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URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 1 13. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS A água subterrânea se origina quase exclusivamente na atmosfera. Uma minoria é procedente de camadas mais profundas da terra, como constituintes do magma. A água que compõem o magma e atinge a superfície é denominada de “água juvenil”. As profundidades atingidas pelas águas subterrâneas ainda são desconhecidas e variam de local para local. A partir de determinadas profundidades, as tensões entre as partículas são tão altas que os vazios praticamente inexistem, impedindo a penetração da água para camadas mais profundas. A água subterrânea tem sido explorada pelo homem desde praticamente o inicio da civilização, como na antiga Pérsia, no Egito e na região do Oriente Médio, comprovada pelos inúmeros relatos históricos e arqueológicos. O uso da água subterrânea tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos, em todo o mundo. A escassez da água potável em certas regiões do planeta é um problema que ganha amplitude internacional, levando até as disputas territoriais. As águas que ocorrem na superfície podem ser facilmente utilizadas para as diversas atividades humanas, porem, está sujeitas a contaminação direta por agentes poluidores, como esgotos domésticos e industriais e substancias químicas utilizadas na agricultura. As águas subterrâneas, por conta da profundidade das camadas de solo e/ou rochas onde são armazenadas, estão mais protegidas dos agentes poluidores da superfície. São assim, normalmente de melhor qualidade e não necessitam de tratamentos, salvo em algumas áreas salinas ou com minerais dissolvidos impróprias ao consumo direto. A captação (poço) pode ser executada nas proximidades dos consumidores, sem a necessidade de extensas adutoras, o que reduz o investimento. A utilização da água subterrânea no Brasil ainda está em expansão, pois o consumo desse recurso mineral ainda é menor se comparado a países da Europa e da América do Norte. De toda a água existente na Terra, somente 3%é doce, e de toda água doce, a água subterrânea é responsável por cerca de 97%; os demais 3% são constituídos por rios , lagos e geleiras. Portanto, a água subterrânea, se corretamente explorada, constitui-se em recurso fundamental para a humanidade. A Tabela 01 mostra a distribuição estimada de toda a água na Terra. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 2 Tabela 01. Distribuição estimada de toda a água na Terra. Dentre todos os minerais existentes na Terra, a água é o mais essencial para a existência e manutenção da vida. A vida deve ter inicio na água, em oceanos primitivos, e, evoluindo, passou para a superfície, mas manteve-se estreitamente dependente da água para a sobrevivência e continuidade das espécies. A água, este bem natural, constitui-se em patrimônio da humanidade e dele depende toda a vida na Terra, devendo, portanto, ser tratada por todos com respeito e responsabilidade. 13.1 Zonas de Ocorrência de Água Subterrânea A água que se infiltra através dos interstícios do solo e fraturas das rochas está sob ação da gravidade e das tensões superficiais de aderência entre as partículas. Pequenas quantidades de água que se infiltram tendem a se distribuir nas proximidades dos contatos entre as partículas, e a força que une a água é mais potente que a força da gravidade. Para que haja infiltração até zonas mais profundas (zona saturada) é necessário volume suficiente para preencher a maior parte dos vazios, eliminando os meniscos e a tensão de aderência e provocando o escoamento livre da água sob a ação da gravidade. Distinguem-se ao longo de um perfil de subsolo, da superfície até o lençol freático, as seguintes zonas de ocorrência da água Figura 01. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 3 Figura 01. Esquema mostrando as principais zonas de ocorrência de água subterrânea. a) Zona de Aeração: nesta região o solo está parcialmente preenchido pela água, ocorrendo à adesão da água ás partículas de solo. Dependendo das superfícies especifica do solo, podem ocorrer maiores ou menores teores de umidade; por exemplo, argilas com levada superfície especifica possuem mais água aderida que solos arenosos ou pedregulhosos. Dentro da zona de aeração, ocorrem duas subzonas. Na zona de umidade de solo, mais próxima da superfície, a ação de energia solar provoca intensa evaporação e precipitação de minerais, como óxidos de ferro e sílica, em solos tropicais. Já na franja capilar, localizada abaixo da zona de umidade e acima da zona saturada, a água permanece aderida entre as partículas, formando meniscos e aplicando tensões de sucção na estrutura do solo. É, portanto, a zona dos solos não saturados com comportamentos mecânicos importantes para a engenharia civil. b) Zona de saturação: é a região abaixo do lençol freático, ou água livre, onde, em virtude de quase total saturação, a água pode fluir sob a ação da gravidade. Esta zona, como as demais, está sujeita à variação do nível em função da precipitação atmosférica e infiltração. Em locais onde o nível d”água livre (lençol freático) está próximo da superfície do terreno, a franja capilar pode atingir a superfície, formando terrenos úmidos que em épocas de maior precipitação se tornam pantanosos, com o lençol freático atingindo a superfície. 13.2 Aqüíferos Definição 1: Segundo (QUEIROZ, 2009) um aqüífero é definido como sendo uma ou mais formações litológicas que apresentam porosidades e permeabilidades relativamente altas, normalmente situadas entre camadas de rochas de baixo coeficiente de permeabilidade, “impermeáveis”, que armazém água subterrânea em quantidade e com vazões relativamente elevadas, cuja exploração possa se tornar viável através de afloramentos naturais (nascentes) diretamente na superfície do terreno, ou através de poços rasos ou profundos, ate atingir o lençol subterrâneo, ou aqüífero. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 4 Definição 2: Para TOOD, apud MACIEL FILHO e NUMMER (2011), aqüíferos são rochas ou solos saturados de água e permeáveis, isto é que permitem o fluxo de água. Tem uma estrutura com capacidade suficiente de armazenamento e libertação de água subterrânea para ser retirada em poços. Aqüicludes: são materiais também porosos, que contem águas nos seus interstícios, muitas vezes atingindo até o grau de saturação, mas não permitem sua circulação. São rochas ou materiais essencialmente argilosos, nos quais a água está firmemente fixada em poros de diminutas dimensões, por pressões moleculares e tensões superficiais e a circulação é praticamente nula. Aqüitardos: são materiais ou rochas porosas que, embora armazenem quantidades significativas de água no seu interior, permitem a circulação de uma forma muito lenta. São incluídas neste grupo, as argilas siltosas ou arenosas. Aqüifugos: são materiais impermeáveis com baixíssimo grau de porosidade, que tanto não contem como não transmitem água, inclui-se neste grupo todas as rochas duras, cristalinas, metamórficas, e vulcânicas, sem fraturamento e ou alteração. Esses materiais podem aparecer, na natureza, isolados ou formando pacotes de dois ou mais estratos, ocorrendo a diferentes profundidades, desde poucos metros até dezenas ou centenas de metros, possuindo espessuras métricas a decahectométricas e estruturando o arcabouço hidrogeológico local ou regional. 13.2.1 Tipos de Aqüíferos Na natureza existem basicamente dois tipos de aqüíferos: livre e confinado. Aqüífero livre: é a formação geológica que possui permeabilidade suficiente parapermitir a circulação de água através dos vazios da rocha, parcialmente saturada. Em condições normais de água livre, sempre são retidas pequenas bolhas de ar na água, portanto, o aqüífero livre não possui os vazios preenchidos totalmente pela água. Esse tipo de aqüífero, normalmente, apresenta na base camadas de baixa permeabilidade, permitindo a acumulação de água (camada superior). Nessas condições o aqüífero está em contato com a atmosfera, e o nível de água encontra-se sob a pressão atmosférica, fazendo com que a linha piezométrica (LP) coincida com o nível de água livre. Dependendo da alternância das camadas de alta e baixa permeabilidade, podem ocorrer lençóis de águas suspensos. Normalmente esses lençóis não apresentam grandes volumes armazenados, pois dependem de dimensões e das espessuras das camadas em que se apóiam e às quais pertencem. Para a correta exploração da água subterrânea deve-se atingir o aqüífero principal da região. Aqüífero confinado: é a formação geológica que possui permeabilidade suficiente e saturação total dos vazios das rochas. É limitado no topo e na base por camadas de baixa permeabilidade, fazendo com que, em decorrência do peso das camadas superiores ou da altura da coluna de água em regiões limítrofes, confine a água sobre pressão. Neste tipo de aqüífero LP encontra-se acima da superfície da água no aqüífero, sendo também denominado de “aqüífero artesiano”. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 5 13.2.2 Propriedades hidráulicas Porosidade: é o termo utilizado para designar os espaços vazios ou poros existentes no interior dos diferentes tipos de materiais. Na natureza é possível classificar cada tipo de material, segundo sua porosidade, em dois grandes grupos: os meios porosos propriamente ditos, que compreendem os materiais de propriedade granular ou de interstícios, representados por solos e sedimentos; e os meios fraturados, cuja porosidade é caracterizada por uma porosidade de fraturas, fissuras ou fendas, ocorrentes em rochas duras ou compactas, tais como granitos, basaltos, gnaisses e outras rochas ígneas ou metamórficas. Há também um terceiro grupo de porosidade que pode ser definido, qual seja a porosidade cárstica, ocorrente, sobretudo em rochas solúveis, formada pela dissolução de porcos do material original. Em algumas rochas, particularmente nas rochas sedimentares e nos horizontes de transição solo-rocha, tem-se um meio que pode ser caracterizado como de dupla porosidade, ou seja, porosidade granular e de fraturas. As redes de poros em um dado meio podem estar totalmente interconectadas e a circulação da água pode ocorrer livremente. Em outros, os poros podem estar totalmente isolados e a água não circular, ficando confinada no interior destes. Há ainda meios em que a intercomunicação entre os poros é extremamente restrita e a água circula de forma muito lenta. As variações da porosidade se devem a vários fatores, dentre os quais se destacam: a forma e o imbricamento dos grãos; a presença de materiais de granulometria fina, como siltes e argilas, ocupando os espaços intergranulares; a presença de materiais cimentantes normalmente constituídos por óxidos e carbonatos, que podem preencher, total ou parcialmente, os poros do meio; a distribuição granulométrica, etc. Nas argilas embora possam ocorrer percentagens elevadas de vazios, a água é muito pouco móvel. Nos meio fraturados, a porosidade é caracterizada por uma porosidade de fraturas. Em geral estas estruturas controlam todo o fluxo do maciço, atuando como coletoras e transmissoras de água. O fluxo, por vezes, ocorre das fissuras para a matriz rochosa, ou vice-versa, o que caracteriza os meios de dupla porosidade granular entrecortada por descontinuidades. A Figura 02 ilustra diferentes tipos de porosidades. Figura 02. Diferentes tipos de porosidades. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 6 Em termos numéricos a porosidade total (η) é definida como sendo a relação entre o volume de vazios (VV) e o volume total considerado (V). η = VV/v Para estudos do fluxo subterrâneo, no entanto o interesse recai sobre a porosidade efetiva, ou seja, aquela que reflete o grau de intercomunicação entre os poros, permitindo assim a percolação da água. A porosidade efetiva (ηe) representa apenas a pequena parcela da porosidade total, sendo expressa pela relação entre o volume ocupado pela água livre (Ve) e o volume total (V). ηe = Ve/V Da água contida no meio, parte é retida por efeitos capilares e moleculares, sendo expressa pela capacidade de retenção especifica (ηs), definida pela relação entre e o volume de água retida pelo meio (Vs), após escada a água livre ou gravitacional e o volume total (V). ηs = Vs/V Como o volume de água liberado pela ação da gravidade é determinado pela porosidade efetiva, à capacidade de retenção específica corresponde à diferença entre a porosidade total e a porosidade efetiva. ηs = η – ηe Quando o meio apresenta porosidade de interstícios ou granular, permitindo a livre circulação de água e a importância relativa das descontinuidades é menor, em geral, são válidas as leis que regem o fluxo nos meios porosos, conhecidas no campo da Mecânica dos Solos, como a Lei de Darcy, apresentada a seguir. Permeabilidade e a lei de Darcy A base da teoria do escoamento em meios porosos granulares foi estabelecida por Henry Darcy que, por meio de um experimento demonstrou que o fluxo que atravessa um meio poroso homogêneo e isotrópico tem velocidade constante. Nessas condições o fluxo apresenta um regime laminar. A experiência de Darcy consistiu em fazer a água passar através de uma coluna porosa, de seção (A) e comprimento (L), conforme ilustrado na Figura 03. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 7 Figura 03. Parâmetro para execução do ensaio de Darcy. Variando-se a geometria do sistema, os líquidos empregados nos ensaios e os materiais no interior da coluna porosa, verifica-se que a vazão (Q) obtida é proporcional a inclinação da reta que une os níveis nos tubos piezométricos, para qualquer inclinação da coluna porosa, ou seja: Q = c.(h1-h2)/L = c.∆h/L Verifica-se ainda que, variando-se o diâmetro da coluna porosa, para uma mesma condição de nível nos tubos piezométricos, as vazões são proporcionais a área A da seção da coluna porosa independente da forma da seção, ou seja: Q= d.A Se (Q) é proporciona a (∆h/L) e também proporcional a (A), então: Q = c.d. ∆h/L. A A equação acima exprime a relação existente entre a vazão (Q) e os parâmetros de duas categorias: os parâmetros A, L, h1, h2 (∆h), relativos a geometria do sistema, e o termo c.d, que é um parâmetro dependente unicamente da natureza do meio poroso e do liquido percolante. O produto c.d equivale a uma constante denominada de coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica e é representada pela letra K. O termos (∆h/L) relacionada a inclinação da reta que une os tubos piezométricos, é o gradiente hidráulico, de notação i, adimensional, que representa a dissipação da energia por unidade de comprimento de conduto, ou seja, a perda de carga por unidade de comprimento no sentido do escoamento. i = ∆h/L As perdas de cargas hidráulicas (∆h = h1 –h2), que ocorrem durante o escoamento, dependem da forma e da dimensão do conduto, assim como das propriedades do fluido e das características do meio percolado. Interferem ainda as URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 8 perdas por atrito viscoso, o tipo de regime de fluxo estabelecidoe as mudanças na seção do escoamento, por estreitamento ou alargamento. Desta forma, a equação de Darcy pode ser assim escrita: Q/A = K.i O termo (Q/A), vazão por unidade de área, tem a dimensão de uma velocidade. É a velocidade de descarga ou velocidade de Darcy, também denominada de vazão específica e de notação (V). O parâmetro (V), proporcional ao gradiente (i), exprime a velocidade com que o liquido deve escoar no interior de uma coluna porosa, de seção (A), para fornecer uma vazão (Q). È, portanto, uma velocidade virtual, como se a vazão (Q) atravessasse sua totalidade da seção transversal do canal de fluxo. Na realidade, nos meios porosos, o fluxo se da através de infinidade de filetes capilares, grosseiramente paralelos entre si, e a seção real de escoamento, é infinitamente menor que a seção total da coluna porosa e corresponde a porosidade efetiva do meio (ηe). Nessas condições, defini-se a velocidade de percolação intersticial (Vp) ou velocidade real de fluxo, que se relaciona a velocidade de Darcy conforme a expressão: Vp = V/ ηe = Q/A ηe Tendo em conta as dimensões de (V) e de (i), o termo (K) também possui dimensão de uma velocidade. É uma velocidade de filtração que resulta na imposição de um gradiente unitário: K = Q/A.i Para i=1 K = Q/A ou seja, a velocidade de descarga é igual ao coeficiente de permeabilidade quando i =1. O coeficiente de permeabilidade é uma dos mais importantes parâmetros hidráulicos e exprime à maior ou menor facilidade com que a água percola através de um meio poroso. De acordo com as anotações precedentes, a Lei de Darcy pode ser reescrita como: V = K.i O fluxo que atravessa um meio poroso tem velocidade constante e perda de carga de forma proporcional, em função do material que a constitui, a uma temperatura fixa e determinada. No âmbito da validade da Lei de Darcy, o coeficiente de permeabilidade é um valor constante para cada meio e para cada fluido, dentro de condições determinadas. Para a o parâmetro (K), alem da natureza do meio, há influência da densidade e da viscosidade do fluido, as quais, por sua vez, são funções da temperatura e da pressão a que este está submetido. Na Tabela 02 apresenta Coeficientes de Permeabilidade (K) para diferentes materiais. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 9 Tabela 02. Coeficientes de Permeabilidade (K) para diferentes materiais. 13.2.3 O Aqüífero Guarani O nome do aqüífero guarani é uma homenagem aos índios guaranis que viviam na região. É a principal reserva subterrânea de água doce da America do Sul e um dos maiores sistemas de aqüíferos do mundo, ocupando uma área total de 1,2 milhões de Km2 na Bacia do Paraná e parte da Bacia do Chaco-Paraná, com uma área de recarga de 150.000 Km2. Ocupa 840.000 Km2 no Brasil, 58.500 Km2 no Paraguai, 58.500 Km2 no Uruguai e 255.000 Km2 na Argentina, totalizando um volume armazenado estimado de 45.000 Km3 de água. Em torno de 2/3 do Aqüífero Guarani se encontra em território brasileiro, nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Este aqüífero é formado pelas formações geológicas: Botucatu, no Brasil, Paraguai, Uruguai e argentina, e Buena Vista na Argentina e Uruguai. É grande a extensão do Aqüífero Guarani com característica confinada, apresentando em alguns locais artesiano jorrante. A sua dinâmica de recarga e circulação da água ainda é pouco conhecida, e somente estudos mais detalhados do aqüífero possibilitam utilização mais racional e o estabelecimento de estratégias de preservação mais eficientes. Estima-se que o aqüífero guarani originou-se na Era Mesozóica inferior, como um imenso deserto, formado principalmente por partículas transportadas pelo vento, constituindo-se em grandes sedimentos eólicos, com estratificação entrecruzada, como antigas dunas de areia, semelhantes aos desertos atuais do Oriente Médio e Norte da África. Os sedimentos eólicos, em virtude da seleção pelo vento, são constituídos de partículas de formas arredondadas ou esféricas, bem selecionadas (granulometria constante), gerando elevado índice de vazios e, conseqüentemente, excelentes condições de armazenamento de água. Essa formação foi determinada no Estado de São Paulo, na região de Botucatu, sendo denominada de Arenito Botucatu. Após a formação desse arenito, em torno de 135 milhões de anos atrás, ocorreu, com a separação das placas das Américas, o tectonismo da Bacia do Paraná, produzindo intenso fraturamento e a subida do magma alcalino, dando origem à Formação Serra Geral (basaltos, diabásios e gabros). Os intensos derrames de basaltos cobriram essa formação inicial (deserto), confinando todo esse pacote sedimentar a até 2.000 m de profundidade, sendo preenchido por água ao longo de todo esse tempo geológico. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 10 Por conta de sua grande extensão, as profundidades variam, chegando a alguns lugares a aflorar na superfície. Em decorrência da exploração de água subterrânea e dos poços executados sem as adequadas características técnicas, pode ocorrer a contaminação da superfície para o interior do aqüífero. Em regiões mais susceptíveis deve-se tomar cuidado especial com a construção de aterros sanitários, sistemas de tratamentos de esgotos, indústrias, depósitos de combustíveis e outros agentes que possam contaminar o solo e água, para que não atinja o aqüífero. Deve-se observar também que a recarga desse aqüífero é feita pelas águas das precipitações atmosféricas que se infiltram através dos maciços, permitindo a reposição da água que é retirada para abastecimento da população. Portanto a exploração não pode ser excessiva, pois, se reposição em determinadas áreas não for suficiente, pode provocar o rebaixamento acentuado e problemas em poços já existentes. 13.2 Fluxo de água em maciços rochosos Os maciços rochosos são entrecortados por diversas famílias de descontinuidades, cada qual com sua atitude e uma distribuição do espaço e abertura de fraturas que lhes são particulares. Em geral, as fraturas nos maciços são de dimensões finitas quando comparadas a escala do problema, porém o fluxo em uma fratura não é independente das demais, ou seja, para percolar através de fraturas em certa direção, o fluido terá que percolar através de fraturas em outras direções que se interconectam as primeiras. Portanto, não é possível tratar de forma individual cada uma das fraturas presentes no maciço, aplicando-se de imediato, as equações e conceitos apresentados anteriormente. Para a determinação dos parâmetros hidráulicos de maciços rochosos são utilizados basicamente dois métodos: amostragem de fraturas e ensaios hidráulicos de campo. O primeiro método baseia-se na obtenção de informações acerca do sistema de fraturas do maciço (número de famílias, orientação, abertura, espaçamento, preenchimento, etc.) a partir das quais é obtido, por determinação analítica, um tensor de permeabilidade, ou seja, a determinação no espaço, dos módulos e das direções principais da permeabilidade. A maior dificuldade associada a este método é a obtenção de informações representativas do sistema de fraturamento. No método estão implícitas, ainda, hipóteses de uniformidade das variáveis dos sistemas de fraturas, alem de sua extensão infinita, quando na realidade, estas grandezas são estatisticamente distribuídas de diferentes formas, como, por exemplo, o espaçamento que apresenta nos maciços uma distribuição exponencial; a abertura uma distribuição log normal; a orientação, uma distribuição normal hemisférica, etc. O segundo método, por outro lado, é baseado em resultados de ensaios de bombeamento ou injeção d’água, nos quais a influencia individualdos vários parâmetros do sistema de fraturas se integram nos próprios resultados dos ensaios. Nestes métodos, a principal dificuldade que se interpõem é a determinação de um volume de ensaio que seja representativo do maciço rochoso, volume este denominado volume elementar representativo (V.E.R.). Pra maiores detalhes verificar página 125 do livro Geologia de Engenharia dos autores Antonio Manuel dos Santos Oliveira e Sérgio Nertan Alves de Brito. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 11 13.3 Exploração ou explotação da água subterrânea A exploração da água subterrânea pode ser feita diretamente na superfície, através de nascentes, ou na subsuperfície, através de aberturas executadas no terreno, denominadas poços. Os poços são escavações manuais ou mecânicas que atingem o nível de água ou lençol freático, por onde a água é retirada. Trata-se de obras de engenharia envolvendo as áreas de geotecnia e hidráulica, alem de instalações elétricas e de equipamentos de perfuração e montagem. Quanto às condições de pressão do aqüífero, os poços podem ser freáticos ou artesianos. 13.3.1 Poços artesianos A palavra atesiano vem de Artois, na França, onde o primeiro poço desse tipo foi perfurado em 1126, na Idade Média. De modo geral um poço é artesiano quando a linha piezométrica (LP) do lençol d’água estiver acima da superfície de saturação, isto é, sob pressão confinante. Os poços artesianos pode ser de dois tipos: a) Artesianos jorrantes: quando a linha piezométrica encontra-se acima da superfície do terreno, isto é, a pressão de confinamento da água no aqüífero, medida em metros de coluna de água (m.c.a), é maior que a profundidade do poço. Nessas condições a água tinge a superfície jorrando com determinada pressão sem a necessidade de bombeamento. Caso haja necessidade de maior vazão, podem-se utilizar bombas para retirada forçada de água. b) Artesianos não jorrantes: a linha piezométrica está acima da do nível d’água, mas abaixo da superfície do terreno. Neste caso o bombeamento é necessário para vencer a altura que falta até a superfície. 13.3.2 Poços freáticos Os poços freáticos são mais utilizados, pois nem sempre ocorre a condição de artesianismo para uma profundidade econômica de exploração. Os poços freáticos atingem o lençol livre de água na subsuperficie, necessitando de bombeamento para a exploração da água. Podem ser divididos em dois tipos: poços rasos e poços profundos. Poços rasos É a forma mais antiga de exploração da água subterrânea. São poços cilíndricos abertos manualmente com o uso de ferramentas simples. O diâmetro varia de 1 a 2 m, sendo a media em torno de 1,5 m. Dificilmente atingem mais que 20 m de profundidade e possuem baixa vazão, pois a água flui do aqüífero para o poço e em seguida é içada através de baldes, bomba elétrica ou movida pelo vento, posicionada no interior do poço. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 12 A proteção merece cuidados especiais. Devem-se revestir as paredes com tubos de concreto pré-moldados e construir, na saída, murro protetor com tampa, conforme a Figura 04. Figura 04. Esquema de poço raso para a captação de água através do lenço freático. Esses tipos de poços estão sujeitos a contaminação, tanto da água superficial quanto daquela que infiltra na superfície, transportando principalmente coliformes. Há no mercado da construção civil, tubos próprios par ao revestimento de poços rasos, com tubos permeáveis na área imersa abaixo do nível da água, para impedir a queda de material solto das paredes do poço. Na parte superior deve ser executado fechamento com paredes revestidas com impermeabilizantes e tampa de concreto ou chapa metálica, de modo a impedir a entrada de animais ou que a poluição da superfície vá para dentro do poço. Ao redor do poço deve ser executada laje de concreto com espessuras e larguras adequadas para cobrir a área no entorno e impedir a penetração das águas superficiais no poço pela infiltração lateral. As águas desses poços devem ser tratadas por cloro para evitar a contaminação por coliformes ou outros microorganismos. Esses tipos de poços são muito comuns no Brasil e m áreas rurais, e um dos motivos de contaminação é a penetração direta da água da superfície, ou da construção de fossa negras nas proximidades. A construção de fossas negras deve manter distancia segura, variando para cada tipo de solo ou rocha que ocorre no local. Essas fossas sempre devem ser executadas a jusante do poço e sempre acima do lençol freático, isto é, em locais de topografia mais baixa que o poço, no sentido de escoamento do lençol par aos cursos d’água. A forma mais correta é a instalação de fossas biodigestoras existentes no mercado, promovendo um tratamento dos resíduos orgânicos e melhorando as condições s de higiene nesses locais. Poços profundos São poços perfurados com equipamentos especiais, com profundidades de 40 a 1000 metros ou mais. A perfuração desses poços demanda conhecimentos técnicos URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 13 especializados em hidrogeologia e engenharia. Devem ser executados por empresas com corpo técnico especializado (engenheiros e geólogos), fornecendo características hidrogeológicas do aqüífero, projeto, características construtivas, vazões e qualidade de água. Um dos aspectos construtivos importante é a proteção do poço na superfície do terreno, pois a principal forma de contaminação é a penetração de água da superfície par ao interior do poço, atingindo o pré-filtro e contaminando o aqüífero. Esses poços são constituídos basicamente por: O furo com 10 a 40 cm; Um tubo de revestimento para conter a parede de furo, com espaço anular preenchido com argamassa de cimento e areia grossa ou nata de cimento; Tubo de revestimento interno contendo trechos com filtro para a separação do material de pré-filtro e aeração; Tubo de elevação de água até a superfície (tubo adutor). No espaço anular entre o tubo adutor e o revestimento descem os cabos elétricos para a alimentação da bomba. 13.4 Principais Fontes Poluidoras de Águas Subterrâneas As águas subterrâneas, mesmo protegidas pelas camadas subjacentes de solos ou rochas, são susceptíveis de contaminação por substancias oriundas da superfície. A contaminação ocorre quando alguma substancia química prejudicial à saúde entra em contato com a água, espalhando-se através do aqüífero, formando uma espécie de pluma, denominada de “pluma de contaminação”. As principais fontes poluidoras do subsolo e das águas subterrâneas são: a) Contaminação por fossas negras: ocorre quando são executadas escavações para a deposição de resíduos provenientes de esgotos domésticos ou para a criação de animais, principalmente em áreas rurais; b) Contaminação por redes de esgotos urbanas: estima-se que 20% do liquido das redes de esgoto se infiltra no subsolo por conta de problemas nas tubulações. A contínua descarga desses poluentes pode atingir facilmente o lençol subterrâneo, vindo a contaminá-lo. Tanto pelas fossas quanto pelas redes de esgoto, ocorre a contaminação por coliformes, microorganismos patogênicos que ingerido pelo ser humano podem provocar infecções no sistema intestinal. Alem dos microorganismos patogênicos, os esgotos urbanos e as fossas possuem elevadas concentrações de carbono orgânico, cloreto, nitrogênio, sódio, magnésio, sulfatos e, em certos casos metais pesados. c) Contaminação por atividades agrícolas: uso de fertilizantes ou agrotóxicos dissolvidos na água, podem atingir o lençol subterrâneo, contaminando-o com o excesso de sais, compostos nitrogenados eoutras substâncias oriundas dos agrotóxicos prejudiciais à saúde. O estudo destes poluentes é complexo, pois as atividades agrícolas são realizadas em extensas áreas com variedades de produtos, e é difícil o monitoramento e controle nos locais. URI UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO - MECÂNICA DOS SOLOS I - Prof. Luis Carlos 14 Um dos cuidados a se tomar em áreas rurais é o descarte das embalagens utilizadas em locais adequados e seguros, pois podem se tornar fontes poluidoras. d) Contaminação por combustíveis: vazamentos de tanques de combustíveis em distribuidoras ou em postos de combustíveis podem causar sérios danos à água subterrânea, pois, dependendo do produto, podem percolar através do subsolo com grande facilidade e atingir os lençóis d’água em tempo relativamente curto. Os tanques modernos de estocagem de combustíveis já possuem sistema de detecção de vazamentos e sistema de monitoramento. Outra forma de contaminação por combustíveis são os acidentes com veículos de carga. e) Atividades de mineração: as explorações de certos minerais, principalmente os metálicos, podem trazer sérios ricos ao lençol d’água subterrâneo. Pode ocorrer também infiltração de minerais que interferem nas características hidráulicas do aqüífero. f) Aterros sanitários: a ação biológica sobre os materiais orgânicos nos aterros sanitários produz compostos patogênicos denominados de “chorume”, que em contato com o solo pode atingir o lençol d’água e contaminá-lo com quantidades relativamente grandes de poluentes. O projeto e a construção de aterros de resíduos sólidos são uma das atividades da engenharia civil, dentro da área do saneamento, envolvendo também a área da geotecnia. Nesses projetos devem-se tomar cuidados especiais e obedecer a certos critérios técnicos para evitar a contaminação do subsolo e da água. Modernamente têm sido utilizados materiais sintéticos denominados de geossintéticos para a impermeabilização, drenagem e estruturação desses maciços. g) Lagoas de tratamento de esgotos: como nos aterros sanitários, pode ocorrer a contaminação do solo e da água pela infiltração através de lagoas de tratamento. A base e os taludes laterais devem ser impermeabilizados com materiais naturais com baixo coeficiente de permeabilidade, como argilas, ou ser utilizados geossintéticos especiais. h) Vazamentos industriais: substâncias químicas ou materiais orgânicos resultantes de certas atividades industriais devem ser armazenados em condições adequadas para evitar vazamentos e atingir cursos d’água e o lençol subterrâneo. Um dos problemas graves que pode ocorrer em algumas atividades industriais é a contaminação do solo e da água por metais pesados, como chumbo, mercúrio, entre outros. É preciso ter em mente que a água subterrânea circula muito lentamente através dos aqüíferos, portanto, quando ocorre a contaminação de um aqüífero, sua recuperação é muito difícil. A melhor tática ainda é a prevenção, para que não ocorram processos perigosos ao meio ambiente e à saúde que se tornarão praticamente irreversível.
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