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2 3 4 ÍNDICE Capa Rosto “A família está fundada no sacramento do matrimônio (...)” Abreviaturas e siglas Introdução 1. O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO E A SUA FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA 1.1. Questões preliminares 1.2. O relato da criação 1.3. O amor esponsal segundo o Cântico dos Cânticos 1.4. O amor forte como a morte segundo o Livro de Tobias 1.5. A visão matrimonial no Novo Testamento: Cristo e a Igreja 1.6. Os ensinamentos de Jesus Cristo sobre o matrimônio 2. A NATUREZA JURÍDICA DO MATRIMÔNIO 2.1. A evolução da definição nominal do matrimônio 2.2. Os fins do matrimônio 2.2.1. A ordenação da prole 2.2.2. O bem dos cônjuges 2.3. As propriedades essenciais 2.3.1. A unidade 2.3.2. A indissolubilidade 2.4. Em referência ao matrimônio “in fieri” e “in facto esse” 2.4.1. O matrimônio “in fieri” 2.4.2. O matrimônio “in facto esse” 2.5. A dimensão sacramentaldo matrimônio 2.5.1. Os ministros do sacramento do matrimônio 2.5.2. Os sujeitos, a matéria e a forma do matrimônio 3. A DEDICAÇÃO PASTORALE O QUE SE DEVE PRECEDER À CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO 3.1. O cuidado pastoral anterior à celebração do matrimônio 3.1.1. A preparação remota 3.1.2. A preparação próxima 3.1.3. A preparação imediata 3.2. O processo de habilitação matrimonial 5 kindle:embed:0008?mime=image/jpg 3.2.1. O exame dos noivos 3.2.2. Os proclamas 3.3. As proibições para proceder à celebração matrimonial 3.3.1. Matrimônio de vagos 3.3.2. Matrimônio que não possa ser reconhecido ou celebrado civilmente 3.3.3. Matrimônio de quem tem obrigações naturais, originadas de união precedente, para com outra parte ou para com filhos 3.3.4. Matrimônio de quem tenha abandonado notoriamente a fé católica 3.3.5. Matrimônio de quem está sob alguma censura 3.3.6. Matrimônio de menor, sem o conhecimento ou contra a vontade razoável de seus pais 3.3.7. Matrimônio a ser contraído por procurador, mencionado no cân. 1105 3.4. Outras proibições 3.4.1. A celebração secreta do matrimônio 3.4.2. Matrimônios proibidos pelo ordinário local 3.4.3. Matrimônio celebrado sob condição 3.4.4. Matrimônio daqueles que emitiram voto público temporário ou voto privado de castidade ou outros votos semelhantes 3.4.5. Os matrimônios mistos e disparidade de culto 4. ALGUMAS DENOMINAÇÕES CANÔNICAS DO MATRIMÔNIO 4.1. A consumação do matrimônio 5. OS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES 5.1. Noção e espécies de impedimentos 5.1.1. A classificação dos impedimentos 5.1.2. A autoridade competente para estabelecer impedimentos 5.1.3. A dispensa dos impedimentos em situação de perigo de morte 5.1.4. O poder de dispensar do pároco e de outros ministros 5.2. Os impedimentos em especial 1. Impedimento de idade 2. Impedimento de impotência 3. Impedimento de vínculo 4. Impedimento de disparidade de culto 5. Impedimento de ordem sacra 6. Impedimento de profissão religiosa 7. Impedimento de rapto 8. Impedimento de crime 6 9. Impedimento de consanguinidade 10. Impedimento de afinidade 11. Impedimento de honestidade pública 12. Impedimento de parentesco legal 6. OS VÍCIOS DO CONSENTIMENTO 6.1. Falta de toc-niv1acidade para consentir (cânon 1095) 6.2. Ignorância (cânon 1096) 6.3. Erro (cânon 1097) 6.4. O erro doloso (cânon 1098) 6.5. Erro a respeito do próprio matrimônio (cânon 1099) 6.6. Simulação (cânon 1101) 6.6.1. Simulação total 6.6.2. Simulação parcial 6.7. Condição não cumprida (cânon 1102) 6.8. Violência ou medo (cânon 1103) 6.9. Dispensa por vínculo natural 6.9.1. O privilégio paulino 6.9.2. O privilégio petrino (privilégio da fé) 7. A FORMA CANÔNICA DO MATRIMÔNIO 7.1. As normas estabelecidas pelo cânon 1108 7.1.1. O celebrante 7.1.2. A delegação e a subdelegação para a celebração do matrimônio 7.1.3. Requisitos para a validade da delegação 7.1.4. A subdelegação 7.1.5. Situação particular: o assistente leigo 7.1.6. A suplência da faculdade (cân. 144) 7.2. As testemunhas 7.3. Local onde deve ocorrer a celebração do matrimônio 7.4. A certeza do estado livredos contraentes 7.5. A forma canônica extraordinária 7.6. Requisito a ser exigido: intenção de contrair verdadeiro matrimônio 7.7. Impossibilidade de usar a forma ordináriasem “grave incômodo” 7.7.1. Nos casos de perigo de morte 7.7.2. Nos casos fora do perigo de morte 7.8. Os que estão obrigados à forma canônica 7 7.8.1. A dispensa da forma canônica 7.8.2. Nos casos de urgente perigo de morte (cân. 1079 § 1) 7.9. O registro do matrimônio celebrado 7.10. Celebração usando a forma ordinária 7.11. Matrimônios celebrados com a forma extraordinária 7.12. Para matrimônios celebradoscom dispensa da forma canônica 7.13. Para matrimônios secretos 8. A CONVALIDAÇÃOE A SANAÇÃO DO MATRIMÔNIO 8.1. A convalidação simples 8.2. A “sanatio in radice” 9. O PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL 9.1. Os principais passos de um processo de nulidade matrimonial 9.2 A confecção do Libelo Introdutório 9.3. As declarações de nulidade: aspectos jurídicos 9.4. Os fiéis recasados e a comunhão eucarística Conclusão Referências bibliográficas Coleção Ficha catalográfica Sobre o autor Notas 8 “A família está fundada no sacramento do matrimônio entre um homem e uma mulher, sinal do amor de Deus pela humanidade e da entrega de Cristo por sua esposa, a Igreja. A partir dessa aliança se manifestam a paternidade e a maternidade, a filiação e a fraternidade, e o compromisso dos dois...” Documento de Aparecida, n. 433 9 ABREVIATURAS E SIGLAS CC PIO PP XI. Carta Encíclica “Casti connubii”, in AAS 22 (1930). CIC Codex Iuris Canonici. CIgC Catecismo da Igreja Católica. Petrópolis: Vozes, 1994. CM JOÃO PAULO PP II. Carta às mulheres. São Paulo, 1995. CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. FC JOÃO PAULO PP II. Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”. São Paulo, 1981. GS CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje “Gaudium et Spes”. Petrópolis, 1968. HV PAULO PP VI. Carta Encíclica “Humanae Vitae”. São Paulo, 1968. 10 INTRODUÇÃO No início do livro do Gênesis, encontramos as palavras escritas a respeito da criação do homem e da mulher. No princípio o homem “estava só” e Deus o chama à comunhão e apresenta a mulher como sua companheira: “Ao vê-la, o homem exclama: ‘Esta é realmente o osso dos meus ossos e a carne da minha carne’” (Gn 2,23). Com isso, nota- se que o homem e a mulher se completam reciprocamente. Ambos são chamados por Deus à unidade, pois “os dois serão uma só carne” (Gn 2,24). O texto bíblico, conciso, mas profundo de significados, traduz a riqueza da união na humanidade, que liga a mulher e o homem no próprio mistério da criação. Essa união íntima do casal, pelo ato conjugal, faz retornar à expressão “uma só carne” e redescobre o mistério da criação do primeiro casal humano. O princípio fundamental para se compreender a dimensão jurídica do matrimônio está no consentimento das partes, elemento indispensável para a sua constituição, dom que os futuros esposos se oferecem reciprocamente numa acolhida livre e explícita. Para esse “ato pelo qual os esposos se dão e se recebem” (CIgC 1627), faz-se necessário uma adequada preparação dos nubentes, em que, nas suas diferentes etapas, busca ratificar que o “sim” dos esposos tenha toda a sua segurança e credibilidade. A celebração litúrgica deve expressar tudo o que representa essa promessa entre os esposos que se entregam reciprocamente em Cristo por meio das palavras: “Eu te recebo... e te prometo ser fiel... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida”. Essa doação recíproca faz-se através das palavras como solene promessa, que vai acompanhada por gestos que evidenciam essa vontade de mútua entrega. A própria pessoa assume a categoria do dom que se oferece quando acolhido, nele encontrando a fonte e seu autor. Em virtude da doação total, compreende-se melhor a exigência da indissolubilidade que libera e protege o amor e que não é uma prisão ou empobrecimento. A doação total comporta o dever da fidelidade. É uma forma concreta de dom, que empenha e liberta. Um amor fiel é também radicalmenteindissolúvel. Liberto do temor de trair e ser traído, fornece à fonte da vida a garantia e a transparência que têm direito os filhos. A doação mútua pessoal também exige dos cônjuges a indissolubilidade do vínculo recíproco por eles estabelecido. Este vínculo conjugal apresenta um caráter definitivo, enquanto surge de uma doação integral. O doar-se com a reserva de poder desvincular- se no futuro significaria que a doação não é total, mas o contrário daquela que se faz nascer de uma verdadeira vida conjugal. O matrimônio dá a garantia da estabilidade, da perseverança, da perpetuidade. Essa doação das partes deve ser o sinal de uma doação na verdade e, por isso, retorna a sentença ligada ao projeto original e pensado por Cristo: “Não separe o homem o que 11 Deus uniu” (Mt 19,6). É um dever da Igreja, ao legislar sobre o matrimônio, iluminar o campo da verdade e fazer atingir o seu reflexo no mundo atual, tal como ela está concebida por Cristo. Essa verdade deve ser transmitida e ensinada a partir do ordenamento canônico. E o Direito canônico é fonte de todo o imenso espaço que a Igreja dedica na construção da família, tendo como base os ensinamentos oriundos da própria Palavra de Deus. Pode acontecer que alguns homens e também algu-mas mulheres aproximem-se do matrimônio com uma personalidade severamente perturbada, por uma cultura fal-sa ou com algum impedimento, ou até mesmo com crité-rios alheios à verdade do próprio matrimônio. Por essarazão, surgiram as normas apresentadas pela Igreja quetraremos ao longo destas páginas, com o objetivo de melhor elucidar eventuais interrogações e trazer as necessárias respostas. D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB. Rio de Janeiro, 19 de março de 2015, na Solenidade de São José, esposo da Virgem Maria, padroeiro da Igreja Universal. 12 1. O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO E A SUA FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA A Sagrada Escritura nos mostra o desenvolvimento do matrimônio a partir do livro do Gênesis. Nele encontramos o relato da criação de modo sintético e com uma linguagem poética e simbólica, mas profundamente verdadeira: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; ele os criou homem e mulher”.[1] O ato criador de Deus desenvolve-se segundo um projeto preciso. Antes de tudo, diz que o homem é criado “à imagem e semelhança de Deus”,[2] expressão que esclarece logo a peculiaridade do homem no conjunto da obra da criação. A leitura do livro do Gênesis leva-nos até a fonte do mistério da vida e do amor conjugal. 1.1. QUESTÕES PRELIMINARES O relato mais antigo da criação nos apresenta o homem e a mulher.[3] É próprio da natureza humana que o homem e a mulher se casem. Assim foi e deverá continuar sendo até a vinda do Reino definitivo.[4] Ainda que tendo evoluído, ao longo dos tempos, as formas de constituir o matrimônio, os textos do Antigo Testamento nos permitem ver algumas características essenciais permanentes: a bênção de Deus para a sua existência, a fecundidade e a procriação como um bem, a formação de um núcleo separado da família anterior.[5] O povo de Israel, por seus profetas, usava a imagem do casamento para simbolizar a íntima e fiel união de seu povo a Javé, a partir da aliança com Ele.[6] Seguindo esta linha, podemos afirmar que todo casamento é uma aliança entre um homem e uma mulher.[7] A relação jurídica daí resultante pressupõe os elementos de ordem afetiva: o amor gratuito, a fidelidade e o apego do coração.[8] Para compreender corretamente as relações de Deus com seu povo, tais como são definidas pela aliança sinaítica, é preciso estabelecer um confronto com a aliança de um homem e uma mulher no momento de seu matrimônio. Isso constitui para a noção de aliança um enriquecimento considerável, pois ela adquire assim uma ressonância afetiva: Israel e seu Deus estão ligados pelo coração e não somente pelo direito. Disso resulta também uma consequência de grande alcance: as relações de Deus e de Israel tornam-se imagem das relações do homem e da mulher no matrimônio, isto é, o arquétipo sagrado do casal humano. 13 1.2. O RELATO DA CRIAÇÃO A Sagrada Escritura nos fala que o homem, mesmo encontrando-se rodeado pelas inumeráveis criaturas do mundo visível, dá-se conta de estar só.[9] Deus intervém para fazê-lo sair desta situação de solidão: “Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele”.[10] Portanto, na criação da mulher está inscrito, desde o início, o princípio do auxílio: auxílio não unilateral, mas recíproco. A mulher é complemento do homem, como o homem é complemento da mulher: mulher e homem são entre si complementares. A feminilidade realiza o “humano” tanto como a masculinidade, mas com uma modulação distinta e complementar. Quando o livro do Gênesis fala de auxiliar, não se refere só ao âmbito do “agir”, mas também ao do “ser”. [11] Depois de criar o homem e a mulher, Deus diz a ambos: “Enchei e dominai a terra”. [12] Com isso, não lhes confere só o poder de procriar para perpetuar no tempo o gênero humano, mas confia-lhes também a terra como tarefa, comprometendo-os a administrar seus recursos com responsabilidade. Nessa tarefa, tanto o homem como a mulher tem, desde o início, igual responsabilidade. Na sua reciprocidade esponsal e fecunda, na sua tarefa comum de dominar e submeter a terra, a mulher e o homem não refletem uma igualdade estática e niveladora, nem mesmo comportam uma diferença abissal e inexoravelmente conflituosa: sua relação mais natural, conforme o desígnio de Deus, é a “unidade dos dois”, ou seja, uma “unidualidade” relacional, que permite a cada um sentir a relação interpessoal e recíproca como um dom enriquecedor e responsabilizador.[13] Isso constitui o objeto de uma verdadeira vocação. A mulher deve estar para o homem em comunhão de unidade como em uma só carne.[14] Dentro dessas considerações podemos concluir que a mulher não se encontra na categoria dos animais, objeto de posse e de domínio por parte do homem.[15] Ele é companheiro da mulher e reconhece nela o osso de seus ossos e a carne de sua carne. [16] Por essa razão, se unirá a ela, de sorte que serão uma só carne.[17] A união sexual traduzirá assim uma união mais profunda, na qual se consumará o compromisso. Essa constatação manifestada pelo homem[18] traduz bem o entusiasmo amoroso com o qual descobre com alegria a alma-irmã, cuja dignidade inteira é apreciada em seu justo valor. Resulta daí o modelo do matrimônio humano, o casal monógamo como ideal pretendido pelo Criador. A sexualidade encontra assim o seu sentido em traduzir na carne a unidade dos dois seres que Deus chama a ajustar-se mutuamente no amor recíproco.[19] Nesta perspectiva, podemos dizer que o matrimônio não foi instituído nem estabelecido por obra dos homens, mas por obra de Deus; foi protegido, confirmado e elevado, não com leis dos homens, mas do próprio autor da natureza, por Deus e pelo restaurador da mesma natureza, o Cristo Senhor. Essas leis, portanto, não podem estar sujeitas ao arbítrio dos homens.[20] 14 1.3. O AMOR RESPONSAL SEGUNDO O CÂNTICO DOS CÃNTICOS Para melhor compreender o tema do amor esponsal, buscamos no Cântico dos Cânticos um propício modo de caracterizar o sinal sacramental do matrimônio.[21] Nele encontramos o amor em seu aspecto mais profundo, onde os cônjuges se exprimem em longas efusões líricas que integram os aspectos da alegria amorosa, do prazer sexual discretamente evocado e até do apego mais delicado do coração.[22] O livro atribuído a Salomão evidentemente não é uma tese de teologia, mas permite penetrar na psicologia do amor, tal como pôde expandir-se num clima bíblico. Verifica- se que, no diálogo do esposo e da esposa, não se encontra nenhuma alusão aos conflitos que ameaçam todos os casais humanos, pois caracteriza, de maneira concreta, o sonho interior de todos os amantes. No Cântico dos Cânticos se permite entrever, a partir do amor humano, o mistério da aliança divina anunciada pelos profetas,[23] onde a linguagem do corpo constitui o sinal visível da participação do homem eda mulher na aliança da graça e do amor oferecido por Deus ao homem. Seus primeiros versículos nos introduzem imediatamente na atmosfera de todo o “poema”, em que o esposo e a esposa parecem mover-se no círculo traçado pela irradiação do amor. As palavras dos esposos, os seus movimentos, os seus gestos correspondem à moção interior dos corações. Sob esse prisma, pode-se compreender a linguagem do corpo, que se reveste de toda a riqueza da linguagem do amor humano. Como narra o livro do Gênesis,[24] as primeiras palavras do homem, diante da obra criada por Deus, originada de uma de suas costelas, exprimem a maravilha e a admiração, o que ocorre de forma mais expressiva no Cântico dos Cânticos. As palavras de amor, pronunciadas por ambos, concentram-se, portanto, no corpo, não só porque ele constitui por si mesmo fonte de recíproco fascínio, mas também, e sobretudo, porque sobre ele se detém direta e imediatamente aquela atração pela outra pessoa, que no impulso interior do coração gera o amor. O amor, além disso, produz uma particular experiência do belo que se concentra naquilo que é visível e envolve simultaneamente a pessoa toda. A experiência do belo gera o prazer, que é recíproco.[25] O esposo, em certo ponto, exprime uma particular experiência de valores, que irradia sobretudo aquilo que está sentindo em relação à pessoa amada: Arrebataste o meu coração, minha irmã, minha esposa, arrebataste o meu coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola de teu colar. Como são deliciosas as tuas carícias, minha irmã, minha esposa![26] Dessas palavras emerge o que é de importância essencial para a teologia do corpo e, nesse caso, para a teologia do sinal sacramental do matrimônio. O fato de se sentirem irmão e irmã permite-lhes viver com segurança e recíproca proximidade e manifestar seu amor, encontrando nisso apoio e não temendo o juízo dos outros homens.[27] Também exprime a autêntica profundidade da pertença recíproca dos esposos conscientes do compromisso formado um com o outro: “O meu amado é para mim e eu sou para ele”.[28] Essa consciência ressoa sobretudo nos lábios da esposa. Em 15 certo sentido ela responde às palavras do esposo, fazendo com que ele a reconheça senhora do próprio mistério. Quando a esposa diz: “O meu amado é para mim”, quer dizer, ao mesmo tempo: é aquele a quem me entrego a mim mesma, e por isso diz: “e eu sou para ele”.[29] Os possessivos “meu” e “minha” afirmam aqui toda a profundidade daquela entrega correspondente à verdade interior da pessoa.[30] A verdade da crescente aproximação dos esposos através do amor desenvolve-se na dimensão subjetiva do coração, do afeto e do sentimento, permitindo descobrir em si o outro como dom e, em certo sentido, “saboreá-lo” em si.[31] Por meio dessa aproximação, o esposo vive mais plenamente a experiência daquele dom que, por partir do “eu” feminino, se une com a expressão e o significado do corpo esponsal. As palavras do homem não contêm apenas uma descrição poética da amada, da sua beleza feminina, sobre a qual se detêm os sentidos, mas falam do dom e do dar- se da pessoa.[32] No livro Cântico dos Cânticos, eco da inquietude diante da busca pelo amor perfeito, pode-se percorrer as estrofes do poema: Abri a porta ao meu amado, mas ele já tinha ido, já tinha desaparecido. Ao ouvi-lo falar, a minha alma ficava fora de si. Procurei-o, mas não o achei; chamei-o, e ele não respondeu Conjuro-vos, filhas de Jerusalém, que, se encontrardes o meu amigo, lhe digais que desfaleço de amor.[33] Algumas estrofes do Cântico dos Cânticos apresentam a forma do amor humano, em que atuam as forças do desejo. E é nelas que se radica a consciência, ou seja, a certeza subjetiva da recíproca, fiel e exclusiva pertença. Ao mesmo tempo, porém, muitas outras estrofes do poema impõem-nos refletir sobre a causa da busca e da inquietude que acompanha a consciência de se pertencerem um ao outro. A verdade do amor exprime-se na consciência do recíproco pertencer-se, fruto da aspiração e da busca mútuas. Os cônjuges, manifestando esse dom recíproco do amor, chegam à convicção cada vez mais profunda de que esse amor se revela “forte como a morte”, isto é, atinge os últimos limites da “linguagem do corpo” para superá-los. E, à luz da morte e ressurreição de Cristo, o Apóstolo Paulo proclamará outra verdade do amor: A caridade é paciente, a caridade é benigna, não é invejosa; a caridade não se ufana, não se ensoberbece, não é inconveniente, não procura o seu interesse, não se irrita, não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas rejubila-se com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca acabará. [34] Relacionando o amor expresso no Cântico dos Cânticos com esse trecho da Carta de São Paulo, parece que esse sentimento se abre em duas perspectivas, como se o amor humano restringisse ao seu próprio horizonte, se expandisse ainda, através das palavras paulinas, em um outro horizonte de amor que fala outra linguagem: o amor que parece emergir de outra dimensão da pessoa e chama-a, convida-a a outra comunhão.[35] 16 1.4. O AMOR FORTE COMO A MORTE SEGUNDO O LIVRO DE TOBIAS No Cântico dos Cânticos, salientamos que o sinal sacramental do matrimônio se constituía na base da linguagem do corpo. O homem e a mulher exprimem essa vivência de amor que lhes é própria. No dueto dos amores, conforme vimos no Cântico dos Cânticos, o amor que declaram um ao outro é “forte como a morte”.[36] No Livro de Tobias, percebemos claramente isso através das palavras de amor dirigidas a Sara: “E o seu coração afeiçoou-se-lhe”.[37] Lemos ainda que Sara, filha de Raguel, fora dada a sete maridos, [38] e todos morreram antes de se unirem a ela, por obra do espírito maligno. Mesmo assim, o jovem Tobias não temeu uma morte análoga, pois seu amor superava a própria morte. Assim, o amor de Tobias teve, desde o primeiro momento, que enfrentar a prova da vida e da morte. As palavras sobre o amor “forte como a morte”, pronunciadas pelos esposos do Cântico dos Cânticos no transporte do coração, assumem aqui o caráter de uma prova real, na qual venceu a vida, porque, durante a primeira noite de núpcias, o amor, amparado pela oração, revelou-se mais forte do que a morte. Os esposos do Cântico dos Cânticos declaram mutuamente, com palavras ardentes, seu amor humano. Os jovens esposos do Livro de Tobias pedem a Deus que saibam responder ao amor. Um e outro encontram seu lugar no que constitui o sinal sacramental do matrimônio. Um e outro participam da formação desse sinal. A oração dos jovens esposos do livro de Tobias parece selar o amor de modo diverso do Cântico dos Cânticos, onde se percebe uma comoção mais profunda.[39] O livro de Tobias tem por objetivo apresentar um casal conforme o ideal desejado por Deus. Seu rico con-teúdo nos faz buscar a essência do encontro entre um homem e uma mulher, que se inscreve num quadro da comu-nhão de toda a vida. No seu âmago encontramos o amor de Tobias e de Sara que aparece como casto, santificado pela oração.[40] Amor, fecundidade, ajuda mútua – todos esses valores do casal encontram sua unidade na própria instituição do casamento. A concepção hedonista do amor é superada: “Não é o prazer que procuro ao tomar minha irmã, mas faço-o com coração sincero...”.[41] Aqui temos não só a instituição do matrimônio que sacraliza o amor, mas também a intenção explícita dos cônjuges que introduz sua relação numa perspectiva religiosa, de vida espiritual. A unidade do casal não tem como única base a partilha do leito, nem mesmo a comunhão profunda da vida afetiva, mas a comunhão daquilo que Tobias e Sara têm de melhor: sua vida com Deus, manifestada pela oração. É por esse meio que Tobias pode salvar Sara.[42] Encontram-se na união de Tobias e de Sara exatamente os mesmos valores: unidade, fidelidade, fecundidade e indissolubilidade que formam a comunhão de toda a vida. 17 1.5. A VISÃO MATRIMONIAL NO NOVO TESTAMENTO: CRISTO E A IGREJA Com a inauguração do Reino de Deus no Novo Testamento, a instituiçãomatrimonial volta a encontrar a perfeição que as consequências do pecado na história humana lhe haviam feito perder.[43] O casal humano não tem somente um protótipo primitivo, sobre o qual deve modelar-se. Cristo é o princípio da vida nova para a humanidade inteira. Para tornar-se a Esposa pura de Cristo, a raça humana teve, antes, que ser transformada por ele. De pecadora, à semelhança de Eva, ele a tornou virgem e santa. É o primeiro milagre de seu amor nupcial, que exigiu de sua parte o dom de si até o sacrifício supremo.[44] O amor do Esposo foi redentor antes de consumar-se numa união em que a Esposa se tornava seu próprio corpo.[45] O casal primordial, Adão e Eva, do qual dependem os casais humanos, é substituído por um novo casal primordial, modelo para todos os cristãos, o casal Cristo-Igreja. O casal arquétipo para os cristãos, formado por Cristo “Novo Adão” e a Igreja “sua esposa”, está em continuidade com o casal das origens, o de Adão e Eva, que é seu tipo. São Paulo confirma essa continuidade.[46] Para Paulo, o amor conjugal é comparado à união entre Cristo e a Igreja. A partir do momento em que este amor conjugal se aplica à união Cristo-Igreja, citada por Paulo, a união entre o homem e a mulher torna-se sinal, recordação de uma realidade superior. [47] Para Paulo, o matrimônio cristão é apresentado como sacramento por causa da ligação com o casal escatológico Cristo-Igreja. Os esposos, pelo batismo, se revestiram de Cristo, de modo que sua atitude deve conformar-se com o arquétipo Cristo-Igreja. Constituem pelo matrimônio o sacramento pequeno dentro do sacramento grande.[48] A partir daí, estabelece-se entre eles não só o vínculo jurídico, como o que liga qualquer outro casal, mas também a participação real – como cristãos – no mistério de Cristo-Igreja.[49] São Paulo fala do matrimônio idealmente concebido por Deus, iniciado pela própria criação do homem e da mulher, que ele quis de sexos diferentes, mas complementares para exprimir neles o seu amor. O matrimônio é aquilo que está nos desígnios de Deus. Somente o matrimônio concebido na intenção divina pode ser o “sacramento magno” do amor divino. Cabe aos cristãos cumprir esse sinal. São Paulo os exorta a isso, convidando-os ao amor recíproco, ao dom recíproco sem reservas e sem arrependimentos, dom generoso, fecundo, numa união indissolúvel, unidos para formar uma só carne.[50] Se o casal Cristo-Igreja é mistério de amor, também o é o casal formado por dois batizados. O marido, segundo Paulo, deve manifestar seu amor, às vezes até de maneira heroica, dando-se a si mesmo e superando os defeitos que pode encontrar na esposa. A fidelidade do matrimônio exige que o marido e a mulher sejam entre si ligados por um 18 amor especial, santo e puro, como o de Cristo pela Igreja: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”.[51] O texto de São Paulo mostra a união de Cristo com a Igreja como o modelo exemplar do matrimônio cristão, que se deve moldar de acordo com essa profunda união. Assim, o matrimônio é uma epifania da união entre Cristo e a sua Igreja. Por isso a união matrimonial é participação no vínculo entre Cristo e a Igreja. No matrimônio cristão, atua, pois, o amor de Cristo para com a Igreja de maneira específica, sob a forma de caridade conjugal. Mediante o sacramento do matrimônio, imprime-se nos cristãos um novo lineamento na semelhança com Cristo, criada no batismo. Eles são conformados a Cristo, enquanto ele, com a sua dedicação na morte da Cruz, adquiriu a Igreja como esposa e, graças à missão do Espírito, se tornou um só corpo com ela. Portanto, o homem não será mais somente o senhor que domina,[52] visto que aprenderá a amar e, como Cristo, a entregar-se todo inteiro por amor;[53] a mulher não será somente o objeto de desejo que seduz e arrasta,[54] visto que imitará a Igreja em sua atitude com relação ao esposo.[55] Assim, recriado em Jesus Cristo, o amor mútuo encontrará sua ordem própria. A imagem social do matrimônio, conhecida por São Paulo, colocava em relevo o predomínio do homem, a soberania de Cristo, ainda que nessa união haja um dom recíproco inspirado pelo amor mútuo de marido e mulher. É para afirmar a união entre os esposos que São Paulo cita o texto de Gênesis: “Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe e se une à sua mulher e os dois se tornam uma só carne”.[56] O texto de Gênesis adquire assim todo o seu significado: a unidade dos cônjuges é fundada sobre um amor até então desconhecido, um mistério finalmente revelado, sabedoria daquele que é o único que sabe.[57] A Igreja, da qual todo batizado é membro, constitui o Corpo e a Esposa de Cristo, e, pelo matrimônio, o homem e a mulher tornam-se “uma só carne”, unindo-se ao Cristo, ao seu Corpo, à sua Esposa e à sua Igreja. Essa unidade é que fundamenta toda a economia da redenção, cujo matrimônio é o símbolo vivo.[58] O laço que une Cristo à Igreja tem sido muitas vezes lembrado para provar a indissolubilidade do matrimônio, indissolubilidade, aliás, total, quando se trata de um matrimônio sacramental consumado pela união carnal. O matrimônio aparece então iluminado pela união de Cristo, Esposo, e sua Igreja; o matrimônio humano é como que elevado e reforçado pelo vigor daquele que manifesta o seu amor eterno; a união conjugal conquista aquela profundeza que é a única a poder determinar a indissolubilidade, sinal do amor eterno de Deus. É justamente por ser esse o “sacramento magno” do amor salvífico de Deus em Jesus Cristo, cabeça do corpo místico, que o matrimônio é sacramento, sinal e instru- mento da graça divina, pois santifica os esposos; consagrando sua união, dá-lhes a força de ser o que são: testemunhas do amor de Deus, com o sinal de sua união indissolúvel no amor. É, portanto, esse o sentido do matrimônio, cuja sacramentalidade está sugerida no texto paulino. Os cônjuges, santificados pelo batismo, purificados no seu amor, 19 ministros do sacramento, permanecem por toda a vida como sinal de um dom eterno, e com essa finalidade recebem a graça do sacramento, que os une a Cristo, de quem são testemunhos na Igreja, para manifestar ao mundo a força do seu amor. Sem dizer explicitamente que o matrimônio é sacramento, São Paulo nos dá os elementos que nos fazem descobrir o seu valor sacramental para os cristãos. 1.6. OS ENSINAMENTOS DE JESUS CRISTO SOBRE O MATRIMÔNIO No limiar de sua vida pública, Jesus opera seu primeiro sinal, a pedido de sua mãe por ocasião de uma festa de casamento.[59] A Igreja atribui grande importância à presença de Jesus nas núpcias de Caná e vê nessa passagem a confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, ele será um sinal eficaz da presença de Cristo.[60] Dentre tantos ensinamentos de Jesus sobre o matrimônio, chama a atenção o trecho de Mc 10,1-12, quando Jesus responde a uma pergunta dos fariseus sobre o matrimônio e o divórcio. Os fariseus eram os fanáticos observantes da lei, e a Lei de Israel permitia o divórcio: “Quando um homem tomar uma mulher e a desposar, se depois ela deixar de lhe agradar, por ter descoberto nela algo de inconveniente, escrever-lhe-á um documento de divórcio, entregar-lhe-á em mão e despedi-la-á de sua casa”;[61] mas não era totalmente clara acerca das razões que poderiam fundamentar a rejeição da mulher pelo marido. A mulher, por sua vez, era autorizada a obter o divórcio em tribunal somente no caso de o marido estar afetado pela lepra ou exercer um ofício repugnante. É nessa discussão de contornos pouco claros que os fariseus procuram envolver Jesus. Uma resposta negativa por parte de Jesus seria, certamente, interpretada como uma condenação do matrimônio de Herodes com Herodíades, a sua cunhada. A pergunta dos fariseus insere- se, provavelmente, na tentativa de encontrar razões para eliminar Jesus. Diante da questão posta pelos fariseus “pode um homem repudiar a sua mulher?” (v. 2), Jesus começa por recordar-lhes o estado da questão na perspectiva da Lei: “O que vos ordenou Moisés?” (v.3). Tal não significa, contudo, que Jesus se identifique com o posicionamento da Lei a propósito da questão do divórcio. Efetivamente, a Lei permite o divórcio: “Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio para se repudiar a mulher” (v. 4); contudo, essa condescendência da Lei não resulta do projeto de Deus para o homem e para a mulher, mas é o resultado da “dureza do coração” dos homens. As prescrições de Moisés não definem o quadro ideal do amor do homem e da mulher, mas apenas regulam o compromisso matrimonial, tendo em conta a mediocridade humana. Em contraste com a permissividade da Lei, Jesus vai apresentar o projeto primordial de Deus para o amor do homem e da mulher. Citando livremente Gn 1,27 e Gn 2,24, Jesus explica que, no projeto original de Deus, o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher formarão “uma só carne”. Ser “uma só carne” 20 implica viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro. A separação será sempre o fracasso do amor; não está prevista no projeto ideal de Deus, pois Deus não considera um amor que não seja total e duradouro. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher. Jesus reitera que a relação entre o homem e a mulher deve se enquadrar no projeto inicial de Deus. A perspectiva de Deus é que marido e mulher, unidos pelo amor, formem uma comunidade de vida estável e indissolúvel. Ambos, em igualdade de circunstâncias, são responsáveis pela edificação da comunidade familiar e por evitar o fracasso do amor (v. 11-12). 21 2. A NATUREZA JURÍDICA DO MATRIMÔNIO A doutrina católica reconhece no matrimônio entre batizados uma dimensão nova: a sua dimensão sacramental.[1] Está presente no matrimônio desde as origens do gênero humano, por isso os profetas do Antigo Testamento, como dizíamos no capítulo anterior, usavam a figura do matrimônio para explicar a aliança entre Javé e seu povo. [2] E, no Novo Testamento, essa dimensão alcança a sua plenitude fazendo do matrimônio entre cristãos um símbolo da união permanente e da doação incondicional de Cristo à Igreja, como veremos a seguir. 2.1. A EVOLUÇÃO DA DEFINIÇÃO NOMINAL DO MATRIMÔNIO No decurso da história deparamos com muitos conceitos do matrimônio. Tornaram- se conhecidas, sobretudo, algumas definições. A primeira é de Modestino: “As núpcias são a união do homem e da mulher, consórcio de toda a vida, comunhão de direito divino e humano”.[3] Para Ulpiano, o matrimônio “é a união do homem e da mulher que contém uma comunhão indivisível de vida”.[4] Pedro Lombardo assim o define: “União material do homem e da mulher, entre pessoas legítimas, que traz consigo uma comunhão indivisível de vida”.[5] Diversos canonistas chegaram a definições que se assemelham a essas. Entre elas está, por exemplo, a de Cappello, que assim diz: “O matrimônio é a união legítima, perpétua e exclusiva entre homem e mulher, nascida do mútuo consentimento, que tem como fim a procriação e a educação da prole”.[6] Santo Tomás nos dá uma definição nominal e real do matrimônio em três aspectos fundamentais: sua essência, sua causa e seu efeito. Levando em conta estes três aspectos apontados, assim se refere ao matrimônio: coniugium, nuptiae e matrimonium. O termo coniugium expressa sua essência, que é a união. E a expressão nuptiae refere- se à sua causa, que é o esponsal; em atenção a este se denomina “núpcias”. Por fim, com o termo matrimonium se faz referência a seu efeito, isto é, os filhos. Esse termo também vem designar o ofício de mãe, considerando que a mulher é a que se incumbe especialmente da criação e educação dos filhos: matris munium – esta referência traz a mãe como pilar fundamental da instituição matrimonial, pela sua natureza, pois tem relação com a tarefa de conceber e educar os filhos.[7] Com relação à sua causa, o matrimônio foi definido por Hugo de São Vítor como duarum idonearum personarum legitimus de coniunctione consensus.[8] Em relação à sua essência, tornou-se popular a definição romana de Justiniano, 22 adaptada por Pedro Lombardo, que logo passaria a ser sentença comum dos teólogos: “O matrimônio é a união marital de um homem e de uma mulher, entre pessoas legítimas, possibilitando uma indivisa comunhão de vida”.[9] Nessa clássica definição do matrimônio encontram-se, sem dúvida, os elementos essenciais da instituição: a) A união do homem e da mulher, como expressão daquele vínculo que se constitui, entre os dois sexos, em ordem aos fins do matrimônio, diferencia a sociedade conjugal dos outros tipos de sociedade entre pessoas. b) A idoneidade das pessoas, para se tornarem sujeitos da relação matrimonial, com a devida ausência de incapacidades ou impedimentos que invalidem a união. c) A indivisa comunhão de vida, inclui sua unidade e indissolubilidade como propriedades que necessariamente a acompanham. A matéria (os sujeitos), a forma (a união ou vínculo) e as propriedades (unidade e indissolubilidade), como elementos da essência do matrimônio, encontram-se presentes nessa definição. Seguindo este contexto, o matrimônio é definido, conforme a já clássica definição feita por Modestino, como consortium comunis vitae et communicatio divini et humani iuris.[10] No âmago dessa doutrina, a comunhão de vida não pode ser mais que o efeito imediato e fim próximo do matrimônio, da mesma maneira que os filhos constituem seu efeito mediato e fim último.[11] No Código de 1917, em vários cânones, encontramos os elementos mínimos que confirmam estas considerações.[12] No cânon 1081, por exemplo, temos que “o consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual ambas as partes dão e aceitam o direito perpétuo e exclusivo sobre o corpo em ordem aos atos que, de per si, propiciam a geração da prole”.[13] Segundo esse cânon, o objeto do consentimento consiste na entrega e na aceitação do direito perpétuo e exclusivo sobre o corpo. Segundo a tese apresentada por Rocholl, o matrimônio é a união de duas pessoas livres e iguais em direito, que se diferenciam pelo sexo e que constituem dois tipos complementares da mesma natureza humana.[14] E Krempel define o matrimônio como a comunhão de duas pessoas de sexo diferente, realizado mediante o livre consentimento e que tem por finalidade a comunhão de vida. Essa comunhão de vida, que constitui o objeto principal do matrimônio e sua essência, se obtém com a entrega das pessoas.[15] O Concílio Vaticano II reafirma o caráter sacramental do matrimônio entre batizados, com estas palavras: Pois, como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e fidelidade com seu povo, assim agora o Salvador e o Esposo da Igreja vem ao encontro dos cônjuges cristãos pelo sacramento do matrimônio.[16] O Concílio Vaticano II desenvolveu o matrimônio num sentido profundo e denso. Buscando sua orientação no livro do Gênesis,[17] compreendeu todo o discernimento e aperfeiçoamento integral mútuo dos esposos, pondo em relevo não apenas os aspectos propriamente jurídicos, mas também o seu valor existencial, como vínculo sagrado, e ainda como íntima comunhão de vida e amor. 23 A íntima comunhão de vida e de amor conjugal que o Criador fundou e dotou com suas leis é instaurada pelo pacto con-jugal, ou seja, o consentimento pessoal irrevogável. Dessa maneira, do ato humano pelo qual os cônjuges se doam e recebem mutuamente, se origina, também diante da sociedade, uma instituição confirmada pela lei divina.[18] Quis ainda realçar o aspecto personalístico de aliança matrimonial, que é a íntima comunhão de duas pessoas, de distinto sexo, descartando, portanto, o direito de converter uma pessoa em objeto ou instrumento da outra. Por isso, assim diz o mesmo Concílio: “Esta união íntima, doação recíproca de duas pessoas, e o bem dos filhos exige a perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolubilidade”.[19] Ao falar da “entrega e aceitação” de toda a pessoa,altera as concepções tradicionais. [20] O que está em jogo não é a simples entrega do corpo, mas a conjugalidade da pessoa.[21] O Código de 1983 não podia esquecer essa doutrina do Concílio acerca do matrimônio: A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão de vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada, por Cristo Senhor, entre os batizados, à dignidade de sacramento.[22] Nesse cânon, encontramos a noção descritiva e os fins do matrimônio, suprimindo toda a hierarquia. A nova legislação se preocupa em afirmar que tão importante é o fim objetivo do matrimônio, a procriação, como o fim pessoal, o bem dos cônjuges. Pela primeira vez no Código se descreve o matrimônio como uma aliança, seguindo a definição do Concílio.[23] 2.2. OS FINS DO MATRIMÔNIO A teoria dos fins, como sabemos, foi elaborada pelos Escolásticos, entre os séculos XII e XVI. O Código de 1917 recolheu essa teoria com a seguinte formulação: “A procriação e educação da prole é o fim primário do matrimônio; a ajuda mútua e o remédio da concupiscência, é o fim secundário”.[24] O Concílio Vaticano II não desenvolve sistematicamente a teoria dos fins, mas não deixa de afirmar o valor da procriação quando diz: O instituto do matrimônio e o amor dos esposos estão pela sua índole natural ordenados à procriação e à educação dos filhos em que culminam como numa coroa. Por isso o homem e a mulher, que pelo pacto conjugal “já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19,6), prestam-se mutuamente serviço e auxílio, experimentam e realizam cada dia mais plenamente o senso de sua unidade pela união íntima das pessoas e das atividades.[25] Como reflexo do Concílio, o Código afirma que o matrimônio está “ordenado por sua mesma índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole”.[26] A posição do novo Código confirma, pois, a existência de um fim total do matrimônio: a constituição de uma comunhão de toda a vida. Dessa finalidade seguem-se, como conse quências imediatas, a ajuda mútua ou complementação dos cônjuges, a geração e a educação da prole. Por essa razão, nenhuma dessas duas finalidades derivadas pode 24 ser ex-cluída, absoluta e positivamente, do consentimento matrimonial, sob pena de atingir a finalidade total do matri-mônio.[27] O Código vigente alterou o modo de apresentar as finalidades do matrimônio e, em lugar de enunciá-las diretamente, preferiu oferecer uma definição, incluindo a chamada “ordenação a seus fins específicos”. Por isso se afirma que o consórcio de vida plena em que consiste o matrimônio está “ordenado por sua mesma índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole”.[28] É próprio do Direito canônico a preocupação por assinalar os fins do matrimônio. Assim o exige, pelo seu caráter de realidade natural e sacramental, uma vez que os fins objetivos explicam a razão de ser da realidade natural e determinam a estrutura jurídica da sociedade conjugal. Junto com esses fins objetivos – o fim da realidade em si (finis operis) – podem existir as motivações subjetivas que induzem os contraentes à implantação do matrimônio entre eles (finis operantis). Perante o caráter extrínseco que, em princípio, tem os fins ou causas finais em relação com um ser determinado, a “ordenação aos fins” é um elemento informador da essência da realidade conjugal e, por conseguinte, é um constitutivo dessa realidade enquanto elemento formal ou especificador da união conjugal perante outro tipo de união ou relações sociais. Essa ordenação aos fins específicos de uma entidade ou realidade significa: a) Uma atitude ou predisposição da entidade para alcançar seus fins. b) Uma tendência que impulsiona a entidade à realização de seus fins. c) Uma exigência ou necessidade de que a realidade em questão se conduza dinamicamente em direção ao lucro daquelas finalidades. Desta forma, a ordenação aos fins está determinando a própria estrutura da comunhão ou consórcio conjugal, a relação interpessoal em que consiste, assim como o conjunto de direitos e obrigações que a compõem, bem como o diálogo conjugal que se realiza segundo a verdade plena da vida dos esposos, e que é, ao mesmo tempo, força, ou seja, capacidade de caráter moral orientada ativamente para a plenitude do bem verdadeiro. E sua tarefa consiste em salvaguardar a unidade inseparável dos cônjuges. [29] 2.2.1. A ordenação da prole A prioridade que se dá à geração dos filhos, dentro do matrimônio, é claramente afirmada nas palavras, no contexto e na declarada intenção dos seus redatores, tal como se manifesta nos documentos existentes do processo de elaboração do texto conciliar, nos dois momentos em que explicitamente se trata da questão.[30] Isso significa que o matrimônio, a comunhão de vida e o amor existente não se fecham em si mesmos, mas se abrem necessariamente à procriação e à educação dos filhos, pela missão confiada por Deus e pela ordenação natural dos elementos que as constituem. Procriação e educação não são duas finalidades separadas, não existem dois fins primários do matrimônio. São dois aspectos de um único fim.[31] 25 Por isso expõe a Carta Encíclica Casti Connubii de Pio XI que o próprio Criador ensinou assim quando, ao instituir o matrimônio no paraíso, disse a nossos primeiros pais, e por eles a todos os futuros cônjuges: “Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra”. [32] E no que se refere à educação, exorta o mesmo documento: Insuficientemente teria previsto Deus, sapientíssimo, aos filhos, mais ainda, a todo o gênero humano, se além disso não houvesse confiado o direito e a obrigação de educar àqueles a quem deu o direito e o poder de gerar.[33] Essa educação no matrimônio, visando ao fim procriador, é uma exigência tanto do ponto de vista dos progenitores como do ser gerado. Se a estrutura matrimonial é o meio mais ajustável à dignidade humana para que o homem cumpra sua missão procriadora e educativa, também a estrutura do matrimônio é o meio mais digno para que o filho que nasce seja recebido e educado. E o Papa Pio XII, em uma Alocução de 29 de outubro de 1951, assim se expressava: “O sentido próprio e mais profundo do exercício do direito conjugal consiste na união dos corpos, que é a expressão e a atuação da união pessoal e afetiva”.[34] O Papa Paulo VI, em sua Carta Encíclica Humanae Vitae, confirma esta vocação do homem no matrimônio ao expressar: Na verdade, pela sua estrutura íntima, o ato conjugal, ao mesmo tempo em que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher. Salvaguardando estes dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e a sua ordenação à altíssima vocação do homem para a paternidade.[35] Assim, podemos afirmar que a procriação é essencial ao matrimônio, enquanto constitui o bem central, ao qual o matrimônio está ordenado. É instituído para a transmissão da vida a novos seres e para a perpetuação da espécie humana, como sustenta a constituição Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II: O matrimônio e o amor conjugal, por sua própria índole, se ordenam à procriação e educação dos filhos (...). Donde se segue que o cultivo do verdadeiro amor conjugal e toda a estrutura da vida familiar que daí promana, sem desprezar os outros fins do matrimônio, tendem a dispor os cônjuges a cooperar corajosamente com o amor do Criador e do Salvador que, por intermédio dos esposos, aumenta e enriquece sua família.[36] E, no uso da faculdade generativa, encontramos uma segunda finalidade, chamada remédio da concupiscência. Segundo esse fim, os cônjuges, satisfazendo a própria tendência natural na união dos seus corpos, no contexto de uma ordenada vida matrimonial, evitam os perigos da incontinência.[37] 2.2.2. O bem dos cônjuges Pela ajuda mútua, o matrimônio constitui uma comunhão integral de existência, onde os cônjuges encontram, de modo natural,o mútuo complemento de sua capacidade e aptidões não só na ordem física, material e econômica, mas também na ordem moral e sobrenatural, o que os capacita para melhor cumprirem o preceito bíblico: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá com uma mulher, formando ambos uma 26 só carne”.[38] Nisso percebemos que o matrimônio é de tal importância que se torna sinônimo de comunhão de vida conjugal. Essa expressão, tomada em sentido preciso e específico, não exclui a unidade, a indissolubilidade e o direito à procriação. Seguindo esta linha, temos que o “bem dos cônjuges” compreende tudo aquilo que pode redundar em favor do enriquecimento, da perfeição pessoal não só nos diversos setores da vida humana, como também no plano material, econômico, existencial, religioso. Esse bem não se distingue adequadamente do consórcio ou comunhão conjugal, senão que é o resultado positivo de sua operação, que se alcança ao longo da convivência matrimonial. Essa ordenação pressupõe que os cônjuges sejam aptos para a vida conjugal, o que em princípio se presume. Nesse sentido, a vida matrimonial realiza-se plenamente na medida em que é destinada para os fins que lhe são específicos. Justamente pelo fato de se tratar de marido e mulher, compreende a necessidade ao serviço recíproco. Entre os muitos aspectos decorrentes dessa finalidade, está o complemento e a comunhão de vida, que constituem a célula ou comunidade primária da humanidade. 2.3. AS PROPRIEDADES ESSENCIAIS A comunhão conjugal caracteriza-se não só pela unidade, mas também pela sua indissolubilidade como determina o cânon 1056: As propriedades essenciais do matrimônio são a unidade e a indissolubilidade que, no matrimônio cristão, recebem firmeza especial em virtude do sacramento.[39] São propriedades derivadas do caráter de totalidade que há de ter a entrega e a aceitação exigidas no sacramento do matrimônio. Ainda que do cânon 1056 se conclua que se trata de propriedades de direito natural, sem dúvida no matrimônio canônico tem especial relevância por seu caráter sacramental enquanto sinal do amor divino, e comporta plenitude de entrega. Vejamos, a seguir, mais detalhadamente, cada uma dessas propriedades. 2.3.1. A unidade São claras as referências da Sagrada Escritura e também os argumentos humano- antropológicos sobre o significado da unidade do matrimônio.[40] Os textos bíblicos nos mostram que, pelo matrimônio, o homem e a mulher se tornam “uma só carne”,[41] de maneira que já não são dois, mas “uma unidade” conjugal.[42] Essas referências nos falam da exclusividade dessa união. Este é o desígnio de Deus desde o princípio: Não lestes que, desde o princípio, o Criador os fez homem e mulher? E que disse: “Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne”? De modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar.[43] 27 Essa propriedade essencial do matrimônio tem seu fundamento nas palavras do livro do Gênesis: “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne”.[44] O fato de constituírem “uma só carne” faz desse vínculo uma realidade exclusiva. E essa verdade é confirmada por Jesus Cristo no Novo Testamento: “O que Deus uniu, o homem não deve separar”.[45] Essa expressão refere- se não só ao matrimônio-sacramento, mas também ao matrimônio-contrato natural. Contém ela um mandato que vai além de um simples ideal ético ou de uma norma moral.[46] Com efeito, Deus prescreveu a unidade matrimonial desde que instituiu o matrimônio, quando criou o homem, para melhor assegurar a paz da família e a educação e bem-estar dos filhos. A unidade do matrimônio é também claramente confirmada pelo Senhor mediante a igual dignidade do homem e da mulher enquanto pessoas, a qual deve ser reconhecida no amor mútuo e perfeito,[47] como bem sublinhou o Concílio Vaticano II: O reconhecimento obrigatório da igual dignidade pessoal do homem e da mulher, no mútuo e pleno amor, evidencia também claramente a unidade do matrimônio confirmada pelo Senhor.[48] Por sua masculinidade e feminilidade, o homem e a mulher são diferentes; mas, como pessoas, são essencialmente iguais. Suas relações mútuas têm que desenvolver-se em termos de igualdade. O que não sucederia se o vínculo que os une não fosse exclusivo. Ainda que a transmissão da vida humana possa ter lugar fora do matrimônio, sem dúvida, a dignidade pessoal dos filhos tão só se protege adequadamente dentro da unidade do matrimônio. Dada a condição pessoal dos filhos, a procriação inclui necessariamente a educação, que seria prejudicada se sua realização fosse fora da unidade matrimonial. O matrimônio converte em certos aspectos comuns da vida íntima e pessoal dos cônjuges, portanto, sua comunicação pessoal se faz possível quando há uma solidariedade entre eles. Solidarizar-se reciprocamente da vida pessoal e compartilhar em uma unidade biográfica as mútuas circunstâncias vitais é, em termos usuais, constituir uma vida em comum, uma unidade de destino ou um consórcio de toda a vida.[49] Na encíclica Casti Connubii, o Papa Pio XI, ao falar de “sociedade de toda a vida”, menciona o bem da fidelidade mútua como um quesito do contrato matrimonial. Essa fidelidade exige, em primeiro lugar, a unidade absoluta do matrimônio, a qual o próprio Criador fez entrever no casamento dos nossos primeiros pais.[50] Nessa mesma encíclica, Pio XI diz não à poligamia, ou qualquer outra ação externa, para que se guardasse inviolado o santuário sagrado da família, lembrando as palavras de Cristo, que assim nos diz: “Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração”.[51] A partir dessa afirmação, podemos certificar que a unidade consiste em confirmar o matrimônio em uma união simultânea de um só homem com uma só mulher, compreendendo a monogamia e a fidelidade.[52] Significa, assim, a impossibilidade de uma pessoa ficar 28 ligada simultaneamente por dois vínculos conjugais, por isso a unidade se opõe à poligamia. Nisso se verifica que a estabilidade do amor conjugal, a fidelidade dos esposos e a ajuda mútua prolongada consistem em fator de alto valor para o desenvolvimento normal da personalidade dos esposos, o que resulta na tranquilidade do lar e na homogeneidade da educação dos filhos. O amor humano tende a procurar uma integração mais profunda até chegar a formar uma comunhão de sentimentos e de ideais; um cabedal de coincidências e ajuda mútua.[53] A verdade do amor conjugal exige a totalidade. O amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade de sua comunhão de pessoas que engloba toda a sua vida. 2.3.2. A indissolubilidade A unidade e a indissolubilidade são propriedades diferentes, mas que constituem dois aspectos de uma mesma realidade. O que é indissolúvel não é outra coisa que a “unidade dos dois”,[54] isto é, a comunhão conjugal em sua unidade indivisível.[55] A indissolubilidade atende ao matrimônio como estado, referindo-se à relação interconjugal, resultante da ocorrência de sua válida celebração.[56] Faz referência à permanência do matrimônio, que, uma vez contraído, não se pode dissolver. Quando se afirma que, pelo matrimônio, o homem e a mulher formam uma “unidade de dois”,[57] fala-se de uma unidade tão profunda que abrange a totalidade dos esposos enquanto sexualmente distintos e complementares. É uma unidade que, por sua própria natureza, exige a indissolubilidade. Por isso, ela não pode ser entendida como uma condição extrínseca ao matrimônio. É um requisito indispensável à verdade da doação matrimonial, e somente assim será possível viver existencialmente o matrimônio como comunhão de vida e de amor. A indissolubilidade faz parte dos desígnios divinos do matrimônio.[58] Assim foi desde o princípio, embora, mais tarde, em consequência das paixões humanas, se tenha introduzido o divórcio e Moisés o tenha permitido “pela dureza do vosso coração, embora nãotenha sido assim desde o princípio”.[59] Cristo, supremo legislador, restabeleceu a originária indissolubilidade. A consequência é que “aquele que repudia a sua mulher e se casa com outra comete adultério”.[60] Essa doutrina foi sempre ensinada pela Igreja, que insistiu, no plano prático, no cumprimento moral e jurídico da verdade exposta pelo Mestre.[61] O matrimônio não é obra dos homens, mas de Deus. Portanto, as suas leis não estão sujeitas ao arbítrio humano.[62] João Paulo II, em sua Exortação Apostólica Familiaris consortio, sintetiza que a indissolubilidade, tendo como princípio a doação pessoal e total dos cônjuges, é exigida também pelo bem dos filhos.[63] É a mesma argumentação empregada para a unidade do matrimônio: o matrimônio é indissolúvel, porque, do contrário, dificilmente se poderia prover de maneira adequada a educação dos filhos. A prole é um bem comum do marido e da mulher. 29 É preciso, portanto, que esse consórcio se mantenha indissolúvel perpetuamente, conforme o ditame da lei natural, necessária para a realização do matrimônio.[64] A condição pessoal dos filhos exige a indissolubilidade do matrimônio como contexto idôneo para o desenvolvimento de sua personalidade.[65] Se não fosse “para sempre”, a doação dos esposos não seria total; e como a totalidade é característica essencial da doação, teria que concluir que esta não seria verdadeira. Na doação esponsal – quando há vontade de duração e promessa de fidelidade, quando os esposos se entregam e se recebem incondicionalmente – consiste o autêntico amor, que tende por si mesmo a ser algo definitivo, não passageiro.[66] Não há amor sem fidelidade. E não há fidelidade no matrimônio sem indissolubilidade; a indissolubilidade é a forma objetiva da fidelidade.[67] A fidelidade e a indissolubilidade são aspectos integrantes e complementares da mesma realidade: o amor-matrimônio. Antes de ser lei ou preceito, antes de ser exigência social, a indissolubilidade é uma exigência interna da doação matrimonial. Por sua natureza e desde a sua raiz, a doação mútua dos esposos exige e está destinada a ser para sempre.[68] E o Concílio Vaticano II, ao falar da indissolubilidade matrimonial, assim se expressa: O matrimônio, porém, não foi instituído apenas para o fim da procriação. Mas a própria índole do pacto indissolúvel entre pessoas e o bem da prole exigem que também o amor recíproco se realize com reta ordem, que cresça e amadureça. Por isso, embora os filhos muitas vezes tão desejados faltem, continua o matrimônio como íntima comunhão de toda a vida, conservando seu valor e sua indissolubilidade.[69] O novo Código nos ensina que a unidade e a indissolubilidade são propriedades essenciais do matrimônio, mesmo entre não batizados, e no matrimônio cristão obtém uma firmeza peculiar por razão do sacramento. Constituem ainda dois aspectos de um mesmo fenômeno: profundidade e intensidade da união entre os cônjuges, de maneira tal que só a morte de um dos cônjuges pode pôr fim a essa união.[70] E o Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, analisa a indissolubilidade do matrimônio com as seguintes palavras: É dever fundamental da Igreja reafirmar vigorosamente – como fizeram os Padres do Sínodo – a doutrina da indissolubilidade do matrimônio: quantos, em nossos dias, consideram difícil ou mesmo impossível ligar-se a uma pessoa por toda a vida e a quantos, subvertidos por uma cultura que rejeita a indissolubilidade matrimonial e que ridiculariza abertamente o empenho de fidelidade dos esposos, é necessário reafirmar o alegre anúncio da forma definitiva daquele amor conjugal, que tem em Jesus Cristo o fundamento e o vigor. [71] Essa íntima união exige a igualdade do homem e da mulher, o que evidencia plenamente a essência do matrimônio, como mútua entrega, reta fidelidade conjugal e indissolúvel unidade.[72] A indissolubilidade consolida-se nesse amor conjugal por sua própria virtude ou natureza. É uma propriedade, um modo de ser do opus matrimoniale ou da communitas amoris. A íntima união e amor pleno exige a igualdade de homem e mulher e “evidencia também plenamente a unidade do matrimônio”.[73] 30 Do ponto de vista essencial, estamos na presença de um elemento imprescindível da vontade matrimonial válida: cada contraente se dá ao outro, enquanto cônjuge, para ser recebido por este do modo como se ama a si mesmo.[74] O receber o outro com o amor de si mesmo fundamenta que a solidariedade com a vida pessoal e o compartilhar das circunstâncias vitais de cada contraente constitui o bem comum – a comunhão de vida – que os esposos se devem em justiça. Quando esta é a vontade dos contraentes, os atos e prestações aptos e necessários para este fim passam a ser direito e dever conjugal. A exclusão, pelo contrário, significa a negação inicial e radical desse direito e dever.[75] 2.4. EM REFERÊNCIA AO MATRIMÔNIO “IN FIERI” E “IN FACTO ESSE” As conhecidas expressões: matrimônio in fieri e matrimônio in facto esse, que não aparecem expressamente no Código, constituem dois aspectos de uma única realidade do matrimônio. São dois momentos distintos, mas realmente inseparáveis, dado que, no próprio momento em que os cônjuges prestam o consentimento, causam o vínculo. O sacramento do matrimônio pode encarar-se sob dois aspectos: o primeiro enquanto se celebra (in fieri); o segundo enquanto perdura após a celebração (in facto esse). Isso porque é semelhante à eucaristia, que é um sacramento, não só enquanto se recebe, mas também enquanto perdura. Uma vez que, enquanto os cônjuges vivem o matrimônio, a sua união é sempre o sacramento de Cristo e da Igreja.[76] Existe uma estreita relação entre o matrimônio in fieri (pacto, aliança, contrato) e o matrimônio in facto esse (vínculo, estado permanente). Nisso podemos afirmar que, do ponto de vista sacramental, o matrimônio in fieri e in facto esse se integram mutuamente numa estreita unidade. E a essência, ou seja, aquilo que constitui o matrimônio, é o contrato institucional, para o matrimônio in fieri; e o vínculo que dele se deriva, para o matrimônio in facto esse.[77] 2.4.1. O matrimônio “in fieri” O matrimônio in fieri, ou seja, como ato, é o contrato pelo qual começa e constitui a sociedade conjugal. A sua essência consiste no consentimento legitimamente manifestado pelas partes, isto é, o contrato matrimonial.[78] É a prestação formal do consentimento, enquanto ato. Considerado assim, o matrimônio in fieri pode ser ainda definido como “ato contratual”, bilateral e recíproco, consensual e formal, entre pessoas juridicamente hábeis, que surge do consentimento legitimamente manifestado, pelo qual um homem e uma mulher se dão e se aceitam, por aliança irrevogável, constituindo entre si um consórcio de toda a vida, ordenado pela própria índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole.[79] E o cânon 1055 sintetiza que “entre batizados não pode haver contrato matrimonial válido que não seja, por isso mesmo, sacramento”.[80] O matrimônio é, pois, um 31 contrato de ordem natural que exige o concurso das vontades, mas um contrato sui generis, pelas seguintes razões: a) de sua origem, já que foi instituído por Deus, como meio natural para a propagação do gênero humano: “Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra”.[81] A instituição matrimonial faz parte do plano divino desde o momento da criação do homem. b) Das pessoas contraentes, uma vez que é um contrato entre pessoas de sexos diferentes, ou seja, um homem e uma mulher. c) Do consentimento, tão necessário que resulta não haver nenhuma potestade humana que possa supri-lo. Esse consentimento é a causa objetiva insubstituível de que procede, como efeito, a existência de cada matrimônio concreto. Indica ainda, em seu significado próprio, um acordo de vontades. d) De sua estabilidade, suposto que não se pode separar por mútuo acordo das partes. e) Do objeto do contrato, nesse caso, os corpos que se entregam como direito recíproco, para uma comunhão de vida conjugal, está determinado por suanatureza, de tal maneira que nem os contraentes podem alterá-lo. Se excluir do consentimento o direito sobre o corpo em ordem à geração, o matrimônio será nulo; para a realidade do contrato não é indispensável, porém, que este mútuo direito seja exercido.[82] Com efeito, o contrato realiza-se no momento da outorga do consentimento dos esposos, e dele resulta uma sociedade ou comunhão conjugal, que os une com vínculo indissolúvel, pois sua dissolução não depende da vontade dos contraentes. Trata-se de um contrato especial, em que os direitos a que dá origem são imutáveis, sem que dependam das vontades das partes como nos outros contratos, que se podem dissolver ou modificar por mútuo consentimento. O legítimo contrato matrimonial é, ao mesmo tempo, matéria e forma do sacramento do matrimônio, visto que, no próprio momento em que se estabelece esse contrato entre dois batizados, produz-se o sacramento sem que seja necessária qualquer outra condição.[83] A matéria remota são as próprias pessoas dos contraentes; ou melhor, o ius ad vitae communionem. O novo Código de Direito canônico amplia o objeto essencial do contrato matrimonial, passando do ius in corpus em ordem à geração, ao ius ad vitae communionem, dispondo que, em virtude desse contrato, o homem e a mulher constituem entre si um consortium totius vitae e, portanto, quando dão o seu consentimento, entregam-se e aceitam-se mutuamente em aliança irrevogável, para constituírem o matrimônio.[84] O contrato e o sacramento são inseparáveis quando se trata de matrimônio entre batizados.[85] A elevação do matrimônio à dignidade de sacramento não mudou a natureza do contrato, simplesmente o tornou sobrenatural, anexando a força de produzir por si mesmo a graça necessária aos cônjuges. E, somente enquanto batizados, isto é, 32 membros de Cristo, os contraentes podem afirmar aquele pacto que é essencialmente o sacramento da união de Cristo com a Igreja. Disso resulta que os autores do contrato são também os ministros do sacramento, de acordo com a tradição ocidental. 2.4.2. O matrimônio “in facto esse” O matrimônio in facto esse é o estado ou vínculo matrimonial que brota do contrato matrimonial.[86] É o estado matrimonial permanente, consórcio de toda a vida, comunhão permanente e exclusiva entre um homem e uma mulher, orientada por sua própria índole natural à perfeição própria e à procriação e educação da prole, consórcio este que se torna sacramental entre os batizados.[87] Esta relação interpessoal conjugal in facto (sentido dinâmico realizador) se situa no plano da íntima comunhão de vida e amor surgida do pacto conjugal, isto é, no totius vitae consortium do atual cânon 1055 § 1, o qual não é outra coisa senão a permanência dinâmica da mútua entrega e aceitação pessoal. No matrimônio in facto esse devem ser distinguidos dois elementos: um interno, constituído pela comunhão conjugal de vida e amor, e outro externo, formado pelo conjunto de direitos e obrigações que ligam juridicamente os cônjuges. Nesse sentido, a essência do matrimônio in facto esse seria a identificação do vínculo com ius in corpus. Desse modo resulta que a essência do matrimônio in facto esse se completa com uma marca de caráter biológico, no sentido unicamente de propagação da espécie humana, o substrato de toda relação matrimonial, e o objeto essencial desse contrato é o ius in corpus. Assim, a essência do matrimônio in facto esse é o vínculo, permanente pela sua própria natureza, que se origina do legítimo contrato matrimonial. O ato pelo qual se estabelece o contrato é transitório, mas o vínculo a que dá origem no homem e na mulher que o contraem é por toda a vida. 2.5. A DIMENSÃO SACRAMENTAL DO MATRIMÔNIO No Novo Testamento, Jesus Cristo revelou a vontade de Deus a respeito da união conjugal, indissolúvel, única, fiel e criadora, entre o homem e a mulher. Com isso quis elevar a realidade natural do matrimônio à dignidade de sacramento para aqueles que tenham recebido o batismo, tornando-se sobrenatural, pois dá a força de produzir por si mesmo a graça necessária para que os cônjuges cristãos possam cumprir os deveres conjugais. Portanto, o contrato matrimonial válido entre batizados é por isso mesmo sacramento,[88] assumido como sinal sensível e eficaz da graça salvífica.[89] O matrimônio é sacramento instituído por Cristo e dogma de fé definido pelo magistério e afirmado pela tradição unânime da Igreja. E essa doutrina é confirmada apoiando-se especialmente na Epístola de São Paulo aos Efésios,[90] sendo certificada pelo Concílio de Trento: “Se alguém disser que o matrimônio não é verdadeiro e 33 propriamente um dos sete sacramentos da lei evangélica, instituído por Cristo Senhor, senão inventado pelos homens, seja anátema”.[91] É próprio do matrimônio atribuir-se uma dimensão religiosa, isto é, uma especial relação com Deus, que o torna uma instituição santa, devido a sua finalidade procriadora, unida à ação criadora de Deus. Do ponto de vista do direito, isso se manifesta no fato de que a estrutura jurídica fundamental do matrimônio – vale dizer: o vínculo, as suas propriedades, os direitos e os deveres conjugais, a função do consentimento – constitui direito natural estrito. Quando os dois cônjuges são batizados, o matrimônio não é somente uma instituição natural, é também um sacramento.[92] Por causa da sacramentalidade, o matrimônio provoca um aumento da graça santificante. Concede a assim chamada graça sacramental e constitui o vínculo que requer a graça. Um dos efeitos mais claros desse enriquecimento é a comunhão de toda a vida que beneficia a unidade e a indissolubilidade. Pela mútua ajuda constitui o matrimônio uma comunhão integral de existência, onde os cônjuges encontram, de modo natural, o mútuo complemento de sua capacidade e aptidões não só na ordem física, material e econômica, mas também na ordem moral e sobrenatural, o que os capacita para melhor cumprirem o preceito bíblico: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá com uma mulher, formando ambos uma só carne”.[93] Nisso se pode perceber que o matrimônio é de tal importância que se torna sinônimo de comunhão de vida conjugal. Essa expressão, tomada em sentido preciso e específico, não exclui a unidade, a indissolubilidade e o direito à procriação. 2.5.1. Os ministros do sacramento do matrimônio Os ministros do sacramento do matrimônio são os próprios contraentes, uma vez que o consentimento das partes é a causa eficiente do matrimônio in fieri. Contudo, o sacerdote exerce o papel de testemunha qualificada, mas, tendo em vista que a sua função não é meramente passiva, recebe também o nome de ministro assistente.[94] O catecismo da Igreja Católica, falando sobre os ministros desse sacramento, assim diz: Segundo a tradição latina, são os esposos quem, como ministros da graça de Cristo, mutuamente se conferem o sacramento do matrimônio, ao exprimirem, perante a Igreja, o seu consentimento. Nas tradições das Igrejas orientais, os sacerdotes que oficiam – bispos ou presbíteros – são testemunhas do mútuo consentimento manifestado pelos esposos, mas a sua bênção também é necessária para a validade do sacramento.[95] A função do sacerdote, segundo mostra o Catecismo da Igreja Católica, é a de ser uma testemunha qualificada que assiste à celebração do matrimônio, ainda que não de uma maneira passiva, pois ele recebe o consentimento dos esposos em nome da Igreja e os abençoa: O sacerdote ou o diácono, que assiste à celebração do matrimônio, recebe o consentimento dos esposos em nome da Igreja e dá a bênção da Igreja. A presença do ministro da Igreja, bem como das testemunhas, exprime visivelmente que o matrimônio é uma realidade eclesial.[96] 2.5.2. Os sujeitos, a matéria e a forma do matrimônio 34 Os sujeitos são os próprios contraentes. Naturalmente, precisam ser batizados e isentos de qualquer impedimento dirimente. A matéria e a forma do sacramento do matrimônio é o mútuo contrato das partes, bem como a legítima entrega dos corpos com as palavras e os sinaisque expressam o sentido da doação e aceitação mútua, na perspectiva de construir uma comunhão de vida e de amor, ordenada ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole.[97] Segundo as prescrições estabelecidas, a matéria e a forma necessitam ser observadas como requisito para a celebração válida dos sacramentos. Com o matrimônio, embora de uma forma distinta em relação aos demais sacramentos, não acontece diferente. Matéria (ou melhor, quase-matéria) e forma do sacramento do matrimônio, segundo a maior parte dos autores, são os atos externos dos contraentes que significam respecti-vamente a doação e a aceitação mútua das pessoas (não simplesmente dos corpos), em ordem à constituição deuma comunhão de toda a vida, que pela sua própria índole se ordena ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole.[98] 35 3. A DEDICAÇÃO PASTORAL E O QUE SE DEVE PRECEDER À CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO O atual código de Direito canônico dedicou um cânon ao cuidado pastoral e outro cânon ao que deve anteceder à celebração do matrimônio, a saber: cân. 1063 e 1064. O Código de 1917 se dirigia fundamentalmente a obter uma celebração juridicamente correta. No Código de 1983, observa-se um processo de amadurecimento, tendo como base os ensinamentos do Concílio Vaticano II, em que ressaltou a sua preocupação quanto ao preparo pastoral dos nubentes para o matrimônio. Esses sinais tornaram-se presentes nas orientações das Conferências Episcopais, bem como no próprio pensamento do Papa João Paulo II, que tantas vezes asseverou sobre o assunto.[1] 3.1. O CUIDADO PASTORAL ANTERIOR À CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO O cân. 1063 estabelece que “os pastores de almas têm a obrigação de cuidar de que a própria comunidade preste assistência aos fiéis, para que o estado matrimonial se mantenha no espírito cristão e progrida na perfeição”. Alguns noivos chegam ao casamento sem a devida preparação psicológica, espiritual e religiosa. Faz-se necessário que a recepção do sacramento do matrimônio seja consciente e madura. É desejável que o momento privilegiado da preparação para o matrimônio se transforme em sinal de esperança, como uma nova evangelização para as futuras famílias.[2] A preparação para o matrimônio deve realizar-se como um processo gradual e contínuo. Compreende três momentos principais: uma preparação remota, outra próxima e outra imediata. 3.1.1. A preparação remota A preparação remota começa na infância e o cân. 1063, 1º § pede que os pastores de almas ofereçam a preparação remota “com a pregação, com a catequese apropriada às crianças, jovens e adultos, mesmo com o uso dos meios de comunicação social, pelos quais sejam os fiéis instruídos sobre o sentido do matrimônio e o papel dos cônjuges e pais cristãos”. A legislação canônica menciona a pregação, a catequese adequada para cada idade: crianças, adolescentes e adultos. Observa-se, no entanto, que os ministros ordenados 36 não são os únicos responsáveis. Especial tarefa tem a própria família, a quem cabe orientar os filhos para a educação na fé e na responsabilidade. A catequese, por sua vez, tem como finalidade fazer crescer, no conhecimento e na vida, a semente da fé semeada pelo Espírito Santo como primeiro anúncio e transmitido eficazmente através do batismo.[3] Os sujeitos passivos dessa preparação remota ao matrimônio deveriam ser todos aqueles que, potencialmente, estão aptos para celebrar este sacramento, por esta razão o código se refere às crianças, aos jovens e aos adultos. Por isso, assim exorta os bispos brasileiros: Nesse período, é muito significativo criar condições para a formação integral dos adolescentes e jovens para a educação da afetividade e da sexualidade humana. Também é importante aproveitar a oportunidade daqueles que já frequentam os movimentos e grupos de jovens da comunidade, para lhes oferecer um fundamento da preparação para o matrimônio.[4] 3.1.2. A preparação próxima A preparação próxima prolonga-se pela adolescência e compreende uma preparação mais específica, quase uma nova descoberta dos sacramentos. Esta catequese renovada em todos os que se preparam para o matrimônio cristão é absolutamente necessária para que o sacramento seja celebrado e vivido com retas disposições morais e espirituais.[5] O Pontifício Conselho para a Família assim prescreve: Tal preparação próxima deverá basear-se, antes de mais nada, numa catequese alimentada pela escuta da Palavra de Deus, interpretada com a orientação do Magistério da Igreja, em vista de uma compreensão cada vez mais plena da fé, e de um testemunho na vida concreta. O ensinamento deverá ser proposto no contexto de uma comunidade de fé entre famílias, especialmente no âmbito da paróquia.[6] E também sublinha: Os noivos deverão ser instruídos sobre as exigências naturais ligadas ao relacionamento interpessoal homem- mulher, no plano de Deus, sobre o matrimônio e sobre a família: o conhecimento em ordem à liberdade de consentimento, qual fundamento de sua união, a unidade e indissolubilidade matrimonial, a reta concepção de paternidade e maternidade responsáveis, os aspectos humanos da sexualidade conjugal, o ato conjugal com as suas exigências e finalidades, a reta educação dos filhos. Tudo isso orientado para o conhecimento da verdade moral e para a formação da consciência pessoal.[7] Nesta preparação próxima, faz-se necessário aprofundar com os noivos o valor e o significado do amor conjugal, os métodos naturais de regulação da fertilidade, seu emprego, bem como a virtude da castidade entre os cônjuges.[8] Para essa preparação, tem fundamental importância a paróquia, cuja responsabilidade é preparar devidamente os noivos para a recepção frutuosa desse sacramento, apresentando a eles as grandezas e os valores da vida conjugal, mas também os compromissos e as obrigações da vida cristã e do novo estado de vida.[9] Pensando nessa responsabilidade, assim diz o Pontifício Conselho para a Família: “As famílias, unidas nas paróquias, nas instituições, em diversas formas de associações, ajudem a criar um clima social em que o amor responsável seja sadio”.[10] 37 A Conferência dos Bispos do Brasil lembra que um elemento importante dessa etapa é a realização do encontro de preparação para a vida matrimonial, conhecido como “Curso de noivos”. Os candidatos ao matrimônio deveriam participar do encontro com pelo menos seis meses de antecedência em relação à data do casamento. Com isso, teriam tempo hábil e necessário para colocar intenções e propósitos mais sólidos possíveis para a sua vida cristã ao abraçarem o matrimônio. Ainda terão oportunidade até para considerarem a conveniência de adiarem, contraírem ou não o matrimônio. Trata-se de um momento de amadurecimento para a decisão final.[11] O cân. 1065 assim diz: § 1. Os católicos que ainda não receberam o sacramento da confirmação recebam-no antes de serem admitidos ao matrimônio, se isto for possível fazer sem grave incômodo.§ 2. Para que o sacramento do matrimônio seja recebido com fruto, recomenda-se insistentemente aos noivos que se aproximem dos sacramentos da penitência e da santíssima eucaristia. Para que a recepção do sacramento seja frutuosa, deve ser livre e, por isso, o Código não impõe o sacramento da Confirmação, mas se limita a recomendá-lo. Dessa forma, observa-se que não se trata de uma obrigação, mas de uma recomendação, pois a recepção do sacramento da confirmação não é uma condição absoluta para que uma pessoa possa contrair matrimônio. O pároco não pode proibir o sacramento, nem mesmo colocar dificuldades se os noivos se negarem a receber o sacramento da confirmação e nem mesmo se eles se recusarem a receber o sacramento da reconciliação e da eucaristia.[12] 3.1.3. A preparação imediata E sobre a preparação imediata, assim diz o Papa João Paulo II: A preparação imediata para a celebração do sacramento do matrimônio deve ter lugar nos últimos meses e semanas que precedem as núpcias, como a dar um novo significado, um novo conteúdo e forma nova ao chamado exame pré-matrimonial exigido pelo direitocanônico. Sempre necessária em todos os casos, tal preparação impõe-se com maior urgência para os noivos que apresentam carências e dificuldades na doutrina e na prática cristã.[13] Os elementos a comunicar nesse caminho de fé, análogo ao do catecumenato, devem incluir profunda consciência do mistério de Cristo e da Igreja, dos significados da graça e da responsabilidade do matrimônio cristão, assim como a preparação para tomar parte ativa e consciente nos ritos da liturgia nupcial.[14] Por isso, o cân. 1063, § 3º, lembra “a frutuosa celebração litúrgica do matrimônio, pela qual se manifeste claramente que os cônjuges simbolizam o mistério da unidade e do amor fecundo entre Cristo e a Igreja, e dele participam”. As finalidades da preparação imediata podem ser assim elencadas: a) Sintetizar o percurso do itinerário precedente, especialmente nos conteúdos doutrinais, morais e espirituais, preenchendo, assim, eventuais carências da formação básica; b) Realizar experiências de oração em que o encontro com o Senhor possa fazer 38 descobrir a profundidade e a beleza da vida sobrenatural; c) Realizar uma conveniente preparação litúrgica, com a participação ativa dos nubentes, e com um cuidado especial no que se refere ao sacramento da reconciliação; d) Valorizar, para um conhecimento mais aprofundado de cada um, os colóquios canonicamente previstos com o pároco.[15] A Igreja se torna visível na diocese e esta se articula nas paróquias, compreende-se, assim, como toda a pre-paração canônico-pastoral para o matrimônio seja doâmbito paroquial e diocesano. E, por isso, o matrimônio deve ser celebrado na igreja paroquial a que pertencem os noivos.[16] A preparação imediata é uma ocasião propícia para se iniciar uma pastoral matrimonial e familiar ininterrupta. Desse ponto de vista, é preciso procurar que os esposos conheçam a sua missão na Igreja. Nisso podem ser ajudados, pela riqueza que oferecem os diversos movimentos familiares, a cultivar a espiritualidade conjugal e familiar e o modo de realizar a sua tarefa na família, na Igreja e na sociedade.[17] Essa responsabilidade pastoral para com os noivos, conforme diz o cân. 1063, cabe aos pastores de almas. E o cân. 1064 ainda completa: “Compete ao ordinário local cuidar que essa assistência seja devidamente organizada, ouvindo, se parecer oportuno, homens e mulheres de comprovada experiência e competência”. A Conferência dos Bispos do Brasil recomenda: O sacerdote ou os orientadores instruam os noivos sobre o modo de receber o sacramento: a conveniência de uma confissão para aproveitar frutuosamente a graça do matrimônio; a importância de acolher o sacramento do matrimônio em estado de graça e amizade com Deus, para obter plenamente os frutos do Espírito Santo na vida do casal. Espera-se do pároco especiais atenções nessa preparação imediata ao matrimônio. Essa função não deve ser delegada a um agente de pastoral ou à secretária da paróquia.[18] E o Diretório da Pastoral Familiar, elaborado pela Conferência dos Bispos, ainda recomenda: Nesta conversa, sejam abordados os temas referentes à fidelidade e à indissolubilidade matrimonial, bem como à tarefa sublime de comunicar a vida e de educar os filhos, à qual se comprometem os esposos. Tudo isso, numa linguagem atual, viva, que proporcione aos noivos um encontro pessoal com Cristo e a vivência de uma fé profunda.[19] 3.2. O PROCESSO DE HABILITAÇÃO MATRIMONIAL Antes da celebração do matrimônio, é necessário observar alguns requisitos estabelecidos pelo Direito. As formalidades prévias à celebração de um matrimônio que necessitam de cumprimento têm como objetivo atender às exigências do cân. 1066, que assim diz: “Antes da celebração do matrimônio, deve constar que nada impede a sua válida e lícita celebração”. A instrução do processo de habilitação matrimonial compete ao pároco, tendo também ele o direito de assistir ao matrimônio. A atual legislação dá esse direito ao 39 pároco do noivo ou da noiva, cabendo aos nubentes escolher. O cân. 1070 ainda acrescenta: “Se outro tiver feito as investigações, e não o pároco a quem compete assistir ao matrimônio, informe quanto antes, por documento autêntico, o resultado ao pároco”. O cân. 1067 também diz: A Conferência dos Bispos estabeleça normas sobre o exame dos noivos, sobre os proclamas matrimoniais e outros meios oportunos para se fazerem as investigações que são necessárias antes do matrimônio, e assim, tudo cuidadosamente observado, possa o pároco proceder a assistência do matrimônio. No Brasil, a Conferência dos Bispos fixou a seguinte norma: “Para a celebração do matrimônio deve ser instruí-do na Paróquia o processo de habilitação matrimonial, como se segue: 1) O pároco, ou quem responde legitimamente pela paróquia ou comunidade, tenha obrigatoriamente um colóquio pessoal com cada um dos nubentes separadamente, para comprovar se gozam de plena liberdade e se estão isentos de qualquer impedimento ou proibição canônica, notadamente quanto aos cânones 1071, 1083-1094, 1124. Somente ao próprio pároco ou, no caso de seu impedimento, outro sacerdote especialmente autorizado, compete o preenchimento da parte processual que envolve o juramento.[20] Além do aspecto burocrático, faz-se necessário um contato pastoral, na dimensão da fé, antes da entrada formal do processo. 2) presentem-se os seguintes documentos: a) Formulário devidamente preenchido, contendo dados pessoais e declaração assinada pelos nubentes que não estão detidos por qualquer impedimento ou proibição e que aceitam o sacramento do matrimônio, tal como a Igreja católica o entende, incluindo a unidade e indissolubilidade; b) Certidão autêntica de batismo, expedida expressamente para casamento e com data não anterior a seis meses da apresentação da mesma, incluindo eventuais anotações marginais do livro de batizados; c) Atestado de óbito do cônjuge anterior, quando se trata de nubente viúvo; comprovante de habilitação para casamento civil; d) Outros documentos eventualmente necessários, ou requeridos pelo bispo diocesano. 3) Quanto a proclamas: faça-se a publicação do futuro matrimônio, no modo e prazo determinados pelo bispo diocesano. 4) Se um dos nubentes residir em outra Paróquia ou diocese, diferente daquela em que for instituído o processo de habilitação matrimonial, serão recolhidas informações e se farão os proclamas também na Paróquia daquele nubente. 5) Se for constatada a existência de algum impedimento ou proibição canônica, o pároco deve comunicá-la aos nubentes e, conforme o caso, encaminhar o pedido de dispensa ou de licença. 6) Cuide-se da preparação doutrinal e espiritual dos nu-bentes, conforme as determinações concretas de cada diocese.[21] E o cân. 1068 ressalta: 40 Em perigo de morte, não sendo possível obter outras provas e não havendo indícios em contrário, basta a afirmação dos nubentes, mesmo sob juramento, se for o caso, de que são batizados e não existe nenhum impedimento. O Código também frisa a obrigação de todos os fiéis de revelar ao pároco ou ao ordinário do lugar, antes da celebração do matrimônio, os impedimentos de que tenham notícia.[22] O processo de habilitação matrimonial tem as seguintes finalidades: a) Coletar as informações pessoais dos nubentes e certificar a ausência de impedimentos para que possa ocorrer a celebração válida e lícita do matrimônio. b) Adquirir certeza moral sobre a liberdade do consentimento que os nubentes deverão prestar. c) Averiguar e, se for necessário, suprir o grau de instrução suficiente dos noivos acerca da doutrina católica sobre o matrimônio.[23] 3.2.1. O exame dos noivos O Código de 1917 já prescrevia algumas medidas preventivas para a celebração do matrimônio. O atual código segue este mesmo procedimento como foi possível constatar pelo que foi visto até o momento. O complemento dessas exigências acontece com o que normalmente chamamos de entrevista com os noivos, que deverá ser feita na paróquia própria do noivo ou da noiva. A paróquia própria é aquela onde os noivos têm residência:a) domicílio;[24] b) quase domicílio;[25] c) os vagos podem ser atendidos na paróquia onde circunstancialmente se encontrem, para sempre com a autorização do ordinário do lugar.[26] Pode ocorrer que os noivos, ou seus familiares, escolham uma outra igreja distinta. O pároco pode conceder a licença para que o matrimônio seja celebrado fora da jurisdição correspondente.[27] Compete ao pároco realizar o exame com os noivos, a quem compete o direito de assistir ao matrimônio. O cân. 1070, assim diz: “Se outro tiver feito as investigações, e não o pároco a quem compete assistir ao matrimônio, informe quanto antes, por documento autêntico, o resultado ao pároco”. Assim sendo, o pároco tenha, obrigatoriamente, uma conversa com cada um dos nubentes separadamente, para comprovar se estão livres de qualquer impedimento ou proibição canônica. Seja este encontro um momento oportuno para a acolhida dos noivos e o entrosamento mais profundo na vida paroquial. Os noivos serão orientados, também, quanto à sua preparação espiritual para receber o sacramento do matrimônio e a preparação através do sacramento da reconciliação. 3.2.2. Os proclamas Os proclamas têm como principal objetivo levar aos fiéis o conhecimento do futuro matrimônio: “Todos os fiéis têm a obrigação de manifestar ao pároco ou ao ordinário local, antes da celebração do matrimônio, os impedimentos de que tenham 41 conhecimento”.[28] Com isso, observa-se que os fiéis têm a obrigação de denunciar os impedimentos que puderem existir, para evitar que seja celebrado um casamento nulo. O Processo Matrimonial deve ser feito três meses antes do casamento, na paróquia de qualquer um dos noivos;[29] podendo ser também encaminhado na comunidade que frequentam ou onde pretendem se casar.[30] Os noivos devem apresentar, na preparação do Processo, as seguintes informações: a) Se há qualquer parentesco entre si; b) Se algum deles já se casou, anteriormente, com outra pessoa; c) Se existe qualquer circunstância que seja impedimento ao casamento, para as devidas providências canônicas por parte da paróquia. O pároco não deve marcar a data do casamento antes de ter a certeza de que o Processo Matrimonial está em andamento. Cabe a ele, ou a quem responde legitimamente pela paróquia, ter, obrigatoriamente, uma conversa pessoal e individual com os nubentes, para comprovar se gozam de plena liberdade e se estão livres de qualquer impedimento ou proibição canônica, notadamente quanto aos cânones 1071, 1103, 1083 a 1094. No caso dos nubentes pedirem a transferência do processo para a celebração do casamento em outra paróquia[31] ou convidarem outro celebrante para oficializar a celebração religiosa, o pároco deve dar a delegação por escrito.[32] Essa delegação é necessária para a validade do casamento.[33] A certidão de batismo deve ser expedida nos últimos seis meses anteriores à celebração do matrimônio. Deve ser exigido um exemplar original e estar devidamente assinado, pela pessoa autorizada, com o carimbo da paróquia. Após a celebração do matrimônio, observar as normas estabelecidas pelo cân. 535: § 1. Em cada paróquia, haja os livros paroquiais, isto é, o livro de batizados, de casamentos, de óbitos, e outros, de acordo com as prescrições da Conferência dos Bispos ou do Bispo diocesano; cuide o pároco que esses livros sejam cuidadosamente escritos e diligentemente guardados; § 2. No livro de batizados seja anotada também a confirmação, como ainda o que se refere ao estado canônico dos fiéis, por motivo de matrimônio, salva a prescrição do cân. 1133, por motivo de adoção, de ordem sacra recebida, de profissão perpétua emitida em instituto religioso e de mudança de rito; essas anotações sejam sempre referidas na certidão de batismo. § 3. Cada paróquia tenha o próprio selo; as certidões que se dão a respeito do estado canônico dos fiéis, como também os atos que podem ter valor jurídico, sejam assinados pelo pároco ou por seu delegado e munidos com o selo da paróquia. § 4. Em cada paróquia haja um cartório ou arquivo, em que se guardem os livros paroquiais, juntamente com as cartas dos bispos e outros documentos que devem ser conservados por necessidade ou utilidade; tudo isso, que deverá ser examinado pelo bispo diocesano ou seu delegado na visita canônica ou em outro tempo oportuno, o pároco cuide que não chegue a mãos de estranhos. § 5. Também os livros mais antigos sejam guardados dili-gentemente, de acordo com as prescrições do direito par-ticular. Na falta comprovada da Certidão de batismo, faz-se o juramento supletório do batismo e a comprovação do estado livre da pessoa ante duas testemunhas qualificadas: pai, mãe e padrinhos... No caso de matrimônios mistos, ou onde existe disparidade de culto, faz-se a comprovação do estado livre, usando o mesmo juramento supletório. Se um dos nubentes residir em outra Paróquia oudiocese, diferente daquela em que 42 foi instruído o processo de habilitação matrimonial, serão recolhidas informações e se farão os proclamas também na Paróquia daquele nubente.[34] Os proclamas serão afixados no lugar público, na entrada da Igreja em quadro mural adequado a essa finalidade. Em caso de perigo de morte, devem-se observar as prescrições do cân. 1068: “Em perigo de morte, não sendo possível obter outras provas e não havendo indícios em contrário, basta a afirmação dos nubentes, mesmo sob juramento, se for o caso, de que são batizados e não existe nenhum impedimento”. 3.3. AS PROIBIÇÕES PARA PROCEDER À CELEBRAÇÃO O cân. 1071 apresenta alguns casos ou situações onde se requer especial atenção para se celebrar o matrimônio. Nessas circunstâncias estabelecidas, o pároco deve solicitar a licença do ordinário local. Esta autorização não se requer para a validade do matrimônio, mas apenas para a sua liceidade. A licença do ordinário local equivale, na realidade, a uma dispensa. Mas percebe-se que, em caso de necessidade, a ser apreciada pelo próprio ministro assistente, não há necessidade dessa licença ou dispensa.[35] 3.3.1. Matrimônio de vagos Vagos são aqueles que não têm domicílio ou quase domicílio em lugar algum.[36] A residência canônica dos vagos ou nômades fica estabelecida no lugar em que se encontram atualmente. Faz-se necessário levar em conta que “os vagantes estão obrigados às leis universais e particulares vigentes no lugar em que se encontram”.[37] Não se pode esquecer que, por domicílio ou quase domicílio, o batizado se faz membro de uma paróquia ou de uma diocese; por outro lado “o pároco ou o ordinário próprio do vagante é o pároco ou o ordinário do lugar onde o vagante se encontra”.[38] Basta que apenas um dos contraentes seja vagante. A proibição para que os vagos não venham contrair matrimônio sem a licença do ordinário do lugar tem como objetivo coibir abuso ou fraudes que possam ocorrer, uma vez que essas pessoas não são conhecidas no lugar onde se encontram. Como vagos, estão os emigrantes, artistas de circo ambulante, ciganos que mudam de lugar com fre - quência etc. 3.3.2. Matrimônio que não possa ser reconhecido ou celebrado civilmente Deve-se diferenciar aquele que não “pode” casar civilmente daquele que “não quer” casar civilmente. O Direito canônico reconhece que pode haver motivos para não querer casar civilmente.[39] Os noivos, por razões legítimas, podem não querer casar-se no civil e o Direito canônico não proíbe que assim seja. Contudo, o pároco deverá cuidar para que as partes não tenham, com isso, a intenção de burlar a unidade do matrimônio. 43 [40] Alguns manifestam o desejo apenas pela celebração religiosa, visando não perder a pensão que recebem, ou do pai ou do outro cônjuge já falecido. À luz da justiça, deve- se observar as normas da lei civil, que exige essa perda de direitos. Quando se contrai um novo matrimônio rompe-se os laços anteriores e inicia-se um novo matrimônio. O não cumprimento da lei pode ser um grave pecado contra a justiça.[41] 3.3.3. Matrimônio de quem tem obrigações naturais, originadas de união precedente, para com outra parte ou para comfilhos Para a Igreja, a união conjugal fora do matrimônio é sempre irregular, mas não se pode deixar de avaliar que, mesmo das uniões naturais, surgem necessariamente deveres e obrigações. O ideal seria que essas uniões se convertessem em matrimônio canônico, mas, não sendo possível, deve-se procurar todos os meios para que a parte abandonada e os filhos tenham o justo auxílio econômico, em conformidade com as exigências jurídicas prescritas.[42] O Código prevê esta licença do ordinário local, visando afastar possíveis escândalos, tendo em vista eventuais injustiças que podem ocorrer de uma das partes, por descuido nas suas obrigações decorrente de uma união anterior. O ordinário local não deve conceder a licença, caso tenha alguma pendência no cumprimento desses deveres. 3.3.4. Matrimônio de quem tenha abandonado notoriamente a fé católica Esta norma procede do cân. 1065 do Código de 1917. O sentido do termo notório deve ser interpretado à luz do cân. 2197 também do Código de 1917, onde distingue entre delito público, oculto e notório. Notório é aquilo que se pode constatar por evidência, que pode ser comprovado por um processo judicial ou pelos próprios fatos. É notório de direito o que nasce da evidência processual ou por sentença assinada ou ainda por confissão judicial do interessado. Para que haja abandono notório da fé católica, é necessário que haja abandono explícito da fé perante uma autoridade eclesiástica ou perante a autoridade civil em qualquer de seus poderes: executivo, legislativo ou judiciário. Faz-se necessário entender que este abandono da fé católica, como uma situação publicamente conhecida, baseada em alguma forma explícita ou implícita de tal manifestação pública, deve constituir uma notoriedade de fato ou de direito.[43] A razão fundamental para exigir a licença do ordinário nestes casos está no perigo que se deriva para a parte católica e para a prole. Por essa razão, não se deve conceder a licença para contrair esse matrimônio, a não ser após observar as prescrições do § 2 do cân. 1071: “O ordinário local não conceda licença para assistir o matrimônio de quem tenha abandonado notoriamente a fé católica, a não ser observando-se as normas mencionadas no cân. 1125, com as devidas adaptações”. Pode acontecer que os nubentes venham manifestar objeções ou dificuldades sérias 44 para viver a fé. Diante disso, torna-se importante uma boa acolhida e o oferecimento de uma catequese adequada à situação. Com isso, se oferece aos noivos a oportunidade de reavivar a fé, clarear dúvidas e retomar o desejo de viver segundo os princí-pios cristãos, com uma nova experiência eclesial. Mesmo se a fé dos noivos se mostra ainda imatura, mas se ambos pedem o matrimônio com boa intenção, não se deve negar a celebração, embora seja necessário fazer advertências e recomendações necessárias. Mas, se por outro lado, apesar dos esforços, os contraentes dão sinais de desprezo e indiferença de maneira explícita e formal ao sacramento realizado pela Igreja, o pároco não deve admiti-los à celebração.[44] 3.3.5. Matrimônio de quem está sob alguma censura Os cânones 1331 e 1332 nos advertem que uma das consequências da censura é a proibição de “celebrar os sacramentos ou sacramentais, e receber os sacramentos”.[45] Caso aconteça a sua celebração, o matrimônio é válido, porém ilícito. Deve-se ainda recordar que “não se pode impor validamente uma censura, a não ser que antes o réu tenha sido ao menos uma vez advertido a deixar sua contumácia, dando-se a ele tempo conveniente para arrepender-se. Deve-se considerar que abandonou sua contumácia o réu que se tiver arrependido do delito e que, além disso, tiver reparado convenientemente os danos e o escândalo, ou ao menos, o tiver seriamente prometido”. [46] A licença do ordinário local é necessária e só após a suspensão da pena ficará o nubente autorizado a receber o sacramento do matrimônio. Para ter ciência de que cessou sua contumácia e houve reconciliação com a Igreja, não se faz obrigatória a reconciliação sacramental, bastando a absolvição no foro íntimo da pessoa que publicamente busca o sacramento da reconciliação.[47] 3.3.6. Matrimônio de menor, sem o conhecimento ou contra a vontade razoável de seus pais Em conformidade com o cân. 1083 § 3, para que o matrimônio seja realizado validamente, no mínimo a mulher deve ter a idade de 14 anos e o homem, 16. Os que estiverem acima dessa idade, porém, menores de 18 anos,[48] só poderão contrair matrimônio com a devida autorização paterna.[49] É um dever e um direito dos pais velar pelos filhos, educá-los e proporcionar-lhes o melhor para que eles possam construir de forma eficaz o futuro. Por essa razão, cabe aos pais aprovar ou recusar o assentimento a quem, sendo menor de 18 anos, pretenda casar-se. Essa oposição deve ter um fundamento razoável.[50] Ocorrendo alguma oposição paterna, caberá ao ordinário local avaliar a natureza da recusa. Os párocos devem observar ainda a prescrição do cân. 1072: “Os pastores de almas procurem afastar do matrimônio os jovens antes da idade em que se costuma 45 contrair o matrimônio, conforme o costume de cada região”. De acordo com o cân. 1083 § 2, a Conferência dos Bispos do Brasil estabelece: “Sem licença do bispo diocesano, fora do caso de urgente e estrita necessidade, os párocos ou seus delegados não assistam aos matrimônios de homens menores de dezoito anos ou de mulheres menores de dezesseis anos completos”.[51] 3.3.7. Matrimônio a ser contraído por procurador, mencionado no cân. 1105 O cân. 1105 regula as exigências requeridas quando se pretende contrair matrimônio validamente por meio de procurador. O requisito estabelecido pelo cân. 1071 § 1, nº 7 é que peça a licença ao ordinário do lugar. Obtida a autorização correspondente, há de se exigir: Assim preconiza o cân. 1105: § 1. Para se contrair validamente o matrimônio por meio de procurador, requer-se: 1°- que haja mandato especial para contrair com pessoa determinada; 2°- que o procurador seja designado pelo próprio mandante e exerça pessoalmente seu encargo. § 2. Para que o mandato valha, requer-se que seja assinado pelo mandante e, além disso, pelo pároco ou pelo ordinário do lugar onde se faz a procuração, ou por um sacerdote delegado por um dos dois, ou ao menos por duas testemunhas, ou então, que seja feito por documento autêntico, de acordo com o direito civil. § 3. Se o mandante não puder escrever, anote-se isso no próprio mandato e acrescente-se mais outra testemunha, que também assine o escrito; do contrário, o mandato é nulo. § 4. Se o mandante, antes que o procurador contraia em nome dele, revogar o mandato ou cair em amência, o matrimônio é inválido, mesmo que o procurador ou a outra parte contraente ignore esses fatos. 3.4. OUTRAS PROIBIÇÕES Há ainda outros casos em que o matrimônio se encontra proibido, mas a sua inobservância não implica a nulidade do casamento. Para alguns casos, faz-se necessária a dispensa, como nos casos de matrimônios mistos e voto público temporário ou voto privado de castidade. Existem ainda os casos do matrimônio celebrado secretamente, proibição singular dada pelo ordinário local, matrimônio sob condição, onde é necessária a licença da autoridade competente. Para o caso do matrimônio dos jovens antes da idade, como prescreve o cân. 1072, o cân. deixa a decisão à prudência pastoral do pároco.[52] 3.4.1. A celebração secreta do matrimônio O matrimônio celebrado secretamente comporta que a comprovação da sua legitimidade se faça em segredo. A legislação apresentada sobre o matrimônio a ser celebrado secretamente está nos cânones 1130 a 1133. Assim diz o cân. 1130: “Por causa grave e urgente, o ordinário local pode permitir que o matrimônio seja celebrado secretamente”. E o cân. 1131 ainda completa: 46 A licença de celebrar secretamente o matrimônio implica: 1°- que se façam secretamente as investigações a serem realizadas antes do matrimônio; 2°- que o ordinário local, o assistente, as testemunhas e os cônjuges guardem segredo a respeito domatrimônio. E o cân. 1132 também preceitua: A obrigação de guardar segredo, mencionado no cân. 1131, nº 2, cessa por parte do ordinário local, se, com sua observância, houver perigo iminente de grave escândalo oude grave injúria contra a santidade do matrimônio; disso se dê conhecimento às partes, antes da celebração do matrimônio. E a última recomendação está no cân. 1133, onde diz: “O matrimônio secreto seja anotado somente em livro especial, que se deve guardar no arquivo secreto da cúria”. Para este tipo de celebração, pode ser considerada como causa grave e urgente: quando socialmente se pode julgar que os contraentes já estão casados e o pedido se justificava para não causar escândalo ou estranheza; graves prejuízos econômicos, como questões de herança ou oposição injusta ao matrimônio por parte de antigos namorados, dos pais ou da sociedade. No caso de evitar prejuízos econômicos derivados da legislação civil, no caso de contrair matrimônio, a apreciação da existência de causa suficiente é delicada. A obrigação de guardar segredo cessa por parte do ordinário local, quando a observância do segredo está relacionada a uma grave injúria com relação à santidade do matrimônio ou um grave escândalo. Os contraentes, de comum acordo, podem decidir pela divulgação do matrimônio. Nesse caso, cessa também a obrigação do segredo para os demais conhecedores do caso.[53] 3.4.2. Matrimônios proibidos pelo ordinário local Pode acontecer que a celebração de alguns matrimônios tenha o veto do ordinário local, em alguns casos particulares. Segundo o parecer do cân. 1077 temos: Em caso especial, o ordinário local pode proibir o matrimônio aos seus súditos, onde quer que se encontrem, e a todos os que se achem em seu território; mas isso, só temporariamente, por causa grave e enquanto esta perdura. E o § 2 deste mesmo cânon acrescenta: “Somente a autoridade suprema pode acrescentar uma cláusula dirimente a essa proibição”. Vale lembrar que esta autoridade suprema que o cânon menciona é o Papa ou o Colégio Episcopal. Caso os contraentes se sintam prejudicados ou constatem que esta proibição é injusta, poderão entrar com recurso na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. 3.4.3. Matrimônio celebrado sob condição Determina o cân. 1102 § 3 que a colocação de uma condição de passado ou de presente requer, para a sua liceidade, a licença do ordinário local, dada por escrito. Essa norma tem como base a segurança jurídica; por esta razão, a licença é dada por escrito, em conformidade com os termos em que a condição foi apresentada. Deve tratar-se de uma condição razoável. Contudo, a intervenção do ordinário afeta só a liceidade do matrimônio. Assim diz o cân. 1102 § 1: “Não se pode contrair validamente o matrimônio sob 47 condição de futuro”. A condição de futuro suspende o próprio consentimento das partes, até que venha a ser constatada a condição apresentada. A instauração da vida em comum só deveria ocorrer após a certificação da condição apresentada. Por essa razão, nessas circunstâncias, não se pode contrair validamente o matrimônio.[54] E o mesmo cânon ainda continua: § 2. O matrimônio contraído sob condição de passado ou de presente é válido ou não, conforme exista ou não aquilo que é objeto da condição. § 3. Todavia, a condição, mencionada no § 2, não pode licitamente ser colocada sem a licença escrita do ordinário local. O ideal seria que o consentimento fosse dado de modo absoluto, mas não se pode ignorar o fato de que, às vezes, há pessoas que fazem questão de casar condicionalmente, mesmo que isso não conste em nenhum documento, nem seja conhecido por alguma autoridade eclesiástica. Nem sempre é possível provar posteriormente a existência dessa condição, por isso não se pode ser indiferente à sua existência.[55] 3.4.4. Matrimônio daqueles que emitiram voto público temporário ou voto privado de castidade ou outros votos semelhantes O cân. 1191 § 1 define o voto como uma promessa deliberada e livre de um bem possível e melhor, feita a Deus, que deve ser cumprido em razão da virtude da religião. Diante desta prescrição, caso alguém venha contrair matrimônio na vigência de um voto que, pela sua própria natureza, se opõe ao estado matrimonial, como por exemplo, o voto de castidade no celibato, estará cometendo um pecado grave contra a virtude da religião, muito embora o seu casamento seja válido. Contudo, o matrimônio celebrado será considerado ilícito enquanto a pessoa não obter a dispensa do voto.[56] Esses votos podem também cessar, sobretudo pelo transcurso do tempo, para os que emitiram votos temporários. Para os votos públicos, a dispensa poderá ser concedida pela autoridade competente, em conformidade com o cân. 1196: Além do Romano Pontífice, podem dispensar dos votos particulares, por justa causa, contanto que a dispensa não lese os direitos adquiridos por outros: 1°- o ordinário local e o pároco, em relação a todos os seus súditos e também aos forasteiros; 2°- o Superior de instituto religioso ou de sociedade de vida apostólica, se forem clericais de direito pontifício, em relação aos membros, noviços e pessoas que vivem dia e noite numa casa do instituto ou da sociedade; 3°- aqueles aos quais o poder de dispensar tiver sido delegado pela Sé Apostólica ou pelo ordinário local. 3.4.5. Os matrimônios mistos e disparidade de culto O matrimônio misto é aquele que é celebrado entre um católico e um batizado não católico, ou seja, batizado em outra Igreja cristã. Embora os matrimônios mistos devam merecer uma atenção, a diferença de confissão religiosa não impede o matrimônio. Contudo, faz-se necessário a licença expressa da autoridade competente, como prescreve o cân. 1124. 48 O matrimônio entre duas pessoas batizadas, das quais uma tenha sido batizada na Igreja católica ou nela recebida depois do batismo, e que não tenha dela saído por ato formal, e outra pertencente a uma Igreja ou comunidade eclesial que não esteja em plena comunhão com a Igreja católica, é proibido sem a licença expressa da autoridade competente. Esta proibição atinge a liceidade do casamento, não a sua validade, de tal maneira que, se fosse realizado, a princípio deveria ser considerado válido, pois o batismo une os dois numa comunhão plena. Entretanto, os cônjuges estão obrigados à observância da forma canônica.[57] Havendo uma causa justa e razoável, o ordinário do lugar, por razão de ofício, pode dar a licença para contrair matrimônio. Se não houver uma causa justa e razoável, a licença será nula, mas não o casamento, que se pôde realizar sem a licença devida.[58] O simples fato de estarem ambos decididos a contrair verdadeiro matrimônio entre si já seria uma causa justa e razoável suficiente para não se negar a licença solicitada.[59] Para conceder a licença, o ordinário local, além da causa justa e razoável, deve também certificar: 1. Que a parte católica declare: a) Que está disposta a evitar qualquer perigo de afastar-se da própria fé; b) Que prometa sinceramente que fará tudo quanto lhe for possível para que todos os filhos nascidos daquele matrimônio sejam batizados e educados na Igreja Católica.[60] 2. Que a parte não católica seja: a) Informada, tempestivamente, desses compromissos assumidos pela parte católica; b) Conste que está consciente de que a parte católica assumiu esses compromissos que a obrigam.[61] O cânon ainda prescreve que ambos sejam instruídos sobre a doutrina do matrimônio, seus fins, suas propriedades essenciais,[62] que ambos devem aceitar plenamente. No que se refere ao cân. 1126, a Conferência dos Bispos do Brasil elaborou a seguinte norma: Ao preparar o processo de habilitação de matrimônios mistos, o pároco pedirá e receberá as declarações e compromissos, preferivelmente por escrito e assinados pelo nubente católico. A diocese adotará um formulário especial, em que conste expressamente a disposição do nubente católico de afastar o perigo de vir a perder a fé, bem como a promessa de fazer o possível para que a prole seja batizada e educadana Igreja Católica. Tais declarações e compromissos constarão pela anexação ao processo matrimonial do formulário especial, assinado pelo nubente, ou, quando feitos oralmente, pelo atestado escrito do pároco no mesmo processo. Ao preparar o processo de habilitação matrimonial, o pároco cientificará, oralmente, a parte acatólica dos compromissos da parte católica e disso fará anotação no próprio processo.[63] Diante dessa norma da Conferência Episcopal, para efeito de testemunho documental, o ideal seria que o pároco fizesse uma ata onde consta, de modo oficial, 49 que foi feito tudo conforme prescreve os cânones 1125 e 1129. A parte não católica não precisa assinar, mas o pároco deverá fazer constar que apresentou todas as informações prescritas pela legislação canônica. Essas anotações do pároco são feitas por razão do seu ofício e dignas de credibilidade para eventuais necessidades no futuro. a) A preparação dos nubentes Um casamento misto constitui, objetivamente, um obstáculo à completa fusão espiritual entre os cônjuges, pois entre eles existirá sempre algo bem importante que não é comum: a religião. Daí a necessidade da licença do ordinário local, que não é recusada, sempre que se verifique uma justa causa.[64] No caso dos casamentos mistos, requer, da parte do pároco, uma atenção especial para uma preparação adequada para a recepção do sacramento, em razão das diferenças doutrinais entre as diversas confissões cristãs. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a diferença de confissão religiosa entre os cônjuges não constitui um obstáculo insuperável para o matrimônio, quando eles conseguem pôr em comum o que cada um recebeu na sua comunidade e aprender um do outro o modo como cada um vive a sua fidelidade a Cristo. Mas as dificuldades dos matrimônios mistos nem por isso devem ser subestimadas. Os esposos arriscam ressentir-se do drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto pode agravar ainda mais essas dificuldades. As divergências em relação à fé, o próprio conceito do matrimônio e ainda as diferentes mentalidades religiosas podem constituir uma fonte de tensões no matrimônio, principalmente por causa da educação dos filhos. Pode então surgir uma tentação: a indiferença religiosa.[65] Diante do cumprimento do dever de transmitir a fé católica aos seus filhos, ressalta o Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o Ecumenismo: O cônjuge católico respeitará a liberdade religiosa e a consciência do outro, e terá a preocupação da unidade e da estabilidade do casamento e da preservação da comunhão familiar. Se, apesar de todos os esforços, os filhos não forem batizados nem educados na Igreja Católica, o cônjuge católico não incorre na censura do direito canônico.[66] No entanto, não cessa a obrigação de partilhar a fé católica com os filhos.[67] Nos últimos anos, graças ao movimento ecumênico, as respectivas comunidades cristãs puderam organizar uma pastoral comum para os casamentos mistos. O seu papel consiste em ajudar os casais a viver a sua situação particular à luz da fé. Ela deve também ajudá-los a superar as tensões entre as obrigações dos cônjuges um para com o outro e para com as respectivas comunidades eclesiais. Deve estimular o desenvolvimento do que lhes é comum na fé e o respeito pelo que os divide.[68] Chamamos de casamentos com disparidade de culto aquela união que ocorre entre uma parte católica e a outra parte não batizada. Nesses casos, exige-se uma preparação ainda mais atenta, tendo em vista a complexidade das diferenças no campo da fé. Sobre os casamentos com disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma tarefa particular a cumprir, “porque o marido não crente é santificado pela sua mulher, e a mulher não crente é santificada pelo marido crente”.[69] Será eficaz para o cônjuge 50 cristão e para a Igreja se esta “santificação” levar à conversão livre do outro à fé cristã. O amor conjugal sincero, a prática humilde e paciente das virtudes familiares e a oração perseverante podem preparar o cônjuge não crente para receber a graça da conversão. [70] b) A forma canônica Para os matrimônios mistos, a observância da forma canônica é também obrigatória, contudo, o cân. 1127 deixa a seguinte observação: No que se refere à forma a ser empregada nos matrimônios mistos, observem-se as prescrições do cân. 1108; mas, se a parte católica contrai matrimônio com outra não católica de rito oriental, a forma canônica deve ser observada só para a liceidade; para a validade, porém, requer-se a intervenção de um ministro sagrado, observando as outras prescrições do direito. § 2. Se graves dificuldades obstam à observância da forma canônica, é direito do ordinário local da parte católica dispensar dela em cada caso, consultado, porém, o ordinário local de onde se celebra o matrimônio e salva, para a validade, alguma forma pública de celebração; compete à Conferência dos Bispos estabelecer normas, pelas quais se conceda tal dispensa de modo concorde. § 3. Antes ou depois da celebração realizada de acordo com o § 1, proíbe-se outra celebração religiosa desse matrimônio para prestar ou renovar o consentimento matrimonial: do mesmo modo, não se faça uma celebração religiosa em que o assistente católico e o ministro não católico, executando simultaneamente cada qual o próprio rito, solicitem o consentimento das partes. A Conferência dos Bispos do Brasil, em sua legislação complementar ao cân. 1127 § 2, assim diz: Para se obter uma atuação concorde quanto à forma canônica dos matrimônios, observe-se o seguinte: 1. A celebração dos matrimônios mistos se faça na forma canônica, segundo as prescrições do cân. 1108. 2. Se surgirem graves dificuldades para sua observância, pode o ordinário do lugar da parte católica, em cada caso, dispensar da forma canônica, consultando o ordinário local sobre onde se celebrará o matrimônio. Consideram-se dificuldades graves: a) sério conflito de consciência em algum dos nu-bentes; b) perigo próximo de grave dano material ou moral; c) oposição irredutível da parte não católica, oude seus familiares, ou de seu ambiente mais próximo. 3. Atenda-se também, na concessão da dispensa, à repercussão que possa ter junto à família e comunidade da parte católica. 4. Em substituição da forma canônica dispensada, exigir-se-á dos nubentes – para a validade do matrimônio – alguma forma pública de celebração. 5. Quanto à anotação dos matrimônios celebrados com dispensa da forma canônica, observe-se o procedimento prescrito no cân. 1121 § 3.[71] Fazendo uma referência aos casamentos mistos, assim orienta a Conferência dos Bispos: Cabe ao bispo, aos párocos e a todo o povo de Deus ajudar o cônjuge católico e os filhos nascidos do matrimônio misto no desempenho de suas obrigações e na educação da fé, sempre visando desenvolver a unidade da vida conjugal e familiar, que tem fundamento no batismo cristão que ambos os cônjuges receberam.[72] 51 Seguindo esta mesma linha, preconiza o cân. 1128: Os ordinários locais e os outros pastores de almas cuidem que não faltem ao cônjuge católico e aos filhos nascidos de matrimônio misto o auxílio espiritual para as obrigações que devem cumprir, e ajudem os cônjuges a alimentarem a unidade da vida conjugal e familiar. c) A forma litúrgica Quanto à forma litúrgica para a celebração do matrimônio misto, usa-se o rito do matrimônio sem missa. Com a prévia autorização do ordinário do lugar, o celebrante católico, se for convidado, pode estar presente ou participar de alguma maneira na celebração do casamento, desde que a dispensa da forma canônica tenha sido concedida. Neste caso, só pode haver uma única cerimônia em que a pessoa que preside receberá o mútuo consentimento dos esposos.[73] Sendo solicitado pelas partes, “o ordinário local pode permitir que o padre católico convide o ministro da Igreja ou da Comunidade Eclesial da parte não católica a participar na celebração do casamento, fazer uma leitura bíblica, fazer uma breve exortação e abençoar o casal”.[74] Comonorma comum, aconselha-se que o casamento misto deva ser celebrado fora da liturgia eucarística, porque podem surgir problemas em relação à partilha eucarística, pela presença de testemunhas ou de convidados não católicos. Contudo, o Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo ressalta que, por uma causa justa, o bispo da diocese pode permitir a celebração da eucaristia.[75] Assim sendo, com a permissão do bispo do lugar, pode-se usar o rito do matrimônio na missa.[76] Embora os esposos de um casamento misto tenham em comum os sacramentos do batismo e do matrimônio, a partilha eucarística é uma exceção e deve observar-se, em cada caso, as normas estabelecidas pelo próprio direito.[77] 52 4. ALGUMAS DENOMINAÇÕES CANÔNICAS DO MATRIMÔNIO O cân. 1061 § 1 assim prescreve: O matrimônio válido entre os batizados chama-se só ratificado, se não foi consumado; ratificado e consumado, se os cônjuges realizaram entre si, de modo humano, o ato conjugal apto por si para a geração de prole, ao qual por sua própria natureza se ordena o matrimônio, e pelo qual os cônjuges se tornam uma só carne. § 2. Se os cônjuges tiverem coabitado após a celebração do matrimônio, presume-se a consumação, enquanto não se prova o contrário. § 3. O matrimônio inválido chama-se putativo, se tiver sido celebrado de boa-fé ao menos por uma das partes, enquanto ambas as partes não se certificarem de sua nulidade. Observa-se aqui os nomes apresentados pela tradição canônica acerca de certos tipos de matrimônio: matrimônio válido, sua consumação ou não consumação. O matrimônio nulo e a boa-fé de pelo menos um dos contraentes. O cânon ainda fala sobre os conceitos e os requisitos da consumação. Assim sendo, podemos afirmar: Para que o matrimônio seja considerado válido, faz-se necessário cumprir os requisitos legais estabelecidos pelo direito. Chamamos também de: a) Matrimônio ratificado e não consumado: quando os cônjuges ainda não realizaram o ato conjugal. b) Matrimônio ratificado e consumado: quando os cônjuges realizaram, de modo humano, o ato conjugal. c) Matrimônio inválido: quando objetivamente não existe o vínculo matrimonial. Esse matrimônio, celebrado na boa-fé, pelo menos da parte de um dos nubentes, recebe o nome de putativo, quando se pensa que é válido, enquanto os dois cônjuges presumidos não forem conscientes da nulidade.[1] Para ocorrer o matrimônio inválido, é preciso que haja aparência de verdadeiro matrimônio, ou seja, só pode ser considerado matrimônio putativo o matrimônio inválido celebrado “em face da Igreja”, quer dizer, na forma prescrita pela lei canônica. d) Matrimônio inexistente: é aquela união formalizada apenas segundo a lei civil. 4.1. A CONSUMAÇÃO DO MATRIMÔNIO O Código fala sobre a consumação do matrimônio no cân. 1061 § 2: “Se os cônjuges tiverem coabitado após a celebração do matrimônio, presume-se a consumação, enquanto não se prova o contrário”. Dentre as propriedades essenciais do matrimônio está a indissolubilidade. Duas são 53 as características que devem existir para um matrimônio ser considerado indissolúvel: de um lado, o caráter sacramental, que é o matrimônio rato e, de outro, a consumação. Com efeito, no momento em que um desses requisitos falta, o matrimônio pode ser dissolvido. O matrimônio ratificado não é nada mais que o matrimônio celebrado validamente. Sobre esse matrimônio, certifica o cân. 1141: “O matrimônio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa além da morte”. A ausência da consumação é o que fundamentará a dissolução do matrimônio não consumado por dispensa, conhecida comumente como “dispensa super rato”. Apesar da denominação, não se trata de autêntica dispensa e, ademais, pode-se dar a dissolução de um matrimônio rato e não consumado no caso em que o vínculo conjugal não seja sacramental. Na dispensa super rato não se relaxa a norma da indissolubilidade do matrimônio, mas desaparece o matrimônio em si, ou seja, o vínculo conjugal. Trata-se de uma dispensa “ad casum”, que atua por via da graça e não da justiça. A dispensa de matrimônio ratificado e não consumado pode aplicar-se tanto ao matrimônio entre batizados como ao matrimônio entre uma parte batizada e outra não batizada. Essa possível dissolução é reconhecida no cânon 1142: “O matrimônio não consumado entre batizados, ou entre parte batizada e parte não batizada, pode ser dissolvido pelo Romano Pontífice, a pedido de ambas as partes ou de uma delas, ainda que a outra se oponha”. Quatro são os requisitos exigidos explicitamente pelo cânon 1142 para que seja possível esta dissolução: 1) Matrimônio celebrado validamente; 2) O batismo de, pelo menos, um dos cônjuges; 3) A não consumação do matrimônio; 4) A justa causa. O matrimônio não estará consumado se não se produziu a cópula conjugal após a sua válida celebração. A cópula perfeita, que implica a consumação do matrimônio, consiste na realização, de modo humano, do ato conjugal apto a gerar prole. Portanto, o matrimônio só é consumado quando os cônjuges realizam a relação carnal. A jurisprudência entende por ato conjugal a penetração do membro viril, com ejaculação, no interior da vagina.[2] Diante disso, pode-se afirmar que não houve consumação se o casal fez, por exemplo, uso de preservativo. Os cônjuges devem realizar a cópula consciente e livremente; portanto, também não é considerado consumado um matrimônio se a cópula entre os esposos ocorreu movida pela violência, pela fraude ou num momento de transtorno mental transitório. Outro requisito necessário para a aplicação da dispensa super rato é a justa causa, que também será objeto de investigação ao longo do procedimento que precede a dispensa. A justa causa, a codificação atual, é estabelecida no cân. 1698: “§ 1. Unicamente a Sé Apostólica conhece o fato da não consumação do matrimônio e da existência de justa causa para a concessão da dispensa. § 2. A dispensa, porém, só é 54 concedida pelo Romano Pontífice”. Dentro da doutrina canônica, pode-se citar alguns exemplos de justa causa: a) Divergências das partes sem esperança de reconciliação; b) Temor de um provável escândalo futuro; c) Provável suspeita de impotência; d) Matrimônio civil de uma das partes; e) Indício da falta de consentimento ou de outro impedimento dirimente; f) Possibilidade de contrair enfermidade contagiosa; g) Pedido de dispensa de ambos os cônjuges. 55 5. OS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES Os impedimentos assinalam uma limitação do direito fundamental de casar e ter filhos, próprio da dignidade do ser humano, o que supõe a grandeza do matrimônio e impossibilitando o uso indevido das coisas sagradas. A legislação canônica prescrita no cân. 1057 estabelece que o matrimônio é produzido pelo consentimento das partes legitimamente manifestado entre pessoas juridicamente hábeis. Já o cân. 1058 acentua que podem contrair matrimônio todos aqueles não proibidos pelo direito. Essas prescrições do direito mostram que a autoridade pode fazer inábil o ato consensual quando as pessoas não cumprem as condições estabelecidas pelo legislador. O impedimento dirimente pressupõe a capacidade natural ao matrimônio, mas a lei positiva faz juridicamente inábil a pessoa para contrair matrimônio, que seria uma capacidade natural para realizar tal ato.[1] O impedimento surge de uma lei que faz inábil a pessoa para contrair validamente o matrimônio, mas essa lei está fundada sobre um fato ou circunstância objetiva que afeta a pessoa do contraente.[2] Circunstância esta que se converte em impedimento pela própria natureza do matrimônio ou por uma lei estabelecida pela Igreja. 5.1. NOÇÃO E ESPÉCIES DE IMPEDIMENTOS Em conformidade com a legislação em vigor, esses impedimentos, em sentido estrito, afetam a validade do matrimônio: caso contrário, não seria um impedimento em sentido legal. O direito a contrair matrimônio não é um direito absoluto e ilimitado, mas está submetido a certas restrições com o objetivo de salvaguardar os valores do matrimônio e a sua importância,em conformidade com a própria instituição matrimonial e familiar. Por impedimentos se entende a proibição legal de contrair matrimônio com certas pessoas, em razão de certos fatos ou circunstâncias, que podem estar relacionados à idade, ao parentesco, homicídio, adoção etc. A força jurídica do impedimento está em evitar que alguém venha contrair matrimônio, sem uma prévia dispensa, o que faz com que o matrimônio celebrado seja inválido. Esses impedimentos afetam a validez do matrimônio, como ressalta o cân. 1073: “O impedimento dirimente torna a pessoa inábil para contrair validamente o matrimônio”. O cânon sublinha que o impedimento “torna inábil” a pessoa, isto é, torna-a incapaz para contrair validamente o matrimônio. Em qualquer caso, o importante do ponto de vista prático não é a qualificação exata da natureza jurídica desses obstáculos, que, em 56 última análise, são os resultados de uma classificação legal, com toda a evolução histórica e doutrinal que lhe está subjacente, mas a consideração de que o matrimônio assim contraído é nulo. 5.1.1. A classificação dos impedimentos Quanto a seus feitos, classificam-se em dirimentes e impedientes. Chamam-se dirimentes aqueles cuja violação torna o matrimônio inválido. Os impedientes, ao contrário, são os que tornam o matrimônio ilícito, sem que dessa transgressão decorra a perda da validade. Essa classificação tem pleno alcance também no âmbito do direito civil. O Código de 1983 suprimiu os impedimentos impedientes, conservando apenas os dirimentes.[3] a) Em razão da sua origem, podem ser: Direito divino (natural) – É o impedimento proveniente pela própria natureza do matrimônio, como o vínculo de um matrimônio precedente,[4] a impotência coeundi[5] e consanguinidade no primeiro grau da linha reta.[6] Não podem ser dispensados. Direito eclesiástico (positivo) – Todos os impedimentos de direito eclesiástico são dispensáveis, exceto em relação à ordem episcopal, quando a Igreja não costuma dispensar. Casos: idade;[7] disparidade de culto;[8] ordem sagrada;[9] voto religioso;[10] rapto (ou sequestro);[11] crime;[12] consanguinidade;[13] afinidade;[14] pública honestidade;[15] parentesco legal.[16] b) Por sua extensão, podem ser: Caráter absoluto – quando impedem o matrimônio com qualquer pessoa, como seria o caso do impedimento em razão do sacramento da ordem; ou quando impedem o matrimônio com uma pessoa determinada, como por exemplo, em razão do parentesco. Caráter relativo – quando o impedimento está relacionado a uma pessoa afetada, podendo o interessado contrair matrimônio com outra pessoa. c) Por sua duração, podem ser: Caráter temporal – como ocorre no caso do impedimento do menor de idade. Caráter perpétuo – quando o impedimento não desaparece com o transcurso do tempo, como sucede no caso do impedimento em razão de homicídio. d) Por sua forma de divulgação Públicos – chamam-se públicos os que podem provar-se no foro externo. Ocultos – quando houve ausência de publicidade do fato. O código faz uma referência à distinção entre impedimentos públicos e ocultos. O cân. 1074 assinala o seguinte: “Considera-se público o impedimento que se pode provar no foro externo; caso contrário, é oculto”. Isso quer dizer, portanto, que o impedimento 57 será público ou oculto não em função, primordialmente, da sua divulgação de fato, mas da possibilidade de prova no foro externo. De qualquer modo, noutros cânones do Código, por exemplo, o cân. 1080 § 1; o cân. 1082, o termo “oculto” parece ter o sentido vulgar, isto é, a não difusão nem o risco de que se produza. 5.1.2. A autoridade competente para estabelecer impedimentos O cân. 1075 § 2 estabelece ser “direito exclusivo de a autoridade suprema estabelecer outros impedimen-tos para os batizados”. Mas a Igreja, pela missão que Cristo lhe confiou, pode declarar uma lei divina, por essa razão o cân. 1075 § 1 preconiza: “Compete exclusiva-mente à autoridade suprema da Igreja declarar autenticamente em que casos o direito divino proíbe ou dirime o matrimônio”. De acordo com a Constituição Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, entende-se como suprema autoridade da Igreja o Papa e o Colégio episcopal unido à sua cabeça.[17] Não são passíveis de dispensa as leis de direito divino, mas apenas as de natureza eclesiástica. E o cân. 1078 § 1 delegou ao ordinário local a faculdade de dispensar os paroquianos de todos os impedimentos de direito eclesiástico. Essa concessão também aplica-se a todos os que concretamente vivam dentro da mesma jurisdição territorial. O princípio fundamenta-se na autoridade do ordinário local; a exceção está contemplada no mesmo cân. 1078 § 2: “Os impedimentos cuja dispensa se reserva à Sé Apostólica são: 1° - o impedimento proveniente de ordens sagradas ou do voto público perpétuo de castidade num instituto religioso de direito pontifício; 2° - o impedimento de crime mencionado no cân. 1090”. A dispensa é a liberação do cumprimento de uma lei, de caráter puramente eclesiástico, e é sempre concedida, visando ao bem espiritual dos contraentes. 5.1.3. A dispensa dos impedimentos em situação de perigo de morte Como foi observado, o ordinário do lugar pode dispensar de todos os impedimentos de direito eclesiástico, exceto aqueles que são reservados à Santa Sé, contudo, nos casos de perigo de morte, o cân. 1079 amplia a sua faculdade. É preciso notar que se refere a urgente mortis periculo e não à situação de articulo mortis. Deve entender-se que existe grande probabilidade de que esse perigo resulte em morte, mas a gravidade não será de natureza a fazer supor que a sobrevivência possa constituir um fato excepcional. Normalmente é o que sucede nos casos de certas cirurgias delicadas que comportam risco, doenças que possam apresentar complicações e risco de morte, guerra iminente etc.[18] A noção de perigo de morte não implica necessariamente que se produza a morte, mas que exista uma situação onde é provável que a pessoa possa morrer.[19] A jurisdição do ordinário local vê-se ampliada, podendo ele conceder dispensa de todos os impedimentos de direito eclesiástico, públicos ou ocultos, mesmo os reservados à Sé Apostólica, com exceção do impedimento que surge da ordem sagrada 58 do presbiterato. Com isto, significa que, no caso do diaconato, do voto público perpétuo de castidade, emitido em um instituto religioso de direito pontifício, bem como no caso do impedimento em razão de crime, o ordinário pode conceder dispensa.[20] 5.1.4. O poder de dispensar do pároco e de outros ministros O código estende ao pároco, ao ministro sagrado devidamente designado e ao sacerdote, o diácono que assiste o matrimônio, em um caso de perigo de morte, as mesmas faculdades do ordinário, mas somente para a situação em que não é possível recorrer ao ordinário local.[21] O cân. 1079 § 3 amplia essa faculdade, atribuindo-a ao confessor, embora fique restrita aos impedimentos ocultos, relativos ao foro interno. Assim estabelece o cân. 1080: “§ 1. Sempre que o impedimento se descobre quando tudo já está preparado para as núpcias, e o matrimônio não pode ser adiado sem provável perigo de grave mal, até que se obtenha a dispensa da autoridade competente, tem o poder de dispensar de todos os impedimentos, exceto os mencionados no cân. 1078, § 2, n. 1, o ordinário local e também todos os mencionados no cân. 1079, §§ 2 e 3, observadas as condições aí prescritas”. O cân. 1080 refere-se ao “provável perigo de mal grave”, pelo qual não se pode adiar o matrimônio. Este mal pode representar um dano patrimonial, moral, escândalo etc. Nestas circunstâncias, e estando tudo já preparado para o casamento, não é possível obter a dispensa sem adiar o matrimônio, do qual se seguiria o grave mal, também nestes casos, fica ampliada a faculdade de dispensa do ordinário, como no caso de perigo de morte, mas com a limitação apresentada pelo cân. 1078 § 2, 1º (impedimento proveniente de ordens sagradas ou de voto público perpétuo de castidade em instituto religioso de direito pontifício). Neste caso não cabedispensa da forma canônica, ao contrário do que ocorria no caso anterior.[22] Essa faculdade aplica-se, igualmente, aos ministros, segundo o cân. 1079, § 2, 2º e 3º, sempre e quando o caso seja oculto. O confessor, no caso de perigo de morte, ou no caso perplexo, tem o poder de dispensar dos impedimentos ocultos no foro interno.[23] Além disso, as três questões interpretativas que se poderiam propor acerca deste preceito legal estão já bem resolvidas pela doutrina e pela praxe anteriores. De modo concreto: 1) Deve considerar-se que o impedimento “se descobre” quando chega ao conhecimento do pároco ou do ordinário, apesar de que antes o conheceram outras pessoas. 2) Deve se entender que “já está tudo preparado para as núpcias”,[24] quando se levaram a cabo todas as formalidades canônicas preliminares, cuja regulação precisa compete às Conferências episcopais.[25] 3) Deve entender-se por “caso oculto” a não divulgação de fato do impedimento. É importante o registro desses procedimentos e, por isso, exige-se que aquele que foi 59 dispensado dos impedimentos, sem recorrer ao ordinário do lugar, deve informar da dispensa dada no foro externo para que possa ser registrada no livro de casamentos[26] e, se a dispensa foi dada pela Penitenciaria Apostólica, a dispensa do impedimento oculto para o foro interno deve ser anotada no livro secreto que, para essa finalidade, deve existir na Cúria.[27] Se esse impedimento dispensado vir a deixar de ser oculto, não será necessária nova dispensa.[28] 5.2. OS IMPEDIMENTOS EM ESPECIAL O Código de direito canônico estabelece doze impedimentos dirimentes que passaremos a estudar nas páginas a seguir. Todos esses impedimentos já estavam prescritos também no código de 1917. Passemos a analisar cada um dos impedimentos com suas consequências jurídicas. 1. Impedimento de idade Segundo a legislação canônica, não pode contrair matrimônio válido o homem antes dos 16 anos de idade, nem a mulher antes dos 14 anos. Ao mesmo tempo, o preceito legal estabelecido pelo cân. 1083 adverte que as Conferências episcopais podem estabelecer uma idade superior, mas só para a lícita celebração do matrimônio. O impedimento de idade é temporário, cessando pelo transcurso do tempo. Também pode ocorrer a dispensa por parte do ordinário local, sempre que houver uma causa justa. Como ocorre com as demais dispensas concedidas, também neste caso, faz-se necessário constar um amadurecimento psicológico mínimo na pessoa a ser dispensada, para que possa compreender os deveres e as obrigações próprias da vida conjugal. Parece muito lógico, além disso, a competência atribuí-da às Conferências episcopais relativamente à possibilidade de elevar a idade “para a celebração lícita do matrimônio”.[29] Desse modo, os critérios fundamentais que estão na base desse impedimento: a necessária maturidade psíquica e biológica dos contraentes pode ser observada, em conformidade com as circunstâncias ambientais e culturais específicas de cada país. Além disso, a possível elevação da idade por parte das Conferências episcopais não poderia afetar em nenhum caso a validade do matrimônio. No Brasil, a Conferência dos Bispos determinou que ninguém contraia matrimônio antes dos 16 anos, para as mulheres, e os 18, para os homens.[30] Essa idade mínima estabelecida está em conformidade com a legislação civil e assim cumpre com a prescrição do cân. 1072, que exorta os pastores de almas a “dissuadir da celebração do matrimônio os jovens que ainda não atingiram a idade em que, segundo os costumes da região, se costuma contrair”. Segundo a legislação canônica, atinge-se a maioridade aos 18 anos.[31] Contudo, levando em conta as normas do cân. 1095, não basta ao menor ter a idade mínima para 60 contrair matrimônio, é indispensável também o consentimento paterno. É o que emerge do cân. 1071 § 1, que pressupõe tal anuência. Se os pais ignoram essa circunstância ou se opõem razoavelmente à realização do matrimônio, caberá ao ordinário local conceder a autorização.[32] É importante ter em conta que, caso tenha ocorrido a celebração de um matrimônio antes da idade mínima estabelecida, não se convalida pelo mero transcurso do tempo, mas, para convalidá-lo, se requer a convalidação simples ou a sanatio in radice.[33] 2. Impedimento de impotência É a impotência que afeta a pessoa que é incapaz de rea-lizar o ato conjugal. O cân. 1084 § 1 frisa: “A impotência coeundi, antecedente e perpétua, por parte do homem ou por parte da mulher, absoluta ou relativa, dirime o matrimônio por sua própria natureza”. A palavra coeundi tem a mesma raiz da palavra “coito”, é um gerúndio do verbo coire, que significa a ação de copular ou unir-se sexualmente. Consequentemente, a impotência que aqui é declarada impedimento é a incapacidade para realizar a cópula conjugal.[34] O cânon ainda diz: “...dirime o matrimônio por sua própria natureza”, o que indica que a impotência é um impedimento de Direito divino-natural. Portanto não é dispensável. A impotência é a incapacidade para realizar o ato conjugal; isto é, a incapacidade para realizar a cópula com todos os seus elementos essenciais, tal como estão configurados pela natureza.[35] A esterilidade, por sua vez, designa os defeitos que impossibilitam a geração, mas sem afetar o ato conjugal. Segundo o teor do cân. 1087 § 3, a esterilidade não está configurada como um impedimento, mas pode constituir um dolo, segundo a prescrição do cân. 1098. Para que a impotência constitua impedimento, faz-se necessário observar o seguinte: a) A impotência há de ser antecedente ao matrimônio, isto é, a pessoa há de ter esse defeito no momento de contrair matrimônio e não tê-lo adquirido depois. Assim sendo, se depois da manifestação do consentimento, uma das partes resulta impotente por algum trauma, ou por um acidente, esse matrimônio é válido, já que a pessoa era potente no momento de manifestar o consentimento matrimonial.[36] b) Essa impotência deve ser perpétua, tomando o termo no seu sentido jurídico, isto é, há de ser incurável por meios ordinários, lícitos e não perigosos para a vida ou gravemente prejudiciais para a saúde. Pode ocorrer que uma impotência possa ser curada por meios opostos à moral e com intervenções perigosas para a vida ou a saúde da pessoa, nesses casos, ainda que seja curável clinicamente, deve ser considerada canonicamente perpétua. c) E também deve ser absoluta ou relativa. Por absoluta, quer dizer uma impotência tal que impede a pessoa de realizar o ato conjugal com qualquer pessoa do sexo oposto, assim, por exemplo, seria impotente o homem que, por um defeito de 61 nervosismo, não consegue ereção, ou uma mulher que, por uma má formação congênita, venha carecer de vagina. Relativa, por outro lado, se se refere à impossibilidade do ato conjugal com determinadas pessoas, como, por exemplo, quando um não pode realizar o ato sexual com seu próprio cônjuge por razões psicológicas ou físicas.[37] Essa impotência deve ainda ser certa; o § 2 do cân. 1084 nos diz que, em caso de dúvida, de fato ou de direito, não se deve impedir o matrimônio, nem mesmo se persistir a dúvida, ser motivo de nulidade. O preceito legal assinala, na verdade, que, enquanto persistir a dúvida, de direito ou de fato, sobre a impotência, não se pode declarar a nulidade do matrimônio;[38] cláusula que poderia parecer supérflua visto que o matrimônio goza do favor do direito.[39] Como havia sido posto em relevo nos trabalhos preparatórios do Código, foi estabelecida expressamente “para conseguir uma jurisprudência uniforme nesta matéria”.[40] Deve-se, ainda, observar o parecer da Congregação para a Doutrina da Fé, de 13 de maio de 1977, que veio resolver a controvertida questão dos vasectomizados e outros casos semelhantes; isto é, o tema do verum semen. O decreto esclarece que a ejaculatio seminis in testiculis elaborati não requer necessariamente para a validade da cópula conjugal. O decreto apresenta três aspectos fundamentais, relacionados intimamente com os elementos propriamente humanose, consequentemente, também jurídicos, do ato conjugal: a) A voluntariedade da cópula conjugal, que deve ser realizada de modo humano, como assinala o cân. 1061 §1. b) A consideração de que integrante essencial da cópula não é tanto o sêmen transmitido como o ato de transmissão. Como foi assinalado com precisão pela doutrina, é elemento essencial da cópula perfeita que se dê, de maneira suficientemente completa, o ato de transmissão que, de per si, está ordenado para a fecundação; isto é, que faz parte do natural processo generativo. Isto quer dizer que a potência sexual, como capacidade jurídica, é reconduzida à capacidade de transmitir o líquido seminal, independentemente da sua composição, normal ou defeituosa. c) Pelo fim da geração não há de entender-se, primordialmente, a procriação efetiva dos filhos, mas, como sublinharam os clássicos com precisão, a spes prolis, como a ordenação do matrimônio para a geração da prole, ordinatio ad prolem, em última análise, depende da atividade propriamente humana dos côn-juges. A impotência pode ter uma causa orgânica, ou seja, um defeito dos órgãos reprodutivos ou funcionais, que apresentam alguns defeitos em seu exercício, e pode ter uma origem psíquica ou num transtorno nervoso. Por essa razão, deve-se observar uma série de requisitos para que possa configurar o impedimento. Finalmente, o § 3 do cân. 1084 assim diz: “A esterilidade não proíbe nem anula o 62 matrimônio, sem prejuízo do prescrito no cân. 1098”. Uma vez que a impotência consiste numa incapacidade de realizar a cópula conjugal e a esterilidade, numa incapacidade de gerar, torna-se claro que não há razão para confundir. A esterilidade consiste, pois, numa incapacidade de gerar e pode ser causada, no homem, por falta de espermatozoides ou porque estes não podem ser ejaculados em virtude da ligação dos canais deferentes ou qualquer outra enfermidade. No final do § 3 do cân 1098, encontra-se uma cláusula nova: “Sem prejuízo do que se prescreve no cân 1098”. Com tal cláusula, o cân. 1068 § 3 sugere, nitidamente, que a esterilidade pode ser uma dessas qualidades que, por sua natureza, a teor do cân. 1098, “possa perturbar gravemente a vida conjugal”. E que, portanto, quando ocultada por dolo incutido para obter o consentimento matrimonial, pode viciar irremediavelmente o consentimento matrimonial. Trata-se de um impedimento que, por se tratar de um direito natural, não é dispensável. 3. Impedimento de vínculo O impedimento de vínculo ou ligame está regulado no cân. 1085, que diz expressamente: “Tenta invalidamente contrair matrimônio quem está ligado pelo vínculo de matrimônio anterior, mesmo que este matrimônio não tenha sido consumado”. Este impedimento é de Direito divino-natural, ao ser consequência das propriedades essenciais do matrimônio,[41] especialmente da unidade, que, além disso, foram expressamente confirmadas por Cristo Senhor.[42] Esse impedimento, por ser de direito divino, não pode cessar por dispensa. Cessa pela morte de um dos cônjuges ou por alguma das excepcionais formas de dissolução previstas na legislação canônica. O cân. 1085 § 2 ressalta que, antes de contrair um novo matrimônio, é necessário que conste legitimamente e com certeza moral a nulidade ou dissolução do anterior. Caso tenha ocorrido o falecimento de uma das partes, basta apresentar a certidão de óbito ou, se desapareceu, em circunstâncias que possam permitir que se presuma a sua morte, seja apresentado um decreto do Bispo diocesano, declarando a morte presumida, em conformidade com o cân. 1707. Este impedimento supõe a existência de um matrimônio válido, celebrado em conformidade com as normas eclesiásticas. Logicamente, o vínculo matrimonial subsiste. Isso ocorre até o momento em que ele venha se dissolver com a morte de um dos cônjuges, pela declaração de nulidade do matrimônio anterior, por dispensa pontifícia,[43] ou por aplicação do privilégio da fé.[44] 4. Impedimento de disparidade de culto O impedimento de disparidade de culto é regulado no cân. 1086, que assim diz: “§ 1. É inválido o matrimônio entre duas pessoas, uma das quais tenha sido batizada na Igreja Católica ou 63 nela recebida e que não a tenha abandonado por um ato formal, e outra que não é batizada. § 2. Não se dispense desse impedimento, a não ser após cumpridas as condições mencionadas nos câns. 1125 e 1126. § 3. Se, no tempo em que se contraiu matrimônio, uma parte era tida comumente como batizada ou seu batismo era duvidoso, deve-se presumir a validade do matrimônio, de acordo com o cân. 1060, até que se prove com certeza que uma das partes era batizada e a outra não. A base deste impedimento tem a sua origem na própria Sagrada Escritura, onde é possível constatar algumas proibições conjugais.[45] Os apóstolos conservavam e incentivavam entre os cristãos que se casassem no Senhor, ou seja, que os casamentos fossem feitos entre os cristãos,[46] tendo em vista a partilha na fé,[47] mesmo que Pedro espere que a fé do irmão possa atrair o pagão e fazer com que se converta.[48] O Papa Paulo VI já prescrevia: “O matrimônio celebrado entre duas pessoas, uma das quais tenha sido batizada na Igreja Católica, ou tenha sido recebida nela, e a outra não esteja batizada, é inválido se se celebra sem prévia dispensa do ordinário do lugar”. [49] Por sua vez, o § 1 do cân. 1086 utiliza praticamente esses mesmos termos, mas acrescentando, relativamente à parte católica, um pressuposto necessário para que subsista o impedimento: que não tenha abandonado a Igreja Católica por ato formal. O fundamento desse impedimento está na defesa da fé da parte católica e da paz entre os cônjuges. A comunhão íntima de toda a vida, que constitui a essência do matrimônio, fica dificultada pela separação existente num campo tão fundamental como a religião. Requisitos a serem preenchidos para a parte católica e para a parte não católica: 1) Parte católica: Por ter sido batizada validamente na Igreja Católica; ou por ter sido recebida nela proveniente de outra confissão cristã não em plena comunhão com a Igreja Católica, o cân. 1086 acrescenta-se uma cláusula onde diz que só afeta o impedimento se a parte católica: não abandonou a sua fé por um ato formal. O significado da expressão “ato formal” pode ser entendido como um abandono formal, no sentido estrito do termo, da Igreja Católica; um afastamento público dos princípios católicos e, ao mesmo tempo, a afiliação a uma confissão acatólica, declaração diante das autoridades eclesiásticas do afastamento formal etc. Isto é, um ato do qual inequivocamente se deduza o afastamento formal da Igreja Católica. Por outro lado, muitos autores coincidem em que o abandono da Igreja por um ato formal é uma situação distinta do abandono notório da fé católica,[50] já que o uso de verbos distintos corresponde a conceitos distintos.[51] Para que exista então o ato formal, é necessário que exista um ato jurídico ou ato positivo da vontade com as suas características e requisitos: que seja uma vontade expressa em conformidade com a sua intenção. Assim seria a declaração que a pessoa formula com o ânimo de que conste sua decisão de não pertencer à Igreja Católica. A doutrina assinala como exemplos a afiliação a uma confissão não católica, ou a declaração diante da autoridade eclesiástica de deixar de professar a religião católica. [52] 64 2) Parte não católica: Para a parte não católica, se requer que não tenha sido batizada validamente, ou porque nunca foi batizada, ou porque o batismo não foi válido. Por ser um impedimento de direito eclesiástico, é possível a sua dispensa, e compete ao ordinário do lugar concedê-la, observando as condições estabelecidas pelos cânones 1125-1126. a) a parte católica deve declarar-se disposta a afastar o perigo de perder a fé e formular a promessa sincera de fazer o possível para batizar e educar a prole na Igreja Católica; b) a parte não católica deve ser informada de tal maneira que conste que está consciente da promessa e obrigação da parte católica; c) as duas partesdevem ser instruídas acerca dos fins e propriedades essenciais do matrimônio, que não devem ser excluídos pelas partes. 5. Impedimento de ordem sacra O cân. 1087 frisa: “Tentam invalidamente o matrimônio os que receberam ordens sagradas”. Esse impedimento tem uma longa tradição na Igreja e tem o seu fundamento no celibato eclesiástico que, por sua vez, se apoia na Sagrada Escritura, e a sua tradição remonta aos primeiros séculos, sendo confirmado repetidas vezes pelo Magistério da Igreja.[53] O cân. 277 também prescreve: § 1. Os clérigos são obrigados a observar a continência perfeita e perpétua por causa do Reino dos céus; por isso, são obrigados ao celibato, que é um dom especial de Deus, pelo qual os ministros sagrados podem mais facilmente unir-se a Cristo de coração indiviso e dedicar-se mais livremente ao serviço de Deus e dos homens. Este impedimento compreende o episcopado, o presbiterato e o diaconato.[54] O cân. 1087 não faz diferença entre os diáconos candidatos ao presbiterato e os diáconos permanentes que receberam o diaconato já casados, de modo que, se o diácono permanente vier a ficar viúvo, fica ele também impedido de contrair novo matrimônio. Quanto à perda da condição clerical, são fundamentais os câns. 290-293; e deve sublinhar-se que, a teor do cân. 291, exceto nos casos em que se declare a invalidade da ordenação,[55] a perda do estado clerical não leva consigo a dispensa da obrigação do celibato, que só pode ser concedida pelo Romano Pontífice, depois de um procedimento regulado nas Normas da Congregação para a Doutrina da Fé, de 14 de outubro de 1980. O atentado ao matrimônio por parte do ordenado leva consigo, imediatamente, a remoção do ofício eclesiástico,[56] e incorre na pena de suspensão latae sententiae; e se, convenientemente admoestado, o sujeito não retifica, pode ser castigado com outras penas que podem chegar até a expulsão do estado clerical.[57] Este impedimento, por ser de direito eclesiástico, é susceptível de dispensa, reservada à Sé Apostólica.[58] 65 6. Impedimento de profissão religiosa O cân. 1088 estabelece: “Tentam invalidamente o matrimônio os que estão ligados por voto público perpétuo de castidade num instituto religioso”.[59] Mesmo que a fundamentação radical desse impedimento esteja em conexões com o Direito divino, já que quem faz uma “promessa deliberada e livre [...] a Deus”[60] está obrigado a cumpri-la pela virtude da religião, todavia, como a figura que invalida o matrimônio é de Direito humano, daí resulta que tenha lugar a sua dispensa, embora esteja reservada ao Romano Pontífice quando se trata de um instituto religioso de Direito pontifício.[61] Para o religioso pertencente a um instituto de direito diocesano, o próprio bispo diocesano poderá conceder a dispensa.[62] O impedimento pode cessar: a) pelo trânsito dos membros de um instituto religioso para um instituto secular ou para uma sociedade de vida apostólica,[63] já que, depois da nova incorporação, cessam os votos, direitos e obrigações prece-dentes; b) pelo indulto de saída legitimamente concedido ao religioso de votos perpétuos, que, uma vez notificado ao membro do instituto, leva consigo por próprio direito a dispensa dos votos e de todas as obrigações provenientes da profissão, a não ser que, no ato da notificação, fosse rejeitado o indulto pelo próprio membro;[64] c) por expulsão do religioso,[65] já que, a teor do cân. 701, “pela demissão legítima cessam automaticamente os votos e ainda os direitos e obrigações que procedam da profissão”. d) Se o interessado recebeu, além disso, a ordem sagrada, fica afetado também especificamente por este último impedimento e, portanto, deve solicitar a dispensa, mediante processo canônico a ser encaminhado à Santa Sé, de acordo com as normas mais recentes. Para efeitos penais, se o religioso atenta matrimônio, deverá ter-se em conta o cân. 1394, além de incorrer na demissão ipso fato do instituto, a teor do cân. 694 § 1, 2. 7. Impedimento de rapto Este impedimento busca proteger a liberdade da mulher ao dar o seu consentimento matrimonial. O cân. 1089 ensina: “Entre um homem e uma mulher arrebatada violentamente ou retida com intuito de casamento, não pode existir matrimônio, a não ser que, depois, a mulher, separada do raptor e colocada em lugar seguro e livre, escolha espontaneamente o matrimônio”. Trata-se de um impedimento que surge do rapto feito com a finalidade de forçar o consentimento matrimonial da mulher. Caso não seja feito com essa finalidade, não surge o impedimento. Não há necessidade de transportá-la para determinado lugar; seria suficiente retê-la em cárcere privado. Essa retenção da mulher deve realizar com a intenção de contrair matrimônio, por parte do raptor, e ainda se requer que o rapto se 66 produza com violência física ou moral. O cân. 1089 estabelece que a mulher, assim raptada, não pode contrair validamente o matrimônio. Os elementos configuradores do impedimento são: 1) Deve tratar-se de um varão raptor e de uma mulher raptada; não da situação inversa; 2) A ação pode consistir na condução da mulher, contra a sua vontade, para outro lugar, como na retenção violenta no lugar em que já se encontrava; 3) A elemento intencional: “com intuito de contrair matrimônio”. Quanto aos elementos configuradores da cessação do impedimento, temos: 1) Separação da mulher do seu raptor; 2) A condução da mulher para um lugar seguro e livre. Deve ter-se em conta, além disso, que os qualificados “seguro” e “livre” fazem referência ao lugar, não à mulher raptada e ao seu estado de ânimo. Sujeito passivo do rapto pode ser toda e qualquer mulher, não importando se ela é maior ou menor de idade, pois o Código não faz distinções a respeito. O impedimento, porém, não surge se não há violência, medo ou fraude, mesmo que a mulher seja levada a um outro lugar. Por isso, se ela, livre e espontaneamente, concorda com a sua ida para um lugar determinado pelo homem, mesmo que seja com o intuito de casar, a esse matrimônio não se opõe o impedimento de rapto.[66] Esse impedimento, por ser de direito eclesiástico, pode ser dispensado pelo ordinário do lugar. Na perspectiva penal, a ação do raptor necessária para constituir o impedimento está incluída entre os delitos contemplados no cân. 1397. Esse impedimento cessa quando a mulher é conduzida a um lugar seguro onde possa exercer livremente a sua vontade de casar ou de rejeitar o matrimônio. 8. Impedimento de crime O impedimento de crime é descrito assim no cân. 1090: § 1. Quem, com intuito de contrair matrimônio com determinada pessoa, tiver causado a morte do cônjuge desta ou do próprio cônjuge, atenta invalidamente tal matrimônio; § 2. Também atentam invalidamente o matrimônio entre si os que, por mútua cooperação física ou moral, causaram a morte do cônjuge. A finalidade deste impedimento é proteger a santidade do matrimônio. Na verdade, na regulação vigente,[67] o impedimento de crime abrange aqueles supostos relacionados à morte efetiva do cônjuge. De forma objetiva, podem-se elencar três sujeitos: 1) O conjugicídio propriamente dito: isto é, dar morte ao próprio cônjuge, com o objetivo de contrair matrimônio com uma pessoa determinada. 2) O conjugicídio impróprio: isto é, dar morte ao cônjuge da pessoa com quem se pretende contrair matrimônio. 3) O conjugicídio mancomunado: ação realizada com a cooperação mútua de duas pessoas para matar o cônjuge de uma delas.[68] O conjugicídio feito por duas 67 pessoas, que cooperam mutuamente para causar a morte do cônjuge de uma delas, estabelece entre essas duas pessoas o impedimento de crime. Essa cooperação mútua pode ser: física, com uma contribuição material à ação humana; ou moral, incentivando, facilitando por meios indiretos.[69] O crime deve ser perpetrado com a finalidade de contrair matrimônio com uma pessoa certa e determinada; ou seja, não são suficientes outros motivos diferentes dos matrimoniais.[70] A finalidade deste impedimento é de proteger a instituição familiar, impedindo a possibilidadede contrair matrimônio pessoas que, no seu desejo de contrair matrimônio, chegam a tirar a vida do próprio cônjuge ou do cônjuge da outra pessoa com quem pretende contrair matrimônio. Convém ter em conta a autonomia do ordenamento canônico na configuração deste impedimento; isto é, a existência do impedimento é independente da possível sentença penal pronunciada por órgãos judiciais estatais pelo delito cometido. No âmbito canônico, é suficiente que se tenha produzido efetivamente o conjugicídio para que surja o impedimento, independente do resultado do processo penal no âmbito estatal. O impedimento é de Direito humano e, por isso, dispensável. Mas a dispensa está reservada ao Romano Pontífice, como estabelece o cân. 1078 § 2, 2º, tendo em vista que a Igreja tem como princípio proteger a santidade do matrimônio e, por outro lado, esta dispensa é bastante difícil de ser outorgada. Na perspectiva penal, deve ter-se em conta o cân. 1397. 9. Impedimento de consanguinidade Os cânones 1091-1094 regulam os impedimentos de parentesco, importantes instrumentos técnicos que o Direito canônico proporciona para proteger a dignidade da família, de modo que as relações íntimas que se desenvolvem naturalmente no seio da convivência familiar não ultrapassem os seus próprios limites. Acrescenta-se ainda, como finalidade, a contribuição para que a família cristã se amplie cada vez mais através de vínculos matrimoniais entre pessoas que não pertençam ao reduzido âmbito de uma estrutura familiar concreta. O Código determina, no cân. 1091 § 1: “Na linha reta de consanguinidade, é nulo o matrimônio entre todos os ascendentes e descendentes, tanto legítimos como naturais”. Este mesmo cânon 1091 § 2 define que, na linha colateral, é nulo o matrimônio até o quarto grau inclusive. A terminologia utilizada na norma nos remete às noções de linhas e graus, na relação entre parentes, está fixado no cân. 108, a saber: “§ 1. Conta-se a consanguinidade por linhas e graus; § 2. Em linha reta, tantos são os graus quantas as gerações, ou as pessoas, omitido o tronco; § 3. Na linha colateral, tantos são os graus quantas as pessoas em ambas as linhas, omitido o tronco”. Passamos a explicar. A consanguinidade é a relação existente entre um grupo de pessoas que procedem, 68 por gerações, de um tronco comum. O fato que está em sua base é, pois, a geração, que dá lugar à comunidade de sangue. No cômputo da consanguinidade, empregam-se os seguintes conceitos: a) Tronco – É a pessoa ou pessoas (o casal) das quais procedem, por geração, outros consanguíneos. b Linha – É a série de pessoas que descendem de um mesmo tronco. O Código fala em linha reta e em linha colateral. Para a linha reta, que indica a sucessão de pessoas procedentes umas das outras por geração: pai, filho, neto etc., constam tantos graus como gerações, excluído o tronco, ou seja, o primeiro elemento da sucessão. Entre pai e filha, por exemplo, existe a relação consanguínea de primeiro grau, entre avô e neto, de segundo e assim sucessivamente. O impedimento atinge a todos os descendentes e ascendentes, isto é: filhos, pais, avós etc. A linha colateral é formada por pessoas procedentes de um mesmo tronco, mas não umas das outras. Estão impedidos de casar aqueles que estão ligados por parentesco até o quarto grau da linha colateral.[71] Assim sendo, estão impossibilitados de contrair matrimônio: irmão com irmã (2º grau); tio com sobrinha (3º grau); primo com prima (4º grau). Chama-se de grau a medida da distância em relação ao parente em questão. O impedimento de consanguinidade é regulado no cân. 1091 e os traços fundamentais que podem sublinhar-se são os seguintes: a) É sempre impedimento em linha reta (pai – filha; avô – neta etc.); b) Em linha colateral, até o 4º grau inclusive (primos); c) a dispensa compete ao ordinário local. Contudo, ressalta o cân. 1078 § 3: “Nunca se dá dispensa do impedimento de consanguinidade em linha reta ou no segundo grau da linha colateral”. De acordo com a linguagem comum, isso significa irmãos. Caso venha ocorrer dúvida, não se pode permitir o matrimônio dos que se suspeita que sejam consanguíneos na linha reta ou no primeiro grau da linha colateral (cf. cânon 1091 § 1). Mas, se existir dúvida sobre os outros graus da linha colateral, prevalece o direito natural ao matrimônio, mas seria prudente pedir a dispensa “ad cautelam”. 10. Impedimento de afinidade O cân. 109 estabelece que a afinidade se origina de um matrimônio válido, mesmo não consumado, e vigora entre o marido e os consanguíneos da mulher, e entre a mulher e os consanguíneos do marido. O cân. 1092, por sua vez, estabelece que a afinidade em linha reta anula o matrimônio em qualquer grau. Ao contrário da consanguinidade, que abrange os parentes em linha reta e também os colaterais, a afinidade proí-be apenas os parentes afins em linha reta, sem distinção de grau. Configura essa hipótese em caso de morte de um dos cônjuges, situação em que se impedem novas núpcias do viúvo, por exemplo, com os ascendentes e 69 descendentes da esposa falecida. Como exemplo, pode-se ainda dizer: Está impedido de casar o sogro com a nora e a sogra com o genro, por serem, por afinidade, pai e filha ou mãe e filho, respectivamente. Assim sendo, o impedimento ocorre entre sogro e nora; entre sogra e genro; entre filho e madrasta, e entre filha e padrasto etc. Não é impedimento que o cunhado venha casar-se com a cunhada, uma vez que a afinidade entre eles não é em linha reta, mas colateral. Para que venha a ser configurado como um impedimento, faz-se necessário que a afinidade se origine de um matrimônio válido. Nos casos de concubinato ou matrimônio declarado nulo, por sentença dupla, por Tribunal Eclesiástico, não produz impedimento. [72] Este impedimento é de direito eclesiástico e, por essa razão o ordinário do lugar pode dispensar. Contudo, para conceder a dispensa, deve haver justa causa, visando excluir certa possibilidade de escândalo. 11. Impedimento de honestidade pública Este impedimento está prescrito no cân. 1093: O impedimento de honestidade pública origina-se de matrimônio inválido, depois de instaurada a vida comum, ou de concubinato notório ou público; e torna nulo o matrimônio no primeiro grau da linha reta entre o homem e as consanguíneas da mulher, e vice-versa. Pode-se observar aqui grande semelhança com o impedimento de afinidade. Enquanto o impedimento de afinidade nasce de um matrimônio válido, independente da sua consumação, o impedimento de honestidade pública nasce, pelo contrário, de um matrimônio inválido, como é o caso do concubinato público e notório ou da vida em comum instaurada através de um matrimônio inválido.[73] Por matrimônio inválido se entende toda união celebrada com aparência de matrimônio canônico e que as partes tenham vida em comum. Por concubinato se entende uma relação carnal entre o casal, com certa continuidade e duração. E, nesse caso, a legislação ainda frisa que seja “público e notório”. Por público se entende que seja divulgado; por notório, pode ser interpretado como algo de direito ou de fato. Enfim, se ocorreu a coabitação entre as partes, surgirá o impedimento pelo capítulo do “concubinato notório ou público”.[74] Esse impedimento atinge somente os parentes de um dos cônjuges em linha reta, em primeiro grau, e sua fundamentação está em razões éticas e sociais, com o objetivo de evitar o escândalo do matrimônio entre uma pessoa e os consanguíneos da outra, com a qual se manteve uma união ilegítima. Quanto à dispensa do impedimento, compete ao ordinário do lugar. Contudo, recomenda-se certa cautela já estabelecida no cân. 1091 § 4, observando a justa e grave causa indicada nesses casos. 12. Impedimento de parentesco legal 70 O cân. 110 assim diz: “Os filhos que tenham sido adotados de acordo com a lei civil são considerados filhos daquele ou daqueles que os adotaram”. Este é o último dos impedimentos do Código e aborda o impedimento de parentesco legal, que são as relações que surgem da adoção, em virtudedo vínculo que se cria entre as pessoas, de caráter filial, semelhante ao parentesco natural. E a norma canônica assume a adoção civil e atribui os efeitos canônicos que se aplica às relações de pai e filho.[75] De acordo com o cân. 1094 temos: “Não podem contrair validamente matrimônio entre si os que estão ligados por parentesco legal surgido de adoção, em linha reta ou no segundo grau da linha colateral”. O cânon ressalta que o impedimento se estende a todos os graus da linha reta. Assim sendo, fica impedido o matrimônio entre o adotado e o adotante; entre o adotante e os descendentes do adotado e entre o adotado e o ascendente do adotante. Na linha colateral, compreende somente o segundo grau, ou seja, envolve o adotado e os filhos do adotante, isto é, os irmãos legais. É bom observar que o impedimento surge com a adoção: se o casal adotante já tinha outros filhos, não existe o impedimento entre esses filhos e o adotado que chegou posteriormente. Haverá impedimento dos filhos que nascerem após a adoção.[76] Como se trata de um impedimento de direito eclesiástico, pode ser dispensado pelo ordinário do lugar. Essas considerações apresentadas procuram assinalar os diversos obstáculos que podem existir para uma celebração válida e lícita do matrimônio. Foi possível constatar que os impedimentos que podem surgir ao realizar uma preparação para o matrimônio são aqueles vinculados ao estado das partes e de uma das partes. Para evitar possíveis transtornos, é necessário conhecer a existência do impedimento, a fim de pedir a dispensa, se essa for possível, ou de evitar a sua celebração. Também é necessário ter o devido cuidado com os documentos a serem apresentados: conferir as fotocópias com os registros originais, com assinatura atualizada. O diálogo pessoal com cada contraente no momento de realizar o processo de habilitação matrimonial ajudaria, para que, com prudência, se chegue a uma certeza moral de que não existe impedimento algum para a celebração. 71 6. OS VÍCIOS DO CONSENTIMENTO Ao falar com consentimento matrimonial, ressalta o cân. 1057: § 1. É o consentimento das partes legitimamente manifestado entre pessoas juridicamente hábeis que faz o matrimônio; esse consentimento não pode ser suprido por nenhum poder humano. § 2. O consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual um homem e uma mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir o matrimônio. O objeto do consentimento é definido neste cânon como a entrega mútua de um homem e uma mulher para constituir o matrimônio. E o próprio significado da palavra consentimento tem um rico conteúdo, e a sua raiz linguística está na palavra latina “consentire”, de onde procede o substantivo “consensus” e expressa o sentido de pensar unanimemente, convir, estar conforme, conjurar, conspirar, estar de acordo ou em harmonia, participar etc. Também é importante sublinhar o rico significado da expressão “ato de vontade”, do latim “actus voluntatis”, empregado no texto jurídico para definir o consentimento matrimonial. Trata-se de um poder real, que livre e responsavelmente se decide, prévia à suficiente deliberação, a manifestar e estabelecer um compromisso, um pacto essencialmente bilateral e recíproco.[1] Os cônjuges se comprometem no seu querer atual e inclui a vontade séria de continuar a se querer sempre e de aceitar as consequências essenciais definitivas do seu matrimônio. Significativa ainda é a expressão utilizada no § 2 do citado cân. 1057, quando diz: “por aliança irrevogável”. No latim, o termo usado é “foedus”, que significa “pacto, aliança”, e vem de um profundo significado bíblico: a aliança que nos faz retomar o Antigo Testamento, no tratado da criação. É uma aliança irrevogável, porque participa da Aliança divina.[2] O consentimento é a essência do matrimônio “in fieri”, sendo também ele a causa eficiente do matrimônio “in facto esse”, quando as partes formam uma comunhão de toda a vida.[3] O magistério da Igreja ensina que o matrimônio sacramental validamente contraído e consumado, isto é, completado pela cópula sexual, só pode ser dissolvido pela morte; nunca é anulado.[4] Pode acontecer, porém, que, apesar das aparências, nunca tenha havido matrimônio. Por quê? Por ter faltado alguma condição essencial à validade do casamento. Essa condição essencial falta quando: 1) Há falhas no consentimento dos nubentes; 2) O casamento é contraído apesar de impedimentos dirimentes, anulantes, mantidos ocultos; 3) Falta a forma canônica na celebração do sacramento. 72 Para contrair matrimônio validamente, os nubentes devem consentir livremente em unir suas pessoas numa comunhão de vida definitiva e irrevogável. Seguindo essa linha, o Catecismo da Igreja Católica também ensina: “Se faltar o consentimento, não há matrimônio”.[5] O consentimento consiste num “ato humano pelo qual os esposos se dão e se recebem mutuamente”:[6] é quando as partes se manifestam uma para a outra: “Eu te recebo por minha esposa... Eu te recebo por meu esposo...”.[7] Este consentimento, que une o casal, tem a sua consumação no fato de os dois “se tornarem uma só carne”.[8] Este consentimento é o eixo central em torno do qual gira todo o sistema matrimonial canônico. E deve ser um ato da vontade de cada um dos contraentes, livre de violência ou de grave temor externo.[9] Faltando esta liberdade, o matrimônio é inválido.[10] Deve entender-se no sentido de que se trata de um ato humano e deve conter os elementos que lhe são intrínsecos. Este ato humano é o ato próprio ao homem, aquele para o qual intervém suas faculdades superiores: inteligência e vontade.[11] A vontade busca sempre aquilo que a razão julga ser o bem, ou ao menos um bem para essa pessoa de modo concreto, mesmo na hipótese de o objeto a que tende não constituir um bem em si mesmo. Um defeito no juízo, na apreciação, poderá levar à prática de um ato viciado.[12] Requisitos para a manifestação de um válido consentimento a) Liberdade: O consentimento, para ser válido, necessita ser livre. A liberdade constitui no matrimônio canônico um ato jurídico, quando as partes manifestam a sua vontade de contrair matrimônio sem pressões, sem condicionamentos. Esse ato humano livre, como manifestação da vontade, coincide num ponto comum: a entrega e a aceitação mútua visando formar a comunhão de vida. É a entrega e a aceitação da própria pessoa, integralmente considerada. b) Capacidade: Outro requisito da legislação eclesiástica é a exigência da capacidade das partes para a manifestação de um consentimento válido. É preciso que exista capacidade ou aptidão psicológica para prestar o consentimento. Para isso, é necessário que a pessoa tenha uso da razão e discrição de juízo ou responsabilidade para assumir as obrigações essenciais do matrimônio.[13] c) Conhecimento suficiente: Ao contrair núpcias, é necessário querer e também conhecer; por essa razão, diz o cân. 1096: “§ 1. Para que possa haver consentimento matrimonial, é necessário que os contraentes não ignorem pelo menos que o matrimônio é um consórcio permanente entre homem e mulher, ordenado à procriação da prole por meio de alguma cooperação sexual”. d) Manifestação externa: Faz-se necessário coincidir a vontade interna com a declaração externa. Essa possível discordância pode ser um sinal de simulação do matrimônio.[14] A Igreja pode, depois de examinada a situação pelo Tribunal Eclesiástico competente, declarar “a nulidade do matrimônio”, ou seja, que o matrimônio nunca 73 existiu. Nesse caso, os contraentes ficam livres para o matrimônio, salvaguardadas as obrigações naturais resultantes da união anterior.[15] Examinemos a seguir alguns títulos referentes às falhas no consentimento, que podem ocorrer nesses casos: a) Falta de capacidade para consentir (cânon 1095). b) Ignorância (cânon 1096). c) Erro (cânon 1097). d) Dolo (cânon 1098). e) Simulação (cânon 1101). f) Violência ou medo (cânon 1103). g) Condição não cumprida (cânon 1102). 6.1. FALTA DE CAPACIDADE PARA CONSENTIR (CÂNON 1095)O cân. 1095 preconiza: São incapazes de contrair matrimônio: 1º) os que não têm suficiente uso da razão; 2º) os que têm grave falta de discrição de juízo a respeito dos direitos e obrigações essenciais do matrimônio, que se devem mutuamente dar e receber; 3º) os que não são capazes de assumir as obrigações essenciais do matrimônio por causas de natureza psíquica. O objetivo deste cânon é regular os efeitos dos transtornos psíquicos sobre a capacidade interna do contraente para prestar consentimento matrimonial válido. O cân. 1095 estabelece três critérios de valor normativo: a) O uso da razão; b) A discrição de juízo; c) O poder de assumir os deveres conjugais essenciais do matrimônio. Em sentido positivo, estes três critérios oferecem uma definição do conteúdo essencial da capacidade específica do consentimento matrimonial. Assim sendo, segundo o cân. 1095, são incapazes de contrair matrimônio: 1º Os que não têm suficiente uso de razão. Pode-se verificar aqui que se trata da privação do uso de razão no momento de emitir o consentimento matrimonial, sendo irrelevantes os efeitos jurídicos da causa originária dessa privação. O termo correlativo a essa insuficiência não são os direitos e deveres essenciais do matrimônio, mas o ato humano que deve produzir-se mediante o uso de razão. Um uso de razão imperfeito produz um ato humano igualmente imperfeito.[16] Os que não gozam de suficiente uso da razão, ou seja, aqueles que, afetados por uma doença mental, estão privados, no momento de prestar o consentimento matrimonial, do uso consciente das suas faculdades intelectivas e volitivas imprescindíveis para emitir um ato humano. Consideram-se também nesse caso, além das crianças, aqueles que, no momento de consentir, sofrem de tal perturbação psíquica ou se acham sob a ação de 74 drogas ou em estado de embriaguez. Também se deve levar em conta os estados tóxicos, sonambulismo, hipnose e outros casos que, quer constitua doença mental ou não, em alguma situação provoca neles uma falta de posse de si e do uso das suas faculdades intelectivas e volitivas, equiparável em direito à falta de suficiente uso da razão. O cânon apresenta o termo “suficiente”, fazendo mostrar um referencial importante para uma avaliação condizente, para averiguar em que medida uma eventual carência de razão possa ter influenciado no ato de celebração do matrimônio. Não se exige, pois, que a carência do uso da razão seja absoluta ou total. A carência de suficiente uso da razão deve apresentar-se por ocasião da celebração do matrimônio. Uma perícia legal poderá auxiliar o legislador em seu discernimento no momento de formular a sentença canônica sobre uma possível declaração de nulidade. Caso esta carência de suficiente uso da razão venha a se manifestar posteriormente à celebração das núpcias, não seria motivo de nulidade matrimonial. Aqueles que carecem do uso de razão são normalmente chamados de amentes. O vocábulo “amente” é jurídico e é utilizado para determinar os efeitos legais daqueles que são portadores de certas perturbações da mente. São considerados amentes: a) Os adultos que não alcançaram o uso da razão ou que a perderam uma vez conseguido; b) Os adultos que têm grave perturbação no uso da razão; c) Os adultos que, gozando habitualmente do uso da ra-zão, se vêm impedidos de usá-la, devido a alguma perturbação mental presente. Nestes casos, os contraentes são incapazes de produzir o ato humano. Essa relação com o matrimônio está na incapacidade que os impede de formar um ato humano, em conformidade com a sua vontade, no que tange ao consentimento matrimonial.[17] Outrora, julgava-se suficiente que a pessoa parecesse lúcida no momento das núpcias, mesmo se antes tivesse dado sinais de alienação mental. Atualmente, porém, sabe-se que certas moléstias psíquicas, como a esquizofrenia, podem estar incubadas por muito tempo antes de se manifestar; os próprios familiares podem não perceber, mas a doença já existe e está atuante. Em outros casos, as moléstias se manifestam em ritmo intermitente, podendo o paciente parecer normal quando a doença está latente; os acompanhantes o têm por curado ou sadio, apesar de estar sob o influxo da moléstia. 2º Os que têm grave falta de discrição de juízoa respeito dos direitos e obrigações essenciais do matrimônio, que se devem mutuamente dar e receber. O cân. 1095, em seu 2º inciso, refere-se ao grau de maturidade pessoal que permite ao contraente discernir para se comprometer acerca dos direitos e deveres fundamentais do matrimônio. Além do uso da razão, requer-se que os nubentes tenham maturidade intelectual e afetiva proporcional à decisão que vão tomar. 75 Os contraentes devem saber discernir. Este discernimento implica: – o suficiente conhecimento das obrigações que as partes vão assumir; um conhecimento que não seja abstrato, mas aplicado à vida e às circunstâncias concretas do sujeito; – “saber que o matrimônio é um consórcio permanente entre homem e mulher, ordenado à procriação da prole por meio de alguma cooperação sexual”.[18] A expressão “cooperação sexual” é bem genérica, que não inclui necessariamente o conhecimento de todos os pormenores do processo fisiológico da reprodução; – ter consciência de que, entre os deveres conjugais, está a obrigação de comunhão de vida entre os cônjuges, com as exigências que isso implica. O discernimento supõe que o noivo ou a noiva, tendo ultrapassado a idade mental da adolescência, tenha adquirido a estabilidade necessária para se comprometer de modo irrevogável, o que implica autonomia em relação aos genitores, como também autodomínio para dispor de sua pessoa e entregá-la ao consorte de sua vida. A falta de discernimento pode provir de várias causas: de imaturidade afetiva, de retardo intelectual, de instabilidade, do provisório. 3º Os que não são capazes de assumiras obrigações essenciais do matrimônio por causas de natureza psíquica. O termo “causa”, que é um termo genérico, foi preferido aos outros termos tomados em consideração durante a redação do cânon, para evitar a confusão do plano médico com o jurídico. A utilização dessa expressão quer sublinhar também que não basta que exista uma anomalia, mas que tal anomalia deve ser “causa” da incapacidade de assumir em sentido jurídico. Pode-se ser capaz, sofrendo uma anomalia, se esta não impossibilita o cumprimento das obrigações essenciais, mas não se é incapaz senão em presença de uma anomalia que, além do mais, deve ser grave.[19] O conceito de incapacidade é um conceito jurídico e não médico, não é possível fazer um elenco a priori das causas psíquicas que tornariam uma pessoa incapaz. Por isso, não é determinante que se estabeleça que uma pessoa padece de uma desordem ou desequilíbrio psíquico, mas é necessário pôr esta desordem em relação com a capacidade como exigência jurídica, para assim determinar se, no caso concreto, essa desordem, enfermidade ou anomalia é uma causa de incapacidade de assumir. [20] Para declarar a nulidade do matrimônio por incapacidade consensual em algum dos seus tipos, não basta constatar o fracasso do matrimônio, deve existir um nexo causal entre o fracasso, a causa da incapacidade e o processo vital no qual se manifesta a incapacidade. Em qualquer caso, não basta determinar a existência de uma enfermidade, uma desordem ou um transtorno, mas é necessário determinar a existência de um nexo causal. Por isso, o objeto da prova não é tanto a afirmação do fracasso matrimonial, nem a existência de uma causa psíquica, mas, sobretudo, a identificação do nexo causal e proporcionado entre o fracasso, a causa invocada e o próprio processo vital no qual se desenrolaram as manifestações de anomalias da causa psíquica.[21] 76 O Papa Bento XVI, em Discurso à Rota Romana, as-sim diz: É preciso, antes de tudo, redescobrir, de modo positivo, a capacidade que, em princípio, cada pessoa humana tem de se casar em virtude da sua própria natureza de homem ou de mulher. Corremos, de fato, o risco de cair num pessimismo antropológico que, à luzda hodierna situação cultural, considera quase impossível casar-se. Exceto o fato de que tal situação não é uniforme nas várias regiões do mundo, não se podem confundir com a verdadeira incapacidade consensual as reais dificuldades nas quais muitos se encontram, especialmente os jovens, chegando a considerar que a união matrimonial é normalmente impensável e impraticável.[22] A respeito da necessidade de exames periciais psicológicos ou psiquiátricos nas causas sobre incapacidade psíquica, o cânon 1680 estabelece: Nas causas de impotência ou de falta de consentimento por enfermidade mental, o juiz utilize a colaboração de um ou mais peritos, a não ser que conste com evidência pelas circunstâncias que isso seria inútil; nas demais causas observem-se o prescrito no cân. 1574. A missão dos peritos nas causas sobre incapacidade é determinar a natureza e a gravidade da causa psíquica, o momento em que apareceu e a sua influência sobre a prestação do consentimento. O juiz deve ponderar as conclusões do perito, especialmente se há opiniões diferentes e discordantes entre os diversos peritos, ou se não alcançam a certeza moral sobre a existência da causa psíquica e a sua influência sobre a capacidade, quer pelas vias utilizadas ou pelas conclusões a que chegaram, quer porque essas conclusões não têm um fundamento suficiente nas atas da causa. O trabalho do perito é o de ajudar o juiz, com “a sua ciência própria”, a determinar as condições psíquicas do sujeito no momento da celebração do matrimônio. Contudo, a decisão compete ao juiz. Não bastaria, por exemplo, que o perito dissesse que a pessoa é neurótica ou imatura, ou que padece de um transtorno de personalidade, mas é preciso determinar, e isto deve fazê-lo o juiz, se tal anomalia, nesse caso concreto, tornou a pessoa incapaz para o matrimônio, podendo configurar ao que estabelece o cân. 1095, 3º. A Instrução Dignitas Connubii estabelece o que se deve perguntar ao perito em cada um dos supostos do cânon 1095 § 3: § 1. Nas causas de incapacidade, segundo o cân. 1095, o juiz não deixe de perguntar ao perito se uma ou ambas as partes, no tempo das núpcias, estavam afetadas por uma particular anomalia habitual ou transitória; qual era a sua gravidade; quando, por que causa e em que circunstâncias tal anomalia tenha tido origem e se tenha manifestado. § 2. Especificamente: 1.º nas causas por defeito de uso de razão, pergunte se a anomalia perturbou gravemente o uso de razão no tempo da celebração do matrimônio; com que intensidade e através de que sintomas se tenha manifestado; 2.º nas causas por defeito de discrição de juízo, pergunte qual foi o influxo da anomalia sobre a faculdade crítica e de escolha, em relação a graves decisões particularmente no que diz respeito à escolha livre do estado de vida; 3.º finalmente, nas causas por incapacidade de assumir as obrigações essenciais do matrimônio, pergunte qual é a natureza e a gravidade da causa psíquica que provoca na parte não só uma grave dificuldade, mas também a impossibilidade de fazer frente às ações inerentes às obrigações do matrimônio. § 3. O perito, no seu voto, deve responder segundo os ditames da sua própria técnica e da sua própria ciência a cada um dos quesitos propostos no decreto do juiz; contudo, evite dar juízos que excedam os limites do seu múnus e que competem ao juiz (cf. câns. 1577, § 1; 1574)”.[23] Com a ajuda dos peritos, o juiz declarará a nulidade do matrimônio se considera provada a incapacidade, isto é, se adquire a certeza moral sobre a existência da incapacidade, fundamentando o seu parecer na verdade dos fatos apresentados nos autos 77 do processo. Convém recordar que a verdadeira pastoral é aquela que se baseia na verdade, e não há verdadeira justiça se não está fundamentada na verdade da situação daqueles que recorrem ao tribunal pedindo para conhecer a realidade da sua situação. [24] 6.2. IGNORÂNCIA (CÂNON 1096) Alguém pode ter plena capacidade para dar consentimento matrimonial válido. Poderá acontecer, porém, que ignore os pontos essenciais do compromisso conjugal. Por essa razão sintetiza o cânon 1096: § 1º. Para que possa haver consentimento matrimonial, é necessário que os contraentes não ignorem, pelo menos, que o matrimônio é um consórcio permanente entre homem e mulher, ordenado à procriação da prole por meio de alguma cooperação sexual. § 2º. Essa ignorância não se presume depois da puberdade. Este cânon exige que os nubentes saibam, ao menos, que o matrimônio é: a) um consórcio, ou seja, uma comunidade de vida e interesses... b) permanente, isto é, estável... c) entre um homem e uma mulher, isto é, tal que exclui uniões paralelas (ainda que transitórias) e requer necessariamente pessoas de sexo diverso; d) ordenado à procriação, embora esta nem sempre aconteça de fato; e) por meio de alguma cooperação sexual, sem que os contraentes conheçam necessariamente todos os pormenores do processo fisiológico da reprodução. Presume-se que, após a puberdade, rapazes e moças conheçam as noções fundamentais de tal processo.[25] 6.3. ERRO (CÂNON 1097) Diz o cân. 1097 § 1: “O erro de pessoa torna inválido o matrimônio”. Tradicionalmente, o erro sobre a pessoa identifica-se na canonística com o erro sobre a identidade física; ou seja, se alguém, querendo casar com Maria, casa de fato com Marta. É o erro existente quando alguém celebra o matrimônio com uma pessoa julgando tratar-se de outra. Isso pode ocorrer quando o matrimônio é realizado por procuração.[26] Ou naqueles casos em que ocorre substituição de pessoa. A própria Sagrada Escritura nos apresenta um exemplo, quando Labão enganou dolosamente Jacó, oferecendo a sua filha Lia em casamento, no lugar de Raquel, pois não poderia casar a filha mais nova Raquel, antes de casar a mais velha, Lia.[27] Algo semelhante também pode ocorrer com irmãos gêmeos. A identidade física contém, com a certeza de que precisa o Direito, o significado do corpo como a primeira manifestação da singularidade de cada pessoa. Além disso, esse corpo pessoa, enquanto modalizado em masculino ou feminino, é precisamente objeto do dom e da aceitação conjugal, isto é, o que confere caráter matrimonial ao 78 consentimento entre um homem e uma mulher.[28] Portanto, a identidade física contém também a identidade sexual de cada pessoa singular, cuja determinação é imprescindível para a confirmação do consentimento.[29] O conhecimento da identidade física constitui, com grande fundamento, o conteúdo do pressuposto cognoscitivo mínimo, que permite determinar com certeza a identidade pessoal e sexual do contraente, necessária para a existência do objeto do consentimento matrimonial.[30] O § 2 assim diz: “O erro de qualidade da pessoa, embora seja causa do contrato, não torna nulo o matrimônio, salvo se essa qualidade for direta e principalmente visada”. Na doutrina de Santo Afonso Maria de Ligório, podemos encontrar a explicação para essa doutrina, pois, além do erro na pessoa física, ele admite erro relativo à qualidade que define a pessoa, bem como erro quando àquela qualidade, direta e principalmente visada, se tem em vista.[31] Vale recordar que o matrimônio válido não é uma união entre seres perfeitos, mas uma comunhão onde cada cônjuge se compromete a ajudar e melhorar o outro. Contudo, podem acontecer surpresas com a instauração da vida em comum. O contraente pode ter sido movido ao propósito de casamento, porque acreditou que existisse uma qualidade na outra parte que foi a influência motivadora da sua decisão de casar-se com aquela pessoa específica, que o faz julgar logo, ao descobrir o seu erro, que não teria se casado se tivesse conhecimento a tempo. Faz-se necessário admitir que houve um erro em seu julgamento. Um verdadeiro erro, não uma ignorância. Na segunda parte do § 2 do cân. 1097 estabelece-se que o erro numa qualidade da pessoa torna inválido o matrimônio quando esta qualidade foi direta e principalmente pretendida dentro do próprio objeto do consentimento. Essa qualidade não é mencionada no código e tornou-seuma matéria de livre interpretação. Contudo, para os contraentes, essa qualidade deve ter especial significação. É importante que essa qualidade tenha sido procurada e realmente desejada. Um exemplo seria uma mulher desejar casar com o sócio majoritário de determinada empresa, julgando que o homem com quem ela deseja contrair matrimônio possui essa qualidade. Ela quer casar com o sócio majoritário da empresa. Após o casamento constata o erro. Nesse caso, houve um motivo direto e principalmente querido. Pode-se pensar ainda em outros eventuais casos em que poderia estar presente uma qualidade direta e principalmente visada como a fecundidade (o desejo de ter descendência); a virgindade; a religião (ser católica); o estado civil (não estar casado no civil); a honestidade (não estar envolvido em um processo penal grave); a saúde (ausência de doença contagiosa). Contudo, faz-se necessária uma análise bastante criteriosa dos juízes para que possam tomar uma decisão sábia e justa no momento de emitir uma sentença.[32] 6.4. O ERRO DOLOSO (CÂNON 1098) 79 A propósito do erro doloso, reza o cânon 1098: Quem contrai matrimônio, enganado por dolo perpetrado para obter o consentimento matrimonial, a respeito de alguma qualidade da outra parte, qualidade que, por sua natureza, possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal, contrai-o indevidamente. Entende-se por dolo qualquer ação revestida com as características de habilidade, astúcia, malícia, má-fé, sagacidade, com o objetivo de enganar outra pessoa, a realizar um ato jurídico, no caso, contrair matrimônio. O dolo está incluído entre os defeitos de consentimento, por direito eclesiástico, motivado pelas graves consequências e injustiças que produziria um consentimento matrimonial prestado em tais circunstâncias. Essa injúria lesa um direito natural fundamental na medida em que nunca poderá viver com a devida confiança na relação com uma pessoa capaz de mentir em assuntos tão sérios. De acordo com os requisitos exigidos pelo cân. 1098, é necessário que o erro provocado pelo dolo seja causam dans à celebração das núpcias, isto é, o erro em que incidiu o nubente tenha sido fruto de uma ação que visava obter o consentimento da outra parte.[33] A “causam dans” pode ser de tipo positivo, ou seja, a ação que se faz; ou negativo, isto é, a ação que se omite. Pode ocultar, por exemplo,uma grave enfermidade ou a falta de virgindade, a gravidez, a esterilidade,[34] alcoolismo, doenças contagiosas,graves precedentes penais etc., causando um consentimento que não teria sido dado, se não tivesse havido esse engano. Não se requer, nessa matéria, que o dolo seja grave, isto é, provocado por uma ação altamente fraudulenta. Basta que o nubente se engane, mesmo por ingenuidade, pois o que conta é o real engano sobre uma questão grave, isto é, apta a perturbar o consórcio da vida conjugal. Para o bom êxito de um casamento, é necessário que haja boa-fé e transparência de um cônjuge para outro. Quando, porém, isso não se verifica e, sobretudo, quando um dos cônjuges deliberadamente induz a outra parte ao erro para poder casar, tal matrimônio é nulo. É o que ocorre, por exemplo, quando um rapaz aparenta ser sadio, mas na verdade é portador de uma doença contagiosa grave e oculta esta informação à sua futura esposa; ou quando a noiva esconde o fato de que seus ovários foram amputados, de modo que não pode ter filhos. O dolo foi sempre considerado pela Igreja como uma circunstância que podia influir no ato jurídico em geral. O cân. 125 § 2 diz: “O ato realizado por dolo é válido, a não ser que o direito determine outra coisa; mas pode ser rescindido por sentença do juiz...”. Note-se que a pessoa é enganada com a intenção de que ponha determinado ato jurídico, que, na ausência do dolo, não se teria posto. O dolo é, deste modo, um engano deliberado e fraudulento cometido por uma pessoa sobre a outra, e pela qual esta é induzida a realizar determinado ato jurídico. Para que o dolo possa invalidar o matrimônio, exigem-se alguns requisitos: a) que seja perpetrado para obter o consentimento matrimonial da outra parte; b) o paciente sofre um erro grave acerca de uma qualidade do outro contratante; c) o objeto do erro produzido por dolo tem que ser uma qualidade que possa 80 perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal. Exige o cânon que o matrimônio tenha sido celebrado como consequência do dolo e que o dolo tenha sido exercido para obter o consentimento.[35] Por parte do cônjuge enganado, exige-se que resulte efetivamente que foi ele iludido pelo erro; e não seria caso de nulidade matrimonial caso já tivesse conhecimento da inexistência da qualidade visada por outras vias. Naturalmente, a ausência dessas qualidades deverá perturbar gravemente a constância da vida conjugal, tendo em vista os projetos familiares fundados sobre elas e demais circunstâncias concorrentes.[36] O objetivo da legislação não é castigar o sujeito que enganou, mas tutelar o consentimento de quem sofre o engano. No fundo, a finalidade do cânon é proteger a liberdade da pessoa enganada. O dolo deve verificar-se antes do matrimônio, de modo que o seu efeito, o induzido erro, deverá estar presente no momento do consentimento matrimonial.[37] 6.5. ERRO A RESPEITO DO PRÓPRIO MATRIMÔNIO (CÂNON 1099) Preceitua o cân. 1099: “O erro a respeito da unidade, da indissolubilidade ou da dignidade sacramental do matrimônio, contanto que não determine a vontade, não vicia o consentimento matrimonial”. O matrimônio sacramental é uma comunhão de vida monogâmica e indissolúvel, elevada por Cristo a uma dignidade singular. Quem tem concepções “falsas” a esse propósito incorre no que se chama “erro de direito”. Esse erro ou ignorância será dirimente do matrimônio, se uma pessoa celebra as núpcias, justamente porque é como essa pessoa pensa, ou seja, da maneira como ela pensa e deseja, que poderia ser com relação à unidade, por exemplo, o que constitui um erro no conceito que se tem, tanto da unidade como da indissolubilidade.[38] Para evitar o erro de direito e os problemas daí decorrentes, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil emitiu a seguinte norma: Cuidem os sacerdotes de verificar se os nubentes estão dispostos a assumir a vivência do matrimônio com todas as suas exigências, inclusive a de fidelidade total, nas várias circunstâncias e situações de sua vida conjugal e familiar. Tais disposições dos nubentes devem explicitar-se numa declaração de que aceitam o matrimônio tal como a Igreja o entende, incluindo a indissolubilidade.[39] 6.6. SIMULAÇÃO (CÂNON 1101) Eis o teor do cânon 1101: § 1.º Presume-se que o consentimento interno está em conformidade com as palavras ou os sinais empregados na celebração do matrimônio. § 2º. Contudo, se uma das partes ou ambas, por ato positivo de vontade, excluem o próprio matrimônio, algum elemento essencial do matrimônio ou alguma propriedade essencial, contraem invalidamente. Um princípio geral do Direito leva a supor que as pessoas dizem a verdade, 81 enquanto não se pode provar o contrário. Existe, porém, a mentira. Quando a mentira ocorre no próprio ato da celebração, é chamada de simulação. Essa simulação pode ser: a) Simulação total; ou b) Simulação parcial. 6.6.1. Simulação total A simulação total ocorre quando um dos contraentes, embora manifeste com os lábios o seu consentimento, recusa interiormente o seu sim. Isso pode acontecer quando se obriga um rapaz a casar-se, à revelia sua, com a moça que ele fez engravidar, ou quando uma moça é constrangida por terceiros a casar-se com um rapaz pouco responsável e que só pensa em diversão. Portanto, o consentimento matrimonial, que cria a aliança conjugal, é sinal externo de uma realidade interior em cada um dos contraentes; caso isto não ocorra, o consentimento matrimonial não é válido. A manifestação externa, porém, afirma a norma, se presume, assim, que corresponde à vontade interna, enquanto não se prove o contrário. Ou seja, que para adquirir a constatação no foro externo, se deve provarque realmente não havia tal intenção conjugal. Deste modo, a nulidade que já existia no foro interno agora será também reconhecida no foro externo.[40] Normalmente, se afirma que a vontade interna deve querer doar e aceitar integralmente a estrutura essencial do matrimônio, contida no cânon 1055 § 1, a qual foi elevada por Cristo à dignidade de sacramento, de tal modo que a vontade interna, correspondendo exatamente à sua manifestação exterior, deve querer o conteúdo essencial do matrimônio, ou seja, tanto a unidade como a indissolubilidade dessa aliança e também seus fins: deverá ser então um consentimento externamente manifestado e internamente querido em forma íntegra.[41] Este ato de vontade de entregar e aceitar mutuamente os direitos, deveres e obrigações derivadas da natureza do matrimônio, para que produza seu efeito, deve ser verdadeiro, deve abarcar integralmente o objeto do consentimento, com todos os seus elementos e propriedades essenciais, de outro modo se produz a não correspondência entre a manifestação externa e a vontade interna de quem contrai e então não existe consentimento, e o rito externo só é, na realidade, simulação. Quando essa estrutura essencial do matrimônio não é cumprida, totalmente e não somente em parte, por um ou ambos os contraentes, se configura a chamada simulação total do consentimento matrimonial.[42] Parece claro que, tendo presente a doutrina do Concílio Vaticano II[43] e a atual legislação canônica, pode-se afirmar que não se contrai matrimônio quem manifesta externamente seu consentimento só com palavras; quem pretende só uma cerimônia nupcial, almejando com isso alcançar outros fins diferentes dos contidos nos cânones 1055-1057, como, por exemplo, o único e exclusivo acesso carnal ao outro cônjuge, as riquezas, a posição social ou qualquer outro interesse em benefício próprio, sem nenhuma vontade de se doar ou aceitar o outro; não contrai matrimônio já que essa seria 82 uma cerimônia carente de verdade conjugal.[44] O contraente, no momento da manifestação do consentimento matrimonial, não necessariamente deve ter presente e aderir a todos os elementos essenciais e todas as propriedades essenciais do matrimônio, tal e como a norma as entende, pois este tipo de precisões técnicas não é usual entre as pessoas que contraem matrimônio. É suficiente para emitir um consentimento válido, que esse objeto do consentimento matrimonial não seja suplantado, direta ou indiretamente, com uma vontade à qual falte a essência matrimonial. A característica, então, que distingue a simulação total é a exclusão do próprio matrimônio, como instituição natural, como “consortium totius vitae” do homem e da mulher, sua união estável para formar uma família, com o sinal nupcial, pronunciado livremente.[45] E ainda quando um ou ambos contraentes não se doam e aceitam,[46] para construir juntos um projeto de vida comum,[47] senão que, como homem e mulher, seguem pertencendo-se só a si mesmos. O conteúdo e a projeção no tempo dessa convivência que inauguram com esse equivocado sinal nupcial dependerá dos interesses que um, ou cada um, deseje satisfazer de modo particular, e até o momento que os satisfaça; em tal caso, falta o vínculo jurídico que só o doar-se e o aceitar-se conjugalmente pode fundar.[48] 6.6.2. Simulação parcial A simulação é parcial quando um dos parceiros aceita o matrimônio, mas recusa uma das propriedades essenciais do matrimônio ou um dos seus elementos principais. Tal exclusão vicia o consentimento, uma vez que descaracteriza o seu objetivo. Quem, no ato de consentir, exclui al-gum desses aspectos não anseia pelo matrimônio no sentido em que o concebe a Igreja; mas segundo suas próprias convicções. Para que o matrimônio seja celebrado validamente, requer aos nubentes: a) Edificar uma comunidade de vida e amor, em conformidade com a ordenação divina[49] e regida por suas leis; isto implica estabilidade, nascida da mútua entrega e aceitação do homem e da mulher, com o objetivo de formar “uma só carne”.[50] b) Saber que a instituição matrimonial, por sua índole e natureza própria, é alimentada pelo amor conjugal e está ordenada ao “bem dos cônjuges” e, deste modo, pela íntima união das pessoas, e se oferecem mútua ajuda e serviço, experimentando e obtendo mais plenamente, a cada dia, o sentido de sua unidade. c) A procriação e a educação da prole, que constitui o resultado da doação mútua dos cônjuges, que exige plena fidelidade dos esposos, razão de sua indissolúvel unidade.[51] As propriedades do matrimônio são: a unidade e a indissolubilidade. Como bem explica o cânon 1056: “As propriedades essenciais do matrimônio são a unidade e a indissolubilidade que, no matrimônio cristão, recebem firmeza especial em virtude do sacramento”. 83 a) A unidade O vínculo conjugal é único e exclusivo: une um só homem e uma só mulher. Esse vínculo, com suas propriedades, os direitos e deveres essenciais e a sua ordenação para os fins, constitui um patrimônio exclusivo do casal. O vínculo abarca e reúne todos aqueles aspectos da inclinação e da complementaridade sexual entre o homem e a mulher, que se orientam a compartilhar, desenvolver e conservar o bem conjugal recíproco e a procriação e educação dos filhos. Essa unidade e totalidade específica do vínculo é fonte da exclusividade e da fidelidade entre os esposos. A “unidade” é um bem adquirido. Exclui o adultério, que constitui transgressão do dever de fidelidade entre os cônjuges. Ela significa a impossibilidade de uma pessoa ficar ligada “simultaneamente” por dois vínculos conjugais. Por isso, a unidade se opõe à poligamia.[52] b) A indissolubilidade A indissolubilidade é a impossibilidade da dissolução do vínculo conjugal, a não ser por morte de um dos cônjuges.[53] A indissolubilidade opõe-se ao divórcio. Quem romper a sua união matrimonial e abraçar outra comete adultério contra a sua primeira união. Quanto aos elementos essenciais, o cânon não os enumera, mas pode-se entender que sejam: o bonum coniugum, o bonum prolis e o bonum fidei. a) A exclusão do bem dos cônjuges (bonum coniugum) O bonum coniugum deve ser interpretado como sendo a recíproca doação entre o homem e a mulher. Também chamado de amor conjugal, essa entrega mútua é o que leva os esposos a um dom livre e recíproco de si mesmos. Deve ainda ser entendido como um conjunto de direitos e deveres conjugais recíprocos, que incluem o direito à coabitação e ao amparo. Esses direitos e deveres são definidos em função do que se pode chamar a via em comum. A exclusão do bonum coniugum pode ocorrer tanto por parte de quem, mediante um ato de vontade positivo, dá um consentimento viciado por simulação parcial. O Papa Pio XI, em sua Carta Encíclica Casti Connubii, diz que a essência do “bonum coniugum” deve ser procurada na linha daquela “mútua formação íntima dos cônjuges” e daquele “constante esforço de se aperfeiçoarem mutuamente”, indicando que o matrimônio deve ter como objetivo principal o compromisso de vida.[54] É pelo seu bem último, o crescimento na virtude e na santidade, que os esposos são chamados a unirem-se um ao outro. O Concílio Vaticano II, em alguns de seus documentos, dá ênfase sobre o desenvolvimento humano e sobrenatural dos esposos que, prestando-se uma mútua ajuda e serviço com a íntima união das pessoas e das atividades, experimentam o sentido da unidade própria e mais plenamente a atingem sempre. Cumprindo o seu 84 dever conjugal e familiar, tendem a atingir sempre mais a perfeição própria e a santificação mútua.[55] E ainda salienta o mesmo Concílio: “Os cônjuges cristãos [...] ajudam-se mutuamente a atingir a santidade na vida conjugal e na aceitação e educação da prole”.[56] E o mesmo sucede no decreto sobre o apostolado dos leigos: “Os cônjuges cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé mutuamente em relação aos filhos e a todos os outros familiares”.[57] Na Sagrada Escritura, encontramos inicialmente, no livro do Gênesis, o seguinte trecho, que deve ser a base de uma sadia interpretação:“O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele”.[58] Assim, Deus criou a mulher, e a narração continua: “Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne”.[59] Com esta manifestação do Senhor, nota-se que os cônjuges são chamados, desde o princípio, a uma maturidade específica, para que possam assumir o peculiar compromisso matrimonial, em ordem à vida eterna. No Novo Testamento, o próprio Jesus não usou meios-termos ao chamar a atenção dos esposos para o projeto inicial e exigente de Deus acerca do compromisso conjugal, e especificamente no que diz respeito à sua natureza permanente e indissolúvel: “Não lestes que, no princípio, o Criador os fez varão e mulher?”.[60] E completou: “Por isso, deixará o homem o pai e a mãe, e unir-se-á à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu”.[61] E o texto da Constituição Gaudium et spes assim diz: “O homem, que é a única criatura na terra que Deus quis por si mesma”, não pode realizar-se “senão pelo dom sincero de si mesmo”. A mesma Constituição pastoral apli-ca diretamente esta noção ao matrimônio, falando dele como de “um dom recíproco de duas pessoas”, ou de uma união em que os esposos “se entregam e recebem mutuamente”.[62] Isso nos leva a dizer que, no âmbito conjugal, o impulso não provém da preocupação por si próprios, mas do dom de si. É dando-se sinceramente, na adesão a valores pelos quais vale a pena fazê-lo, que o indivíduo se realiza a si mesmo e, no matrimônio, em comunhão com a outra parte.[63] Por essa razão, diz o cân. 1057 § 2: “O consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual um homem e uma mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir matrimônio”. Encontra-se aqui uma noção nova e fundamental: consentir no matrimônio como um “dom de si” e uma “aceitação do outro”. Compreende-se, portanto, que o consentimento matrimonial implica o dom de si e a Constituição Conciliar Gaudium et spes enriquece essa noção de um modo muito significativo, falando do “ato humano pelo qual os esposos se dão e se recebem mutuamente”.[64] Esse “dom de si” e a “aceitação do outro”, do cânon 1057, oferecem a chave de uma correta compreensão do bonum coniugum. O Senhor Deus já havia dito: 85 “Não é bom que o homem esteja só”.[65] A solidão é o grande inimigo do aperfeiçoamento da pessoa e da sua salvação. O “bom” que Deus quer para os esposos, mediante o pacto matrimonial, é o resultado final da mútua doação generosa e incondicional que os cônjuges fazem de si próprios, dando-se um ao outro assim como são, incluídos os defeitos, mas que possam, com o auxílio da graça e da mútua cooperação, obter uma vida de fidelidade exclusiva, com abertura aos frutos do mútuo amor conjugal. Nesse sentido, sintetiza o Papa João Paulo II: “No matrimônio, o homem e a mulher unem-se entre si tão firmemente que se tornam, segundo as palavras do livro do Gênesis, ‘uma só carne’” .[66] Homem e mulher participam de modo igual na capacidade de viver “na verdade e no amor”. Essa capacidade, característica do ser humano enquanto pessoa, tem uma dimensão conjuntamente espiritual e corpórea. É através do corpo também que o homem e a mulher estão predispostos para formar uma “comunhão de pessoas” no matrimônio. Quando, em virtude da aliança conjugal, eles se unem de tal maneira que se tornam “uma só carne”,[67] a sua união deve se realizar “na verdade e no amor”, pondo assim em evidência a maturidade própria de pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus”.[68] b) A exclusão do bonum prolis O matrimônio, como instituição, comporta uma vocação de abertura para a constituição de uma família. Pode ocorrer que, no ato da celebração do matrimônio, haja uma exclusão, ao menos em caráter temporário, do bonum prolis. A exclusão temporária pode corresponder a razões válidas, distinguindo-se, segundo a terminologia clássica, de uma exclusão de direito. Entretanto, também pode ocorrer que a exclusão temporária acabe por transformar-se em permanente. Tudo dependerá da possibilidade de se conhecer o desejo real dos cônjuges na época da celebração. Deve-se lembrar que os cônjuges formam “uma só carne”, em uma experiência particular, que os introduz à lógica da maternidade e da paternidade. Essas duas dimensões unitiva e procriativa, que identificam e descrevem o matrimônio, por isso mesmo também descrevem e identificam o bem dos filhos, ou seja, a íntima comunhão de amor entre os cônjuges deve ser um sinal de abertura para a vida, ou seja, a prole. O próprio cân. 1055 § 1 nos diz: “O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, entre batizados foi por Cristo Senhor elevado à dignidade de sacramento”. O bem da prole, ou seja, a procriação é a abertura à vida, é um elemento essencial da relação conjugal. Essa efetiva procriação não é propriedade do matrimônio, senão um dos seus fins.[69] A procriação é um elemento que identifica a relação conjugal, a especifica e a faz diferente de qualquer outra relação interpessoal; o verdadeiro amor conjugal é um amor aberto à vida. O conteúdo do bonum prolis está nos atos conjugais abertos à fecundidade. 86 O magistério da Igreja, com insistência, ressalta a importância que deve ter os pais no âmbito conjugal, não só no que se refere à procriação, mas também a educação da prole. O Papa João Paulo II, por inúmeras vezes, frisou essa responsabilidade, mostrando que o consentimento matrimonial define e torna estável o bem que é comum ao matrimônio e à família. O matrimônio é uma singular comunhão de pessoas. Na base de tal comunhão, a família é chamada a tornar-se comunidade de pessoas. É um compromisso que os noivos assumem “diante de Deus e da Igreja”, como lhes recorda o celebrante no momento em que mutuamente trocam o consentimento. Desse compromisso, são testemunhas quantos participam do rito; neles se encontram representadas, em certo sentido, a Igreja e a sociedade, âmbitos vitais da nova família. [70] E o mesmo Papa João Paulo II lembra que as palavras do consentimento exprimem aquilo que constitui o bem comum dos cônjuges e indicam o que deve ser o bem comum da futura família. Desejando pô-lo em evidência, a Igreja lhes pergunta se estão dispostos a acolher e a educar, à luz da fé cristã, os filhos que Deus lhes quiser dar. A pergunta refere-se ao bem comum do futuro núcleo familiar, tendo presente a genealogia das pessoas, inscrita na própria constituição do matrimônio e da família. A pergunta sobre os filhos e a sua educação está estritamente ligada com o consentimento conjugal, com o juramento de amor, de respeito conjugal, de fidelidade até a morte. O acolhimento e a educação dos filhos, duas das finalidades principais da família, estão condicionados pelo cumprimento desse compromisso. A paternidade e a maternidade representam uma tarefa de natureza conjuntamente física e espiritual; através daquelas, passa realmente a genealogia da pessoa, que tem o seu princípio eterno em Deus.[71] Assim sendo, a exclusão da procriação no momento do consentimento mostra que os cônjuges pretendem ser marido e mulher, aceitam um ao outro como tal, mas excluem, neste caso, a fecundidade ou a dimensão procriativa do ato conjugal, simulando gravemente, de forma parcial, o seu consentimento. c) A exclusão do bonum fidei A exclusão da unidade ou da fidelidade conjugal, que é propriedade essencial e por isso inseparável do vínculo, pode verificar se um dos nubentes se reserva o direito de contrair novo matrimônio com outra pessoa, mantendo o primeiro vínculo conjugal, ou mediante a reserva do direito de ter relacionamento íntimo com outra pessoa distinta do próprio cônjuge. Com essa exclusão da fidelidade, exclui-se a exclusividade do vínculo. A fidelidade conjugal (bonum fidei) consiste na observânciada entrega mútua e exclusiva dos consortes, em ordem à procriação da prole. Além do aspecto afetivo, a fidelidade conjugal opõe-se a qualquer ato sexual fora do matrimônio. Uma das propriedades essenciais do matrimônio é a unidade,[72] à qual se opõe não só o matrimônio simultâneo com outra pessoa (poligamia), como também a infidelidade conjugal; tradicionalmente, a fidelidade conjugal (bonum fidei) é considerada um elemento essencial do matrimônio.[73] O comportamento antes e depois da celebração do matrimônio pode contribuir para a 87 apreciação da exclusão da fidelidade. O que nos parece mais acertado é investigar se, para a celebração do matrimônio, as partes assumiram ou não a obrigação de guardar fidelidade; isto é, se consequentemente tiveram consciência ou não de que seria prevaricação uma possível infidelidade futura. 6.7. CONDIÇÃO NÃO CUMPRIDA (CÂNON 1102) A condição não cumprida constitui outra fonte de falhas de consentimento. Pode-se imaginar que alguém faça o seu consentimento depender de determinada condição, que acaba por não se cumprir: da parte do rapaz, por exemplo, seria a exigência de que a consorte seja virgem; da parte da moça, a condição de que o noivo não tenha tido outra mulher na sua vida. Se, após o casamento, a comparte interessada verifica que a condição não se realizou, isso pode ser motivo de nulidade do matrimônio. Não é desejável que se coloquem tais condições antes do casamento. Por isso o Código prescreve que, para colocá-las, os nubentes precisam da licença prévia da autoridade eclesiástica. Por uma condição aposta ao consentimento, como menciona o cân. 1102, não se pode contrair validamen-te matrimônio sob condição de um fato futuro. Pode ha-ver condições quanto ao passado e presente, mas com licença do ordinário do lugar, dada por escrito. O matrimônio é válido ou nulo segundo se verifique ou não a existência ou não do fato ou acontecimento que é objeto da condição. Eis o teor do cânon 1102: § 1. Não se pode contrair validamente o matrimônio sob condição de futuro. § 2. O matrimônio contraído sob condição de passado ou de presente é válido ou não, conforme exista ou não aquilo que é objeto da condição. § 3. Todavia, a condição mencionada no § 2 não pode lici-tamente ser colocada sem a licença escrita do ordináriolocal. 6.8. VIOLÊNCIA OU MEDO (CÂNON 1103) O consentimento matrimonial há de ser expressocom liberdade ou sem constrangimento, nem interior,nem exterior. Por essa razão, assim diz o cânon 1103: “É inválido o matrimônio contrato por violência ou por me-do grave proveniente de causa externa, ainda que nãodirigido para extorquir o consentimento, e quando, para dele se livrar, alguém se veja obrigado a contrair o matrimônio”. Observemos a respeito: 1) O mal que a pessoa receia, se não aceitar o casamento, deve ser grave. A gravidade pode ser avaliada subjetivamente: o mesmo mal pode ser tido como grave por certas pessoas, e como leve por outras. Basta, porém, que haja gravidade subjetiva ou relativa. 2) O medo há de ser incutido por causa extrínseca (ameaça de morte, de denúncia, ou de vingança...). Não seja fruto da imaginação de quem se casa. Não é 88 necessário que o medo ou a violência visem diretamente ao consentimento matrimonial, mas basta que uma das partes, ao receber uma pressão, por uma situação embaraçosa qualquer, julgue não ter outra saída senão o casamento. Chama a atenção ainda o medo reverencial ou o receio de desagradar o pai ou a mãe, caso recuse determinado casamento. Tal medo é geralmente leve, mas pode tornar-se grave. A liberdade para tomar a decisão de casar deve estar livre de qualquer medo grave, mesmo que não seja provocado conscientemente, mas deve ser sentido pelo sujeito paciente do medo.[74] O cân. 1103 apresenta algumas condições para que a violência e o medo possam ser dirimentes do consentimento matrimonial, que podem ser analisadas com mais detalhe: a) violência ou medo grave Por razão da intensidade da perturbação de ânimo que se padece, o medo pode ser grave ou leve, dependendo da gravidade do mal, da probabilidade do que venha a acontecer, da possibilidade de fugir do mal sem problemas. A jurisprudência distingue entre o medo grave absoluto, capaz de perturbar seriamente o ânimo de uma pessoa amadurecida e consciente, e o medo subjetivamente grave, que, mesmo sem gerar um medo notável numa pessoa normal, causa, pelas condições psicológicas de quem o padece, uma grave perturbação. Obviamente é suficiente que, levando em conta as condições de idade e maturidade do sujeito, seja subjetivamente grave. Para avaliar a gravidade do medo, deve-se levar em conta, além da gravidade objetiva das ameaças, o caráter, o modo de ser de quem incute o medo ou profere as ameaças; se é violento ou não, se é dado a proferir ameaças se não cumpri-las, se há possibilidade de que leve a termo o mal ameaçado etc. Mas o que realmente conta no momento de avaliar o medo é que tenha existido realmente e perturbado a parte atingida, ou seja, a pessoa que padece o medo. b) proveniente de causa externa No atual cân. 1103, fica bem claro que deve haver uma causa externa. Sempre entendeu a Jurisprudência que não era nulo o matrimônio contraído por medo. Alguns casamentos contraídos com medo, por exemplo, por haver gravidez antes do matrimônio, podem gerar no ânimo dos contraentes o medo do que pode acontecer, mas, se não houver uma causa livre que incuta o medo, tornando-o intrínseco, isto não torna nulo o matrimônio. O Direito romano definia a violência como o “ímpeto de uma causa maior que não se pode resistir”.[75] Trata-se de uma pressão material, física, que obriga o sujeito a manifestar externamente um consentimento que internamente rejeita. Esse consentimento é nulo por direito natural e é nulo também por direito eclesiástico, com base no princípio geral do Direito, de acordo com o cân. 125, que assim diz: § 1. O ato praticado por violência infligida externamente à pessoa, e à qual esta de modo nenhum pode resistir, considera-se nulo. § 2. O ato praticado por medo grave incutido injustamente, ou por dolo, é válido, salvo determinação contrária do direito; mas pode ser rescindido por sentença do juiz, a requerimento da parte lesada ou de seus sucessores nesse direito, ou de ofício. 89 Pode-se ainda dizer que o termo “medo” faz referência a todos aqueles supostos que têm como denominador comum a utilização por parte de um terceiro de qualquer tipo de ameaça de certos danos, dirigidos diretamente ao ânimo interno do contraente, que por esta causa se oprime e aflige, além de obrigar o cônjuge a escolher entre o matrimônio, como o meio para livrar-se daqueles males, ou ter de sofrê-los.[76] A violência requer a presença de uma força posta por um agente pessoal exterior. Essa força dirige-se a operar sobre o cônjuge, com o objetivo de obter êxito sobre a realização da vontade do agente. O texto do cânon 1103 determina que o medo, que invalida o matrimônio, há de ser grave. Essa gravidade é um conceito jurídico, cuja apreciação resulta de ponderar, por um lado, a importância objetiva dos males provenientes da ação. Em síntese, para que o medo anule o consentimento, não se exige que o mal seja absolutamente grave, basta que seja relativamente grave, isto é, que o seja em relação ao sujeito paciente.[77] Fala-se também em medo reverencial, relacionado com alguma pessoa, com quem um dos nubentes guarda relação de superioridade, tendo um sentimento de reverência. A área típica de relação neste sentido são os familiares. Pode-se também acrescentar o ambiente profissional, com quem alguém tem alguma dependência em razão do cargo que ocupa no trabalho. O mal temido é precisamente a indignação grave e duradoura do superior por quem sente reverência. O medo comum grave pode ficar reforçado pela circunstância, como exemplo, a perda do cargo que ocupa, a expulsão do lar, a perda da herança etc. Nesses casos pode o medo reverencial assumir marcados graus de gravidade, precisamente pelas relações de intimidade e deferência queexiste entre eles. [78] 6.9. DISPENSA POR VÍNCULO NATURAL A análise realizada até o momento procurou concentrar a atenção na verificação de nulidade de certos casamentos; após o devido procedimento jurídico, a Igreja reconhece a nulidade desses vínculos e considera solteiras as duas partes interessadas. Em certos casos, porém, o matrimônio validamente contraído no plano natural é dissolvido pela Igreja em favor de um matrimônio sacramental. Examinemo-los. Com outras palavras: a Igreja não tem o poder de dissolver um casamento sacramental validamente contraído e consumado. Quando o matrimônio não é sacramental, mas é sustentado pelo vínculo natural apenas, a Igreja, em casos raros, pode dissolvê-lo em vista da fé ou de uma vivência matrimonial sacramental. 6.9.1. O privilégio paulino Na carta aos Coríntios,[79] São Paulo considera o caso de dois pagãos unidos pelo vínculo natural; se um deles se converte à fé católica e se a parte pagã lhe torna difícil a vida conjugal, o apóstolo autoriza a parte católica a separar-se para contrair novas 90 núpcias, contanto que o faça com um irmão ou uma irmã na fé. Antes, porém, da separação, é necessário interpelar a parte não batizada, perguntando a ela se quer receber o batismo ou se, pelo menos, aceita coabitar pacificamente com a parte batizada, sem ofensa ao Criador. Isso se explica pelo fato de que, para o fiel católico, o matrimônio sacramental é obrigatório: ou ele o contrai com o cônjuge pagão ou, se este não o propicia, contrai-o com uma pessoa católica.[80] 6.9.2. O privilégio petrino (privilégio da fé) O privilégio da fé é como que uma extensão do anterior.[81] Como foi dito, a Igreja não pode dissolver um casamento sacramental validamente contraído e consumado. Há, porém, uniões matrimoniais não sacramentais entre pessoas não batizadas. Caso venham fracassar algumas dessas uniões, em consequência, uma das duas partes, convertida ao catolicismo ou não, quer contrair novas núpcias com uma pessoa católica, habilitada a receber o sacramento do matrimônio. Essa pessoa católica pode então recorrer à Santa Sé e pedir a dissolução do vínculo natural da outra parte, assim como a eventual dispensa do impedimento de disparidade de culto, caso se trate de um judeu, de um muçulmano, de um budista, por exemplo, realiza-se, então, a cerimônia do casamento católico. Está claro, porém, que os cônjuges que se separam deverão prover à subsistência e à educação dos respectivos filhos. O privilégio petrino ou da fé tem especial aplicação nos países em que vigora a poligamia. Se o homem não batizado que tenha simultaneamente várias esposas não batizadas receber o batismo na Igreja Católica, poderá escolher a mulher que preferir, e deverá casar-se com ela na Igreja, observadas as prescrições relativas a matrimônios de disparidade de culto, se for o caso.[82] O mesmo vale para a mulher não batizada que tenha simultaneamente vários maridos não batizados. É evidente, porém, que o homem que se converte, tem o dever de prover às necessidades das esposas afastadas, segundo as normas da justiça e da caridade.[83] Diz-se que a dissolução do vínculo natural em favor de um casamento sacramental se faz para o bem da fé “in bonum fidei”, isto é, para permitir que ao menos um dos cônjuges , ou seja, a parte católica, se possa casar de acordo com a sua fé ou na Igreja. 91 7. A FORMA CANÔNICA DO MATRIMÔNIO A partir do Concílio de Trento,[1] a Igreja passou aprescrever a forma canônica como requisito para a va-lidade do matrimônio dos seus fiéis. Com isso, o matri-mônio, além de ser por excelência um ato consensual, passa a ser também um ato formal, isto é: o consentimen-to deve ser prestado segundo uma forma prescrita pela Igreja. Nas páginas que seguem, serão consideradas as características essenciais da forma canônica do matrimônio no Código de Direito canônico de 1983, a partir do cânon 1108. Na celebração do matrimônio, é necessário distinguir a forma jurídica, também chamada de forma canônica; a forma sacramental e a forma litúrgica: a forma jurídica ou canônica é construída pelas modalidades prescritas pela lei, cuja observância é necessária para que o consentimento tenha eficácia legal; a forma sacramental, segundo a opinião mais comum, é constituída pelo consentimento entre as partes que, como oferta e doação de si, é a matéria do sacramento; a aceitação mútua de tal oferta é a forma; a forma litúrgica[2] compreende os ritos e as cerimônias religiosas que acompanham o matrimônio cristão e exprimem o caráter eclesial e sacramental. Tais ritos são necessários somente para a liceidade. 7.1. AS NORMAS ESTABELECIDAS PELO CÂNON 1108 Assim prescreve o cân. 1108: § 1. Somente são válidos os matrimônios contraídos perante o ordinário local ou o pároco, ou um sacerdote ou diácono delegado por qualquer um dos dois como assistente, e, além disso, perante duas testemunhas, de acordo, porém, com as normas estabelecidas nos cânones seguintes, e salvas as exceções contidas nos cânones 144, 112 § 1, 1116 e 1127§§ 1 e 2. § 2. Considera-se assistente do matrimônio somente aquele que, estando presente, solicita a manifestação do consentimento dos contraentes e a recebe em nome da Igreja. Este cânon tem como fonte primeira o Decreto “Tametsi” do Concílio de Trento, e nele está a primeira legislação da Igreja sobre a forma canônica como requisito para a validade do matrimônio dos cristãos católicos.[3] O cânon determina que os nubentes prestem seu consentimen-to diante do ordinário local, do pároco ou de um outro sacerdote ou diácono, ou por outros, delegados por um deles. Contempla as exceções contidas nos cânones 144, que trata do erro comum, 1112 § 1 e 1116, que tratam da forma extraordinária, e 1127 §§ 1 e 2, onde trata dosmatrimônios mistos, para os quais pode ocorrer a dispensa da forma. 7.1.1. O celebrante 92 O celebrante, chamado também de assistente legítimo, tem um papel fundamental na celebração do matrimônio. Ele não representa apenas mera testemunha qualificada, mas tem um papel fundamental, como podemos ver claramente no § 2º do cân. 1108. Embora tendo esta significativa função na celebração do matrimônio, é distinto das testemunhas comuns, e desempenha apenas, junto com estas, uma função de testemunha autorizada que dá publicidade ao ato.[4] Outra característica do celebrante consiste em que ele só pode agir de acordo com a lei, isto é, quando tem poder ordinário ou delegado para tal, para o exercício da legítima assistência ao matrimônio.[5] Poder ordinário significa aquele que se obtém pelo próprio ofício (cf. cân. 131 § 1), com a tomada de posse nele. No caso do matrimônio, têm poder ordinário para exercer o ofício de assistente legítimo o ordinário do lugar[6] e o pároco, que não estejam impedidos por alguma pena canônica.[7] 7.1.2. A delegação e a subdelegação para a celebração do matrimônio Chama-se de poder delegado o poder adquirido de quem tem poder ordinário[8] e não do ofício. Poder subdelegado é o poder adquirido de quem tem poder delegado que pode ser subdelegado. No caso em questão, somente o ordinário do lugar e o pároco podem delegar. A delegação deve seguir as normas gerais contidasno cânon 137 § 1, que diz: “o poder executivo ordiná-rio pode ser delegado para um ato ou para a universalidade dos casos, salvo expressa determinação contrária do direito”.[9] E a subdelegação também deve seguir as normas gerais contidas neste mesmo cânon: § 2. O poder executivo delegado pela Sé Apostólica pode ser subdelegado, para um ato ou para a universalidade de casos, a não ser que tenha sido acolhida a competência da pessoa ou tenha sido expressamente proibida a subdele-gação. § 3. O poder executivo delegado por outra autoridade que tem poder ordinário, se foi delegado para a universalidade de casos, pode ser subdelegado somente em casos singulares; se, porém, foi delegado para um ou vários casos determinados, não pode ser subdelegado, salvo expressa concessão do delegante. § 4. Nenhum poder subdelegado pode ser novamente subdelegado, salvo expressaconcessão do delegante. Quem pode receber delegação para assistir ao matrimônio é o sacerdote, fato acolhido no direito da Igreja desde o Concílio de Trento; e o diácono, fato novo, fruto da doutrina do Concílio Vaticano II, que enumera, entre as funções do diácono, “assistir e abençoar em nome da Igreja, aos matrimônios”.[10] 7.1.3. Requisitos para a validade da delegação Sobre a validade da delegação, legisla o cân. 1111: § 1. O ordinário local e o pároco, enquanto desempenham validamente seu ofício, podem delegar a faculdade, mesmo geral, a sacerdotes e diáconos para assistirem aos matrimônios dentro dos limites de seus territórios. § 2. Para que seja válida a delegação para assistir a matrimônios, deve ser expressamente dada a pessoas determinadas; tratando-se de delegação especial, deve ser dada para um matrimônio determinado; tratando-se de delegação geral, deve ser dada por escrito. 93 A primeira condição para que a delegação seja válidaé que ela deve ser dada expressamente à pessoa determinada. A segunda condição exige que a delegação seja concedida a uma pessoa específica, a uma pessoa determinada.[11] A terceira condição nos diz que a delegação especial deve ser dada para um matrimônio determinado. Essa delegação pode ser concedida de forma oral ou escrita, [12] mas é evidente que quem recebe uma delegação especial para ser assistente legítimo de determinado matrimônio deve, antes de proceder à celebração das núpcias, verificar se tudo no processo matrimonial está conforme o direito.[13] Como quarto requisito para a validade, a lei deter-mina que a delegação geral deve ser dada por escrito, fato que parece ser exigido “ad validitatem”.[14] Delegação geral significa a que é dada a uma ou várias pessoas determinadas para assistir aos matrimônios que estão dentro de sua jurisdição. Esta é uma novidade do CIC de 1983, já que o anterior, no cânon 1096, só permitia este tipo de delegação aos vigários coadjutores para as paróquias a que estavam adscritos.[15] O fato de ser dada por escrito se justifica pela necessidade de se verificar o poder de quem a concede, o âmbito de sua jurisdição e a duração da delegação, na qual ainda se pode colocar cláusula proibindo a subdelegação. 7.1.4. A subdelegação O cânon 137 §§ 2, 3 e 4, como norma geral, trata da subdelegação. No que diz respeito à questão da subdelegação para assistente legítimo do matrimônio, o direito eclesial determina que sejam observados os requisitos seguintes: quem recebe delegação especial só pode subdelegar se foi expressamente autorizado pelo delegante; já quem tem delegação geral para assistir a matrimônios em determinada jurisdição só pode subdelegar para casos singulares, sem necessidade de especial autorização do delegante, a não ser que se tenha atendido a qualidades especiais concretas.[16] 7.1.5. Situação particular: o assistente leigo O cân. 1112 assim diz: § 1. Onde faltam sacerdotes e diáconos, o bispo diocesano, com o prévio voto favorável da conferência dos bispos e obtida a licença da Santa Sé, pode delegar leigos para assistirem aos matrimônios. § 2. Escolha-se um leigo idôneo, que seja capaz de formar os nubentes e de realizar convenientemente a liturgia do matrimônio. A Sagrada Congregação dos sacramentos já havia regulado a matéria através de uma Instrução datada de 15 de maio de 1974,[17] o que mostra ter sido esse benefício já concedido em algumas regiões do mundo. No entanto, essa decisão certamente é também fruto da eclesiologia do Concílio Vaticano II, que define a Igreja como Povo de Deus e ressalta a sua relação com o ministério do leigo e seu espaço no âmbito eclesial. 94 [18] E complementa o Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos: “Em situações de falta de sacerdotes e diáconos, o bispo poderá solicitar leigos especialmente preparados, que desenvolvam supletivamente algumas tarefas próprias do ministro sagrado. Estas são: [...], assistência ao matrimônio, e outras”.[19] No próprio enunciado do cânon 1112, podemos facilmente perceber os requisitos que a lei exige para que um leigo, homem ou mulher, receba a delegação para ministro assistente do matrimônio. Antes de tudo, se trata de um ministério supletório ou extraordinário, pois, nesse caso, o leigo só pode agir licitamente onde faltam sacerdotes ou diáconos. A faculdade de conceder esta delegação é de exclusividade do bispo diocesano, que, para isso, precisa ter antes o voto favorável da Conferência Episcopal. Para o Brasil, a CNBB já emitiu seu voto favorável.[20] Precisa ainda obter a licença junto à Santa Sé, que atualmente concede essa faculdade por um prazo de cinco anos, podendo ser renovada por períodos sucessivos de cinco anos mediante novo recurso.[21] Para a liceidade, o segundo parágrafo do cânon em análise exige que o leigo seja idôneo, o que significa, segundo o teor do mesmo parágrafo, que ele seja capaz de compreender as formalidades do matrimônio, pelo menos no mínimo que a lei exige, e que saiba presidir dignamente a liturgia matrimonial, pois a celebração do matrimônio é um momento singular para a vida dos nubentes e de todos os que os acompanham, além de o ser também para a comunidade e também para a sociedade. Por isso, requer toda solenidade possível. O Ritual Romano do matrimônio contempla a celebração de casamento presidida por leigos.[22] 7.1.6. A suplência da faculdade (cân. 144) A suplência da faculdade ordinária ou delegada pode ser considerada uma terceira faculdade para assistir ao matrimônio,[23] já que o cân. 1108 remete ao cân. 144, que assim prescreve: Em caso de erro comum, de fato ou de direito, e ainda em caso de dúvida positiva e provável, quer de direito, quer de fato, a Igreja supre o poder executivo de governo tanto para o foro externo como para o interno. O presente cânon ressalta que a suplência da Igreja, tanto para o foro interno quanto para o externo, pode ser dada em dois casos: erro comum, de fato ou de direito, e dúvida positiva e provável, de direito ou de fato. Nestes casos, mesmo faltando ao assistente a faculdade ordinária ou delegada[24] para assistir ao matrimônio, o casamento celebrado sob sua assistência não é inválido por defeito de forma, pois a Igreja supre esse defeito. Entende-se por erro o juízo falso sobre alguma coisa ou realidade. Erro comum de fato, no caso do matrimônio, pode se dar quando a comunidade ou parte dela julga que aquele sacerdote ou diácono, que agiu como assistente naquele determinado matrimônio, tinha a devida faculdade para tal, quando na verdade ele não a tinha. Já o erro comum de direito acontece quanto todo o conjunto do ato, em nosso caso, a 95 celebração do matrimônio, induz ou provoca o erro da comunidade ou parte dela.[25] O objetivo do instituto da suplência, como assinala a jurisprudência e a maior parte da doutrina, “é tutelar o bem comum dos fiéis, evitar um mal comum, tranquilizar os contraentes”,[26] evitando, o máximo possível, os casamentos nulos por defeito de forma; salvaguardando, assim, o direito inalienável que toda pessoa tem de contrair matrimônio.[27] 7.2. AS TESTEMUNHAS O Concílio de Trento já prescrevia a presença de pe-lo menos duas testemunhas comuns no ato da troca de consentimento entre os nubentes e é requisito preceitua-do pela Igreja para a validade das núpcias.[28] Hoje, este requisito é uma exigência que não pode faltar mesmoem caso de matrimônio contraído sob a forma extraordinária. Para ser testemunha comum de um casamento, exige-se apenas que a pessoa, homem ou mulher, seja capaz de testemunhar, isto é, que tenha uso da razão e que não sofra de algum distúrbio que possa atrapalhar esse serviço; além disso, exige-se que esteja fisicamente presente no ato da celebração do matrimônio, independente de ser católico ou acatólico. Isso significa que a testemunha deve ter “capacidade de entender o que está acontecendo e de dar fé, isto é, deve atestar diante da comunidade que o consentimento foi efetivamente prestado”.[29] Os nomes das testemunhas devem ser escritos na ata de casamento, junto com o doassistente e os dos nubentes.[30] 7.3. LOCAL ONDE DEVE OCORRER A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO O cân. 1115 ressalta: Os matrimônios sejam celebrados na paróquia onde uma das partes tem domicílio, ou quase-domicílio ou residência há um mês, ou, tratando-se de vagantes, na paróquia onde na ocasião se encontram; com a licença do próprio ordinário ou do próprio pároco, podem ser celebrados em outro lugar. O código estabelece, para a liceidade, que a celebração do matrimônio seja feita na paróquia onde ambos os cônjuges têm domicílio: “Adquire-se domicílio pela residência no território de uma paróquia, ou ao menos de uma diocese que, ou esteja unida a intenção de aí permanecer perpetuamente se nada afastar daí, ou se tenha prolongado por cinco anos completos” (cân. 102 § 1). Em caso de domicílios diferentes, os nubentes são livres para escolher o local para a cerimônia de casamento, que pode ser: ou o do domicílio do noivo, ou o do domicílio da noiva. O mesmo acontece quando os nubentes têm apenas quase-domicílio. No que diz respeito ao local físico para a celebração do casamento, a lei da Igreja assim determina no cânon 1118: § 1. O matrimônio entre católicos ou entre uma parte católica e outra não católica, mas batizada, seja 96 celebrado na igreja paroquial; poderá ser celebrado em outra igreja ou oratório com a licença do ordinário local ou do pároco. § 2. O ordinário local pode permitir que o matrimônio seja celebrado em outro lugar conveniente. § 3. O matrimônio entre uma parte católica e outra não batizada poderá ser celebrado na igreja ou em outro lugar conveniente. Da expressão “lugar conveniente” de que fala o cânon 1118, entende-se aquele lugar que não é consagrado ao culto, ou seja, lugar diferente de igreja, oratório ou capela, que pode ser uma casa particular, um colégio etc. Mas para que o casamento seja licitamente celebrado fora de um “local sagrado”, se faz necessária a devida licença do ordinário local, único competente neste caso, como nos deixa claro o enunciado desse mesmo cânon. A celebração do casamento em “outro lugar conveniente” se justifica, sobretudo no caso de um doente em perigo de morte. Para análise, deve ser levado em conta os aspectos geográficos e culturais de cada região. Para contemplar essas situações pastorais, certamente já existe, mesmo que só presumida, a licença do ordinário local para a celebração lícita dos casamentos nesses espaços, onde também acontece a administração de outros sacramentos. 7.4. A CERTEZA DO ESTADO LIVRE DOS CONTRAENTES O cân. 1113 é uma confirmação do cân. 1066, segundo o qual, antes de proceder a celebração do matrimônio, deve constar, com certeza (não bastam as conjecturas e simples elementos negativos) que nada se opõe à validade e liceidade de tal celebração. Essa tarefa compete ao pároco ao qual cabe assistir o matrimônio, de acordo com o cân. 1115, mas porque a responsabilidade pelo matrimônio é também do sacerdote ou diácono que assistem efetivamente ao matrimônio em força da delegação recebida, desse modo o cânon 1114 prescreve também a necessidade do assistente que age por delegação geral, solicitar a licença à autoridade competente para que possa assistir licitamente a determinado matrimônio. Vejamos o que diz o cân. 1114: O assistente ao matrimônio age ilicitamente se não lhe constar do estado livre dos contraentes, conforme o direito, e, se possível, da licença do pároco, sempre que assistir em virtude da delegação geral. A legislação estabelece, embora não de maneira determinante, pois coloca a cláusula “se possível”, a necessidade de se pedir licença ao pároco para assistir ao matrimônio, no caso de quem atua em virtude de uma delegação geral. Essa licença não afeta a validade do matrimônio realizada sem ela, mas o torna ilícito na medida em que não se tenha feito o possível para obtê-la.[31] Ao atuar como testemunha qualificada em “outro lugar”, aquele que vai oficializar a celebração precisa pedir licença ao pároco ou ao ordinário do lugar para que possa agir licitamente.[32] Naturalmente, quem vai atuar numa paróquia sobre a qual não se tem jurisdição, precisa, antes de tudo, dar ciência ao pároco e, se possível, ao ordinário do lugar, muito mais ainda quando se trata da celebração do matrimônio, ato que tem uma 97 forte conotação jurídica, a fim de que possa agir licitamente e em comunhão com a Igreja local. 7.5. A FORMA CANÔNICA EXTRAORDINÁRIA É admissível duas formas canônicas para a celebração do matrimônio: uma ordinária e outra extraordinária. O cân. 1116 prevê o uso da forma extraordinária para a celebração do matrimônio dos fiéis católicos, a saber: § 1. Se não é possível, sem grave incômodo, ter o assistente competente de acordo com o direito, ou não sendo possível ir até ele, os que pretendem contrair verdadeiro matrimônio podem contraí-lo válida e licitamente só perante as testemunhas. 1º em perigo de morte; 2º fora de perigo de morte, contanto que prudentemente se preveja que este estado de coisas vai durar por um mês. § 2. Em ambos os casos, se houver outro sacerdote ou diácono que possa estar presente à celebração do matrimônio juntamente com as testemunhas, salva a validade do matrimônio só perante as testemunhas. No início do parágrafo primeiro deste cânon, a Igreja deixa claro que a forma extraordinária tem caráter supletório, podendo ser usada apenas quando não é possível o uso da forma ordinária sem “grave incômodo”. Esta forma consiste na celebração do matrimônio sem a presença do assistente legítimo, à semelhança dos casamentos que eram celebrados nos primeiros séculos do cristianismo.[33] 7.6. REQUISITO A SER EXIGIDO: INTENÇÃO DE CONTRAIR VERDADEIRO MATRIMÔNIO A intenção dos nubentes de contrair “verdadeiro matrimônio” é o principal requisito subjetivo da forma extraordinária. Pode-se dizer que a expressão “verdadeiro matrimônio” de que trata o cânon em questão significa, neste caso, o matrimônio canônico, isto é, o consentimento prestado pelos contraentes conforme o direito da Igreja. Este requisito também é importante para que muitos fiéis que não sabem da possibilidade do uso da forma extraordinária, tendo contraído verdadeiro matrimônio segundo os preceitos da Igreja, não venham a acreditar que vivem em concubinato só porque não o fizeram junto a uma testemunha qualificada.[34] É necessário que haja nos nubentes verdadeira intenção de contrair matrimônio canônico para que ele de fato se efetive, porque pode acontecer de se considerar matrimônio canônico o simples matrimônio civil ou um acordo qualquer entre os nubentes, pelo simples fato de estarem enquadrados nos requisitos da forma extraordinária. A forma extraordinária é um modo de celebração matrimonial que não contempla a investigação prévia por parte do pároco, nem a preparação doutrinal e espiritual dos nubentes necessariamente, corre-se o risco de que os contraentes se casem sem o conhecimento dos direitos e deveres mínimos do matrimônio, conforme o cânon 1096, 98 o que não acarretaria nulidade; mas também corre-se o perigo de que, num casamento sem esta investigação prévia e preparação pastoral, os nubentes venham a rejeitar positivamente um elemento ou propriedade essencial do matrimônio conforme o cânon 1101 § 2, o que redundaria em nulidade; além disso, há também o perigo de contrair matrimônio apesar de haver impedimentos, o que também poderia resultar em nulidade do ato.[35] Faz-se necessário a implementação de uma verdadeira pastoral do matrimônio e da família e que os párocos se preocupem em esclarecer aos seus fiéis os requisitos básicos para o uso adequado da forma extraordinária para a celebração do matrimônio. 7.7. IMPOSSIBILIDADE DE USAR A FORMA ORDINÁRIA SEM “GRAVE INCÔMODO” O cân. 1116 inicia sua redação dizendo “se não é possível”, o que indica que se trata de um requisito supletório que visa, sobretudo, a não tolher o direito primário ao casamento daqueles que não podem servir-se da forma ordinária “sem grave incômodo”. A forma ordinária é um requisito legal, adicionado ao consentimento,para a validade do casamento, mas que pode ser dispensada pelo ordinário local em casos previstos pelo direito.[36] Ela visa garantir a solenidade das núpcias e sua seguridade jurídica e, por isso, na Igreja, ela é também requisito para a validade do casamento. A expressão “grave incômodo” é passível de reflexões e aplicações concretas. Mas, antes de tudo, essa palavra diz respeito tanto ao assistente, quando não é possível ir até os nubentes, quanto aos nubentes, quando não podem ir até o assistente, o que pode ocorrer, sobretudo, em regiõesde guerra, lugares onde acontecem tiroteios, sanções civis, militares e situação de constrangimento, entre outras. Essa “grave dificuldade” pode ser entendida também como aquela situação em que a pessoa só pode cumprir a exigência legal servindo-se de recursos extraordinários.[37] Mas deve medir o grau de gravidade do incômodo, são aqueles que estão envolvidos diretamente na celebração do matrimônio, o pároco e os noivos; por isso opina-se em relação ao empecilho existente, “que bastaria fosse estimado grave pelos interessados, mesmo que o não seja para o comum das pessoas”.[38] 7.7.1. Nos casos de perigo de morte Nas circunstâncias em que ocorre o risco de morte, como grave enfermidade, perigo de acidente, guerra, naufrágio etc., que podem afetar um ou os dois cônjuges, provocado por causa interna ou externa, na qual a pro-babilidade de morte é tão grave quanto a possibilidade de sobrevivência, para que se enquadre nesse requisito, o uso da forma extraordinária neste caso se justifica quandonão for possível pedir a dispensa da forma canônica ao ordinário local.[39] 99 O cânon não exige nenhum atestado médico para que se comprove o estado de perigo de morte. Por isso, as circunstâncias e os próprios nubentes farão a avaliação desse estado. E, se depois da celebração do casamento for constatado erro nesse “diagnóstico”, isso não afeta a validade do matrimônio, a não ser que tenha havido má- fé em tal apreciação.[40] A avaliação sobre a situação de perigo de morte, que justifica o uso da forma extraordinária para a celebração do matrimônio, está a cargo dos nubentes porque são eles que passam por essa situação e, ao mesmo tempo, os que estão interessados em contrair um verdadeiro matrimônio. [41] 7.7.2. Nos casos fora do perigo de morte O enunciado do cânon 1116 deixa claro que não é necessário que a ausência do assistente legítimo, ou a impossibilidade de os contraentes irem até ele sem grave incômodo se efetive por um mês, mas basta que isso seja previsto com prudência e muita seriedade pelos interessados no matrimônio. Essa previsão se deve contar a partir do momento em que tudo está preparado para o casamento e não a partir do momento em que se decide a sua celebração ou se marca a sua data.[42] O parágrafo segundo do cânon em questão prescreve que, havendo um sacerdote ou diácono que possa se fazer presente na celebração do matrimônio sob a forma canônica extraordinária, que ele seja convidado para fazer parte da cerimônia.[43] Não, porém, evidentemente, como assistente legítimo, mas como ministro sagrado que possa presidir a celebração litúrgica do casamento, conceder uma bênção aos nubentes e atuar como testemunha comum junto com as demais, ajudando a fazer a ata do casamento que será enviada à paróquia para o devido registro em livro próprio. Mas vale ressaltar que, caso não seja possível essa presença, isso em nada afeta a validade nem a liceidade do casamento realizado pela forma extraordinária, que consiste justamente no matrimônio celebrado sem a presença do assistente legítimo. A forma canônica extraordinária do matrimônio nasceu por necessidade e cremos que continua sendo uma prescrição necessária da legislação da Igreja; porém, requer cuidados especiais por parte dos pastores, para que se evite o perigo, tanto do desconhecimento quanto do uso indiscriminado dessa forma, o qual implicaria o risco de se voltar à prática dos matrimônios clandestinos, que já foram motivo de preocupação para a Igreja. Para isso, as Conferências Episcopais e os ordinários do lugar têm a tarefa de preparar roteiros para a celebração do matrimônio na forma extraordinária, ressaltando, sobretudo, o caráter sagrado da cerimônia.[44] 7.8. OS QUE ESTÃO OBRIGADOS À FORMA CANÔNICA O cân. 1117 estabelece: A forma acima estabelecida deve ser observada, se ao menos uma das partes contraentes tiver sido batizada na Igreja Católica ou nela tenha sido recebida, e não tenha saído por ato formal, salvas as prescrições do cânon 100 1127 § 2. E o cân. 1127 § 2 assim ressalta: Se graves dificuldades obstam a observância da forma canônica, é direito do ordinário local da parte católica dispensar dela em cada caso, consultado, porém, o ordinário local de onde se celebra o matrimônio e salva, para a validade, alguma forma pública de celebração; compete à Conferência dos Bispos estabelecer normas, pelas quais se conceda tal dispensa de modo concorde. Em conformidade com o requisito geral estabelecido pela lei eclesial, a forma canônica, tanto ordinária quanto extraordinária, deve ser observada pela parte católica para a validade de suas núpcias, salvo os casos em que, segundo o direito, o ordinário local pode dispensar,[45] e tenha sido de fato dispensado. Por católico se entende, segundo o direito, a pessoa que foi batizada na Igreja Católica ou nela recebida, e que não tenha se afastado por um ato formal.[46] Todas as exceções referentes ao ato formal de afastamento da Igreja foram eliminadas dos três cânones nos quais estava presente, a saber: 1117; 1127 e 1124.[47] Pelo teor do cân. 1117, entende-se que estão sujeitos à forma canônica todos os católicos, batizados ou convertidos à Igreja Católica e que nela perseveram, mesmo que nunca tenham frequentado uma igreja, exceto para receber o batismo, ou que não sigam os princípios e normas propostas pela fé católica.[48] 7.8.1. A dispensa da forma canônica O código atual adota como princípio geral a não dispensa da forma canônica, embora o cânon 87 § 1 determine como norma geral a seguinte nota: § 1. O bispo diocesano, sempre que julgar que isso possa concorrer para o bem espiritual dos fiéis, pode dispensá-los das leis disciplinares, universais ou particulares, dadas pela suprema autoridade da Igreja para o seu território ou para os seus súditos. Mas a Comissão de Interpretação do Código respondeu, em 1985, que o bispo diocesano não pode dispensar dois católicos da forma canônica do matrimônio servindo-se das prerrogativas do cânon 87 § 1, a não ser em caso de urgente perigo de morte.[49] 7.8.2. Nos casos de urgente perigo de morte (cân. 1079 § 1) Prescreve o cânon 1079: § 1. Urgido o perigo de morte, o ordinário local pode dispensar seus súditos, onde quer que se encontrem, e todos os que se achem em seu território, seja de observar a forma prescrita na celebração do matrimônio, seja de todos e cada um dos impedimentos de direito eclesiástico, públicos ou ocultos, com exceção do impedimento proveniente da sagrada ordem do presbiterato. Em caso de perigo de morte, o ordinário local pode dispensar da forma canônica, ordinária ou extraordinária, os católicos, seus súditos; ou mesmo não sendo seus súditos, os que se encontram no território de sua jurisdição. O perigo urgente de morte é 101 uma situação que normalmente impossibilita o pároco de pedir a dispensa ao ordinário local e, por isso, a lei prevê a possibilidade, neste caso, de que o pároco ou mesmo o ministro, sacerdote ou diácono que vai assistir ao matrimônio com a devida delegação, ou mesmo o sacerdote ou diácono que participa do matrimônio na forma extraordinária, possa dispensar da forma canônica,[50] desde que não possa recorrer ao ordinário local, ou que isso só seja possível por meio de telégrafo ou telefone.[51] Isso se justifica pela necessidade de assegurar a forma escrita da dispensa, mesmo que esta não afete a validade do matrimônio,[52] porque ela é importante como prova. O confessor, porém, não pode dispensar da forma canônica, pois se tratade um requisito público, enquanto ele só pode dispensar, em caso de perigo de morte, dos impedimentos ocultos, no foro interno, dentro ou fora da confissão sacramental.[53] Feita a devida dispensa pelo pároco, ou outro sacerdote ou diácono com delegação para assistir matrimônios, ou que tenha sido convidado e estado presente na celebração do casamento sob a forma extraordinária, deve-se comunicar imediatamente ao ordinário do lugar a dispensa da forma que foi concedida, a fim de que seja anotada no livro de casamentos.[54] 7.9. O REGISTRO DO MATRIMÔNIO CELEBRADO Estabelece os cânones 1121 a 1123 que todo matrimônio deve ter o seu registro. Essa determinação legal visa, sobretudo, a comprovar a realização da celebração do casamento e se enquadra no âmbito das formalidades do matrimônio. Nesse sentido, determina o cânon 1121: § 1. Celebrado o matrimônio, o pároco do lugar da celebração, ou quem lhe faz as vezes, ainda que nenhum deles tenha assistido ao matrimônio, registre o mais depressa possível no livro de casamentos os nomes dos cônjuges, do assistente, das testemunhas, o lugar e a data da celebração do matrimônio, segundo o modo prescrito pela Conferência dos Bispos ou pelo bispo diocesano.[55] Cada matrimônio celebrado deve ser anotado também na margem do livro de batizados, junto às anotações de batismo de cada contraente,[56] a fim de que seja comprovado o estado de casado da pessoa, para evitar que alguém contraia um novo matrimônio com impedimento de vínculo que não pode ser dispensado. Em ambos os livros serão anotadas também as decisões jurídicas que dizem respeito ao matrimônio de cada contraente, tais como: declaração de nulidade matrimonial, dissolução do vínculo, convalidação, entre outros,[57] para comprovar o estado da pessoa e sua possibilidade de contrair matrimônio ou não. No Brasil prevalecem os costumes locais e as prescrições do ordinário local. 7.10. CELEBRAÇÃO USANDO A FORMA ORDINÁRIA 102 A forma canônica ordinária é utilizada como procedimento comum na celebração do matrimônio dos católicos. Quanto às anotações dos dados do matrimônio celebrado com esta forma, o procedimento deve seguir as prescrições do cânon 1121 § 1, conforme descrevemos acima, pois, sendo o matrimônio um ato público, deve constar num registro público. 7.11. MATRIMÔNIOS CELEBRADOS COM A FORMA EXTRAORDINÁRIA No caso de matrimônios celebrados com a forma extraordinária, a legislação determina que o sacerdote ou o diácono que porventura tenha estado presente na celebração do matrimônio ou, em caso de ausência destes, as testemunhas comuns juntamente com os contraentes, devem informar ao pároco ou ao ordinário do lugar sobre a celebração do casamento.[58] Para que essa informação e a futura anotação tenham melhor segurança jurídica, é necessário que, no ato da celebração do casamento, seja redigida uma ata, descrevendo a realização da celebração e contendo as assinaturas dos nubentes e das testemunhas. É essa ata que se deve entregar ao pároco ou ao ordinário do lugar, para que proceda à devida anotação no livro de casamentos da paróquia onde foi celebrado o matrimônio e no livro de batismo de cada um dos cônjuges. 7.12. PARA MATRIMÔNIOS CELEBRADOS COM DISPENSA DA FORMA CANÔNICA O cân. 1121 § 3 evidencia: No que se refere ao matrimônio contraído com dispensa da forma canônica, o ordinário local que concedeu a dispensa cuide que a dispensa e a celebração sejam inscritas no livro de casamentos, tanto da cúria como da paróquia própria da parte católica, cujo pároco tenha feito as investigações de estado livre; o cônjuge católico tem a obrigação de certificar quanto antes a esse ordinário e ao pároco a celebração do matrimônio, indicando também o lugar da celebração, bem como a forma pública observada. O texto do cânon deixa claro que os que contraíram matrimônio com dispensa da forma canônica ficam na obrigação de informar ao ordinário do lugar ou ao pároco, logo após a realização do casamento, os dados da cerimônia; esses dados serão anotados em ambos os livros de casamento: o da paróquia da parte católica e o da cúria diocesana. 7.13. PARA MATRIMÔNIOS SECRETOS Por causa grave e urgente, é permitido, através do ordinário local, que o matrimônio seja celebrado secretamente. Isso significa que tanto as investigações matrimoniais quanto a celebração do casamento devem ser feitas em segredo; além disso, esse 103 segredo deve ser preservado depois da celebração do casamento.[59] Porém, não se altera o uso da forma canônica: o consentimento é prestado pelos contraentes diante do assistente legítimo e das testemunhas, apenas de forma secreta. Por isso, o matrimônio assim celebrado deve ser anotado somente num livro especial que se deve guardar no arquivo secreto da cúria diocesana.[60] Entretanto, as anotações são as mesmas daquele celebrado na forma ordinária; a única diferença é que deve ser anotado não no livro de casamentos da paróquia, mas num livro preparado especialmente para isso, que fica no arquivo secreto da cúria diocesana, justamente para atender ao requisito do segredo que, por especial concessão do ordinário local, reveste esse matrimônio. Com estas considerações apresentadas, foi possível notar a importância da forma canônica na celebração de um matrimônio. Não são poucos os casos de nulidade matrimonial que provêm de falta na forma jurídica do casamento. Os defeitos de forma jurídica podem dar lugar à nulidade do matrimônio, uma vez que a forma canônica é requerida “ad valididatem”. Por essa razão, cabe aos párocos uma especial atenção na confecção do processo de habilitação matrimonial, a fim de evitar dificuldades no futuro. 104 8. A CONVALIDAÇÃO E A SANAÇÃO DO MATRIMÔNIO É possível convalidar ou sanar o matrimônio quando se descobre que ele é nulo. A convalidação e a sanação são dois conceitos diferentes. E existem três possíveis soluções jurídicas: a) A convalidação; b) A sanação na raiz; c) Celebrar novamente o matrimônio. O Código de Direito canônico só regula as duas primeiras. A possibilidade de celebrar de novo o matrimônio, na realidade, não necessita regulação própria: é um matrimônio como qualquer outro, portanto segue a normativa comum a todos os matrimônios. Para que o matrimônio seja válido, deve reunir três requisitos: a) Que não tenha impedimento; b) Que os contraentes tenham prestado o consentimento válido; c) Que o tenha feito em forma canônica válida. Por outro lado, deve-se lembrar que os matrimônios podem apresentar três tipos de nulidade: a) Por ter um impedimento; b) Por defeito de consentimento; c) Por defeito de forma. Também é necessário recordar que o consentimento conjugal é pessoal, de maneira que ninguém pode supri-lo. O mesmo não ocorre com a forma canônica, nem com os impedimentos de direito eclesiástico, que podem ser dispensados. 8.1. A CONVALIDAÇÃO SIMPLES Nos dois últimos capítulos da legislação sobre o sacramento do matrimônio, contida no Código de Direito canônico, são apresentadas disposições altamente pastorais relativas à convalidação do matrimônio. Os cânones 1156-1160 apresentam as disposições para a chamada convalidação simples, que em algumas dioceses chamam de santificação, e que nada mais é que uma nova ou uma primeira celebração, em que os cônjuges, obrigados à forma canônica, mas que celebraram um matrimônio canônico nulo, por carecer da devida dispensa, ou o matrimônio somente civil, ou que se tivesse unido maritalmente com união meramente natural, renova ou manifesta pela primeira vez o consentimento de acordo com o cân. 1108, observada, portanto, a chamada forma 105 canônica da celebração do matrimônio de que fala esse mesmo cânon. Trata-se de uma celebração em que os nubentes aceitam manifestar o seu consentimento, renovando-o ou expressando-o pela primeira vez oficialmente. E cabe ao pároco, ou a quem faz as suas vezes, proceder à habilitação das partes, como para qualquer matrimônio que se celebre normalmente.[1] Segundo a doutrina canônica, os requisitos para realizar a convalidação são os seguintes:a) Forma canônica válida. É necessária que tenha aparência de matrimônio e se tenha celebrado de acordo com as exigências da forma jurídica substancial. b) Cessação da causa de nulidade. Tal cessação pode produzir-se pela desaparição do feito que dá lugar ao impedimento. Exemplo: por ter cumprido a idade exigida ou por dispensa. c) Permanência do consentimento na outra parte. Pressupõe que o consentimento prestado em seu momento persevera, a não ser que se demonstre o contrário. Se nenhum dos dois consentiu em seu momento, ambos deverão renovar o consentimento para a convalidação. Deve-se assinalar que a perseverança do consentimento se refere à vontade de ser marido e esposa. É compatível, portanto, com situações de infidelidade na época da celebração do casamento, quando uma das partes tinha um outro caso paralelo e com quem mantinha intimidades. Assim sendo, o requisito central da convalidação é a renovação do consentimento por parte de um ou dos dois cônjuges, segundo cada caso, pois pode acontecer de ter ocorrido o vício de consentimento por parte de um só dos nubentes. A outra parte, em determinados casos, não precisa nem mesmo tomar conhecimento. A renovação do consentimento consiste em um novo ato da vontade, que pode manifestar-se através de uma declaração formal ou incluso mediante um comportamento claramente expressivo. Não faz falta nenhuma intervenção da autoridade eclesiástica. O que conta é que o cônjuge renove o seu consentimento. 8.2. A “SANATIO IN RADICE” A sanatio in radice (sanação na raiz) aparece regulada nos câns. 1161-1165, trata-se também de uma convalidação do matrimônio, chamada sanatio in radice, que se obtém não pela renovação ou manifestação do consentimento, mas sim e unicamente mediante um decreto papal ou do bispo diocesano, quer pela dispensa, como que a posteriori, da forma canônica.[2] Trata-se de um ato da autoridade eclesiástica pelo que se revalida o matrimônio. O objetivo é solucionar situações matrimoniais que não podem ser realizadas sacramentalmente por falta de desejo de uma das partes, mas que tenha acontecido algum tipo de consentimento válido. É nesse sentido que se prevê a possibilidade da sanação na raiz. A sanatio in radice é a convalidação de um matrimônio, concedida, caso por caso, 106 pelo bispo diocesano, ou por quem o Direito considera equiparado a este,[3] ou também por quem possua delegação para atuar nestes casos específicos, ou pelo Romano Pontífice, para vários casos. O bispo diocesano não pode dar a sanatio in radice ao matrimônio no qual esteja presente um impedimento cuja dispensa esteja reservada à Santa Sé ou que na ocasião da manifestação do consentimento foi ele inválido por impedimento de direito natural ou de direito divino positivo.[4] A sanatio in radice é uma graça concedida por escrito, sem que seja renovado o consentimento, sendo necessário, para tanto, a existência de um consentimento que não seja viciado.[5] A sanatio é uma dispensa e um meio extraordinário que pode ser aplicado quando a convalidação simples não for possível, por exemplo, quando uma das partes não quer casar no religioso, ou para receber uma maior segurança da validade do matrimônio, em determinados casos duvidosos; essa concessão comporta, de fato, a dispensa dos impedimentos matrimoniais de direito eclesiástico e até mesmo da forma canônica. O matrimônio se torna válido a partir do momento em que é concedida a sanatio, mas seus efeitos retroagem ao momento mesmo em que foi prestado o consentimento. Portanto, possui um efeito retroativo. O pedido para a sanatio deve ser feito, enquanto possível, apresentando os documentos de costume para a preparação ao matrimônio. Na prática a parte interessada narra a sua história explicando os motivos que a levaram a tal decisão e anexa a esse pedido a prova da celebração que conteve o consentimento, só no civil ou testemunhos de união naturalmente válida; da garantia de que persistem no consentimento; da oposição do cônjuge à convalidação simples, requerendo então a sanatio ao bispo; apresenta também a declaração de seu pároco, ou de quem lhe faça as vezes, que deve prever, reconhecidamente, que as partes querem continuar a viver o seu matrimônio. O bispo diocesano, ao findar a análise do caso e percebendo que estão garantidas todas as exigências requeridas pelo direito, relativas à sanatio, decreta-a com documento próprio. As anotações nos livros de batizado e de matrimônios da paróquia são feitas normalmente citando o decreto.[6] As condições 1) Ocorreu precedentemente uma situação de consentimento matrimonial (p. ex., casamento civil). 2) Não existem impedimentos para o matrimônio de direito natural ou divino, como, por exemplo, matrimônio precedente, impotência coeundi, consanguinidade. 3) Ambos devem satisfazer as condições para um consentimento válido (pessoas juridicamente hábeis que manifestam um ato de vontade pelo qual um homem e uma mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente (cf. cân. 1057); 4) Se for um matrimônio misto, deve-se atentar para as prescrições do cân. 1125; 5) Para a concessão da sanatio, devem existir apenas motivos que sejam válidos e 107 justos, um motivo grave, entretanto, é que poderá permitir que seja concedida sem que uma ou ambas as partes não saibam.[7] Existem algumas disposições canônicas, tipicamente jurídicas, em que a preocupação por excelência é mais obviamente o bem das almas.[8] Na praxe pastoral, de fato, é frequente dar-se o caso em que um dos “cônjuges” deseje ardentemente regularizar uma situação matrimonial irregular mediante a renovação do consentimento já prestado, ao passo que o outro não a admite de modo algum. A solução já está prevista nas disposições canônicas relativas à sanatio in radice, que pode ser decretada justamente sem a renovação do consentimento.[9] A importância pastoral da sanatio in radice se evidencia particularmente porque pode ser concedida validamente sem o conhecimento até mesmo de ambas as partes, embora então não deva ser concedida, a não ser por causa grave.[10] Tal importância pastoral, porém, decorre, sobretudo, da possibilidade de regularizar uma situação matrimonial, trazendo a paz e a participação eclesial plena de quem as deseja e as procura ardentemente, mas que fica impedido de fazê-lo porque o outro “cônjuge” não admite, pelos motivos mais variados e até mais banais, fazer a convalidação simples do matrimônio, celebrado ordinariamente só por rito civil ou consolidado só pelo direito natural, mas que, ao mesmo tempo, persiste em sentir-se e dizer-se perfeitamente unido em matrimônio, a ponto de não admitir qualquer necessidade de uma renovação ou primeira manifestação do consentimento já dado sem que fosse então observada a forma canônica. O decreto do bispo diocesano determina a validade do matrimônio no momento em que é sancionado, além de fazer retroagir os efeitos canônicos do matrimônio ao momento em que foi dado o consentimento matrimonial.[11] A condição essencial, porém, para que possa fazer uma sanatio in radice, é que os “cônjuges” tenham querido unir-se mediante o consentimento matrimonial, sem o qual não pode haver, por direito natural, matrimônio algum[12] e que tal consentimento persista ao ser concedida a sanatio in radice.[13] Daí também a disposição explícita e altamente pastoral do cân. 1161, § 3: “Não se conceda a ‘sanatio in radice’, se não for provável que as partes queiram perseverar na vida conjugal”. Daí, sobretudo, a disposição do cân. 1162, § 1: “Se em ambas as partes ou numa delas falta o consentimento, o matrimônio não pode ser objeto de ‘sanatio in radice’, quer o consentimento tenha faltado desde o início, quer tenha sido dado desde o início, mas depois tenha sido revogado”; § 2: “Se não houve consentimento desde o início, mas depois foi dado, pode ser concedida a ‘sanatio in radice’ desde o momento em que foi dado o consentimento”.[14] Praxe pastoral Para se obter uma sanatio in radice, principalmente quando só uma das partes não admite a convalidaçãosimples, basta apresentar à Sé Apostólica ou ao bispo diocesano o relativo pedido, assinado pelo suplicante, em que se exponham todos os dados do caso de modo concreto, a saber: 108 1) a prova da celebração nula (normalmente a celebração só civil) ou do fato de união meramente natural; 2) a garantia da persistência do consentimento de ambos os “cônjuges”; 3) a prova da eventual oposição do outro “cônjuge” à convalidação simples; 4) a declaração do pároco, ou de quem faz as suas vezes, de que se trata de um caso merecedor da graça implorada, e de que foram observadas todas as exigências do Direito relativas à sanatio in radice. O Bispo diocesano, após averiguar o caso apresentado e garantidas todas as exigências do direito relativas, decre-ta a sanatio in radice com estas ou semelhantes palavras: decreto a sanatio in radice do matrimônio entre NN. e NN., em força do cân. 1165. Registre-se. Lugar. Data. Assinatura. Caso o bispo diocesano não tenha o poder de dispensar nos casos previstos pelo cânon 1165 § 2, transmita o pedido à Sé Apostólica, a saber, para a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos sacramentos. Para isso, instrua-se um rápido processo administrativo e seja enviado à mesma Congregação, preferivelmente com a recomendação do bispo diocesano ou de um seu delegado.[15] 109 9. O PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL Ao longo do estudo presente, foi possível anali-sar as diversas situações em que pode ser possível a nuli-dade de um matrimônio. O caminho a ser percorrido diante de um matrimônio fracassado e diante da impossibilidade de as partes manterem a convivência matrimonial adequada está no pedido junto ao Tribunal Eclesiástico, da análise de cada caso específico. Trata-se de um ato de justiça que a Igreja deve fazer quando o casal não conseguiu gerar o vínculo matrimonial que os unissem de modo indissolúvel. A parte interessada a formular o pedido é chamada demandante, enquanto a outra, demandada. A parte demandante deverá preparar o Libelo Introdutório alegando os motivos que levaram o casamento ao fracasso. Não seria justo que uma pessoa que fez um casamento nulo tivesse de ficar permanentemente unida a outra com a qual não quer constituir família. Assim sendo, caso fique provado que o casamento não reúne as condições exigidas, é nulo. Nulo por si mesmo; a Igreja não declara nulo o casamento, ele já é por si mesmo. O matrimônio pode resultar nulo por três motivos fundamentais: a) Impedimento dirimente; b) Vício do consentimento; c) Falta de forma canônica. 9.1. OS PRINCIPAIS PASSOS DE UM PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL Chamamos processo à sequência de atos que se realizam para resolver a questão apresentada. Um processo começa com o Libelo Introdutório apresentado pela parte Demandante, que é a parte interessada na nulidade do casamento, podendo ser o esposo ou a esposa, ao Tribunal da diocese onde reside a autora ou da diocese onde as partes celebraram as núpcias.[1] Nesse documento deve-se indicar claramente que se pede a declaração da nulidade do casamento, as razões de fato e de direito e as provas em que se apoia a petição,[2] pelo menos transcrevendo o rol de testemunhas. O autor pode designar um advogado que o defenda e um procurador que o represente no Tribunal.[3] O juiz admite por decreto o libelo e cita por convocação a outra parte que nas causas matrimoniais é chamado demandado (caso seja o esposo) ou demandada (para a esposa). A parte demandada pode contestar o libelo, podendo indicar as razões e provas 110 ou pode não opor-se, submetendo, desde o princípio, à justiça do Tribunal.[4] Mediante os fatos apresentados pelo autor, a contestação feita pela parte demandada, caso tenha ocorrido, o juiz redige a fórmula da concordância da dúvida,[5] que explicita e define claramente o que se vai estudar e decidir. É feito um decreto onde se constatam algumas possibilidades de nulidade, mediante a apresentação de alguns capítulos, com base em alguns cânones do Código de Direito canônico. Em continuação, o juiz decreta a abertura da fase de instrução, a etapa probatória de recolhimento dos elementos demonstrativos que confirmarão ou não o sustentado no libelo. Inicialmente é ouvida a parte demandante e, logo a seguir, a parte demandada, em separado; a seguir, as testemunhas que tenham sido arroladas pelas partes. Em certas causas é requisitado o relatório e o laudo pericial e, ainda, examina-se, se houver, a prova documental, ou seja, os documentos públicos ou privados, com os quais se intenta provar alguma coisa. Com isto, dá-se por terminado o período probatório e decreta-se a publicação dos autos do processo, para que a parte demandante e a parte demandada, caso queiram intervir no processo, e seus respectivos advogados possam conhecer e estudar todas as peças processuais. Os advogados apresentam então suas defesas, a favor ou contra, do que se pediu ao Tribunal. O defensor do vínculo faz seu relatório ao qual devem oferecer réplica aos advogados, ficando-lhes assegurado o direito de expressar suas considerações finais. Encerrando as alegações das partes, o juiz decreta a conclusão da causa e convoca a sessão para decidir, reunindo o trio dos juízes, que, juntos, apresentarão seus votos fundamentados e por maioria definirão a causa ditando a sentença em primeira instância. O Direito canônico exige que a Declaração de Nulidade, para ser válida, e dar direito a um “novo” casamento, seja dada pelo menos por dois tribunais diferentes. Então, se o primeiro Tribunal aprovou a declaração de nulidade, dentro de vinte dias, este é obrigado a encaminhar todo o processo a um segundo Tribunal, chamado de segunda instância ou de Apelação. Na maioria das vezes, quando o processo foi bem-feito na primeira instância, o Tribunal de Apelação confirma a sentença original; mas pode exigir mais dados e análises, se julgar necessário. Se o Tribunal de primeira instância declarou a validade do matrimônio, isto é, foi contra a Declaração de Nulidade, é possível recorrer ao Tribunal de segunda instância; bem como o outro cônjuge, se este assim o desejar. Faz-se a apelação, por escrito, dentro de quinze dias, no mesmo Tribunal em que iniciou o processo. Neste caso, este processo tem um novo início no segundo Tribunal. Como foi possível perceber, o processo é longo e pode demorar alguns anos. Normalmente existe algum custo e o valor pode variar de Tribunal para Tribunal. Contudo, é possível parcelar e até conseguir alguma isenção, mas, para isto, faz-se necessário comprovar a impossibilidade, por carência financeira. 111 9.2 A CONFECÇÃO DO LÍBELO INTRODUTÓRIO O Libelo Introdutório para análise do Tribunal tem a finalidade de oferecer dados concretos para averiguar se há base jurídica para a declaração de nulidade de matrimônio. A parte demandante deverá descrever com clareza, objetividade e riqueza de detalhes os fatos e atos que envolveram a separação do casal, elencando, sobretudo, os dados mais importantes. Consequentemente, não devem ser transcritos nem numerados. Em um primeiro momento deverá constar: a) Identidade do casal: I. Parte Demandante: 1) Nome, filiação, localidade e data de nascimento; 2) Grau de instrução. Profissão; 3) Endereço para correspondência. Telefone; 4) A religião; local de batismo; se conhece algum sacerdote; 5) Data do matrimônio religioso e civil; igreja onde foi celebrado; 6) Dados sobre a família. II. Parte Demandada: Informar sobre a parte demandada seguindo a ordem e os dados, conforme os itens 1 a 6 da parte Demandante. I. Preparação do matrimônio. Como, quando e onde conheceu a parte demandada? Como, quando e onde iniciou o namoro? Quanto tempo durou só o namoro? Como foi o tempo de namoro: havia brigas e desentendimentos? Por quê? Houve intimidades? Gravidez? Chegou a desmanchar o namoro, quantas vezes e por quanto tempo? Quem procurava a reconciliação e por quê? Como, quando e onde iniciou o noivado? Quanto tempo durou o noivado? Como foi o tempo de noivado? Ocorreram brigas e desentendimentos? Por quais motivos? Houveintimidade, gravidez, chegou a desmanchar o noivado? Quantas vezes e por quanto tempo? Quem procurava a reconciliação e por quê? Se havia brigas na época do noivado, por que chegaram então ao casamento? II. O matrimônio. Ambos foram livremente para o matrimônio, ou alguém ou alguma circunstância os obrigou ao matrimônio? (quem? qual a circunstância?); como foi o dia do matrimônio, tudo correu normalmente na função religiosa e civil? E na festa que se seguiu? Notou algum fato no dia do casamento que levasse a duvidar do feliz êxito do mesmo? III. Vida matrimonial. Houve lua de mel, onde e por quanto tempo? O matrimônio foi consumado? Houve dificuldades? Quando surgiram os primeiros problemas do casal? Eles já existiam anteriormente ao casamento? Relatar pormenorizadamente os principais fatos concretos que prejudicaram o relacionamento do casal e levaram o casamento a um final indesejável. Algum problema psíquico ou mental prejudicou o relacionamento? Esse problema era anterior ao casamento? Relate de forma clara e objetiva os fatos e atos praticados pela parte envolvida. Houve infidelidade conjugal? Por parte de quem? Antes, durante ou depois do casamento? Tiveram filhos? Quantos? Houve rejeição da prole? Por parte de quem? As partes assumiram as suas obrigações de casados com referência ao lar, 112 ao outro cônjuge e aos filhos? Amavam-se de verdade? Com que tipo de amor? Amavam-se com amor marital capaz de fundamentar o matrimônio? Quando descobriram que não havia mais amor entre ambos? Quanto tempo durou a vida conjugal? IV. Separação. De quem foi a iniciativa da separação e qual o verdadeiro motivo dessa separação? Houve tentativa de reconciliação, de quem e qual o seu resultado? Com quem vivem hoje as partes? Apresentar o motivo pelo qual desejou introduzir o processo no foro eclesiástico? Documentos a serem anexados ao libelo: certidão do casamento religioso; certidão do casamento civil (com averbação da separação); rol de testemunhas: 5 (cinco) pessoas que estejam a par dos fatos relatados, podendo ser familiares (nome e endereço atual completo). 9.3. AS DECLARAÇÕES DA NULIDADE: ASPECTOS JURÍDICOS Um Tribunal Eclesiástico, no seu funcionamento, tem algumas semelhanças com o Tribunal Civil, pois a Corte da Igreja também é formada por juízes, advogados, promotores de justiça, notários e nele há causas, testemunhas, julgamentos, sentença. Mas a índole do Tribunal Eclesiástico é diferente do civil porque, em se tratando de um órgão da Igreja, o tribunal tem, como qualquer outra dimensão eclesiástica, um sentido eminentemente pastoral e evangelizador. Assim, na Igreja, a justiça promovida pela aplicação da lei só tem sentido se esta vier acompanhada da misericórdia. Afinal, como nos diz o próprio Código de Direito canônico: “A salvação das almas, na Igreja, deve ser sempre a lei suprema”.[6] O Tribunal Eclesiástico exerce o poder de julgar e libertar as consciências feridas pelo pecado e suas conse-quências; no caso da declaração de nulidade do matrimônio inválido, se concede às partes a possibilidade de regularizar perante a Igreja a sua vida irregular de pecado e adultério, que vem, pelo fato, de uma segunda união. Isso porque o Tribunal tem a tarefa de detectar a verdade objetiva. Por essa razão, pode-se afirmar também que o tribunal é um canal de graça, um meio de evangelização. Segundo prescreve a legislação eclesiástica, cada diocese deve ter o seu Tribunal Eclesiástico, presidido pelo bispo ou o vigário judicial.[7] Porém, prevendo a dificuldade em se cumprir esta prescrição, diz a Instrução do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos: “Vários bispos diocesanos, com aprovação da Sé Apostólica, podem constituir de comum acordo um único Tribunal de primeira instância para as suas dioceses, em conformidade com o cânon 1423”.[8] No Brasil, existem Tribunais Eclesiásticos em algumas dioceses e em quase todas as Arquidioceses, perfazendo atualmente um total de 42 Tribunais, espalhados por todos os estados brasileiros.[9] Caso um Tribunal Eclesiástico venha a não declarar nulo um matrimônio, existe a possibilidade de apelações. Contra a sentença que declara a validade do matrimônio, as 113 partes podem apelar ao Tribunal de segunda instância. Como dizíamos, existem, no Brasil, vários Tribunais também de segunda instância. Mas, em qualquer processo, a Rota Romana é um Tribunal de apelação optativo, pelo que as partes poderiam recorrer diretamente a Roma, se assim achassem conveniente. Essa apelação contra a sentença que declara a validade do matrimônio segue todos os trâmites do processo ordinário.[10] Diante da sentença que declara a nulidade de um matrimônio, pode apelar a parte que a ela se opôs. Mesmo que não seja interposta essa apelação, o Tribunal de primeira instância deve transmitir ao de segunda instância, no prazo de quinze dias, todos os autos do juízo.[11] Recebidos estes, o Tribunal de apelação pode proceder de dois modos: ou confirmando, mediante decreto, após uma apreciação sumária do processo, a sentença de primeira instância; ou mandando que esse processo baixe ao exame ordinário da segunda instância, procedendo-se então de maneira análoga a como foi feito na primeira.[12] Para que a nulidade de um matrimônio seja reconhecida juridicamente de modo firme, são necessárias duas sentenças ou uma sentença e um decreto de homologação concordes. Por isso, se a primeira e a segunda instância concordaram, normalmente não há mais lugar para apelações. Mas, se foram discordes, uma sustentando e a outra negando a validade de um matrimônio, há lugar para a terceira instância, que, para o Brasil, é sempre a Rota Romana.[13] As sentenças que declaram a nulidade do matrimônio podem estabelecer certas restrições quanto ao direito de contrair uma nova união. Por exemplo, se a causa foi a impotência, é claro que o sujeito passivo dela, tratando-se de impotência absoluta, não poderá passar a novas núpcias, como ressalta a legislação: § 1. Se no processo se verificar que uma parte é absolutamente impotente ou incapaz para o matrimônio por uma incapacidade permanente, deve-se apor à sentença um veto que a proíba de contrair novo matrimônio sem consultar o tribunal que emite a sentença. § 2. Contudo, se uma parte foi causadora da nulidade por dolo ou simulação, o Tribunal está obrigado a considerar se, vistas todas as circunstâncias do caso, deve apor à sentença um veto que proíba de contrair um novo matrimônio sem consultar o ordinário do lugar em que deverá ser celebrado. § 3. Se um tribunal inferior apuser tal proibição à sentença, compete ao tribunal de apelação decidir confirmá-la ou não”.[14] A sentença que declara a nulidade não é constitutiva, mas apenas declarativa do fato da nulidade. Por isso, há sempre uma possibilidade, embora remota, de recurso extraordinário contra ela, ao surgirem novos fatos probatórios. Daí que as causas matrimoniais, como as outras relativas ao estado das pessoas, nunca passem a “coisa julgada”. [15] Pode-se ainda dizer, para efeito de esclarecimento, que existem três tipos de processos na Igreja, a saber, o contencioso, que representa a reivindicação ou verificação de um direito; o penal, imposição de uma pena, e o administrativo.[16] Existem também processos especiais: declaração de nulidade matrimonial, que, no caso, tem maior número; declaração de morte presumida do cônjuge; declaração de nulidade de ordenação, entre outros. Vale ainda ressaltar que o Tribunal Eclesiástico está aberto não somente para 114 processos, mas, talvez principalmente, para aconselhamento, assessoria jurídica, promoção da justiça, tendo em vista sempre a concretização da paz, pois permanece o grito do salmista: “Justiça e paz se abraçarão”.[17] 9.4. OS FIÉIS RECASADOS E A COMUNHÃO EUCARÍSTICA São constantes os ensinamentos do Magistério da Igreja, que reafirmam a doutrina e a disciplina constante, a respeito dos divorciados que contraem novo matrimônio e a impossibilidade de receberem o sacramento da eucaristia. A fundamentação principal para esteimpedimento está na própria exortação do Senhor: “Quem repudia sua mulher e casa com outra comete adultério em relação à primeira; e se uma mulher repudia seu marido e casa com outro, comete adultério”.[18] Diante dessa afirmação evangélica, a Igreja, ao longo dos séculos, sustenta que não pode reconhecer como válida uma nova união se o primeiro matrimônio foi válido.[19] O Código de Direito canônico promulgado em 1917 era severo em relação aos fiéis católicos divorciados e recasados, por viverem em situação religiosamente irregular. Tais cristãos eram considerados como pecadores públicos,[20] privados dos sacramentos da penitência e da eucaristia, enquanto vivessem irregularmente no adultério. A partir do Concílio Vaticano II, a Igreja, sem retocar a lei divina que proclama a indissolubilidade de um matrimônio validamente contraído e consumado, procura estimular tais fiéis a não se afastarem do convívio da comunidade católica. Com a promulgação do novo Código de Direito canônico, em 1983, a Igreja confirmou a norma de não se admitir à comunhão eucarística os fiéis divorciados e recasados.[21] Alguns sacerdotes passaram a julgar demasiado severa a legislação, sobretudo para com os casos daqueles cônjuges divorciados e recasados, com dúvidas fundadas a respeito da validade de sua primeira união, mas que não conseguiram apresentar provas suficientes para iniciar um processo de declaração de nulidade. Por essa razão, adotaram uma solução de foro meramente interno, afirmando que, em certos casos e sob certas condições, o confessor poderia autorizar os divorciados a receberem os sacramentos da penitência e da eucaristia. Por essas razões, a Congregação para a Doutrina da Fé houve por bem publicar uma carta aos bispos sobre a recepção da comunhão eucarística por parte dos fiéis divorciados e recasados. Tal documento reafirma uma vez mais as normas clássicas da Igreja para o caso: “Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objetivamente contrária à lei de Deus, por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persiste tal situação”.[22] O Catecismo da Igreja Católica também faz uma referência a este assunto dizendo: Se os divorciados tornam a casar-se no civil, colocam-se numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não têm acesso à comunhão enquanto perdurar tal situação. Pela mesma razão não podem exercer certas responsabilidades eclesiais. A reconciliação pelo sacramento da penitência só pode ser concedida aos que se mostram arrependidos por haver violado o sinal da aliança e da fidelidade a Cristo, e se 115 comprometem a viver numa continência completa.[23] O Papa João Paulo II, em sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio, relembra essa doutrina cristã: A Igreja reafirma sua práxis, fundamentada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Seu estado e condições de vida contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja. Se estas pessoas fossem admitidas à eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro acerca da indissolubilidade do matrimônio.[24] Falando a respeito das pessoas unidas só civilmente, mais uma vez frisa o Sumo Pontífice: “Tratando-as embora com muita caridade, os pastores da Igreja não poderão infelizmente admiti-las aos sacramentos”.[25] Como de fato, se o sacramento do matrimônio é indissolúvel, por instituição divina, os recasados estão objetivamente em estado de pecado grave e, por isso, não podem ser admitidos à comunhão eucarística, como ressalta o Papa Bento XVI: Se a eucaristia exprime a irreversibilidade do amor de Deus em Cristo pela sua Igreja, compreende-se por que motivo a mesma implique, relativamente ao sacramento do matrimônio, aquela indissolubilidade a que todo o amor verdadeiro não pode deixar de anelar. E completa: Por isso, é mais que justificada a atenção pastoral que o Sínodo reservou às dolorosas situações em que se encontram não poucos fiéis que, depois de terem celebrado o sacramento do matrimônio, se divorciaram e contraíram novas núpcias. Trata-se dum problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira chaga do ambiente social contemporâneo que vai progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos. [26] E o Papa Bento XVI ainda afirma: O Sínodo dos Bispos confirmou a prática da Igreja, fundada na Sagrada Escritura,[27] de não admitir aos sacramentos os divorciados recasados, porque o seu estado e condição de vida contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja que é significada e realizada na eucaristia. Todavia os divorciados recasados, não obstante a sua situação, continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível, um estilo cristão de vida, através da participação na Santa Missa, ainda que sem receber a comunhão, da escuta da palavra de Deus, da adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos.[28] Diante destas afirmações oriundas do Magistério da Igreja, cabe aos pastores de almas esclarecer aos fiéis implicados que a participação na vida da Igreja não se reduz exclusivamente à questão da recepção da eucaristia.[29] Os fiéis devem ser ajudados a aprofundar a sua compreensão a respeito do valor da participação no Sacrifício de Cristo na missa, a respeito da comunhão espiritual, da oração, da meditação da palavra de Deus e das obras de caridade e de justiça. São eles chamados a educar os filhos na vida cristã e, sobretudo, preparando os jovens para um matrimônio consciente e responsável. É preciso notar que uma pessoa casada na Igreja, mas separada do seu cônjuge, não está impossibilitada de receber os sacramentos, desde que não se una novamente a um outro cônjuge. Na qualidade de cristãos batizados, os fiéis divorciados recasados são chamados a 116 tomar parte ativa na vida da Igreja na medida em que isto seja compatível com a sua situação canônica. Existem várias possibilidades de participar da vida pastoral em uma paróquia, no campo extrassacramental. Contudo, em virtude da sua situação irregular, os fiéis divorciados recasados não podem exercer certas funções na comunidade católica. Tais funções seriam, entre outras, a de padrinho ou madrinha do batismo e da cris-ma, pois tal tarefa implica dar testemunho de vivência cató-lica aos afilhados, que necessitam ver, concretamente, a fi- delidade dos mais velhos.[30] Eis outras funções excluí-das: a de ministros extraordinários da comunhão eucarís-tica, a de catequista, a de membro do Conselho Pastoral, pois tais encargos exigem lúcido testemunho de vida católica;[31] são funções de certo relevo, que não podem ser entregues aos que não vivem integralmente segundo o Evangelho, pois isso poderia suscitar confusão no povo de Deus. Essas restrições não implicam injusta discriminação, mas são consequências naturais da situação em que se encontram. Para receber o sacramento da reconciliação, que no caso é a única via para a comunhão eucarística, requer-se que o fiel faça o propósito de não tornar à vida irregular.[32] Isso implica que o cônjuge penitente se separe da par-te ilegítima consorte ou, caso não seja possível, por causa dos filhos ou por outras razões, deixe de ter relações íntimas e passem a viver como irmãos. No caso de voltarem aos sacramentos, os dois interessados deverão procurar evitar mal-entendidos ou escândalos por parte do povo de Deus. Os divorciados recasados que estão convictos da nulidade de seu precedente casamento devem regularizar sua situação por vias de foro externo, ou seja, por vias jurídicas. Para isso, a Igreja atribui aos Tribunais Eclesiásticos o exame da validade dos casamentos dos fiéis católicos. Os pastores de almas não podem recusar batizar os filhos dos pais que estão numa situação conjugal irregular diante da Igreja e pedem espontaneamenteo batismo para os seus filhos, pois não existe legislação eclesiástica que os impeçam disso, uma vez que o filho que nasceu não tem culpa da situação irregular em que se encontram seus pais. Caso falte uma responsabilidade dos pais ou dos padrinhos na educação cristã da criança, devem os pastores de almas assegurar-lhes ajuda, estimulá-los no crescimento da fé e criar estruturas para um acompanhamento, e não fechar as portas de modo definitivo, pois trata-se de um meio eficaz necessário à salvação.[33] O respeito pelo sacramento do matrimônio proíbe, por qualquer motivo, os pastores de almas de dar uma bênção aos divorciados que contraem uma nova união e nem mesmo às alianças, pois poderia fazer parecer uma celebração de novas núpcias sacramentais e induziriam em erro sobre a indissolubilidade do matrimônio. O sacerdo- te, porém, não está proibido de abençoar a residência desse casal, em conformidade com o Ritual de Bênção, e não a bênção para a segunda união, uma vez que a bênção matrimonial só é possível dentro da celebração do matri-mônio.[34] Mesmo diante desse quadro, que pode ser doloroso e de difícil compreensão para 117 alguns, a Igreja crê e confia que mesmo aqueles que se afastaram dos mandamentos do Senhor e vivem atualmente nesse estado poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação, se perseverarem na oração, na penitência e na caridade.[35] Cada homem e cada mulher em situação irregular perante a Igreja deve também lembrar que Deus é misericórdia. Um significativo texto evangélico narrado por São Lucas caracteriza bem a atitude do homem pecador diante de Deus. A parábola do fariseu e do publicano que vão ao templo para rezar[36] mostra a atitude humilde do pecador perante o Senhor. Ele reconhece as suas faltas aos olhos de Deus e dos homens. Mesmo reconhecendo a sua fragilidade, ele se volta para o Todo-Poderoso com um coração contrito e humilhado. Ele está consciente de que o pecado distorce, adultera e enfraquece a relação da criatura com o seu Criador. O publicano é plenamente consciente disso e, portanto, aproxima-se de Deus. Limita-se apenas a dizer estas breves palavras, mas cheias de grande compunção, piedade, humildade e súplica ao seu Senhor: “Tem misericórdia de mim, que sou um pecador”. A oração do fariseu não obteve resposta porque ele não perguntou nada nem pediu coisa alguma, mas apenas teceu elogios a si mesmo. Eis o exemplo de uma oração absolutamente inútil. Dessa forma, muitos fariseus frequentavam o templo em vão durante toda a vida. A oração do publicano obteve resposta, resultado. Ele foi justificado e perdoado por Deus. Sua oração provocou uma ação divina a seu favor. O Papa Bento XVI mostrou-se também unido aos divorciados que contraíram nova união e ressaltou que a Igreja tem por todos eles a atenção de uma mãe. São eles chamados a cultivar um estilo cristão de vida, através da participação da Santa Missa, ainda que sem receber a eucaristia, da escuta da Palavra de Deus, da adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo e no empenho na educação dos filhos. Assinala o papa: Mesmo se não é possível a absolvição na confissão, não deixa talvez de ser muito importante um contato permanente com um sacerdote, com um diretor espiritual, para que possam ver que são acompanhadas, guiadas. Além disso, é muito importante também que sintam que a eucaristia é verdadeira e participam nela se realmente entram em comunhão com o Corpo de Cristo. Mesmo sem a recepção “corporal” do sacramento, podemos estar, espiritualmente, unidos a Cristo no seu Corpo. É importante fazer compreender isso. Oxalá encontrem a possibilidade real de viver uma vida de fé, com a Palavra de Deus, com a comunhão da Igreja, e possam ver que o seu sofrimento é um dom para a Igreja, porque deste modo estão ao serviço de todos mesmo para defender a estabilidade do amor, do matrimônio; e que este sofrimento não é só um tormento físico e psíquico, mas também um sofrer na comunidade da Igreja pelos grandes valores da nossa fé.[37] 118 CONCLUSÃO Como foi possível observar, o “consortium totius vitae”, que bem descreve o cân. 1055 § 1, constitui a essência do matrimônio e requer uma comunidade de vida e amor que abrange todos os aspectos da existência humana e encontra na convivência conjugal a sua realização, no bem dos cônjuges e no bem dos filhos. É este o desejo da Igreja: que todos os casais possam viver a felicidade conjugal em uma união perfeita. Contudo, podem surgir as mais variadas dificuldades, como foi possível constatar ao longo do presente estudo. Assim sendo, mesmo diante de eventuais impossibilidades de continuar mantendo a união conjugal, aconselha-se uma das partes a procurar o Tribunal Eclesiástico, presente em cada diocese, para que o caso seja estudado por peritos em direito canônico, visando apresentar uma definição acerca da validade ou não do casamento realizado. Mediante esse parecer, as partes poderão contrair novas núpcias, trazendo para ambos a alegria e o conforto interior de ver regularizada a sua vida familiar, sobretudo para aqueles que contraíram novas núpcias. A Igreja deseja que a vida conjugal seja sempre uma expressão da felicidade, como sinal de paz e alegria, e que ela possa sempre estar aberta a novos horizontes em favor do bem e da perfeição. 119 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS I. FONTES A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. BENTO PP XVI. “Discurso à Rota Romana proferido aos 27 de janeiro de 2007”. AAS 99 (2007), p. 86-91 ________. Exortação apostólica “Sacramentum Caritatis”. 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Goedert • Sacramentos da iniciação cristã, Félix Moracho Galindo • O sacramento do matrimônio e as causas de nulidade, Anselmo Chagas de Paiva 124 http://www.paulus.com.br/loja/sacramentos-da-iniciacao-crista_p_1675.html Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos Coordenação de desenvolvimento digital: João Paulo da Silva Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes Revisão: Iranildo Bezerra Lopes Caio Pereira Rodrigo Moura de Oliveira Capa: Marcelo Campanhã Desenvolvimento digital: Daniela Kovacs Conversão EPUB: PAULUS Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Paiva, Anselmo Chagas de O sacramento do matrimônio e as causas de nulidade [livro eletrônico] / Anselmo Chagas de Paiva. - São Paulo: Paulus, 2015. - (Coleção Sacramentos hoje) 4,6Mb; ePUB Bibliografia eISBN 978-85-349-4364-2 1. Cônjuges 2. Casais - Aspectos religiosos 3. Casais - Relações interpessoais 4. Casais - Vida religiosa 5. Casamento - Anulação (Direito canônico) 6. Homem - Mulher - Relacionamento I. Título. II. Série. 15-01686 CDD-262.9 Índices para catálogo sistemático: 1. Matrimônio: Nulidade: Cristianismo 262.9 © PAULUS – 2015 Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 - São Paulo (Brasil) Tel. (11) 5087-3700 • Fax (11) 5579-3627 www.paulus.com.br • editorial@paulus.com.br [Facebook] • [Twitter] • [Youtube] eISBN 978-85-349-4364-2 125 http://www.paulus.com.br mailto:editorial@paulus.com.br https://www.facebook.com/pauluseditora.oficial http://twitter.com/editorapaulus https://www.youtube.com/user/canalpauluseditora SOBRE O AUTOR D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB, é sacerdote beneditino do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro; é ainda doutorem Direito Canônico, diretor da Faculdade São Bento do Rio de Janeiro e professor do Instituto Superior de Direito Canônico da Arquidiocese do Rio de Janeiro. No Tribunal Eclesiástico Interdiocesano da Arquidiocese do Rio de Janeiro exerce a função de Promotor de Justiça e Defensor do Vínculo. 126 NOTAS 1. O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO E A SUA FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA [1] Gn 1,27. [2] Gn 1,26. [3] Cf. Gn 2,18s. [4] Cf. Lc 17,27. [5] Cf. Gn 1,27-28; 2,18-24; 12,1-2; 15,5; 26,24. Cf. também S. A. MOTTA, “A eclesiologia do matrimônio”, em Teocomunicação, 117 (1997), p. 77-78. [6] Cf. Os 1-3, Jr 3; Ez 16; Is 40-55. [7] Cf. Ml 2,14; Pr 3,17. [8] Cf. P. GRELOT, O casal humano na Escritura, São Paulo, 1975, p. 51. Cf. também Ex 34,6-7; Dt 7,7-8; Dt 6,4; Os 4,2; 6,6. [9] Cf. Gn 2,20. [10] Gn 2,18. [11] Cf. JOÃO PAULO PP II, Carta às mulheres, São Paulo, 1995, p. 13-15. [12] Gn 1,28. [13] Cf. JOÃO PAULO PP II, op. cit., p. 13-16. [14] Cf. Gn 2,18.24. [15] Cf. Gn 2,19-20. [16] Cf. Gn 2,21-23. [17] Cf. Gn 2,24. [18] Cf. Gn 2,23. [19] Cf. C. WIENER, “Casamento”, em L. D. XAVIER, Vocabulário de Teologia Bíblica, Petrópolis, 1972, col. 134-138. [20] Cf. PIO PP XI, Carta Encíclica Casti Connubii, em AAS 22 (1930), n. 6. [21] Cf. JOÃO PAULO PP II, “O amor humano no plano divino”, em L’Osservatore Romano 22 (Cidade do Vaticano, 23 de maio 1984), p. 12. [22] Esta obra certamente constitui o objeto de uma interpretação comandada pelo simbolismo profético do casamento (cf. J.-P. AUDET, “Les sens du Cantique des Cantiques”, em Revue Biblique II [1955], p. 197-221). [23] Cf. Ct 2,16; 6,3: Vós sereis o meu povo e eu serei vosso Deus (fazendo uma comparação com a fórmula profética da aliança com “o meu amado é para mim, e eu para ele”). Também em Ml 2,14 vamos encontrar o casamento compreendido, em si mesmo, como uma aliança. [24] Cf. Gn 2,23. [25] Cf. Ct 1,8. “Ó mais bela das mulheres...”, diz o esposo, e responde-lhe as palavras da esposa: “Sou morena, mas formosa, ó filhas de Jerusalém” (Ct 1,5). As palavras ao encanto masculino repetem-se continuamente e reaparecem em todos os cinco cânticos do poema (Cf. J. WINANDY, Le Cantique des Cantiques. Poème d’amour mué en écrit de Sagesse, Maredsous, 1960, p. 26). [26] Ct 4,9-10. [27] O termo amiga indica aquilo que é essencial para o amor, que põe o segundo “eu” ao lado do próprio “eu”. A amizade – o amor de amizade – significa no Cântico dos Cânticos uma particular aproximação sentida e experimentada como força interiormente unificante. A expressão irmã parece exprimir, de modo mais simples, a subjetividade do “eu” feminino na relação pessoal com o homem, isto é, na sua abertura para os outros, que 127 devem ser entendidos e percebidos como irmãos. [28] Ct 2,16; 6,3. [29] Ct 2,16. [30] Cf. JOÃO PAULO PP II, “A resposta de amor autêntico”, em L’Osservatore Romano 23 (Cidade do Vaticano, 3 junho de 1984), p. 12. [31] Cf. Ct 2,3-6. [32] Cf. Ct 7,1-8. [33] Ct 5,6; 5,8. [34] 1Cor 13,4-8. [35] Cf. JOÃO PAULO PP II, “Amor de comunhão como dom recíproco”, em L’Osservatore Romano 24 (Cidade do Vaticano, 10 de junho de 1984), p. 12. [36] Ct 8,6. [37] Tb 6,19. [38] Cf. Tb 6,14. [39] Cf. JOÃO PAULO PP II, “O amor é confiante na vitória do bem”, em L’Osservatore Romano 27 (Cidade do Vaticano, 1º de julho de 1984), p. 12. [40] Cf. Tb 6,18; 8,4-8. A Vulgata acrescenta: “santificado por uma continência de três dias que atestará entre os esposos o domínio dos desejos e a retidão das intenções” (Tb 6,18-22). [41] Tb 8,7. [42] Cf. Tb 6,18. [43] Cf. Mt 19,1-9. [44] Cf. Ef 5,28-32. Lembremos aqui que a doutrina paulina faz de Cristo, imagem de Deus invisível, o primogênito de toda criatura: “Nele foi criado tudo o que há nos céus e na terra, as coisas visíveis e as coisas invisíveis. Criadas por ele, para ele estão voltadas todas as coisas; ele vai adiante de todas, e todas subsistem nele. Ele é também a cabeça do corpo, que é a Igreja” (Cl 2,16-17). [45] Cf. Gn 1,26-27; 2,24. [46] Cf. Ef 5,32. [47] Cf. A. NOCENT et alii, Os sacramentos – Teologia e história da celebração, São Paulo, 1989, p. 372. [48] Cf. Ef 5,32. [49] Cf. A. NOCENT et alii, op. cit., p. 373. [50] Cf. Ef 5,25-32. [51] Ef 5,25. [52] Cf. Gn 3,16. [53] Cf. Ef 5,25. [54] Cf. Gn 3,6.12.16. [55] Cf. Ef 5,24. [56] Gn 2,24. [57] Cf. Rm 16,27. [58] Cf. P. GRELOT, op. cit., p. 145. [59] Cf. Jo 2,1-11. [60] Cf. Catecismo da Igreja Católica, Petrópolis: Vozes, 1994, n. 1613. [61] Dt 24,1. 128 2. A NATUREZA JURÍDICA DO MATRIMÔNIO [1] Cf. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologiae, Suplem. q. 44, a. 2, Madri, 1982. [2] Cf. Is 1,1-3; 54,4-9; 62,3-5; Jr 2,2; 3,1-13; Ez 16,23. [3] M. E. OLMOS ORTEGA, “La definición del matrimonio y su objeto esencial: 1917-1960”, em El ‘consortium totius vitae’, Salamanca, VII (1986), p. 11. [4] L. cit. [5] L. cit. [6] J. HERVADA, op. cit., p. 12. [7] Cf. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologiae, Suplem. q. 44, a. 2, Madri, 1982. [8] “O consentimento legítimo em ordem à união de duas pessoas idôneas”, cit. por M. E. OLMOS ORTEGA, op. cit., p. 11. [9] PIO PP VI, Catechismus Romanus, Madri, 1971, c. 8, n. 3: “Matrimonium est viri et mulieris maritalis coniunctio inter legitimas personas, individuam vitae consuetudinem retinens” (O matrimônio é a união marital do homem e da mulher, entre pessoas legítimas, que conservam o convívio indiviso de vida). [10] “A união de vida comum e integração do direito divino e humano”, cit. por M. E. OLMOS ORTEGA, op. cit., p. 11. [11] Cf. E. MOLANO, Contribución al estudio sobre la esencia del matrimonio, Pamplona, 1977, p. 26-27. [12] Cf. cânones 1081, 1082, 1086, 1110, 1111, 1013, 1128, 1129, 1130, 1131. [13] Cânon 1081 do Código de 1917. [14] Cf. N. ROCHOLL, Die Ehe, als gemeines Leben, Laumann, 1939, p. 82, cit. por M. E. OLMOS ORTEGA, op. cit., p. 27. [15] Cf. B. KREMPEL, Die Zweckfrage der Ehe in neuer Beleuchtung, Zurique, 1941, p. 217. [16] CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje Gaudium et Spes, Petrópolis, 1968, n. 48. [17] Cf. GS 48 e Gn 2,18-23. [18] GS 48. [19] GS 49. [20] Cf. Código de Direito canônico, Petrópolis, 1965, Cânon 1081 do Código de 1917. [21] Cf. F. A. REVUELTO, Los capítulos de nulidad matrimonial en el ordenamiento canónico vigente, Salamanca, 1987, p. 18. [22] Código de Direito canônico, São Paulo, 2002, Cânon 1055 § 1. [23] A Constituição Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, usou frases semelhantes, mas não empregou o termo “consórcio”, fala, sim, de comunidade por duas vezes (nn. 48 e 50), e também encontramos as frases “união íntima de duas pessoas e atividades” (n. 48) e “intimidade conjugal” (n. 51). [24] A procriação e a educação da prole são definidas como fim primário; a ajuda mútua e o remédio da concupiscência são considerados como fins secundários (cf. CIC de 1917, cânon 1013 § 1 e no cânon 1055 § 1 do novo Código). Toda esta doutrina é um reflexo do Concílio Vaticano II, que ainda expressa: “Essa união íntima, doação recíproca de duas pessoas e o bem dos filhos exigem a perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolubilidade” (GS 48). [25] GS 48. [26] CIC, Cânon 1055 § 1. [27] Cf. J. HORTAL, O que Deus uniu, São Paulo, 1985, p. 27. [28] CIC, Cânon 1055 § 1. [29] Cf. PAULO PP VI, Carta Encíclica Humanae Vitae, São Paulo, 1968, n. 12. [30] Cf. GS 48 e 50. 129 [31] Cf. J. HERVADA, op. cit., p. 13-15. [32] Gn 1,28. [33] CC n. 9 e 13. [34] PIO PP XII, Alocução às parteiras, in AAS 43 (29 de outubro de 1951),p. 848. [35] HV, 12. [36] GS 50. [37] Cf. CIC, cânon 1013 § 1, do Código de 1917. [38] Gn 2,24; Mt 19,5. [39] Cânon 1056. Cf. GS 48, que é uma reprodução literal do cânon 1013 § 2, do Código de 1917. [40] Cf. J. AUER - J. RATZINGER, Curso de teologia dogmática. Los sacramentos de la Iglesia, Barcelona, 1977, p. 303. [41] Gn 2,24. [42] Cf. Catecismo da Igreja Católica, Petrópolis, 1994, n. 371. [43] Mt 19,4-6. Este texto trata da indissolubilidade bem como da unidade, o que é indissolúvel é a unidade na carne (“serão uma só carne”), isto é, a comunhão conjugal em sua união indissolúvel.[44] Gn 2,24. [45] Mt 19,6; Mc 10,7-9. [46] Cf. F. A. REVUELTO, op. cit., p. 25. [47] Cf. CIgC, n. 1645. [48] GS 49. [49] Cf. A. MARZOA et alii, Comentario exegético al código de derecho canónico, vol. III/2, Pamplona, 19972, p. 1350. [50] Cf. PIO PP XI, Carta Encíclica Casti Connubii, in AAS 22 (1930), n. 7. Alguns autores veem nessa encíclica um fundamento de suas teses personalistas, já que ela distinguia entre o matrimônio no sentido estrito, como “instituição para a procriação e educação da prole”, e o matrimônio no sentido amplo, como “comunidade prática e sociedade de toda a vida”. [51] Mt 5,28. Essas palavras não podem ser anuladas pelo consentimento do cônjuge. Elas representam a mesma lei de Deus e da natureza, motivo pelo qual nenhuma vontade humana pode destruir ou modificar. [52] Cf. cânones 1141-1150. A indissolubilidade exclui o divórcio e compreende: 1) A impossibilidade de dissolução do vínculo conjugal por vontade dos contraentes, ou por circunstâncias supervenientes, salvo a morte de um ou do outro (indissolubilidade intrínseca); 2) Impossibilidade de dissolução por uma decisão do poder público (indissolubilidade extrínseca). [53] Cf. R. LLANO CIFUENTES, Novo direito matrimonial canônico, Rio de Janeiro, 1988, p. 108. [54] Gn 2,24; Mt 19,6. [55] Cf. JOÃO PAULO PP II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, São Paulo, 1981, n. 19. [56] O Código de Direito canônico, segundo o cânon 1142, prevê a dissolução do vínculo matrimonial quando o matrimônio rato (o matrimônio sacramento) não é consumado (não tendo os esposos realizado o ato conjugal). O Sumo Pontífice exerce aqui o poder vicarial recebido de Cristo, que, portanto, o exerce em nome de Deus e que estaria compreendido no poder das chaves concedido por Cristo ao apóstolo Pedro (Mt 16,16-19); também, segundo o cânon 1143, a dissolução do vínculo pode ocorrer em favor da fé de um dos cônjuges. Trata-se do privilégio paulino, assim chamado por ter sido expresso por São Paulo em 1Cor 7,12-15. A aplicação do privilégio paulino concede a faculdade ao cônjuge fiel de contrair novo matrimônio, ficando ipso facto dissolvido o primeiro matrimônio ao contrair novo vínculo. [57] Cf. Gn 2,24; Mt 19,5. [58] Cf. Mt 19,8. [59] Mt 19,6. 130 [60] Mt 19,9; cf. Mt 5,32; Lc 16,22; Mc 10,11. [61] Cf. Mt 19,3-9; Mc 10,1-2; Lc 16,18; 1Cor 6,16; Rm 7,2-3; Ef 5,31ss. [62] Cf. PIO PP XI, Carta Encíclica Casti Connubii, em AAS 22 (1930) n. 4. [63] Cf. JOÃO PAULO PP II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, São Paulo, 1981, n. 20 e GS 49. [64] Cf. F. A. REVUELTO, op. cit., p. 25. [65] Cf. A. SARMIENTO, El sacramento del matrimonio, Bogotá, 1996, p. 75. [66] Cf. CIgC, n. 1646. [67] Cf. A. SARMIENTO, op. cit., p. 75. [68] Cf. ibidem, p. 76. [69] GS 50. [70] É obrigação dos que contraem matrimônio fazerem juntos vida conjugal (cân. 1151), o que implica comunidade de leito e de casa, necessária para alcançar os fins do matrimônio. No entanto, pode haver, por vezes, causas justas e legítimas pelas quais seja lícito romper a convivência conjugal. Essa separação não significa apenas a suspensão do dever de viverem juntos, mas também a de quase todos os direitos e deveres conjugais. Essas causas justas de separação são todas as atitudes que ferem gravemente os princípios que devem caracterizar a vida conjugal: o adultério (cân. 1152); prejuízo corporal ou espiritual (cân. 1153). Nesses casos, o vínculo permanece e não se pode contrair novo matrimônio, pois seria inválido (cf. R. SADA, Curso de teologia dos sacramentos, Lisboa, 1991, p. 180-181). [71] FC 20. [72] Cf. GS 48 e 49. [73] GS 49. [74] Cf. GS 48. [75] Cf. A. MARZOA et alii, op. cit., p. 1351. [76] Quando o cânon 1055 sustenta que o matrimônio, como estado, está ordenado ao “bem dos cônjuges”, põem-se em consonância com a Carta Encíclica Casti Connubii de Pio XI, com a Carta Encíclica Humanae Vitae de Paulo VI, e com a concepção personalística do matrimônio, revitalizada pelo Concílio Vaticano II. [77] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 28. [78] Cf. cân. 1057. [79] Cf. L. V. SANCHES, “Matrimônio”, em C. M. SALVADOR, Dicionário de Direito canônico, São Paulo, 1991, p. 480. E, conforme uma afirmação de Santo Tomás de Aquino, no matrimônio estabelece-se um contrato entre homem e mulher, pelo qual cada um dos cônjuges adquire direito sobre o corpo do outro ao passo que, antes, cada um dispunha livremente do seu corpo (cf. 1Cor 7,4 e TOMÁS DE AQUINO, S. Th., Suplem. q. 45, a. 21, Madri, 1982). [80] No início deste século e inclusive na época romana clássica, o matrimônio foi considerado como um contrato. A sua caracterização como contrato provém da canonística medieval. A atual legislação da Igreja reproduz literalmente o estabelecido no cânon 1012 § 2 do Código de 1917. [81] Gn 1,28. [82] Cf. R. SADA, op. cit., p. 168. [83] Cf. Dz 1854. [84] Cf. Cânones 1055 § 1 e 1057 § 2. [85] Cf. F. A. REVUELTO, op. cit., p. 24. [86] Cf. F. CAPPELLO, Tractatus canonico-moralis de sacramentis 3, Roma, 1927. A definição dada pelo Código de 1917 mostra o matrimônio in facto esse como “união legítima e indivisível entre um homem e uma mulher para procriação e educação da prole” (Cf. E. F. REGATILLO, Ius Sacramentarium, Santander, 1949, p. 556). [87] Cf. cân. 1055 § 1. [88] Cf. cân. 1055 § 2. 131 [89] Cf. TOMÁS DE AQUINO, op. cit., Suplem. q. 42, a. 1, ad. 2, Madri, 1982. [90] Cf. Ef 5,31ss. A Carta Encíclica Casti Connubii, do Papa Pio XI, começa precisamente falando dessa dignidade do matrimônio, elevado por Cristo a verdadeiro e grande sacramento da Nova Lei: “Quão grande seja a dignidade das castas núpcias pode-se principalmente auferir do fato, veneráveis irmãos, de que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho do Pai Eterno, ao assumir a natureza do homem decaído, naquela economia amorosíssima com que realizou a total reparação da nossa estirpe, não somente quis incluir de modo especial também o princípio e fundamento da sociedade doméstica e portanto da humana sociedade; mas, reconduzindo-o à primitiva pureza da divina instituição, elevou-a à dignidade de um verdadeiro e grande sacramento da Nova Lei, confiando, por isso, à Igreja, sua Esposa, toda a disciplina e cuidado do mesmo” (a. 1). [91] E. DENZINGER, El magisterio de la Iglesia, Barcelona, 1963, p. 276. Oficialmente, a Igreja já nomeia o matrimônio entre os sacramentos desde o Concílio de Latrão II, em 1139 (Dz 367) e de Verona, em 1184 (Dz 402). Dado certo que o matrimônio é sacramento, surgem as teorias contratualista e copulista do matrimônio, que consideram, respectivamente, o consentimento e a união carnal como o elemento essencial para a sua existência e validade. No século XIII, por influência de Papas juristas, a Igreja chegou a uma síntese: o matrimônio é sacramento verdadeiro e válido só e formalmente em virtude do consentimento (cf. S. A. MOTTA, op. cit., p. 80-81). [92] Cf. J. HERVADA, “Il matrimonio canonico – Teoria generale”, em Corso di diritto canonico 2, Brescia, 1976, p. 17-18. [93] Gn 2,24; Mt 19,5. [94] Cf. J. HORTAL, op. cit., São Paulo, 1991, p. 31. [95] CIgC, n. 1623. [96] CIgC, n. 1630. [97] Cf. BENTO PP XV, Constituição Paucis, de 19 de março de 1758, n. 11. Cf. também cân. 1055 § 1. [98] J. HORTAL, op. cit., p. 33. 132 3. A DEDICAÇÃO PASTORAL E O QUE SE DEVE PRECEDER À CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO [1] Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Orientações pastorais sobre o matrimônio, Documento n. 12, São Paulo, 1978. Cf. também JOÃO PAULO PP II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, São Paulo, 1981, e ainda JOÃO PAULO PP II, Carta às Famílias, São Paulo, 1994. [2] Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA, Preparação para o sacramento do matrimônio, São Paulo, 2007, n. 2. [3] Cf. JOÃO PAULO PP II, Exortação Apostólica Catequese Tradendae, São Paulo, 1979. [4] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Diretório da pastoral familiar, São Paulo, 2005, n. 266. [5] Cf. FC 66. [6] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA, Preparação para o sacramento do matrimônio, São Paulo, 1996, n. 34. [7] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA, Preparaçãopara o sacramento do matrimônio, São Paulo, 1996, n. 35. [8] Cf. CIgC, n. 2366-2371. [9] Cf. cân. 1063, 2º. [10] PONTIFÍCIO CONSElHO PARA A FAMÍLIA, Preparação para o sacramento do matrimônio, São Paulo, 1996, n. 31. [11] Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Guia de preparação para a vida matrimonial: Encontro de noivos, São Paulo, 2001, p. 10. [12] Cf. N. C. DELLAFERRERA, De la atención pastoral y de lo que debe preceder a la celebración del matrimonio, in Curso sobre la preparación al matrimonio, Buenos Aires, 1995, p. 143. [13] FC 66. [14] Cf. FC 66. [15] Cf. cân. 1067. [16] Cf. cân. 1115. [17] Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA, Preparação para o sacramento do matrimônio, São Paulo, Paulinas, 1996, n. 57. [18] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Diretório da pastoral familiar, São Paulo, 2005, n. 270. [19] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Diretório da pastoral familiar, São Paulo, 2005, n. 271. [20] Cf. cân. 1112. [21] Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Legislação Complementar ao Código de Direito canônico, in Comunicado Mensal 405 (1986) 1395-1396). [22] Cf. cân. 1069. [23] Cf. J. HORTAL, op. cit, p. 42. [24] Cf. cân. 102 § 1. [25] Cf. cân. 102 § 2. [26] Cf. cân. 100; 1071, 1º. [27] Cf. cân. 1115. [28] Cân. 1069. [29] Cf. cân. 1115. [30] Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, “Legislação Complementar ao Código de Direito canônico”, em Comunicado Mensal 405 (1986) 1395-1396. 133 [31] Cf. cân. 1115 [32] Cf. cân. 1111 e 1113. [33] Cf. cân. 1.067. [34] Cf. cân. 1.067. [35] Cf. J. HORTAL, “Comentário ao cân. 1071”, em Código de Direito canônico, São Paulo, Loyola, 2001. [36] Cf. cân. 100. [37] Cân. 13 § 3. [38] Cân. 107 § 2. [39] O Código Civil Brasileiro, promulgado em 10 de janeiro de 2002, reconhece o casamento religioso com pleno valor de casamento e apenas exige que, para ser registrado, se cumpra a lei, podendo casar-se simplesmente no religioso e, posteriormente, pedir o registro civil, o que se fará com data retroativa ao dia em que se realizou o matrimônio religioso (cf. Código Civil, Art. 1516). [40] Cf. E. PÉREZ PUJOL, Orientações canônicas matrimoniais, Rio de Janeiro, 2004, p. 32-33. [41] Cf. CIgC, n. 2401ss. [42] Cf. R. LLANO CIFUENTES, Novo Direito Matrimonial Canônico, Rio de Janeiro, 1990, p. 183. [43] Cf. F. AZNAR GIL, El nuevo Derecho Matrimonial Canonico, Salamanca, 1983, p. 129. [44] Cf. J. MANZANARES et alii, Nuevo derecho parroquial, Madri, 1988, p. 338-340. [45] Cân. 1331 § 1 e nº 2. [46] Cân. 137 § 1 e 2; cf. cân. 1358 § 1. [47] Cf. J. C. CAPPARELLI, Manual sobre o matrimônio no direito canônico, São Paulo, 1999, p. 49. [48] Cf. cân. 97 § 1. [49] Observando as prescrições do cân. 1083, 2, a CNBB estabeleceu a idade mínima para o homem 18 anos e para a mulher 16 anos, isto para liceidade, conforme prescreve o cân. 1072 (cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, “Legislação Complementar ao Código de Direito canônico”, em Comunicado Mensal 405 [1986] 1395-1396). [50] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 50. [51] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, “Legislação Complementar ao Código de Direito canônico”, em Comunicado Mensal 405 (1986) 1395-1396. [52] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 54. [53] Cf. J. M. GONZALEZ DEL VALLE, Derecho canonico matrimonial, Pamplona, 1999, p. 172-173. [54] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 124. [55] Cf. loc. cit. [56] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 56. [57] Cf. cân. 1117. [58] Cf. E. PÉREZ PUJOL, op. cit., p. 128. [59] Cf. cân. 1125. [60] Cf. cân. 1125 § 1. [61] Cf. cân. 1125 § 2. [62] Cf. cân. 1056. [63] Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, “Texto da Legislação Complementar ao Código de Direito canônico”, em Comunicado Mensal 405 (1986) 1395-1396. [64] Cf. J. HORTAL, loc. cit., p. 60. [65] Cf. CIgC, n. 1634. [66] Cf. cân. 1366. 134 [67] Cf. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS, Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, Petrópolis,1994, n. 151. [68] Cf. CIgC, n. 1636. [69] 1Cor 7,14. [70] Cf. CIgC, n. 1637. [71] Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, “Texto da Legislação Complementar ao Código de Direito canônico”, em Comunicado Mensal 405 (1986) 1395-1396. [72] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Orientações pastorais sobre o matrimônio, São Paulo, 1978, n. 4.4.10. [73] Cf. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS, Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, Petrópolis, 1994, n. 157. [74] CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS, Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, Petrópolis, 1994, n. 158. [75] Cf. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS, Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, Petrópolis, 1994, n. 159. [76] Cf. CONGREGAÇÃO DO CULTO DIVINO E DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS, Ritual do Matrimônio, São Paulo, 1993, n. 152ss. [77] Cf. cân. 844. 135 4. ALGUMAS DENOMINAÇÕES CANÔNICAS DO MATRIMÔNIO [1] Cf. J. HORTAL, op. cit, p. 33. [2] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 35. 136 5. OS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES [1] Cf. U. NAVARRETE, “Gli impedimenti relativi allá dignità dell’uomo: aetas, raptus, crimen”, em Gli impedimenti al matrimonio canónico, Città del Vaticano, 1989, p. 71-73. [2] Cf. J. CASTAÑO, Il sacramento del matrimonio, Roma, 1992, p. 188. [3] Cf. cân. 1073. [4] Cf. cân. 1071, 3º. [5] Cf. cân. 1084. [6] Cf. cân.1091. [7] Cf. cân. 1083. [8] Cf. cân. 1086. [9] Cf. cân. 1087. [10] Cf. cân. 1088. [11] Cf. cân. 1089. [12] Cf. cân. 1090. [13] Cf. cân. 1091. [14] Cf. cân. 1092. [15] Cf. cân. 1093. [16] Cf. cân. 1094. [17] Cf. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Dogmática sobre a Igreja “Lumen Gentium”, Petrópolis, 1965, n. 22. [18] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 56-57. [19] Cf. F. AZNAR GIL, El nuevo derecho matrimonial Canonico, Salamanca, 1985, p. 195. [20] Cf. cân. 1078. [21] Cf. cân. 1079 § 2. [22] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 57-59. [23] Cf. cân. 1079 § 3 e 1080 § 1. [24] Cân. 1080 § 1. [25] Cf. Cân. 1067. [26] Cf. cân. 1081. [27] Cf. E. PÉREZ PUJOL, op. cit., p. 46. [28] Cf. cân. 1082. [29] Cân. 1083 § 2. [30] Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, “Texto da Legislação Complementar ao Código de Direito canônico”, em Comunicado Mensal 405 (1986) 1395-1396. [31] Cf. cân. 97 § 1. [32] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 56-62. [33] Cf. V. PINTO, “Los impedimentos al matrimonio”, em Curso sobre la preparación al matrimonio, Buenos Aires, 1995, p. 151. [34] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 74. [35] Ao comentar o conteúdo do cân. 1061 §1, os autores costumam apresentar que o ato ou a cópula conjugal consiste na penetração do pênis do varão, de um modo natural e com a subsequente ejaculação, na vagina da mulher. Portanto, a doutrina canônica entende que o ato conjugal comporta três elementos: a ereção do membro viril; a penetração do membro viril na vagina da mulher, ainda que não seja de modo completo, e a ejaculação no seu interior e, da parte da mulher, capacidade suficiente de ser penetrada, de receber o membro viril e de receber 137 a ejaculação ordinária. Quando algumas dessas exigências não podem realizar-se, configura-se um impedimento (cf. L. V. SANCHEZ, “Impotência”, em C. C. SALVADOR – J. M. URTEAGA EMBIL, Dicionário de Direito canônico, São Paulo, 1993, p. 380-384). [36] Cf. J. CASTAÑO, Il sacramento del Matrimonio, Roma, 1992, p. 262. [37] Cf. P. BIANCHI, “Il pastore d’anime e la nullità del matrimonio”, em Quaderni di Diritto Ecclesiale 4 (1994) 459. [38] Cf. Cân. 1084 § 2. [39] Cf. Cân. 1060. [40] Cf. J. A. GOMES DA SILVA MARQUES, Direito Sacramental, Lisboa, 2004, p. 69. [41] Cf. cân. 1056. [42] Cf. Mc 10,1-12. [43] Cf. cân. 1142. [44] Cf. câns. 1143-1149. [45] Cf. Ex 34,16; Ne 13,23-29; Ml 2,11ss. [46] Cf. 1Cor 7,39ss. [47] Cf. 2Cor 6,14-15. [48] Cf. 1Pd 3,1-2. [49] PAULO PP VI, “Moto Próprio Matrimonia mixta”, em L’Osservatore Romano (Cidade do Vaticano)12 (1970) 8. [50] Cf. cân. 1071 § 4. [51] Cf. V. PINTO, op. cit., p. 155. [52] Cf.A. BERNARDEZ CANTÓN, Compendio de Derecho Matrimonial Canonico, Madri, 1991, p. 80-82. [53] Cf. PAULO PP VI, Carta Encíclica Sacerdotalis Caelibatus, Roma, 1967; JOÃO PAULO PP II, Carta aos sacerdotes por ocasião da quinta-feira santa, de 8 de abril de 1979, em <www.vatican.va>. Acesso: 15 de agosto de 2012; CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida do presbítero, Petrópolis, 1994. [54] Cf. cân. 1009 § 1. [55] Cf. câns. 1708-1712. [56] Cf. cân. 194 § 1, 3º. [57] Cf. cân. 1394 §1. [58] Cf. cân. 1078 § 2, 1º. [59] Cân. 1088. [60] Cân. 1191 § 1. [61] Cf. cân. 1078 § 2, 1º. [62] Cf. cân. 691 § 2; cf. também cân. 692. [63] Cf. 684 § 5 e 685. [64] Cf. câns. 691 e 692. [65] Cf. câns. 694-704. [66] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 90. [67] Cf. cân. 1090. [68] Cf. cân. 1090 § 2. [69] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 260-261. [70] Cf. loc. cit. [71] Cf. cân. 108 § 3. 138 http://www.vatican.va [72] Cf. E. PÉREZ PUJOL, op. cit., p. 65. [73] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 84. [74] Cân. 1093. [75] O Código Civil, promulgado em 2003, também prescreve estes impedimentos (cf. Art 1521, III). [76] Cf. E. PÉREZ PUJOL, op. cit., p. 68. 139 6. OS VÍCIOS DO CONSENTIMENTO [1] Cf. L. V. SANCHEZ, “Consentimento matrimonial”, em C. C. SALVADOR – J. M. URTEAGA EMBIL, Dicionário de Direito canônico, São Paulo, 1989, p. 210-211. [2] Cf. L. V. SANCHEZ, op. cit., p. 214. [3] Cf. cân. 1055 § 1. [4] Cf. Catecismo da Igreja Católica, Petrópolis, 1992, n. 1602ss. [5] CIgC, n. 1626. [6] CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual “Gaudium et spes”, Petrópolis, 1965, n. 48. [7] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS, Ritual do matrimônio, São Paulo, 1993, n. 151. [8] Gn 2,24; Mc 10,8; Ef 5,31. [9] Cf. CIgC, n. 1628; CIC, cân. 1103. [10] Cf. CIgC, n. 1628. [11] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., Paulinas, 1999, p. 90. [12] Cf. loc. cit. [13] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 302. [14] Cf. cân. 1101. [15] Cf. cân. 1071, § 1, 3. [16] Cf. L. G. MARTÍN, La incapacidad para contraer matrimonio, Salamanca, 1987, p. 25. [17] Cf. L. G. MARTÍN, op. cit., p. 26-27. [18] Cânon 1096. [19] Cf. H. FRANCESCHI, A incapacidade para assumir as obrigações essenciais do matrimônio por causas de natureza psíquica, Lisboa, 2007, p. 10. [20] Nas causas em que são apresentados motivos de incapacidade, costumam agrupar-se as seguintes categorias: a) as enfermidades mentais: as psicoses e as suas variantes, as neuroses etc.; b) as anomalias psicossexuais, que impedem o exercício normal da sexualidade: a hiperestesia sexual, algumas manifestações de sadismo ou de masoquismo, de homossexualidade, de transexualidade e outras disfunções sexuais; c) as desordens da personalidade: graves formas de narcisismo, de personalidade antissocial ou inclinadas à violência, personalidades particularmente débeis que podem ser arrastadas para a droga, o álcool ou para hábitos prejudiciais para a vida familiar, como a ludopatia. Frequentemente utilizam-se os critérios do DSM-IV (Cf. P. PICHOT, Manual diagnóstico e estatístico dos desequilíbrios mentais, Lisboa, 1995, p. 45). [21] Cf. P. J. VILADRICH, El consentimiento matrimonial, Pamplona, 1998, p. 112-113. [22] BENTO PP XVI, “Discurso à Rota Romana proferido em 27 de janeiro de 2007”, em AAS 99 (2007), p. 86-91. [23] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS TEXTOS LEGISLATIVOS, Instrução que devem observar os tribunais diocesanos e interdiocesanos ao tratarem das causas de nulidade de matrimônio Dignitas Connubii, São Paulo, 2005, n. 209. [24] Cf. H. FRANCESCHI, A incapacidade para assumir as obrigações essenciais do matrimônio por causas de natureza psíquica, Lisboa, 2007, p. 23. [25] Cf. cân. 1096 § 2º. [26] Cf. cân. 1105. [27] Cf Gn 29,22ss. [28] Cf. J. A. GOMES DA SILVA MARQUES, op. cit., p. 153. [29] Cf. cân. 1096. [30] Cf. loc. cit. 140 [31] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 106. [32] Como, de fato, alguns autores questionam: quando a personalidade de um cônjuge se revela completamente diferente de como era conhecida antes do casamento, pode-se dizer que o consentimento matrimonial do cônjuge que errou é verdadeiro? Não acabou por casar com uma pessoa inexistente, que formou em sua imaginação? Ao nosso modo de ver, nesse caso, poderia ser invocado, como causa de nulidade, o erro sobre a pessoa de que trata o cânon 1097 § 1. O problema está em determinar o limite entre o que é apenas uma qualidade, mas que não muda fundamentalmente a personalidade, e a própria personalidade. A dificuldade, porém, não deve impedir de reconhecer que pode haver matrimônios nulos por erro sobre a personalidade do cônjuge (Cf. J. HORTAL, Casamentos que nunca deveriam ter existido. Uma solução pastoral, São Paulo, 1987, p. 19). [33] Cf. J. F. CASTAÑO, “Il dolo nel matrimonio”, em> La nuova legislazione matrimoniale, Vaticano, 1986, p. 106-115. [34] Cf. cân. 1084, § 3. [35] Cf. MICHIELS, “Principia generalia de personnis”, em Ecclesia XX (1955), p. 660. [36] Cf. F. AZNAR GIL, op. cit., 160-161. [37] Cf. K. E. BOCCAFOLA, “Dolo ed errore circa una qualitá della persona”, em Monitor Ecclesiasticus, IV (1999) 720-721. [38] Cf. cân. 1056. [39] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, Orientações pastorais sobre o matrimônio, São Paulo, 1978, nº 2, 15. [40] Cf. C. J. MACÍAS RAMOS, Nulidad del matrimonio, Valencia, 2006, p. 71. [41] Cf. cân. 1056. [42] Cf. C. J. MACÍAS RAMOS, op. cit., p. 72. [43] Cf. GS 48. [44] Cf. O. GIACCHI, Il Consenso matrimoniale canônico, Milão, 1973, p. 91. [45] Cf. L. GUTIÉRREZ MARTÍN, Voluntad y declaración en el matrimonio, Salamanca, 1990, p. 66-67. [46] Cf. cân. 1057 § 2. [47] Cf. cân. 1055 § 1. [48] Cf. C. J. MACÍAS RAMOS, op. cit., p. 75. [49] Cf. Gn 2,24ss. [50] Mt 19,6. [51] Cf. GS 48. [52] A poligamia supõe a existência de um homem com várias mulheres simultaneamente (cf. Gn 4,19; 16,1-4; 25,1; 26,34-35; 28,9; 29,15-30; 30,1-13; Jr 8,30; 2Sm 3,2-5; 1Rs 11,1-3). Eram muitas as causas que se tinham para justificar a poligamia na cultura judaica, tais como: motivo político e compreensão equivocada do “crescei e multiplicai-vos” (Gn 1,28), pois os judeus se preocupavam com a descendência (cf. Gn 13,16; 15,5; Nm 23,5- 10). [53] Cf. Rm 7,1-6. [54] Cf. PIO PP XI, “Carta Encíclica Casti Connubii”, em AAS 22 (1930) 548. [55] O bonum coniugum está ainda relacionado a esta relação íntima do casal, sinal de complementação das personalidades e ajuda mútua. O amor conjugal deve ser plenamente humano, total, fiel, exclusivo e fecundo. A relação sexual se manifesta no respeito à dignidade do outro, vida em castidade, consistência periódica, abertura à maternidade e paternidade (cf. GS 48; LG 11 e 41 AA 11). [56] LG 41. [57] AA 11. [58] Gn 2,18. [59] Gn 2,18-24. 141 [60] Mt 19,4. [61] Mt 19,5-6. [62] GS 48. [63] Cf. JOÃO PAULO PP II, Carta às famílias, São Paulo, 1994, n. 11. [64] Cf. GS 48. [65] Gn 2,18. [66] Gn 2,24. [67] Gn 2,24. [68] JOÃO PAULO PP II, op. cit, n. 7. [69] Cf. cân. 1055. [70] Cf. JOÃO PAULO PP II, Carta às famílias, São Paulo, 1994, n. 10. [71] Cf. Loc. cit. [72] Cf. cân. 1056. [73] Cf. M. FALCÃO, Exclusão da fidelidade, Lisboa, 2001. [74] Cf. E. PÉREZ PUJOL, op. cit., p. 105. [75] R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 402. [76] Cf. P. J. VILADRICH, O consentimento matrimonial, Braga, 1997, p. 280. [77] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 407. [78] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 411. [79] Cf. 1Cor 7,15. [80] Cf. câns. 1143-1147. [81] Cf. câns 1148-1150. [82] Cf. cân. 1129. [83] Cf. cân. 1148. 142 7. A FORMA CANÔNICA DO MATRIMÔNIO [1] O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecumênico. É considerado um dos três concílios fundamentais na Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e da reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da Contrarreforma. O Concílio de Trento foi o concí-lio ecumênico mais longo da Históriada Igreja. Foi também o concílio queemitiu o maior número de decretos dogmáticos e reformas, e produziu os resultados mais benéficos, duradouros e profundos sobre a fé e a disciplina da Igreja. Como oposição ao protestantismo, o concílio emitiu numerosos decretos disciplinares e especificou claramente as doutrinas católicas quanto à salvação, os sete sacramentos, o cânone bíblico e a Tradição, a doutrina da graça e do pecado original, a justificação, a liturgia e o valor e a importância da Missa, o celibato clerical, a hierarquia católica, o culto dos santos, das relíquias e das imagens, as indulgências e a natureza da Igreja. Regulou ainda as obrigações dos bispos (cf. G. ALBERIGO, História dos concílios ecumênicos, São Paulo, 1995, p. 331-345). [2] Cf. cânones 1119 e 1120. [3] Cf. P. LOMBARDIA, J. I. ARRIETA, “Comentário ao cânon 1108”, em Código de Direito canônico, Braga, 1984, p. 692. [4] Cf. P. LOMBARDIA, J. I. ARRIETA, op. cit., p. 692. [5] Cf. F. R. AZNAR GIL, op. cit., p. 404. [6] Chamamos de ordinário do lugar o Romano Pontífice, os bispos diocesanos e os a eles equiparados (cf. cân. 134 § 2), que são os que dirigem, ainda que só interinamente, uma prelazia territorial, uma abadia territorial, um vicariato apostólico e uma administração apostólica estável (cf. cân. 368). Ainda são incluídos nesta lista os que nessas Igrejas tenham poder executivo ordinário, como os vigários-gerais e episcopais. No caso de sede vacante, também é ordinário local quem governa a diocese antes da eleição do administrador diocesano, porque ele tem o poder de vigário-geral (cf. cân. 426) e o administrador diocesano, que tem as obrigações e o poder do bispo diocesano, menos aquelas que se excetuam pela própria natureza da coisa ou pelo direito (cf. cân. 427). Para os cristãos católicos de rito oriental, pertencentes às Igrejas orientais autônomas, existe no Brasil seu ordinário próprio (cf. E. PÉREZ PUJOL, op. cit., p. 116). [7] Cf. cân. 1108 § 1. [8] Cf. cân. 131 § 1. [9] cân. 137 § 1. [10] LG 29. [11] Cf. J. PEREIRA, “A forma canônica ordinária na atual legislação da Igreja”, em Revista Brasileira de Direito canônico, 21 (2007) p. 100. [12] Esse tipo de delegação é chamada de especial, porque conferida para um ou mais matrimônios determinados: é oportuno que também esta seja dada por escrito, sobretudo nos casos em que o delegante não esteja presente na celebração do matrimônio. É válida, contudo, a delegação oral, mesmo se dada por telefone (cf. cân. 1065). [13] Cf. J. PEREIRA, op. cit., p. 100. [14] Cf. R. L. CIFUENTES, op. cit., p. 427. [15] Cf. F. R. AZNAR GIL, op. cit., p. 411. [16] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 427. [17] Cf. Comunicado Mensal da CNBB 25 (1974) 335-337. [18] Cf. LG 33. [19] CONGREGAÇÃO PARA OS BISPOS, Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos, São Paulo, 2005, n. 112. [20] Cf. J. HORTAL, “Comentário ao cân. 112”, em Código de Direito canônico, São Paulo, 2002. [21] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 146. [22] Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS, Ritual do 143 Matrimônio, Petrópolis, 1994, p. 46-57. [23] Cf. F. R. AZNAR GIL, op. cit., p. 412. [24] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 431. [25] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 144. [26] F. R. AZNAR GIL, op. cit., p. 413. [27] A jurisprudência rotal tende a aplicar o princípio da suplência de modo restritivo; considerando, de fato, que, na ausência da delegação especial, não se verifica o erro comum e, portanto, não pode ter lugar para a suplência, ao menos que o assistente, desprovido da faculdade, não desenvolva qualquer encargo na paróquia, de tal modo que não somente os contraentes, mas a própria comunidade caia efetivamente em erro, persuadida de que ele, desenvolvendo habitualmente naquele lugar o seu múnus, esteja desprovido da devida faculdade. Com toda evidência não se pode invocar a suplência se o sacerdote e os esposos quiseram, intencionalmente, subtrair-se à jurisdição da Igreja, agindo fora dela. [28] Cf. ibid., p. 414. [29] G. GHIRLANDA, O direito na Igreja, mistério de comunhão, Aparecida, 2003, p. 411. [30] Cf. cân. 1121 § 1. [31] Cf. E. PÉREZ PUJOL, op. cit., p. 120. [32] Cf. cân. 1115. [33] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 435. [34] Cf. op. cit., p. 148. [35] Cf. R. LLANO CIFUENTES, op. cit., p. 435. [36] Cf. cân. 1079 § 1. [37] “Não nos parece, como norma geral, que se possa considerar, como faziam os autores imediatamente posteriores ao Código, ‘incômodo grave’, uso dos meios modernos de comunicação (automóvel, telégrafo, telefone etc.). Em alguns lugares, esses meios podem ser extraordinários, mas certamente não o são em muitos outros” (J. HORTAL, op. cit., p. 149). [38] J. HORTAL, op. cit., p. 149. [39] Cf. cân. 1079. [40] Cf. F. R. AZNAR GIL, op. cit., p. 418. [41] Cf. J. C. CAPPARELLI, op. cit., p. 148. [42] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 150. [43] Cf. cân. 1116 § 2. [44] Cf. F. R. AZNAR GIL, op. cit., p. 419. [45] Cf. cân. 1127 § 2. Em caso de perigo de morte, cf. cân. 1079 § 1. [46] A formulação original do cânon, antes da modificação introduzida pelo Motu Proprio Ominum in mentem, previa, porém, que não eram obrigados à forma canônica aqueles que tivessem saído da Igreja Católica com ato formal, estabelecendo assim uma exceção à norma do cân. 11. Tal exceção, prevista também no cân. e escrita para celebrar o matrimônio misto, tinha a finalidade de facilitar o exercício do ius conubii. Consequentemente, um católico separado com ato formal da Igreja não era obrigado à forma canônica se contraía matrimônio: a) com uma parte não batizada; b) com uma parte batizada não católica; c) com uma parte que se encontrava na sua mesma condição; era obrigado, contudo, se contraía matrimônio com uma parte batizada católica, salva a disposição do cân. 1127, § 2 (cf. cân. 1086 § 1). [47] Cf. BENTO PP XVI, Motu Proprio Omnium in Mente, de 26 de outubro de 2009, em, <www.vatican.va>. Acesso: 25 de agosto de 2012. [48] O cân. modificado pela Ominum in mentem, em 26 de outubro de 2009, entrou em vigor no dia 9 de abril de 2010; fica assim expresso: “A forma acima estabelecida deve ser observada se ao menos uma das partes contraentes é batizada na Igreja Católica ou nessa acolhida, salvas as prescrições do cân. 1127, § 2”. Portanto, para os matrimônios celebrados antes dessa data, é necessário aplicar os cânones modificados (1086, § 1; 1117 e 144 1124) na sua formulação originária (cf. BENTO PP XVI, Motu Proprio Omnium in Mente, de 26 de outubro de 2009, em <www.vatican.va>. Acesso: 25 de agosto de 2012). [49] Cf. “Comissão de Interpretação do Código de 1983”, em AAS 77 (1985), 771. [50] Cf. cân. 1079 § 2. [51] Cf. cân. 1079 § 4. [52] Cf. J. HORTAL, “Comentário ao cânon 1079 § 4”, em Código de Direito canônico, São Paulo, 2001, p. 274. [53] Cf. cân. 1079 § 3. [54] Cf. cân. 1081. [55] Cân. 1121 § 1. [56] Cf. cân. 1122 § 2. [57] Cf. cân. 1123. [58] Cf. cân. 1121 § 2. [59] Cf. cân. 1131. [60] Cf. cân. 1133. 145 8. A CONVALIDAÇÃO E A SANAÇÃO DO MATRIMÔNIO [1] J. CORSO, “A importância pastoral da sanatio in radice”, em Direito e Pastoral 37 >(1999) 64. [2] Cf. cân. 1161. [2] Cf. cân. 381 e 368. [4] Cf. Cân. 1163 § 2. [5] Cf. cânones 1095-1103. [6] Cf. G. C. DOS SANTOS, “A lei tornando a igreja mais acessível: uma solução pastoral para os matrimônios não realizados de acordo com a forma canônica”, em www.bispado.org.br. Acesso: 21 de agosto de 2012. [7] Cf. cân. 1164. [8] Cf. cân. 1752. [9] Cf. J. CORSO, op. cit., p. 63. [10] Cf. cân. 1164. [11] Cf. cân. 1161, § 1. [12] Cf. cân. 1057. [13] Cf. cân. 1163. [14] Cf. ibid., p. 65. [15] Cf. loc. cit. 146 http://www.bispado.org.br 9. O PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL [1] Cf. cân. 1673. [2] Cf. cân. 1501 a 1504. [3] Cf. cân. 1481. [4] Cf. cân. 1507. [5] Cf. cân. 1513. [6] Cân. 1752. [7] Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS TEXTOS LEGISLATIVOS. Instrução que devem observar os tribunais diocesanos e interdiocesanos ao tratarem as causas de nulidade de matrimônio “Dignitas Connubii”, São Paulo, 2005. Art. 22 § 3. [8] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS TEXTOSLEGISLATIVOS. Instrução que devem observar os tribunais diocesanos e interdiocesanos ao tratarem as causas de nulidade de matrimônio “Dignitas Connubii”, São Paulo, 2005. Art. 23. [9] A página na Internet da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil traz o elenco dos Tribunais Eclesiásticos existentes no país, com seus respectivos endereços: <www.cnbb.org.br>. [10] Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS TEXTOS LEGISLATIVOS. Instrução que devem observar os tribunais diocesanos e interdiocesanos ao tratarem as causas de nulidade de matrimônio “Dignitas Connubii”, São Paulo, 2005. Art. 27. Cf. também cân. 1628. [11] Cf. cân. 1630 § 1. [12] Cf. J. HORTAL, op. cit., p. 165. [13] Cf. loc. cit. [14] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS TEXTOS LEGISLATIVOS. Instrução que devem observar os tribunais diocesanos e interdiocesanos ao tratarem as causas de nulidade de matrimônio “Dignitas Connubii”, São Paulo, 2005, Art. 251. [15] Cf. op. cit., p. 165. [16] Cf. cân. 1400. [17] Sl 85,11. [18] Mc 10,11-12. [19] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Carta aos bispos da Igreja Católica a respeito da recepção da comunhão Eucarística por fiéis divorciados novamente casados, de 14 de setembro de 1994, em <www.vatican.va>. Acesso: 23 de agosto de 2012, n. 4. [20] Cf. cân. 2356, § 1. [21] Cf. cân. 915. [22] CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Carta aos bispos da Igreja Católica a respeito da recepção da comunhão Eucarística por fiéis divorciados novamente casados, de 14 de setembro de 1994, em <www.vatican.va>. Acesso: 23 de agosto de 2012, n. 4. [23] Catecismo da Igreja Católica, Petrópolis, 1994, n. 1650. [24] FC 84. [25] FC 82. [26] BENTO PP XVI, Exortação apostólica pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, São Paulo, 2007, n. 29. [27] Cf. Mc 10,2-12. [28] Loc. cit. [29] Desde os tempos mais antigos, a Igreja salienta a prática da comunhão espiritual, que é o ato piedoso de desejo de se unir espiritualmente ao Senhor na eucaristia. Santo Tomás de Aquino afirma que há duas maneiras de receber a eucaristia, a sacramental e a espiritual, e que, pela recepção espiritual, rece-be-se o efeito deste sacramento: o homem se une a Cristo. A comunhão espiri-tual inclui o voto ou desejo de receber o sacramento. 147 http://www.vatican.va http://www.vatican.va No momento da comunhão, os que estão impossibilitados, podem manifestar a Jesus o desejo de recebê-lo e confidenciar a própria situação e confiar nele, oferecendo-se em sacri-fício espiritual de louvor, de adoração, de prece, de pedido de misericórdia. Santo Afonso Maria de Ligório, falando a respeito da comunhão espiritual, recomenda a seguinte oração: “Creio, ó meu Jesus, que estais presente no santíssimo sacramento. Amo-vos sobre todas as coisas e desejo-vos possuir em minha alma. Mas como agora não posso receber-vos sacramentalmente, vinde espiritualmente ao meu coração. E, como se já vos tivesse recebido, uno-me inteiramente avós; não consintais que de vós me aparte” (cf. CONCÍLIO ECUMÊNICO VA-TICANO II, Constituição Conciliar “Sacrosanctum Concilium”, Petrópolis, 1965, n. 55; cf. também S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologiae, III,q. 80, a, 4). [30] Cf. cân. 874. [31] Cf. cân. 228ss. [32] Cf. cân. 987. [33] Cf. cân. 849. [34] Cf. FC 84. [35] Cf. FC 83-84. [36] Cf. Lc 18,9-14. [37] BENTO PP XVI, Discurso do Papa no Encontro mundial com as famílias, Milão, 2 de junho de 2012, em <www.vatican.va>. Acesso: 2 de abril de 2013. 148 http://www.vatican.va 149 Scivias de Bingen, Hildegarda 9788534946025 776 páginas Compre agora e leia Scivias, a obra religiosa mais importante da santa e doutora da Igreja Hildegarda de Bingen, compõe-se de vinte e seis visões, que são primeiramente escritas de maneira literal, tal como ela as teve, sendo, a seguir, explicadas exegeticamente. Alguns dos tópicos presentes nas visões são a caridade de Cristo, a natureza do universo, o reino de Deus, a queda do ser humano, a santifi cação e o fi m do mundo. Ênfase especial é dada aos sacramentos do matrimônio e da eucaristia, em resposta à heresia cátara. Como grupo, as visões formam uma summa teológica da doutrina cristã. No fi nal de Scivias, encontram-se hinos de louvor e uma peça curta, provavelmente um rascunho primitivo de Ordo virtutum, a primeira obra de moral conhecida. 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A ordenação da prole 25 2.2.2. O bem dos cônjuges 26 2.3. As propriedades essenciais 27 2.3.1. A unidade 27 2.3.2. A indissolubilidade 29 2.4. Em referência ao matrimônio “in fieri” e “in facto esse” 31 2.4.1. O matrimônio “in fieri” 31 2.4.2. O matrimônio “in facto esse” 33 2.5. A dimensão sacramental do matrimônio 33 2.5.1. Os ministros do sacramento do matrimônio 34 2.5.2. Os sujeitos, a matéria e a forma do matrimônio 34 3. A DEDICAÇÃO PASTORAL E O QUE SE DEVE PRECEDER À CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO 36 3.1. O cuidado pastoral anterior à celebração do matrimônio 36 3.1.1. A preparação remota 36 3.1.2. A preparação próxima 37 3.1.3. A preparação imediata 38 159 3.2. O processo de habilitação matrimonial 39 3.2.1. O exame dos noivos 41 3.2.2. Os proclamas 41 3.3. As proibições para proceder à celebração matrimonial 43 3.3.1. Matrimônio de vagos 43 3.3.2. Matrimônio que não possa ser reconhecido ou celebrado civilmente 43 3.3.3. Matrimônio de quem tem obrigações naturais, originadas de união precedente, para com outra parte ou para com filhos 44 3.3.4. Matrimônio de quem tenha abandonado notoriamente a fé católica 44 3.3.5. Matrimônio de quem está sob alguma censura 45 3.3.6. Matrimônio de menor, sem o conhecimento ou contra a vontade razoável de seus pais 45 3.3.7. Matrimônio a ser contraído por procurador, mencionado no cân. 1105 46 3.4. Outras proibições 46 3.4.1. A celebração secreta do matrimônio 46 3.4.2. Matrimônios proibidos pelo ordinário local 47 3.4.3. Matrimônio celebrado sob condição 47 3.4.4. Matrimônio daqueles que emitiram voto público temporário ou voto privado de castidade ou outros votos semelhantes 48 3.4.5. Os matrimônios mistos e disparidade de culto 48 4. ALGUMAS DENOMINAÇÕES CANÔNICAS DO MATRIMÔNIO 53 4.1. A consumação do matrimônio 53 5. OS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES 56 5.1. Noção e espécies de impedimentos 56 5.1.1. A classificação dos impedimentos 57 5.1.2. A autoridade competente para estabelecer impedimentos 58 5.1.3. A dispensa dos impedimentos em situação de perigo de morte 58 5.1.4. O poder de dispensar do pároco e de outros ministros 59 5.2. Os impedimentos em especial 60 1. Impedimento de idade 60 2. Impedimento de impotência 61 3. Impedimento de vínculo 63 4. Impedimento de disparidade de culto 63 5. Impedimento de ordem sacra 65 160 6. Impedimento de profissão religiosa 66 7. Impedimento de rapto 66 8. Impedimento de crime 67 9. Impedimento de consanguinidade 68 10. Impedimento de afinidade 69 11. Impedimento de honestidade pública 70 12. Impedimento de parentesco legal 70 6. OS VÍCIOS DO CONSENTIMENTO 72 6.1. Falta de capacidade para consentir (cânon 1095) 74 6.2. Ignorância (cânon 1096) 78 6.3. Erro (cânon 1097) 78 6.4. O erro doloso (cânon 1098) 79 6.5. Erro a respeito do próprio matrimônio (cânon 1099) 81 6.6. Simulação (cânon 1101) 81 6.6.1. Simulação total 82 6.6.2. Simulação parcial 83 6.7. Condição não cumprida (cânon 1102) 88 6.8. Violência ou medo (cânon 1103) 88 6.9. Dispensa por vínculo natural 90 6.9.1. O privilégio paulino 90 6.9.2. O privilégio petrino (privilégio da fé) 91 7. A FORMA CANÔNICA DO MATRIMÔNIO 92 7.1. As normas estabelecidas pelo cânon 1108 92 7.1.1. O celebrante 92 7.1.2. A delegação e a subdelegação para a celebração do matrimônio 93 7.1.3. Requisitos para a validade da delegação 93 7.1.4. A subdelegação 94 7.1.5. Situação particular: o assistente leigo 94 7.1.6. A suplência da faculdade (cân. 144) 95 7.2. As testemunhas 96 7.3. Local onde deve ocorrera celebração do matrimônio 96 7.4. A certeza do estado livre dos contraentes 97 7.5. A forma canônica extraordinária 98 7.6. Requisito a ser exigido: intenção de contrair verdadeiro matrimônio 98 7.7. Impossibilidade de usar a forma ordinária sem “grave incômodo” 99 161 7.7.1. Nos casos de perigo de morte 99 7.7.2. Nos casos fora do perigo de morte 100 7.8. Os que estão obrigados à forma canônica 100 7.8.1. A dispensa da forma canônica 101 7.8.2. Nos casos de urgente perigo de morte (cân. 1079 § 1) 101 7.9. O registrodo matrimônio celebrado 102 7.10. Celebração usando a forma ordinária 102 7.11. Matrimônios celebrados com a forma extraordinária 103 7.12. Para matrimônios celebrados com dispensa da forma canônica 103 7.13. Para matrimônios secretos 103 8. A CONVALIDAÇÃO E A SANAÇÃO DO MATRIMÔNIO 105 8.1. A convalidação simples 105 8.2. A “sanatio in radice” 106 9. O PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL 110 9.1. Os principais passos de um processo de nulidade matrimonial 110 9.2 A confecção do Libelo Introdutório 112 9.3. As declarações de nulidade: aspectos jurídicos 113 9.4. Os fiéis recasados e a comunhão eucarística 115 Conclusão 119 Referências bibliográficas 120 Coleção 124 Ficha catalográfica 125 Sobre o autor 126 Notas 127 162 Rosto “A família está fundada no sacramento do matrimônio (...)” Abreviaturas e siglas Introdução 1. O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO E A SUA FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA 1.1. Questões preliminares 1.2. O relato da criação 1.3. O amor esponsal segundo o Cântico dos Cânticos 1.4. O amor forte como a morte segundo o Livro de Tobias 1.5. A visão matrimonial no Novo Testamento: Cristo e a Igreja 1.6. Os ensinamentos de Jesus Cristo sobre o matrimônio 2. A NATUREZA JURÍDICA DO MATRIMÔNIO 2.1. A evolução da definição nominal do matrimônio 2.2. Os fins do matrimônio 2.2.1. A ordenação da prole 2.2.2. O bem dos cônjuges 2.3. As propriedades essenciais 2.3.1. A unidade 2.3.2. A indissolubilidade 2.4. Em referência ao matrimônio “in fieri” e “in facto esse” 2.4.1. O matrimônio “in fieri” 2.4.2. O matrimônio “in facto esse” 2.5. A dimensão sacramental do matrimônio 2.5.1. Os ministros do sacramento do matrimônio 2.5.2. Os sujeitos, a matéria e a forma do matrimônio 3. A DEDICAÇÃO PASTORAL E O QUE SE DEVE PRECEDER À CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO 3.1. O cuidado pastoral anterior à celebração do matrimônio 3.1.1. A preparação remota 3.1.2. A preparação próxima 3.1.3. A preparação imediata 3.2. O processo de habilitação matrimonial 3.2.1. O exame dos noivos 3.2.2. Os proclamas 3.3. As proibições para proceder à celebração matrimonial 3.3.1. Matrimônio de vagos 3.3.2. Matrimônio que não possa ser reconhecido ou celebrado civilmente 3.3.3. Matrimônio de quem tem obrigações naturais, originadas de união precedente, para com outra parte ou para com filhos 3.3.4. Matrimônio de quem tenha abandonado notoriamente a fé católica 3.3.5. Matrimônio de quem está sob alguma censura 3.3.6. Matrimônio de menor, sem o conhecimento ou contra a vontade razoável de seus pais 3.3.7. Matrimônio a ser contraído por procurador, mencionado no cân. 1105 3.4. Outras proibições 3.4.1. A celebração secreta do matrimônio 3.4.2. Matrimônios proibidos pelo ordinário local 3.4.3. Matrimônio celebrado sob condição 3.4.4. Matrimônio daqueles que emitiram voto público temporário ou voto privado de castidade ou outros votos semelhantes 3.4.5. Os matrimônios mistos e disparidade de culto 4. ALGUMAS DENOMINAÇÕES CANÔNICAS DO MATRIMÔNIO 4.1. A consumação do matrimônio 5. OS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES 5.1. Noção e espécies de impedimentos 5.1.1. A classificação dos impedimentos 5.1.2. A autoridade competente para estabelecer impedimentos 5.1.3. A dispensa dos impedimentos em situação de perigo de morte 5.1.4. O poder de dispensar do pároco e de outros ministros 5.2. Os impedimentos em especial 1. Impedimento de idade 2. Impedimento de impotência 3. Impedimento de vínculo 4. Impedimento de disparidade de culto 5. Impedimento de ordem sacra 6. Impedimento de profissão religiosa 7. Impedimento de rapto 8. Impedimento de crime 9. Impedimento de consanguinidade 10. Impedimento de afinidade 11. Impedimentode honestidade pública 12. Impedimento de parentesco legal 6. OS VÍCIOS DO CONSENTIMENTO 6.1. Falta de capacidade para consentir (cânon 1095) 6.2. Ignorância (cânon 1096) 6.3. Erro (cânon 1097) 6.4. O erro doloso (cânon 1098) 6.5. Erro a respeito do próprio matrimônio (cânon 1099) 6.6. Simulação (cânon 1101) 6.6.1. Simulação total 6.6.2. Simulação parcial 6.7. Condição não cumprida (cânon 1102) 6.8. Violência ou medo (cânon 1103) 6.9. Dispensa por vínculo natural 6.9.1. O privilégio paulino 6.9.2. O privilégio petrino (privilégio da fé) 7. A FORMA CANÔNICA DO MATRIMÔNIO 7.1. As normas estabelecidas pelo cânon 1108 7.1.1. O celebrante 7.1.2. A delegação e a subdelegação para a celebração do matrimônio 7.1.3. Requisitos para a validade da delegação 7.1.4. A subdelegação 7.1.5. Situação particular: o assistente leigo 7.1.6. A suplência da faculdade (cân. 144) 7.2. As testemunhas 7.3. Local onde deve ocorrera celebração do matrimônio 7.4. A certeza do estado livre dos contraentes 7.5. A forma canônica extraordinária 7.6. Requisito a ser exigido: intenção de contrair verdadeiro matrimônio 7.7. Impossibilidade de usar a forma ordinária sem “grave incômodo” 7.7.1. Nos casos de perigo de morte 7.7.2. Nos casos fora do perigo de morte 7.8. Os que estão obrigados à forma canônica 7.8.1. A dispensa da forma canônica 7.8.2. Nos casos de urgente perigo de morte (cân. 1079 § 1) 7.9. O registrodo matrimônio celebrado 7.10. Celebração usando a forma ordinária 7.11. Matrimônios celebrados com a forma extraordinária 7.12. Para matrimônios celebrados com dispensa da forma canônica 7.13. Para matrimônios secretos 8. A CONVALIDAÇÃO E A SANAÇÃO DO MATRIMÔNIO 8.1. A convalidação simples 8.2. A “sanatio in radice” 9. O PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL 9.1. Os principais passos de um processo de nulidade matrimonial 9.2 A confecção do Libelo Introdutório 9.3. As declarações de nulidade: aspectos jurídicos 9.4. Os fiéis recasados e a comunhão eucarística Conclusão Referências bibliográficas Coleção Ficha catalográfica Sobre o autor Notas