Buscar

Efeitos-da-taxa-de-juros-e-das-expectativas-sobre-o-Consumo-das-familias

Prévia do material em texto

Efeitos da taxa de juros e das expectativas sobre o
Consumo das famílias
Prof.a Dr.a Roseli Silva
Objetivos desta aula: compreender como taxa de juros e confiança do consumidor
afetam a decisão intertemporal de consumo das famílias.
Já apresentamos um primeiro fator extremamente relevante para entender a decisão de
consumo das famílias, expressa na propensão marginal a consumir e o respectivo multiplicador
keynesiano. Porém, esse não é o único fator que afeta a decisão de consumo das famílias.
As teorias mais modernas de consumo nos levam a entender o efeito da taxa de juros sobre a
decisão de consumo, e neste caso, estamos considerando que as famílias levem em conta não só
o consumo no momento presente, mas também o consumo futuro.
Deste ponto de vista, nós podemos entender a poupança do momento presente como
sendo a fonte para propiciar o consumo do futuro. Mas o que leva uma família a decidir consu-
mir no futuro e não no presente? O que leva uma família a tomar essa decisão é como ela será
remunerada pela sua poupança. Muito bem, então vejamos que aqui, já começamos a identifi-
car uma conexão entre o mercado de bens e serviços e os mercados financeiros. Por quê? A
maneira como a família será remunerada pela sua poupança, está associada a formação da taxa
de juros nos mercados financeiros.
A partir do momento em que a decisão de não consumir e de poupar é tomada, a família
está levando em conta como ela será remunerada por sua poupança, ou seja, como ela poderá
consumir no futuro. Será que ela poderá consumir mais no futuro do que ela consumiria hoje?
A resposta é sim, por quê? Porque a renda no futuro será valorizada, ou seja, ela receberá
uma remuneração, ela receberá uma taxa de juros, de tal forma que no futuro a família possa
consumir mais do que ela consumiria hoje. Então, estamos observando que a taxa de juros é um
fator extremamente relevante para a decisão de consumo das famílias.
Nós estamos identificando, então, dois fatores importantes para a decisão de consumo
das famílias. O primeiro deles é a renda disponível, que propicia o elemento dinâmico do multi-
plicador keynesiano, que já tratamos. E agora, estamos observando que a taxa de juros também
1
INTRODUÇÃO À ANÁLISE MACROECONÔMICA 2
é um elemento relevante na decisão de consumo ao longo do tempo, chamada de decisão de con-
sumo intertemporal das famílias. Ao longo do tempo, taxas de juros mais elevadas incentivam
as famílias a pouparem mais do que consumirem, por quê? Porque se a taxa de juros se eleva, a
poupança que a família decide fazer hoje, valerá mais amanhã, e propiciará mais consumo ama-
nhã. Essa é uma explicação mais moderna para a decisão de consumo das famílias, que leva em
conta não só a decisão do momento corrente, que depende da renda disponível, mas também a
decisão de consumo de todos os períodos de hoje para o futuro, que essa família terá de tomar
e terá que reavaliar a sua decisão entre consumir e poupar ao longo do tempo. Portanto, quanto
maior a taxa de juros, quanto mais elas forem remuneradas pela sua poupança, será, então,
um incentivo para que as famílias consumam menos hoje e poupem mais para consumir mais
amanhã.
Em síntese: quanto maior a renda disponível, mais as famílias consomem e maior o
efeito multiplicador propiciado pela propensão marginal a consumir; quanto maior a taxa de
juros, as famílias decidem consumir menos hoje, poupar mais e assim terem a possibilidade
de consumir mais ao longo dos períodos futuros com a renda adicional da taxa de juros sobre
a poupança do momento presente. A taxa de juros é o custo de oportunidade que as famílias
têm na sua relação entre o consumo presente e o consumo futuro. Então, a conexão entre os
mercados de bens e serviços e os mercados financeiros começa a ficar desenhada na nossa
estrutura lógica da macroeconomia.
É muito importante observar que, nesta decisão entre o consumo presente e o consumo
futuro, um outro elemento, da ordem das preferências das famílias é muito relevante. Este outro
elemento diz respeito à impaciência que as famílias apresentam em relação ao consumo. As
famílias expressam a sua impaciência em relação ao consumo quando decidem descontar renda
futura para consumir hoje. Então, quanto mais os agentes utilizam o crédito para financiar o
seu consumo, isso nos dá uma indicação de que a preferência por consumir hoje e não consumir
amanhã é maior do que a remuneração que eles receberiam para deixar de consumir hoje, ou
seja, poupar, e consumir mais amanhã. Então, é muito importante que levemos em conta,
e sempre estejamos alertas para compreendermos melhor as decisões de consumo, que essas
decisões estão associadas às características de impaciência em relação ao consumo, que famílias
diferentes apresentam.
Para dar um exemplo muito simples, muitas vezes nos perguntamos porque que as
famílias compram bens financiados, com taxas de juros muito elevadas, mas ainda assim tomam
a decisão de obter o bem e consumir o bem no presente. Certamente é porque a impaciência em
relação ao consumo, ou seja, a taxa intemporal de preferência dessas famílias, é mais elevada
do que o custo de oportunidade, que é a taxa de juros que o mercado financeiro vai oferecer pela
poupança dessa família. Então é bastante comum que certas famílias antecipem o seu consumo
utilizando o mercado de crédito, mesmo quando as taxas de juros estão muito elevadas. Então,
é perfeitamente possível e compreensível a partir da teoria econômica da tomada de decisão,
DISPÊNDIO DOMÉSTICO – PARTE I 3
que famílias tomem esse tipo de atitude.
Além desses fatores que nós estamos ressaltando, é importante também chamar aten-
ção para o fator expectativas. As expectativas que as famílias têm em relação à sua capacidade
de gerar renda no futuro, em relação às condições da economia no futuro, em relação às con-
dições das taxas de juros no futuro, essas expectativas afetarão a decisão das famílias hoje.
Portanto, muitas vezes, observamos que as economias apresenta um comportamento de con-
sumo das famílias que não necessariamente está refletindo a renda disponível de hoje, ou a taxa
de juros de hoje, mas está refletindo aquilo que as famílias esperam que aconteça com a renda
no futuro e com a taxa de juros no futuro.
As expectativas são um elemento fundamental na decisão dos agentes, e não é dife-
rente em relação à decisão das famílias sobre consumir e poupar, ou seja, sobre consumir hoje
ou consumir amanhã. Além dos elementos que já destacamos, precisamos levar em conta tam-
bém os aspectos associados às expectativas das famílias em relação ao comportamento dessas
variáveis no futuro. Muitos países buscam captar essas expectativas em indicadores de confi-
ança do consumidor, que tentam captar exatamente a sensação, as expectativas das famílias em
relação ao futuro das suas próprias rendas, da economia, das taxas de juros, da remuneração dos
seus ativos financeiros, como a poupança. Portanto, esses indicadores de confiança do consu-
midor, de certa forma, potencialmente nos dão informações sobre as expectativas dos agentes.
Por exemplo, por questões que podem estar associadas ao resto do mundo ou ao cenário polí-
tico doméstico, as famílias podem acreditar que tal crise se estenderá por um período longo e,
portanto, as suas expectativas em relação ao futuro levam as famílias a consumirem menos hoje.
Então, renda disponível, taxa de juros e, as expectativas das famílias em relação ao
comportamento futuro afetam sua decisão de consumir hoje. Apresentamos, assim, de uma
maneira sintética e bastante completa, a decisão de consumo das famílias de uma perspectiva
bastante moderna, muito semelhante à maneira como as modernas teorias de análise macroe-
conômica consideram em seus modelos dinâmicos de equilíbrio geral. O próximo passo será
entender como se dá a decisão de investimento produtivo.

Continue navegando