem […] O privilegiar
funcionários e instituições, através de salários e gratificações especiais […]; g)
manutenção de empresas estatais falidas ou desnecessárias […].” (p. 121)
“Certamente, não são funções do Estado empregar gente, substituir a iniciativa privada,
desfigurar o mercado através de proteções que geram incompetência e ainda maior
perversidade, malbaratar recursos, castigar o contribuinte com impostos sem os
respectivos serviços, proteger o capital. Entre tantos problemas que nosso Estado tem,
um merece hoje destaque, por englobar uma série de contradições que não vão apenas
por conta das relações perversas de mercado, mas igualmente por conta do abuso
oriundo das esquerdas através da manobra de privilegiamento corporativista. Trata-se, na
verdade, de outra forma de saquear o Estado, que até então fora marca registrada da
direita. ” (p. 122)
“Setores públicos que produzem bens ou serviços considerados essenciais abusam da
greve para, atemorizando a população que no fundo os mantém, amealharem privilégios,
enquanto outros não conseguem impor-se pelas greves,como é exatamente o caso das
áreas de educação, planejamento, pesquisa, absolutamente essenciais para o
desenvolvimento global do país, mas certamente menos ”essenciais” que bancos,
combustível, energia, polícia, etc.” (p. 123)
“O corporativismo, ao saquear a seu modo o Estado, reflete também os vícios da
cidadania tutelada e assistida. A cidadania tutelada aparece em truques imbecilizantes
sobretudo de empresas estatais e outras instituições que querem fazer a população crer
que são “patrimônio público”, para evitar que sejam avaliados, criticados e mudados, ou
mesmo extintos. A cidadania assistida aparece como proteção à revelia do mercado,
como são, por exemplo, as aposentadorias integrais, enquanto a maioria da população
não passa do salário mínimo.” (p. 124)
“Quando a greve se torna “curricular” e tipicamente inócua, todos os malefícios se
acumulam em detrimento da população. É tão necessário pagar bem a um bom professor,
como é crime pagar bem a um mau professor. O professor procura eximir-se de
responsabilidade, como se fora peça estranha ou sempre apenas vítima, quando se sabe
que parte do fracasso escolar vai por conta de seu despreparo.” (p. 125)
“Os monopólios produtivos deveriam todos ser abolidos, embora se deva preservar
empresas públicas por razões públicas, por exemplo, para que energia elétrica chegue ao
interior, para que exista banco e telefone no município pequeno, e assim por diante.” (p.
126)
“Outra é a situação de empresas públicas como entidades de pesquisa, planejamento,
assistência, hospitais etc., que são stricto sensu patrimônios públicos. De partida, não são
órgãos governamentais, a serviço de governos; São instituições públicas estatais, de
caráter permanente, mantidas por conta do serviço público que prestam. Disto não
decorre que não possam ser mudadas e mesmo extintas, porque a sociedade pode assim
decidir, já que é mantenedora.” (p.127)
“Pois fica incongruente defender uma universidade pública gratuita e fazer nelas as
greves típicas da iniciativa privada. Muitas vezes, as greves são dirigidas a governantes
ineptos ou mal intencionados, em nome da dignidade do Estado. Por mais correto que isto
seja, é mister procurar outras formas de agir, até porque, na área educacional por
exemplo, é impossível mostrar que as greves tenham trazido benefícios à população.”
(p.128)
“O privilegiamento corporativista escancara a impunidade do Estado, o saque por parte da
direita e o parasitismo por parte da esquerda. […] O funcionalismo, como regra, já vestiu a
carapuça: considera-se explorado, trabalha com má vontade, aceita a improdutividade
como compensação da má remuneração, é sempre inimigo do Estado confundido com
governo; ao mesmo tempo, julga-se dono do pedaço, sempre pronto a dificultar ao
máximo a administração pública, em nome de uma cidadania particular que depreda a
cidadania da população.” (p. 129)
“Nosso Estado é tão ruim, porque a cidadania é ruim. Tem por isso muito mais os trejeitos
do sovietismo, do que marcas do welfare state, que, na prática, não passa de imitação
barata. Tal qual a elite, o Estado e seus funcionários são impunes, porque seu autêntico
“patrão”, a população cidadã, não tem ainda competência suficiente para por ordem na
casa. […] A cidadania, além de ser o fator mais decisivo para civilizar o mercado, é a força
que qualifica o Estado.” (p. 130)
V. EXIGÊNCIAS E DESAFIOS DA CIDADANIA EMANCIPADA
“O processo emancipatório constitui um fenômeno profundo e complexo, de teor
tipicamente político, e que supõe, concretamente, a formação de um tipo de competência,
ou seja, de saber fazer-se sujeito histórico capaz de pensar e conduzir seu destino.
Assim, no início esta a contestação ou a consciência crítica. Tudo começa com a
capacidade e coragem de dizer NÃO. Não à condição de massa de manobra. Não à
manipulação imposta pelas elites. Não aos governos clientelistas e corruptos. Não ao
Estado tutelar e assistencialista. Não à pobreza política e material.” (p. 133)
“O segundo passo será construtivo. Após desfazer a pobreza politica, emerge a
competência para propor alternativa. CoM base na consciência crítica, que busca
compreender as razões da exclusão e sua condição de injustiça, o sujeito histórico cai em
si uma segunda vez, descobrindo que, para fazer oportunidade, ele é a peça-chave,
porque ele é a alma da oportunidade. Precisa, fazendo-se sujeito, fazer-se oportunidade.
[…] O terceiro passo, para garantir a oportunidade, aponta para a necessidade da
organização política coletiva, pois, tratando-se de competência, é mais competente a
oportunidade feita em consenso potencializado.” (p. 134)
“O processo emancipatório é, assim, um fenômeno de competência tipicamente politica.
Entretanto, não seria propriamente competente, se alimentasse a ilusão de soberania
exclusiva. Precisa de condições favoráveis que desbordam o horizonte meramente
politico, e integra o econômico sobretudo. Não há emancipação que não passe pelas
relações de mercado, tomando aqui como manifestação recorrente de todas as
sociedades. […] O grande desafio frente ao mercado é mantê-lo em seu lugar lógico, ou
seja, de mero instrumento, por mais indispensável que seja.” (p. 135) 
“Neste sentido, a competência de fazer-se sujeita precisa ser correspondida com a
competência da autossustentação. O que mais escraviza o homem é, primeiro, a
ignorância, que o impede de saber-se escravo e, por consequência, de reagir, e, segundo,
a carência material que o obriga a depender para sobreviver. Assim, a consciência crítica
não é suficiente para que se faça um sujeito histórico competente, enquanto depender
dos outros para manter-se. E mais: a consciência crítica que convive com a dependência
em termos de sobrevivência material é, no fundo, ilusória. […] Daí a máxima: participação
sem autossustentação é farsa. ” (p. 136)
“A esquerda tende a superdimensionar o desafio político e gosta de entender
emancipação como conquista ideológica jogando tudo na consciência crítica. Propõe-se
meta e ética, de absoluta relevância, mas sem os devidos meios. A direita, por sua vez,
hipostasia o mercado, porque o entende como regulador final de tudo.” (p. 137)
“O desafio maior atual do mercado é a competitividade, com base em conhecimento
inovador, tornando, no fundo, a este a única real vantagem comparativa. Ao mesmo
tempo, este desafio agrava um dos dilemas típicos do capitalismo que é a adequação
entre demanda e oferta de emprego. […] O dilema se agrava porque a habitual
inadequação entre oferta e demanda torna-se ainda mais complicada em ambiente
competitivo. Este é intensivo de conhecimento, não de mão de obra.” (p. 138)
“Tornando-se o fato de que metade da população ativa se aloca no mercado informal, não
se poderia deixar de valorizá-lo como primeira chance a mão, em particular no que se
refere aos pequenos empreendimentos. O recurso ao mercado informal denota algum
desespero e algum atraso, mas, diante das restrições do mercado organizado, é mister
partir do que se tem.” (p. 139)
“Num país como o Brasil, os índices de desemprego são pouco reveladores, porque se
referem apenas ao mercado formal, e escondem a multidão que labuta em atividades
econômicas informais. Estas apresentam, via de regra, problemas muito mais graves em
termos de proteções legais e trabalhistas. Tradicionalmente, é imensa a proporção de
ocupados sem carteira assinada, o que significa também sem previdência.” (p. 140)
“As indústrias tradicionais são as que mais empregam, mas são também as que mais
correm risco de obsolescência, como é o caso típico da indústria têxtil. O emprego se
correlaciona, muitas vezes, com trabalhos que ainda detêm certa dose de artesanato, que
podem até primar pela qualidade, mas dificilmentepelos custos. O dilema está em
proteger tais indústrias por conta de seu significado social, mas, ao mesmo tempo,
condená-las à improdutividade.” (p. 141)
“Já no campo informal, é tradicional emprestar relevância aos pequenos
empreendimentos (sobretudo microempresas) que, dependendo de uma série de
circunstâncias favoráveis – matéria prima, domínio tecnológico, demanda comercial,
capacidade de concorrência, acesso a financiamento etc. –, podem alcançar grande
significado econômico e social. Obviamente, as empresas mais empregadoras são as
pequenas, e nisto já detêm interesse específico para uma política de interferência nas
relações de mercado.” (p. 142)
“Se é cada vez mais difícil garantir emprego para todos, será tanto mais difícil garanti-lo
para os desqualificados. A primeira consequência será o recurso ao mercado informal,
onde a revelia das leis e da lógica do mercado, tenta-se alguma saída. Usam-se formas
duvidosas de concorrência, como a dos camelôs que apelam para o contrabando e não
pagam imposto. lnventam-se e vendem-se produtos e serviços não confiáveis e não
necessários.” (p. 143)
“Será fundamental o planejamento estratégico das oportunidades de emprego no país
como um todo, prevendo, entre outras coisas: a) vocação econômica dos municípios […];
b) remanejamento da população […]; c) proteção rigorosa às metrópoles e cidades
grandes […]; d) induzir a formação de grandes polos produtores no interior do país […]; e)
rever a rigidez da legislação trabalhista que vive o sarcasmo de apadrinhar salário mínimo
insignificante e complicar por demais a contratação de mão-de-obra […]; f) forçar o capital
financeiro a que se aplique no sistema produtivo […]; g) incrementar o desenvolvimento
dos pequenos empreendimentos […].” (p. 144-145)
“Quanto às políticas públicas, a mais próxima da cidadania, reconhecidamente, é a
educação básica, desde que tenha qualidade necessária para formar competência. Nisto
baseia-se sua obrigatoriedade, bem como o cuidado em tomo do financiamento. O atraso
em que se encontra o país reflete, com crueza ostensiva, a condição de capitalismo
perverso, sobretudo no confronto entre poderio econômico e miséria reinante.” (p. 146)
“Para que tenha condições de plantar e sempre renovar a competência, são
imprescindíveis condições concretas favoráveis e articuladas, principalmente o bom
funcionamento do sistema e a qualidade dos professores. Em termos de qualidade, o
agente central é o professor, capaz de passar do mero ensino para autêntica formação,
propedeuticamente fundamentada, construtiva de conhecimento, dotada de qualidade
formal e política. Para tanto, o professor precisa ser capaz de elaboração própria,
pesquisar com autonomia, teorizar as práticas, atualizar-se permanentemente, produzir e
usar instrumentação eletrônica. […] É fundamental ultrapassar a mera ideologia, bem
como o mero tecnicismo cognitivo, unindo, num todo matricial, qualidade formal e
política.” (p. 147)
“Quanto à sociedade, o desafio maior está na capacidade de associação pluralista e
efetiva, abrindo caminho para o controle democrático do Estado e das elites. O problema
crucial é de qualidade da cidadania, já que participação é o cerne do conceito e da prática
da qualidade. Temos dois desafios maiores: a) de um lado, aprimorar ou mesmo rever a
situação de formas tradicionais de organização popular […]; b) de outro, incentivar o
associativismo, para ganhar dimensão coletiva cada vez mais competente […]. (p. 148)
“Democracia supõe precisamente este milagre: um governo que deseje ser controlado
democraticamente. O primeiro truque é conservar o controle intra muros. […] O segundo
truque é preservar as mazelas do sistema educacional, para que obstaculize ou se
retarde o máximo possível a formação da competência popular. […] O terceiro truque é o
envenenamento de espaços tradicionais da democracia participativa, como são os
partidos, os processos eleitorais, e mesmo sindicatos.” (p. 149)
“Concretamente, há duas formas de civilizar o mercado. Uma advém dele mesmo, desde
que funcione adequadamente. Quer dizer, precisamos de um mercado “decente” consigo
mesmo e não um que, a título de leis escusas, se impõe como único regulador da
economia e da sociedade, servindo as elites.” (p. 150)
“Educação e Conhecimento: Este binômio […] é o eixo da transformação produtiva com
equidade. Desempenha papel decisivo frente a cidadania e frente à competitividade.
Concentra a estrategia primordial do desenvolvimento humano sustentado. Embora
detenha visível laivo neoliberal, éo que tem levado a sociedade e a economia a condições
mais aceitáveis. A razão básica deste desempenho está na formação do sujeito histórico
competente, com qualidade formal e política. ” (p. 152-153)
“Emancipação e agressividade: Este tema dói, mas é fundamental tratá-lo com a devida
abertura. O êxito do capitalismo se deve em boa medida a capacidade de explorar a
agressividade humana, transformada em ganância. O capitalismo não inventou o lucro e a
exploração do homem pelo homem, mas levou isto ao paroxismo. Qualquer mercado, ao
produzir e trocar bens e serviços, tende a preferir relações discriminatórias por conta da
própria desigualdade social e estrutural, que faz parte, de toda e qualquer sociedade.” (p.
154-155)
“Com efeito, o processo emancipatório é inevitavelmente de confronto, a começar pela
consciência crítica contestatória, a busca de condução própria do destino, a formação de
projeto próprio de desenvolvimento, a ocupação de espaço próprio. […] Encobrir o
confronto ou fu gir dele, seria manter a ignorância e a subalternidade.” (p. 156)
“Para sobreviver no mercado perverso, é mister não levá-lo na brincadeira. Só vence,
quem luta. Não estamos criticando esta dialética natural, porque é simplesmente condição
histórica. […] Desempenho e avaliação do desempenho, pois, são inevitáveis e
necessários. Entretanto, como processo formativo, o saber pensar e o aprender a
aprender incluem a competência de conviver e construir o bem comum, acima do
egoísmo e da ganância. Sobre os escombros dos direitos alheios não se constrói nada”.
(p. 158)

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