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CONTABILIDADE DE CUSTOS AULA 5 Prof. Ivanildo Viana Moura CONVERSA INICIAL Olá, aluno. Tudo bem? Essa é a nossa quinta aula de contabilidade de custos. Na aula de hoje, vamos conhecer os métodos de custeio, que são utilizados para a alocação dos custos de produtos. Para tanto, trabalharemos os seguintes tópicos: Sistema de Custeio Direto Sistema de Custeio por Absorção Sistema de Custeio Baseado em Atividades (ABC) Sistema de Custeio RKW Custos em entidades comerciais e prestadoras de serviços Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os exercícios. Lembre-se, a melhor maneira de aprender é praticando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Conforme vimos nas aulas anteriores, a apropriação dos custos aos produtos é um fator de maior complexidade nas empresas, visto o problema da subjetividade que existe em decorrência da arbitrariedade. Por conta disso, existem os métodos de custeio que visam diminuir essa subjetividade, cada um com suas formas de alocação diferenciadas, mas que possuem como ponto em comum a tentativa de diminuição da subjetividade. Mas afinal, o que são métodos de custeio? Para entender o assunto, vamos primeiro entender o que é custear. Nas palavras de Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 151): Custear significa “acumular, determinar custos”. Custeio ou custeamento são métodos de apuração de custos, maneiras segundo as quais procedimentos a acumulação e a apuração dos custos. A aplicação desses sistemas deverá ser coerente com o tipo de empresa, as características de suas atividades, suas necessidades gerenciais e, evidentemente, o custo benefício resultante do sistema adotado. Complementarmente, Padoveze (2010, p. 351), contextualiza: “custeamento do produto é o processo de identificar o custo unitário de um produto ou serviço ou de todos os produtos e serviços de uma empresa, partindo do total de custos diretos e indiretos”. Esses métodos surgiram com o intuito de ajudar nos processos, principalmente na mensuração dos fatores de produção e na avaliação dos estoques. Conforme Souza e Clemente (2011, p. 56) “os sistemas de custeio continuam orientados pelos mesmos objetivos que lhes deram origem: mensurar custos de produtos, avaliar estoques e avaliar resultados operacionais”. Agora que já sabemos o que são os métodos de custeio, é hora de começarmos a entender o funcionamento de cada um deles, e descobrir as suas especificidades e utilidades no contexto empresarial. TEMA 1 – SISTEMA DE CUSTEIO DIRETO O sistema de custeio direto é assim chamado pelo fato de tomar dos produtos somente os custos diretamente relacionados a eles, ou seja, somente os gastos classificados como custos diretos de produção. Nesse sentido, considerando as características dos custos diretos, que podem ser diretamente associados às unidades produzidas, entre os principais itens podemos citar matéria-prima, embalagens e mão de obra direta. Portanto, os custos diretos também variam de acordo com a produção. Por esse motivo, o custeio direto é também conhecido como custeio variável. Stark (2007, p. 167) afirma que “por esse critério, então, apenas entrarão na composição do custo aqueles componentes relacionados exclusivamente quando e enquanto a empresa estiver em atividade, isto é, os custos variáveis”. Assim, considerando que os custos são gastos que se dividem em fixos e variáveis quanto ao volume de produção, Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 117) apresentam a distinção entre gastos variáveis e gastos fixos: O termo gastos variáveis designa os custos que, em valor absoluto, são proporcionais ao volume da produção, isto é, oscilam na razão direta dos aumentos ou reduções das quantidades produzidas. O termo gastos fixos designa os custos que, em valor absoluto, são estáveis, isto é, não sofrem oscilações proporcionais ao volume da produção, dentro de certos limites. Conforme a definição supracitada, embora ambos os gastos sejam classificados como custos, o comportamento deles em referência à produção faz com que sejam tratados de forma diferente quando da apropriação pelo critério do custeio variável. Mas se ambos são custos, qual é a lógica de apropriação desse critério? Stark (2007, p. 166) contextualiza que “os custos fixos são considerados como não tendo origem na atividade produtiva em si, mas sim como elementos alheios à produção cuja existência permanece até mesmo em períodos de ausência de atividades”. Corroborando o autor supracitado, Megliorini (2011) explica que um dos motivos que contribuem para que os custos fixos não sejam apropriados aos produtos é o fato de eles serem decorrentes de recursos necessários para manter a estrutura da produção, não sendo decorrentes de recursos consumidos por produtos em fabricação. Vejamos o que estabelecem Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 117): A defesa do custeio variável repousa nos seguintes argumentos principais: Os custos fixos, por sua própria natureza, existem independentemente da fabricação ou não de determinado produto ou do aumento ou redução (dentro de certa faixa) da quantidade produzida. Os custos fixos podem ser encarados como encargos necessários pra que a empresa tenha condições de produzir e não como encargo de um produto específico; por não estarem vinculados a nenhum produto específico ou a uma unidade de produção eles sempre são distribuídos aos produtos por meio de critérios de rateio, que contêm em maior ou menor grau, a arbitrariedade. Segundo o exposto, a justificativa para que o critério de custeio direto trate como custo de período somente os custos diretos é o fato de os custos indiretos estarem relacionados à estrutura produtiva – a empresa nestes incorre em tais gastos mesmo que não haja produção. Mas se os custos fixos não são tratados como custos, como são classificados? De acordo com Martins (2010), os custos fixos são separados e considerados como despesas do período; dessa forma, eles não são ativados pela composição dos custos de formação de estoques. Pelo contrário: são lançados diretamente contra o resultado. Para um melhor entendimento do funcionamento do método de custeio variável, apresentamos um esquema na Figura 1. Figura 1 - Esquema do Custeio Variável 1.1 Custeio Variável na Tomada de Decisão Conforme comentamos no Tema 5 da Aula 1, a contabilidade de custos é influenciada pela legislação, uma vez que suas práticas devem seguir as leis e as normas vigentes, pertinentes ao custeamento e à avaliação de estoques. Nesse sentido, um ponto importante a ser mencionado sobre o custeio variável é que ele não é aceito para fins fiscais. Conforme Leone (2006, p. 323) O critério do custeio variável não é aceito legalmente. As disposições legais que tratam da apuração dos custos de produtos e serviços são unânimes em impor o uso do critério do custeio por absorção [...] Dois de nossos mais importantes diplomas legais – a Lei das Sociedades por Ações e o Regulamento do Imposto de Renda – obrigam explicitamente as empresas a usar o custo por absorção, ainda que de forma parcial. Ainda conforme o assunto tratado no Tema 5 da Aula 1, a lei determina que sejam alocados aos produtos todos os custos incorridos no processo de fabricação (fixos, variáveis, diretos e indiretos), o que nos leva ao método de Custos Variáveis Produto A Produto B Produto C Estoque Custo dos Produtos Vendidos Resultado Fixos Despesas Vendas custeio por absorção, também conhecido como custeio integral. Trata-se do método aceito pela legislação fiscal do Brasil. Se há métodos não aceitos pela legislação, para que servem então? Conforme Bornia (2017, p. 35-36): podemos dizer que o custeio variável está relacionado principalmente com a utilização de custos para o apoio a decisões de curtoprazo, quando os custos variáveis tornam-se relevantes e os custos fixos, não. Podemos visualiza o modelo do custeio variável imaginando a empresa como se fosse uma máquina.Para essa máquina funcionar no período considerado, é necessário cobrir os custos fixos, independentemente do que for produzido [...]. As decisões da empresa estão relacionadas a quanto produzir de cada artigo de modo a tirar o máximo proveito da situação. Nesse caso, os únicos custos relevantes são os variáveis, pois os custos fixos independem da produção. Diante do exposto, o autor nos leva a um dos principais fundamentos do custeio variável, que é a questão de seu para a tomada de decisões. Perceba que um ponto primordial nas palavras do autor é a questão de que “é necessário cobrir os custos fixos, independentemente do que for produzido”. Assim, chegamos ao conceito de análise, Custo Volume Lucro (CVL), que tem origem no custeio variável. A CVL aborda alguns conceitos, sendo os principais: Margem de contribuição (MC) Ponto de equilíbrio (PE) O conceito de MC é utilizado como um dos principais instrumentos da tomada de decisão na análise CVL. A MC é caracterizada por Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 127) da seguinte forma: Do ponto de vista da análise da margem de contribuição, as despesas são classificadas como fixas ou variáveis. Os custos variáveis são deduzidos das vendas para obter a margem de contribuição. Os custos fixos são subtraídos da margem de contribuição para obter a renda líquida. Essa informação ajuda o gerente a (1) decidir se deve diminuir ou expandir uma linha de produção, (2) avaliar alternativas provenientes da produção, de propagandas especiais, etc., (3) decidir sobre estratégias de preço, serviços ou produtos e (4) avaliar o desempenho. Por exemplo, a análise da margem de contribuição indica como melhorar a utilização da capacidade da empresa, como formular o preço para uma concorrência e se deve aceitar um pedido mesmo que o preço de venda seja menor do que o preço menor. Por outro lado, temos também outro conceito importante, que é o ponto de equilíbrio, o qual é caracterizado por Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 129) da seguinte forma: Antes que seu negócio possa gerar lucro, devemos entender o conceito de equilíbrio. Para alcançar o equilíbrio nas linhas de produção e/ou serviço do departamento, deveremos calcular o volume de vendas necessário para cobrir os custos e como usar essa informação. Devemos também, entender como os custos reagem com as mudanças de volume. Não nos aprofundaremos nos conceitos de MC e PE; os trouxemos apenas para mostrar que o custeio variável é de suma importância no contexto gerencial, dado que fornece ferramentas adicionais que subsidiam a tomada de decisão dos gestores das empresas. Com base em tudo o que foi exposto, sabemos que o custeio direto somente apropria aos produtos os custos variáveis; você deve estar se perguntando: como é feita a apuração dos custos pelo método do custeio variável? De acordo com Crepaldi e Crepaldi (2018 p. 158), “nesse método, o custo unitário de produção do período será o custo total variável dividido pela quantidade produzida”. Assim, fica fácil calcular o custo do produto, pois não é necessário ratear os custos indiretos, uma vez que são tratados como despesas, bastando dividir o custo variável total pela quantidade de unidades produzidas para encontrar o custo unitário. Para entender melhor o cálculo, vamos trazer um exemplo. A Indústria OxLeather LTDA produz um único produto. Em determinado período, a contabilidade de custos forneceu as seguintes informações: Custo da matéria-prima: R$100,00 Custo da mão de obra direta por unidade: R$ 120,00 Custos indiretos totais: R$500.000,00 Quantidade produzida: 10.000 unidades Vamos fazer a apuração do custo unitário do produto por meio do custeio direto. Para a apuração do custo unitário do produto, basta somarmos os custos variáveis (diretos): Custo unitário = Custos diretos (variáveis) Custo unitário = R$100,00 + R$120,00 Custo unitário = R$220,00 Nesse caso, os custos indiretos seriam lançados contra o resultado (conforme esquema do custeio), não passando pelos estoques. Por conta disso, o custeio variável não é aceito pelo fisco brasileiro; está limitado unicamente para fins gerenciais. TEMA 2 – SISTEMA DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO Conforme vimos na Aula 1, a contabilidade de custos encontra-se na interseção da financeira com a gerencial, devendo em certo momento se preocupar com as imposições legais da contabilidade financeira, e em outros momentos atender a demanda de informações requeridas pela contabilidade gerencial para subsidiar a tomada de decisão. Nesse sentido, chegamos no ponto em que a contabilidade de custos deve atender à contabilidade financeira no que tange ao fornecimento de informações sobre a apropriação dos custos aos produtos, tendo como principal objetivo o atendimento ao fisco, no que se refere às normas impostas à formação dos estoques. Diante desse aspecto, como vimos anteriormente, o custeio variável não é permitido para fins fiscais, apenas para fins gerenciais, pois é a legislação que determina qual método a contabilidade deve utilizar para a apuração dos custos no processo produtivo. 2.1 O Método de Custeio Imposto pelo Fisco Conforme estudamos na Aula 1, a contabilidade de custos, como uma ramificação da contabilidade, também sofre influências da legislação. Um dos pontos abordados pelo fisco no que tange às práticas contábeis é a forma de custeio que as empresas devem utilizar para apuração dos custos. Ela é descrita pelo Decreto n. 3.000 (Brasil, 1999): Art. 290. O custo de produção dos bens ou serviços vendidos compreenderá, obrigatoriamente (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 13, § 1º): I - o custo de aquisição de matérias-primas e quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção, observado o disposto no artigo anterior; II - o custo do pessoal aplicado na produção, inclusive de supervisão direta, manutenção e guarda das instalações de produção; III - os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de depreciação dos bens aplicados na produção; IV - os encargos de amortização diretamente relacionados com a produção; V - os encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção. Conforme o artigo supracitado, a lei determina que sejam alocados aos produtos todos os custos incorridos no processo de fabricação (fixos, variáveis, diretos e indiretos). Embora não encontremos na referida lei o nome propriamente dito do método de custeio a ser utilizado, se fizermos analogia, chegaremos à conclusão de que as exigências legais para a apuração dos custos nos remetem às características do sistema de custeio conhecido como absorção. Lembramos que a contabilidade de custos está na fronteira entre financeira e gerencial, sendo aquela a principal área que fornece informações para usuários externos. Nesse sentido, tem-se o fisco como um dos principais usuários dessa informação. Ressalta-se que a contabilidade de custos deve fornecer informações que sejam aceitas pela contabilidade financeira. Isso posto, o método de custeio por absorção atende aos requisitos da legislação e, por esse motivo, também é aceito pela contabilidade financeira. Nessa perspectiva, Dubois, Kupa e Souza (2009, pág. 128) contextualizam o custeio por absorção: Este é o único método de custeio aceito pela Contabilidade Financeira que atende aos princípios contábeis. De fato, o custeio por absorção, que alguns denominam de “custeio integral”, indica que cada unidade produzida “absorveu” todos os gastos necessários para obtê-la, sejam diretos, isto é, próprios do produto, ou indiretos, que são aqueles que auxiliam a produção. Complementarmente, Bruni (2010, p. 48) defende seu ponto de vista em relação aométodo que atende a legislação fiscal brasileira: A contabilidade de custos, analisada sob a ótica da contabilidade financeira, preocupa-se com o registro formal e legal das informações sobre os custos. Neste processo, caracteriza-se pelo uso do método de custeio por absorção, que estabelece que todos os gastos produtivos, inclusive os indiretos, devem ser incorporados ao valor dos estoques. No contexto dado pelos autores supracitados, percebe-se que apontam como característica o fato de esse método absorver todos os custos incorridos no processo produtivo, diferentemente do custeio integral. Por essa lógica, é essa a característica que nos leva, por analogia, ao custeio por absorção, ao verificarmos o contexto dado pela lei em suas exigências no que tange à apropriação dos custos aos produtos. Dessa forma, é importante conhecer um pouco mais sobre as características do custeio por absorção. 2.2 O Custeio por Absorção (Integral) A lei determina que todos os gastos produtivos (custos) incorridos no processo sejam alocados aos produtos. Conforme contexto anterior, o método de custeio que possibilita essa alocação é o custeio por absorção, também conhecido como custeio integral. Esse método possibilita que todos os gastos produtivos sejam alocados aos produtos; “dessa forma, o custo de cada unidade produzida é composto pelos custos variáveis da produção, acrescidos de uma parcela referente aos custos fixos atribuídos ao setor ou ao período em que ocorra a produção” (Stark, 2007, p. 158). Desse modo, os produtos fabricados “absorvem” todos os custos incorridos de um período. (Megliorini, 2012, p. 26) Nota-se que, ao fazermos a classificação dos gastos em custos e despesas, estamos direcionando esses valores para o contexto que os geraram, visto que custos fazem parte do processo produtivo, independentemente da sua classificação, ao passo que as despesas fazem parte das atividades de apoio. Independentemente da classificação dos custos, sabemos que, se eles existem, é porque os insumos que os geraram foram necessários no processo produtivo, sem os quais não seria possível fabricar o produto. Nessa perspectiva, nada mais justo que os produtos receberem a carga dos custos. Diante desse aspecto, é natural que haja consenso de que o custeio por absorção, por fazer a apropriação de todos os custos aos produtos, seja o mais adotado, justamente por suas características de apropriação integral. Nesse sentido, para Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 129): O custeio por absorção é o método de custeio mais usado em quase todo o mundo, pois incorpora todos os tipos de custos aos produtos, possibilitando a extração do custo unitário de cada um deles. Além disso, com base no custo total, é possível a formação do preço de venda de cada produto a partir do seu custo, que servirá de referência para a atuação no mercado. Por ser um método voltado para atender o fisco, diferentemente do custeio por variável, a absorção é o mais indicado para a parte de contabilização dos estoques do que para o fornecimento de informações que subsidiem o processo de tomada de decisão. De acordo com Padoveze (2010), esse método é usado mais em razão dos critérios de avaliação dos inventários do que para gerar informações com vistas a atender as necessidades gerenciais da empresa. No mesmo sentido, Bornia (2010) afirma que esse método tem mais relação com a avaliação dos estoques no sentido de atender a contabilidade financeira, tendo como principal objetivo gerar informações para os usuários externos. De um modo geral, Padoveze (2006, p. 175) aponta as principais características do custeio por absorção. Segundo o autor, esse método se caracteriza por: utilizar os custos diretos industriais; utilizar os custos indiretos industriais, por meio de critérios de apropriação ou rateio; não utilizar os gastos administrativos; não utilizar os gastos comerciais, sejam diretos ou indiretos; o somatório do custo dos produtos e serviços vendidos no período dá origem à rubrica custo dos produtos e serviços, na demonstração de resultados do período; o somatório do custo dos produtos e serviços ainda não vendidos dá origem ao valor dos estoques industriais no balanço patrimonial do fim do período (estoques em processo e estoque de produtos acabados). Para um melhor entendimento do funcionamento do método de custeio por absorção, apresentamos o esquema na Figura 2. Figura 2 – Custeio por Absorção Fonte: Elaborado com base em Martins, 2010, p. 57. Custos Indiretos Diretos Rateio Despesas Vendas Produto A Produto B Produto C Estoque Custo dos Produtos Vendidos Resultado Você deve estar pensando: “eu já vi esse esquema antes”. Sim, esse é o mesmo esquema mostrado no Tema 4 da Aula 1. Trata-se do Esquema Básico da Contabilidade de Custos. Conforme mencionamos na referida aula, esse esquema é baseado na apropriação pelo custeio por absorção. O esquema mostra como os custos são classificados e a forma como são distribuídos aos produtos. Perceba que, diferentemente do custeio direto, aqui os custos indiretos são alocados aos produtos, e não tratados como despesas para depois serem lançados diretamente contra o resultado. Contextualizando sobre o funcionamento do método, Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 152) afirmam: A separação entre custo e despesa é essencial, porque nesse caso as despesas vão diretamente contra o resultado do período, enquanto os custos dos produtos não vendidos vão para o estoque. A finalidade desse critério é ter o custo total (direto e indireto) de cada objeto produzido. Não há preocupação em classificar os custos em fixos e variáveis; classificam-se os custos em diretos e indiretos. Os resultados apresentados não sofrem influência direta do volume de produção e esse é um critério legal e fiscal externo. O cálculo do custeio por absorção envolve todos os custos, fixos e variáveis (os fixos e variáveis são classificados em diretos e indiretos). Os diretos são alocados diretamente aos produtos enquanto os indiretos são apropriados por meio de uma base de rateio. Vejamos um exemplo. A Indústria OxLeather LTDA produz um único produto. Num determinado período, a contabilidade de custos apurou as seguintes informações: Custo da matéria-prima: R$100,00 Custo da mão de obra direta por unidade: R$ 120,00 Custos indiretos totais: R$500.000,00 Quantidade produzida: 10.000 unidades Vamos fazer a apuração do custo unitário do produto por meio do custeio por absorção. Como a indústria fabrica um único produto, fica fácil fazer o cálculo. Primeiro, como estamos querendo apurar o custo unitário, vamos dividir o custo indireto total pela quantidade produzida: Custo indireto unitário = Custo indireto total / Total de unidades produzidas Custo indireto unitário = R$500.000,00 / 10.000 Custo indireto unitário = R$50,00 Agora, vamos somar os custos, lembrando que o método considera todos os custos incorridos: Custo total unitário = Custo direto unitário + custo indireto unitário Custo total unitário = R$100,00 + R$120,00 + R$50,00 Custo total unitário = R$270,00 Percebeu a diferença do custeio por absorção para o custeio direto? Pelo custeio direto, o produto é considerado como tendo um custo de R$220,00, pois os custos fixos (indiretos) são considerados como despesas do período, não sendo ativados, pois são lançados diretamente contra o resultado. Por sua vez, o custeio por absorção considera todos os custos; dessa forma, os indiretos também são apropriados aos produtos, fazendo com que haja uma diferença entre os valores apurados pelos dois métodos. Aqui apresentamos um exemplo simples do custeio por absorção, visto que já vimos a sua metodologia de forma mais detalhada quando trabalhamos com departamentalização. Caso você queira rever o cálculo,volte na Aula 4 e reveja o exercício. TEMA 3 – SISTEMA DE CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES (ABC) Como temos visto desde a Aula 1, um dos principais problemas encontrados em contabilidade de custos é a questão da alocação dos custos indiretos aos produtos, visto que essa alocação é feita de forma arbitrária, o que ocasiona em subjetividade na distribuição dos gastos. Com a evolução tecnológica, o problema só aumenta, visto que os sistemas de produção tornam- se cada vez mais complexos, aumentando a proporção de arbitrariedade atribuída na alocação dos custos indiretos ao objeto de custeio, o que torna os métodos de custeio cada vez menos eficientes. Sobre esse aspecto, Souza e Clemente (2011, p. 225) afirmam: As novas tecnologias de produção e de gestão alteraram substancialmente a estrutura de custo dos produtos e se refletiram em aumento generalizado dos custos indiretos de fabricação – CIFs a ponto de, atualmente, esses custos serem os mais representativos para boa parte da indústria. Como consequência, os métodos tradicionais de alocação dos CIFs – horas-MOD e horas-máquina – se revelam inadequados para mensurar a quantidade de recursos efetivamente consumidos pelos produtos Diante disso, novas técnicas vêm sendo desenvolvidas e implementadas na esperança de diminuir a questão da subjetividade. Nesse contexto, um conceito que vem ganhando destaque devido a suas características e técnicas avançadas de alocação de custos é o de Custeio Baseado em Atividades. De acordo com Martins (2010, p. 87) “o Custeio Baseado em Atividades, conhecido como ABC (ActivityBasedCosting), é uma metodologia de custeio que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos”. A metodologia desse método de custeio trata os custos de forma diferente dos outros métodos vistos até o momento. Nela, não são os produtos que efetivamente consomem os recursos, e sim as atividades. Nesse sentido, Souza e Clemente (2011) afirmam que o ABC entende o negócio como um conjunto de processos, cada um dos quais envolvendo uma série de atividades. Segundo os autores, o objeto de custeio, na visão do ABC, deixa de ser o produto e passa a ser a atividade, pois são elas que consomem os recursos. Diante desse aspecto, os autores afirmam que a informação de custos é desagregada por atividade. Mas o que seria desagregar informações por atividade? Bornia (2017, p. 112) explica que os procedimentos do ABC consistem em seccionar a empresa em atividades, supondo-se que as mesmas gerarão os custos, calcular os custos de cada atividade, compreender o comportamento dessas atividades, identificando as causas dos custos relacionados com elas e, em seguida, alocar os custos aos produtos de acordo com as intensidades de uso. Conforme exposto pelo autor, desagregar as informações seria fazer o apontamento dos custos gerados por cada atividade do processo produtivo, uma vez que o método ABC considera que essas atividades são consumidoras de recursos e, consequentemente, geradoras de custos. De uma forma geral, o conceito de departamentalização nos trouxe uma visão de atividade, mas não mostrou de forma exata como seria uma atividade no contexto de um processo produtivo. Isto posto, Maher (2001, p. 280) conceitua atividade como “uma tarefa discreta que uma organização realiza para fabricar ou entregar um produto ou serviço”. Por essa lógica, os produtos precisam passar por diversas atividades antes de serem fabricados, e o objeto de custeio passa a ser, num primeiro momento, a atividade, que recebe as cargas de custos por consumir os recursos utilizados no processo. Posteriormente, esses gastos devem ser alocados aos produtos. A Figura 3 demonstra graficamente o funcionamento do ABC. Figura 3 – O ABC Fonte: Bornia, 2017, p. 112. De acordo com Bornia (2017), podemos fixar quatro fases para o cálculo dos custos de produtos pelo ABC: 1. Mapeamento das atividades 2. Distribuição dos custos às atividades 3. Distribuição dos custos das atividades indiretas até as diretas 4. Distribuição dos custos dos produtos Vamos entender o que é cada uma dessas fases para entender o funcionamento do ABC. Primeiramente, temos o mapeamento das atividades. Nessa primeira fase, são identificadas as atividades que compõem cada um dos processos. O detalhamento do mapeamento das atividades é de importância crucial ao processo, além de ser uma das etapas mais complexas na implementação do ABC. Afinal, é com base no detalhamento e conhecimento que se dará o controle dos fatores que geram custos, pois aqui conhecemos o caminho que esses gastos traçam até que sejam alocados aos produtos. Segue-se para a distribuição dos custos às atividades. Nessa segunda etapa, tem-se uma semelhança do ABC com a departamentalização, visto que a distribuição dos custos indiretos às atividades deve ser realizada por meio do critério que se acredita representar a forma mais justa de alocação, com base na forma como os recursos foram consumidos em cada atividade. Dessa forma, a empresa estabelece um critério de rateio que deverá ser utilizado como base na alocação. Depois, há a distribuição dos custos das atividades indiretas até as diretas. Quando se fala em atividades indiretas, refere-se àquelas atividades que não estão diretamente ligadas à fabricação dos produtos, mas que servem Produtos Atividades Recursos Consomem Usam (a)Lógica de funcionamento. Custos Atividades Produtos Custeio do processo Custeio dos produtos (b)Modelo de apoio às atividades diretas – que são de fato aquelas que têm ligação com o processo de fabricação. Nesse sentido, o ABC considera que as atividades indiretas, por servirem de apoio às diretas, devem ter seus custos distribuídos primeiramente a elas, para depois serem alocados aos produtos. Por fim, temos a distribuição dos custos dos produtos. Quando chegamos à última fase do ABC, estamos falando da distribuição dos custos das atividades diretas aos produtos. Nessa fase, temos um conceito muito utilizado, o qual possibilita a distribuição dos custos aos produtos; são os chamados direcionadores de custos. Os direcionadores de custos são formas de controle utilizadas pela empresa para determinar os custos das atividades. Nesse sentido, cada atividade deve possuir algum direcionador que possibilite saber exatamente quanto cada produto consumiu do total dos custos incorridos na sua execução. Como exemplos de direcionadores, podemos citar as ordens de serviços, requisições e faturas. Agora que já sabemos como funciona o método, vamos à um exemplo prático que mostra cada uma das etapas apresentadas. Exemplo Uma empresa compra matéria-prima a R$ 0,10 por kg e a processa, gerando quatro produtos finais: produto A e produto B, em embalagem de 1 kg e 5 kg cada. A estrutura organizacional da empresa é composta por: Administração de pessoal, administração da produção, Manutenção, Processamento, Embalagem, Preparação de equipamentos e Vendas. As atividades de Administração de pessoal são voltadas principalmente para o gerenciamento de pessoal. O trabalho da Administração da produção consiste prioritariamente no planejamento da produção, sendo que, a cada lote produzido, é tirada uma ordem de produção (o esforço para a emissão das ordens independe do tamanho do lote e do tipo de produto). A Atividade de Manutenção está relacionada com o funcionamento dos equipamentos de processamento e embalagem. O processamento é efetuado através de equipamento automatizado, que processa até 1.000 kg de matéria-prima por dia, gerando os produtos A e B com o mesmo esforço. A Embalagem é feita por meio de equipamento automatizado, sendo que o esforço despendido para embalar uma unidade independe do preço da mesma. A Preparação de equipamentos é efetuada uma vez a cada lote produzido. Vendas preocupa-se em faturar ospedidos e o esforço para a emissão de cada fatura é praticamente constante. Os custos de matéria-prima nos últimos seis meses totalizaram R$ 16.000,00. Fonte: Bornia, 2010, p. 128, grifos do original. Dado o enunciado, temos algumas informações adicionais nas tabelas abaixo. Tabela 1 – Produção Tabela 2 – Número de funcionários por atividade Adm. Prod. Manutenção Processam. Embalagem Vendas Total Nº func. 1 2 3 3 2 11 Tempo man (h) 600 400 1.000 Tabela 3 – Distribuição Adm. Pess. Adm. Prod. Manutenção Processam. Embalagem Prep. Equi. Vendas R$1.500,00 R$960,00 R$1.640,00 R$2.500,00 R$1.800,00 R$1.800,00 R$3.300,00 Além disso, sabe-se que, nesse período, foram emitidas 200 faturas para o produto A1, 200 para A5, 200 para B1 e 200 para B5. A produção deu-se em lotes de 500 kg para o produto A1, 800 kg para A5, 100 kg para B1 e 200 kg para B5. Tabela 4 – Dados finais Adm. Prod. Man. Proc. Emb. Vendas Total Nº func. 1 2 3 3 2 11 Tempo man (h) 600 400 1.000 Com base nas informações, pede-se: a) Efetue a distribuição dos custos de Administração de Pessoal para as outras atividades. Considere que 10% do tempo dos funcionários lotados no processamento e na embalagem seja dedicado à preparação de equipamento. Tabela 5 – Resolução a b) Efetue a distribuição dos custos de Manutenção para as outras atividades. Considere que 10% do tempo dos funcionários lotados no processamento e na embalagem seja comprometido com a preparação de equipamento. TOTAL MP (KG) 50.000 80.000 10.000 20.000 160.000 CUSTO MP/PROD. R$ 5.000,00 R$ 8.000,00 R$ 1.000,00 R$ 2.000,00 R$16.000,00 PRODUÇÃO DO PERÍODO A1 A5 B1 B5 TOTAL PRODUÇÃO (UN) 50.000 16.000 10.000 4.000 80.000 1.096,36R$ 1.912,73R$ 2.868,18R$ 2.168,18R$ 1.881,82R$ 3.572,73R$ 136,36R$ 272,73R$ 368,18R$ 368,18R$ 81,82R$ 272,73R$ 1.500,00R$ 13.500,00R$ 1.500,00R$ 960,00R$ 1.640,00R$ 2.500,00R$ 1.800,00R$ 1.800,00R$ Adm. Pess. Adm. Prod. Manutenção Processam. Embalagem Prep. Equi. Vendas Total 3.300,00R$ 13.500,00R$ Tabela 6 – Resolução b c) Efetue a distribuição dos custos de Administração da Produção, Processamento, Embalagem, Preparação de Equipamentos e Vendas para os produtos. Tabela 7 – Resolução c d) Calcule os custos unitários dos produtos. Tabela 8 – Resolução d Findo o exercício, você deve ter percebido a riqueza de detalhes que a implantação do ABC exige, haja vista que as fases para a sua realização demandam muito trabalho. Além disso, as informações devem ser segregadas ao máximo, para que esse método de custeio alcance o seu principal objetivo, que é minimizar a subjetividade da alocação dos custos indiretos em um nível que os outros métodos não conseguem alcançar. TEMA 4 – SISTEMA DE CUSTEIO RKW Os métodos tradicionais de sistemas de custeio têm como principal objetivo a alocação dos custos indiretos aos produtos, visando diminuir a subjetividade. Por esses métodos, um dos principais pontos a serem considerados é a separação entre custos e despesas, visando principalmente a alocação aos produtos somente dos fatores que estão relacionados com a produção (custos), e lançando contra o resultado aqueles que não têm relação TOTAL 3.901,05R$ 2.856,76R$ 2.073,09R$ 8.830,91R$ 1.912,73R$ 2.868,18R$ 2.168,18R$ 1.881,82R$ 8.830,91R$ 1.032,87R$ 688,58R$ 191,27R$ 1.912,73R$ MANUTENÇÃO PROCESSAMENTO EMBALAGEM PREP. EQUIPAM. TOTAL R$ 0,10 C. UN. R$ 2,74 R$ 0,02 R$ 0,04 R$ 5,18 R$ 4,47 TOTAL MP 400 160000 80000 400 800 160000 DIRECIO. LOTES PROD. MP UTILIZ. UN PROD. LOTES PROD. FATURAS MP CUSTO R$ 1.096,36 R$ 3.901,05 R$ 2.856,76 R$ 2.073,09 R$ 3.572,73 R$ 16.000,00 ADM PROD PROCES. EMBAL. PREP EQU VENDAS 0,1000R$ 0,33R$ B5 0,0685R$ 0,1219R$ 0,0357R$ 0,1296R$ 0,2233R$ 0,5000R$ 1,08R$ B1 0,0274R$ 0,0244R$ 0,0357R$ 0,0518R$ 0,0893R$ 0,1000R$ 0,19R$ A5 0,0171R$ 0,1219R$ 0,0357R$ 0,0324R$ 0,0558R$ 0,5000R$ 0,76R$ A1 0,0055R$ 0,0244R$ 0,0357R$ 0,0104R$ 0,0179R$ PROD. ADM PROD PROCES. EMBAL. PREP EQU VENDAS MP Custo unitário direta com a produção, mas que a empresa incorre com o objetivo de gerar receitas (despesas). No entanto, existe um método de custeio cujo objetivo principal não é a alocação dos custos indiretos, mas sim a formação do preço de venda. Esse método é chamado de RKW, abreviação de Reichskuratoriun fur Wirtschaftlichtkeit. De acordo com Martins (2010, p. 220) “trata-se de uma técnica disseminada originalmente na Alemanha [...], que consiste no rateio não só dos custos de produção como também de todas as despesas da empresa, inclusive financeiras, a todos os produtos”. Por essa característica de alocar todos os gastos aos produtos, o RKW também é conhecido como “Custeio Pleno”, pois o seu produto passa a ser o custo pleno, o qual se forma a partir de custos e despesas alocados às unidades produzidas. Nesse sentido, Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 237) afirmam que O método de custeio RKW apropria ao objeto de custeio todos os custos e despesas de uma entidade. O método de custeio integral é sinônimo do método de custeio pleno e é aquele em que todas as despesas e custos de uma organização são levados em conta. A lógica por trás do RKW é que o preço de venda deve cobrir tanto os custos quanto as despesas, mesmo que elas não estejam diretamente relacionadas com os processos de fabricação. Por esse motivo, devem ser tratadas como um custo e alocadas a todos os produtos. Conforme exposto por Martins (2010), esse método nasceu no início do século XX na Alemanha, e tinha como fundamento o uso de custos para fixar preços. Com a sua forma de rateio, chega-se ao custo de produzir e vender, incluindo administrar e financiar. No contexto do autor, chamamos a atenção para o uso dos termos produzir e vender, administrar e financiar. O primeiro termo, produzir, nos remete aos fatores utilizados na produção, conforme vimos em todos os métodos de custeio estudados anteriormente, os quais apresentam os sistemas de custeio com o principal objetivo de distribuição dos custos aos produtos – especialmente os indiretos, os quais devem ser alocados por meio de uma base de rateio. O segundo termo, vender, nos remete às despesas relacionadas à área de vendas da empresa, as chamadas despesas comerciais. Por exemplo: salários dos vendedores, comissão dos vendedores e fretes na venda do produto. O termo administrar também está relacionado a despesas, mais precisamente às administrativas, que são aquelas despesas relacionadas com as áreas administrativas da empresa e que envolvem todo o setor administrativo. Como exemplos, temos salários da administração, depreciação dos equipamentos da área administrativa e salários da diretoria. Por fim, temos o termo financiar, que nos leva às despesas financeiras, que são aquelas incorridas sobre a captação de recursos de terceiros, ou mesmo sobre negociações da empresa com seus fornecedores. Como exemplo, temos juros sobre empréstimos, juros sobre financiamentos, encargos financeiros sobre compras a prazo e juros por atraso no pagamento de fornecedores. Perceba que, pelo RKW, todos os gastos, independentemente de sua classificação, sãoalocados aos produtos. As despesas, que pelos sistemas de custeamento normais são lançadas contra o resultado, por esse método são rateadas aos produtos, assim como os custos. Pelas características de alocação de despesas, o RKW não é aceito pelo fisco brasileiro. Embora ele englobe todos os custos incorridos no processo conforme determina a legislação, ele deixa de atender o fisco ao incorporar também as despesas aos produtos. Nesse sentido, Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 238) contextualizam: O RKW também não é aceito para avaliação dos estoques por incluir gastos que não são vinculados ao processo de fabricação. É uma variação do custeio por absorção, que aloca tanto os custos quanto as despesas aos produtos. Este método pode ser usado quando a empresa quer a informação de custo pleno dos produtos. É recomendado para decisões de preços e pode ser empregado sem departamentalização ou com departamentalização, da mesma forma que o custeio por absorção. Por conta disso, esse método serve unicamente a fins gerenciais, sendo especialmente utilizado no monitoramento da eficiência dos processos fabris e na avaliação da rentabilidade desses processos, bem como na formação do preço de venda. TEMA 5 – CUSTOS EM ENTIDADES COMERCIAIS E PRESTADORAS DE SERVIÇOS Sabemos que, em contabilidade de custos, as empresas podem ser classificadas em Indústria, Comércio e Serviços. Até o momento, demos uma atenção especial aos custos industriais, devido ao fato de que eles são os custos mais difíceis de serem tratados. É notável que as indústrias são as atividades que mais incorrem em custos indiretos, pois os processos de fabricação são complexos e os fatores utilizados fazem com que a incidência dos gastos seja muito maior que nas outras atividades. Neste tema, vamos estudar um pouco os custos nas atividades comerciais e de serviços, e entender os principais pontos para a apuração de gastos nesses ramos. 5.1 Custos nas Empresas Comerciais Conforme conceituação desenvolvida na Aula 1, “o Custo também é um gasto, só que reconhecido como tal, isto é, como custo, no momento da utilização de fatores de produção (bens e serviços), para a fabricação de um produto ou execução de um serviço” (Martins, 2010, p. 25). Nesse sentido, tem- se o conceito de custos no contexto da indústria e dos serviços; mas fica a dúvida: como reconhecer um custo na área comercial? Bom, para responder essa pergunta, primeiro é preciso entender as diferenças existentes entre as áreas, para saber como elas incorrem nesses gastos em seus diferentes processos. Isto posto, vejamos o que define Megliorini (2011, p. 219): As empresas comerciais diferenciam-se das industriais pelo fato de comprarem as mercadorias já prontas de seus fornecedores e revende- las também prontas, caracterizando-se como intermediárias, sem ampliar nem modificar sua utilidade, ao passo que as empresas industriais adquirem matérias primas e modificam sua utilidade após realizar nelas determinadas operações caracterizando-se como transformadoras. O tratamento dado aos fatores de produção já foi estudado anteriormente; agora, vejamos como as empresas comerciais devem reconhecer os seus custos, visto que, conforme mencionado pelo autor supracitado, elas caracterizam-se como intermediárias entre as indústrias e os consumidores finais. Nesse sentido, a empresa não tem custos de transformação, que representam a maior fatia nas empresas industriais. Uma vez que elas somente revendem mercadorias, os custos imputados estão relacionados a outros fatores, tais como destaca Megliorini (2011, p. 220): Na empresa comercial, o custo está relacionado às mercadorias revendidas. Sua determinação obedece os mesmos cálculos utilizados para o custo da matéria prima na empresa industrial [...] com uma diferença relativa ao IPI, que, destacado na nota fiscal de venda das empresas industriais, é considerado agregado ao valor da mercadoria na empresa comercial, consistindo, portanto, seu custo. De um modo geral, os custos das mercadorias compreende todos os gastos com a aquisição, deduzidos os tributos passíveis de recuperação [...]. Uma vez que os estoques das empresas comerciais dizem respeito basicamente a mercadorias prontas, seu custo é basicamente o de aquisição. Nesse sentido, o CPC 16 (2009) dá o direcionamento da apuração dos custos: O custo de aquisição dos estoques compreende o preço de compra, os impostos de importação e outros tributos (exceto os recuperáveis junto ao fisco), bem como os custos de transporte, seguro, manuseio e outros diretamente atribuíveis à aquisição de produtos acabados, materiais e serviços. Descontos comerciais, abatimentos e outros itens semelhantes devem ser deduzidos na determinação do custo de aquisição. Observa-se, portanto, que, os gastos a serem considerados como custos nas empresas comerciais são, em alguns aspectos, os mesmos das industriais, mas tendem a ser divergentes em alguns pontos, tais como impostos que não são passíveis de recuperação, dentre outros pontos omissos no CPC, mas que são encontrados na literatura pertinente. 5.2 Custos nas Empresas prestadoras de serviços Para as empresas prestadoras de serviços, temos também alguns pontos em comum com as indústrias, visto que esse tipo de atividade se aproxima muito da industrial, uma vez que os serviços são o “produto” dessas empresas, o qual é realizado com base em alguns fatores que compõem os custos industriais. Nesse sentido, Megliorini (2011, p. 222) contextualiza: No mercado encontramos diferentes tipos de serviços oferecidos [...]. Embora cada tipo apresente suas particularidades, a apuração dos custos nas empresas prestadoras de serviços se assemelha à apuração realizada nas empresas industriais. De acordo com o autor supracitado, temos três tipos de custos que incorrem na indústria e que também são comuns em algumas empresas de serviços: Custo do material aplicado nos serviços Custo da mão de obra aplicada nos serviços Custos indiretos apropriados aos serviços Esses fatores mostram claramente como os custos de serviços se aproximam dos industriais, inclusive na classificação, visto que somente são considerados como custos aqueles insumos que realmente são relacionados na realização dos serviços, ao passo que os outros são classificados como despesas. Complementarmente ao autor supracitado, Padoveze (2006, p. 367) contextualiza sobre a apuração dos custos dos serviços: A apuração do custo unitário dos serviços segue a linha geral de custeamento dos produtos. [...] As informações básicas de cada serviço também seguem a linha geral do custo dos produtos, que são a estrutura do produto (agora estrutura do serviço) e o processo de fabricação (agora processo de execução) [...]. Aplica-se o método de custeamento escolhido e apura-se o custo de cada serviço. Conforme exposto, percebe-se que o tipo de atividade gera diferentes tipos de objetos de custeio: Indústria: produto Comércio: mercadoria Prestadoras de Serviços: serviços Cada tipo de empresa possui uma atividade diferente, mas todas elas incorrem em custos na execução de suas atividades. O papel da contabilidade de custos é apurar corretamente as informações para o correto custeamento do objeto de custeio. TROCANDO IDEIAS Na aula de hoje, você conheceu os diferentes métodos de custeio que podem ser utilizados no custeamento dos produtos, e aprendeu que somente o custeio por absorção é aceito pelo fisco brasileiro. Com base no que você aprendeu, você concorda com essa ideia? Depois de ver a metodologia de cada um dos sistemas de custeio, você concorda que o custeio por absorção é o método ideal para a alocação dos custos, ou se utilizássemos outro método a alocação seria mais justa? Entre no fórum e dê a sua opinião. Debata o assunto com seus colegas. NA PRÁTICA Com base no que foi expostono decorrer desta aula, sabendo-se das particularidades de cada método de custeio, analise as assertivas a seguir: I. O custeio direto considera os custos variáveis como despesas do período. II. A lei determina que sejam alocados aos produtos todos os custos incorridos no processo de fabricação (fixos, variáveis, diretos e indiretos), indicando para tanto a adoção do custeio por absorção. III. O custeio ABC considera que não são os produtos que efetivamente consomem os recursos, e sim as atividades. IV. Com sua forma de rateio, pelo custeio RKW chega-se ao custo de produzir e vender, incluindo administrar e financiar. V. As empresas prestadoras de serviços diferenciam-se das indústrias pelo fato de comprarem as mercadorias já prontas de seus fornecedores e revendê-las também prontas. Assinale a alternativa correta: a) Estão corretas somente as assertivas I, II, e IV. b) Estão corretas somente as assertivas I, III e V. c) Estão corretas somente as assertivas II, III, IV. d) Estão corretas somente as assertivas II, IV, e V. e) Todas as assertivas estão corretas. FINALIZANDO Nessa aula de hoje, conhecemos os principais métodos de custeio e as formas como são utilizados pelas empresas. Conhecemos o custeio direto ou variável e a importância desse método para a tomada de decisões, uma vez que ele deu origem aos conceitos utilizados na análise CVL, em especial a margem de contribuição e o ponto de equilíbrio. Estudamos o custeio por absorção e ficamos sabendo que esse método aloca aos produtos todos os custos incorridos no processo de fabricação. Após conhecer o método de absorção, conhecemos os métodos utilizados pelo ABC, e também o RKW, e pudemos perceber as especificidades de cada um deles. Vimos que o único método aceito pela legislação brasileira é o Custeio por Absorção, mas os outros métodos também têm sua utilidade, dependendo da finalidade de utilização. Por fim, aprendemos que, nas diferentes atividades empresariais, os custos são tratados de formas diferentes. REFERÊNCIAS BORNIA, A. C. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 mar. 1999. BRUNI, A. L. A administração de custos, preços e lucros: com aplicações na HP12C e Excel. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 16: estoques. Brasília, 8 de maio de 2009. COSTA, Reinaldo Pacheco da; FERREIRA, Helisson Akira Shimada; SARAIVA JÚNIOR, Abraão Freires. Preços, orçamentos e custos industriais: fundamentos da gestão de custos e de preços industriais. Rio de Janeiro: Elsevier, Campus, 2010. CREPALDI, S. 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Gestão de custos: aplicações operacionais e estratégicas: exercícios resolvidos e propostos com utilização do EXCEL. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
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