Buscar

GR_HERMES_2017

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 182 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 182 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 182 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

HERMES
GRAMÁTICA
pré-vestibular
aula caderno 1 
1 Variação Linguística 
2 Questões de Semântica 
3 Morfologia: substantivos, adjetivos e pronomes 
4 Morfologia: artigo, numeral, advérbio e interjeição 
5 Morfologia: verbos - formação e sentido do indicativo e do subjuntivo 
6 Morfologia: verbos - formação e sentido do imperativo 
aula caderno 2 
7 e 8 Sinais de pontuação 
9 e 10 Regência verbal 
11 Crase 
12 e 13 Concordância verbal 
GRAMÁTICA 
HERMES 
gramática 1
padrão
comunidade
linguagem
portuguesa dialeto expressão
entenda
ensinar
mostrar
tarefa pois
devem socialescrever
mundo
explicar
modo
sociedade fala
tão
quais
simples
leitura
construção
entender-se indivíduo
transmitir
dominar
ensino
dialetos
ainda
aprendeu
então
entrar
falar
criança
escola deve
aluno
conhecimento
variação
escrita
língua
linguística ser
a
vi
ts
POLI_HERMES1_GRA.indb 1 23/01/17 10:23
2 polisaber
32
5-
1
Variação linguística
conceito de língua
o termo “língua” costuma ser definido sob dois pontos 
de vista: o técnico-científico e o sociocultural. De acor-
do com o primeiro, uma língua é um sistema formado 
por diferentes módulos: o fonético (os sons relevantes 
para a enunciação), o morfossintático (as unidades 
significativas e seu arranjo em frases e textos, segundo 
regras) e o semântico (os significados e os sentidos). 
outra divisão é a que propõe um léxico (todas as palavras 
da língua) e uma gramática (as regras que permitem 
combinações dessas palavras para fazerem sentido). 
essa é a concepção da língua como estrutura, como 
uma entidade autônoma, que pode ser estudada em si 
mesma, sem referência a fatores externos. 
o ponto de vista sociocultural é aquele assumido 
pela maioria das pessoas, isto é, as que não são es-
pecializadas nos estudos científicos da linguagem. 
assim, quando saímos do campo técnico, especializado, 
deparamo-nos com as concepções do senso comum, 
ou seja, as ideias mais ou menos cristalizadas que 
circulam na sociedade e na cultura. aqui, a definição 
de língua é vaga e imprecisa, impregnada de mitos 
culturais e preconceitos sociais, decorrentes de longos 
processos históricos, específicos de determinado povo, 
nação ou grupo social. Um dos estereótipos culturais 
mais resistentes é o que identifica língua ao modelo 
idealizado de escrita literária, geralmente obsoleta, que 
podemos chamar de norma-padrão e que vem descrito 
e prescrito nos livros chamados gramáticas normativas. 
Uma terceira perspectiva, mais recente, estuda a 
língua não só como estrutura fonomorfossintática, mas 
sobretudo em seus aspectos semânticos, pragmáticos e 
discursivos. segundo essa abordagem, só existe língua 
em interação social, de modo que é preciso examinar 
e compreender os processos envolvidos na produção 
de sentido que se dá toda vez que falamos e/ou es-
crevemos. aqui, a língua não é uma entidade abstrata: 
ao contrário, ela é vista como uso concreto, uso que se 
faz sempre e inevitavelmente na forma de um discurso 
que se molda segundo as convenções dos múltiplos 
gêneros que circulam numa sociedade-cultura. assim, 
os textos – falados e escritos – são molduras linguísticas 
em que os enunciados se interconectam (por meio de 
fatores como coesão e coerência, entre outros) para 
conferir sentido ao discurso expresso como gênero 
textual. por isso, é uma abordagem (1) semântica, que 
analisa o sentido (e não o significado abstrato) que os 
enunciados adquirem em discursos particulares; (2) 
pragmática, que investiga as intenções subjacentes 
à situação daquele uso específico das palavras, das 
construções sintáticas e das propriedades textuais; e 
(3) discursiva, porque tenta depreender as crenças so-
ciais, os valores culturais e as ideologias que subjazem 
a enunciados concretos. 
Disponível em: <www.glossarioceale.com.br/ 
verbetes/lingua> (acesso em: 17 nov. 2014)
a língua como feixe de 
possíveis variedades
A heterogeneidade é característica de todas as línguas 
humanas. Quando nos referimos ao espanhol, ao francês, 
ao inglês, ao português, ao chinês, ao japonês, colocamos 
sob um único rótulo uma imensa variedade de maneiras 
gramática – aula 1
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
e do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da nação brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro. 
Oswald de Andrade 
padrão
comunidade
linguagem
portuguesa dialeto expressão
entenda
ensinar
mostrar
tarefa pois
devem socialescrever
mundo
explicar
modo
sociedade fala
tão
quais
simples
leitura
construção
entender-se indivíduo
transmitir
dominar
ensino
dialetos
ainda
aprendeu
então
entrar
falar
criança
escola deve
aluno
conhecimento
variação
escrita
língua
linguística ser
a
vi
ts
professor, nestas aulas, concebemos a língua como um feixe de varieda-
des. acreditamos que o aluno deve conhecer as gramáticas existentes e 
as variantes que mais aparecem nos exames. ao resolver os exercícios, 
explique aos alunos a artificialidade de algumas classificações, visto que, 
em um texto, o uso de uma variante não exclui o uso das demais. outra 
questão importante é a do preconceito linguístico, que é discutido na seção 
Estudo orientado. procuramos mostrar o que é preconceito linguístico, 
sem, contudo, estudá-lo especificamente. acreditamos ser importante a 
apresentação desse tema nas aulas, ainda que brevemente. Fica a sugestão.
00
17
POLI_HERMES1_GRA.indb 2 23/01/17 10:23
 polisaber 3
aula 1 gramática
32
5-
1
de falar e de escrever originárias das múltiplas socieda-
des e culturas de diferentes regiões, estados dentro das 
regiões, classes sociais, faixas etárias, estilos individuais, 
níveis de renda, graus de escolaridade, profissões, con-
textos de interlocução etc. Cada um desses modos de 
falar recebe o nome de variante linguística. 
De acordo com o local em que se encontra ou a situação 
que está vivenciando, uma pessoa pode alterar o modo de 
empregar a língua. Em uma confraternização familiar, por 
exemplo, em que, comumente, fica-se mais relaxado, fala-se 
de modo mais despojado, menos monitorado. No trabalho, 
os ajustes no modo de falar são feitos conforme a imagem 
que fazemos de nosso interlocutor. Assim, não temos uma 
língua, mas uma multiplicidade delas. Como disse José 
Saramago ao se referir à língua portuguesa, “não há uma 
língua portuguesa, há línguas em português”. E podemos 
conceber a língua como um feixe de múltiplas variantes. 
Até há pouco tempo, as variantes linguísticas não eram 
objeto de estudo nas escolas nem figuravam em exames 
vestibulares. Pensava-se que a variedade-padrão – aquela 
difundida pela gramática normativa – era a única em 
que todas as outras deveriam se pautar. No entanto, 
com os novos rumos que tomou a educação brasileira a 
partir da publicação da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 
(LDB/1996), difundiu-se a concepção de que a língua não 
pode ser confundida com um código que contém, por si 
só, todas as indicações necessárias para a comunicação. 
Nessa perspectiva, a norma culta deixou de ser consi-
derada a única variante em que todas as outras deveriam 
se espelhar e passou a ser vista como uma das muitas 
variantes da língua portuguesa. Outro ponto que também 
mereceu atenção dos estudiosos foi a ideia de preconceito 
linguístico. Desprestigiar um falante porque ele não se ex-
pressa segundo o que imaginamos ser um modelo ideal de 
língua é um preconceito tão grave quanto qualquer outro 
tipo de preconceito que ainda presenciamos em muitas 
instâncias sociais. 
No entanto, no que tange aos estudos linguísticos, a ascen-
são de outras variantes não nos desobriga de seguir regras. 
Numa dimensão gramatical da linguagem em sentido amplo, 
a regra “é um processo sistemático dos falantes que, nas 
situações de interlocução, jogam entre si o mesmo jogo de 
linguagem. Não é procedimento de uma única pessoa, uma 
única vez, numa única ocasião: as regras são instituídas na 
prática, sempre que haja, na construçãodas expressões, um 
uso constante e sistemático dos mesmos recursos expres-
sivos para levar os falantes a determinado entendimento”.1 
1. Proposta curricular para o ensino de língua portuguesa – 1o grau. Governo 
do Estado de São Paulo. Secretaria do Estado da Educação – Coordenadoria de 
Estudos e Normas Pedagógicas. 4. ed. São Paulo: MEC, 1992. p. 17.
Portanto, não há dúvida de que a escola deve criar 
situações para que os estudantes aprendam e exerci-
tem a norma culta, até porque as outras variantes são 
aprendidas e exercitadas no dia a dia, em situações reais 
de interlocução. Além disso, no mundo do trabalho e em 
exames vestibulares, exige-se o uso da norma culta não 
só nas respostas aos exercícios, mas também na redação. 
Norma-padrão ou norma culta? 
A diferença entre norma-padrão e norma culta muitas 
vezes é objeto de discussão linguística. A questão é tão com-
plexa, que os principais exames vestibulares de língua portu-
guesa geralmente as tomam como equivalentes. No entanto, 
para aprimorar nossos conhecimentos linguísticos e entender 
melhor as variantes, é importante saber distingui-las. 
Neste curso, adotamos a perspectiva do professor Mar-
cos Bagno, que define norma-padrão do seguinte modo: 
assim, para designar o modelo ideal de língua “certa”, 
muitos linguistas têm proposto o termo “norma-padrão”. 
ele serve muito bem, me parece, para designar algo que 
está fora e acima da atividade linguística dos falantes. 
embora algumas pessoas também usem as expressões 
língua-padrão, dialeto-padrão e variedade-padrão, eu 
prefiro ficar com norma-padrão, porque, se é ideal, se não 
corresponde integralmente a nenhum conjunto concreto 
de manifestações linguísticas regulares e frequentes, 
não pode ser chamada de “língua”, nem de “dialeto”, 
nem de “variedade”. É uma norma no sentido mais 
jurídico do termo: “lei”, “ditame”, “regra compulsória”, 
imposta de cima para baixo, decretada por pessoas que 
tentam regrar, regular e regulamentar o uso da língua. 
e é também um padrão: um modelo artificial, arbitrário, 
construído segundo critérios de bom gosto vinculados 
a uma determinada classe social, a um determinado 
período histórico e num determinado lugar.
BAGNO, Marcos. 
Norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. 
são paulo: parábola, 2003. p. 64. 
Já em relação à norma culta, esse autor diz: “se qui-
sermos evitar a intervenção da noção estereotipada e 
excludente de ‘cultura’, precisamos encontrar um mo-
delo alternativo para designar as variedades linguísticas 
faladas pelos cidadãos com alta escolarização e vivência 
urbana. eu proponho aqui a palavra ‘prestígio’, muito em-
pregada na literatura sociológica” (baGNo, 2003, p. 65). 
professor, procuramos apresentar a gramática e sua relação com a semântica e a prag-
mática. É importante o estudante conhecer a relação da língua com a sociedade e sobre 
como, em razão dessa relação, alguns termos linguísticos aparecem como variantes de 
prestígio e outros são estigmatizados.
POLI_HERMES1_GRA.indb 3 23/01/17 10:23
gramática aula 1
4 polisaber
32
5-
1
Como vimos nas palavras do professor, a norma-padrão 
é um ideal linguístico, enquanto a norma culta, que o autor 
prefere chamar de variante “de prestígio” na obra citada, é a 
concretização da língua dos falantes urbanos e escolarizados. 
A gramática e seus tipos
Todos sabemos gramática. Essa afirmação pode assus-
tar alguns estudantes, pois, normalmente, considera-se 
gramática apenas o conjunto de regras estabelecidas 
como padrão de um idioma. Entretanto, o conceito de 
gramática vai muito além disso: “os falantes e ouvintes 
de uma mesma língua observam um número não peque-
no de regras – mil a mil e quinhentas é uma estimativa 
já admitida –, ao falar e ouvir. Tais regras constituem um 
sistema […]. É a esse sistema que se dá o nome de gra-
mática de uma língua […] o normal é que um indivíduo 
internalize praticamente todas as regras de sua língua já 
ao atingir doze-treze anos”.2 
Essa gramática que todos sabemos é a gramática 
interna da língua, um sistema de regras que os falantes 
de um idioma assimilam naturalmente. 
A gramática normativa, esta sim, é o conjunto de re-
gras e orientações que se aprende na escola, às vezes 
de forma equivocada, como o instrumento que unifica a 
forma de falar e escrever corretamente. Em geral, essa 
gramática veicula a norma-padrão, prescrevendo usos 
que considera “exemplares”. 
2. HOUAISS, Antonio. O que é língua. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 19.
Outro tipo de gramática, também desconhecida dos 
estudantes, é a gramática de usos. Menos conservadora 
e mais descritiva, estuda as várias possibilidades de 
realizações linguísticas de um idioma considerando as 
diversas variantes de uma língua. 
As principais variedades linguísticas
Todas as variedades são adequadas para expressar as 
necessidades de comunicação dos falantes. Embora sem-
pre haja muitas possibilidades de variação, trataremos 
aqui daquelas que são recorrentes na grade curricular do 
Ensino Médio e nos exames vestibulares. 
Tipos de variação
1. Sociocultural: a variação sociocultural leva em conta 
o grau de escolaridade do falante, a condição econômi-
ca, bem como a idade e o gênero. Se comparada à fala 
dos adultos, a fala dos jovens geralmente admite mais 
mudanças, mais novidades. 
2. Regional/geográfica: as variedades regionais ou geo-
gráficas correspondem aos diferentes falares existentes 
nas regiões brasileiras e dizem respeito ao vocabulário e 
à pronúncia. Por exemplo, abóbora, comum nos estados 
do Sul do Brasil, é chamada “jerimum” no Nordeste. 
3. Histórica: relacionadas à época em que vive o fa-
lante, as variedades históricas permitem-nos observar as 
transformações pelas quais passa a língua ao longo do 
tempo. A palavra “retrato” já é antiga em relação a “foto”. 
Selfie é moderníssima em relação a “autorretrato”. O que 
virá depois? Só o tempo nos dirá.
 
exercícios
1. As afirmações a seguir foram retiradas do livro 
Preconceito linguístico, de Marcos Bagno. Com 
base em seus conhecimentos sobre variantes 
linguísticas e preconceito linguístico, julgue-as 
como verdadeiras ou mitos. Argumente os ca-
sos classificados como mitos. 
1) “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma 
unidade surpreendente.” 
2) “Brasileiro não sabe português. Só em Portugal se 
fala bem o português.” 
3) “As pessoas sem instrução falam tudo errado.” 
4) “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é 
o Maranhão.” 
5) “O certo é falar assim porque se escreve assim.” 
6) “É preciso saber gramática para falar e escrever bem.” 
1. respostas baseadas no livro Preconceito linguístico, de Marcos bagno. 1) Mito. a língua 
portuguesa apresenta múltiplas variantes, em razão da grande extensão territorial do 
país e também da histórica desigualdade social. impondo a milhões de brasileiros uma 
escola básica de qualidade muito inferior à desejável – e possível –, essa desigualdade 
cria um verdadeiro abismo linguístico entre os falantes das variantes padrão e não padrão 
do português. 2) Mito. os brasileiros sabem português, sim. o que acontece é que o nosso 
português é diferente do de portugal; no vocabulário, nas construções sintáticas e no 
uso de certas expressões, sem mencionar, evidentemente, as tremendas diferenças de 
pronúncia. É por isso que muitos estudiosos preferem se referir à nossa língua como 
português brasileiro. 3) Mito. esse é um preconceito linguístico que decorre muito mais de 
aspectos sociais do que propriamente linguísticos. Mesmo que nunca tenham ido à 
escola, as pessoas falam e se comunicam muito bem. o que acontece é que, em muitos 
casos, preferem não ser redundantes. por exemplo, em “os menino foi brincar”, o plural 
se restringe ao artigo, sem se estender ao substantivo e ao verbo. Da perspectiva sociolin-
guística, não está errado, porque o plural está caracterizado; só não segue a norma-padrão, 
que exige a concordância entre todos os elementos flexionáveis. 4) Mito. Não existenenhuma variante nacional, regional, social ou local que seja intrinsecamente melhor, 
mais bonita ou mais correta que outra. Não é pelo fato de no Maranhão se empregar o pronome da 2a pessoa (por exemplo, “tu comias” ou “tu bebes”) que essa 
variedade é melhor do que as outras. 5) Mito. É claro que é preciso o professor ensinar ao aluno escrever de acordo com a ortografia oficial, mas, se falarmos 
como escrevemos, criaremos uma língua artificial, que não condiz com as diferenças de pronúncia que existem entre a língua falada e a escrita. em muitos lugares, 
pronunciamos “leiti” e não “leite”, mas isso não quer dizer que incorremos em erro, apenas estamos sendo coerentes com as forças internas que governam o 
idioma. 6) Mito. esse mito está ligado à histórica confusão entre língua e gramática normativa. Grandes escritores da nossa língua não seguem ou não seguiram 
regras da gramática normativa e nem por isso deixaram de ser ótimos escritores.
POLI_HERMES1_GRA_A.indd 4 23/01/17 10:41
 polisaber 5
aula 1 gramática
32
5-
1
2. Leia os textos a seguir e procure apontar as 
principais variantes, justificando cada caso. 
Texto I 
Cuitelinho 
Cheguei na beira do porto 
onde as onda se espaia 
as garça dá meia volta 
e senta na beira da praia 
e o cuitelinho não gosta 
Que o botão de rosa caia, ai, ai 
ai quando eu vim 
da minha terra 
Despedi da parentaia 
eu entrei no Mato Grosso 
Dei em terras paraguaia 
lá tinha revolução 
enfrentei fortes bataia, ai, ai 
a tua saudade corta 
Como aço de navaia 
o coração fica aflito 
bate uma, a outra faia 
e os óio se enche d’água 
Que até a vista se atrapaia, ai, ai… 
Composição recolhida por Paulo Vanzolini e 
Antônio Xandó. 
professor, procure orientar os alunos na observação de mais 
de uma variante nos textos que serão objeto de análise. Muitos 
autores classificam como variantes a situação de comunicação 
e o estilo do enunciador. Não contemplamos essa questão, 
pois temos clareza de que as variantes sempre dependem das 
situações de comunicação e dos sujeitos que se colocam como 
enunciadores nas trocas dialógicas.
Texto II 
sapassado taveu na cuzinha tomando uma picumel 
e cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazê 
uma macarronada com galinhassada. Quascaí de susto, 
quando ouvi um barui de dendoforno, pareceno um 
tidiguerra. a receita mandopô midipipoca dentro da 
galinha prassá. 
U forno isquentô, u mistorô e o fiofó da galinha isplu-
diu!! Nossinhora! fiquei branco quinein um lidileite. Foi 
um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê 
doncovinha, proncoía, oncotava. Óiprocevê quelucura! 
Grazadeus ninguém simaxucô! 
VALADARES, Guilherme Nascimento. 
Guia para mineirês. Papo de homem. 
belo Horizonte, 22 jun. 2007. 
Disponível em: <http://papodehomem.com.br/guia-
para-mineirs-da-revista-papo-de-homem/> 
(acesso em: 20 nov. 2014) 
POLI_HERMES1_GRA.indb 5 23/01/17 10:23
gramática aula 1
6 polisaber
32
5-
1
Texto III
Fronteiras linguísticas: além do preconceito. 
Disponível em: <http://fronteiraslinguisticas. blogspot.com> (acesso em: 20 nov. 2014)
Observação: Com a análise dos textos, você deve ter notado que a classificação das variações é artificial, pois uma 
variedade não exclui a outra. Os exercícios que pedem que se aponte uma variedade trabalham a questão da predomi-
nância; nesse caso, fazem os apontamentos adequados nos enunciados das questões.
estudo orieNtado
Caro(a) aluno(a), 
Os exercícios a seguir vão tornar ainda mais evidente o fato de que o léxico de um idioma 
 
é composto de palavras e expressões que nascem, são e foram usadas em vários lugares, em épocas diferentes; 
envolve saberes diferenciados, usos cultos, gírias, entre outras possibilidades. 
KRIEGER, Maria da Graça. 
Dicionário em sala de aula. rio de Janeiro: lexikon, 2012. p. 59. 
Por isso, as variantes são formas de dizer de uma mesma língua.
 M
eN
ti
ri
N
H
a
s.
C
o
M
.b
r
POLI_HERMES1_GRA.indb 6 23/01/17 10:23
 polisaber 7
aula 1 gramática
32
5-
1
exercícios
1. (Fuvest) Leia o texto a seguir. 
a correção da língua é um artificialismo, continuei 
episcopalmente. o natural é a incorreção. 
Note que a gramática só se atreve a meter o bico 
quando escrevemos. Quando falamos, afasta-se para 
longe, de orelhas murchas. 
 LOBATO, Monteiro. 
Prefácios e entrevistas. 
a) Tendo em vista a opinião do autor do texto, pode-se 
concluir corretamente que a língua falada é despro-
vida de regras? Explique sucintamente. 
b) Entre a palavra “episcopalmente” e as expressões 
“meter o bico” e “de orelhas murchas”, dá-se um 
contraste de variedades linguísticas. Substitua as 
expressões coloquiais que aí aparecem por outras 
equivalentes, que pertençam à variedade-padrão. 
2. (Unicamp) Reproduzimos a seguir a chamada de 
capa e a notícia publicadas em um jornal brasi-
leiro que apresenta um estilo mais informal. 
Governo quer fazer a galera pendurar a 
chuteira mais tarde 
Duro de parar 
Como a vovozada vive até mais tarde, a intenção, 
agora, é criar regra para aumentar a idade mínima 
exigida para a aposentadoria; objetivo é impedir que o 
iNss quebre de vez. 
Descanso mais longe 
o brasileiro tá vivendo cada vez mais – o que é 
bom. só que, quanto mais ele vive, mais a situação do 
iNss se complica e mais o governo trata de dificultar 
a aposentadoria do pessoal pelo teto (o valor integral 
que a pessoa teria direito de receber quando pendura 
as chuteiras) – o que não é tão bom. 
Não. a língua falada tem regras tão rigorosas e coerentes quanto a língua escrita. o que 
acontece é que essas regras são diferentes nos dois casos.
intrometer-se. Cabisbaixo.
a última novidade que já tá em discussão lá em bra-
sília é botar pra funcionar a regra 85/95, que diz que 
só se aposenta ganhando o teto quem somar 85 anos 
entre idade e tempo de contribuição (se for mulher) e 
95 anos (se for homem). 
ou seja, uma mulher de 60 anos só levaria a grana toda 
se tivesse trampado registrada por 25 anos (60 + 25 = 85) 
e um homem da mesma idade, se tivesse contribuído 
por 35 (60 + 35 = 95). 
Quem quiser se aposentar antes pode – só que vai re-
ceber menos do que teria direito com a conta fechada.
Notícia JÁ. 
Campinas, 30 jun. 2012, p. 1/12.
a) Retire dos textos duas marcas que caracterizariam 
a informalidade pretendida pela publicação, explici-
tando de que tipo elas são (sintáticas, morfológicas, 
fonológicas ou lexicais, isto é, de vocabulário).
b) Pode-se afirmar que certas expressões empregadas 
no texto, como “tá” e “botar”, se diferenciam de 
outras, como “galera” e “grana”, quanto ao modo 
como funcionam na sociedade brasileira. Explique 
que diferença é essa. 
(Fuvest) Texto para as questões 3 e 4. 
todas as variedades linguísticas são estruturadas e 
correspondem a sistemas e subsistemas adequados às 
necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a 
língua fortemente ligada à estrutura social e aos siste-
mas de valores da sociedade conduz a uma avaliação 
distinta das características das suas diversas modalida-
des regionais, sociais e estilísticas. a língua padrão, por 
“pendurar as chuteiras” e “quebre” (lexicais), “vovozada” (morfológica) e “tá” (fonética).
por mais que ocorram na língua falada brasileira, “tá” e “botar” são de uso mais generali-
zado, enquanto “galera” e “grana” são variantes lexicais bastante informais, de uso mais 
restrito, ocorrendo em discursos em que aparecem gírias, por exemplo.
POLI_HERMES1_GRA.indb 7 23/01/17 10:23
gramática aula 1
8 polisaber
32
5-
1
exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades 
de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua 
como modelo, como norma, como ideal linguístico de 
uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua 
função coercitiva sobre as outras variedades, com o 
que se torna uma ponderável força contrária à variação. 
CUNHA, Celso. 
Nova gramática do português contemporâneo. 
(adaptado) 
3. Depreende-se do texto que uma determinada 
língua é um: 
a) conjunto de variedades linguísticas,dentre as quais 
uma alcança maior valor social e passa a ser consi-
derada exemplar. 
b) sistema de signos estruturado segundo as normas 
instituídas pelo grupo de maior prestígio social. 
c) conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação 
é vedada pela norma culta. 
d) complexo de sistemas e subsistemas cujo funciona-
mento é prejudicado pela heterogeneidade social. 
e) conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais 
algumas são dotadas de normas e outras não o são. 
4. De acordo com o texto, em relação às demais 
variedades do idioma, a língua padrão se com-
porta de modo: 
a) inovador. 
b) restritivo. 
c) transigente. 
d) neutro. 
e) aleatório. 
5. (Unicamp) O trecho seguinte foi extraído do de-
bate que se seguiu à palestra do poeta Paulo 
Leminski (“Poesia: a paixão da linguagem”), pro-
ferida durante o curso “Os sentidos da paixão” 
(Funarte, 1986). Observe que neste trecho é pos-
sível identificar palavras e construções caracte-
rísticas da linguagem coloquial oral. Reescreva-o 
de forma a adequá-lo à modalidade escrita culta. 
– estudei durante seis anos muito a vida de um 
paulista e fiz um filme sobre ele, que é o Mário de an-
drade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas 
vanguardas modernistas. […] Hoje em dia, felizmente, 
já existem vários trabalhos, há muita gente reavaliando 
a poética do Mário, que ela é muito mais importante 
e profunda do que aparentemente pareceu nestes 
últimos anos. estudando o Mário, eu descobri que o 
Mário foi um exemplo do cara que morreu de amor, 
mas de amor pelo seu povo, pelo seu país, pela sua 
cultura […]. Um outro cara que também fiz um filme é 
o Câmara Cascudo. Um cara como o Câmara Cascudo 
morre, os jornais dão uma notinha desse tamanhinho, 
escondidinho, um cara que deveria ter estátua em praça 
pública, deveria ser lido, recitado. 
Os sentidos da paixão, p. 301. 
6. (FGV-SP) 
Mauricio de sousa produções ltda. 
todos os direitos reservados. 
sugestão de resposta: 
estudei muito, durante seis anos, a vida de um paulista sobre o qual fiz, até mesmo, um fil-
me: trata-se de Mário de andrade, um grande poeta pouco mencionado pelas vanguardas 
modernistas. […] Hoje em dia, felizmente, já existem vários trabalhos nos quais se reavalia 
a poética desse autor, vez que ela é muito mais importante e profunda do que pareceu 
nestes últimos anos. estudando Mário de andrade, descobri um exemplo de alguém que 
morreu de amor, mas de amor por seu povo, por seu país, por sua cultura […]. outro 
homem sobre quem eu também fiz um filme é Câmara Cascudo. Uma personalidade como 
ele morre, os jornais publicam uma pequena nota, quase insignificante, pouco visível, 
quando, na verdade, ele mereceria estátua em praça pública, devia ser lido, recitado.
C
o
pY
ri
G
H
t2
00
1
POLI_HERMES1_GRA.indb 8 23/01/17 10:23
 polisaber 9
aula 1 gramática
32
5-
1
a) Tendo em vista a significação das palavras e seu 
emprego na língua, transcreva duas expressões da 
tira que são utilizadas normalmente em situações 
mais informais, relacionando-as a variedades sociais 
ou regionais. 
b) Articulando tais expressões a situações típicas de um 
contexto mais formal, substitua-as por termos mais 
comuns à norma-padrão da língua, reescrevendo as 
frases em que aparecem. 
7. (Enem) 
Texto I 
Antigamente
antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante 
dos pais e, se um se esquecia de arear os dentes antes 
de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no 
couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, 
sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do 
padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava 
tunda. ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e 
logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, 
nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse 
patavina da instrução moral e cívica. o verdadeiro smart 
as expressões são “baita” e “ué”. trata-se de variedades que caracterizam usos colo-
quiais da língua.
sonhei que você pegou o coelhinho da Mônica e deu um grande nó nas orelhas dele. e 
daí, qual foi o pesadelo? ou: então, qual foi o pesadelo?
calçava botina de botões para comparecer todo liró 
ao copo d’água, se bem que no convescote apenas 
lambiscasse, para evitar flatos. os bilontras é que eram 
um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que 
carecia muita cautela e caldo de galinha. o melhor era 
pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, 
depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se 
pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. 
DRUMMOND DE ANDRADE, C.
Poesia e prosa. rio de Janeiro: Nova aguilar, 1983. 
(fragmento) 
Texto II 
Palavras do arco da velha 
expressão significado 
cair nos braços de Morfeu dormir 
debicar zombar, ridicularizar 
tunda surra 
mangar escarnecer, caçoar 
tugir murmurar 
liró bem-vestido 
copo d’água 
lanche oferecido pelos 
amigos 
convescote piquenique 
bilontra velhaco 
treteiro de topete tratante atrevido 
abrir o arco fugir
FIORIN, J. L. 
as línguas mudam. Língua Portuguesa, n. 24, 
out. 2007. (adaptado)
Na leitura do fragmento do texto “Antigamen-
te”, constata-se, pelo emprego de palavras ob-
soletas, que itens lexicais outrora produtivos 
não mais o são no português brasileiro atual. 
Esse fenômeno revela que: 
a) a língua portuguesa de antigamente carecia de 
termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano. 
b) o português brasileiro se constitui evitando a am-
pliação do léxico proveniente do português europeu. 
c) a heterogeneidade do português leva a uma estabi-
lidade do seu léxico no eixo temporal. 
d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para 
ser reconhecido como língua independente. 
e) o léxico do português representa uma realidade 
linguística variável e diversificada. 
POLI_HERMES1_GRA.indb 9 23/01/17 10:23
gramática aula 1
10 polisaber
32
5-
1
8. (Enem) 
Entrevista com Marcos Bagno
pode parecer inacreditável, mas muitas das pres-
crições da pedagogia tradicional da língua até hoje se 
baseiam nos usos que os escritores portugueses do sé-
culo XiX faziam da língua. se tantas pessoas condenam, 
por exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar de “haver”, 
como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque 
os portugueses, em dado momento da história de sua 
língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo 
“ter”. No entanto, temos registros escritos da época 
medieval em que aparecem centenas desses usos. se 
nós, brasileiros, assim como os falantes africanos do por-
tuguês, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial, 
é porque recebemos esse uso de nossos colonizadores. 
Não tem sentido imaginar que brasileiros, angolanos 
e moçambicanos decidiram se juntar para “errar” a 
mesma coisa. e assim acontece com muitas outras 
coisas: regências verbais, colocação pronominal, con-
cordâncias nominais e verbais etc. temos uma língua 
própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma gra-
mática normativa de outra língua diferente. Às vésperas 
de comemorar nosso bicentenário de independência, 
não tem sentido continuar rejeitando o que é nosso 
para só aceitar o que vem de fora. Não tem sentido 
rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só 
considerar certo o que é usado por menos de dez mi-
lhões de portugueses. só na cidade de são paulo, temos 
mais falantes de português que em toda a europa!
Informativo Parábola Editorial, [s.d.]. 
Na entrevista, o autor defende o uso de formas 
linguísticas coloquiais e faz uso da norma-pa-
drão em toda a extensão do texto. Isso pode ser 
explicado pelo fato de que ele: 
a) adapta o nível de linguagem à situação comunicativa, 
uma vez que o gênero entrevista requer o uso da 
norma-padrão. 
b) apresenta argumentos carentes de comprovação 
científica e, por isso, defende um ponto de vista difícil 
de ser verificado na materialidade do texto. 
c) propõe que o padrão normativo deve ser usado 
por falantes escolarizados como ele, enquanto a 
norma coloquial deve ser usada por falantes não 
escolarizados.d) acredita que a língua genuinamente brasileira está em 
construção, o que o obriga a incorporar em seu coti-
diano a gramática normativa do português europeu. 
e) defende que o número de falantes do português 
brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a 
hegemonia do antigo colonizador.
9. (Enem) 
Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na 
escrita, que, a depender do estrato social e do nível de 
escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. 
ocorrem até mesmo em falantes que dominam a 
variedade-padrão, pois, na verdade, revelam tendências 
existentes na língua em seu processo de mudança que 
não podem ser bloqueadas em nome de um “ideal 
linguístico” que estaria representado pelas regras da 
gramática normativa. Usos como “ter” por “haver” em 
construções existenciais (tem muitos livros na estante), 
o do pronome objeto na posição de sujeito (para mim 
fazer o trabalho), a não concordância das passivas com 
“se” (aluga-se casas) são indícios da existência, não de 
uma norma única, mas de uma pluralidade de normas, 
entendida, mais uma vez, norma como conjunto de 
hábitos linguísticos, sem implicar juízo de valor. 
CALLOU, D. 
Gramática, variação e normas. in: vieira, s. r.; 
braNDÃo, s. (org.). Ensino de gramática: descrição e 
uso. são paulo: Contexto, 2007. (fragmento) 
Considerando a reflexão trazida no texto a respei-
to da multiplicidade do discurso, verifica-se que: 
a) estudantes que não conhecem as diferenças entre 
língua escrita e língua falada empregam, indistinta-
mente, usos aceitos na conversa com amigos quando 
vão elaborar um texto escrito. 
b) falantes que dominam a variedade padrão do portu-
guês do Brasil demonstram usos que confirmam a 
diferença entre a norma idealizada e a efetivamente 
praticada, mesmo por falantes mais escolarizados. 
c) moradores de diversas regiões do país que enfrentam 
dificuldades ao se expressarem na escrita revelam 
a constante modificação das regras de emprego de 
pronomes e os casos especiais de concordância. 
d) pessoas que se julgam no direito de contrariar a 
gramática ensinada na escola gostam de apresentar 
usos não aceitos socialmente para esconder seu 
desconhecimento da norma-padrão. 
e) usuários que desvendam os mistérios e sutilezas da 
língua portuguesa empregam formas do verbo “ter” 
quando, na verdade, deveriam usar formas do verbo 
“haver”, contrariando as regras gramaticais. 
POLI_HERMES1_GRA.indb 10 23/01/17 10:23
 polisaber 11
aula 1 gramática
32
5-
1
10. (Enem) 
Disponível em: <www.flogao.com.br> 
(acesso em: 28 fev. 2012) 
Os textos relativos ao mundo do trabalho geral-
mente são elaborados no padrão normativo da 
língua. No anúncio, apesar de o enunciador ter 
usado uma variedade linguística não padrão, ele 
atinge seus propósitos comunicativos porque: 
a) os fazendeiros podem contar com a comodidade de 
ser atendidos em sua fazenda. 
b) a parede de uma casa é um suporte eficiente para a 
divulgação escrita de um anúncio. 
c) a letra de fôrma torna a mensagem mais clara, de 
modo a facilitar a compreensão. 
d) os mecânicos especializados em máquinas pesadas 
são raros na zona rural. 
e) o contexto e a seleção lexical permitem que se al-
cance o sentido pretendido. 
11. (Enem) 
Futebol: “A rebeldia é que muda o mundo”
Conheça a história de Afonsinho, o primeiro jogador 
do futebol brasileiro a derrotar a cartolagem e a con-
quistar o Passe Livre, há exatos 40 anos 
pelé estava se aposentando pra valer pela primeira 
vez, então com a camisa do santos (porque depois 
voltaria a atuar pelo New York Cosmos, dos estados 
Unidos), em 1972, quando foi questionado se, finalmente, 
sentia-se um homem livre. o rei respondeu sem titubear: 
– Homem livre no futebol só conheço um: o afonsi-
nho. este sim pode dizer, usando as suas palavras, que 
deu o grito de independência ou morte. Ninguém mais. 
o resto é conversa.
apesar de suas declarações serem motivo de chacota 
por parte da mídia futebolística e até dos torcedores 
brasileiros, o atleta do século acertou. e provavelmente 
acertaria novamente hoje. 
pela admiração por um de seus colegas de clube 
daquele ano. pelo reconhecimento do caráter e perso-
nalidade de um dos jogadores mais contestadores do 
futebol nacional. e principalmente em razão da história 
de luta – e vitória – de afonsinho sobre os cartolas. 
ANDREUCCI, R. 
Disponível em: <http://carosamigos.terra.com.br> 
(acesso em: 19 ago. 2011) 
O autor utiliza marcas linguísticas que dão ao 
texto um caráter informal. Uma dessas marcas 
é identificada em: 
a) “[…] o Atleta do Século acertou.” 
b) “O Rei respondeu sem titubear […].” 
c) “E provavelmente acertaria novamente hoje.” 
d) “Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira 
vez […].” 
e) “Pela admiração por um de seus colegas de clube 
daquele ano.”
roda de leitura
Texto I 
A origem e o destino das línguas
Ciência e religião sempre buscaram respostas para 
duas questões essenciais: a origem e o destino de tudo. 
o Gênesis, na Bíblia, coloca o planeta em que habitamos 
como o centro da criação divina que deu origem ao 
Universo. Na teoria do big bang, uma grande explosão 
é a explicação científica para a origem e a expansão 
do Universo. aquele mesmo livro da Bíblia fala na 
criação de adão, o primeiro homem da terra. a teoria 
evolucionista aponta ancestrais comuns entre homens 
e primatas. Na Bíblia, a origem da grande diversidade 
de línguas do mundo é tida como um castigo de Deus. 
pelo texto bíblico, no princípio dos tempos, só se fala-
va uma língua. Quando os homens resolveram construir 
uma torre que pudesse alcançar o céu, para ficar mais 
próximos de Deus, foram castigados por seu criador 
e destinados a falar diferentes idiomas. Não havendo 
mais entendimento entre eles, tiveram que parar a 
construção da torre de babel. 
No século XiX, estudos comparativos levaram à 
hipótese de uma origem comum entre as línguas eu-
ropeias e as asiáticas. elas pertenceriam a uma mesma 
família linguística denominada indo-europeu. para os 
POLI_HERMES1_GRA.indb 11 23/01/17 10:23
gramática aula 1
12 polisaber
32
5-
1
cientistas da linguagem, no entanto, a protolíngua dessa 
família não é a língua que deu origem a todas as outras. 
Chegou-se ao indo-europeu através da comparação 
de manuscritos antigos em línguas orientais como o 
sânscrito com o que já se conhecia das línguas germâ-
nicas e latinas. Quando surgiram as primeiras formas 
de escrita, na antiguidade, já havia uma grande diver-
sidade linguística no mundo. Como não há registro da 
forma com que se falava naquele período, as hipóteses 
sobre uma língua original são consideradas pelo meio 
científico uma mera especulação. 
em 1994, entretanto, o linguista Merrit ruhlen, da 
Universidade de stanford, nos eUa, publicou o livro 
A origem das línguas, relançando o debate sobre a 
questão. “a comunidade linguística estava de acordo, 
até então, em pensar que o problema da origem das 
línguas não podia ser abordado de maneira científica 
por sua disciplina”, afirma bernard victorri, da École 
Normale supérieure de paris. victorri é um dos pesqui-
sadores que contribuíram para a edição de dezembro 
de 2000 e janeiro de 2001 da revista francesa Sciences 
et Avenir, inteiramente dedicada à origem da linguagem 
e à diversidade linguística no mundo. em seu artigo, 
ele explica a teoria de ruhlen, que reagrupa as línguas 
em 12 grandes famílias linguísticas e estabelece, pelo 
método comparativo, uma lista de 27 raízes de palavras 
comuns ao conjunto de línguas do mundo. segundo o 
linguista estadunidense, essas raízes pertenceriam a 
uma língua original, de onde teriam surgido todas as 
outras. a análise que victorri faz da teoria de ruhlen 
é que, apesar de suas hipóteses serem interessantes, 
seus argumentos não são muito convincentes, especial-
mente quando ele recorre ao cálculo de probabilidades. 
Mas ele não descarta a importância dessa contribuição 
científica: “reagrupando os esforços de linguistas, 
antropólogos, arqueólogose geneticistas, pode-se 
esperar reconstituir a história da humanidade desde o 
surgimento da nossa espécie”, afirma. 
Merrit ruhlen foi discípulo de Joseph Greenberg, um 
dos mais respeitados linguistas estadunidenses. em 
1960, Greenberg publicou um estudo em que postula-
va 45 características linguísticas universais a partir da 
comparação de línguas de famílias diferentes espa-
lhadas pelos cinco continentes do globo terrestre. três 
anos antes, outro linguista estadunidense de grande 
prestígio, Noam Chomsky, havia lançado a ideia de que 
havia princípios universais comuns a todas as línguas, 
herdados geneticamente. a teoria chomskyana se de-
senvolveu ao longo da década de 1960, propondo que, 
além dos princípios universais, existiriam parâmetros 
específicos de cada língua, assimilados no contato do 
falante com sua língua materna. Um dos princípios 
universais é que toda língua possui sujeito, verbo e 
objeto, sendo variável a ordem desses constituintes na 
frase. Um parâmetro específico de uma língua como o 
português, por exemplo, é o do sujeito nulo. No contato 
com a língua, durante o processo de aquisição de linguagem, 
a criança assimila que, em português, podemos omitir 
o sujeito de uma frase. Uma sentença como “chove” 
recebe obrigatoriamente um sujeito impessoal em 
línguas como o inglês (it rains) e o francês (il pleut). 
além de estar entre os tópicos de estudo da ciência 
linguística, a origem da linguagem e a universalidade 
das línguas ocupam o pensamento filosófico desde a 
antiguidade. platão falava numa língua fundada na na-
tureza; Descartes, numa língua universal bastante fácil 
de aprender; rousseau, na degeneração da linguagem 
dos primeiros homens. o ideal da universalidade, que 
também aparece no mito bíblico da torre de babel, 
chegou a inspirar no final do século XiX a criação de 
línguas artificiais como o volapük e o esperanto. porém 
a primeira Guerra Mundial, no começo do século XX, 
marca o fim das utopias universalistas, segundo des-
creve a linguista Marina Yaguello, da Universidade de 
paris, em seu artigo “la langue universelle”, publicado 
naquela mesma edição de Science et Avenir. 
após a segunda Guerra, no entanto, a universalidade 
ressurge, dessa vez não como um ideal: o desenvol-
vimento da cibercultura impõe o inglês como língua 
internacional de comunicação. Yaguello aponta, além 
das razões históricas e econômicas, alguns fatores 
culturais que facilitaram essa internacionalização: 
“o inglês é bem menos submisso a uma norma aca-
dêmica que o francês; suas numerosas variedades são 
reconhecidas e aceitas. o inglês beneficia-se de uma 
aura de modernidade, de juventude, de vitalidade”, afir-
ma a linguista. Com essa expansão, o inglês vem sendo 
qualificado como killer language (língua assassina) em 
relação às línguas minoritárias, com poucos falantes, 
que acabam desaparecendo. “À problemática da língua 
perfeita, seguida da língua universal, sucedeu, no início 
do terceiro milênio, aquela das línguas em risco de 
extinção”, diz Yaguello. 
David Crystal, em the Cambrige Encyclopaedia of 
Language, de 1987, relaciona as línguas mais faladas no 
mundo, que são consideradas oficiais em seus países, 
e o número de falantes que elas têm. o inglês aparece 
em primeiro lugar na lista, com 1,4 bilhão de falantes; o 
mandarim, falado na China, aparece em segundo, com 
1 bilhão de falantes, seguido do hindi, falado na Índia, 
POLI_HERMES1_GRA.indb 12 23/01/17 10:23
 polisaber 13
aula 1 gramática
32
5-
1
com 700 milhões, e do espanhol, com 280 milhões. 
Crystal pondera que há uma superestimação nos 
dados, pois na Índia, por exemplo, apenas um número 
relativamente pequeno dos habitantes fala inglês, uma 
das línguas oficiais do país. o português aparecia na 
lista de Crystal em oitavo lugar, como língua oficial de 
160 milhões de pessoas. estima-se que hoje sejam 
mais de 180 milhões os falantes de português em todo 
o mundo. em 2000, Crystal publicou o livro Language 
Death, relatando o desaparecimento de diversas línguas 
minoritárias do planeta. 
em 2000, a revista Veja publicou uma entrevista com 
o linguista steven Fischer, diretor do instituto de línguas 
e literatura polinésias da Nova Zelândia, na qual ele fa-
zia a previsão do fim da maior parte das línguas faladas 
hoje no mundo. “Falam-se entre 4 mil e 6.800 idiomas na 
terra. Haverá menos de mil em cem anos. em 300 anos, 
não mais do que 24. inglês, mandarim e espanhol serão 
as mais faladas”, diz Fischer. “inglês certamente será a 
língua franca”, completa. ele também afirma que o por-
tuguês falado no brasil sofrerá grandes transformações 
pelo contato com os parceiros comerciais do Mercosul. 
“Devido à enorme influência do espanhol, é bastante 
provável que surja uma espécie de portunhol”, decla-
ra. o linguista Carlos vogt, diretor de redação da Com 
Ciência, fez uma análise das declarações de Fisher em 
artigo publicado no Observatório da Imprensa, em 20 
de abril de 2000. “Não sei se o futurologismo de Fischer 
terá os futuros que ele desenha, na cronologia que es-
tabelece, na velocidade que preconiza”, comenta vogt. 
“sei, contudo, que a sua visão segue a lógica inexorável 
do processo de globalização da economia mundial e de 
suas consequências culturais”, completa. 
Disponível em: <www.comciencia.br/reportagens/ 
linguagem/ling08.htm> 
(acesso em: 7 out. 2014) 
Texto II 
O estigma das palavras
[…] Certas expressões têm alta frequência de uso 
em algumas épocas e em determinados grupos sociais 
ou profissionais. assim, na década de 1960 qualquer 
coisa muito boa ou que cumprisse muito bem suas 
funções estava “inserida no contexto”. Nos anos 1980, 
explicação que se prezasse tinha de ser iniciada por 
“veja bem”. Certos modismos são odiados justamente 
por serem modismos, o que revelaria falta de perso-
nalidade ou estilo por parte de quem os usa. Muitos 
deles são, aliás, deformações do jargão acadêmico ou 
da linguagem especializada, o que os tornaria ainda 
mais caricatos (por exemplo, “enquanto” e “a nível de” 
no sentido de “como”: “o homem, enquanto ser social”, 
“a nível de espécie animal, o ser humano…”). 
talvez seja esse o caso de “disponibilizar”, “abso-
lutizar” etc. Do ponto de vista morfológico, não há 
nada de errado com essas palavras: se o sufixo “-izar” 
significa “tornar”, então disponibilizar é tornar disponí-
vel, absolutizar é tornar absoluto, e assim por diante. 
o problema é que esses termos surgem em determi-
nados meios (empresarial, publicitário, econômico) e 
se tornam emblemáticos dessas atividades. tornadas 
assim palavras-emblema, elas passam a carregar o 
estigma das profissões que as ostentam como senha. 
se desacredito dos economistas e de suas mirabolantes 
previsões, o jargão econômico se transforma em “eco-
nomês”, língua de empulhação, destinada a ludibriar a 
opinião pública. e, portanto, seus termos passam a ser 
emblemas dessa empulhação. 
Há também a falsa erudição. sendo termos nascidos 
em algum jargão técnico, “disponibilizar”, “relativizar” 
etc. conferem a quem os pronuncia um status de pes-
soa letrada, de nível superior. o abuso dessas formas 
como índice de cultura é o que gera a caricatura. 
infelizmente, no próprio discurso letrado, o vazio 
de ideias acaba preenchido por uma pletora de 
vocábulos-emblema. em textos acadêmicos, é comum 
lermos que “este artigo procura lançar um olhar so-
bre”, “é preciso tornar o aluno sujeito de seu próprio 
processo de ensino-aprendizagem” etc. etc. o costume 
de lançar olhares em vez de simplesmente analisar, 
examinar, estudar, bem como o emprego de palavras 
e construções que revelem algo da ideologia do autor 
(por exemplo, termos como “inclusão”, “resgate da 
cidadania”, “dívida histórica”, “situação de risco so-
cial”, “ação afirmativa” fazem parte de certas agendas 
político-partidárias), nos predispõe imediatamente 
contra ou a favor da argumentação subsequente, pois, 
de cara, percebemos tratar-se de um texto desta ou 
daquela linha ideológica. 
o mesmoraciocínio vale para as investidas eugenis-
tas contra certos vocábulos, como “homossexualismo”, 
ao qual os puristas querem contrapor “homossexualida-
de”, alegando o caráter mais neutro do sufixo “-dade” 
(sobre esse tema, meu colega Mário eduardo viaro 
discorreu brilhantemente na edição de maio de Lín-
gua). ora, não existem termos neutros na linguagem, 
tudo tem conotações, a própria busca da neutralidade 
emblematiza (gostaram?) uma postura ideológica, a do 
igualitarismo radical. 
POLI_HERMES1_GRA.indb 13 23/01/17 10:23
gramática aula 1
14 polisaber
32
5-
1
se fôssemos usar esse critério em todos os casos, 
a astrologia deveria chamar-se “astromancia”, pois 
“-logia” é elemento que denota ciência, e a astrologia é 
uma adivinhação (“-mancia”) baseada nos astros. pelo 
mesmo motivo, a neurociência deveria ser “neurologia”, 
e a especialidade médica que hoje conhecemos por 
neurologia deveria ser “neuriatria”. a própria tecnologia 
não é a ciência que estuda a técnica, mas o conjunto de 
técnicas fundadas no conhecimento científico. portanto, 
deveria ser chamada de “logotecnia” ou “logotécnica”. 
os exemplos poderiam estender-se ao infinito. 
o fato é que a língua se pauta menos pela lógica do 
que pelo uso. se alguém propõe um novo termo, por 
menos razoável que seja (e o que há de razoável em 
chamar radar de trânsito de pardal?), e ele “pega”, não 
há o que fazer. Criticá-lo, combatê-lo, incitar as pessoas 
a boicotá-lo, nada disso dá resultado e só revela o lado 
rancoroso de alguns falantes, que se comprazem em 
estigmatizar (!) a fala alheia. 
Língua Portuguesa. 
são paulo: segmento, jul. 2013. 
Texto III 
o tema da linguagem é central no pensamento de 
Michel Foucault. No livro As palavras e as coisas, o 
filósofo francês enfatiza a relação entre o sujeito e a 
linguagem. por meio da leitura, podemos “compreender 
não somente o sujeito como produto da modernidade, 
mas também problematizar o estatuto das ciências 
humanas, ou ciências do homem, já que estas, segun-
do o autor, são instauradas por meio da linguagem e, 
consequentemente, por meio da relação entre esta e 
o sujeito”.3
Ver e ouVir
“Língua”. Velô, 1984. 
Ouça a canção “Língua”, de autoria de Caetano Veloso, 
o primeiro rap brasileiro. Observe que ela pode suscitar 
várias discussões a respeito das diferenças entre o por-
tuguês de Portugal e o do Brasil. 
Disponível em: <www. youtube.com/ 
watch?v=tX7cqbrelUY> (acesso em: 17 nov. 2014) 
3. PEREIRA, Everton Almeida. Sujeito e linguagem em As palavras e as coisas, de 
Michel Foucault. Estudos semióticos. São Paulo, FFLCH-USP, v. 7, n. 2, p. 94-101, 
nov. 2011. Disponível em: <www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es/eSSe72/2011esse72_ 
eapereira.pdf> (acesso em: 20 nov. 2014)
Língua – vidas em português 
Direção: Victor Lopes. Brasil/Portugal, 2004. 
Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=sTV gNi-
8FFFM> (acesso em: 20 nov. 2014) 
Em particular, assista ao depoimento de José Saramago: 
www.youtube.com/v/Oe9sxV_DVGg%26feature= related
pesquisar e ler
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, 
como se faz. 49. ed. são paulo: loyola, 2001.
re
pr
o
D
U
Ç
Ã
o
re
pr
o
D
U
Ç
Ã
o
POLI_HERMES1_GRA.indb 14 23/01/17 10:23
 polisaber 15
aula 1 gramática
32
5-
1
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela 
sociolinguística. são paulo: Contexto, 1997.
Nossa tradição educacional sempre negou a exis-
tência de uma pluralidade de normas linguísticas 
dentro do universo da língua portuguesa; a própria 
escola não reconhece que a norma-padrão culta é 
apenas uma das muitas variedades possíveis no uso 
do português e rejeita de forma intolerante qualquer 
manifestação linguística diferente, tratando muitas 
vezes os alunos como “deficientes linguísticos”. 
Marcos bagno argumenta que falar diferente não é 
falar errado e o que pode parecer erro no português 
re
pr
o
D
U
Ç
Ã
o não padrão tem uma explicação lógica, científica 
(linguística, histórica, sociológica, psicológica). para 
explicar essa problemática, o autor reúne então n’A 
língua de Eulália as universitárias vera, sílvia e a es-
perta emília, que vão passar as férias na chácara da 
professora irene. sempre muito dedicada, irene se 
reúne todos os dias com as três professoras do curso 
primário, transformando suas férias numa espécie de 
atualização pedagógica, em que as “alunas” reciclam 
seus conhecimentos linguísticos. Mais do que isso, 
irene acaba criando um apoio para que as “meninas” 
passem a encarar de uma nova maneira as variedades 
não padrão da língua portuguesa. a novela flui em diá-
logos deliciosamente informativos. A língua de Eulália 
trata a sociolinguística como ela deve ser tratada: com 
seriedade, mas sem sisudez. 
Disponível em: <editoracontexto.com.br/ lingua-de-
eulalia-a.html> (acesso em: 20 nov. 2014)
NaVegar
Preconceito linguístico 
www.youtube.com/watch?v=1c-ZVnhfZ60 
Assista à entrevista com o linguista Marcos Bagno, autor 
do livro A língua de Eulália: novela sociolinguística.
s e N h a
<http://sobreasletras.blogspot.com.br/2011/05/ambiguidade.html>
POLI_HERMES1_GRA.indb 15 23/01/17 10:23
gramática aula 2
16 polisaber
32
5-
1
questões de semântica
A legenda “A queda de Fidel” e as fotografias publicadas 
na primeira página do jornal Folha de S.Paulo, de 22 de 
outubro de 2004, foram tema da questão da prova da 
Unicamp de 2005.
A queda de Fidel o ditador cubano, Fidel 
Castro, 78, se desequilibra e cai após discursar em 
praça de santa Clara (Cuba), em evento transmiti-
do pela tv; ele fraturou um joelho e sofreu fissura 
de um braço. 
As fotos estão disponíveis no site <www1.folha.uol. 
com.br/folha/mundo/ult94u77651.shtml> (acesso em: 
4 fev. 2015). 
(Unicamp) Na primeira página da Folha de 
S.Paulo, de 22 de outubro de 2004, encontramos 
uma sequência de fotos acompanhada de uma 
legenda cujo título é: “A queda de Fidel”. No tex-
to da legenda, o jornal explica: “O ditador cuba-
no, Fidel Castro, 78, se desequilibra e cai após 
discursar em praça de Santa Clara (Cuba), em 
evento transmitido ao vivo pela TV”. Logo depois, 
ele disse achar que havia quebrado o joelho e 
talvez um braço, mas que estava “inteiro”; mais 
tarde, o governo divulgou que Fidel fraturou o 
joelho esquerdo e teve fissura do braço direito. 
a) O que a leitura desse título provoca? Por quê?
respostas esperadas pela banca examinadora: 
a leitura do título da legenda provoca no leitor uma reação ao jogo de sentidos entre 
“destituição” e “queda física”. a palavra “queda”, muito usada para indicar uma destituição 
política, remete-nos, nessa legenda, à possibilidade da destituição de Fidel Castro, desde 
que o leitor conheça a situação do governo cubano. ao mesmo tempo, “queda” estabelece 
relação com as fotos, que mostram Fidel se desequilibrando e caindo.
as palavras passam por reviravoltas de sentido, mudam 
de personalidade, denunciam o que as pessoas de uma 
época pensam, no que os falantes acreditam.
<portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8021> 
C
la
ir
 D
U
N
N
/a
la
M
Y/
la
ti
N
st
o
C
K
gramática – aula 2
b) Proponha outro título para a legenda. Justifique.
A análise da questão mostra que os sentidos das pala-
vras escolhidas para um texto só podem ser depreendidos 
da contextualização dos fatos, dos processos de leitura 
e escrita e do compartilhamento de um cenário cultural 
entre os interlocutores do texto. Assim, o jogo de sentidos 
explorado no exercício da Unicamp apenas é válido se 
os leitores tiverem conhecimento da revolução cubana 
e da política de Fidel Castro. 
Disso advém a importância de nos determos no estudo 
dos sentidos, que é o que faz a semântica: estuda as 
manifestações linguísticas do significado. 
Essa definição parece simples, mas leva em conta uma 
série de elementos fundamentais para os estudos linguís-
ticos. Por exemplo: o significado respeita um contexto 
(unidades maiores em que se inserem outras menores), 
e este é criado por enunciados que implicam valores 
instauradose compartilhados socialmente. 
De acordo com o linguista Bernard Pottier, a semântica 
preocupa-se com “mecanismos e operações relativos ao 
sentido, por meio do funcionamento das línguas natu-
rais”, procurando “explicitar os elos que existem entre 
os comportamentos discursivos num dado envolvimento, 
constantemente renovado, e as representações mentais 
que parecem ser partilhadas pelos usuários das línguas 
naturais”. Isso traça um “percurso entre o individual e 
Nesta resposta, o candidato pode optar entre manter o jogo de sentidos ou adotar a ideia 
de queda física: “Fidel vai ao chão”, “o tombo de Fidel”, “o desequilibrado governante”, 
“o tropeço de Fidel” etc. Não apenas o sentido de destituição pode ser construído com o 
título, mas também o de erro, gafe etc. era importante, nesse caso, que o candidato apre-
sentasse uma justificativa que sustentasse o título escolhido e não ignorasse a queda física. 
Disponível em: <www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/ 2006/download/comentadas/
portugues.pdf> (acesso em: 30 nov. 2014)
POLI_HERMES1_GRA.indb 16 23/01/17 10:23
 polisaber 17
aula 2 gramática
32
5-
1
o universal, por meio do cultural”, e procura conciliar 
“a extensão e a variedade das manifestações linguísticas 
e a necessidade de uma apresentação relativamente 
simples dos funcionamentos profundos da língua”.1 
Outras definições são apresentadas a seguir para re-
fletirmos mais um pouco sobre as questões envolvidas 
nas significações. 
sinonímia e antonímia
As relações semânticas mais frequentemente explo-
radas entre as palavras são a sinonímia e a antonímia. 
São fenômenos que podem ser analisados, com o devido 
cuidado, com base nas propriedades que os termos têm 
de poderem ser empregados, respectivamente, como 
substitutos no lugar de outros termos, sem alteração de 
sentido, ou empregados uns em oposição a outros. Embo-
ra na sinonímia não haja alteração de sentido, dificilmente 
há o emprego de um termo por outro sem que haja algum 
prejuízo semântico. A sinonímia é, portanto, um fenômeno 
existente, mas relativo, pois não há sinônimos perfeitos. 
Consideremos as seguintes orações: 
•  Elas apareceram nuas na fotografia. 
•  Elas apareceram peladas na fotografia. 
•  Elas apareceram desnudas na fotografia. 
As palavras “nuas”, “peladas” e “desnudas” podem 
ser consideradas sinônimas porque são intercambiáveis 
nessas orações, mas, ao levarmos em conta diferentes 
situações comunicativas e a lógica de uso dos vocábulos, 
veremos que não é bem assim. 
O termo “desnudas” é mais adequado a contextos 
mais formais de comunicação, pois não é comum na fala 
cotidiana. Daí, concluímos que as situações comunicativas e 
o maior ou menor prestígio de um vocábulo em determinada 
realidade interferem nas relações sinonímicas. 
Temos como outro exemplo um texto de humor, que 
brinca com a sinonímia: 
Marcar é sinônimo de agendar? ok. 
o juiz agendou um pênalti inexistente. 
Complexo é sinônimo de difícil? ok. 
ela tem um difícil de inferioridade. 
virar é sinônimo de inverter? ok. 
o chefe inverteu bicho.2 
1. Todas as citações desse texto estão em: POTTIER, Bernard apud HENRIQUES, 
Claudio Cezar. Léxico e semântica. Estudos produtivos sobre palavra e significação. 
São Paulo: Campus, 2011.
2. Idem.
Com base nessa brincadeira, podemos refletir sobre 
a sinonímia como um fenômeno em que os sentidos 
dependem de elementos linguísticos e extralinguísticos. 
Com relação à antonímia, podemos mencionar não só 
aquela que ocorre no âmbito lexical (entrar/sair, bonito/ 
feio, baixo/alto), mas também no âmbito das expressões, 
gerando, muitas vezes, antíteses e paradoxos. Podemos 
ver isso na versão de Chico Buarque e Ruy Guerra na letra 
da canção “Sonho impossível”, de J. Darlon e M. Leigh, dis-
ponível em: <http://letras.mus.br/chico-buarque/86054> 
(acesso em: 4 fev. 2015). 
Você notará que, nessa canção, há oposições de expres-
sões que se estabelecem como paradoxos. A composição 
faz referência ao período de repressão e tortura na ditadura 
militar. A letra original, to reach the unreachable star (tocar a 
estrela inatingível), foi substituída por “tocar o inacessível 
chão”, trocando o componente lírico pelo realista. 
Assim, podemos dizer que o significado de um termo 
e a possibilidade de substituição por sinonímia e anto-
nímia só são possíveis em razão do contexto específico 
de comunicação. 
paráfrase
É a repetição de ideias promovida pelo uso de dife-
rentes vocábulos. Parafrasear uma frase, um parágrafo 
ou um texto é um exercício de trocas morfossintáticas 
que não deve comprometer o sentido do texto original. 
Analise o texto a seguir, de autoria do poeta Gregório 
de Matos. 
Juízo anatômico dos achaques que 
padecia o corpo da república em 
todos os membros, e inteira definição 
Do que em todos os tempos é a bahia. 
Que falta nesta cidade?… verdade. 
Que mais por sua desonra?… Honra. 
Falta mais que se lhe ponha?… vergonha.
o demo a viver se exponha, 
por mais que a fama a exalta, 
Numa cidade onde falta 
verdade, honra, vergonha. 
Quem a pôs neste rocrócio?… Negócio. 
Quem causa tal perdição?… ambição. 
e no meio desta loucura?… Usura. 
POLI_HERMES1_GRA.indb 17 23/01/17 10:23
gramática aula 2
18 polisaber
32
5-
1
Notável desaventura 
De um povo néscio e sandeu, 
Que não sabe que perdeu 
Negócio, ambição, usura. 
Quais são seus doces objetos?… pretos. 
tem outros bens mais maciços?… Mestiços. 
Quais destes lhe são mais gratos?… Mulatos. 
Dou ao Demo os insensatos, 
Dou ao Demo o povo asnal, 
Que estima por cabedal 
pretos, mestiços, mulatos. 
Quem faz os círios mesquinhos?… Meirinhos. 
Quem faz as farinhas tardas?… Guardas. 
Quem as tem nos aposentos?… sargentos. 
os círios lá vem aos centos, 
e a terra fica esfaimando, 
porque os vão atravessando 
Meirinhos, guardas, sargentos. 
e que justiça a resguarda?… bastarda. 
É grátis distribuída?… vendida. 
Que tem, que a todos assusta?… injusta. 
valha-nos Deus, o que custa 
o que el-rei nos dá de graça. 
Que anda a Justiça na praça 
bastarda, vendida, injusta. 
Que vai pela clerezia?… simonia. 
e pelos membros da igreja?… inveja. 
Cuidei que mais se lhe punha?… Unha. 
sazonada caramunha, 
enfim, que na santa sé 
o que mais se pratica é 
simonia, inveja e unha. 
e nos frades há manqueiras?… Freiras. 
em que ocupam os serões?… sermões. 
Não se ocupam em disputas?… putas. 
Com palavras dissolutas 
Me concluo na verdade, 
Que as lidas todas de um frade 
são freiras, sermões e putas. 
o açúcar já acabou?… baixou. 
e o dinheiro se extinguiu?… subiu. 
logo já convalesceu?… Morreu. 
À bahia aconteceu 
o que a um doente acontece: 
Cai na cama, e o mal cresce, 
baixou, subiu, morreu. 
a Câmara não acode?… Não pode. 
pois não tem todo o poder?… Não quer. 
É que o governo a convence?… Não vence. 
Quem haverá que tal pense, 
Que uma câmara tão nobre, 
por ver-se mísera e pobre, 
Não pode, não quer, não vence. 
MAGALHÃES JÚNIOR, R. (Org.). 
Antologia de humorismo e sátira. 
rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1957. p. 5. 
Com base na definição de paráfrase, será que é pos-
sível parafrasear o texto de Gregório de Matos fazendo 
um paralelo com os dias atuais? Está lançado o desafio! 
Nesta capa, há uma paráfrase direta do título de um 
livro de Machado de Assis: 
VIEIRA, Pedro. 
Memórias desmortas de Brás Cubas. 
Disponível em: <http://literaturaescrita.com. 
br/2010/10/14/memórias_desmortas_ 
de_bras_cubas_pedro_vieira> 
(acesso em: 12 fev. 2015)
re
pr
o
D
U
Ç
Ã
o
POLI_HERMES1_GRA.indb 18 23/01/17 10:23
 polisaber 19
aula 2 gramática
32
5-
1
hiperonímia, hiponímia e 
campo semântico
Observe o quadro a seguir: 
Hiperônimo 
(palavra com sentido 
mais amplo) 
Hipônimo 
(palavra com sentido 
mais restrito) 
profissão 
flor 
inseto 
ferramenta 
rio 
fruta 
mamífero 
esporte 
legume 
doença 
médico 
hortênsia 
mosca 
martelo 
Solimões 
abacaxi 
cachorro 
atletismo 
cenoura 
sarampo 
Disponível em: <http://mcbspf.blogspot.com. 
br/2012/02/hiperonimo.html>(acesso em: 29 dez. 2014)
Entende-se por hiperônimo um termo de significado 
mais abrangente em relação a outro, e hipônimo um ter-
mo de significado mais específico em relação a outro. Os 
hiperônimos e hipônimos mostram-se muito produtivos 
na língua, principalmente no âmbito da coesão textual. 
Veja como o tema da hiperonímia e da hiponímia tem 
aparecido nos principais exames vestibulares, analisando 
a seguinte questão da Unicamp. 
(Unicamp)
Rio+20: a ciência, a economia – e a política 
a história da espécie humana é uma trajetória de 150 
mil anos de sucesso movido a conhecimento. Do fogo 
à máquina a vapor, da roda ao trem-bala, do arado aos 
transgênicos, das naus antigas aos foguetes espaciais, 
dos registros cuneiformes aos tablets. Não teríamos 
chegado até aqui sem a ciência. o maior valor da ciência 
é permitir conhecer a verdade. Não a verdade intangível e 
complexa dos filósofos. Mas uma verdade mais modesta, 
mais simples, mais terrena – portanto, mais útil. se lanço 
uma maçã pela janela, ela cai. se esquento a água, ela 
ferve. se risco um fósforo e aproximo do meu dedo, ele 
queima. se lanço gases poluentes na atmosfera ao longo 
de séculos, o clima do planeta muda. 
Deriva do conhecimento da verdade outro valor 
tangível da ciência: ela gera riqueza. 
produzimos mais alimentos com o arado, as máqui-
nas e a revolução agrícola. transportamos mais rápido 
objetos e pessoas graças aos navios, à ferrovia e ao 
avião a jato. vivemos mais e melhor por causa das va-
cinas, dos antibióticos e de todo tipo de técnica médica. 
Fabricamos artefatos e engenhocas antes inimagináveis 
graças às indústrias e a nosso indiscutível domínio 
sobre os recursos naturais terrestres. 
o maior desafio da humanidade ao longo de sua 
história sempre foi usar o conhecimento – e a ciência – 
para crescer, alargar suas fronteiras e transmitir às 
gerações futuras algo além daquilo que recebeu das 
passadas. as civilizações que não tinham conhecimen-
tos ou não souberam usar aquele que tinham foram 
varridas do planeta. sobramos nós. 
a responsabilidade da conferência das Nações Unidas 
sobre desenvolvimento e meio ambiente, a rio+20, é 
garantir que continuemos aqui. os maiores líderes globais 
afirmam que têm missões mais importantes a cumprir neste 
momento – eleições, crise financeira ou o que o valha. pode 
ser. políticos não costumam ser muito afeitos a conceitos 
científicos ou realidades econômicas. Mas talvez eles deves-
sem ouvir o que dizem as crianças. […] até o fim do século, 
provavelmente não estaremos mais aqui. sobrarão elas.
Época. são paulo, 18 jun. 2012. 
Disponível em: <www.exame.cotil.unicamp.br/provas_ 
anteriores/prova_gabarito_2013.pdf> 
(acesso em: 29 dez. 2014) 
Hiperonímia é a relação estabelecida entre uma 
palavra de sentido mais genérico e outra de sen-
tido mais específico. Exemplo: animal está numa 
relação de hiperonímia com leão, gato etc. Com 
base na informação, indique quais são os respec-
tivos hiperônimos de trem-bala, arado e tablet.
a) Meio de transporte, implemento agrícola, ferramenta 
tecnológica. 
b) Meio de transporte, implemento agrícola, computador. 
c) Veículo, agricultura, componente tecnológico. 
d) Meio de transporte, plantio, informática. 
e) Locomoção, implemento agrícola, software. 
Os hiperônimos pedidos estão na alternativa a, pois 
trem-bala é um meio de transporte, arado pode ser consi-
derado um implemento agrícola e tablet é uma ferramenta 
tecnológica. Em um texto, esses elementos poderiam 
substituir uns aos outros, evitando repetições – é o que 
chamamos de coesão referencial. 
Os hiperônimos e os hipônimos são palavras que per-
tencem ao mesmo campo semântico.
POLI_HERMES1_GRA.indb 19 23/01/17 10:23
gramática aula 2
20 polisaber
32
5-
1
polissemia
Leia as charges apresentadas. 
Texto I
LAERTE
Texto II
CABRAL, Ivan.
Disponível em: <www.ivancabral/2011/06/charge-do-dia-rede-social.
html> (acesso em: 13 fev. 2015)
O efeito de humor das tiras apoia-se no duplo sentido do termo “balanço” e da expressão “rede social”. Essa proprie-
dade de mobilizar dois ou mais sentidos é chamada “polissemia”. Podemos dizer que a maior parte do vocabulário é 
polissêmica e que a polissemia é uma propriedade essencial para as línguas funcionarem bem: “A polissemia confere 
às línguas humanas a flexibilidade de que elas precisam para exprimir todos os inúmeros aspectos da realidade”.3 
3. PERINI, Mário. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 2000. p. 252. 
la
er
te
 iv
a
N
 C
a
b
ra
l
POLI_HERMES1_GRA.indb 20 23/01/17 10:23
 polisaber 21
aula 2 gramática
32
5-
1
ambiguidade
Dizemos que um enunciado é ambíguo quando podemos atribuir-lhe mais de um sentido. Essa característica pode ser 
construída deliberadamente ou aparecer sem que seja intenção do enunciador. A ambiguidade acontece com menos 
frequência na língua oral, porque, quando se trata de uma situação real de comunicação, as pessoas que interagem 
estão cientes do contexto. 
A ambiguidade é um recurso expressivo em variados gêneros textuais, sobretudo em textos publicitários e artísticos; 
no entanto, em textos informativos, ela deve ser evitada, pois pode prejudicar a clareza das informações. 
Comumente,os enunciados ambíguos devem-se, normalmente, à falta de contexto, ao uso de termos polissêmicos, à 
má colocação dos termos na sentença, à má pontuação etc. 
Vejamos o exemplo a seguir: 
O juiz de menores julgou as crianças culpadas. 
É possível atribuir à oração os seguintes sentidos:
a) O juiz de menores julgou que as crianças eram culpadas. 
b) O juiz de menores julgou as crianças que eram culpadas. 
Nesse exemplo, nota-se claramente que a ambiguidade deriva de um problema sintático, ou seja, de colocação dos 
termos na sentença. 
homonímia e paronímia 
Homônimos são vocábulos diferentes com mesma grafia e/ou mesma pronúncia. 
Parônimos são vocábulos diferentes que têm grafia e/ou pronúncia parecidas. 
Exemplos:
Homônimos 
palavras com a mesma pronúncia (nem sempre com a mesma 
grafia), mas significados diferentes 
Parônimos 
palavras com grafia ou pronúncia parecidas, 
mas significados diferentes 
Acento: sinal gráfico 
Assento: lugar onde se senta 
Cela: pequeno cômodo 
Sela: objeto sobre o lombo do cavalo em que se monta o cavaleiro 
Cesto: recipiente 
Sexto: referente ao numeral 6 
Conserto: ato de reparar algo 
Concerto: execução de obras musicais 
Coser: costurar 
Cozer: cozinhar 
Cavaleiro: que monta cavalos 
Cavalheiro: educado, gentil 
Comprimento: extensão 
Cumprimento: ato de executar ou saudar 
Emergir: aparecer, vir à tona 
Imergir: desaparecer, mergulhar 
Inflação: alta dos preços 
Infração: ato de desobedecer a algo 
Soar: emitir som 
Suar: transpirar 
Disponível em: <http://cirandacultural.com.br/blog/archives/335> 
(acesso em: 29 dez. 2014)
POLI_HERMES1_GRA.indb 21 23/01/17 10:23
gramática aula 2
22 polisaber
32
5-
1
exercícios
1. (Unicamp)
Nessa propaganda do dicionário Aurélio, a ex-
pressão “bom pra burro” é polissêmica e reme-
te a uma representação de dicionário. 
a) Qual é essa representação? Ela é adequada ou ina-
dequada? Justifique.
b) Explique como o uso da expressão “bom pra burro” 
produz humor nessa propaganda.
a representação do dicionário, popularmente conhecido como “pai dos burros”, estabelece 
relação com a expressão “bom pra burro”, que significa “muito bom”. essa representação 
é inadequada, pois as pessoas que consultam dicionários para conhecer palavras não 
apresentam falhas de inteligência, ao contrário, revelam bom senso e inteligência para 
analisar as diversas interpretações a que a língua está sujeita.
a expressão “pra burro” é ambígua, pois pode ter o sentido de intensidade (“muito”) 
ou ser o complemento nominal de bom, remetendo à expressão “pai dos burros”, 
ou seja, “bom” para quem precisa de dicionário porque desconhece o significado de 
determinadas palavras.
2. (Fuvest) Texto para esta questão. 
e Jerônimo via e escutava,sentindo ir-se-lhe toda a 
alma pelos olhos enamorados. 
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese 
das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era 
a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das 
sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das 
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a 
palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma 
outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era 
o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, 
que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra 
verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, 
que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo 
dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras 
embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as 
artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha 
daquele amor setentrional, uma nota daquela música 
feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem 
de cantáridas que zumbiam em torno da rita baiana e 
espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
AZEVEDO, Aluísio. 
O cortiço. 
Disponível em: <www.dominiopublico.com.br/ 
pesquisa/DetalheobraForm/do?select_action&co_ 
obra=1723> (acesso em: 11 fev. 2015)
O conceito de hiperônimo (vocábulo de sentido 
mais genérico em relação a outro) aplica-se à 
palavra “planta” em relação a “palmeira”, “tre-
vos”, “baunilha” etc., todas presentes no texto. 
Tendo em vista a relação que estabelece com 
outras palavras do texto, constitui também um 
hiperônimo a palavra:
a) “alma”. 
b) “impressões”. 
c) “fazenda”. 
d) “cobra”. 
e) “saudade”. 
3. (Fuvest) Leia o seguinte texto, que faz parte de 
um anúncio de um produto alimentício. 
em respeito a sua natureza, só trabalhamos com o 
melhor da natureza 
o narrador de O cortiço, no início do texto, afirma que 
em rita baiana estava a “síntese das impressões que ele 
recebeu chegando aqui”. Nessa mulher estavam também 
as seguintes sensações mais específicas (hipônimos): 
“a luz ardente do meio-dia”, “o calor vermelho das 
sestas na fazenda”, o “aroma quente dos trevos e das 
baunilhas”, entre outras impressões.
POLI_HERMES1_GRA.indb 22 23/01/17 10:23
 polisaber 23
aula 2 gramática
32
5-
1
selecionamos só o que a natureza tem de melhor 
para levar até a sua casa. porque faz parte da natureza 
dos nossos consumidores querer produtos saborosos, 
nutritivos e, acima de tudo, confiáveis. 
adaptado de: <www.destakjornal.com.br> 
(acesso em: 13 maio 2013) 
Procurando dar maior expressividade ao texto, 
seu autor: 
a) serve- se do procedimento textual da sinonímia. 
b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos. 
c) explora o caráter polissêmico das palavras. 
d) mescla as linguagens científica e jornalística. 
e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentidos 
contrários. 
4. (Fuvest) Examine a tirinha e responda ao que 
se pede.
QUINO.
Mafalda 2. 
são paulo: Martins Fontes, 2002.
a) O sentido do texto se faz com base na polissemia 
de uma palavra. Identifique essa palavra e explique 
por que a indicou.
b) A tirinha visa produzir não só efeito humorístico 
mas também efeito crítico. Você concorda com essa 
afirmação? Justifique sua resposta.
trata-se da palavra “veículo”, que pode significar meio usado para transportar ou conduzir 
pessoas, coisas, animais ou qualquer coisa capaz de transmitir, propagar algo. o efeito 
humorístico deve-se ao fato de Mafalda ter trocado um sentido pelo outro.
sim. o sentido crítico da tirinha provém da associação entre os ruídos emanados do tele-
visor, que sugerem o conteúdo violento e “apelativo” da programação e a ideia de cultura.
estudo orieNtado
Caro(a) aluno(a), 
Nos exercícios a seguir, você encontrará um diverso painel de como as questões de semântica aparecem nos exames. 
Procure resolvê-los com bastante atenção, observando como os sentidos são valiosos nas análises linguísticas. Esse é 
o caminho! Bons estudos!
POLI_HERMES1_GRA.indb 23 23/01/17 10:23
gramática aula 2
24 polisaber
32
5-
1
exercícios
1. (Enem) 
Lépida e leve 
língua do meu amor velosa e doce, 
que me convences de que sou frase, 
que me contornas, que me vestes quase, 
como se o corpo meu de ti vindo me fosse. 
língua que me cativas, que me enleias 
os surtos de ave estranha, 
em linhas longas de invisíveis teias, 
de que és, há tanto, habilidosa aranha… 
[…] 
amo-te as sugestões gloriosas e funestas, 
amo-te como todas as mulheres 
te amam, ó língua-lama, ó lingua-resplendor, 
pela carne de som que à ideia emprestas 
e pelas frases mudas que proferes 
nos silêncios de amor!… 
MACHADO, G. In: MORICONI, I. (Org.). 
Os cem melhores poemas brasileiros do século. 
rio de Janeiro: objetiva, 2001. (fragmento) 
A poesia de Gilka Machado identifica-se com as 
concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o 
texto selecionado incorpora referências temáti-
cas e formais modernistas, já que, nele, a poeta:
a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e 
abandona o cuidado formal. 
b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e ques-
tiona o poder da palavra. 
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa 
a construção do verso livre. 
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amo-
rosa e propõe a simplificação verbal. 
e) explora a construção da essência feminina a partir 
da polissemia da língua e inova o léxico.
2. (UFMG) Analise este slogan de uma empresa 
gráfica:
o nosso produto é uma boa impressão 
Explique de que modo se explora a polissemia 
nesse slogan.
3. (Unicamp) Na sua coluna diária do jornal Folha 
de S.Paulo, de 17 de agosto de 2005, José Simão 
escreve: “No Brasil nem a esquerda é direita!”. 
a) Nessa afirmação, a polissemia da língua produz 
ironia. Em que palavras está ancorada essa ironia? 
b) Quais os sentidos de cada uma das palavras envol-
vidas na polissemia referida? 
c) Comparando a afirmação “No Brasil nem a esquerda 
é direita” com “No Brasil a esquerda não é direita”, 
qual é a diferença de sentido estabelecida pela subs-
tituição de nem por não? 
a palavra “impressão” tem dois sentidos: um relativo à qualidade do trabalho (no caso, 
a impressão gráfica) da empresa, e outro relativo à imagem positiva que o material 
transmitirá ao cliente.
a ironia está nas palavras “esquerda” e “direita” como designativas de posições políticas.
esquerda: “tendência política ligada a reivindicações populares, trabalhistas, socialistas 
ou comunistas”. Direita: “tendência política conservadora ou reacionária em relação às 
reformas sociais”, e, como adjetivo, “correta, honesta”. a polissemia criada pelo autor 
ironiza os partidos de esquerda que não agem com honestidade.
No contexto, nem significa inclusive não, também não, ou seja, insinua que todos 
são desonestos, até mesmo a esquerda. Já o sentido de não é apenas de negação, e 
subentende-se que a esquerda não é honesta.
1. No poema “lépida e leve”, o eu lírico estabelece aproximações sugestivas entre o exercício erótico e o fazer poético. assim, o elemento-imagem “língua” é explorado polissemicamente 
no sentido de fonte de prazer e ideia, expressando o total envolvimento do criador com a obra criada (“língua que me cativas, que me enleias / os surtos de ave estranha, / em linhas longas 
de invisíveis teias, / de que és, há tanto, habilidosa aranha…”). o eu lírico feminino projeta-se como “frase” e une-se ao discurso de todas as mulheres (“amo-te como todas as mulheres”), 
exprimindo o direito de desfrutar inteiramente do prazer.
POLI_HERMES1_GRA.indb 24 23/01/17 10:23
 polisaber 25
aula 2 gramática
32
5-
1
4. (UFG) 
leÃo – Um acontecimento inesperado pode fazer 
você descobrir as verdadeiras intenções de uma pessoa 
em quem confia muito. Não se espante com a sensa-
ção de que, a qualquer momento, coisas que você não 
conhece podem mudar muito a sua vida. 
O Popular. Goiânia, 13 set. 2004, p. 6. Magazine. 
leÃo – Não deixe que a possessividade no amor 
a atrapalhe. algum acontecimento pode fazer você 
querer acelerar as mudanças que já estão

Outros materiais