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Hegel e a Filosofia da História na Modernidade. Henrique Borges de Oliveira n° USP: 11878873- Noturno A ciência como se conhece hoje estava em sua infância, era século 16, logo viriam os avanços trazidos por Newton, para a ciência da física. Galileu já havia provado que a física aristotélica era inadequada para dar conta dos movimentos dos corpos no nível terrestre. Faltava unificar o que se sabia sobre a mecânica, sobre o movimento dos corpos, embaixo da Lua e para lá da Lua (outros corpos celestes). Este trabalho só viria a ser feito com Newton: a unificação das teorias de Galileu e Kepler. Descartes, então, viu-se interessado em fundamentar esse conhecimento que estava nascendo. A esta tarefa que ele se dedica em ''Meditações''; para alguns, o ponta pé inicial da Filosofia Moderna. Descartes inaugura o movimento que se conhece hoje por Racionalismo, por meio da ideia de Fundacionismo, que seria uma posição filosófica segundo a qual é possível e desejável fundamentar o conhecimento em bases sólidas, através de axiomas. As influências de Descartes geram sucessivas análises, discípulos, ramificações teóricas, críticos etc; que de alguma forma estão ligados ao tema central “razão’’. O Iluminismo, por exemplo, retira bases deste filósofo e forma outros teóricos como Immanuel Kant, que, assim como o pensamento francês, esboçava confiança no progresso da razão humana. Através deste rápido panorama é possível identificar que desde a ascensão do Renascimento e do pensamento filosófico Moderno, há um corte de relações com o status quo Medieval, o interesse passa a ser antropocêntrico, a humanidade é elevada a objeto de estudo e análise; a epistemologia do pensamento humano é um dos temas centrais das discussões. Entretanto, a contribuição ao pensamento Moderno não se limita apenas a investigações epistemológicas; o século da filosofia ganhou diversos ares, incluindo a Filosofia da História, que é o estudo do processo histórico e os seus desdobramentos. E a este tema, que esta síntese em questão investirá todas as suas indústrias em investigar. A Filosofia da História busca explicar o processo histórico, o seu sentido e o seu desenvolvimento em âmbito universal. Ela pode ser classificada em duas vertentes, primeiro: a história sem significado, sem finalidade, vazia, apenas uma sucessão de fatos sem rumo; e segundo: o desenvolvimento histórico à partir de um propósito, geralmente de um desígnio metafísico. De acordo com a maioria das religiões, a história está a disposição de um criador, muitas vezes com um plano divino de remissão da humanidade. Desta forma, esta área do conhecimento está preocupada com os porquês, com os desdobramentos sucessivos de acumulação de conhecimento através do tempo, com os questionamentos básicos a respeito da história. Além disso, cabe pontuar que nem sempre a filosofia da história explica o enredo universal à partir de uma interpretação metafísica; há autores que se apoiam no conceito da historiografia como ciência, mais próxima das experiências sensoriais e de métodos-científicos, o fazer historiográfico; diferente de autores como Hegel, que atribuíam a história à causalidades transcendentais. Entretanto, Hegel continua a ser um dos filósofos mais importantes no que diz respeito à investigação das causas dos processos históricos. Em seu livro “Filosofia da História’’, ele defende uma posição finalista, na qual a história tem um sentido, que é o de elevar a liberdade humana; conforme afirma: “ a história não é outra coisa senão o progresso da consciência da liberdade’’ Segundo Hegel, a razão governa o mundo e é somente através dela que, efetivamente, ocorre uma emancipação humana, uma soberania do homem para pensar por si só. Essa liberdade chega ao seu estado final quando o mundo está racionalmente organizado, pois é a partir daí que os seres humanos se tornam livres para escolher agir segundo a sua própria razão. Essa idéia de mundo racional incentiva Hegel a investigar as sociedades históricas e analisá-las segundo os seus métodos. A Grécia antiga, por exemplo, é exposta como um conjunto de cidades-estado que reconheciam o princípio da individualidade livre, pois é ali, tal como, o berço da democracia, a idéia de cidadão etc. Entretanto, esta liberdade tinha limitações, estava longe de sua perfeição, por duas razões, primeiro: o trabalho escravo era o carro-chefe do funcionalismo econômico e político (direta e indiretamente), pois como pensava Aristóteles: “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas". Aristóteles (384-322), “Política”. Logo, segundo o autor, para que a democracia pudesse funcionar, era necessário um número significativo de escravos na base dessa pirâmide social. Segunda razão: os cidadãos gregos tinham um forte coletivismo enraizado em seus princípios, uma consciência social ampla, todavia, para Hegel, a consciência individual inexistia, os gregos estavam fortemente atrelados à cidade-estado, portanto não havia distinção entre os seus próprios interesses e os da comunidade. Suas liberdades se restringiam a puros costumes, e não a razão. Sócrates foi o pioneiro na proposta de reivindicar idéias de liberdade, e essa revolução filosófica o fez ser acusado de perverter a juventude, desta forma condenado a morte. Isto exemplifica que os gregos tinham consciência da liberdade, mas não a concretização dela. Hegel analisou, ainda, o mundo oriental, a Roma antiga, a Idade Média, e, por fim, o mundo Germânico, que para ele é o ápice da concretização da liberdade: a sociedade racionalmente organizada. E é neste ponto que se chega à modernidade, ao império da razão. O filósofo disserta que movimentos como: Renascimento, Reforma Protestante e a Revolução Francesa, possibilitaram que a consciência individual pudesse se tornar o juiz da verdade e do bem; e com essa nova visão: as leis da propriedade, a moralidade e o governo, deveriam se conformar às leis da razão. Entretanto, é importante pontuar que o pensamento racionalista-burguês de interpretação da história não foi por toda modernidade homogêneo; filósofos como Marx e Nietzsche se opuseram à filosofia que estava em crescente ascensão. Marx, através de obras como “O Capital”, contestou o domínio industrial-burguês sobre as massas operárias; já Nietzsche, em dissonância com as teorias mais centrais da filosofia da história, propôs em 1872, através de “O Nascimento da Tragédia”, uma vertente baseada nos impulsos apolíneos e dionisíaco, que seriam os constituintes da natureza, da cultura e a forma com a qual os homens, em diferentes momentos históricos, se comportam. Para ele, a modernidade havia perdido o instinto dionisíaco, o símbolo da humanidade que diz SIM à vida, o impulso da força instintiva e da embriaguez criativa; o equilíbrio que Nietzsche almejava estava afogado na moderação, na razão, na inflûencia apolínea. À partir dessas considerações, é possível enxergar os debates que orbitavam a modernidade; a pluralidade de idéias e o interesse em investigar a teleologia de uma história universal norteava o pensamento dos filósofos. E o pioneirismo disso tudo surge com a escatologia judaico-cristã, que atravessa o mediterrâneo e chega à Europa. Tão logo, a esperança de um fim da história com o juízo final é secularizada e transposta à realidade terrena. Para alguns movimentos (positivismo, iluminismo), o progresso, a ciência e a razão seriam as promessas de um mundo vindouro;para outros, revoluções no pensamento e nas classes sociais seriam os propulsores de uma história perfeita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ● Peter Singer: Hegel - Capítulo 2 (Oxford: Oxford University Press, 1983) ● *MÉSZÁROS, I. Para Além do Capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo/Campinas: Boitempo/Edunicamp, 2002. pp. 53-72. ● NIETZSCHE, F. O Nascimento da Tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. pp. 13-23. ● HABERMAS, J. O Discurso Filosófico da Modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000. pp. 24-33; 35-41; e 54-63 ● DESCARTES, R. “Meditações (primeira e segunda)”. In: DESCARTES, R. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. pp. 91-106
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