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Conto uma narrativa curta Conto vem do latim “computus” tem o significado associado à cálculo, conta, matemática, e “Commentum” que significa invenção, primeira pessoa do singular no presente do indicativo do verbo “contar” narrar. Segundo Vladmir Propp em seu livro Morfologia do Conto Maravilhoso: “ do ponto de vista morfológico podemos chamar de conto de magia, a todo desenvolvimento narrativo que, partindo de um dano ou carência e passando por funções intermediárias , termina com o casamento ou outras funções utilizadas como desenlace. A função final pode ser a recompensa, obtenção do objeto procurado ou, de modo geral reparação do dano, o salvamento ou perseguição”( Cap. 1 para um histórico do problema – pag. 12) . Aqui ele se refere ao “Conto de Magia” que engloba, contos de fadas, fábulas, contos de costumes, raiz da origem do que hoje conhecemos como “Conto”. O conto como já mencionado é o ato de “narrar” uma determinada história, seja de forma escrita ou contada oralmente. O conto antecede a escrita o conto talvez tenha sido um meio, do povo explicar sua origem, sua história, como acontece na rica mitologia grega, um mundo de Deuses criados pela imaginação do povo, uma forma de explicação para fenômenos da natureza até então inexplicáveis, como acontece também na cultura indígena, e classificados como “mitos” . Mas por conta de ter sua origem em relatos orais o denominado “conto popular”, na idade média por exemplo, eram histórias contadas à noite de frente à uma fogueira, os camponeses se reuniam para compartilhar histórias que ouviam de seus avós, e passavam para seus filhos, e assim sucessivamente. As histórias eram passadas oralmente de geração após geração, com modificações ou aumento de informações, mas sem perder a originalidade. Um exemplo disso é o conto da Branca de neve, que era contado de forma oral em toda há Europa, mas que foi escrito em alemão “Schneewittchen” pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. Em algumas versões desse conto mais antigas, a bruxa má invejosa nada mais é que a mãe da princesa, e há relatos de que eles teriam se baseado numa personalidade histórica para compor o conto, a baronesa Maria Sophia Margaretha Catharina Von Ertha, a história de Sophia era bem conhecida no século 19 inspirando assim os irmãos Grimm há produzir o núcleo do conto, segundo o diretor do museu Diocesano de Bamberg que recebeu a lápide de Sophia perdida há muito tempo. Nesse exemplo pode-se notar que contos podem ser de fato baseados fatos reais para um embasamento fictício, e também vai se modificando com o passar do tempo, mas a ideia principal permanece. Tanto que os contos “maravilhosos” os famosos contos de fadas como foi citado acima, saíram da tradição oral para a escrita, e foram sofrendo adaptações para livros, cinema e quadrinhos. Do Mito/Lenda ao Conto “Os mitos mais arcaicos, formam domínio onde os contos tem sua longínqua origem” ( PROPP, Vladimir Morfologia do Conto Maravilhoso. Pág 90). Segundo Propp a origem do conto está de forma totalmente relacionada com o mito, mas como desde sempre povos antigos recorriam a Deuses para explicar fenômenos da natureza até então inexplicáveis, como acontece com “a lenda da mãe d'agua” com diversas versões nas mais variadas culturas, na cultura indígena em Tupi, Yara significa “mãe das águas” Yara era uma linda Índia, pele cor de jambo e faces delicadas se banhava com frequência nas praias do rio Amazonas, mas que em um dia infeliz foi cruelmente violentada por homens brancos, que falavam uma língua estranha, os espíritos das águas com enorme pena de Yara, a transformaram em sereia, metade peixe, metade humana para protege-la daqueles que querem lhe fazer mal, passa a morar nas águas e o seu canto maravilhoso atrai os homens de forma apaixonada para o fundo das águas. É uma lenda, que pode ter um fundamento na realidade, ao observar historicamente as invasões no período do descobrimento do Brasil e violências que os portugueses praticavam contra os residentes da terra. Outro mito muito conhecido é de origem africana, é o culto há Iemanjá, no Brasil á um dia dedicado a ela onde fiéis colocam oferendas no mar, “Diz a lenda que seus seios se tornaram maiores e mais fartos devido a amamentação de todos os seus filhos, característica que gerou à ela grande vergonha. Cansada de seu casamento, Iemanjá decidiu deixar seu esposo e seguir em busca de sua própria felicidade. Após algum tempo, ela se apaixonou pelo rei Okerê, com quem viveu uma história nada feliz. Contos revelam que, em um certo dia, após beber demais, Okerê se referiu aos seios de Iemanjá de maneira grosseira, o que fez com que ela fugisse decepcionada. Para escapar da perseguição de Okerê, Iemanjá fez uso da poção dada por seu pai. Assim a Rainha do Mar se transformou em um rio que encontra o mar. Observa-se que ao se entristecer com as ofensas domésticas do marido em relação à aparência, utiliza de uma porção mágica e transforma-se no próprio mar, nas duas lendas tanto ao da Yara quanto ao de Iemanjá, nota-se semelhanças até mesmo na grafia, porque Yara pode ser escrita com “I” ou “Y” da mesma forma acontece com Iemanjá, o fato das personagens serem mulheres e que sofreram alguma violência, e encontraram refúgio pra essa “violência” seja verbal ou física nas águas as aproxima. Na mitologia grega, há Poseidon, filho de Cronos, o Deus grego que tem total domínio dos mares, no poema de Homero “Odisséia” que conta as aventuras de Odisseu um mortal muito forte e orgulhoso de seus feitos terrenos, tão orgulhoso que ganha a inimizade de Poseidon pelo fato de não reconhecer a ajuda dos Deuses, Poseidon irado com Odisseu dificulta sua viagem de volta pra Ítaca, o herói fica dez anos tentando voltar para casa, pois a fúria dos mares impede seu trajeto. Essa já é uma lenda uma justificava ao mau tempo e complicações no caminho, mas que o povo relacionava com a fúria dos Deuses, o ponto em comum que os as lendas e o mito de Poseidon, que descrevi possui a visível relação com a água, um fenômeno da natureza, e que é explicado há muitos anos através de mitos oralmente o seu surgimento. Lenda vem do latim legenda e pode ser entendida como tudo que pode ser lido, mito do grego mythos é a história de uma criação, possuindo caráter simbólico, diferente do conto de fadas, como citei acima da Branca de Neve que é composto por uma protagonista que enfrenta um determinado problema causado pela antagonista, onde prevalece valores mais “humanos” é a partir daí que o conto vai deixando de ser mito. Como na estória de Odisseu, ele é um mortal, é uma história derivada da rica mitologia. Segundo Propp : “ o conto não é um mito residual, por subsistir sozinho, o desaparecimento dos mitos rompeu o equilíbrio”. (PROPP, Vladimir pág 21). Portanto conclui-se que o conto que era passado oralmente, tem sua origem em mitos e lendas antigas. Primeira Fase Escrita Sua primeira fase escrita é provavelmente aquela em que os egípcios registraram O livro do mágico (cerca de 4 000 a.C.). Daí vamos passando pela Bíblia – veja-se como a história de Caim e Abel (2 000 a.C.) tem a precisa estrutura de um conto. Caim e Abel, ambos filhos do pecado de Adão e Eva á estória é introduzida pela inveja que que Caim sente de Abel, dando origem ao primeiro assassinato do mundo segundo a Bíblia Sagrada. “ Agora serás amaldiçoado pelo próprio solo que engoliu o sangue do teu irmão derramado por ti. Quando cultivares o solo ele negará o seu sustento e virá a ser um fugitivo errante sobre a terra”. ( Gênesis, cap 4 – 11:13). É uma narrativa curta com teor simbólico e moralizante, enquanto a estrutura é composta por dois personagens um narrador, o sentimento de inveja que é desencadeado em Caim pode-se ser comparado como o motivo pelo qual a maioria dos vilões perseguem os heróis,ou princesas como no conto da Branca de Neve, Cinderela... e por causa disso mata o irmão, o momento do assassinato é o clímax a maior tensão da história, e é concluída com a maldição que Deus derrama sobre ele e lhe conduzindo destino de fugitivo, como é mencionado na passagem acima. Tanto o antigo como o novo testamento trazem muitas outras histórias com a estrutura do conto, como os episódios de José e seus irmãos, de Sansão, de Ruth, de Susana, de Judith, Salomé; as parábolas: o Bom Samaritano, o Filho Pródigo, a Figueira Estéril, a do Semeador, entre outras. Edgar Allan Poe e o Gênero da Ficção Curta (1809 – 1849) Foi poeta, ficcionista crítico literário e editor, como escritor é um dos percusores da literatura de ficção científica e fantástica tendo atuado como crítico e editor, Poe foi o primeiro a refletir a respeito da ficção curta, a primeira teoria do conto surgiu nos Estados Unidos, argumentava que o conto traz vantagens peculiares sobre o romance, é mais refinado que o ensaio e em alguns pontos é superior à poesia. Para ele a brevidade excessiva no conto seria censurável, Essa condição brevidade e tensão segundo Poe, origina o que se chama de “conto de acontecimento”. Entretanto a extensão excessiva deve ser ainda mais evitada. O autor defendia que, enquanto a beleza é o objetivo da poesia, a verdade é o objetivo do conto. Poe valoriza o término da história, ou seja, algo que surpreenda o leitor, geralmente um evento inesperado em seu fim. Influência máxima do horror pelos demais escritores que foram influenciados por ele, segundo Poe: “ Se alguma obra literária é longa demais para ser lida, de uma assentada devemos resignar-vos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade de impressão, pois se requerem duas assentadas os negócios do mundo interferem e tudo o que se pareça com totalidade é imediatamente destruído.” ( POE. Edgar Allan, Filosofia da Composição. 1999.) De acordo com essa afirmação quando a obra é muito extensa, a facilidade de dispersa-se em relação as demais coisas é comum, não possui um efeito de impressão imediato, como nas narrativas curtas, a seguir um pequeno trecho de um de seus contos que afirma as assertivas já mencionadas acerca do escritor. O POÇO E O PÊNDULO Aqui por muito tempo os impiedosos torturadores nutriram o insaciável furor da turba pelo sangue dos inocentes. Agora que a pátria está a salvo, e o antro fúnebre foi destruído, onde antes havia morte surgem vida e bem-estar. (Quadra composta para os portões de um mercado a ser erguido no local onde ficava o Clube dos Jacobinos, em Paris.) Eu estava esgotado — mortalmente esgotado por aquela longa agonia; e quando enfim me desataram, e foi-me dada a permissão de sentar, percebi que os sentidos me faltavam. A sentença — a pavorosa sentença de morte — foi a última de distinta articulação a chegar aos meus ouvidos. Depois disso, o som das vozes inquisitoriais pareceu fundir-se em um único murmúrio vago e onírico. Ele transmitia à alma a ideia de rotação — talvez por associar-se em minha imaginação ao rumor de uma roda de moinho. Isso por um curto período, apenas; pois em breve nada mais ouvi. E contudo, por um tempo, eu vi; mas com que terrível exagero! Vi os lábios dos juízes em seus mantos negros. Pareceram- me brancos — mais brancos que a folha em que traço estas palavras — e finos ao ponto mesmo do grotesco; finos com a intensidade de suas expressões de intransigência — de inamovível determinação — de austero desprezo pelo suplício humano. ( POE. Edgar Allan. Contos de imaginação e mistério, 2012. SP. LTDA). [...] No trecho desse conto de Poe, é notável algumas de suas características marcantes como escritor e contista, o terror psicológico a capacidade de entrar na psique humana, narrado em primeira pessoa tem seu enredo voltado para as angústias e sofrimento do personagem que apresenta um drama emocional acerca da morte e do julgamento na inquisição. Ao contrário dos Contos de fadas, em que o enredo é voltado para um herói ou heroína descrevendo suas aventuras, e complicações causadas por um vilão ou vilã, e das Fábulas sempre tendo animais como personagens e com finais moralizantes o conto abandona essas características, e passa a adotar o fantástico e psicológico para elaborar o enredo, e não tem como existir sem um acontecimento extraordinário — o crime — e um final surpreendente — a revelação do criminoso —, manejados para causar no leitor um efeito único e intenso: a surpresa. De Tchekhov à Cortázar Brevidade e Cotidiano “ A brevidade é irmã do talento” – Anton Tchekhov Um importante precursor das formas e da linguagem artística contemporânea foi Anton Tchekhov (1860-1904) ficou consagrado como o mais ousado transgressor da tradição literária clássica e um importante precursor das formas e da linguagem artística contemporânea. O escritor de múltiplas faces, Tchekhov, antes de tudo, é um reconhecido mestre de narrativas curtas. Se dedicou a um tratamento irônico á pequenos dramas cotidianos e desenvolveu um estilo coloquial e conciso. Em á Teoria do Conto Nádia Battella Gotlib relata que foi de Anton Tchekhov a missão de libertar o conto de um dos seus fundamentos mais sólidos: o do acontecimento originalizado por Poe, para afirmar de forma mais concisa a visão do autor em relação ao gênero foi destacado um trecho de um dos seus contos. A Linguaruda Natália Mikailovna, senhora garbosa e ainda jovem, chegou pelo trem de Jalta, onde passara o verão. Depois, durante o jantar falou sem parar, descrevendo as belezas daquela região. O marido, feliz com o retorno da esposa, a observava com os olhos cheios de ternura, ante a excitação dela, limitando-se apenas a fazer algumas perguntas esporádicas. – Ouvi dizer que a vida lá está muito cara… – observou ele. – Cara? Como vou dizer? Não é tão cara quanto dizem. Eu tinha com a Júlia Petrovna, um bom apartamento, bem confortável, por vinte rublos por dia. Precisa saber se controlar. Se vai se fazer um passeio aos montes, por exemplo ao Al-Ptri, se gasta mais… O cavalo, o guia… Tudo isso encarece, e muito… Mas, querido, que belos montes! Tu não imaginas como são altos! Mil vezes mais altos que a igreja… E em cima, neve! Nada mais do que neve… Embaixo, pedras, apenas… Ah, que beleza… – A respeito disso, durante a sua ausência, fiquei preocupado quando li a respeito das crueldades praticadas pelos guias… Não é verdade que são perversos? Natália fez uma careta e balançou a cabeça, negativamente. – São como todos os tártaros – respondeu ela. – Além disso, só os vi de longe, uma ou duas vezes… Falaram a esse respeito, mas não dei muita importância… Sempre senti aversão aos circassianos, aos gregos, aos mouros… – Me parece que são uns espertalhões… – Pode ser… Mas tem algumas sem vergonhas que… Seu semblante se transtornou e ela chegou a se levantar, como se visse o diabo. Encarou o marido com os olhos dilatados: – Vasitchka! Tu não imaginas quantas mulheres levianas há no mundo! Que imoralidade! E não de classe baixa ou mesmo média, não! Aristocratas da alta!… Eu não acreditava no que via! Nunca mais vou esquecer! Só quem não tem princípios pode chegar a esse ponto… E nem me atrevo a contar! Veja só a Júlia Petrova, minha companheira de viagem… Tem um marido tão bom, dois filhos, considerada da melhor sociedade… Quer passar por uma santa, mas sabes o que fazia? Tu não vais acreditar! Mas que fique entre nós… Me dás a palavra de https://contosdocovil.wordpress.com/2008/06/14/402/ honra que não dirás a ninguém! – Ora, que idéia! Vou contar para quem? – Bom, vou confiar em ti! [...]. Observa-se que no conto predomina fatores cotidianos, a simples conversa da mulher que acaba de chegar de viagem com o marido, isso transforma o texto em uma leitura leve, sem grandes aprofundamentospsicológicos. O conto é uma narrativa livre, não acontece nenhum fato que o leve a um acontecimento fantástico, possui dois personagens é narrado em terceira pessoa, e o tema central é à fofoca cotidiana. A personagem começa a contar um fato que termina em outro, fala demais, característica que está presente no título, sendo uma característica externa humana que é logo associado à mulher. Intensidade e Tensão “ Gênero de tão difícil definição tão esquivo nos seus múltiplos e antagônicos aspectos e, em última análise tão secreto e voltado para si mesmo, caracol da linguagem irmão misterioso da poesia em outra dimensão do tempo literário. ( CORTÁZAR, Júlio. Válise de Cronópio, 2006.SP, Pag 149). Júlio Cortázar escritor argentino (1914 – 1984) mestre do realismo fantástico, corrente literária que uniu a realidade ao mundo mágico. Segundo Cortázar para entender o caráter peculiar do conto costuma-se compara-lo com o romance, gênero muito mais popular ao se desenvolver no papel sem um limite específico, entretanto o conto parte da noção de limite físico, tanto que na França quando um conto ultrapassa as vintes páginas toma já o nome de “nouvelle” gênero que fica entre o conto e o romance, então o romance e o conto podem ser comparados com o cinema e a fotografia, um filme de início possui uma ordem aberta, enquanto a fotografia bem realizada possui uma determinada limitação prévia, o fotógrafo e o contista sentem necessidade de escolher e limitar um acontecimento que seja significativo, que seja capaz de atuar no espectador ou no leitor uma espécie de abertura, projetando a inteligência e sensibilidade em direção a algo que vai muito além do argumento visual ou literário contido na foto ou no conto. “Um conto é ruim quando é escrito sem essa tensão que se deve manifestar desde as primeiras palavras”. ( CORTÁZAR, Júlio pág. 152). Aqui Cortázar volta com as ideias de Poe em relação a intensidade e tensão da produção de um conto, que são ingredientes fundamentais para uma boa obra literária. Cortázar também argumentou acerca do tema, de que o conto precisa irradiar alguma coisa além dele mesmo, ou seja não basta escrever uma narrativa por demasiada simples sem nenhum significado nas entrelinhas, pois desta forma a obra não satisfaz a busca de uma interpretação sagaz e inteligente para o leitor. Caso contrário se transforma em uma obra sem grandes reflexões e é rapidamente esquecida. “No meu caso a grande maioria dos meus contos, foram escritos independentemente da minha vontade, por cima ou por baixo de minha consciência, como se eu não fosse mais que um meio pelo qual passava a se manifestar uma ideia alheia.” (CORTÁZAR, Júlio. Pág. 154) . Neste fragmento ele declara o momento da inspiração ao escrever, em que o autor não usa a ideia, mas a ideia que usa o autor, que segundo Poe a verdadeira inspiração seria moldada através do exercício da razão e não de sentimentalismos. “Se os contos não nasceram de uma profunda vivência, sua obra não irá além do mero exercício estético”(CORTÁZAR, Júlio. Pag 162). Observa-se que a obra e escritor possuem uma relação que influenciará o leitor, não basta corresponder aos valores estéticos, é necessário um conteúdo puro sem superficialidade e com intensidade necessária para arrebatar o leitor no enredo Conto Contemporâneo Como já foi apresentado o conto é um gênero narrativo tradicional estruturado como uma narrativa curta, nessa perspectiva o momento de maior tensão do gênero é o clímax. Além disso, embora não seja uma regra, é comum que o conto apresente: narrador e poucos personagens, espaço ou cenário limitado, recorte temporal reduzido. Existe algumas subcategorias do gênero é possível destacar: Contos Fantásticos – conto fantástico é uma narrativa curta, com um conflito único e que apresenta, em seu enredo, acontecimentos inexplicáveis à lógica tradicional o conto fantástico, por sua vez, além das definições já citadas, também possui em seu enredo acontecimentos inexplicáveis pela ciência e também não explicados na lógica interna da narrativa. O fato de o enredo circular em torno de um único conflito é uma das características definidoras do gênero. Para ser considerado fantástico, um texto literário deve envolver um conflito cujos acontecimentos envolvam algo inexplicável. Um personagem que morre e volta à vida sem razão aparente ou uma garota que segue um coelho falante e entra em um mundo totalmente diferente da realidade como acontece em Alice no país das maravilhas, ou em como uma fada madrinha pode transformar de maneira mágica, uma abóbora em uma carruagem de luxo como acontece com o conto da Cinderela, exemplos de conflitos típicos da literatura fantástica nesta categoria também está incluso o Conto de fadas. Contos Psicológicos – Possui uma narrativa curta é uma realização contemporânea da forma literária nascida no século XIX, gera uma espécie de desconcerto: ao final, ficamos em dúvida quanto a que história de fato foi contada. De forma paralela na história que se encontra mais visível para o leitor sugere um enigma, as vezes é revelado no final, mas há contos em que isso jamais acontece. O conto psicológico apresenta em geral uma ação exterior menor que o drama interior se desenrola, ou seja diante da formação de um conflito psicológico que geralmente se justifica no final. Uma autora famosa por esse tipo de enredo é Clarice Lispector, em destaque um de seus contos que ressalta bem características desse gênero: Encarnação involuntária Às vezes, quando vejo uma pessoa que nunca vi, e tenho algum tempo para observá-la, eu me encarno nela e assim dou grande passo para conhecê-la. E essa intrusão numa pessoa, qualquer que seja ela, nunca termina pela sua própria autoacusação: ao nela, me encarnar, compreendendo-lhe os motivos e perdoo.[...] Um dia, no avião... ah, meu Deus – implorei – isso não, não quero ser missionária! Mas era inútil. Eu sabia que, por causa de três horas de sua presença, eu por vários dias seria missionária. A magreza e a delicadeza extremamente polida de missionária já me haviam tomado. [...] No avião mesmo percebo que já comecei a andar com esse passo de santa leiga: então compreendo como a missionária é paciente, como se apaga com esse passo que mal quer tocar no chão, como se pisar mais forte viesse prejudicar os outros. Agora sou pálida, sem nenhuma pintura nos lábios, tenho o rosto fino e uso aquela espécie de chapéu de missionária. Quando eu saltar em terra provavelmente já terei esse ar de sofrimento- superado-pela-paz-de-se-ter-uma-missão. E no meu rosto estará impressa a doçura da esperança moral. Porque sobretudo me tornei toda moral. No entanto quando entrei no avião estava tão sadiamente amoral. Estava não, estou! Grito- me eu em revolta contra os preconceitos da missionária. Inútil: toda minha força está sendo usada para eu conseguir ser frágil. Finjo ler uma revista, ela lê a Bíblia. Vamos ter uma descida curta em terra. O aeromoço, distribui chicletes. E ela cora mal o rapaz se aproxima. Em terra sou uma missionária ao vento do aeroporto, seguro minhas imaginárias saias longas e cinzentas contra o despudor do vento. Entendo, entendo. Entendo-a, ah, como entendo e ao seu pudor de existir quando estar fora das horas em que cumpre sua missão. Acuso, como a missionariazinha, as saias curtas das mulheres, tentação para os homens. [...]. Narrado em primeira pessoa, possui uma única personagem. A narradora fala da forte relação que estabelece com pessoas desconhecidas que encontra, nota- se que a a narradora não julga a personagem, tenta se colocar no lugar dela. Ela vai incorporando a missionária de forma interna, em sua imaginação. Ela encarna a missionária mas reage quando o personagem tenta domina-la. Ela não deseja torna-se igual só imagina as sensações e pudoresda cristã, como se estivesse num teatro apresentando uma cena, ou como um escritor que compõe um personagem se apossa dele, o imagina veste a capa dele por alguns dias, mas assim que a narrativa se encerra o vínculo é desfeito, o conflito interior que se forma quando a narradora/personagem ver a cristã é maior que o motivo da viagem, ou as demais pessoas que estão no avião, a narrativa é caracterizada Mário de por um monólogo interior, ela usa e tira a capa quando bem quer mas não faz parte dela, não á pertence aquele papel, ela olha imagina e tudo acontece de forma interna. Conto popular – Os contos populares são anônimos, de origem tradicional. Mas atualmente os contos populares são, antes de qualquer coisa, textos fixados pela escrita nas revistas folclóricas, nas recolhas dos estudiosos, nos livros para crianças. São clássicos do Brasil e Portugal, são contados pelos nossos avós e pais, e em comunidades pequenas, é uma forma interessante dos adultos disciplinarem as crianças para a vida, são os provérbios, adivinhações, frases-feitas, orações, cantos. Todas as vezes que em se aborda o tema da literatura oral ou popular, é comum relacioná-la com a literatura folclórica, porém, para Cascudo (1984, p. 24), toda literatura folclórica é popular, mas nem toda literatura popular é folclórica. A diferença está, de acordo com o autor, num inevitável processo de descaracterização. Para que uma literatura seja folclórica, são necessários quatro fatores: antiguidade; persistência; anonimato; oralidade. Mesmo que seja um gênero de difícil definição os contos populares e o folclore se misturam e tornam-se um só, encantando gerações e acrescentando fatos maravilhosos e de aprendizado. Nesta categoria está incluso lendas folclóricas, urbanas... Contador de histórias X Contista O contador de histórias se preocupa com a cena, a maneira de expressar-se para prender a atenção do público em questão. Usa recursos artísticos como imitação de vozes(crianças, animais...) e até mesmo caracterização, dança recursos musicais. Enquanto o conto escrito, o contista se preocupa com estética da escrita, a linguagem literária e a capacidade de transformar um relato ou uma inspiração em um conto para ser lido em poucos minutos, a semelhança que caracteriza os dois profissionais é o tempo, quem conta tem que ser cativante e ao mesmo tempo breve porque uma história extensa é cansativa para o ouvinte. E quem escreve também por conta de questão de gêneros literários, o termo “contista” que é relativo à “contas” mas que também é aquele que escreve contos. Roberto Carlos Ramos é um exemplo muito forte do contador de histórias no Brasil, nasceu em Belo Horizonte em 20 de novembro de 1965 é um pedagogo e contador de histórias brasileiro. Sua história de vida inspirou o diretor Luiz Villaça em seu filme O Contador de Histórias. Roberto Carlos se deixou de ser menino de rua em Belo Horizonte, tornando-se personagem central de um filme, é contador de histórias reconhecido como um dos dez melhores do mundo, escritor e palestrante. Entretanto há contistas que são apenas contistas, e há aqueles que além de escrever gostam também de “contar” suas histórias. Miniconto, o conto atualizado. É uma espécie de conto muito pequeno, produção esta que tem sido associada ao minimalismo. O miniconto apresenta uma narração dentro de apenas uma linha. A ideia é que no mínimo de palavras possíveis, seja apresentado todo um contexto e uma ação em torno do pouco que é revelado por aquelas palavras. No livro Tudo No Mínimo – Antologia do Miniconto na Bahia Aleilton Fonseca na introdução teoriza a respeito do gênero, teria cerca de até 30 linhas no máximo uma lauda regular, excedendo essa margem, pode-se talvez admitir o “pequeno conto” que iria até 60 linhas. O microconto é com até 10 linhas e o nanoconto em uma única frase curta. Antônio Torres considera que o pioneiro deste tipo de narrativa foi Elias José(1936 – 2008) de acordo com Torres ele teria sido “o primeiro autor brasileiro a falar de minicontos. Sua estrutura é demasiadamente curta, no nanoconto é possível concluir uma narrativa em uma única frase por exemplo: AOS PÉS DO REDENTOR “ Mas o Rio de Janeiro continua lindo” – pensou o desempregado, antes de se atirar do Corcovado. Nesse nanoconto de Antônio Torres observa-se que apesar da beleza pela qual a Cidade é conhecida cidade maravilhosa, as margens da beleza infinitos problemas sociais, que se justifica bem no título. Esse tipo de narrativa tem o objetivo de surpreender ou espantar o leitor em questão, é necessária provocar tensão dando a possiblidade de interpretações, é uma provocação à imaginação do leitor. https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Conto https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Minimalismo Com o advento das novas tecnologias a possiblidade de leitura ficou muito vasta, sendo possível ler tanto em livros físicos, como em e-books em livros onlines nos aplicativos, que uni o público ao seu autor. Hoje as pessoas lêem mais, seja através de um post no Instagram às notícias do twitter, a compra de livros via internet aumentou, enfraquecendo assim a forma de literatura oral, ao invés de lerem historinhas para os filhos, os pais dão de presente video games, e os demais aparelhos tecnológicos que vão se atualizando num piscar de olhos os contos de fadas foram todos adaptados pela Walt Disney, livros transforma-se em séries e filmes e o conto por ser um gênero menor que o romance vem ganhando destaque pela praticidade das novas tecnologias, textos curtos rápidos são usados para entreter ou levar a reflexão, vão se adaptando atualizando conforme o avanço da sociedade. REFERÊNCIAS ( PROPP, Vladimir 1. Morfologia do Conto Maravilhoso, Forense Universitária 2001) https://conceito.de/conto https://conceito.de/conto (POE, Edgar, Allan. Filosofia da Composição, poemas e ensaios. Trad. Mendes, Oscar, Amado Milton. SP, Globo, 1993) (CORTÁZAR, Júlio. Valise de Cronópio, São Paulo, Perspectiva, 2006, pág 147 – 163) https://m.brasilescola.uol.com.br/literatura/oconto.fantastico.htm https://www.google.com/amp/mbrasilescola.uol.com.br/ampliteratura/o- conto.htm https://revistacult.uol.com.br/home/antonpavlovitch-tchkhov/ https://contosdocovil.wordpress.com/2008/06/14/402/ (PEREYR, Roberval. FONSECA, Aleilton, Tudo No Mínimo: Antologia do Miniconto na Bahia. Itabuna, Mondrongo, 2018). (POE, Edgar Allan, Contos de Imaginação e Mistério, Alaúde Editorial LTDA, 1 ed, SP 2012). https://www.google.com/amp/www.infoescola.com/mitologia.grega/poseidon/am p https:// www.significados.com.br/iemanjá https://www.revistaprosaversoearte.com/encarnação-involuntária-clarice- lispector/ https://www.bbc.com/portuguese/geral-49214137 https://ptwikipedia.org/wiki/conto https://escola.britannica.com.br/artigo/conto-popular/481300 https://www.passeidireto.com/arquivo/17159715/pibid-conto-psicologico https://www.blogsenacsp.com.br/profissao-contador-de-historias ( BELLIN, Greicy Pinto. Edgar Allan Poe e o surgimento do conto enquanto gênero de ficção, Universidade Federal do Paraná). (BOFF, Leonardo. O Casamento entre o Céu e a Terra contos dos povos indígenas do Brasil. 2 ed, São Paulo. Salamandra, 2005. Pág 53) https://m.brasilescola.uol.com.br/literatura/oconto.fantastico.htm https://www.google.com/amp/mbrasilescola.uol.com.br/ampliteratura/o-conto.htm https://www.google.com/amp/mbrasilescola.uol.com.br/ampliteratura/o-conto.htm https://revistacult.uol.com.br/home/antonpavlovitch-tchkhov/ https://contosdocovil.wordpress.com/2008/06/14/402/ https://www.google.com/amp/www.infoescola.com/mitologia.grega/poseidon/amp https://www.google.com/amp/www.infoescola.com/mitologia.grega/poseidon/amp http://www.significados.com.br/iemanjá https://www.revistaprosaversoearte.com/encarnação-involuntária-clarice-lispector/https://www.revistaprosaversoearte.com/encarnação-involuntária-clarice-lispector/ https://www.bbc.com/portuguese/geral-49214137 https://ptwikipedia.org/wiki/conto https://escola.britannica.com.br/artigo/conto-popular/481300 https://www.passeidireto.com/arquivo/17159715/pibid-conto-psicologico https://www.blogsenacsp.com.br/profissao-contador-de-historias A Linguaruda
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