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Contexto Histórico do Conto

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Conto uma narrativa curta 
 
Conto vem do latim “computus” tem o significado associado à cálculo, conta, 
matemática, e “Commentum” que significa invenção, primeira pessoa do 
singular no presente do indicativo do verbo “contar” narrar. Segundo Vladmir 
Propp em seu livro Morfologia do Conto Maravilhoso: “ do ponto de vista 
morfológico podemos chamar de conto de magia, a todo desenvolvimento 
narrativo que, partindo de um dano ou carência e passando por funções 
intermediárias , termina com o casamento ou outras funções utilizadas como 
desenlace. A função final pode ser a recompensa, obtenção do objeto procurado 
ou, de modo geral reparação do dano, o salvamento ou perseguição”( Cap. 1 
para um histórico do problema – pag. 12) . Aqui ele se refere ao “Conto de Magia” 
que engloba, contos de fadas, fábulas, contos de costumes, raiz da origem do 
que hoje conhecemos como “Conto”. O conto como já mencionado é o ato de 
“narrar” uma determinada história, seja de forma escrita ou contada oralmente. 
O conto antecede a escrita o conto talvez tenha sido um meio, do povo explicar 
sua origem, sua história, como acontece na rica mitologia grega, um mundo de 
Deuses criados pela imaginação do povo, uma forma de explicação para 
fenômenos da natureza até então inexplicáveis, como acontece também na 
cultura indígena, e classificados como “mitos” . Mas por conta de ter sua origem 
em relatos orais o denominado “conto popular”, na idade média por exemplo, 
eram histórias contadas à noite de frente à uma fogueira, os camponeses se 
reuniam para compartilhar histórias que ouviam de seus avós, e passavam para 
seus filhos, e assim sucessivamente. As histórias eram passadas oralmente de 
geração após geração, com modificações ou aumento de informações, mas sem 
perder a originalidade. Um exemplo disso é o conto da Branca de neve, que era 
contado de forma oral em toda há Europa, mas que foi escrito em alemão 
“Schneewittchen” pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. Em algumas versões 
desse conto mais antigas, a bruxa má invejosa nada mais é que a mãe da 
princesa, e há relatos de que eles teriam se baseado numa personalidade 
histórica para compor o conto, a baronesa Maria Sophia Margaretha Catharina 
Von Ertha, a história de Sophia era bem conhecida no século 19 inspirando 
assim os irmãos Grimm há produzir o núcleo do conto, segundo o diretor do 
museu Diocesano de Bamberg que recebeu a lápide de Sophia perdida há muito 
tempo. 
Nesse exemplo pode-se notar que contos podem ser de fato baseados fatos 
reais para um embasamento fictício, e também vai se modificando com o passar 
do tempo, mas a ideia principal permanece. Tanto que os contos “maravilhosos” 
os famosos contos de fadas como foi citado acima, saíram da tradição oral para 
a escrita, e foram sofrendo adaptações para livros, cinema e quadrinhos. 
Do Mito/Lenda ao Conto 
“Os mitos mais arcaicos, formam domínio onde os contos tem sua 
longínqua origem” ( PROPP, Vladimir Morfologia do Conto Maravilhoso. Pág 
90). Segundo Propp a origem do conto está de forma totalmente relacionada com 
o mito, mas como desde sempre povos antigos recorriam a Deuses para explicar 
fenômenos da natureza até então inexplicáveis, como acontece com “a lenda da 
mãe d'agua” com diversas versões nas mais variadas culturas, na cultura 
indígena em Tupi, Yara significa “mãe das águas” Yara era uma linda Índia, pele 
cor de jambo e faces delicadas se banhava com frequência nas praias do rio 
Amazonas, mas que em um dia infeliz foi cruelmente violentada por homens 
brancos, que falavam uma língua estranha, os espíritos das águas com enorme 
pena de Yara, a transformaram em sereia, metade peixe, metade humana para 
protege-la daqueles que querem lhe fazer mal, passa a morar nas águas e o seu 
canto maravilhoso atrai os homens de forma apaixonada para o fundo das águas. 
É uma lenda, que pode ter um fundamento na realidade, ao observar 
historicamente as invasões no período do descobrimento do Brasil e violências 
que os portugueses praticavam contra os residentes da terra. Outro mito muito 
conhecido é de origem africana, é o culto há Iemanjá, no Brasil á um dia dedicado 
a ela onde fiéis colocam oferendas no mar, “Diz a lenda que seus seios se 
tornaram maiores e mais fartos devido a amamentação de todos os seus filhos, 
característica que gerou à ela grande vergonha. Cansada de seu casamento, 
Iemanjá decidiu deixar seu esposo e seguir em busca de sua própria felicidade. 
Após algum tempo, ela se apaixonou pelo rei Okerê, com quem viveu uma 
história nada feliz. Contos revelam que, em um certo dia, após beber demais, 
Okerê se referiu aos seios de Iemanjá de maneira grosseira, o que fez com que 
ela fugisse decepcionada. Para escapar da perseguição de Okerê, Iemanjá fez 
uso da poção dada por seu pai. Assim a Rainha do Mar se transformou em um 
rio que encontra o mar. Observa-se que ao se entristecer com as ofensas 
domésticas do marido em relação à aparência, utiliza de uma porção mágica e 
transforma-se no próprio mar, nas duas lendas tanto ao da Yara quanto ao de 
Iemanjá, nota-se semelhanças até mesmo na grafia, porque Yara pode ser 
escrita com “I” ou “Y” da mesma forma acontece com Iemanjá, o fato das 
personagens serem mulheres e que sofreram alguma violência, e encontraram 
refúgio pra essa “violência” seja verbal ou física nas águas as aproxima. Na 
mitologia grega, há Poseidon, filho de Cronos, o Deus grego que tem total 
domínio dos mares, no poema de Homero “Odisséia” que conta as aventuras de 
Odisseu um mortal muito forte e orgulhoso de seus feitos terrenos, tão orgulhoso 
que ganha a inimizade de Poseidon pelo fato de não reconhecer a ajuda dos 
Deuses, Poseidon irado com Odisseu dificulta sua viagem de volta pra Ítaca, o 
herói fica dez anos tentando voltar para casa, pois a fúria dos mares impede seu 
trajeto. Essa já é uma lenda uma justificava ao mau tempo e complicações no 
caminho, mas que o povo relacionava com a fúria dos Deuses, o ponto em 
comum que os as lendas e o mito de Poseidon, que descrevi possui a visível 
relação com a água, um fenômeno da natureza, e que é explicado há muitos 
anos através de mitos oralmente o seu surgimento. 
Lenda vem do latim legenda e pode ser entendida como tudo que pode 
ser lido, mito do grego mythos é a história de uma criação, possuindo caráter 
simbólico, diferente do conto de fadas, como citei acima da Branca de Neve que 
é composto por uma protagonista que enfrenta um determinado problema 
causado pela antagonista, onde prevalece valores mais “humanos” é a partir daí 
que o conto vai deixando de ser mito. Como na estória de Odisseu, ele é um 
mortal, é uma história derivada da rica mitologia. Segundo Propp : “ o conto não 
é um mito residual, por subsistir sozinho, o desaparecimento dos mitos rompeu 
o equilíbrio”. (PROPP, Vladimir pág 21). Portanto conclui-se que o conto que era 
passado oralmente, tem sua origem em mitos e lendas antigas. 
 
Primeira Fase Escrita 
 Sua primeira fase escrita é provavelmente aquela em que 
os egípcios registraram O livro do mágico (cerca de 4 000 a.C.). Daí vamos 
passando pela Bíblia – veja-se como a história de Caim e Abel (2 000 a.C.) tem 
a precisa estrutura de um conto. Caim e Abel, ambos filhos do pecado de Adão 
e Eva á estória é introduzida pela inveja que que Caim sente de Abel, dando 
origem ao primeiro assassinato do mundo segundo a Bíblia Sagrada. “ Agora 
serás amaldiçoado pelo próprio solo que engoliu o sangue do teu irmão 
derramado por ti. Quando cultivares o solo ele negará o seu sustento e virá a ser 
um fugitivo errante sobre a terra”. ( Gênesis, cap 4 – 11:13). É uma narrativa 
curta com teor simbólico e moralizante, enquanto a estrutura é composta por 
dois personagens um narrador, o sentimento de inveja que é desencadeado em 
Caim pode-se ser comparado como o motivo pelo qual a maioria dos vilões 
perseguem os heróis,ou princesas como no conto da Branca de Neve, 
Cinderela... e por causa disso mata o irmão, o momento do assassinato é o 
clímax a maior tensão da história, e é concluída com a maldição que Deus 
derrama sobre ele e lhe conduzindo destino de fugitivo, como é mencionado na 
passagem acima. Tanto o antigo como o novo testamento trazem muitas outras 
histórias com a estrutura do conto, como os episódios de José e seus irmãos, 
de Sansão, de Ruth, de Susana, de Judith, Salomé; as parábolas: o Bom 
Samaritano, o Filho Pródigo, a Figueira Estéril, a do Semeador, entre outras. 
Edgar Allan Poe e o Gênero da Ficção Curta (1809 – 1849) 
Foi poeta, ficcionista crítico literário e editor, como escritor é um dos percusores 
da literatura de ficção científica e fantástica tendo atuado como crítico e editor, 
Poe foi o primeiro a refletir a respeito da ficção curta, a primeira teoria do conto 
surgiu nos Estados Unidos, argumentava que o conto traz vantagens peculiares 
sobre o romance, é mais refinado que o ensaio e em alguns pontos é superior à 
poesia. Para ele a brevidade excessiva no conto seria censurável, Essa 
condição brevidade e tensão segundo Poe, origina o que se chama de 
“conto de acontecimento”. Entretanto a extensão excessiva deve ser ainda 
mais evitada. O autor defendia que, enquanto a beleza é o objetivo da poesia, a 
verdade é o objetivo do conto. 
Poe valoriza o término da história, ou seja, algo que surpreenda o 
leitor, geralmente um evento inesperado em seu fim. Influência máxima 
do horror pelos demais escritores que foram influenciados por ele, segundo Poe: 
“ Se alguma obra literária é longa demais para ser lida, de uma assentada 
devemos resignar-vos a dispensar o efeito imensamente importante que se 
deriva da unidade de impressão, pois se requerem duas assentadas os negócios 
do mundo interferem e tudo o que se pareça com totalidade é imediatamente 
destruído.” ( POE. Edgar Allan, Filosofia da Composição. 1999.) De acordo com 
essa afirmação quando a obra é muito extensa, a facilidade de dispersa-se em 
relação as demais coisas é comum, não possui um efeito de impressão imediato, 
como nas narrativas curtas, a seguir um pequeno trecho de um de seus contos 
que afirma as assertivas já mencionadas acerca do escritor. 
O POÇO E O PÊNDULO 
Aqui por muito tempo os impiedosos torturadores nutriram o insaciável furor da 
turba pelo sangue dos inocentes. Agora que a pátria está a salvo, e o antro 
fúnebre foi destruído, onde antes havia morte surgem vida e bem-estar. (Quadra 
composta para os portões de um mercado a ser erguido no local onde ficava o 
Clube dos Jacobinos, em Paris.) Eu estava esgotado — mortalmente esgotado 
por aquela longa agonia; e quando enfim me desataram, e foi-me dada a 
permissão de sentar, percebi 
que os sentidos me faltavam. A sentença — a pavorosa sentença de morte — 
foi a última de distinta articulação a chegar aos meus ouvidos. Depois disso, o 
som das vozes inquisitoriais pareceu fundir-se em um único murmúrio vago e 
onírico. Ele transmitia à alma a ideia de rotação — talvez por associar-se em 
minha imaginação ao rumor de uma roda de moinho. Isso por um curto período, 
apenas; pois em breve nada mais ouvi. E contudo, por um tempo, eu vi; mas com 
que terrível exagero! Vi os lábios dos juízes em seus mantos negros. Pareceram-
me brancos — mais brancos que a folha em que traço estas palavras — e finos 
ao ponto mesmo do grotesco; finos com a intensidade de suas expressões de 
intransigência — de inamovível determinação — de austero desprezo pelo 
suplício humano. ( POE. Edgar Allan. Contos de imaginação e mistério, 2012. 
SP. LTDA). [...] 
No trecho desse conto de Poe, é notável algumas de suas características 
marcantes como escritor e contista, o terror psicológico a capacidade de entrar 
na psique humana, narrado em primeira pessoa tem seu enredo voltado para as 
angústias e sofrimento do personagem que apresenta um drama emocional 
acerca da morte e do julgamento na inquisição. Ao contrário dos Contos de 
fadas, em que o enredo é voltado para um herói ou heroína descrevendo suas 
aventuras, e complicações causadas por um vilão ou vilã, e das Fábulas sempre 
tendo animais como personagens e com finais moralizantes o conto abandona 
essas características, e passa a adotar o fantástico e psicológico para elaborar 
o enredo, e não tem como existir sem um acontecimento extraordinário — o 
crime — e um final surpreendente — a revelação do criminoso —, manejados 
para causar no leitor um efeito único e intenso: a surpresa. 
De Tchekhov à Cortázar 
Brevidade e Cotidiano 
“ A brevidade é irmã do talento” – Anton Tchekhov 
Um importante precursor das formas e da linguagem artística contemporânea foi 
Anton Tchekhov (1860-1904) ficou consagrado como o mais ousado 
transgressor da tradição literária clássica e um importante precursor das formas 
e da linguagem artística contemporânea. O escritor de múltiplas faces, 
Tchekhov, antes de tudo, é um reconhecido mestre de narrativas curtas. Se 
dedicou a um tratamento irônico á pequenos dramas cotidianos e desenvolveu 
um estilo coloquial e conciso. Em á Teoria do Conto Nádia Battella Gotlib relata 
que foi de Anton Tchekhov a missão de libertar o conto de um dos seus 
fundamentos mais sólidos: o do acontecimento originalizado por Poe, para 
afirmar de forma mais concisa a visão do autor em relação ao gênero foi 
destacado um trecho de um dos seus contos. 
A Linguaruda 
Natália Mikailovna, senhora garbosa e ainda jovem, chegou pelo trem de Jalta, 
onde passara o verão. Depois, durante o jantar falou sem parar, descrevendo as 
belezas daquela região. O marido, feliz com o retorno da esposa, a observava 
com os olhos cheios de ternura, ante a excitação dela, limitando-se apenas a 
fazer algumas perguntas esporádicas. 
– Ouvi dizer que a vida lá está muito cara… – observou ele. 
 – Cara? Como vou dizer? Não é tão cara quanto dizem. Eu tinha com a Júlia 
Petrovna, um bom apartamento, bem confortável, por vinte rublos por dia. 
Precisa saber se controlar. Se vai se fazer um passeio aos montes, por exemplo 
ao Al-Ptri, se gasta mais… O cavalo, o guia… Tudo isso encarece, e muito… 
Mas, querido, que belos montes! Tu não imaginas como são altos! Mil vezes 
mais altos que a igreja… E em cima, neve! Nada mais do que neve… Embaixo, 
pedras, apenas… Ah, que beleza… 
 – A respeito disso, durante a sua ausência, fiquei preocupado quando li a 
respeito das crueldades praticadas pelos guias… Não é verdade que são 
perversos? 
 Natália fez uma careta e balançou a cabeça, negativamente. 
– São como todos os tártaros – respondeu ela. – Além disso, só os vi de longe, 
uma ou duas vezes… Falaram a esse respeito, mas não dei muita importância… 
Sempre senti aversão aos circassianos, aos gregos, aos mouros… 
– Me parece que são uns espertalhões… 
– Pode ser… Mas tem algumas sem vergonhas que… 
Seu semblante se transtornou e ela chegou a se levantar, como se visse o diabo. 
Encarou o marido com os olhos dilatados: 
– Vasitchka! Tu não imaginas quantas mulheres levianas há no mundo! Que 
imoralidade! E não de classe baixa ou mesmo média, não! Aristocratas da alta!… 
Eu não acreditava no que via! Nunca mais vou esquecer! Só quem não tem 
princípios pode chegar a esse ponto… E nem me atrevo a contar! Veja só a Júlia 
Petrova, minha companheira de viagem… Tem um marido tão bom, dois filhos, 
considerada da melhor sociedade… Quer passar por uma santa, mas sabes o 
que fazia? Tu não vais acreditar! Mas que fique entre nós… Me dás a palavra de 
https://contosdocovil.wordpress.com/2008/06/14/402/
honra que não dirás a ninguém! – Ora, que idéia! Vou contar para quem? 
 – Bom, vou confiar em ti! [...]. 
 
Observa-se que no conto predomina fatores cotidianos, a simples conversa da 
mulher que acaba de chegar de viagem com o marido, isso transforma o texto 
em uma leitura leve, sem grandes aprofundamentospsicológicos. O conto é 
uma narrativa livre, não acontece nenhum fato que o leve a um acontecimento 
fantástico, possui dois personagens é narrado em terceira pessoa, e o tema 
central é à fofoca cotidiana. A personagem começa a contar um fato que termina 
em outro, fala demais, característica que está presente no título, sendo uma 
característica externa humana que é logo associado à mulher. 
 
Intensidade e Tensão 
 
“ Gênero de tão difícil definição tão esquivo nos seus múltiplos e antagônicos 
aspectos e, em última análise tão secreto e voltado para si mesmo, caracol da 
linguagem irmão misterioso da poesia em outra dimensão do tempo literário. ( 
CORTÁZAR, Júlio. Válise de Cronópio, 2006.SP, Pag 149). 
 
Júlio Cortázar escritor argentino (1914 – 1984) mestre do realismo fantástico, 
corrente literária que uniu a realidade ao mundo mágico. Segundo Cortázar para 
entender o caráter peculiar do conto costuma-se compara-lo com o romance, 
gênero muito mais popular ao se desenvolver no papel sem um limite específico, 
entretanto o conto parte da noção de limite físico, tanto que na França quando 
um conto ultrapassa as vintes páginas toma já o nome de “nouvelle” gênero que 
fica entre o conto e o romance, então o romance e o conto podem ser 
comparados com o cinema e a fotografia, um filme de início possui uma ordem 
aberta, enquanto a fotografia bem realizada possui uma determinada limitação 
prévia, o fotógrafo e o contista sentem necessidade de escolher e limitar um 
acontecimento que seja significativo, que seja capaz de atuar no espectador ou 
no leitor uma espécie de abertura, projetando a inteligência e sensibilidade em 
direção a algo que vai muito além do argumento visual ou literário contido na foto 
ou no conto. 
“Um conto é ruim quando é escrito sem essa tensão que se deve manifestar 
desde as primeiras palavras”. ( CORTÁZAR, Júlio pág. 152). Aqui Cortázar volta 
com as ideias de Poe em relação a intensidade e tensão da produção de um 
conto, que são ingredientes fundamentais para uma boa obra literária. 
 
Cortázar também argumentou acerca do tema, de que o conto precisa irradiar 
alguma coisa além dele mesmo, ou seja não basta escrever uma narrativa por 
demasiada simples sem nenhum significado nas entrelinhas, pois desta forma a 
obra não satisfaz a busca de uma interpretação sagaz e inteligente para o leitor. 
Caso contrário se transforma em uma obra sem grandes reflexões e é 
rapidamente esquecida. 
 
“No meu caso a grande maioria dos meus contos, foram escritos 
independentemente da minha vontade, por cima ou por baixo de minha 
consciência, como se eu não fosse mais que um meio pelo qual passava a se 
manifestar uma ideia alheia.” (CORTÁZAR, Júlio. Pág. 154) . Neste fragmento 
ele declara o momento da inspiração ao escrever, em que o autor não usa a 
ideia, mas a ideia que usa o autor, que segundo Poe a verdadeira inspiração 
seria moldada através do exercício da razão e não de sentimentalismos. 
 
“Se os contos não nasceram de uma profunda vivência, sua obra não irá além 
do mero exercício estético”(CORTÁZAR, Júlio. Pag 162). Observa-se que a obra 
e escritor possuem uma relação que influenciará o leitor, não basta corresponder 
aos valores estéticos, é necessário um conteúdo puro sem superficialidade e 
com intensidade necessária para arrebatar o leitor no enredo 
 
Conto Contemporâneo 
Como já foi apresentado o conto é um gênero narrativo tradicional estruturado 
como uma narrativa curta, nessa perspectiva o momento de maior tensão do 
gênero é o clímax. Além disso, embora não seja uma regra, é comum que o 
conto apresente: narrador e poucos personagens, espaço ou cenário limitado, 
recorte temporal reduzido. Existe algumas subcategorias do gênero é 
possível destacar: 
Contos Fantásticos – conto fantástico é uma narrativa curta, com um conflito 
único e que apresenta, em seu enredo, acontecimentos inexplicáveis à lógica 
tradicional o conto fantástico, por sua vez, além das definições já citadas, 
também possui em seu enredo acontecimentos inexplicáveis pela ciência e 
também não explicados na lógica interna da narrativa. 
O fato de o enredo circular em torno de um único conflito é uma das 
características definidoras do gênero. Para ser considerado fantástico, um texto 
literário deve envolver um conflito cujos acontecimentos envolvam algo 
inexplicável. Um personagem que morre e volta à vida sem razão aparente ou 
uma garota que segue um coelho falante e entra em um mundo totalmente 
diferente da realidade como acontece em Alice no país das maravilhas, ou em 
como uma fada madrinha pode transformar de maneira mágica, uma abóbora 
em uma carruagem de luxo como acontece com o conto da Cinderela, exemplos 
de conflitos típicos da literatura fantástica nesta categoria também está incluso 
o Conto de fadas. 
Contos Psicológicos – Possui uma narrativa curta é uma realização 
contemporânea da forma literária nascida no século XIX, gera uma espécie de 
desconcerto: ao final, ficamos em dúvida quanto a que história de fato foi 
contada. De forma paralela na história que se encontra mais visível para o leitor 
sugere um enigma, as vezes é revelado no final, mas há contos em que isso 
jamais acontece. O conto psicológico apresenta em geral uma ação exterior 
menor que o drama interior se desenrola, ou seja diante da formação de um 
conflito psicológico que geralmente se justifica no final. Uma autora famosa por 
esse tipo de enredo é Clarice Lispector, em destaque um de seus contos que 
ressalta bem características desse gênero: 
Encarnação involuntária 
Às vezes, quando vejo uma pessoa que nunca vi, e tenho algum tempo para 
observá-la, eu me encarno nela e assim dou grande passo para conhecê-la. E 
essa intrusão numa pessoa, qualquer que seja ela, nunca termina pela sua 
própria autoacusação: ao nela, me encarnar, compreendendo-lhe os motivos e 
perdoo.[...] 
Um dia, no avião... ah, meu Deus – implorei – isso não, não quero ser 
missionária! Mas era inútil. Eu sabia que, por causa de três horas de sua 
presença, eu por vários dias seria missionária. A magreza e a delicadeza 
extremamente polida de missionária já me haviam tomado. [...] No avião mesmo 
percebo que já comecei a andar com esse passo de santa leiga: então 
compreendo como a missionária é paciente, como se apaga com esse passo 
que mal quer tocar no chão, como se pisar mais forte viesse prejudicar os outros. 
Agora sou pálida, sem nenhuma pintura nos lábios, tenho o rosto fino e uso 
aquela espécie de chapéu de missionária. 
Quando eu saltar em terra provavelmente já terei esse ar de sofrimento-
superado-pela-paz-de-se-ter-uma-missão. E no meu rosto estará impressa a 
doçura da esperança moral. Porque sobretudo me tornei toda moral. No entanto 
quando entrei no avião estava tão sadiamente amoral. Estava não, estou! Grito-
me eu em revolta contra os preconceitos da missionária. Inútil: toda minha força 
está sendo usada para eu conseguir ser frágil. Finjo ler uma revista, ela lê a 
Bíblia. 
Vamos ter uma descida curta em terra. O aeromoço, distribui chicletes. E ela 
cora mal o rapaz se aproxima. Em terra sou uma missionária ao vento do 
aeroporto, seguro minhas imaginárias saias longas e cinzentas contra o 
despudor do vento. Entendo, entendo. Entendo-a, ah, como entendo e ao seu 
pudor de existir quando estar fora das horas em que cumpre sua missão. Acuso, 
como a missionariazinha, as saias curtas das mulheres, tentação para os 
homens. [...]. 
Narrado em primeira pessoa, possui uma única personagem. A narradora fala 
da forte relação que estabelece com pessoas desconhecidas que encontra, nota-
se que a a narradora não julga a personagem, tenta se colocar no lugar dela. Ela 
vai incorporando a missionária de forma interna, em sua imaginação. Ela 
encarna a missionária mas reage quando o personagem tenta domina-la. Ela 
não deseja torna-se igual só imagina as sensações e pudoresda cristã, como se 
estivesse num teatro apresentando uma cena, ou como um escritor que compõe 
um personagem se apossa dele, o imagina veste a capa dele por alguns dias, 
mas assim que a narrativa se encerra o vínculo é desfeito, o conflito interior que 
se forma quando a narradora/personagem ver a cristã é maior que o motivo da 
viagem, ou as demais pessoas que estão no avião, a narrativa é caracterizada 
Mário de por um monólogo interior, ela usa e tira a capa quando bem quer mas 
não faz parte dela, não á pertence aquele papel, ela olha imagina e tudo 
acontece de forma interna. 
Conto popular – 
Os contos populares são anônimos, de origem tradicional. Mas atualmente os 
contos populares são, antes de qualquer coisa, textos fixados pela escrita nas 
revistas folclóricas, nas recolhas dos estudiosos, nos livros para crianças. São 
clássicos do Brasil e Portugal, são contados pelos nossos avós e pais, e em 
comunidades pequenas, é uma forma interessante dos adultos disciplinarem as 
crianças para a vida, são os provérbios, adivinhações, frases-feitas, orações, 
cantos. Todas as vezes que em se aborda o tema da literatura oral ou popular, 
é comum relacioná-la com a literatura folclórica, porém, para Cascudo (1984, p. 
24), toda literatura folclórica é popular, mas nem toda literatura popular é 
folclórica. A diferença está, de acordo com o autor, num inevitável processo de 
descaracterização. Para que uma literatura seja folclórica, são necessários 
quatro fatores: antiguidade; persistência; anonimato; oralidade. Mesmo que seja 
um gênero de difícil definição os contos populares e o folclore se misturam e 
tornam-se um só, encantando gerações e acrescentando fatos maravilhosos e 
de aprendizado. Nesta categoria está incluso lendas folclóricas, urbanas... 
Contador de histórias X Contista 
O contador de histórias se preocupa com a cena, a maneira de expressar-se 
para prender a atenção do público em questão. Usa recursos artísticos como 
imitação de vozes(crianças, animais...) e até mesmo caracterização, dança 
recursos musicais. Enquanto o conto escrito, o contista se preocupa com estética 
da escrita, a linguagem literária e a capacidade de transformar um relato ou uma 
inspiração em um conto para ser lido em poucos minutos, a semelhança que 
caracteriza os dois profissionais é o tempo, quem conta tem que ser cativante e 
ao mesmo tempo breve porque uma história extensa é cansativa para o ouvinte. 
E quem escreve também por conta de questão de gêneros literários, o termo 
“contista” que é relativo à “contas” mas que também é aquele que escreve 
contos. Roberto Carlos Ramos é um exemplo muito forte do contador de histórias 
no Brasil, nasceu em Belo Horizonte em 20 de novembro de 1965 é 
um pedagogo e contador de histórias brasileiro. Sua história de vida inspirou o 
diretor Luiz Villaça em seu filme O Contador de Histórias. Roberto Carlos se deixou 
de ser menino de rua em Belo Horizonte, tornando-se personagem central de um 
filme, é contador de histórias reconhecido como um dos dez melhores do 
mundo, escritor e palestrante. Entretanto há contistas que são apenas contistas, e 
há aqueles que além de escrever gostam também de “contar” suas histórias. 
Miniconto, o conto atualizado. 
É uma espécie de conto muito pequeno, produção esta que tem sido associada 
ao minimalismo. O miniconto apresenta uma narração dentro de apenas uma 
linha. A ideia é que no mínimo de palavras possíveis, seja apresentado todo um 
contexto e uma ação em torno do pouco que é revelado por aquelas palavras. 
No livro Tudo No Mínimo – Antologia do Miniconto na Bahia Aleilton Fonseca na 
introdução teoriza a respeito do gênero, teria cerca de até 30 linhas no máximo 
uma lauda regular, excedendo essa margem, pode-se talvez admitir o “pequeno 
conto” que iria até 60 linhas. O microconto é com até 10 linhas e o nanoconto 
em uma única frase curta. Antônio Torres considera que o pioneiro deste tipo de 
narrativa foi Elias José(1936 – 2008) de acordo com Torres ele teria sido “o 
primeiro autor brasileiro a falar de minicontos. Sua estrutura é demasiadamente 
curta, no nanoconto é possível concluir uma narrativa em uma única frase por 
exemplo: 
 
AOS PÉS DO REDENTOR 
“ Mas o Rio de Janeiro continua lindo” – pensou o desempregado, antes de se 
atirar do Corcovado. Nesse nanoconto de Antônio Torres observa-se que apesar 
da beleza pela qual a Cidade é conhecida cidade maravilhosa, as margens da 
beleza infinitos problemas sociais, que se justifica bem no título. Esse tipo de 
narrativa tem o objetivo de surpreender ou espantar o leitor em questão, é 
necessária provocar tensão dando a possiblidade de interpretações, é uma 
provocação à imaginação do leitor. 
 
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Conto
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Minimalismo
Com o advento das novas tecnologias a possiblidade de leitura ficou muito vasta, 
sendo possível ler tanto em livros físicos, como em e-books em livros onlines nos 
aplicativos, que uni o público ao seu autor. Hoje as pessoas lêem mais, seja 
através de um post no Instagram às notícias do twitter, a compra de livros via 
internet aumentou, enfraquecendo assim a forma de literatura oral, ao invés de 
lerem historinhas para os filhos, os pais dão de presente video games, e os 
demais aparelhos tecnológicos que vão se atualizando num piscar de olhos os 
contos de fadas foram todos adaptados pela Walt Disney, livros transforma-se 
em séries e filmes e o conto por ser um gênero menor que o romance vem 
ganhando destaque pela praticidade das novas tecnologias, textos curtos 
rápidos são usados para entreter ou levar a reflexão, vão se adaptando 
atualizando conforme o avanço da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
( PROPP, Vladimir 1. Morfologia do Conto Maravilhoso, Forense Universitária 
2001) 
https://conceito.de/conto 
https://conceito.de/conto
(POE, Edgar, Allan. Filosofia da Composição, poemas e ensaios. Trad. Mendes, 
Oscar, Amado Milton. SP, Globo, 1993) 
(CORTÁZAR, Júlio. Valise de Cronópio, São Paulo, Perspectiva, 2006, pág 147 
– 163) 
https://m.brasilescola.uol.com.br/literatura/oconto.fantastico.htm 
https://www.google.com/amp/mbrasilescola.uol.com.br/ampliteratura/o-
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(PEREYR, Roberval. FONSECA, Aleilton, Tudo No Mínimo: Antologia do 
Miniconto na Bahia. Itabuna, Mondrongo, 2018). 
(POE, Edgar Allan, Contos de Imaginação e Mistério, Alaúde Editorial LTDA, 1 
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https://www.revistaprosaversoearte.com/encarnação-involuntária-clarice-
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https://www.bbc.com/portuguese/geral-49214137 
https://ptwikipedia.org/wiki/conto 
https://escola.britannica.com.br/artigo/conto-popular/481300 
https://www.passeidireto.com/arquivo/17159715/pibid-conto-psicologico 
https://www.blogsenacsp.com.br/profissao-contador-de-historias 
( BELLIN, Greicy Pinto. Edgar Allan Poe e o surgimento do conto enquanto 
gênero de ficção, Universidade Federal do Paraná). 
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