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HERMES GRAMÁTICA pré-vestibular aula caderno 1 1 Variação Linguística 2 Questões de Semântica 3 Morfologia: substantivos, adjetivos e pronomes 4 Morfologia: artigo, numeral, advérbio e interjeição 5 Morfologia: verbos - formação e sentido do indicativo e do subjuntivo 6 Morfologia: verbos - formação e sentido do imperativo aula caderno 2 7 e 8 Sinais de pontuação 9 e 10 Regência verbal 11 Crase 12 e 13 Concordância verbal GRAMÁTICA HERMES gramática 1 padrão comunidade linguagem portuguesa dialeto expressão entenda ensinar mostrar tarefa pois devem socialescrever mundo explicar modo sociedade fala tão quais simples leitura construção entender-se indivíduo transmitir dominar ensino dialetos ainda aprendeu então entrar falar criança escola deve aluno conhecimento variação escrita língua linguística ser a vi ts POLI_HERMES1_GRA.indb 1 23/01/17 10:23 2 polisaber 32 5- 1 Variação linguística conceito de língua o termo “língua” costuma ser definido sob dois pontos de vista: o técnico-científico e o sociocultural. De acor- do com o primeiro, uma língua é um sistema formado por diferentes módulos: o fonético (os sons relevantes para a enunciação), o morfossintático (as unidades significativas e seu arranjo em frases e textos, segundo regras) e o semântico (os significados e os sentidos). outra divisão é a que propõe um léxico (todas as palavras da língua) e uma gramática (as regras que permitem combinações dessas palavras para fazerem sentido). essa é a concepção da língua como estrutura, como uma entidade autônoma, que pode ser estudada em si mesma, sem referência a fatores externos. o ponto de vista sociocultural é aquele assumido pela maioria das pessoas, isto é, as que não são es- pecializadas nos estudos científicos da linguagem. assim, quando saímos do campo técnico, especializado, deparamo-nos com as concepções do senso comum, ou seja, as ideias mais ou menos cristalizadas que circulam na sociedade e na cultura. aqui, a definição de língua é vaga e imprecisa, impregnada de mitos culturais e preconceitos sociais, decorrentes de longos processos históricos, específicos de determinado povo, nação ou grupo social. Um dos estereótipos culturais mais resistentes é o que identifica língua ao modelo idealizado de escrita literária, geralmente obsoleta, que podemos chamar de norma-padrão e que vem descrito e prescrito nos livros chamados gramáticas normativas. Uma terceira perspectiva, mais recente, estuda a língua não só como estrutura fonomorfossintática, mas sobretudo em seus aspectos semânticos, pragmáticos e discursivos. segundo essa abordagem, só existe língua em interação social, de modo que é preciso examinar e compreender os processos envolvidos na produção de sentido que se dá toda vez que falamos e/ou es- crevemos. aqui, a língua não é uma entidade abstrata: ao contrário, ela é vista como uso concreto, uso que se faz sempre e inevitavelmente na forma de um discurso que se molda segundo as convenções dos múltiplos gêneros que circulam numa sociedade-cultura. assim, os textos – falados e escritos – são molduras linguísticas em que os enunciados se interconectam (por meio de fatores como coesão e coerência, entre outros) para conferir sentido ao discurso expresso como gênero textual. por isso, é uma abordagem (1) semântica, que analisa o sentido (e não o significado abstrato) que os enunciados adquirem em discursos particulares; (2) pragmática, que investiga as intenções subjacentes à situação daquele uso específico das palavras, das construções sintáticas e das propriedades textuais; e (3) discursiva, porque tenta depreender as crenças so- ciais, os valores culturais e as ideologias que subjazem a enunciados concretos. Disponível em: <www.glossarioceale.com.br/ verbetes/lingua> (acesso em: 17 nov. 2014) a língua como feixe de possíveis variedades A heterogeneidade é característica de todas as línguas humanas. Quando nos referimos ao espanhol, ao francês, ao inglês, ao português, ao chinês, ao japonês, colocamos sob um único rótulo uma imensa variedade de maneiras gramática – aula 1 Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno e do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da nação brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. Oswald de Andrade padrão comunidade linguagem portuguesa dialeto expressão entenda ensinar mostrar tarefa pois devem socialescrever mundo explicar modo sociedade fala tão quais simples leitura construção entender-se indivíduo transmitir dominar ensino dialetos ainda aprendeu então entrar falar criança escola deve aluno conhecimento variação escrita língua linguística ser a vi ts professor, nestas aulas, concebemos a língua como um feixe de varieda- des. acreditamos que o aluno deve conhecer as gramáticas existentes e as variantes que mais aparecem nos exames. ao resolver os exercícios, explique aos alunos a artificialidade de algumas classificações, visto que, em um texto, o uso de uma variante não exclui o uso das demais. outra questão importante é a do preconceito linguístico, que é discutido na seção Estudo orientado. procuramos mostrar o que é preconceito linguístico, sem, contudo, estudá-lo especificamente. acreditamos ser importante a apresentação desse tema nas aulas, ainda que brevemente. Fica a sugestão. 00 17 POLI_HERMES1_GRA.indb 2 23/01/17 10:23 polisaber 3 aula 1 gramática 32 5- 1 de falar e de escrever originárias das múltiplas socieda- des e culturas de diferentes regiões, estados dentro das regiões, classes sociais, faixas etárias, estilos individuais, níveis de renda, graus de escolaridade, profissões, con- textos de interlocução etc. Cada um desses modos de falar recebe o nome de variante linguística. De acordo com o local em que se encontra ou a situação que está vivenciando, uma pessoa pode alterar o modo de empregar a língua. Em uma confraternização familiar, por exemplo, em que, comumente, fica-se mais relaxado, fala-se de modo mais despojado, menos monitorado. No trabalho, os ajustes no modo de falar são feitos conforme a imagem que fazemos de nosso interlocutor. Assim, não temos uma língua, mas uma multiplicidade delas. Como disse José Saramago ao se referir à língua portuguesa, “não há uma língua portuguesa, há línguas em português”. E podemos conceber a língua como um feixe de múltiplas variantes. Até há pouco tempo, as variantes linguísticas não eram objeto de estudo nas escolas nem figuravam em exames vestibulares. Pensava-se que a variedade-padrão – aquela difundida pela gramática normativa – era a única em que todas as outras deveriam se pautar. No entanto, com os novos rumos que tomou a educação brasileira a partir da publicação da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB/1996), difundiu-se a concepção de que a língua não pode ser confundida com um código que contém, por si só, todas as indicações necessárias para a comunicação. Nessa perspectiva, a norma culta deixou de ser consi- derada a única variante em que todas as outras deveriam se espelhar e passou a ser vista como uma das muitas variantes da língua portuguesa. Outro ponto que também mereceu atenção dos estudiosos foi a ideia de preconceito linguístico. Desprestigiar um falante porque ele não se ex- pressa segundo o que imaginamos ser um modelo ideal de língua é um preconceito tão grave quanto qualquer outro tipo de preconceito que ainda presenciamos em muitas instâncias sociais. No entanto, no que tange aos estudos linguísticos, a ascen- são de outras variantes não nos desobriga de seguir regras. Numa dimensão gramatical da linguagem em sentido amplo, a regra “é um processo sistemático dos falantes que, nas situações de interlocução, jogam entre si o mesmo jogo de linguagem. Não é procedimento de uma única pessoa, uma única vez, numa única ocasião: as regras são instituídas na prática, sempre que haja, na construçãodas expressões, um uso constante e sistemático dos mesmos recursos expres- sivos para levar os falantes a determinado entendimento”.1 1. Proposta curricular para o ensino de língua portuguesa – 1o grau. Governo do Estado de São Paulo. Secretaria do Estado da Educação – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. 4. ed. São Paulo: MEC, 1992. p. 17. Portanto, não há dúvida de que a escola deve criar situações para que os estudantes aprendam e exerci- tem a norma culta, até porque as outras variantes são aprendidas e exercitadas no dia a dia, em situações reais de interlocução. Além disso, no mundo do trabalho e em exames vestibulares, exige-se o uso da norma culta não só nas respostas aos exercícios, mas também na redação. Norma-padrão ou norma culta? A diferença entre norma-padrão e norma culta muitas vezes é objeto de discussão linguística. A questão é tão com- plexa, que os principais exames vestibulares de língua portu- guesa geralmente as tomam como equivalentes. No entanto, para aprimorar nossos conhecimentos linguísticos e entender melhor as variantes, é importante saber distingui-las. Neste curso, adotamos a perspectiva do professor Mar- cos Bagno, que define norma-padrão do seguinte modo: assim, para designar o modelo ideal de língua “certa”, muitos linguistas têm proposto o termo “norma-padrão”. ele serve muito bem, me parece, para designar algo que está fora e acima da atividade linguística dos falantes. embora algumas pessoas também usem as expressões língua-padrão, dialeto-padrão e variedade-padrão, eu prefiro ficar com norma-padrão, porque, se é ideal, se não corresponde integralmente a nenhum conjunto concreto de manifestações linguísticas regulares e frequentes, não pode ser chamada de “língua”, nem de “dialeto”, nem de “variedade”. É uma norma no sentido mais jurídico do termo: “lei”, “ditame”, “regra compulsória”, imposta de cima para baixo, decretada por pessoas que tentam regrar, regular e regulamentar o uso da língua. e é também um padrão: um modelo artificial, arbitrário, construído segundo critérios de bom gosto vinculados a uma determinada classe social, a um determinado período histórico e num determinado lugar. BAGNO, Marcos. Norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. são paulo: parábola, 2003. p. 64. Já em relação à norma culta, esse autor diz: “se qui- sermos evitar a intervenção da noção estereotipada e excludente de ‘cultura’, precisamos encontrar um mo- delo alternativo para designar as variedades linguísticas faladas pelos cidadãos com alta escolarização e vivência urbana. eu proponho aqui a palavra ‘prestígio’, muito em- pregada na literatura sociológica” (baGNo, 2003, p. 65). professor, procuramos apresentar a gramática e sua relação com a semântica e a prag- mática. É importante o estudante conhecer a relação da língua com a sociedade e sobre como, em razão dessa relação, alguns termos linguísticos aparecem como variantes de prestígio e outros são estigmatizados. POLI_HERMES1_GRA.indb 3 23/01/17 10:23 gramática aula 1 4 polisaber 32 5- 1 Como vimos nas palavras do professor, a norma-padrão é um ideal linguístico, enquanto a norma culta, que o autor prefere chamar de variante “de prestígio” na obra citada, é a concretização da língua dos falantes urbanos e escolarizados. A gramática e seus tipos Todos sabemos gramática. Essa afirmação pode assus- tar alguns estudantes, pois, normalmente, considera-se gramática apenas o conjunto de regras estabelecidas como padrão de um idioma. Entretanto, o conceito de gramática vai muito além disso: “os falantes e ouvintes de uma mesma língua observam um número não peque- no de regras – mil a mil e quinhentas é uma estimativa já admitida –, ao falar e ouvir. Tais regras constituem um sistema […]. É a esse sistema que se dá o nome de gra- mática de uma língua […] o normal é que um indivíduo internalize praticamente todas as regras de sua língua já ao atingir doze-treze anos”.2 Essa gramática que todos sabemos é a gramática interna da língua, um sistema de regras que os falantes de um idioma assimilam naturalmente. A gramática normativa, esta sim, é o conjunto de re- gras e orientações que se aprende na escola, às vezes de forma equivocada, como o instrumento que unifica a forma de falar e escrever corretamente. Em geral, essa gramática veicula a norma-padrão, prescrevendo usos que considera “exemplares”. 2. HOUAISS, Antonio. O que é língua. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 19. Outro tipo de gramática, também desconhecida dos estudantes, é a gramática de usos. Menos conservadora e mais descritiva, estuda as várias possibilidades de realizações linguísticas de um idioma considerando as diversas variantes de uma língua. As principais variedades linguísticas Todas as variedades são adequadas para expressar as necessidades de comunicação dos falantes. Embora sem- pre haja muitas possibilidades de variação, trataremos aqui daquelas que são recorrentes na grade curricular do Ensino Médio e nos exames vestibulares. Tipos de variação 1. Sociocultural: a variação sociocultural leva em conta o grau de escolaridade do falante, a condição econômi- ca, bem como a idade e o gênero. Se comparada à fala dos adultos, a fala dos jovens geralmente admite mais mudanças, mais novidades. 2. Regional/geográfica: as variedades regionais ou geo- gráficas correspondem aos diferentes falares existentes nas regiões brasileiras e dizem respeito ao vocabulário e à pronúncia. Por exemplo, abóbora, comum nos estados do Sul do Brasil, é chamada “jerimum” no Nordeste. 3. Histórica: relacionadas à época em que vive o fa- lante, as variedades históricas permitem-nos observar as transformações pelas quais passa a língua ao longo do tempo. A palavra “retrato” já é antiga em relação a “foto”. Selfie é moderníssima em relação a “autorretrato”. O que virá depois? Só o tempo nos dirá. exercícios 1. As afirmações a seguir foram retiradas do livro Preconceito linguístico, de Marcos Bagno. Com base em seus conhecimentos sobre variantes linguísticas e preconceito linguístico, julgue-as como verdadeiras ou mitos. Argumente os ca- sos classificados como mitos. 1) “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente.” 2) “Brasileiro não sabe português. Só em Portugal se fala bem o português.” 3) “As pessoas sem instrução falam tudo errado.” 4) “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão.” 5) “O certo é falar assim porque se escreve assim.” 6) “É preciso saber gramática para falar e escrever bem.” 1. respostas baseadas no livro Preconceito linguístico, de Marcos bagno. 1) Mito. a língua portuguesa apresenta múltiplas variantes, em razão da grande extensão territorial do país e também da histórica desigualdade social. impondo a milhões de brasileiros uma escola básica de qualidade muito inferior à desejável – e possível –, essa desigualdade cria um verdadeiro abismo linguístico entre os falantes das variantes padrão e não padrão do português. 2) Mito. os brasileiros sabem português, sim. o que acontece é que o nosso português é diferente do de portugal; no vocabulário, nas construções sintáticas e no uso de certas expressões, sem mencionar, evidentemente, as tremendas diferenças de pronúncia. É por isso que muitos estudiosos preferem se referir à nossa língua como português brasileiro. 3) Mito. esse é um preconceito linguístico que decorre muito mais de aspectos sociais do que propriamente linguísticos. Mesmo que nunca tenham ido à escola, as pessoas falam e se comunicam muito bem. o que acontece é que, em muitos casos, preferem não ser redundantes. por exemplo, em “os menino foi brincar”, o plural se restringe ao artigo, sem se estender ao substantivo e ao verbo. Da perspectiva sociolin- guística, não está errado, porque o plural está caracterizado; só não segue a norma-padrão, que exige a concordância entre todos os elementos flexionáveis. 4) Mito. Não existenenhuma variante nacional, regional, social ou local que seja intrinsecamente melhor, mais bonita ou mais correta que outra. Não é pelo fato de no Maranhão se empregar o pronome da 2a pessoa (por exemplo, “tu comias” ou “tu bebes”) que essa variedade é melhor do que as outras. 5) Mito. É claro que é preciso o professor ensinar ao aluno escrever de acordo com a ortografia oficial, mas, se falarmos como escrevemos, criaremos uma língua artificial, que não condiz com as diferenças de pronúncia que existem entre a língua falada e a escrita. em muitos lugares, pronunciamos “leiti” e não “leite”, mas isso não quer dizer que incorremos em erro, apenas estamos sendo coerentes com as forças internas que governam o idioma. 6) Mito. esse mito está ligado à histórica confusão entre língua e gramática normativa. Grandes escritores da nossa língua não seguem ou não seguiram regras da gramática normativa e nem por isso deixaram de ser ótimos escritores. POLI_HERMES1_GRA_A.indd 4 23/01/17 10:41 polisaber 5 aula 1 gramática 32 5- 1 2. Leia os textos a seguir e procure apontar as principais variantes, justificando cada caso. Texto I Cuitelinho Cheguei na beira do porto onde as onda se espaia as garça dá meia volta e senta na beira da praia e o cuitelinho não gosta Que o botão de rosa caia, ai, ai ai quando eu vim da minha terra Despedi da parentaia eu entrei no Mato Grosso Dei em terras paraguaia lá tinha revolução enfrentei fortes bataia, ai, ai a tua saudade corta Como aço de navaia o coração fica aflito bate uma, a outra faia e os óio se enche d’água Que até a vista se atrapaia, ai, ai… Composição recolhida por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó. professor, procure orientar os alunos na observação de mais de uma variante nos textos que serão objeto de análise. Muitos autores classificam como variantes a situação de comunicação e o estilo do enunciador. Não contemplamos essa questão, pois temos clareza de que as variantes sempre dependem das situações de comunicação e dos sujeitos que se colocam como enunciadores nas trocas dialógicas. Texto II sapassado taveu na cuzinha tomando uma picumel e cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazê uma macarronada com galinhassada. Quascaí de susto, quando ouvi um barui de dendoforno, pareceno um tidiguerra. a receita mandopô midipipoca dentro da galinha prassá. U forno isquentô, u mistorô e o fiofó da galinha isplu- diu!! Nossinhora! fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovinha, proncoía, oncotava. Óiprocevê quelucura! Grazadeus ninguém simaxucô! VALADARES, Guilherme Nascimento. Guia para mineirês. Papo de homem. belo Horizonte, 22 jun. 2007. Disponível em: <http://papodehomem.com.br/guia- para-mineirs-da-revista-papo-de-homem/> (acesso em: 20 nov. 2014) POLI_HERMES1_GRA.indb 5 23/01/17 10:23 gramática aula 1 6 polisaber 32 5- 1 Texto III Fronteiras linguísticas: além do preconceito. Disponível em: <http://fronteiraslinguisticas. blogspot.com> (acesso em: 20 nov. 2014) Observação: Com a análise dos textos, você deve ter notado que a classificação das variações é artificial, pois uma variedade não exclui a outra. Os exercícios que pedem que se aponte uma variedade trabalham a questão da predomi- nância; nesse caso, fazem os apontamentos adequados nos enunciados das questões. estudo orieNtado Caro(a) aluno(a), Os exercícios a seguir vão tornar ainda mais evidente o fato de que o léxico de um idioma é composto de palavras e expressões que nascem, são e foram usadas em vários lugares, em épocas diferentes; envolve saberes diferenciados, usos cultos, gírias, entre outras possibilidades. KRIEGER, Maria da Graça. Dicionário em sala de aula. rio de Janeiro: lexikon, 2012. p. 59. Por isso, as variantes são formas de dizer de uma mesma língua. M eN ti ri N H a s. C o M .b r POLI_HERMES1_GRA.indb 6 23/01/17 10:23 polisaber 7 aula 1 gramática 32 5- 1 exercícios 1. (Fuvest) Leia o texto a seguir. a correção da língua é um artificialismo, continuei episcopalmente. o natural é a incorreção. Note que a gramática só se atreve a meter o bico quando escrevemos. Quando falamos, afasta-se para longe, de orelhas murchas. LOBATO, Monteiro. Prefácios e entrevistas. a) Tendo em vista a opinião do autor do texto, pode-se concluir corretamente que a língua falada é despro- vida de regras? Explique sucintamente. b) Entre a palavra “episcopalmente” e as expressões “meter o bico” e “de orelhas murchas”, dá-se um contraste de variedades linguísticas. Substitua as expressões coloquiais que aí aparecem por outras equivalentes, que pertençam à variedade-padrão. 2. (Unicamp) Reproduzimos a seguir a chamada de capa e a notícia publicadas em um jornal brasi- leiro que apresenta um estilo mais informal. Governo quer fazer a galera pendurar a chuteira mais tarde Duro de parar Como a vovozada vive até mais tarde, a intenção, agora, é criar regra para aumentar a idade mínima exigida para a aposentadoria; objetivo é impedir que o iNss quebre de vez. Descanso mais longe o brasileiro tá vivendo cada vez mais – o que é bom. só que, quanto mais ele vive, mais a situação do iNss se complica e mais o governo trata de dificultar a aposentadoria do pessoal pelo teto (o valor integral que a pessoa teria direito de receber quando pendura as chuteiras) – o que não é tão bom. Não. a língua falada tem regras tão rigorosas e coerentes quanto a língua escrita. o que acontece é que essas regras são diferentes nos dois casos. intrometer-se. Cabisbaixo. a última novidade que já tá em discussão lá em bra- sília é botar pra funcionar a regra 85/95, que diz que só se aposenta ganhando o teto quem somar 85 anos entre idade e tempo de contribuição (se for mulher) e 95 anos (se for homem). ou seja, uma mulher de 60 anos só levaria a grana toda se tivesse trampado registrada por 25 anos (60 + 25 = 85) e um homem da mesma idade, se tivesse contribuído por 35 (60 + 35 = 95). Quem quiser se aposentar antes pode – só que vai re- ceber menos do que teria direito com a conta fechada. Notícia JÁ. Campinas, 30 jun. 2012, p. 1/12. a) Retire dos textos duas marcas que caracterizariam a informalidade pretendida pela publicação, explici- tando de que tipo elas são (sintáticas, morfológicas, fonológicas ou lexicais, isto é, de vocabulário). b) Pode-se afirmar que certas expressões empregadas no texto, como “tá” e “botar”, se diferenciam de outras, como “galera” e “grana”, quanto ao modo como funcionam na sociedade brasileira. Explique que diferença é essa. (Fuvest) Texto para as questões 3 e 4. todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos siste- mas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalida- des regionais, sociais e estilísticas. a língua padrão, por “pendurar as chuteiras” e “quebre” (lexicais), “vovozada” (morfológica) e “tá” (fonética). por mais que ocorram na língua falada brasileira, “tá” e “botar” são de uso mais generali- zado, enquanto “galera” e “grana” são variantes lexicais bastante informais, de uso mais restrito, ocorrendo em discursos em que aparecem gírias, por exemplo. POLI_HERMES1_GRA.indb 7 23/01/17 10:23 gramática aula 1 8 polisaber 32 5- 1 exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação. CUNHA, Celso. Nova gramática do português contemporâneo. (adaptado) 3. Depreende-se do texto que uma determinada língua é um: a) conjunto de variedades linguísticas,dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a ser consi- derada exemplar. b) sistema de signos estruturado segundo as normas instituídas pelo grupo de maior prestígio social. c) conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação é vedada pela norma culta. d) complexo de sistemas e subsistemas cujo funciona- mento é prejudicado pela heterogeneidade social. e) conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais algumas são dotadas de normas e outras não o são. 4. De acordo com o texto, em relação às demais variedades do idioma, a língua padrão se com- porta de modo: a) inovador. b) restritivo. c) transigente. d) neutro. e) aleatório. 5. (Unicamp) O trecho seguinte foi extraído do de- bate que se seguiu à palestra do poeta Paulo Leminski (“Poesia: a paixão da linguagem”), pro- ferida durante o curso “Os sentidos da paixão” (Funarte, 1986). Observe que neste trecho é pos- sível identificar palavras e construções caracte- rísticas da linguagem coloquial oral. Reescreva-o de forma a adequá-lo à modalidade escrita culta. – estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele, que é o Mário de an- drade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas vanguardas modernistas. […] Hoje em dia, felizmente, já existem vários trabalhos, há muita gente reavaliando a poética do Mário, que ela é muito mais importante e profunda do que aparentemente pareceu nestes últimos anos. estudando o Mário, eu descobri que o Mário foi um exemplo do cara que morreu de amor, mas de amor pelo seu povo, pelo seu país, pela sua cultura […]. Um outro cara que também fiz um filme é o Câmara Cascudo. Um cara como o Câmara Cascudo morre, os jornais dão uma notinha desse tamanhinho, escondidinho, um cara que deveria ter estátua em praça pública, deveria ser lido, recitado. Os sentidos da paixão, p. 301. 6. (FGV-SP) Mauricio de sousa produções ltda. todos os direitos reservados. sugestão de resposta: estudei muito, durante seis anos, a vida de um paulista sobre o qual fiz, até mesmo, um fil- me: trata-se de Mário de andrade, um grande poeta pouco mencionado pelas vanguardas modernistas. […] Hoje em dia, felizmente, já existem vários trabalhos nos quais se reavalia a poética desse autor, vez que ela é muito mais importante e profunda do que pareceu nestes últimos anos. estudando Mário de andrade, descobri um exemplo de alguém que morreu de amor, mas de amor por seu povo, por seu país, por sua cultura […]. outro homem sobre quem eu também fiz um filme é Câmara Cascudo. Uma personalidade como ele morre, os jornais publicam uma pequena nota, quase insignificante, pouco visível, quando, na verdade, ele mereceria estátua em praça pública, devia ser lido, recitado. C o pY ri G H t2 00 1 POLI_HERMES1_GRA.indb 8 23/01/17 10:23 polisaber 9 aula 1 gramática 32 5- 1 a) Tendo em vista a significação das palavras e seu emprego na língua, transcreva duas expressões da tira que são utilizadas normalmente em situações mais informais, relacionando-as a variedades sociais ou regionais. b) Articulando tais expressões a situações típicas de um contexto mais formal, substitua-as por termos mais comuns à norma-padrão da língua, reescrevendo as frases em que aparecem. 7. (Enem) Texto I Antigamente antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais e, se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. o verdadeiro smart as expressões são “baita” e “ué”. trata-se de variedades que caracterizam usos colo- quiais da língua. sonhei que você pegou o coelhinho da Mônica e deu um grande nó nas orelhas dele. e daí, qual foi o pesadelo? ou: então, qual foi o pesadelo? calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. o melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. DRUMMOND DE ANDRADE, C. Poesia e prosa. rio de Janeiro: Nova aguilar, 1983. (fragmento) Texto II Palavras do arco da velha expressão significado cair nos braços de Morfeu dormir debicar zombar, ridicularizar tunda surra mangar escarnecer, caçoar tugir murmurar liró bem-vestido copo d’água lanche oferecido pelos amigos convescote piquenique bilontra velhaco treteiro de topete tratante atrevido abrir o arco fugir FIORIN, J. L. as línguas mudam. Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007. (adaptado) Na leitura do fragmento do texto “Antigamen- te”, constata-se, pelo emprego de palavras ob- soletas, que itens lexicais outrora produtivos não mais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que: a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano. b) o português brasileiro se constitui evitando a am- pliação do léxico proveniente do português europeu. c) a heterogeneidade do português leva a uma estabi- lidade do seu léxico no eixo temporal. d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser reconhecido como língua independente. e) o léxico do português representa uma realidade linguística variável e diversificada. POLI_HERMES1_GRA.indb 9 23/01/17 10:23 gramática aula 1 10 polisaber 32 5- 1 8. (Enem) Entrevista com Marcos Bagno pode parecer inacreditável, mas muitas das pres- crições da pedagogia tradicional da língua até hoje se baseiam nos usos que os escritores portugueses do sé- culo XiX faziam da língua. se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar de “haver”, como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque os portugueses, em dado momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo “ter”. No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparecem centenas desses usos. se nós, brasileiros, assim como os falantes africanos do por- tuguês, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial, é porque recebemos esse uso de nossos colonizadores. Não tem sentido imaginar que brasileiros, angolanos e moçambicanos decidiram se juntar para “errar” a mesma coisa. e assim acontece com muitas outras coisas: regências verbais, colocação pronominal, con- cordâncias nominais e verbais etc. temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma gra- mática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorar nosso bicentenário de independência, não tem sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora. Não tem sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado por menos de dez mi- lhões de portugueses. só na cidade de são paulo, temos mais falantes de português que em toda a europa! Informativo Parábola Editorial, [s.d.]. Na entrevista, o autor defende o uso de formas linguísticas coloquiais e faz uso da norma-pa- drão em toda a extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele: a) adapta o nível de linguagem à situação comunicativa, uma vez que o gênero entrevista requer o uso da norma-padrão. b) apresenta argumentos carentes de comprovação científica e, por isso, defende um ponto de vista difícil de ser verificado na materialidade do texto. c) propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma coloquial deve ser usada por falantes não escolarizados.d) acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu coti- diano a gramática normativa do português europeu. e) defende que o número de falantes do português brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a hegemonia do antigo colonizador. 9. (Enem) Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que, a depender do estrato social e do nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. ocorrem até mesmo em falantes que dominam a variedade-padrão, pois, na verdade, revelam tendências existentes na língua em seu processo de mudança que não podem ser bloqueadas em nome de um “ideal linguístico” que estaria representado pelas regras da gramática normativa. Usos como “ter” por “haver” em construções existenciais (tem muitos livros na estante), o do pronome objeto na posição de sujeito (para mim fazer o trabalho), a não concordância das passivas com “se” (aluga-se casas) são indícios da existência, não de uma norma única, mas de uma pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma como conjunto de hábitos linguísticos, sem implicar juízo de valor. CALLOU, D. Gramática, variação e normas. in: vieira, s. r.; braNDÃo, s. (org.). Ensino de gramática: descrição e uso. são paulo: Contexto, 2007. (fragmento) Considerando a reflexão trazida no texto a respei- to da multiplicidade do discurso, verifica-se que: a) estudantes que não conhecem as diferenças entre língua escrita e língua falada empregam, indistinta- mente, usos aceitos na conversa com amigos quando vão elaborar um texto escrito. b) falantes que dominam a variedade padrão do portu- guês do Brasil demonstram usos que confirmam a diferença entre a norma idealizada e a efetivamente praticada, mesmo por falantes mais escolarizados. c) moradores de diversas regiões do país que enfrentam dificuldades ao se expressarem na escrita revelam a constante modificação das regras de emprego de pronomes e os casos especiais de concordância. d) pessoas que se julgam no direito de contrariar a gramática ensinada na escola gostam de apresentar usos não aceitos socialmente para esconder seu desconhecimento da norma-padrão. e) usuários que desvendam os mistérios e sutilezas da língua portuguesa empregam formas do verbo “ter” quando, na verdade, deveriam usar formas do verbo “haver”, contrariando as regras gramaticais. POLI_HERMES1_GRA.indb 10 23/01/17 10:23 polisaber 11 aula 1 gramática 32 5- 1 10. (Enem) Disponível em: <www.flogao.com.br> (acesso em: 28 fev. 2012) Os textos relativos ao mundo do trabalho geral- mente são elaborados no padrão normativo da língua. No anúncio, apesar de o enunciador ter usado uma variedade linguística não padrão, ele atinge seus propósitos comunicativos porque: a) os fazendeiros podem contar com a comodidade de ser atendidos em sua fazenda. b) a parede de uma casa é um suporte eficiente para a divulgação escrita de um anúncio. c) a letra de fôrma torna a mensagem mais clara, de modo a facilitar a compreensão. d) os mecânicos especializados em máquinas pesadas são raros na zona rural. e) o contexto e a seleção lexical permitem que se al- cance o sentido pretendido. 11. (Enem) Futebol: “A rebeldia é que muda o mundo” Conheça a história de Afonsinho, o primeiro jogador do futebol brasileiro a derrotar a cartolagem e a con- quistar o Passe Livre, há exatos 40 anos pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez, então com a camisa do santos (porque depois voltaria a atuar pelo New York Cosmos, dos estados Unidos), em 1972, quando foi questionado se, finalmente, sentia-se um homem livre. o rei respondeu sem titubear: – Homem livre no futebol só conheço um: o afonsi- nho. este sim pode dizer, usando as suas palavras, que deu o grito de independência ou morte. Ninguém mais. o resto é conversa. apesar de suas declarações serem motivo de chacota por parte da mídia futebolística e até dos torcedores brasileiros, o atleta do século acertou. e provavelmente acertaria novamente hoje. pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano. pelo reconhecimento do caráter e perso- nalidade de um dos jogadores mais contestadores do futebol nacional. e principalmente em razão da história de luta – e vitória – de afonsinho sobre os cartolas. ANDREUCCI, R. Disponível em: <http://carosamigos.terra.com.br> (acesso em: 19 ago. 2011) O autor utiliza marcas linguísticas que dão ao texto um caráter informal. Uma dessas marcas é identificada em: a) “[…] o Atleta do Século acertou.” b) “O Rei respondeu sem titubear […].” c) “E provavelmente acertaria novamente hoje.” d) “Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez […].” e) “Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano.” roda de leitura Texto I A origem e o destino das línguas Ciência e religião sempre buscaram respostas para duas questões essenciais: a origem e o destino de tudo. o Gênesis, na Bíblia, coloca o planeta em que habitamos como o centro da criação divina que deu origem ao Universo. Na teoria do big bang, uma grande explosão é a explicação científica para a origem e a expansão do Universo. aquele mesmo livro da Bíblia fala na criação de adão, o primeiro homem da terra. a teoria evolucionista aponta ancestrais comuns entre homens e primatas. Na Bíblia, a origem da grande diversidade de línguas do mundo é tida como um castigo de Deus. pelo texto bíblico, no princípio dos tempos, só se fala- va uma língua. Quando os homens resolveram construir uma torre que pudesse alcançar o céu, para ficar mais próximos de Deus, foram castigados por seu criador e destinados a falar diferentes idiomas. Não havendo mais entendimento entre eles, tiveram que parar a construção da torre de babel. No século XiX, estudos comparativos levaram à hipótese de uma origem comum entre as línguas eu- ropeias e as asiáticas. elas pertenceriam a uma mesma família linguística denominada indo-europeu. para os POLI_HERMES1_GRA.indb 11 23/01/17 10:23 gramática aula 1 12 polisaber 32 5- 1 cientistas da linguagem, no entanto, a protolíngua dessa família não é a língua que deu origem a todas as outras. Chegou-se ao indo-europeu através da comparação de manuscritos antigos em línguas orientais como o sânscrito com o que já se conhecia das línguas germâ- nicas e latinas. Quando surgiram as primeiras formas de escrita, na antiguidade, já havia uma grande diver- sidade linguística no mundo. Como não há registro da forma com que se falava naquele período, as hipóteses sobre uma língua original são consideradas pelo meio científico uma mera especulação. em 1994, entretanto, o linguista Merrit ruhlen, da Universidade de stanford, nos eUa, publicou o livro A origem das línguas, relançando o debate sobre a questão. “a comunidade linguística estava de acordo, até então, em pensar que o problema da origem das línguas não podia ser abordado de maneira científica por sua disciplina”, afirma bernard victorri, da École Normale supérieure de paris. victorri é um dos pesqui- sadores que contribuíram para a edição de dezembro de 2000 e janeiro de 2001 da revista francesa Sciences et Avenir, inteiramente dedicada à origem da linguagem e à diversidade linguística no mundo. em seu artigo, ele explica a teoria de ruhlen, que reagrupa as línguas em 12 grandes famílias linguísticas e estabelece, pelo método comparativo, uma lista de 27 raízes de palavras comuns ao conjunto de línguas do mundo. segundo o linguista estadunidense, essas raízes pertenceriam a uma língua original, de onde teriam surgido todas as outras. a análise que victorri faz da teoria de ruhlen é que, apesar de suas hipóteses serem interessantes, seus argumentos não são muito convincentes, especial- mente quando ele recorre ao cálculo de probabilidades. Mas ele não descarta a importância dessa contribuição científica: “reagrupando os esforços de linguistas, antropólogos, arqueólogose geneticistas, pode-se esperar reconstituir a história da humanidade desde o surgimento da nossa espécie”, afirma. Merrit ruhlen foi discípulo de Joseph Greenberg, um dos mais respeitados linguistas estadunidenses. em 1960, Greenberg publicou um estudo em que postula- va 45 características linguísticas universais a partir da comparação de línguas de famílias diferentes espa- lhadas pelos cinco continentes do globo terrestre. três anos antes, outro linguista estadunidense de grande prestígio, Noam Chomsky, havia lançado a ideia de que havia princípios universais comuns a todas as línguas, herdados geneticamente. a teoria chomskyana se de- senvolveu ao longo da década de 1960, propondo que, além dos princípios universais, existiriam parâmetros específicos de cada língua, assimilados no contato do falante com sua língua materna. Um dos princípios universais é que toda língua possui sujeito, verbo e objeto, sendo variável a ordem desses constituintes na frase. Um parâmetro específico de uma língua como o português, por exemplo, é o do sujeito nulo. No contato com a língua, durante o processo de aquisição de linguagem, a criança assimila que, em português, podemos omitir o sujeito de uma frase. Uma sentença como “chove” recebe obrigatoriamente um sujeito impessoal em línguas como o inglês (it rains) e o francês (il pleut). além de estar entre os tópicos de estudo da ciência linguística, a origem da linguagem e a universalidade das línguas ocupam o pensamento filosófico desde a antiguidade. platão falava numa língua fundada na na- tureza; Descartes, numa língua universal bastante fácil de aprender; rousseau, na degeneração da linguagem dos primeiros homens. o ideal da universalidade, que também aparece no mito bíblico da torre de babel, chegou a inspirar no final do século XiX a criação de línguas artificiais como o volapük e o esperanto. porém a primeira Guerra Mundial, no começo do século XX, marca o fim das utopias universalistas, segundo des- creve a linguista Marina Yaguello, da Universidade de paris, em seu artigo “la langue universelle”, publicado naquela mesma edição de Science et Avenir. após a segunda Guerra, no entanto, a universalidade ressurge, dessa vez não como um ideal: o desenvol- vimento da cibercultura impõe o inglês como língua internacional de comunicação. Yaguello aponta, além das razões históricas e econômicas, alguns fatores culturais que facilitaram essa internacionalização: “o inglês é bem menos submisso a uma norma aca- dêmica que o francês; suas numerosas variedades são reconhecidas e aceitas. o inglês beneficia-se de uma aura de modernidade, de juventude, de vitalidade”, afir- ma a linguista. Com essa expansão, o inglês vem sendo qualificado como killer language (língua assassina) em relação às línguas minoritárias, com poucos falantes, que acabam desaparecendo. “À problemática da língua perfeita, seguida da língua universal, sucedeu, no início do terceiro milênio, aquela das línguas em risco de extinção”, diz Yaguello. David Crystal, em the Cambrige Encyclopaedia of Language, de 1987, relaciona as línguas mais faladas no mundo, que são consideradas oficiais em seus países, e o número de falantes que elas têm. o inglês aparece em primeiro lugar na lista, com 1,4 bilhão de falantes; o mandarim, falado na China, aparece em segundo, com 1 bilhão de falantes, seguido do hindi, falado na Índia, POLI_HERMES1_GRA.indb 12 23/01/17 10:23 polisaber 13 aula 1 gramática 32 5- 1 com 700 milhões, e do espanhol, com 280 milhões. Crystal pondera que há uma superestimação nos dados, pois na Índia, por exemplo, apenas um número relativamente pequeno dos habitantes fala inglês, uma das línguas oficiais do país. o português aparecia na lista de Crystal em oitavo lugar, como língua oficial de 160 milhões de pessoas. estima-se que hoje sejam mais de 180 milhões os falantes de português em todo o mundo. em 2000, Crystal publicou o livro Language Death, relatando o desaparecimento de diversas línguas minoritárias do planeta. em 2000, a revista Veja publicou uma entrevista com o linguista steven Fischer, diretor do instituto de línguas e literatura polinésias da Nova Zelândia, na qual ele fa- zia a previsão do fim da maior parte das línguas faladas hoje no mundo. “Falam-se entre 4 mil e 6.800 idiomas na terra. Haverá menos de mil em cem anos. em 300 anos, não mais do que 24. inglês, mandarim e espanhol serão as mais faladas”, diz Fischer. “inglês certamente será a língua franca”, completa. ele também afirma que o por- tuguês falado no brasil sofrerá grandes transformações pelo contato com os parceiros comerciais do Mercosul. “Devido à enorme influência do espanhol, é bastante provável que surja uma espécie de portunhol”, decla- ra. o linguista Carlos vogt, diretor de redação da Com Ciência, fez uma análise das declarações de Fisher em artigo publicado no Observatório da Imprensa, em 20 de abril de 2000. “Não sei se o futurologismo de Fischer terá os futuros que ele desenha, na cronologia que es- tabelece, na velocidade que preconiza”, comenta vogt. “sei, contudo, que a sua visão segue a lógica inexorável do processo de globalização da economia mundial e de suas consequências culturais”, completa. Disponível em: <www.comciencia.br/reportagens/ linguagem/ling08.htm> (acesso em: 7 out. 2014) Texto II O estigma das palavras […] Certas expressões têm alta frequência de uso em algumas épocas e em determinados grupos sociais ou profissionais. assim, na década de 1960 qualquer coisa muito boa ou que cumprisse muito bem suas funções estava “inserida no contexto”. Nos anos 1980, explicação que se prezasse tinha de ser iniciada por “veja bem”. Certos modismos são odiados justamente por serem modismos, o que revelaria falta de perso- nalidade ou estilo por parte de quem os usa. Muitos deles são, aliás, deformações do jargão acadêmico ou da linguagem especializada, o que os tornaria ainda mais caricatos (por exemplo, “enquanto” e “a nível de” no sentido de “como”: “o homem, enquanto ser social”, “a nível de espécie animal, o ser humano…”). talvez seja esse o caso de “disponibilizar”, “abso- lutizar” etc. Do ponto de vista morfológico, não há nada de errado com essas palavras: se o sufixo “-izar” significa “tornar”, então disponibilizar é tornar disponí- vel, absolutizar é tornar absoluto, e assim por diante. o problema é que esses termos surgem em determi- nados meios (empresarial, publicitário, econômico) e se tornam emblemáticos dessas atividades. tornadas assim palavras-emblema, elas passam a carregar o estigma das profissões que as ostentam como senha. se desacredito dos economistas e de suas mirabolantes previsões, o jargão econômico se transforma em “eco- nomês”, língua de empulhação, destinada a ludibriar a opinião pública. e, portanto, seus termos passam a ser emblemas dessa empulhação. Há também a falsa erudição. sendo termos nascidos em algum jargão técnico, “disponibilizar”, “relativizar” etc. conferem a quem os pronuncia um status de pes- soa letrada, de nível superior. o abuso dessas formas como índice de cultura é o que gera a caricatura. infelizmente, no próprio discurso letrado, o vazio de ideias acaba preenchido por uma pletora de vocábulos-emblema. em textos acadêmicos, é comum lermos que “este artigo procura lançar um olhar so- bre”, “é preciso tornar o aluno sujeito de seu próprio processo de ensino-aprendizagem” etc. etc. o costume de lançar olhares em vez de simplesmente analisar, examinar, estudar, bem como o emprego de palavras e construções que revelem algo da ideologia do autor (por exemplo, termos como “inclusão”, “resgate da cidadania”, “dívida histórica”, “situação de risco so- cial”, “ação afirmativa” fazem parte de certas agendas político-partidárias), nos predispõe imediatamente contra ou a favor da argumentação subsequente, pois, de cara, percebemos tratar-se de um texto desta ou daquela linha ideológica. o mesmoraciocínio vale para as investidas eugenis- tas contra certos vocábulos, como “homossexualismo”, ao qual os puristas querem contrapor “homossexualida- de”, alegando o caráter mais neutro do sufixo “-dade” (sobre esse tema, meu colega Mário eduardo viaro discorreu brilhantemente na edição de maio de Lín- gua). ora, não existem termos neutros na linguagem, tudo tem conotações, a própria busca da neutralidade emblematiza (gostaram?) uma postura ideológica, a do igualitarismo radical. POLI_HERMES1_GRA.indb 13 23/01/17 10:23 gramática aula 1 14 polisaber 32 5- 1 se fôssemos usar esse critério em todos os casos, a astrologia deveria chamar-se “astromancia”, pois “-logia” é elemento que denota ciência, e a astrologia é uma adivinhação (“-mancia”) baseada nos astros. pelo mesmo motivo, a neurociência deveria ser “neurologia”, e a especialidade médica que hoje conhecemos por neurologia deveria ser “neuriatria”. a própria tecnologia não é a ciência que estuda a técnica, mas o conjunto de técnicas fundadas no conhecimento científico. portanto, deveria ser chamada de “logotecnia” ou “logotécnica”. os exemplos poderiam estender-se ao infinito. o fato é que a língua se pauta menos pela lógica do que pelo uso. se alguém propõe um novo termo, por menos razoável que seja (e o que há de razoável em chamar radar de trânsito de pardal?), e ele “pega”, não há o que fazer. Criticá-lo, combatê-lo, incitar as pessoas a boicotá-lo, nada disso dá resultado e só revela o lado rancoroso de alguns falantes, que se comprazem em estigmatizar (!) a fala alheia. Língua Portuguesa. são paulo: segmento, jul. 2013. Texto III o tema da linguagem é central no pensamento de Michel Foucault. No livro As palavras e as coisas, o filósofo francês enfatiza a relação entre o sujeito e a linguagem. por meio da leitura, podemos “compreender não somente o sujeito como produto da modernidade, mas também problematizar o estatuto das ciências humanas, ou ciências do homem, já que estas, segun- do o autor, são instauradas por meio da linguagem e, consequentemente, por meio da relação entre esta e o sujeito”.3 Ver e ouVir “Língua”. Velô, 1984. Ouça a canção “Língua”, de autoria de Caetano Veloso, o primeiro rap brasileiro. Observe que ela pode suscitar várias discussões a respeito das diferenças entre o por- tuguês de Portugal e o do Brasil. Disponível em: <www. youtube.com/ watch?v=tX7cqbrelUY> (acesso em: 17 nov. 2014) 3. PEREIRA, Everton Almeida. Sujeito e linguagem em As palavras e as coisas, de Michel Foucault. Estudos semióticos. São Paulo, FFLCH-USP, v. 7, n. 2, p. 94-101, nov. 2011. Disponível em: <www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es/eSSe72/2011esse72_ eapereira.pdf> (acesso em: 20 nov. 2014) Língua – vidas em português Direção: Victor Lopes. Brasil/Portugal, 2004. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=sTV gNi- 8FFFM> (acesso em: 20 nov. 2014) Em particular, assista ao depoimento de José Saramago: www.youtube.com/v/Oe9sxV_DVGg%26feature= related pesquisar e ler BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49. ed. são paulo: loyola, 2001. re pr o D U Ç Ã o re pr o D U Ç Ã o POLI_HERMES1_GRA.indb 14 23/01/17 10:23 polisaber 15 aula 1 gramática 32 5- 1 BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. são paulo: Contexto, 1997. Nossa tradição educacional sempre negou a exis- tência de uma pluralidade de normas linguísticas dentro do universo da língua portuguesa; a própria escola não reconhece que a norma-padrão culta é apenas uma das muitas variedades possíveis no uso do português e rejeita de forma intolerante qualquer manifestação linguística diferente, tratando muitas vezes os alunos como “deficientes linguísticos”. Marcos bagno argumenta que falar diferente não é falar errado e o que pode parecer erro no português re pr o D U Ç Ã o não padrão tem uma explicação lógica, científica (linguística, histórica, sociológica, psicológica). para explicar essa problemática, o autor reúne então n’A língua de Eulália as universitárias vera, sílvia e a es- perta emília, que vão passar as férias na chácara da professora irene. sempre muito dedicada, irene se reúne todos os dias com as três professoras do curso primário, transformando suas férias numa espécie de atualização pedagógica, em que as “alunas” reciclam seus conhecimentos linguísticos. Mais do que isso, irene acaba criando um apoio para que as “meninas” passem a encarar de uma nova maneira as variedades não padrão da língua portuguesa. a novela flui em diá- logos deliciosamente informativos. A língua de Eulália trata a sociolinguística como ela deve ser tratada: com seriedade, mas sem sisudez. Disponível em: <editoracontexto.com.br/ lingua-de- eulalia-a.html> (acesso em: 20 nov. 2014) NaVegar Preconceito linguístico www.youtube.com/watch?v=1c-ZVnhfZ60 Assista à entrevista com o linguista Marcos Bagno, autor do livro A língua de Eulália: novela sociolinguística. s e N h a <http://sobreasletras.blogspot.com.br/2011/05/ambiguidade.html> POLI_HERMES1_GRA.indb 15 23/01/17 10:23 gramática aula 2 16 polisaber 32 5- 1 questões de semântica A legenda “A queda de Fidel” e as fotografias publicadas na primeira página do jornal Folha de S.Paulo, de 22 de outubro de 2004, foram tema da questão da prova da Unicamp de 2005. A queda de Fidel o ditador cubano, Fidel Castro, 78, se desequilibra e cai após discursar em praça de santa Clara (Cuba), em evento transmiti- do pela tv; ele fraturou um joelho e sofreu fissura de um braço. As fotos estão disponíveis no site <www1.folha.uol. com.br/folha/mundo/ult94u77651.shtml> (acesso em: 4 fev. 2015). (Unicamp) Na primeira página da Folha de S.Paulo, de 22 de outubro de 2004, encontramos uma sequência de fotos acompanhada de uma legenda cujo título é: “A queda de Fidel”. No tex- to da legenda, o jornal explica: “O ditador cuba- no, Fidel Castro, 78, se desequilibra e cai após discursar em praça de Santa Clara (Cuba), em evento transmitido ao vivo pela TV”. Logo depois, ele disse achar que havia quebrado o joelho e talvez um braço, mas que estava “inteiro”; mais tarde, o governo divulgou que Fidel fraturou o joelho esquerdo e teve fissura do braço direito. a) O que a leitura desse título provoca? Por quê? respostas esperadas pela banca examinadora: a leitura do título da legenda provoca no leitor uma reação ao jogo de sentidos entre “destituição” e “queda física”. a palavra “queda”, muito usada para indicar uma destituição política, remete-nos, nessa legenda, à possibilidade da destituição de Fidel Castro, desde que o leitor conheça a situação do governo cubano. ao mesmo tempo, “queda” estabelece relação com as fotos, que mostram Fidel se desequilibrando e caindo. as palavras passam por reviravoltas de sentido, mudam de personalidade, denunciam o que as pessoas de uma época pensam, no que os falantes acreditam. <portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8021> C la ir D U N N /a la M Y/ la ti N st o C K gramática – aula 2 b) Proponha outro título para a legenda. Justifique. A análise da questão mostra que os sentidos das pala- vras escolhidas para um texto só podem ser depreendidos da contextualização dos fatos, dos processos de leitura e escrita e do compartilhamento de um cenário cultural entre os interlocutores do texto. Assim, o jogo de sentidos explorado no exercício da Unicamp apenas é válido se os leitores tiverem conhecimento da revolução cubana e da política de Fidel Castro. Disso advém a importância de nos determos no estudo dos sentidos, que é o que faz a semântica: estuda as manifestações linguísticas do significado. Essa definição parece simples, mas leva em conta uma série de elementos fundamentais para os estudos linguís- ticos. Por exemplo: o significado respeita um contexto (unidades maiores em que se inserem outras menores), e este é criado por enunciados que implicam valores instauradose compartilhados socialmente. De acordo com o linguista Bernard Pottier, a semântica preocupa-se com “mecanismos e operações relativos ao sentido, por meio do funcionamento das línguas natu- rais”, procurando “explicitar os elos que existem entre os comportamentos discursivos num dado envolvimento, constantemente renovado, e as representações mentais que parecem ser partilhadas pelos usuários das línguas naturais”. Isso traça um “percurso entre o individual e Nesta resposta, o candidato pode optar entre manter o jogo de sentidos ou adotar a ideia de queda física: “Fidel vai ao chão”, “o tombo de Fidel”, “o desequilibrado governante”, “o tropeço de Fidel” etc. Não apenas o sentido de destituição pode ser construído com o título, mas também o de erro, gafe etc. era importante, nesse caso, que o candidato apre- sentasse uma justificativa que sustentasse o título escolhido e não ignorasse a queda física. Disponível em: <www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/ 2006/download/comentadas/ portugues.pdf> (acesso em: 30 nov. 2014) POLI_HERMES1_GRA.indb 16 23/01/17 10:23 polisaber 17 aula 2 gramática 32 5- 1 o universal, por meio do cultural”, e procura conciliar “a extensão e a variedade das manifestações linguísticas e a necessidade de uma apresentação relativamente simples dos funcionamentos profundos da língua”.1 Outras definições são apresentadas a seguir para re- fletirmos mais um pouco sobre as questões envolvidas nas significações. sinonímia e antonímia As relações semânticas mais frequentemente explo- radas entre as palavras são a sinonímia e a antonímia. São fenômenos que podem ser analisados, com o devido cuidado, com base nas propriedades que os termos têm de poderem ser empregados, respectivamente, como substitutos no lugar de outros termos, sem alteração de sentido, ou empregados uns em oposição a outros. Embo- ra na sinonímia não haja alteração de sentido, dificilmente há o emprego de um termo por outro sem que haja algum prejuízo semântico. A sinonímia é, portanto, um fenômeno existente, mas relativo, pois não há sinônimos perfeitos. Consideremos as seguintes orações: • Elas apareceram nuas na fotografia. • Elas apareceram peladas na fotografia. • Elas apareceram desnudas na fotografia. As palavras “nuas”, “peladas” e “desnudas” podem ser consideradas sinônimas porque são intercambiáveis nessas orações, mas, ao levarmos em conta diferentes situações comunicativas e a lógica de uso dos vocábulos, veremos que não é bem assim. O termo “desnudas” é mais adequado a contextos mais formais de comunicação, pois não é comum na fala cotidiana. Daí, concluímos que as situações comunicativas e o maior ou menor prestígio de um vocábulo em determinada realidade interferem nas relações sinonímicas. Temos como outro exemplo um texto de humor, que brinca com a sinonímia: Marcar é sinônimo de agendar? ok. o juiz agendou um pênalti inexistente. Complexo é sinônimo de difícil? ok. ela tem um difícil de inferioridade. virar é sinônimo de inverter? ok. o chefe inverteu bicho.2 1. Todas as citações desse texto estão em: POTTIER, Bernard apud HENRIQUES, Claudio Cezar. Léxico e semântica. Estudos produtivos sobre palavra e significação. São Paulo: Campus, 2011. 2. Idem. Com base nessa brincadeira, podemos refletir sobre a sinonímia como um fenômeno em que os sentidos dependem de elementos linguísticos e extralinguísticos. Com relação à antonímia, podemos mencionar não só aquela que ocorre no âmbito lexical (entrar/sair, bonito/ feio, baixo/alto), mas também no âmbito das expressões, gerando, muitas vezes, antíteses e paradoxos. Podemos ver isso na versão de Chico Buarque e Ruy Guerra na letra da canção “Sonho impossível”, de J. Darlon e M. Leigh, dis- ponível em: <http://letras.mus.br/chico-buarque/86054> (acesso em: 4 fev. 2015). Você notará que, nessa canção, há oposições de expres- sões que se estabelecem como paradoxos. A composição faz referência ao período de repressão e tortura na ditadura militar. A letra original, to reach the unreachable star (tocar a estrela inatingível), foi substituída por “tocar o inacessível chão”, trocando o componente lírico pelo realista. Assim, podemos dizer que o significado de um termo e a possibilidade de substituição por sinonímia e anto- nímia só são possíveis em razão do contexto específico de comunicação. paráfrase É a repetição de ideias promovida pelo uso de dife- rentes vocábulos. Parafrasear uma frase, um parágrafo ou um texto é um exercício de trocas morfossintáticas que não deve comprometer o sentido do texto original. Analise o texto a seguir, de autoria do poeta Gregório de Matos. Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da república em todos os membros, e inteira definição Do que em todos os tempos é a bahia. Que falta nesta cidade?… verdade. Que mais por sua desonra?… Honra. Falta mais que se lhe ponha?… vergonha. o demo a viver se exponha, por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta verdade, honra, vergonha. Quem a pôs neste rocrócio?… Negócio. Quem causa tal perdição?… ambição. e no meio desta loucura?… Usura. POLI_HERMES1_GRA.indb 17 23/01/17 10:23 gramática aula 2 18 polisaber 32 5- 1 Notável desaventura De um povo néscio e sandeu, Que não sabe que perdeu Negócio, ambição, usura. Quais são seus doces objetos?… pretos. tem outros bens mais maciços?… Mestiços. Quais destes lhe são mais gratos?… Mulatos. Dou ao Demo os insensatos, Dou ao Demo o povo asnal, Que estima por cabedal pretos, mestiços, mulatos. Quem faz os círios mesquinhos?… Meirinhos. Quem faz as farinhas tardas?… Guardas. Quem as tem nos aposentos?… sargentos. os círios lá vem aos centos, e a terra fica esfaimando, porque os vão atravessando Meirinhos, guardas, sargentos. e que justiça a resguarda?… bastarda. É grátis distribuída?… vendida. Que tem, que a todos assusta?… injusta. valha-nos Deus, o que custa o que el-rei nos dá de graça. Que anda a Justiça na praça bastarda, vendida, injusta. Que vai pela clerezia?… simonia. e pelos membros da igreja?… inveja. Cuidei que mais se lhe punha?… Unha. sazonada caramunha, enfim, que na santa sé o que mais se pratica é simonia, inveja e unha. e nos frades há manqueiras?… Freiras. em que ocupam os serões?… sermões. Não se ocupam em disputas?… putas. Com palavras dissolutas Me concluo na verdade, Que as lidas todas de um frade são freiras, sermões e putas. o açúcar já acabou?… baixou. e o dinheiro se extinguiu?… subiu. logo já convalesceu?… Morreu. À bahia aconteceu o que a um doente acontece: Cai na cama, e o mal cresce, baixou, subiu, morreu. a Câmara não acode?… Não pode. pois não tem todo o poder?… Não quer. É que o governo a convence?… Não vence. Quem haverá que tal pense, Que uma câmara tão nobre, por ver-se mísera e pobre, Não pode, não quer, não vence. MAGALHÃES JÚNIOR, R. (Org.). Antologia de humorismo e sátira. rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1957. p. 5. Com base na definição de paráfrase, será que é pos- sível parafrasear o texto de Gregório de Matos fazendo um paralelo com os dias atuais? Está lançado o desafio! Nesta capa, há uma paráfrase direta do título de um livro de Machado de Assis: VIEIRA, Pedro. Memórias desmortas de Brás Cubas. Disponível em: <http://literaturaescrita.com. br/2010/10/14/memórias_desmortas_ de_bras_cubas_pedro_vieira> (acesso em: 12 fev. 2015) re pr o D U Ç Ã o POLI_HERMES1_GRA.indb 18 23/01/17 10:23 polisaber 19 aula 2 gramática 32 5- 1 hiperonímia, hiponímia e campo semântico Observe o quadro a seguir: Hiperônimo (palavra com sentido mais amplo) Hipônimo (palavra com sentido mais restrito) profissão flor inseto ferramenta rio fruta mamífero esporte legume doença médico hortênsia mosca martelo Solimões abacaxi cachorro atletismo cenoura sarampo Disponível em: <http://mcbspf.blogspot.com. br/2012/02/hiperonimo.html>(acesso em: 29 dez. 2014) Entende-se por hiperônimo um termo de significado mais abrangente em relação a outro, e hipônimo um ter- mo de significado mais específico em relação a outro. Os hiperônimos e hipônimos mostram-se muito produtivos na língua, principalmente no âmbito da coesão textual. Veja como o tema da hiperonímia e da hiponímia tem aparecido nos principais exames vestibulares, analisando a seguinte questão da Unicamp. (Unicamp) Rio+20: a ciência, a economia – e a política a história da espécie humana é uma trajetória de 150 mil anos de sucesso movido a conhecimento. Do fogo à máquina a vapor, da roda ao trem-bala, do arado aos transgênicos, das naus antigas aos foguetes espaciais, dos registros cuneiformes aos tablets. Não teríamos chegado até aqui sem a ciência. o maior valor da ciência é permitir conhecer a verdade. Não a verdade intangível e complexa dos filósofos. Mas uma verdade mais modesta, mais simples, mais terrena – portanto, mais útil. se lanço uma maçã pela janela, ela cai. se esquento a água, ela ferve. se risco um fósforo e aproximo do meu dedo, ele queima. se lanço gases poluentes na atmosfera ao longo de séculos, o clima do planeta muda. Deriva do conhecimento da verdade outro valor tangível da ciência: ela gera riqueza. produzimos mais alimentos com o arado, as máqui- nas e a revolução agrícola. transportamos mais rápido objetos e pessoas graças aos navios, à ferrovia e ao avião a jato. vivemos mais e melhor por causa das va- cinas, dos antibióticos e de todo tipo de técnica médica. Fabricamos artefatos e engenhocas antes inimagináveis graças às indústrias e a nosso indiscutível domínio sobre os recursos naturais terrestres. o maior desafio da humanidade ao longo de sua história sempre foi usar o conhecimento – e a ciência – para crescer, alargar suas fronteiras e transmitir às gerações futuras algo além daquilo que recebeu das passadas. as civilizações que não tinham conhecimen- tos ou não souberam usar aquele que tinham foram varridas do planeta. sobramos nós. a responsabilidade da conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento e meio ambiente, a rio+20, é garantir que continuemos aqui. os maiores líderes globais afirmam que têm missões mais importantes a cumprir neste momento – eleições, crise financeira ou o que o valha. pode ser. políticos não costumam ser muito afeitos a conceitos científicos ou realidades econômicas. Mas talvez eles deves- sem ouvir o que dizem as crianças. […] até o fim do século, provavelmente não estaremos mais aqui. sobrarão elas. Época. são paulo, 18 jun. 2012. Disponível em: <www.exame.cotil.unicamp.br/provas_ anteriores/prova_gabarito_2013.pdf> (acesso em: 29 dez. 2014) Hiperonímia é a relação estabelecida entre uma palavra de sentido mais genérico e outra de sen- tido mais específico. Exemplo: animal está numa relação de hiperonímia com leão, gato etc. Com base na informação, indique quais são os respec- tivos hiperônimos de trem-bala, arado e tablet. a) Meio de transporte, implemento agrícola, ferramenta tecnológica. b) Meio de transporte, implemento agrícola, computador. c) Veículo, agricultura, componente tecnológico. d) Meio de transporte, plantio, informática. e) Locomoção, implemento agrícola, software. Os hiperônimos pedidos estão na alternativa a, pois trem-bala é um meio de transporte, arado pode ser consi- derado um implemento agrícola e tablet é uma ferramenta tecnológica. Em um texto, esses elementos poderiam substituir uns aos outros, evitando repetições – é o que chamamos de coesão referencial. Os hiperônimos e os hipônimos são palavras que per- tencem ao mesmo campo semântico. POLI_HERMES1_GRA.indb 19 23/01/17 10:23 gramática aula 2 20 polisaber 32 5- 1 polissemia Leia as charges apresentadas. Texto I LAERTE Texto II CABRAL, Ivan. Disponível em: <www.ivancabral/2011/06/charge-do-dia-rede-social. html> (acesso em: 13 fev. 2015) O efeito de humor das tiras apoia-se no duplo sentido do termo “balanço” e da expressão “rede social”. Essa proprie- dade de mobilizar dois ou mais sentidos é chamada “polissemia”. Podemos dizer que a maior parte do vocabulário é polissêmica e que a polissemia é uma propriedade essencial para as línguas funcionarem bem: “A polissemia confere às línguas humanas a flexibilidade de que elas precisam para exprimir todos os inúmeros aspectos da realidade”.3 3. PERINI, Mário. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 2000. p. 252. la er te iv a N C a b ra l POLI_HERMES1_GRA.indb 20 23/01/17 10:23 polisaber 21 aula 2 gramática 32 5- 1 ambiguidade Dizemos que um enunciado é ambíguo quando podemos atribuir-lhe mais de um sentido. Essa característica pode ser construída deliberadamente ou aparecer sem que seja intenção do enunciador. A ambiguidade acontece com menos frequência na língua oral, porque, quando se trata de uma situação real de comunicação, as pessoas que interagem estão cientes do contexto. A ambiguidade é um recurso expressivo em variados gêneros textuais, sobretudo em textos publicitários e artísticos; no entanto, em textos informativos, ela deve ser evitada, pois pode prejudicar a clareza das informações. Comumente,os enunciados ambíguos devem-se, normalmente, à falta de contexto, ao uso de termos polissêmicos, à má colocação dos termos na sentença, à má pontuação etc. Vejamos o exemplo a seguir: O juiz de menores julgou as crianças culpadas. É possível atribuir à oração os seguintes sentidos: a) O juiz de menores julgou que as crianças eram culpadas. b) O juiz de menores julgou as crianças que eram culpadas. Nesse exemplo, nota-se claramente que a ambiguidade deriva de um problema sintático, ou seja, de colocação dos termos na sentença. homonímia e paronímia Homônimos são vocábulos diferentes com mesma grafia e/ou mesma pronúncia. Parônimos são vocábulos diferentes que têm grafia e/ou pronúncia parecidas. Exemplos: Homônimos palavras com a mesma pronúncia (nem sempre com a mesma grafia), mas significados diferentes Parônimos palavras com grafia ou pronúncia parecidas, mas significados diferentes Acento: sinal gráfico Assento: lugar onde se senta Cela: pequeno cômodo Sela: objeto sobre o lombo do cavalo em que se monta o cavaleiro Cesto: recipiente Sexto: referente ao numeral 6 Conserto: ato de reparar algo Concerto: execução de obras musicais Coser: costurar Cozer: cozinhar Cavaleiro: que monta cavalos Cavalheiro: educado, gentil Comprimento: extensão Cumprimento: ato de executar ou saudar Emergir: aparecer, vir à tona Imergir: desaparecer, mergulhar Inflação: alta dos preços Infração: ato de desobedecer a algo Soar: emitir som Suar: transpirar Disponível em: <http://cirandacultural.com.br/blog/archives/335> (acesso em: 29 dez. 2014) POLI_HERMES1_GRA.indb 21 23/01/17 10:23 gramática aula 2 22 polisaber 32 5- 1 exercícios 1. (Unicamp) Nessa propaganda do dicionário Aurélio, a ex- pressão “bom pra burro” é polissêmica e reme- te a uma representação de dicionário. a) Qual é essa representação? Ela é adequada ou ina- dequada? Justifique. b) Explique como o uso da expressão “bom pra burro” produz humor nessa propaganda. a representação do dicionário, popularmente conhecido como “pai dos burros”, estabelece relação com a expressão “bom pra burro”, que significa “muito bom”. essa representação é inadequada, pois as pessoas que consultam dicionários para conhecer palavras não apresentam falhas de inteligência, ao contrário, revelam bom senso e inteligência para analisar as diversas interpretações a que a língua está sujeita. a expressão “pra burro” é ambígua, pois pode ter o sentido de intensidade (“muito”) ou ser o complemento nominal de bom, remetendo à expressão “pai dos burros”, ou seja, “bom” para quem precisa de dicionário porque desconhece o significado de determinadas palavras. 2. (Fuvest) Texto para esta questão. e Jerônimo via e escutava,sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da rita baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em: <www.dominiopublico.com.br/ pesquisa/DetalheobraForm/do?select_action&co_ obra=1723> (acesso em: 11 fev. 2015) O conceito de hiperônimo (vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro) aplica-se à palavra “planta” em relação a “palmeira”, “tre- vos”, “baunilha” etc., todas presentes no texto. Tendo em vista a relação que estabelece com outras palavras do texto, constitui também um hiperônimo a palavra: a) “alma”. b) “impressões”. c) “fazenda”. d) “cobra”. e) “saudade”. 3. (Fuvest) Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de um produto alimentício. em respeito a sua natureza, só trabalhamos com o melhor da natureza o narrador de O cortiço, no início do texto, afirma que em rita baiana estava a “síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui”. Nessa mulher estavam também as seguintes sensações mais específicas (hipônimos): “a luz ardente do meio-dia”, “o calor vermelho das sestas na fazenda”, o “aroma quente dos trevos e das baunilhas”, entre outras impressões. POLI_HERMES1_GRA.indb 22 23/01/17 10:23 polisaber 23 aula 2 gramática 32 5- 1 selecionamos só o que a natureza tem de melhor para levar até a sua casa. porque faz parte da natureza dos nossos consumidores querer produtos saborosos, nutritivos e, acima de tudo, confiáveis. adaptado de: <www.destakjornal.com.br> (acesso em: 13 maio 2013) Procurando dar maior expressividade ao texto, seu autor: a) serve- se do procedimento textual da sinonímia. b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos. c) explora o caráter polissêmico das palavras. d) mescla as linguagens científica e jornalística. e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentidos contrários. 4. (Fuvest) Examine a tirinha e responda ao que se pede. QUINO. Mafalda 2. são paulo: Martins Fontes, 2002. a) O sentido do texto se faz com base na polissemia de uma palavra. Identifique essa palavra e explique por que a indicou. b) A tirinha visa produzir não só efeito humorístico mas também efeito crítico. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta. trata-se da palavra “veículo”, que pode significar meio usado para transportar ou conduzir pessoas, coisas, animais ou qualquer coisa capaz de transmitir, propagar algo. o efeito humorístico deve-se ao fato de Mafalda ter trocado um sentido pelo outro. sim. o sentido crítico da tirinha provém da associação entre os ruídos emanados do tele- visor, que sugerem o conteúdo violento e “apelativo” da programação e a ideia de cultura. estudo orieNtado Caro(a) aluno(a), Nos exercícios a seguir, você encontrará um diverso painel de como as questões de semântica aparecem nos exames. Procure resolvê-los com bastante atenção, observando como os sentidos são valiosos nas análises linguísticas. Esse é o caminho! Bons estudos! POLI_HERMES1_GRA.indb 23 23/01/17 10:23 gramática aula 2 24 polisaber 32 5- 1 exercícios 1. (Enem) Lépida e leve língua do meu amor velosa e doce, que me convences de que sou frase, que me contornas, que me vestes quase, como se o corpo meu de ti vindo me fosse. língua que me cativas, que me enleias os surtos de ave estranha, em linhas longas de invisíveis teias, de que és, há tanto, habilidosa aranha… […] amo-te as sugestões gloriosas e funestas, amo-te como todas as mulheres te amam, ó língua-lama, ó lingua-resplendor, pela carne de som que à ideia emprestas e pelas frases mudas que proferes nos silêncios de amor!… MACHADO, G. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. rio de Janeiro: objetiva, 2001. (fragmento) A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado incorpora referências temáti- cas e formais modernistas, já que, nele, a poeta: a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal. b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e ques- tiona o poder da palavra. c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre. d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amo- rosa e propõe a simplificação verbal. e) explora a construção da essência feminina a partir da polissemia da língua e inova o léxico. 2. (UFMG) Analise este slogan de uma empresa gráfica: o nosso produto é uma boa impressão Explique de que modo se explora a polissemia nesse slogan. 3. (Unicamp) Na sua coluna diária do jornal Folha de S.Paulo, de 17 de agosto de 2005, José Simão escreve: “No Brasil nem a esquerda é direita!”. a) Nessa afirmação, a polissemia da língua produz ironia. Em que palavras está ancorada essa ironia? b) Quais os sentidos de cada uma das palavras envol- vidas na polissemia referida? c) Comparando a afirmação “No Brasil nem a esquerda é direita” com “No Brasil a esquerda não é direita”, qual é a diferença de sentido estabelecida pela subs- tituição de nem por não? a palavra “impressão” tem dois sentidos: um relativo à qualidade do trabalho (no caso, a impressão gráfica) da empresa, e outro relativo à imagem positiva que o material transmitirá ao cliente. a ironia está nas palavras “esquerda” e “direita” como designativas de posições políticas. esquerda: “tendência política ligada a reivindicações populares, trabalhistas, socialistas ou comunistas”. Direita: “tendência política conservadora ou reacionária em relação às reformas sociais”, e, como adjetivo, “correta, honesta”. a polissemia criada pelo autor ironiza os partidos de esquerda que não agem com honestidade. No contexto, nem significa inclusive não, também não, ou seja, insinua que todos são desonestos, até mesmo a esquerda. Já o sentido de não é apenas de negação, e subentende-se que a esquerda não é honesta. 1. No poema “lépida e leve”, o eu lírico estabelece aproximações sugestivas entre o exercício erótico e o fazer poético. assim, o elemento-imagem “língua” é explorado polissemicamente no sentido de fonte de prazer e ideia, expressando o total envolvimento do criador com a obra criada (“língua que me cativas, que me enleias / os surtos de ave estranha, / em linhas longas de invisíveis teias, / de que és, há tanto, habilidosa aranha…”). o eu lírico feminino projeta-se como “frase” e une-se ao discurso de todas as mulheres (“amo-te como todas as mulheres”), exprimindo o direito de desfrutar inteiramente do prazer. POLI_HERMES1_GRA.indb 24 23/01/17 10:23 polisaber 25 aula 2 gramática 32 5- 1 4. (UFG) leÃo – Um acontecimento inesperado pode fazer você descobrir as verdadeiras intenções de uma pessoa em quem confia muito. Não se espante com a sensa- ção de que, a qualquer momento, coisas que você não conhece podem mudar muito a sua vida. O Popular. Goiânia, 13 set. 2004, p. 6. Magazine. leÃo – Não deixe que a possessividade no amor a atrapalhe. algum acontecimento pode fazer você querer acelerar as mudanças que já estão
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