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Resenha do texto "A América Latina e o giro decolonial" de Luciana Ballestrin

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RESENHA DO TEXTO “A AMÉRICA LATINA E O GIRO DECOLONIAL”, DE LUCIANA BALLESTRIN
Disciplina: Teoria das Relações Internacionais II
Acadêmica: Ana Paula Bortolanza Ruppenthal
Em seu artigo “A América Latina e o giro decolonial”, Luciana Ballestrin apresenta a formação do Grupo Modernidade/Colonialidade no final dos anos 1990, que foi um coletivo integrado por intelectuais latino-americanos que realizou um movimento epistemológico de renovação crítica das ciências sociais latino-americanas.
Assim, a autora começa traçando uma genealogia do pós colonialismo. Pelo termo "pós-colonialismo", tem-se dois entendimentos: um primeiro, que diz respeito ao processo de descolonização do "terceiro mundo" na segunda metade do século XX, e um segundo que se refere a um conjunto de contribuições teóricas e intelectuais que surgiram nas universidades estadunidenses e inglesas a partir da década de 1980, o que iniciou uma espécie de moda acadêmica, que penetrou apenas tardiamente nas universidades brasileiras.
Mencionando Sergio Costa, para quem o termo "colonial" diz respeito a situações de opressão oriundas das antigas relações coloniais, ainda que, a autora nota, nem todas as situações de opressão sejam meras consequência do colonialismo, como no caso do patriarcado e escravidão (ainda que possam ser reforçados ou indiretamente reproduzidos por ele, reforça a autora). Sem embargo, Sergio Costa associa o pós-colonialismo com as condições de emergência oferecidas pelos estudos pós-estruturais, desconstrutivistas e pós-modernos; e de fato, ressalta Ballestrin, ele se aplica a autores diaspóricos, mas aponta duas omissões do autor: a primeira, que não reconhece contribuições pós-coloniais antes da institucionalização da corrente teórica, e a segunda que identifica o pós-colonialismo com uma relação antagônica de colonizador-colonizado.
Outro precursor do argumento pós-colonial é Franz Fanon, cujos escritos datam do século XIX, época em que a América Latina atravessou seu "colonialismo interno", ou um primeiro momento colonial. Na essência, o pós-colonialismo é um argumento comprometido com a superação das relações de colonização, colonialismo e colonialidade, e que intercede pelo colonizado. 
Mesmo que seja questionável se apontar "clássicos" a uma forma de pensamento nas ciências sociais, Luciana Ballestrin aponta que existe um entendimento compartilhado sobre a importância e atualidade de uma chamada "tríade francesa" de autores - que são Aimé Césaire, Frantz Fanon e Albert Memmi, os dois primeiros pensadores negros de origem na Martinica e o terceiro de origem judaica nascido na Tunísia, sendo os primeiros a "interceder pelo colonizado quando este não tinha voz", utilizando os termos de Spivak. A esses três soma-se Edward Said e suas concepções sobre orientalismo, denunciando a falta de produção de conhecimento sobre os povos orientais. Estes autores contribuíram para uma transformação lenta e não intencionada na própria base epistemológica das ciências sociais.
Outro movimento essencial ao pós-colonialismo foi o Grupo de Estudos Subalternos, formado no sul da Ásia e com o projeto de analisar a historiografia colonial da Índia feita por europeus mas também a historiografia eurocêntrica produzida na própria Índia. Na década de 1980, o debate pós-colonial foi difundido na academia da Inglaterra e Estados Unidos,sendo que o Grupo Modernidade/Colonidade só surge na décade de 1990, nos Estados Unidos, inspirado no grupo sul-asiático, e foi se estruturando, ao longo da década de 1990, por seminários, diálogos e publicações em diversas universidades latino-americanas.
Explorando os conceitos centrais desenvolvidos pelo Grupo Modernidade/Colonidade, Luciana Ballestrin aponta que o conceito de colonialidade do poder foi originalmente desenvolvido por Aníbal Quijano, exprimindo a constatação de que as relações de colonialidade nas esferas econômicas e políticas não acabaram com a destruição do colonialismo. O conceito tem dupla pretensão: uma, é que denuncia a continuidade das formas coloniais de dominação após o fim da colonização; e outra, é que possui uma capacidade explicativa que atualiza processos que supostamente teriam sido apagados ou superados pela modernidade.
Desta forma, o conceito de colonialidade foi expandido e se reproduziu em uma tripla dimensão: a colonialidade do poder, a colonialidade do saber e a colonialidade do ser. Para Walter Mignolo, a colonialidade é o lado obscuro e necessário da modernidade, sendo sua parte constitutiva - e é a partir desse diagnóstico, elaborado por Quijano, Mignolo e Wallerstein, que surge o nome do grupo.
A autora também cita a contribuição de Nelson Maldonado Torres sobre a emergência da colonialidade e da colonialidade do poder a partir da ideia de raça, ou seja, a ideia de diferenciação colonial e social, que constrói uma diferença de superioridade da etnia branca sobre outras etnias. Para Maldonado Torres, raça, gênero e trabalho foram as três linhas principais de classificação que constituíram o capitalismo no século XVI, e nessas três linhas que as relações de exploração estão ordenadas. Essa e outras contribuições respaldaram a ideia de sistema mundo de Immanuel Wallerstein, visto como sistema mundo moderno e colonial. Assim, a ideia de diferença colonial desenvolvida por Mignolo reflete uma importância ao local de enunciação dessa mesma diferença, e é onde surge outra dimensão fundamental para o grupo: a dimensão epistêmica e epistemológica, que é a colonialidade do saber.
Outra questão trazida por Luciana Ballestrin é a geopolítica do conhecimento, noção elaborada por Walter Mignolo e Aníbal Quijano, diretamente relacionada com a noção de diferença colonial, e que diz respeito à forma de produção e reprodução do conhecimento iniciada na Europa ocidental e que se tornou hegemônica e associada ao pensamento burguês e às necessidades do padrão mundial de poder capitalista, colonial, moderno e eurocêntrico, estabelecido a partir da América e, conforme a autora ressalta, cúmplice do universalismo europeu, do racismo e do sexismo. Um grande diferencial do Grupo Modernidade/Colonialidade foi que seus teóricos engendraram o movimento de descobrir e revalorizar teorias, saberes e epistemologias do sul a partir de novos olhares e paradigmas, sendo esta uma tendência que tem crescido em diversas áreas e universidades do mundo.
Por fim, a autora aponta mais uma contribuição de Nelson Maldonado Torres que é a ideia de "giro decolonial", que se contrapõe ao argumento pós-colonial, e que significa um movimento de resistência teórico, político e epistemológico à lógica da modernidade e da colonialidade, onde a decolonialidade é o terceiro elemento, e onde é essencial a formação de um pensamento propriamente latino-americano. Para Walter Mignolo, a origem do pensamento decolonial surge muito antes da formação do Grupo Modernidade/Colonialidade, remontando à própria fundação da modernidade. 
Atualmente, os vários autores decoloniais questionam a geopolítica do conhecimento, o universalismo etnocêntrico e outras formas de cientificismo contidos no mainstream das ciências sociais - um conjunto de elaborações denominadas Teorias e Epistemologias do Sul, conforme concebido por Enrique Dussel, para a efetiva decolonização das ciências sociais.
Ballestrin conclui apontando que buscou evidenciar as contribuições do Grupo Modernidade/Colonialidade para a análise e interpretação dos processos de formação da modernidade, da colonialidade e da decolonialidade, apontando uma lacuna com relação ao Brasil, que tanto teve uma forma de colonização diferente dos outros países latino-americanos (portuguesa, e que foi mais prolongada), e não tem uma pensadora ou pensador integrante do Grupo, o que faz parecer que o país tem uma realidade apartada. Esse fato fez com que o grupo privilegiasse a América Hispânica. Todos os fatores apontados evidenciam um campo promissor para as pesquisas na agenda decolonial, que, ainda que timidamente, vem ganhando espaço na academia brasileira.
REFEREÊNCIA
BALLESTRIN,Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília , n. 11, p. 89-117, Augosto de 2013.

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