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Concepções de infância no decorrer da história

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Como se construiu historicamente a concepção de infância.
 Ao longo da história da humanidade o conceito de infância sofreu várias alterações para chegar na concepção de criança que temos hoje. Podemos afirmar que não é tão antigo as condições de reconhecimento humanitário que uma criança possui atualmente. 
 A história nos mostra que até o século XII não se tinha um conceito definido especificamente para as crianças. Em virtude das condições de higiene, saúde e saneamento básico serem precárias naquela época, o índice de mortalidade infantil era muito alto. Heywood (2004) afirma que a evolução do tratamento indiferente da infância no período medieval para o que temos hoje se deu porque os pais passaram a ter uma postura mais cuidadosa em relação a criação de seus filhos. Segundo o autor, as crianças de menos de 2 anos não tinham a devida atenção dos seus pais, pois os mesmos consideravam uma perda de tempo investir em um ser tão frágil. Aquelas que conseguiriam sobreviver só passariam a ter uma identidade na sociedade quando passaram a exercer alguma atividade que um adulto praticava, para assim, ser considerado como tal. 
 Na antiguidade, os gregos utilizavam palavras ambíguas para classificar qualquer pessoa que estivesse num estágio entre a infância e a velhice, não havendo, portanto, um conceito para designar a infância ou mesmo uma diferenciação nas etapas do seu desenvolvimento. Nessa época não existia restrições morais, ocorrendo a prática do infanticídio. Já na idade média, o comportamento era caracterizado pela infantilidade entre todas as idades. Nesse período, a infância durava até os sete anos de idade, pois a partir daí a criança tem passa a compreender o que os adultos dizem. 
 Por essa visão, foi um período onde a infância era caracterizada pela inexperiência, dependência e incapacidade pois não tinha as mesmas compreensões que um adulto. Por não haver distinções entre adulto e criança, cabia a elas aprender as tarefas do dia a dia, a trabalhar, ajudar os mais velhos nos serviços, e a passagem que tinham por sua família era muito breve, pouco depois que se passava o período de amamentação a criança já passava a fazer companhia aos adultos para que aprendesse a servir e trabalhar, eram criadas por outras famílias para que nesse novo ambiente aprendessem um oficio. 
 De acordo com Áries (1981), as crianças também não contavam com nenhum tipo de atendimento especial ou, como chamamos comumente, paparicação. As pessoas que trabalhavam cuidando de crianças pequenas eram as criadeiras, as amas de leite ou mães mercenárias e não precisavam ter nenhum tipo de qualificação. Os bebês eram, em via de regra, apenas uma coisinha engraçadinha que não demandava muito apelo emocional, pois se caso morresse, era fácil substituí-la por outra. Sem contar que existia ainda a diferença entre o tratamento dos bebês dependendo do sexo. As meninas eram consideradas produtos de relações sexuais corrompidas pela libertinagem e desobediência, enquanto os nascimento de um menino era uma bênção e razão de ser comemorado. 
 Áries (1981) aponta que a relação criança/infância foi se transformando a partir da difusão de novos pensamentos e condutas da Igreja Católica. Estas novas condutas fizeram com que surgissem novos modelos familiares que ressaltavam a importância do laço de sangue. Sendo que no século XVIII a Igreja Católica passou a acusar quem matasse crianças de praticar bruxaria. 
 Desta forma no século X e XI o matrimônio e o ato de procriar passaram a ser considerados sagrados. A infância passa a ser reconhecida, de acordo com Heywood (2004) a partir do discurso cristão do “culto ao menino Jesus” e do “massacre dos inocentes” praticado por Herodes. Segundo o autor, passa a se difundir a ideia de que a criança é um mediador do céu e da terra, e que destes vêm falas de sabedoria. Foi neste cenário, que se emerge o sentimento de infância. 
 Foi no século XII que a criança passou a ser vista de modo diferente na sociedade. Agora ela era vista como algo que precisava ser moldado. Era obrigação dos adultos ensinarem as crianças a terem caráter, bons costumes e razão. A concepção da criança como um ser com originalidade de pensamento e características peculiares passaram a começar a ser considerados apenas nos séculos XV, XVI e XVII. Foi então que entenderam que a criança precisava de um tratamento para tentar na vida adulta, tratamento que foi entendido como a necessidade da vida escolar. Foi então que no século XIX e XX, os pais começaram a apresentar uma atitude diferente em relação a seus filhos. Segundo Áries (1981) eles passaram a se interessar pelos estudos dos seus filhos e organizar a família em torno da criança. Notaram que limitar o número de filhos era favorável para a administração do cuidado de cada um. 
 Essas mudanças de conceito em relação a infância se deve ao fato do pensamento de que a criança não passava de um adulto imperfeito e inacabado passou a ser deixado de lado. A criança passou a ser vista como especiais e diferentes e que devem ser tratadas como tal. É então que a sociedade passa a ver a criança como uma figura atuante no contexto social e que tem a sua forma de vê-la e agir sobre ela. Partindo disso, houve a preocupação de criar instituições específicas para as crianças, principalmente voltado para a educação. 
 Atualmente existe uma consciência sobre a importância das experiências da educação na primeira infância na vida da criança. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil afirma que a criança possui uma característica peculiar que pensam e sentem o mundo de um modo próprio. Tá característica própria também é defendida pela Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n° 9.394) ao ressaltar a importância da educação infantil como dever da família e do estado nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Também hoje tempos o Conselho da Criança e do Adolescente que é um importante marco no reconhecimento e valorização da infância por parte das políticas públicas. Segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), estão entre principais direitos das crianças Ter uma educação de boa qualidade; Ter acesso à cultura e aos meios de comunicação e informação; Poder brincar com outras crianças da mesma idade; Não ser obrigado a trabalhar como adulto; Ter uma boa alimentação que dê ao organismo todos os nutrientes que precisam para crescer com saúde e energia; Receber assistência médica gratuita nos hospitais públicos sempre que precisarem de atendimento; Ser livre para ir e vir, conviver em sociedade e expressar ideias e sentimentos; Ter a proteção de uma família seja ela natural ou adotiva, ou de um lar oferecido pelo Estado se, por infelicidade, perderem os pais e parentes mais próximos; Não sofrer agressões físicas ou psicológicas por parte daqueles que são encarregados da proteção e educação ou de qualquer outro adulto; Ser beneficiada por direitos, sem nenhuma discriminação por raça, cor, sexo, língua, religião, país de origem, classe social ou riqueza e toda criança do mundo deve ter seus direitos respeitados; Ter desde o dia em que nasce um nome e uma nacionalidade, ou seja, ser cidadão de um país. 
 A criança hoje é considerada um componente único na sociedade com direitos e deveres estabelecidos, mas podemos afirmar que nem sempre foi assim. A concepção do conceito de infância no decorrer da história nos permite ter uma dimensão da importância do cumprimento de todos os direitos da criança na sociedade moderna. 
Referências
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
BRASIL. Lei n.9394, Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Editora do Brasil.
BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília, DF: MEC, 1998.
HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: da Idade Média á época contemporânea no Ocidente. PortoAlegre: Artmed, 2004.

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