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Concurso de Pessoas

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Maria Fernanda Portela 
Disciplina: Direito Penal 
 
Concurso de Pessoas 
 É a prática de um crime por dois ou mais agentes 
 Unicidade no tocante ao Delito e a pluralidade de agentes. 
TÍTULO IV 
DO CONCURSO DE PESSOAS 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, 
na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a 
um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a 
pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o 
resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Circunstâncias incomunicáveis 
Requisitos 
a) Pluralidade de agentes e de condutas; 
b) Relevância causal de cada conduta; Se a conduta levada a efeito por um dos agentes não 
possuir relevância para o cometimento da infração penal, devemos desconsiderá-la e 
concluir que o agente não concorreu para a sua prática. 
c) Liame subjetivo entre os agentes; 
Vínculo psicológico que une os agentes para a prática da mesma infração penal. Se não se 
conseguir vislumbrar o liame subjetivo entre os agentes, cada qual responderá, isoladamente, 
por sua conduta. No caso clássico em que A e B atiram contra C, sendo que um deles acerta 
mortalmente o alvo e o outro erra, não se sabendo qual deles conseguiu alcançar o resultado 
morte, dependendo da conclusão que se chegue com relação ao vínculo psicológico entre os 
agentes, as imputações serão completamente diferentes. Se dissermos que A e B agiram unidos 
pelo liame subjetivo, não importará saber, a fim de condená-los pelo crime de homicídio, qual 
deles, efetivamente, conseguiu acertar a vítima, causando-lhe a morte. Aqui, o liame subjetivo 
fará com que ambos respondam pelo homicídio consumado. 
Agora, se chegarmos à conclusão de que os agentes não atuaram unidos pelo vínculo subjetivo, 
cada qual deverá responder pela sua conduta. No caso em exame, não sabemos quem foi o 
autor do resultado morte. A dúvida, portanto, deverá beneficiar os agentes, uma vez que um 
deles não conseguiu alcançar esse resultado, praticando, assim, uma tentativa de homicídio. 
Dessa forma, ambos deverão responder pelo crime de homicídio tentado. 
d) Identidade de infração penal. 
Isso quer dizer que os agentes, unidos pelo liame subjetivo, devem querer praticar a mesma 
infração penal. Seus esforços devem convergir ao cometimento de determinada e escolhida 
infração penal. 
Maria Fernanda Portela 
Disciplina: Direito Penal 
 
Em síntese, somente quando duas ou mais pessoas, unidas pelo liame subjetivo, levarem a efeito 
condutas relevantes dirigidas ao cometimento de uma mesma infração penal é que poderemos 
falar em concurso de pessoas. 
Teorias 
Com a finalidade de distinguir e apontar a infração penal cometida por cada um dos seus 
participantes (autores e partícipes), surgiram três teorias que merecem destaque: 
a) Teoria pluralista; 
Para a teoria pluralista, haveria tantas infrações penais quanto fosse o número de autores e 
partícipes. Na precisa lição de Cezar Bitencourt, “a cada participante corresponde uma conduta 
própria, um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. À pluralidade 
de agentes corresponde a pluralidade de crimes. Existem tantos crimes quantos forem os 
participantes do fato delituoso.” Seria como se cada autor ou partícipe tivesse praticado a sua 
própria infração penal, independentemente da sua colaboração para com os demais agentes. 
Assim, se alguém tivesse induzido duas outras pessoas a praticar um delito de furto, teríamos 
três infrações penais distintas. Uma para cada um dos agentes. Ou seja, uma para o partícipe e 
uma para cada um dos coautores, isto é, para aqueles que realizaram a subtração da coisa 
alheia móvel. 
b) Teoria dualista; 
Distingue o crime praticado pelos autores daquele cometido pelos partícipes. Para essa teoria, 
haveria uma infração penal para os autores e outra para os partícipes. Manzini, defensor da 
mencionada teoria, argumentava que “se a participação pode ser principal e acessória, 
primária e secundária, deverá haver um crime único para os autores e outro crime único para os 
chamados cúmplices stricto sensu. A consciência e vontade de concorrer num delito próprio 
confere unidade ao crime praticado pelos autores; e a de participar no delito de outrem atribui 
essa unidade ao praticado pelos cúmplices.” 
Tomando emprestado o exemplo acima, teríamos uma infração para aquele que induziu os 
agentes à prática do crime de furto e outra para os coautores, isto é, para aqueles que 
subtraíram a coisa alheia 
c) Teoria monista. 
Também conhecida como unitária, adotada pelo nosso Código Penal, aduz que todos aqueles 
que concorrem para o crime incidem nas penas a este cominadas, na medida de sua 
culpabilidade. Para a teoria monista existe um crime único, atribuído a todos aqueles que para 
ele concorreram, autores ou partícipes. 
Embora o crime seja praticado por diversas pessoas, permanece único e indivisível. No escólio 
de Esther de Figueiredo Ferraz, “o delito cometido graças ao concurso de várias pessoas não se 
fraciona em uma série de crimes distintos. Ao contrário, conserva-se íntegro, indiviso, mantendo 
sua unidade jurídica à custa da convergência objetiva e subjetiva das ações dos múltiplos 
participantes.” Ainda nos valendo do exemplo acima, haveria um único crime de furto, atribuído 
ao partícipe e aos coautores. 
Obs.: Embora o Código Penal tenha adotado como regra a teoria monista ou unitária, na 
verdade, como bem salientou Cezar Bitencourt, “os parágrafos do art. 29 aproximaram a 
teoria monística da teoria dualística ao determinar a punibilidade diferenciada da 
participação”, razão pela qual Luiz Regis Prado aduz que o Código Penal adotou a teoria 
monista de forma “matizada ou temperada.” 
Maria Fernanda Portela 
Disciplina: Direito Penal 
 
Além das mencionadas por Cezar Bitencourt, existem outras exceções à regra da teoria monista 
localizadas na parte especial do Código Penal, a exemplo do crime de aborto, em que a 
gestante pratica o delito do art. 124, e aquele que nela o realiza, com o seu consentimento, 
comete o delito do art. 126. 
Autoria 
 Conceito Restritivo de Autor 
Autor seria somente aquele que praticasse conduta descrita no núcleo do tipo penal. Todos os 
demais que, de alguma forma, o auxiliassem, mas que não viessem a realizar a conduta 
narrada pelo verbo do tipo penal seriam considerados partícipes. 
 Conceito Extensivo de Autor 
Todos aqueles que, de alguma forma, colaboram para a prática do fato, são considerados 
autores. 
 Teoria do Domínio de Fato 
A teoria do domínio do fato é considerada objetivo-subjetiva. Aquele que realiza a conduta 
descrita no núcleo do tipo penal tem o poder de decidir se irá até o fim com o plano criminoso, 
ou, em virtude de seu domínio sobre o fato, isto é, em razão de ser o senhor de sua conduta, 
pode deixar de lado a empreitada criminosa. Para aqueles que adotam um conceito restritivo 
de autor, não haveria dúvida em reconhecer como autor aquele que viesse a executar a 
conduta descrita no tipo. 
Pode acontecer, contudo, que o agente, em vez de ser o autor executor, seja o “homem 
inteligente do grupo”, e a sua função esteja limitada a elucubrar o plano criminoso. A estratégia 
a ser assumida pelo grupo, a fim de praticar a infração penal, será de sua responsabilidade. 
“O domínio do fato é um conceito regulativo (Roxin-Henckel); não é um conceito onde é possível 
dar uma fórmula fechada, senão que depende das circunstâncias totais do fato mesmo. Somente 
na presença de todas as circunstâncias se pode estabelecer quem ‘dominou o fato’, quem é o 
que ‘tem as rédeas dos fatos nasmãos’; ou bem quem é o que pode decidir que o fato chegará 
à consumação, o qual geralmente é correlativo de quem pode decidir se o fato continua ou se 
desiste dele; o que possui o manejo dos fatos e o leva a sua realização, é autor; o que 
simplesmente colabora, sem ter poderes decisórios a respeito da consumação do fato, é 
partícipe.” 
 
Coautoria 
A Teoria do domínio do fato fica mais evidente quando diversas pessoas, unidas pelo vínculo 
subjetivo, resolvem praticar uma mesma infração penal. Aqui, mais do que nunca, será de 
extrema importância saber quais são os autores e os partícipes. 
Na lapidar lição de Welzel: 
“A coautoria é autoria; sua particularidade consiste em que o domínio do fato unitário é comum 
a várias pessoas. Coautor é quem possuindo as qualidades pessoais de autor é portador da 
decisão comum a respeito do fato e em virtude disso toma parte na execução do delito.” 
Se autor é aquele que possui o domínio do fato, é o senhor de suas decisões, coautores serão 
aqueles que têm o domínio funcional dos fatos, ou seja, dentro do conceito de divisão de 
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tarefas, serão coautores todos os que tiverem uma participação importante e necessária ao 
cometimento da infração, não se exigindo que todos sejam executores, isto é, que todos 
pratiquem a conduta descrita no núcleo do tipo. Em última palavra, podemos falar em coautoria 
quando houver a reunião de vários autores, cada qual com o domínio das funções que lhe foram 
atribuídas para a consecução final do fato, de acordo com o critério de divisão de tarefas. 
Portanto, coautor é aquele que detém o domínio do fato e que, em conformidade com um 
planejamento delitivo, presta contribuição independente, essencial à pratica da infração penal. 
Entretanto, não atua obrigatoriamente em sua execução. Na coautoria, o domínio de fato é de 
várias pessoas, com respectivas divisões de funções. 
 Autoria Direta e Indireta 
Autor pode ser aquele que executa diretamente a conduta descrita pelo núcleo do tipo penal, 
ocasião em que será reconhecido como autor direto ou autor executor; ou poderá ser, também, 
aquele que se vale de outra pessoa, que lhe serve, na verdade, como instrumento para a 
prática da infração penal, sendo, portanto, chamado de autor indireto ou mediato. Nosso 
Código Penal prevê expressamente quatro casos de autoria mediata, a saber: 
a) erro determinado por terceiro (art. 20, § 2º, do CP); 
b) coação moral irresistível (art. 22, primeira parte, do CP); 
c) obediência hierárquica (art. 22, segunda parte, do CP); e 
d) caso de instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal (art. 62, III, 
segunda parte, do CP). 
Além dessas hipóteses, pode ocorrer, ainda, a autoria mediata quando o autor se vale de 
interposta pessoa que não pratica qualquer comportamento – doloso ou culposo – em virtude da 
presença de uma causa de exclusão da ação, como ocorre nas situações de força irresistível do 
 
Crime próprio é aquele que só pode ser praticado por um grupo determinado de pessoas que 
gozem de condição especial exigida pelo tipo penal. Assim, inicialmente, somente poderá ser 
responsabilizado pelo peculato (art. 312 do CP) o funcionário público, porque tal qualidade é 
exigida expressamente pelo tipo. Para a sua caracterização é preciso que o sujeito ativo, 
expresso no tipo penal, pratique a conduta pessoalmente. Em razão desse fato é que tais 
infrações penais são conhecidas como de mão própria ou de atuação pessoal, visto possuírem 
essa natureza personalíssima. Há, portanto, distinção entre crime próprio e crime de mão 
própria. 
Isso porque, por serem crimes de atuação pessoal, autor será somente aquele que vier a 
praticar a conduta prevista no núcleo do tipo penal. Não se cogita de autoria mediata porque 
a execução dos crimes de mão própria não pode ser transferida a ninguém. Não se pode, por 
exemplo, pedir a alguém que preste um testemunho falso no seu lugar. (Pode haver raras 
exceções.) 
Agora, será possível a coautoria em delitos de mão própria? Da mesma forma que, como regra, 
não se admite em infrações penais dessa natureza a autoria mediata, também deverá ser 
afastada a possibilidade de coautoria. Isso porque, por se tratar de infrações personalíssimas, 
não há a possibilidade de divisão de tarefas. O delito, portanto, só pode ser realizado 
pessoalmente pelo agente previsto no tipo penal. 
Embora não se possa falar em coautoria em delitos de mão própria, nada impede que haja 
concurso de partícipes. Os partícipes, mesmo não possuindo o domínio sobre o fato, podem, de 
alguma forma, concorrer para a infração penal, induzindo, instigando ou auxiliando 
materialmente o autor. 
Maria Fernanda Portela 
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 Autoria Colateral 
Fala-se em autoria colateral quando dois agentes, embora convergindo as suas condutas para a 
prática de determinado fato criminoso, não atuam unidos pelo liame subjetivo. Vimos, 
anteriormente, que um dos elementos essenciais à caracterização do concurso de pessoas é, 
justamente, o vínculo psicológico entre os agentes. Se não atuam atrelados por esse vínculo 
subjetivo, não se pode falar em concurso de pessoas, em qualquer das suas duas modalidades, 
vale dizer, coautoria ou participação. 
No exemplo clássico, suponhamos que A e B queiram a morte de C. Por mera coincidência, os 
dois se colocam de emboscada, aguardando a vítima passar. Quando avistam a presença de C 
os dois atiram, no mesmo instante, sem que um soubesse da presença do outro naquele local. 
Participação 
Partícipes são aqueles que por meio de conduta acessória concorrem para o crime, ou seja, 
entende-se por partícipe não aquele que pratica o verbo previsto no tipo penal, mas quem 
pratica uma atividade que contribui para a realização do delito. 
A participação pode se dar através da instigação, induzimento, organização e chefia, auxilio 
material e moral etc. A doutrina, entretanto, considera duas espécies mais relevantes: 
a) Instigação: Instigar significa animar, estimular, reforçar uma idéia existente. Ocorre a 
participação quando o partícipe atua sobre a vontade do autor, ou seja, ele influencia no 
processo da formação da vontade, provocando a resolução criminosa do autor, não tomando 
parte nem na execução nem no domínio do fato. Pode ser exercida por meio de mandato, 
persuasão, conselho, comando etc. Segundo Julio Fabbrini Mirabete “a instigação deve dirigirse 
à prática do crime determinado, não constituindo participação a incitação genérica para a 
prática de infrações penais. “ 
b) Cumplicidade: É a participação material onde o partícipe exterioriza a sua contribuição 
através de um comportamento, como o empréstimo de arma de fogo, revelação do segredo de 
um cofre, empréstimo de veículo com o intuito de deslocar-se mais facilmente etc. 
Existe também a cumplicidade por omissão nos casos em que o sujeito tem o dever jurídico de 
evitar o resultado mas não o faz, como no caso do vigilante que deixa a porta aberta 
propositalmente para facilitar a ação do autor do furto, ou a do empregado que não tranca o 
cofre para facilitar que o autor o roube. 
 ESPÉCIES DE ACESSORIEDADE 
Existem quatro classes de acessoriedade: 
a) Acessoriedade mínima: para essa teoria é suficiente que a ação principal seja típica, sendo 
indiferente ser ilícito ou não. Como exemplo, aquele que induzir o autor a agir em legítima 
defesa responderá pelo crime, enquanto o executor, autor direto, será absolvido pela 
excludente de ilicitude. 
b) Acessoriedade limitada: será considerado partícipe aquele que tiver participado de uma 
conduta típica e antijurídica, mesmo que o autor não seja culpável. Isso quer dizer que a 
participação é acessória da ação principal, de um lado, mas que também depende desta até 
certo ponto. Esta é a teoria adotada pela nossa Legislação. 
c) Acessoriedade extrema: o partícipe somenteé responsabilizado se o fato principal é típico, 
antijurídico e culpável. Por essa teoria, caso o executor seja inimputável ou tenha agido por erro 
de proibição escusável, não haveria participação uma vez que a conduta principal não é 
culpável. 
Maria Fernanda Portela 
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d) Hiperacessoriedade: será considerado partícipe aquele que participou de uma conduta 
típica, antijurídica e culpável e, concorrerá inclusive as causas agravantes e atenuantes de 
caráter pessoal relativas ao autor principal. 
Punibilidade 
Art. 29/CP 
“Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, diz o caput do art. 29 do Código Penal, 
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.” 
-Não há distinção entre coautor e partícipe (Teoria Unitária) 
- Juíz afere o grau de concorrência para atender os princípios de individualizar da pena e 
proporcionalidade penal. (Justiça Penal) 
A expressão na medida de sua culpabilidade 69 foi introduzida pela reforma da parte geral 
do Código Penal. Culpabilidade significa juízo de censura, de reprovabilidade, que recai sobre 
a conduta do agente. Embora duas pessoas, agindo em concurso, resolvam praticar 
determinada infração penal, pode-se concluir, dependendo da hipótese, que a conduta de uma 
delas é mais censurável do que a da outra, razão pela qual deverá ser punida mais 
severamente. 
Art. 30 / CP 
“Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando 
elementares do crime’’ 
A regra, como se percebe pela redação do artigo, é a da incomunicabilidade, entre os 
coparticipantes (coautores e partícipes), das circunstâncias, bem como das condições de caráter 
pessoal, sendo excepcionada quando se tratar de elementares do crime. 
Circunstâncias são dados periféricos, acessórios, que gravitam ao redor da figura típica, 
somente interferindo na graduação da pena. A existência ou não de uma circunstância em nada 
interfere na definição da figura típica, tendo a sua importância limitada ao aumento ou 
diminuição da pena de uma determinada infração penal. Ao contrário, as elementares são 
dados essenciais à figura típica, sem os quais ou ocorre uma atipicidade absoluta, ou uma 
atipicidade relativa. 
Com a atipicidade absoluta, o fato praticado pelo agente torna-se um indiferente penal; já os 
casos de atipicidade relativa nos conduzem à chamada desclassificação. Como se percebe, é da 
maior importância concluir-se por uma (circunstância) ou por outra(elementar), uma vez que as 
consequências práticas dessa conclusão nos conduzirão a respostas completamente diversas 
quando da aferição de um determinado caso concreto. 
Comecemos nosso raciocínio com o seguinte exemplo: A e B praticam um crime de roubo contra a 
vítima C, irmã do primeiro agente. No caso em tela, somente a pena de A será aumentada em 
virtude da circunstância agravante prevista no art. 61, II, e, terceira figura, ou seja, ter cometido 
o crime contra sua irmã. Tal agravante, por gravitar ao redor da infração penal, em nada 
influencia na sua definição típica, pois, ainda que praticada a subtração violenta contra 
qualquer outra pessoa que não a sua irmã, seria classificada como delito de roubo. 
Considerada como uma circunstância de caráter pessoal, não se comunica, portanto, com o outro 
agente. 
Suponhamos, agora, que A, funcionário público, e B, pessoa estranha à Administração Pública, 
resolvam subtrair um computador na repartição na qual A exerce suas funções. B tem 
conhecimento de que A é funcionário público. A, num domingo, valendo-se da facilidade que o 
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seu cargo lhe proporciona, identifica-se na recepção e diz ao porteiro que havia esquecido sua 
carteira de identidade, e que ali voltara para buscá-la, uma vez que dela necessitava fazer 
uso, tendo, assim, o seu acesso liberado naquele prédio público. Rapidamente, dirige-se para o 
local onde o computador se encontrava guardado e, abrindo uma janela que dava acesso para 
a rua, o entrega a B, que o aguardava do lado de fora do mencionado prédio. A despede-se 
do porteiro e vai ao encontro de B, para que, juntos, transportassem o bem subtraído. A conduta 
de A subsumese ao § 1º do art. 312 do Código Penal, que, cuidando do 
delito de peculato-furto, aduz que aplicase a mesma pena, se o funcionário público, embora 
não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em 
proveito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de 
funcionário. A será responsabilizado, portanto, pelo delito de peculato-furto; e B, que com ele 
concorreu para o cometimento da subtração? Para que se responda corretamente à indagação, 
é preciso saber se a condição de funcionário público, que fez com que A respondesse pelo 
delito de peculato-furto, é considerada uma circunstância ou uma elementar do crime. Para 
tanto, teremos de perquirir o seguinte: a qualidade de funcionário público, no caso em tela, é 
um dado que gravita ao redor da figura típica, em nada repercutindo sobre ela, ou é um dado 
a ela essencial, sem o qual poderá haver, no exemplo apontado, uma desclassificação? Se 
retirarmos a qualidade de funcionário público de A, bem como a facilidade que essa qualidade 
lhe proporcionou para o sucesso da empreitada criminosa, haveria, aqui, uma desclassificação 
para o delito de furto, razão pela qual concluiremos que a qualidade de funcionário é uma 
elementar do tipo do § 1º do art. 312 do Código Penal, e não somente uma circunstância. 
Sendo uma elementar, de acordo com a parte final do art. 30 do Código Penal, será estendida 
ao coparticipante que, dela tendo conhecimento, responderá, mesmo sendo um extraneus 
(pessoa estranha à Administração Pública), pelo mesmo crime cometido pelo intraneus 
(funcionário público). Dessa forma, ambos serão penalmente responsabilizados pelo delito de 
peculato-furto, mesmo não sendo B funcionário público. 
Nesse sentido, decidiu o STJ, tendo como relator o Ministro Cernicchiaro: 
“O peculato é crime próprio, no tocante ao sujeito ativo; indispensável a qualificação – 
Funcionário público. Admissível, contudo, o concurso de pessoas, inclusive quanto ao 
estranho ao serviço público. Não se comunicam as circunstâncias e condições de caráter pessoal, 
salvo quando elementares do crime.” 
Merece ser destacada, contudo, a diferença existente entre as circunstâncias de natureza 
objetiva e aquelas de natureza subjetiva. 
Objetivas, materiais ou reais são as circunstâncias que, na lição de Alberto Silva Franco, “se 
relacionam com o fato delituoso em sua materialidade (modos de execução, uso de 
determinados instrumentos, tempo, ocasião, lugar, qualidades da vítima etc.).” Tais circunstâncias 
se comunicam se ingressarem na esfera de conhecimento dos coparticipantes. 
Subjetivas ou pessoais são aquelas que dizem respeito à pessoa do agente, não tendo qualquer 
relação, como diz Damásio de Jesus, “com a materialidade do delito, como os motivos 
determinantes, suas condições ou qualidades pessoais e relações com a vítima ou com outros 
concorrentes.” 
As circunstâncias de natureza subjetiva não se comunicam aos coparticipantes, a não ser que se 
transformem em elemento do tipo penal, ou seja, de simples dado periférico, passe a ser um 
dado essencial à figura típica. Deverá, ainda, para que seja estendida, ingressar na esfera de 
conhecimento dos coparticipantes. 
 
 
Maria Fernanda Portela 
Disciplina: Direito Penal 
 
Referências: 
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 19ª edição. Rio de Janeiro: Impetus, 
2017. 
 MASSON, Cleber. Código Penal Comentado.7ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
Método, 2019.

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