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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS ALINE SOUSA CANDEIAS DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA ALTO RIO SOLIMÕES- ATENÇÃO PRÉ- NATAL E REALIZAÇÃO DE PARTO NATURAL HUMANIZADO. SÃO PAULO 2021 ALINE SOUSA CANDEIAS DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA ALTO RIO SOLIMÕES- ATENÇÃO PRÉ- NATAL E REALIZAÇÃO DE PARTO NATURAL HUMANIZADO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Especialização em Saúde Indígena da Universidade Federal de São Paulo para obtenção do título de Especialista em Saúde Indígena Orientação: JULIANA NOGUEIRA DE SOUZA CAMPOS SÃO PAULO 2021 RESUMO Tabatinga é uma cidade do estado do Amazonas, os habitantes se chamam tabatinguenses. O município se estende por 3 224,9 km², a densidade demográfica é de 16,2 habitantes por km² no território do município. O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Alto Rio Solimões, atende a segunda maior população indígena do Brasil, sendo um total de 68.222 (sessenta e oito mil duzentos e vinte e dois mil) usuários indígenas aldeados, que vivem em 232 aldeias distribuídas em 13 (treze) Polos Base com equipe multidisciplinar de saúde indígena completa, localizados em 06 (seis) municípios do Alto Solimões. A População geral das etnias Tikunas e Kokamas são de 10.077 pessoas. Na a Comunidade Belém há uma estação de água. Os programas desenvolvidos na comunidade :HIPERDIA, Saúde mental, Saúde bucal, Saúde da mulher, saúde da criança, Imunização, SISVAN, Saúde do idoso, Endemias, Programa de Controle da Tuberculose, Saúde do Homem, Doenças em eliminação, Saúde do idoso, Vigilância epidemiológica e óbito, IST/Sífilis/HV, entre outros. E falar sobre atenção ao pré-natal e planejamento familiar e as realizações dos partos humanizado, é algo muito importante nessa comunidade, pois onde os cuidados iniciam-se bem antes, com introdução de ácido fólico, cessação de alcoolismo, drogas, tabagismo e de alguns fármacos teratogênicos, controle de doenças crônicas, preparo psicológico para essa nova realidade socioeconômica, além de conversar sobre gestação de alto risco, momento do parto e aleitamento materno. O objetivo do pré-natal e dessa assistência é atender aos interesses maternos e fetais de forma humanizada. Esse período de planejar uma gestação é tão importante quanto o pré-natal em si, pois engloba aconselhamento, educação em saúde, prevenção de complicações e visa reduzir riscos e iatrogenias. Na medida em que uma gestação é planejada, os cuidados iniciam-se bem antes, com introdução de ácido fólico, cessação de alcoolismo, drogas, tabagismo e de alguns fármacos teratogênicos, controle de doenças crônicas, preparo psicológico para essa nova realidade socioeconômica, além de conversar sobre gestação de alto risco, momento do parto e aleitamento materno. O objetivo do pré-natal e dessa assistência é atender aos interesses maternos e fetais de forma humanizada. Para isso, precisamos conhecer a idade gestacional, o quadro de saúde prévio dessa mãe, se houve planejamento da gestação, quais riscos essa mãe e seu feto podem ter, realizar avaliação longitudinal do organismo materno, diagnósticos e terapêuticas precoces a fim de reduzir morbidades e mortalidade. Palavras-chave: Saúde de Povos Indígenas. Saúde da Mulher. Promoção da Saúde. Pré-Natal. Planejamento Familiar. APRESENTAÇÃO Me chamo Aline Sousa Candeias, tenho 26 anos e venho do interior do estado de Rondônia. Desde minha infância sonhei em cursar medicina e aos 16 anos iniciei meus estudos, no ano de 2011, na cidade de Cochabamba – Bolívia, onde me graduei no ano de 2017 na Universidade Privada Aberta Latino Americana (UPAL) com muita luta e dedicação. Então, retornei ao meu pais com expectativas e o sonho de ajudar ao próximo se tornou ainda mais real. À espera da revalidação do meu diploma, surgiu a oportunidade de ingressar no Programa Mais Médicos Ciclo 17, onde cai de paraquedas na área da Saúde Indígena e confesso que me surpreendi muito pois quando dizem que esse trabalho tem que ser diferenciado, realmente é isso mesmo. Todas as vezes que estou em área é desafiador e apesar da falta de insumos, minha vontade de fazer mais e mais por essas pessoas é o que me mantém firme. Aprendi a trabalhar com o básico e sou grata por todo conhecimento adquirido até o momento e tem sido uma experiência profissional e pessoal incrível de coisas que nenhum outro lugar poderia me oferecer com pessoas únicas e que me inspiram a ser melhor a cada dia. Meu objetivo é poder transmitir confiança e amor à eles, atendê-los de forma humanizada, ouvi-los sobre suas necessidades, ter paciência respeitando sempre a questão intercultural, enfim, cumprir meu trabalho com excelência. Imagem 01. Imagem 01: Aniversário de Belém. Fonte: Autor, 2020. CAPÍTULO 1 - ASPECTOS FÍSICOS, DEMOGRÁFICOS E SOCIOAMBIENTAIS DO DSEI Tabatinga é uma cidade do estado do Amazonas, os habitantes se chamam tabatinguenses. O município se estende por 3 224,9 km², a densidade demográfica é de 16,2 habitantes por km² no território do município. Situada a 73 metros de altitude, Tabatinga tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 4° 15 12 Sul, Longitude: 69° 56 19 Oeste e clima equatorial. O acesso à cidade se dá por barco ou por avião, não há estradas que unam Tabatinga a Manaus. Toda região está coberta por florestas (altas, baixas e pouco densas) e, hidro graficamente, pertence à bacia do rio Amazonas, sendo banhada pelos rios Solimões, Iça, Japurá e vários de seus afluentes, tais como: Hapapóris, Traíra, Puretê, Puruê e Cunha. Há duas grandes ilhas fluviais próximas: Santa Rosa - Peru e Aramaçá - Brasil. Municípios limítrofes: Letícia (Colômbia), Santo Antônio do Iça, São Paulo de Olivença, Benjamin Constant e Atalaia do Norte. (QUEIROZ, et al., 2018).(Figura 01). Figura 01: Localização geográfica do município de Tabatinga. Fonte: GoogleMapa, 2021. Quadro 01: O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Solimões, pertence a cidade de Tabatinga – AM. POPULAÇÃO ALDEIAS POLO BASE MUNICÍPIO ETNIAS 68.222 HABITANTES 232 13 06 MUNICÍPIOS Tabatinga Benjamin Constant São Paulo de Olivença Amaturá Santo Antônio do Içá Tonantins E também o município de Japurá, no Rio Apoporis 07 ETNIAS: Ticuna, sendo a maior do páis. Kocama kaixana Kambeba kanamari Witoto Maku-Yuhup), Figura 01: Mapa de Polo Base do DSEI RIO SOLIMÕES. FONTE: MINISTERIO DA SAÚDE, 2020. Tendo cada uma delas seus próprios costumes, crenças, culturas, língua, práticas de cura e medicina tradicional. (MEDEIROS, 2015). Em Tabatinga o custo de vida é um pouco elevado em virtude da distância com a capital, todavia, a cidade fronteiriça, Letícia, dá suporte mais favorável, haja vista que tal cidade é livre de todo imposto colombiano, recebendo mercadorias vindas pelo canal do Panamá e Bogotá a preços baixos. A população tabatinguense vai à cidade colombiana para fazer compras diversas, onde varia do supermercado aos móveis de casa. Existe um comércio local de vestuários e calçados no centro de Tabatinga, principalmente na rua Marechal Mallet. (QUEIROZ, et al., 2018). Há também um grande fluxo de mercadorias peruanas vindas da ilha de Santa Rosa - Peru na região do porto e próxima ao Mercado Público, onde os peruanos instalaram e administram pequenos mercadinhos e quitandas. O município também possui agricultores, mas eles não suprem as necessidades dos restaurantes locais, que têm de recorrer aos vizinhos peruanos. Há um lixão a céu aberto, como na maioria dos municípios do Amazonas e do Brasil, com a omissão dos poderes competentes. Diante dessa situação, algumas pessoas em situação de miséria econômica tiram seu sustento do lixão local. Considerada a etnia mais numerosa entre os indígenas do Brasil, os Ticunas de Tabatinga como nas economias de subsistência, a agricultura tem grande importância para os Ticunas, utilizam quase toda sua produção para o consumo dos moradoresda residência. Porém, parcela do excedente da produção é porta para ser comercializada na cidade e/ou mesmo na comunidade. (FARIAS, 2020). CAPÍTULO 2 - ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E DE ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DO DSEI A preocupação em ter um sistema de saúde voltado exclusivamente para indígenas no Brasil é recente. Data de 1999, quando a responsabilidade deixou de ser da Fundação Nacional do Índio (Funai) para ser da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). A preocupação com a saúde do índio passou a ser mais preventiva do que curativa e voltada para as diferenças étnicas existentes no país com a criação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Embora essa política tenha ampliado o acesso à saúde no território nacional, seus progressos não impediram os altos índices de mortalidade nas populações indígenas. (DE MELLO, et al., 2015). O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) é a unidade gestora descentralizada do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) com autonomia administrativa, técnica e financeira. Trata-se de um modelo de organização de serviços – orientado para um espaço etno-cultural dinâmico, geográfico, populacional e administrativo bem delimitado – que contempla um conjunto de atividades técnicas, visando medidas racionalizadas e qualificadas de atenção à saúde. Promove a reordenação da rede de saúde e das práticas sanitárias e desenvolve atividades administrativo-gerenciais necessárias à prestação da assistência, com o Controle Social. No Brasil, são 34 DSEI divididos estrategicamente por critérios territoriais que abrigam 361 polos bases. tendo como base a ocupação geográfica das comunidades indígenas. Não obedece aos limites dos estados. Sua estrutura de atendimento conta com unidades básicas de saúde indígenas, polos bases e as Casas de Saúde Indígena (CASAI). DE MELLO, et al., 2015). O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Alto Rio Solimões, atende a segunda maior população indígena do Brasil, sendo um total de 68.222 (sessenta e oito mil duzentos e vinte e dois mil) usuários indígenas aldeados, que vivem em 232 aldeias distribuídas em 13 (treze) Polos Base com equipe multidisciplinar de saúde indígena completa, localizados em 06 (seis) municípios do Alto Solimões (Tabatinga, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins ) e ainda o município de Japurá, no Rio Apoporis. Esta população é composta por 07 (sete) etnias indígenas (Ticuna, Kocama, kaixana, Kambeba, kanamari, Witoto e Maku-Yuhup), sendo a etnia Ticuna, a maior etnia indígena do País, tendo cada uma delas seus próprios costumes, crenças, culturas, língua, práticas de cura e medicina tradicional. Com o objetivo de prover serviços de atenção básica à saúde nas comunidades indígenas, os DSEI possuem polos bases para organização desses serviços. Os polos são a primeira referência para as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), que atuam nas aldeias. Cada Polo Base cobre um conjunto das aldeias. (NINJA, 2020). FIGURA 02. FIGURA 02. MAPA DE POLO DE BASE. FONTE: MINISTERIO DA SAÚDE, 2020. Nossas aldeias localizam-se no Rio Solimões, calhas dos Rio Jacurapá, Camatiã, Jandiatuba, Tacana, Igarapé de Belém, Uaiti Paranã, Jacapari, Matintin, Rio Içá e Rio Apoporis. Para atender toda essa demanda e logística, contamos com as unidades de saúde dentro da aldeia chamadas Polos Base, composta por Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena como: Médicos Enfermeiros Odontólogos Psicólogos Farmacêuticos Bioquímicos Nutricionistas Técnicos de Laboratório Técnico de Enfermagem Técnico de Saúde Bucal Auxiliar de Saúde Bucal Agente Indígena de Saúde Agente Indígena de Saneamento Motorista fluvial São os profissionais responsáveis pelo acompanhamento da população indígena realizando atenção primária á saúde, focando na promoção, prevenção e recuperação da saúde da população, respeitando as suas especificidades culturais e com controle social. Essas equipes multidisciplinares trabalham com escala de serviço, sendo a jornada de trabalho da seguinte forma: 20 dias de trabalho diretamente na aldeia por 10 dias de arejamento/folgas, dessa forma conseguimos ter profissionais de saúde a disposição da população indígena diretamente nas aldeias 24h por dia nos 365 dias do ano. O Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) é responsável por fiscalizar, debater e apresentar políticas para o fortalecimento da saúde em suas regiões. Os Conselhos Distritais de Saúde Indígena, órgãos colegiados de caráter permanente e deliberativo, são instituídos no âmbito de cada DSEI e entre suas atribuições estão: participar na elaboração e aprovação do Plano Distrital de Saúde Indígena, bem como acompanhar e avaliar a sua execução; avaliar a execução das ações de atenção integral à saúde indígena; e apreciar e emitir parecer sobre a prestação de contas dos órgãos e instituições executoras das ações e dos serviços de atenção à saúde indígena. (SCALCO, 2020). Composição e representatividade do CONDISI do Alto Rio Solimões: 1 – 50% de usuários indígenas – 36 conselheiros titulares. 2 – 25% de trabalhadores da saúde indígena – 18 conselheiros titulares. 3 – 25% representantes do governo e prestadores de serviços – 18 conselheiros titulares. 4 – Total de conselheiros do CONDISI – 72 conselheiros titulares. O transporte em nossa região é 95% fluvial o ano todo, onde para isso contamos com embarcações em todos os Polos Base e nas aldeias, para prestarmos atendimento de qualidade, visitas domiciliares, educação em saúde, atendimento médico, de enfermagem e odontológico, bem como a execução de todos os programas preconizados pela SESAI/Ministério da Saúde, como (Saúde da Criança, Saúde da Mulher, Imunização, Saúde do Idoso, Saúde do Homem, Saúde Mental, Assistência Farmacêutica, Vigilância Nutricional, Saúde Bucal, IST/HIV/HV/AIDS, Vigilância Epidemiológica, Vigilância do Óbito, Controle e Combate da Tuberculose, Controle e Combate da Malária, Endemias, Doenças em Eliminação e etc), entre outras ações desenvolvidas de forma diferenciada respeitando as práticas de cura e medicinas tradicionais da população indígena. Contamos ainda com transporte terrestre, com uma frota de veículos nas sedes dos municípios que são referências do SUS e nossa retaguarda nos casos de pacientes encaminhados dos Polos Base para atendimento de média complexidade nas referências do SUS nos Municípios. Para os pacientes indígenas referenciados para atendimento de Alta Complexidade em Manaus em Tratamento Fora de Domicilio - TFD, primeiramente realizamos o agendamento na CASAI Tabatinga, seja de consultas ou exames diretamente no SISREG. O deslocamento destes pacientes em TFD é realizado pelo próprio DSEI, onde contamos com o contrato de transporte fluvial com Embarcação Comum Recreio e Lancha Ajato e no trecho aéreo, emissão de passagem em vôo comercial. Nos casos de pacientes graves que necessitem ser deslocados com urgência do Hospital de Guarnição ou UPA Tabatinga em que a UTI Aérea do Estado não esteja disponível por algum motivo, acionamos o nosso contrato horas vôo e garantimos a todos os nossos usuários que necessitem nestes termos, a UTI Aérea da SESAI. Neste mesmo contrato ainda temos a disponibilidade de aeronaves helicópteros, mono motor e Caravana (transporte de passageiros e cargas perigosas), quando necessário. Além destes polos base, o DSEI também conta com a estrutura de uma sede Administrativa (DSEI) e uma Casa de Saúde Indígena (CASAI), ambos localizados em Tabatinga. Também faz parte da estrutura as Casas de Apoio de Saúde aos indígenas, localizados nas sedes dos municípios de Benjamin Constant/AM, Amaturá/AM, São Paulo de Olivença/AM e Santo Antônio do Içá, para acompanhamento dos pacientes referenciados por nossas unidades Polos Base para as unidades do SUS no Município. Figura 03. Figura 03: Organização do atendimentos do DSEI. As CASAIe Casas de Apoio, são estabelecimentos criados no âmbito do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena e responsáveis pelo acompanhamento de todos os pacientes que são referenciados dos polos base para as unidades do SUS nos municípios de abrangência do DSEI garantindo a estes, alimentação, transporte terrestre e fluvial, medicação do componente básico, atendimento de enfermagem, psicológico, de assistência social e nutricional, pelo período que o mesmo necessitar realizar procedimentos e atendimentos no município. Essas unidades localizam-se prioritariamente e conforme a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas - PNASPI, nos municípios sede e não nas aldeias, como já informado, são responsáveis pelo agendamento de consultas e exames no SISREG na rede de Atenção de Médica e Alta Complexidade. (SILVA, et al., 2016). Os polos base possuem uma estrutura simplificada, representando a porta de entrada na rede de serviços de saúde, possuindo infra estrutura física necessária para o desenvolvimento das atividades de promoção e prevenção à saúde. Além dos polos base, o DSEI possui 07 postos de saúde, 4 Casas de Apoio- CAPAI, localizadas em Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do Içá, e 1 Casa de Saúde do Índio- CASAI, localizada no município de Tabatinga-AM, que é referência no território deste DSEI, que aloja e presta assistência aos pacientes encaminhados e acompanhantes quanto tempo for necessário. (SILVA, et al., 2016). O DSEI Alto Rio Solimões juntamente com os DSEIs Vale do Javari e Médio Rio Solimões, se articulam com os municípios e discutem diferentes interesses no que tange a política do SUS nas reuniões das Comissões Intergestoras. O DSEI ARS encontra-se contemplado na Rede Cegonha, Rede de Atenção às Doenças Crônicas, às Urgências e Emergências, Rede de Atenção às Pessoas com Deficiência e Rede de Atenção Psicossocial, o que facilitou significativamente as ações pactuadas por este DSEI. O Planejamento Integrado da Saúde atua na construção de estratégias para a implementação de redes integradas de atenção à saúde, compondo articulação entre as federações, onde DSEI e municípios se articulam para terem participações em conjunto. (SILVA, et al., 2016). O Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde- COAP, não acontece entre os municípios da Região do Alto Solimões, devido às responsabilidades dos contratos de metas serem dos entes federados. Como implica em sanções no caso de não cumprimento, os secretários municipais de saúde preferem não aderir, e assim o COAP acontece de forma paralela, sem compactuação, somente com articulação entre os gestores das instituições. (GARNELO, et al., 2017). Sobre a Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES), o DSEI realiza atenção primária nas comunidades indígenas, através de sua Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, garantindo o acesso às ações e serviços de saúde de promoção, proteção e recuperação da saúde. Quando os pacientes precisam de um atendimento especializado, os mesmos são referenciados para as Unidades de média e alta complexidade, de acordo com a Regulação da região, recebendo serviços ofertados pelo SUS. (GARNELO, et al., 2017). A RENAME/INDÍGENA do DSEI disponibiliza apenas os medicamentos necessários ao atendimento da população, de acordo com as prescrições realizadas no âmbito do SUS, porém, na maioria das vezes, são prescritos medicamentos que não estão na RENAME INDÍGENA, o que dificulta mais ainda o tratamento das enfermidades desta população, que por sua vez, sobrevivem da agricultura, auxílio defeso, e da bolsa família. Geralmente as medicações que não estão na RENAME INDÍGENA são de alto valor, o que impossibilita até a articulação com os municípios do Alto Rio Solimões, que alegam serem abastecidos pelo CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL da região, o qual atende apenas os municípios de abrangência, deixando o DSEI de fora, o qual depende das articulações feitas com os municípios. (GARNELO, et al., 2017). Na região do Alto Solimões já dispomos das especialidades de ginecologia, ortopediatria, porém hoje, só é disponível ortopedia, onde as demais especialidades que são ofertadas no Hospital de Guarnição, somente são ofertadas para dependentes militares, onde as especialidades são ginecologista e cardiologista, estas não estão disponíveis para toda a população. Para outras especialidades, os pacientes precisam ser referenciados para Manaus. Os exames de média e alta complexidade são realizados in loco, enviando assim as amostras para a capital, os quais aguardamos retornos de resultados, para assim serem encaminhados aos pacientes. Todos os serviços ofertados pelo SUS são utilizados pela população indígena, porém, ainda estamos distantes de sermos contemplados com serviços especializados, os quais dependemos necessariamente da articulação com municípios e estado. As agendas são criadas com órgãos estratégicos, contribuindo assim para a ampliação da rede da saúde indígena. As fragilidades, infelizmente ainda existem, pois alguns municípios ainda veem a saúde indígena de forma isolada. Onde sabemos que todos os municípios recebem incentivos, como PAB FIXO e Assistência Farmacêutica para realizarem ações de atenção básica para a população de sua abrangência. Porém a Equipe Multidisciplinar do DSEI realiza atenção primária nas comunidades indígenas, deixando de usar na maioria das vezes o recurso destinado para as especificidades. Os Pólos Base realizam a atenção primária, somente os hospitais dos municípios de Tabatinga realizam um atendimento de média e alta complexidade, como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Maternidade Celina Villacrez e Hospital de Guarnição (HGUT). Estas unidades servem de referência regional em saúde para todos os municípios, e contam com profissionais de diversas áreas. Possuindo algumas especialidades médicas, assim como alguns exames dentre eles: carga viral e CD4, TAP, INR, Sorologias para hepatite, VDRL entre outros, os indígenas são encaminhados para realizar no município de Tabatinga. Vale frisar que o HGUT um dia recebeu o incentivo financeiro de IAE-PI no valor de R$33.000,00 (trinta e três mil) para dar atendimento diferenciado aos indígenas, porém hoje o recurso não é utilizado devido o mesmo está bloqueado na base, uma vez que alguns profissionais do hospital relatam que acham insignificante a quantia oferecida pela quantidade de indígenas que são referenciados ao hospital, onde se faz necessário quando preciso que a CASAI providencie a refeição (peixe e outros), assim como também exames e medicações de pacientes internados. Devido ao fato de ser um Hospital Militar existe uma grande rotatividade de profissionais, inclusive da Direção do Hospital que muda de dois em dois anos, onde cada um tem a sua forma de administrar, nesse sentido, há a necessidade de se contratualizar a finalidade do recurso. (GARNELO, et al., 2017). Referente ao encaminhamento dos pacientes dos Polos base para os municípios de referência (Tonantins, Santo Antônio do Içá, Amaturá, São Paulo de Olivença e Benjamin Constant) são utilizados transporte por embarcação própria do DSEI (voadeira). Não resolvendo nos seus municípios, os mesmos são referenciados para Tabatinga (média complexidade) e em alguns casos são encaminhados direto para Manaus (Alta Complexidade) dependendo do quadro clínico do paciente. Assim como alguns exames mais específicos (ecocardiograma, tomografia, ressonância magnética, biopsia), e consultas com especialistas (Oftalmologia, Cardiologia, Neurologia, etc) que não abrange na rede do SUS na região do Alto Solimões, se faz necessário que os indígenas sejam deslocados a Manaus para realização dos mesmos, os quais são agendados via Sistema de Regulação –SISREG para a CASAI Manaus. Todas as consultas/exames dos municípios que compõe a região do alto Solimões são agendadas via SISREG para as Unidades de Saúde do Município de Tabatinga (UBS São Francisco, LAFRON, Clínica Municipal).A qual existe um Sistema de regulação que funciona na Unidade Básica de Saúde do Bairro São Francisco. Vale saber que o Hospital de Guarnição de Tabatinga não faz parte do Sistema de Regulação, no entanto, o serviço social por meio de articulações mediante os casos de encaminhamentos de natureza ambulatorial, corrobora para que sejam abertas tais exceções com intuito de que estes possam ser atendidos. A articulação neste processo de agendamento de consultas e exames é feita entre CASAI/PÓLOS. A comunicação é por meio de e-mail ou telefone, e nos Polos que pertencem ao município de Tabatinga os agendamentos são realizados pelo Serviço Social da CASAI via SISREG e no próprio local de acordo com a demanda do momento, por exemplo, encaminhamentos para realização de Sessões de fisioterapia, que é disponibilizado no hospital de Guarnição de Tabatinga. (GARNELO, et al., 2017). É importante salientar, que em alguns municípios os agendamentos via SISREG funciona na Secretária de Saúde, e em outros nos Hospitais. Assim o fluxo de atendimento é realizado, atualmente os agendamentos de consultas estão sendo marcados via SISREG, a maioria para Tratamento Fora do Domicilio em Manaus, o principal motivo é que o Hospital Militar não está mais realizando atendimento ambulatorial, somente casos de urgência/emergência e ortopedia, pois a área de Ginecologia, Pediatria, Infectologia, Cirurgia, Anestesia e Clínica Geral, já foi um dia ofertado à população indígena, e hoje é ofertado somente para dependentes militares. Quanto aos exames são realizados tanto para os pacientes internos, como para a população externa; os serviços envolvem a realização de hemograma completo, raios-x, mamografia e ultrassonografia. Com relação às consultas, por ser um hospital Militar, os profissionais atendem apenas temporariamente no município de Tabatinga, o que ocasiona uma grande rotatividade nas especialidades ofertadas. Também deve se destacar que a maioria dos especialistas que atendem nessa unidade hospitalar militar estabelecem vínculo contratual com o município de Tabatinga e com a saúde indígena, com atendimento realizado nas Unidades Básicas de Saúde e nos Polos Base. Antes, todos os termos de referência médica eram encaminhados para CASAI Tabatinga para realizar o agendamento, hoje com a regulação do Sistema SISREG os agendamentos são realizados tanto para Tabatinga como para Manaus pelo sistema no seu próprio município, após agendamento são encaminhados os Termos de Referência e Agendamentos para o Serviço Social da CASAI Tabatinga, via e-mail ou em mãos para providenciar o pedido de passagem, ou seja, o translado do paciente. Relacionado ao deslocamento, este DSEI realiza através de 5 (cinco) formas: Transporte fluvial (Barco Comum), dependendo do município, subindo o rio no trecho (Tabatinga/Manaus) o tempo estimado é de 03 dias, retornando de Manaus no trecho (Manaus/Tabatinga) a viagem tem duração de 7 dias. Expresso a jato e barco de linha – o DSEI–ARS possui contrato com a empresa Trans global Serviços LTDA, que presta serviços de passagens fluviais, este processo é feito em menos dias, os mesmos percursos acima mencionados é realizado em 2dias. Taxia aéreo, são solicitados aeronaves da Empresa Parintins Táxi Aéreo em casos de remoção de pacientes acamados, com recomendações médicas exigidas que o voo comercial não permite (casos de paciente que precisam de oxigênio). Voos Comerciais são solicitados nos casos de pacientes que precisam ser removidos com urgência devido ao seu quadro clínico. UTI Aérea – o DSEI–ARS também possui contrato de horas voo com as Empresas Manaus Aero táxi (UTI Aérea), gerenciado pelo DSEI Alto Rio Solimões. CAPÍTULO 3 - JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO “TERRITÓRIO RECORTE” Escolhi o Polo Base Belém do Solimões que é o responsável por quase 10 mil indígenas e é onde realizo meu trabalho. A justificativa é devido as diversidades do dia a dia, lá enfrento várias situações relacionados a saúde, cultura, crenças e isso torna meu trabalho um tanto quanto árduo. É sempre desafiador esse trabalho, além de ser uma cultura diferente pra mim, o dialeto foi algo bem difícil de lidar pois, muitas vezes, os tradutores não conseguem traduzir o que o paciente está referindo e em certo ponto isso dificulta nosso trabalho, dificultando a conclusão de diagnósticos e tratamentos. A maioria dos nossos pacientes são da etnia Tikuna e temos dificuldades em relação às medicações, pois trabalhamos com aquilo que temos no polo e por diversas vezes há escassez, inclusive do básico como, antitérmicos e analgésicos e por tal fato, improvisamos quando necessário já que muitas vezes eles negam a remoção. Nesse polo vivemos uma realidade diferente de uma atenção básica e desempenhamos além do que nos compete, já que temos uma demanda muito abrangente. É gratificante a importância que recebemos nesse lugar, a realidade é que são povos vulneráveis onde há ausência do básico e com a equipe estando lá nota-se que estamos fazendo a diferença na vida dessas pessoas, que nosso conhecimento está sendo válido e ajudando ao próximo. Quando uma criança chega para receber atendimento e logo se recupera e sai sorrindo é extremamente recompensador. Presenciamos uma realidade bem distinta do que estamos acostumados. As famílias mudam- se de casa apenas quando já realmente não há espaço, os filhos casam-se e vivem com os pais, o que é algo natural para eles. As mulheres cumprem papéis essenciais sendo muitas vezes o trabalho braçal. Em relação a medicina tradicional com ervas percebo que estão desligando-se disso aos poucos, bruxarias e feitiços são fatos que somente o pajé tem o poder de solucionar. A maioria dos problemas de saúde são referentes a falta de higiene pessoal, onde medidas simples poderia evitar algumas enfermidades (lesões dérmicas e quadros diarreicos), por essa razão sempre atuamos baseando em prevenções e orientações. Tenho inúmeros motivos esclarecedores e é explicito o sentimento de gratidão que tenho por esse polo, povos e cultura. Tem sido uma experiência extraordinária e única, espero continuar prestando esse trabalho da melhor forma aos meus pacientes e ajudá-los quando for necessário. Imagem 02e 03. Imagem 02: Posto de saúde do DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA ALTO RIO SOLIMÕES Fonte: Autor, 2020. Imagem 03: Polo Base Belém Solimões. Fonte: Autor, 2020. CAPÍTULO 4 - ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E CULTURAIS DO "TERRITÓRIO RECORTE" O Polo Base Belém Solimões, no qual eu trabalho é constituído por dois tipos de povos indígenas: Os Ticunas e os Kokamas. A língua Ticuna é amplamente falada em uma área extensa por numerosos falantes (acima de 30.000) cujas comunidades se distribuem por três países: Brasil, Peru e Colômbia. (SILVA,2016). A maior parte das aldeias encontra-se ao longo/ nas proximidades do rio Solimões. Já a língua Kokama foi classificada como parte da família Tupi-Guarani, tronco Tupi. É muito semelhante à língua dos Omágua (Kambeba), a minoria que são os Kokamas estão em constante contato com os brancos, no entanto, eles falam e entendem melhor o português.(BORDIN, 2020). sStuam os seus principais assentamentos no médio e baixo rio Ucayali, afluente meridional do Amazonas peruano. Há conflitos entre eles, porém, é atribulado e resolvido entre eles. Um exemplo foi uma situação que presenciei; em que dois amigos brigaram e se cortaram e enquanto suturava um deles, o outro se compadecia. Também sobre vingar o sangue; quando cortam alguém, geralmente, a mãe vai na casa daquele que fez o corte e quer receber algo em troca, se não for ofertado à ela, a família do ferido também dará um corte naquele que feriu para vingar o sangue. Observo que eles respeitam muito as lideranças e os caciques e por essa razão procuramos sempre trabalhar juntamente com eles. Algumas comunidades ainda se mostram muitos conflituosas, ainda assim, a maioria tem grande afeição. Entre os diferentes povos prevalece o respeito. Emrelação a sociedade, cada vez eles estão mais acoplados e alguns já não preferem primeiramente os tratamentos caseiros, apesar da resistência quando se diz respeito a remoção de pacientes. Sobre a alimentação eles estão se dispersando, apanhando produtos enlatados, processados, embalados entre outros. Por conseguinte, os casos de Doenças como Diabetes Mellitus e Hipertensão arterial estão alteando. As coisas aqui ditas, grande parte são do que ouvi dizerem, porque pouco contato temos com a cultura interna, rituais e afins. Eles reverenciam os profissionais da área da saúde e como a demanda é enorme nessa área, pouco sabemos a fundo sobre esses temas. (OLIVEIRA, 2012). Explorando sobre tal povos, vale repassar a história e algumas características de cada povo; Figura 04. TICUNAS; Os Ticunas configuram o mais numeroso povo indígena na Amazônia brasileira. Com uma história marcada pela entrada violenta de seringueiros, pescadores e madeireiros na região do rio Solimões, foi somente nos anos 1990 que os Ticuna lograram o reconhecimento oficial da maioria de suas terras. Hoje enfrentam o desafio de garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental, bem como qualificar as relações com a sociedade envolvente mantendo viva sua riquíssima cultura. Não por acaso, as máscaras, desenhos e pinturas desse povo ganharam repercussão internacional. História: A primeira referência aos Ticuna remonta aos meados do século XVII e se encontra no livro Novo Descobrimento do Rio Amazonas, de Cristobal de Acuña. De acordo com seus mitos, os Ticuna são originários do igarapé Eware, situado nas nascentes do igarapé São Jerônimo (Tonatü), tributário da margem esquerda do rio Solimões, no trecho entre Tabatinga e São Paulo de Olivença. Ainda hoje é essa a área de mais forte concentração de Ticuna, onde estão localizadas 42 das 59 aldeias existentes” (Oliveira, 2002: 280). No alto Solimões, contudo, os Ticuna são encontrados em todos os seis municípios da região, a saber: Tabatinga, Benjamim Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins. Sua população está distribuída em mais de 20 Terras Indígenas. Em cidades de municípios do estado do Amazonas nos quais são encontradas aldeias Ticuna, escuta-se a língua Ticuna sempre que seus falantes, transitando por essas cidades, se dirigem a outros Ticuna igualmente em trânsito ou aí fixados. Com relação ao uso da língua pelos filhos daqueles que, falantes de Ticuna, se fixaram em cidades, é possível observar que esse uso tem, entre suas variáveis mais fortes, a atitude dos pais em relação à própria língua: quando tal atitude é norteada pela valorização da língua Ticuna e pelo que é próprio do universo Ticuna, a língua usada pelos pais com seus filhos é o Ticuna (casos freqüentes); quando não, a língua Ticuna deixa de ser usada e cede lugar ao português (casos raros).(FAULHABER, et al.,2019). Imagem 04. Imagem 04: Festa da Tribo Tikuna. Organização social: A sociedade ticuna está dividida em metades exogâmicas (só se pode casar com um membro da outra metade) não-nominadas, cada qual composta por clãs. Estes grupos clânicos patrilineares [isto é, o pertencimento ao clã é transmitido de pai para filho] são reconhecidos por um nome que é geral a todos, kï´a. Em português, os índios traduziram por nação. (FAULHABER, et al.,2019). Organização política: Nos relatos sobre o passado a guerra e a rivalidade parecem constituir fatos essenciais da existência dos Ticuna. Utilizando os relatos atuais, seria possível dizer que dentro de uma maloca todos se subordinavam a um mesmo código de autoridade que estabelecia a existência de somente dois papéis especializados, o tó-ü e o yuücü. O tó-ü não era alguém cuja chefia fosse exercida genericamente em muitos contextos. A melhor tradução seria a de um chefe para a guerra. Cada nação tinha um só chefe, que comandava a todos quando se tratava de defender ou atacar a outra nação. O fundamento para o reconhecimento dele - a sua condição de chefe - decorria do fato de que "era ele que defendia os povoados, que defendia dos inimigos". A esse personagem poderia também ser aplicado o termo daru, além do chamamento usual de tó-ü. De qualquer modo os pajés também participavam dessas guerras e conflitos. (VASCONCELOS, et al., 2019). Com a dissolução das malocas clânicas (desde as décadas de 1910 e 1920) e o fim das guerras entre as nações, o papel do chefe militar, o tó-ü, perdeu toda significação e não foi mais preenchido. Os patrões [seringalistas] criaram um novo papel político, o de tuxaua ou tuxawa; o tuxawa era visto pelos índios como um representante do patrão: "o tuxawa era assim como um capataz, um chefe. As diferenças entre o tó-ü e o tuxaua eram grandes demais para que um elemento que ocupasse o primeiro cargo pudesse ser utilizado no segundo. Em geral, os que foram escolhidos pelos patrões como tuxaua eram índios que dispunham de uma certa liderança sobre alguns grupos familiares, e que embora tivessem influência sobre os outros, não possuíam qualquer título, nome ou mandato específico que não decorresse de sua vinculação com os brancos. (VASCONCELOS, et al., 2019). Os grupos vicinais são unidades circunstanciais e políticas, que resultam de escolhas individuais praticadas por seus integrantes, a formação de um grupo vicinal exige o encontro dessas habilidades e interesses por parte de um (ou mais) líder(es), com a sua aceitação pelos demais. A função do líder do grupo vicinal é tanto a de comunicar-se com estranhos e não-índios, representando os membros de seu grupo perante qualquer autoridade (capitão, chefe de posto, militares, comerciantes, professores, missionários, etc), quanto a de organizar a cooperação entre os vários grupos domésticos que habitam próximos uns dos outros.(VASCONCELOS, et al., 2019). O ponto de distinção entre tuxaua e capitão parece estar ligado ao seguinte aspecto: o primeiro representa diretamente o patrão seringalista, enquanto o segundo recebe um reconhecimento por parte do governo brasileiro. A fonte última do poder do capitão é sempre o representante local do órgão, que reitera ou retira o seu apoio ao capitão, de acordo com a avaliação que tem de seu desempenho no cargo. Quem escolhe o capitão é de fato o chefe do Posto e assim esse indivíduo fica geralmente encarregado de transmitir aos índios as exigências, proibições ou propostas emanadas dos civilizados que o empossaram e titularam. Uma de suas funções é assim se constituir em fator da comunicação regular entre índios e não-indios: ele procede como um tradutor e mensageiro, ouvindo o discurso dos primeiros, traduzindo-o para o universos dos costumes e da língua nativa, divulgando-o entre os índios. (VASCONCELOS, et al., 2019). Atividades produtivas e alimentação: hoje, a pesca é uma das atividades produtivas mais importantes para os Ticuna. Cada família ticuna possui sua roça e a considera de sua propriedade, os instrumentos agrícolas utilizados pelos Ticuna são basicamente o terçado, o machado, a enxada e o forno de torrar farinha. As técnicas agrícolas dos Ticuna não são diferentes daquelas utilizadas em todo o Vale Amazônico, que incluem a derrubada seguida da queima e coivara. A pescaria é um trabalho dos homens e a oleta de frutas é realizada por todos da família. A dieta alimentar é composta basicamente de peixe com farinha de mandioca. O preparo do peixe, quase diário, A farinha de mandioca é consumida torrada e muitas vezes misturada ao que eles chamam de vinho de açaí, um suco feito desta fruta. Outro importante componente da alimentação ticuna é a banana e a carne de queixada, assim como a da anta e a do caititu, costuma ser cozida. Os Ticuna não costumam comprar muita variedade de produtos. (VASCONCELOS, et al., 2019). Arte: A variedade e riqueza da produção artística dos Ticuna expressam uma inegável capacidade de resistência e afirmação de sua identidade. São as máscaras cerimoniais, os bastões de dança esculpidos, a pintura em entrecascas de árvores, as estatuetas zoomorfas, a cestaria, a cerâmica,a tecelagem, os colares com pequenas figuras esculpidas em tucumã, além da música e das tantas histórias que compõem seu acervo literário. Um aspecto que merece atenção é o acervo de tintas e corantes. A tecelagem está intimamente ligada à mulher, a confecção da cerâmica é tarefa preferencialmente feminina, mas os homens também costumam exercê-la. Na esfera ritual, os suportes mais representativos da arte gráfica são as máscaras, os escudos, as paredes externas do compartimento de reclusão da moça-nova e o corpo, a confecção e o uso das máscaras são de domínio dos homens. A pintura da face, por sua vez, pode ser realizada por ambos os sexos e é empregada hoje em dia apenas durante os rituais, por todos os participantes, inclusive crianças.(VASCONCELOS, et al., 2019). Educação: A Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngües (OGPTB), criada em dezembro de 1986 e constituída juridicamente em 1994, atua numa extensa área formada pelos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins, na região do alto rio Solimões (AM). Ao longo de quase 20 anos, a OGPTB tem sido uma importante referência para os professores ticuna e, mais recentemente, também para os professores de outras etnias que habitam a região, como os Cocama e os Caixana. (VASCONCELOS, et al., 2019). Kokamas. . Figura 05. Habitantes do Solimões, o contato dos Kokama com a sociedade não-indígena remonta às primeiras décadas da colonização. Os aldeamentos e deslocamentos forçados, impostos primeiramente pelas missões e depois pelas frentes extrativistas, acabaram criando um contexto tão adverso de reprodução física e cultural desses grupos, que lhes suscitou a negação da identidade indígena por muitas décadas. Desde os anos de 1980, porém, a identidade Kokama vem sendo cada vez mais valorizada no contexto de suas lutas políticas – que incluem outros povos indígenas do Solimões – por terras e acesso a programas diferenciados de saúde, educação e alternativas econômicas. A língua Kokama foi classificada como parte da família Tupi-Guarani, tronco Tupi. É muito semelhante à língua dos Omágua (Kambeba). (VALLEJOS, 2014). História: As primeiras referências aos Kokama, fornecidas por exploradores e missionários nos séculos XVI e XVII, situam os seus principais assentamentos no médio e baixo rio Ucayali, afluente meridional do Amazonas peruano. No princípio do século XX, a população Kokama que habitava o Amazonas peruano, nas proximidades da cidade de Caballocha, começa um movimento continuado de migração rumo ao alto Solimões, no Brasil. (VALLEJOS, 2014). Assim, fatores externos, como a inserção nas missões, em um primeiro momento da história do contato, aliada às frentes extrativistas que se instalaram na região do alto Amazonas alguns séculos depois, desencadearam o deslocamento de muitos grupos indígenas de suas áreas tradicionais. É também em decorrência das realidades sociais impostas que, em fins do XIX, parte dos Kokama desloca-se do Peru e Colômbia ao Brasil, inserindo-se no esquema de https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba exploração da seringa (VALLEJOS, 2014). Organização social: As relações de parentesco são o fundamento principal da organização interna dos Kokama e há uma relação estreita entre proximidade física e genealógica na disposição das casas. Uma comunidade é formada essencialmente por grupos de parentes e entre eles há fortes vínculos.(CARVALHO, 2017). Todas as aldeias estão organizadas segundo os mesmos critérios de disposição espacial das casas: enfileiradas e próximas entre si, com as suas frentes voltadas para os cursos d’água e seus fundos para as áreas de mata. Há partes cultivadas nos fundos e nas laterais das casas. Estas são construídas sobre estacas, de tal forma que nas cheias somente seus pilares ficam submersos (Ramos, 2003). Atualmente, os Kokama conservam a denominação Sume para o xamã, que se comunica com o mundo sobrenatural através da ayahuasca. O deus Ini Jará, depois de criar a Terra e os homens, subiu ao céu, de onde cuida dos homens. O Sume é seu representante na terra. Economia e ambiente: Os Kokama são fundamentalmente pescadores e agricultores. Praticam uma economia de subsistência em que a unidade produtiva é o grupo doméstico, que corresponde, na maioria das vezes, à família nuclear, composta por pai, mãe e filhos solteiros. Entretanto, o grupo doméstico pode estar temporariamente composto pela família extensa ou parentela.(CARVALHO, 2017). A mandioca é o produto agrícola mais consumido e produzido. A farinha, além de ter importante papel na dieta diária, figura como um dos principais instrumentos de trocas internas e de comercialização. Regionalmente, além da farinha, os produtos que possuem valor de mercado são madeira, mel de jandaíra, castanha, banana, peixes, galinhas e porcos, além de frutas cultivadas ou coletadas. É importante enfatizar a importância das culturas tuberosas (macaxeira, mandioca, cará e batata doce). A coleta é também uma atividade assiduamente praticada pelo grupo, principalmente nas proximidades da aldeia. Os recursos mais utilizados são frutas e raízes, além de madeiras, palhas, cipó-titica e imbé, utilizados na construção de casas e outros artefatos. Os frutos silvestres que os Kokama apreciam são açaí, bacaba, bacuri, ingá, camucamu, urucum e buruti, entre outros. (CARVALHO, 2017). Tabela 1 - Distribuição das famílias do polo base Belém do Solimões abril de 2020. Fonte: SISAI, abril de 2020 Os meios de comunicação que se encontram na comunidade são telefones fixos e internet escolar via satélite. Número de Escolas: 29 escolas, 1 Polo Base, 2 Unidade Básica de Saúde Indígenas, 6 comércios mercearias de pequeno porte e 1 associação Possui um sistema de geração de energia a diesel que cobre toda comunidade e algumas adjacentes e um sistema de estação de água tratada para toda a comunidade. Imagem 05: Imagem 05: Do porto dopolo base Belém do Solimões abril de 2020. Fonte: Autor, 2020. Os meios de comunicação que se encontram na comunidade é telefone fixo e internet escolar via satélite. Por estar adjunto da área urbana e a civilização da cidade, os indígenas da Comunidade Belém do Solimões dispõem de contato frequente com o município de referência já que a todo momento se transladam até à cidade para revolver situações específicas (transações bancárias, questões beneficiárias, compras de mantimentos para estocar na comunidade, roupas, utensílios de casa, eletrodomésticos, entre outros). Contudo, a forma como se organizam, convivem e realizam suas práticas tradicionais são asseguradas e respeitadas por todos os povos indígenas desse ambiente. Imagem 06. Imagem 06: Festa de comemração da colheita. Fonte: Autor, 2020. Há reuniões e conversas entre os profissionais da biomedicina e os tradicionais para informações de como funciona ambos processos, a enfermeira prestam orientações as parteiras e vice-versa. Sobre a pajelança, temos uma parceria mais restrita com eles, geralmente eles sempre buscam primeiramente a medicina tradicional, sempre conversamos com eles e com a família para tentar um acordo para trabalhar em conjunto. Os indígenas plantam e colhem suas frutas, pescam, caçam, fazem a farinha, produzem artesanatos entre outros. Isto são para seu auto consumo e comercialização, eles vendem para associação que repassam para o município, capital. Os próprios indígenas comercializam seus produtos tanto nas comunidade quanto na cidade de Tabatinga. A renda deles proveem do bolsa família, auxilio maternidade e do trabalho local. Imagem 07. Imagem 07: As mulheres organizando a pesca. Fonte: Autor, 2020. Em relação as práticas de auto cuidado são bem dissemelhantes a nós, vivem aglomerados e em grande quantidades de pessoas em uma só casa, não há limpezas frequentes nas casas, as crianças ficam despidas, por esta razão, as doenças prevalentes são relacionadas a higiene. As moradias são espaços amplos, sem paredes, redes suspensas e cada moradia tem sua caixa de água,alguns dormem nesse espaço e outros constroem a parte, são feitas de madeira e alguns cobertos de palhas e zinco. Na maioria das moradias tem freezer e televisores. Imagem 08: Imagem 08: Atendimendo humanizado, com paciente especial. Fonte: Autor, 2020. Os especialistas tradicionais são o pajé (são os que rezam e realizam pajelança), curandeiro (trabalha com ervas, benze, entre outros), rezador, feiticeiro (de magia branca e da magia negra). Tive algumas dificuldades com essas questões de cura deles no início, portanto, hoje eu busco auxiliar e passar confiança para um trabalho em conjunto. Trabalhamos com máximo de diálogo e explicações possíveis para que a confiança seja bilateral. (PACHECO, et al., 2010). CAPÍTULO 5 - ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E EPIDEMIOLÓGICOS DO "TERRITÓRIO RECORTE" ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E EPIDEMIOLÓGICOS DO "TERRITÓRIO RECORTE” Belém do Solimões - Tabatinga Esta pirâmide é um gráfico organizado para classificar a população de uma determinada localidade conforme as faixas de idade, dividindo-as por sexo. Esse gráfico é formado por barras superpostas que se concentram em torno de um eixo. As barras inferiores representam a população mais jovem e as barras superiores representam a população mais velha. Do lado direito do eixo, sempre se quantifica a população feminina e, do lado esquerdo, a população masculina, conforme o exemplo acima ilustrado. Figura 07: Figura 07: Piramide populacional de Belém do Solimões - Tabatinga. FONTE: siasi/agosto2020 As pirâmides populacionais são importantes no sentido de elaborarem um planejamento público a médio e longo prazo. Distribuição Populacional; # Etnias: Tikunas (maioria) e Kokamas -> População geral: 10077 pessoas - Número total de crianças < 5 anos: 346 - População >20 anos: 4297 - Número de mulheres entre 15 – 49 anos em idade fértil: 2201 - Número de mulheres entre 24 – 64 anos: 1472 - Idosos: 496 Taxa de natalidade; taxa de fecundidade total; mortalidade geral e proporcional. - Taxa de natalidade (TN) = (23,03/1000) Indica o número de nascimentos por mil habitantes no período de um ano. - Taxa de Fecundidade (TF) = (10,54%) Indica a média dp número de filhos que uma mulher tem durante sua idade fértil. - Coeficiente de Mortalidade geral (CMG) = (5,76/1000) Corresponde ao número de óbitos anuais por mil habitantes. Indicadores de saúde Instrumentos utilizados para medir uma realidade, como parâmetro norteador, intrumento de gerenciamento, avaliação e planejamento das ações a saúde, de modo a permitir mudanças nos processos e resultados. - Prevalência de Tuberculose (novos e antigos) = (39,69/1000) - Incidência de Tuberculose= (9,92/1000) - Prevalência de COVID 19= (0,66%) - Prevalência Diabetes mellitus= (0,12%) - Prevalência Hipertensão arterial= (1,47%) - Coeficientes de mortalidade infantil (CMI); Número de óbitos de menores de um ano de idade, expresso por mil nascidos vivos, em determinado local e período. CMI= 2 (8,62/1000) CMI neonatal= 3 (12,93/1000) CMI pós natal= 5 (21,55/1000) No Polo Belém do Solimões o uso dos indicadores de saúde, que permitem, entre outras coisas, a comparação das mudanças ocorridas na população que assistimos ao longo do tempo. Anteriormente nessa comunidade não havia nenhum sistema de tratamento de água e devido a essa ausência o números de casos de doenças como diarreias, enfermidades dérmicas, entre outras, eram extremamente elevadas. Com a instalação da estação para tratamento da água esse número sofre uma queda considerável, contudo, seguem elevados principalmente em épocas de chuvas constantes e seca. (FARIA, 2016). Os indicadores de mortalidade infantil são relativamente baixos, isso se deve ao bom cumprimento do calendário de vacinação, inúmeras cobranças sobre alimentação frequente e adequada que nem sempre é seguida pelo razão dos hábitos de alimentação adquiridos dos não-indígenas, cuidados em questão de higiene, entre outros. (FARIA, 2016). Atenção à saúde (saúde da mulher, vigilância alimentar e nutricional, etc.) - Número de mulheres que realizaram PCCU (25 – 64 anos) = 76 - Cobertura do programa de controle do câncer do colo uterino= 5,16% - Estado nutricional < 5 anos ◇MBPI = (6,07%) ◇ BPI= (24,57%) ◇ PAI= (453,47%) ◇ PEI= (3,47%) Estatura / idade - Muito baixa estatura para idade= (9,86%) - Baixa estatura para idade= (22.81%) - Estatura adequada para idade= (67.33%) Prevalência de cárie dentária= 193 Total de crianças atendidas= 1714 Prevalência de obesidade em adultos = (2,49%) Saneamento básico Na Comunidade Belém há uma estação de água que libera água à maioria das Comunidade e naquelas que tem UBS há abastecimento de água por poço artesiano. Não há lugar apropriado para excreta de lixos, geralmente eles queimam ou fazem um buraco e vão jogando e isso é um das causas que levam a disseminar doenças dermatológicas e diarreias pois a agua passa por esses lixos e as crianças brincam descalças e assim ocorre a contaminação, gerando doenças. Os sanitários são estruturas feitas de madeira com um buraco no meio (mictórios), não há sistema de esgoto, as balsas que ficam no rio também não tem esse sistema e são excretados diretamente no rio espalhando a contaminanção e causanso patologias. Imagem 08. Imagem08: Sistema de abastecimento de água e excreta de lixo; FONTE: Dr. Aline/abril2020 Sistemas de informação; Sistemas de informações da Atenção à Saúde Indígena (SIASI). Programas desenvolvidos; HIPERDIA, Saúde mental, Saúde bucal, Saúde da mulher, saúde da criança, Imunização, SISVAN, Saúde do idoso, Endemias, Programa de Controle da Tuberculose, Saúde do Homem, Doenças em eliminação, Saúde do idoso, Vigilância epidemiológica e óbito, IST/Sífilis/HV, entre outros. (SILVA, et al., 2015). As Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) atuam em todo o País e cada equipe é composta por Médico, Enfermeiro, Dentista, Auxiliar de Enfermagem, Auxiliar de Saúde Bucal e pelos agentes indígenas de saúde e de saneamento. No entanto, cada programa tem suas particularidades e a questão do trabalho em equipe é de grande valia e facilita para o bom desempenho de cada programa. CAPÍTULO 6 - REDE EXPLICATIVA E PLANO DE SOLUÇÕES DE UM PROBLEMA DE SAÚDE DO "TERRITÓRIO RECORTE" Esse período de planejar uma gestação é tão importante quanto o pré-natal em si, pois engloba aconselhamento, educação em saúde, prevenção de complicações e visa reduzir riscos e iatrogenias. Na medida em que uma gestação é planejada, os cuidados iniciam-se bem antes, com introdução de ácido fólico, cessação de alcoolismo, drogas, tabagismo e de alguns fármacos teratogênicos, controle de doenças crônicas, preparo psicológico para essa nova realidade socioeconômica, além de conversar sobre gestação de alto risco, momento do parto e aleitamento materno. O objetivo do pre-natal e dessa assistência é atender aos interesses maternos e fetais de forma humanizada. Para isso, precisamos conhecer a idade gestacional, o quadro de saúde prévio dessa mãe, se houve planejamento da gestação, quais riscos essa mãe e seu feto podem ter, realizar avaliação longitudinal do organismo materno, diagnósticos e terapêuticas precoces a fim de reduzir morbidades e mortalidade. Esse período de planejar uma gestação é tão importante quanto o pré-natal em si, pois engloba aconselhamento, educação em saúde, prevenção de complicações e visa reduzir riscos e iatrogenias. Na medida em que uma gestação é planejada, os cuidados iniciam-se bem antes, com introdução de ácido fólico, cessação de alcoolismo, drogas, tabagismo e de alguns fármacos teratogênicos, controle de doenças crônicas, preparo psicológico para essa nova realidade socioeconômica, além de conversar sobre gestação de alto risco, momento do parto e aleitamento materno. O objetivo do pre-natal e dessa assistência é atenderaos interesses maternos e fetais de forma humanizada. Para isso, precisamos conhecer a idade gestacional, o quadro de saúde prévio dessa mãe, se houve planejamento da gestação, quais riscos essa mãe e seu feto podem ter, realizar avaliação longitudinal do organismo materno, diagnósticos e terapêuticas precoces a fim de reduzir morbidades e mortalidade. Ao longo das últimas décadas, mudanças de comportamentos importantes vêm acontecendo entre os jovens e principalmente os indígenas, dentre elas, está o início precoce da vida sexual. Como consequência disso, surgem a gravidez indesejada na adolescência, não há um planejamento familiar, as doenças que são contraídas pelo sexo sem proteção, os abortos e até mesmo óbitos por suas complicações (DO NASCIMENTO, 2020). Para a população indígena, caracterizada como um segmento em situação com maior vulnerabilidade, apresentando alta prevalência de gravidez não planejada e elevada razão de mortalidade materna (RMM), preconiza-se que a atenção pré-natal seja feita em todas as gestantes da tribo Tikuna. Os profissionais de saúde devemos instruir a população a realizar o acompanhamento do pré-natal com uma forma rotineira, para evitar qualquer complicação, como também devemos prepara-las para receber mais um integrante na família de forma tranquila. O planejamento é imprescindível uma vez que diminui o risco de mortalidade materno infantil, pois possibilita acompanhar a futura gestante mesmo antes da concepção. (ANTONIO, 2019). A questão cultural indígena é uma barreira difícil de ser transposta, e exige paciência dos médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, educadores, agentes comunitários indígenas, e outros profissionais que têm contato com o público indígena e as informações (educação sexual) devem ser repetidas incansavelmente por todos. É interesse de todos os profissionais, e da comunidade, a evolução positiva dos dados epidemiológicos; como diminuição da taxa de mortalidade materno-infantil, agravos durante o período gestacional, diminuição do analfabetismo e da desocupação, diminuição de transtornos psicológicos e psiquiátricos (principalmente no pós-parto), redução do abandono familiar pelos genitores. São inúmeros os benefícios com este plano, no que tange à comunidade, como também para os profissionais que fazem parte dela. Soluções: Sensibilizar a equipe de saúde sobre a importância a orientar os a comunidade indígena sobre o cuidado pré-concepcional durante o planejamento familiar; Implementar capacitação com a equipe de saúde indigena sobre o cuidado pré- concepcional durante o planejamento familiar; Articular reuniões e oficinas de sensibilização com a população feminina sobre o cuidado pré-concepcional durante o planejamento familiar. Saber orientar o uso dos diferentes métodos contraceptivos, para a população indígena. Saber identificar as situações em que é permitida a esterilização cirúrgica com base na legislação vigente. CAPÍTULO 7 - REFLEXÃO SOBRE UMA ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO “TERRITÓRIO RECORTE” Esporadicamente são oferecidos treinamentos aos Agentes Indígenas de Saúde e Agentes Indígenas de Saneamento visando aproximação com as famílias indígenas e na tentativa da melhora da qualidade de vida da população. Lembramos qual as atuações dos AIS e AISAN se relacionam diretamente com programas de promoção de saúde, vacinações, acompanhamentos pré-natal, acesso a água de qualidade, enfim configuram-se em peças chave par o desenvolvimento das populações e erradicação de doenças, agindo como promotores de saúde e precursores de cidadania. Com o fito de minimizar as problemáticas identificadas durante o trabalho, considerando que a despeito de serem encontradas diversas situações que não poderiam ser resolvidas apenas com a educação para a saúde, principalmente nas questões socioeconômicas e de infra estrutura, havemos que considerar a interação da equipe de saúde com a comunidade com o intuito de resgatar as raízes culturais e principalmente de "auto estima" da população. O trabalho de educação em saúde deverá ser desenvolvido nas seguintes etapas: Quadro 01: Planos de ações desenvolvida no território do DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA ALTO RIO SOLIMÕES. Situação problema OBJETIVOS METAS/ PRAZO AÇÕES/ ESTRATÉGIAS RESPONSÁVEIS Incentivo ao planejamento familiar e a oferta de insumos. Sensibilizar os profissionais de saúde indígena e os demais componentes das redes de atenção sobre a importância e efetivação do planejamento familiar Articular com os profissionais de saúde local e fomentar o plano operativo. Período: 1 mês Construção do diagnóstico situacional de saúde da comunidade. profissionais e saúde; Informações sobre a situação territorial de mulheres em idade fértil. Realizar diagnostico territorial da área referida em mulheres em idade fértil Realização levantamento situacional de mulheres em idade fértil. Prazo; 02 meses. Levantamento e convite a essas mulheres a participarem da oficina. Mobilização dessas usuárias do serviço. ACSI Reconhecer por parte dos profissionais de saúde quanto a importância do planejamento familiar e as abordagens a essas mulheres indígenas Realizar capacitação de todos os profissionais da estratégia da família sobre os métodos contraceptivos e abordagens com mulheres em idade fértil para darem início o planejamento familiar Profissionais capacitados para trabalhar abordagens com mulheres em idade fértil com objetivo de incentivar essas mulheres a procurar os serviços de saúde, repassar orientações sobre o planejamento familiar e o uso dos métodos contraceptivos. Prazo; 02 meses Realizar oficinas sobre os métodos contraceptivos planejamento familiar. Equipe de saúde. Não um ambiente adequado para a realização dos partos Ter uma sala exclusiva e adaptada para a realização de partos. Além das parteiras, ter um profissional obstétrico na comunidade. Realizar uma solicitação para a Funasa dos matérias e da sala. Definitivo Todos os profissionais da equipe. CONSIDERAÇÕES FINAIS É plausível concluir que está hipotética temática está presente em toda a comunidade indigena, ponderando que a gravidez não planejada é uma aparência real, mas nem sempre é maléfica, mesmo que esteja unido à fragilização das vinculações familiares. É necessário que este tema seja abrangido diariamente no DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA ALTO RIO SOLIMÕES-, que passamos a dialogar mais sobre educação sexual, informação para que se possa pensar em prevenção. Além de analisar que reprodução histórica familiar auxilia para uma gravidez não planejada, onde essas histórias acontecem de geração em geração. Nota-se que a educação na saúde básica são meios responsáveis por esse procedimento, apesar disso, são indispensáveis atos humanos em circunstâncias sólidas, para agir e/ou elevar condições e informações que venham a satisfizer os equívocos e agitações dos adolescentes sobre suas mudanças. Acredita-se que quando o jovem ou adulto tem uma boa conversação com o seu parceiro ou procura um profissional de saúde para que promove esclarecimentos sobre como se prevenir, o tempo certo em que o corpo está apto para ter relações e gerar uma criança, há uma baixa probabilidade de gravidez precoce, ISTs, além de oportunizar a população seno adolescentes, jovens e adultos a contemplarem seus próprios corpos. Diante de tudo isto, nota-se que apenas com a promoção aos métodos, o conhecimento, e a educação, assim como a conscientização e a administração para o uso de contraceptivos, são as únicas formas de combater e precaver a gravidez não planejada. Assim, não vale a pena engravidar por distração ou ignorância. As informações e orientações técnicas são indispensáveis e precisam ser dados a todos que já tem uma relação sexual ativa. Os programas voltados em educação sexual vêm conduzidos e exercendo papel fundamental, visto na aldeia indígena, aceitaram bem as orientações da equipe de saúde (EMSI) onde foi possível circular as informaçõesobtidas na comunidade sobre a sexualidade. Não podemos de deixar de citar que é muito importante que além disso, que os adolescentes sejam orientados por um profissional de saúde quanto à escolha do melhor método anticoncepcional. Com conversa e orientação não apenas sobre reprodução e sexualidade humana, mas ainda, sobre valores como afeto, amizade, amor, intimidade e respeito ao corpo e à vida aceitará que se compreendam mais preparados para receber as alegrias e encargos da vida sexual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Nayara Cristina de Carvalho et al. Complicações na gestação em mulheres com idade maior ou igual a 35 anos. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 38, n. 4, 2017. ANTONIO, Julia Camille Santos; DEZOTI, Ana Paula; SCUSSIATO, Louise Aracema. 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