Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FERNANDO APARECIDO PIMENTA AS UNIVERSIDADES MEDIEVAIS E O PENSAMENTO ESCOLÁSTICO Goianésia -Go 2021 RESUMO: O objetivo deste artigo é demonstrar a relevância da educação escolástica presentes no ensino universitário na Idade Média e examinar a importância de resgatar este legado histórico. Para o desenvolvimento deste estudo foi adotado o método descritivo, com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado por meio de pesquisa de revisão bibliográfica. Os resultados deste estudo evidenciam que o método escolástico foi utilizado nas universidades medievais, tendo seu auge no século XIII. Este método tornou-se uma ferramenta para produzir novos conhecimentos e para ensinar os alunos argumentarem e refletirem sobre o tema proposto. O objetivo da educação escolar era sistematizar o conhecimento e, assim, dar-lhe forma científica. Mas, para a mente escolástica, o conhecimento era principalmente de caráter teológico e filosófico. A forma científica valorizada foi a da lógica dedutiva. Diante dos dados coletados o presente estudo conclui que as universidades medievais devem ser consideradas como patrimônio sendo locais onde ocorreu a construção e preservação do saber que alcançou sua plenitude com o desenvolvimento e aplicação do método escolástico. PALAVRAS CHAVES: Período Medieval. Universidades. Escolástica INTRODUÇÃO A base do pensamento filosófico e teológico foram os pilares de sustentação do conhecimento medieval, formando a espisteme social dos séculos XIII e XV e que por uma espécie de imposição criaram-se os dogmas irrefutáveis da igreja católica sob essas teorias, que então sustentaram a difusão do pensamento escolástico por toda a Europa, sendo ele transmitido nas mais novas oficinas de educação medieval: as universidades. Estas que eram conduzidas pelos padres da igreja católica, refutando a filosofia clássica e disseminando os princípios da do pensamento patrístico e dando origem a Escolástica. É característica da educação medieval a existência dos tutore, ou seja, a prática dos religiosos adotarem jovens que ficavam sobre suas responsabilidades. Esses jovens eram oriundos de famílias humildes, cujos pais desejavam que os mesmos entrassem na vida religiosa para obter prestígio social, ou até mesmo por vocação, esses monges tutores ficariam a cargo de transmitir uma formação ascética e moral, espiritual antes que intelectual. De fato, essas crianças que foram educadas nos claustros foram todas destinadas a tornarem-se monges, entretanto em outras regiões da Europa onde se confiavam tal educação podemos notar que além de crianças e jovens humildes, existia a presença de filhos de nobres, reis, das mais altas classes, para que esses mesmos adquirissem uma formação social, embora todos também destinados à vida monástica. Era uma didática simples, um nível bem modesto de ensino, era um ensino técnico que visava a satisfazer as necessidades imediatas: ler, escrever, conhecer a bíblia, se possível de cor, ou pelo menos os salmos, um mínimo de erudição doutrinal canônica e litúrgica e nada mais, fundamentaram os processos de ensino na primeiras escolas e nas Universidades do percurso da Patrística à Escolástica que caracterizou a educação nessa últimas instituições. O ensino escolástico na época medieval contribuiu para a manutenção do poder da Igreja Católica em relação a formação não só eclesiástica pois versava por interligar a fé a razão. Acabou simultaneamente por gerir através das escolas monásticas e catedralísticas a produção filosófica e literária a mentalidade medieval em suas relações sociais, econômicas e culturais. É notório entre autores que estudam a História da Educação e da Pedagogia como Mário Alighiero Manacorda (1994) Paul Manoel e René Hubert( 1967) a importância de se estudar a Idade média observando como se constituía o ensino em sua íntima ligação com o clero para compreendermos melhor o pensamento medieval e atual nas sociedades ocidentais dentro de suas permanências e metamorfoseamentos. Ao traçar um paralelo entre a didática utilizada no ensino universitário e no ensino atual, verifica-se que este último está arraigado em métodos do pensamento medieval. Muitas destas instituições ainda conservam uma estrutura pedagógica nos moldes das primeiras Universidades. Muitos conceitos sobre a construção de pensamentos foram trabalhados durante o período medieval e até hoje se discutem tais conceitos. O sentido de liberdade trabalhado por Santo Agostinho em sua Obra “O livre Arbítrio”, os conceitos de Ética ensinado a Nicômacos por seu pai, o clássico filósofo Aristóteles e a arte de falar, a persuasão, o domínio da língua e da oralidade discutidas entre os sofistas. Todos esses fatos são assuntos de relevância para a formação do pensamento pós-moderno, já que os mesmos são de todo conteúdo relativo a cada tempo e cada realidade, mas que permeiam a teoria do conhecimento humano enquanto seres passíveis de aprendizagem e conhecimento. Com base nisto, a hipótese que norteia o desenvolvimento deste a didática aplicada nas universidades passou por permanências e transformações da Didática até os dias atuais. Em face disto, o presente estudo propõe investigar o seguinte problema de pesquisa: Quais as permanências e transformações da Didática que se faz presente no ensino universitário em relação ao ensino medieval? O objetivo deste artigo é demonstrar a relevância da educação escolástica presentes no ensino universitário na Idade Média e examinar a importância de resgatar este legado histórico. Para o desenvolvimento deste estudo foi adotado o método descritivo, com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado por meio de pesquisa de revisão bibliográfica. Para Lakatos e Marconi (2007) este tipo de pesquisa é definido como o levantamento, seleção e documentação da bibliografia que já foi publicada sobre o tema, e possibilita que o pesquisador entre em contato com estes materiais e aprofunde os conhecimentos sobre o assunto. A busca foi realizada em fontes digitais: monografias, dissertações, artigos científicos, livros e e-books. A pesquisa bibliográfica consistiu em 4 etapas distintas: 1) busca e seleção na base de dados, 2) leitura dos estudos selecionados, 3) análise crítica dos dados e 4) redação do artigo. Os dados coletados receberam tratamento de análise descritiva e qualitativa, para responder aos objetivos propostos neste estudo. A coleta de dados na literatura foi realizada entre os meses de julho a agosto de 2020. 2 CARACTERÍSTICAS DO PERÍODO MEDIEVAL Na época medieval a vida urbana e as cidades desapareceram praticamente, como resultado das invasões e do estabelecimento do regime feudal. Mas a partir dos séculos X e XII, o aumento da população da produtividade agrícola gerou um excedente de tanto trabalho e da produção agrícola, que reverteu para o desenvolvimento das cidades. Assim, surgiu uma nova classe de comerciantes e artesãos, chamada burguesia que levou o intercâmbio entre o campo e a cidade, permitindo a abertura de rotas de comércio entre as regiões remotas. Esses fatos foram decisivos para a expansão territorial dos reinos cristãos e para o desenvolvimento do comércio marítimo. Nesta fase da Idade Média o ideal religioso da defesa dos lugares santos (onde Cristo tinha vivido) conquistada pelos muçulmanos, refletiu no surgimento das Cruzadas, que serviram para aumentar os limites do poder europeu, desenvolver o comércio mediterrâneo. A Primeira Cruzada ocorreu no século XI com permissão do Papa Urbano II e culminou na conquista de Jerusalém pelos expedicionários. Mais tarde, nos séculos XII e XIII, foram realizadas novas cruzadas, o que resultou na fundação de reinos cristãos efêmeros no Próximo Oriente que terminou nasmãos dos turcos otomanos. Segundo Ariès (2014) o mundo vivia sob a sombra da Igreja, mas isso não significava adesão total e convicta a todos os dogmas cristãos. Significa o reconhecimento de uma linguagem comum, de um mesmo sistema de comunicação e de compreensão. Em relação a isso, Caputo (2008, p.4) relata que: A partir do século XII, ao invés da certeza passa a reinar a incerteza, uma vez que agora cabia à Igreja intermediar o acesso da alma ao paraíso e o julgamento final deixava de ser visto como evento que ocorreria nos Tempos Finais e passa a ser visto como um evento que aconteceria imediatamente após a morte e resultaria na descida ao inferno (no sofrimento eterno) ou a ascensão aos céus (na alegria eterna) e isso dependeria da conduta do moribundo antes da morte. No século XII, as monarquias europeias começaram a impor sua autoridade sobre os senhores feudal, levando-os a se aliarem com a burguesia das cidades. Os Estados instituíram novas organizações políticas, chamados de tribunais ou parlamentos, que aprovaram as leis e impostos que deveriam ser aplicados em todo o território dos respectivos reinos. Ao longo do século XIV, houve uma profunda crise econômica, social e espiritual, desencadeada por fatores como o crescimento populacional, revoltas camponesas contra os senhores, a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra, a grande epidemia Peste Negra e a divisão da Igreja Católica conhecida como Grande Cisma1, quando havia simultaneamente dois ou três papas rivais. Em relação à morte, durante a Idade Média o objetivo da Igreja era controlar os rituais envolvendo a morte, visando também centralizar do poder papal. Havia também a manipulação de quem deveria ou não ser considerado santo. Daí surge os processos de canonização e também os inquéritos para confirmar a suficiência ou não dos milagres de um candidato, sua fama sanctitatis, entre outras questões (BOENAVIDES, 2017). Boenavides (2017, p.5) argumenta que: No século XIII essas questões referentes aos mortos estão, em grande medida, mudadas. Muito disso por causa de um duplo movimento: a instituição eclesiástica investiu em um maior controle das relações entre os vivos e os mortos e as práticas envolvendo essa relação, algumas delas tradicionalmente pertencentes ao meio clerical e monástico, se estenderam ao meio urbano e leigo. A morte torna-se, nas palavras do autor, “clericalizada” (BOENAVIDES, 2017, p.5). A Igreja, uma vez tão respeitadas pela população em geral, teve seu poder reduzido quando alguns de seus sacerdotes se recusaram a ministrar aos moribundos durante a Peste Negra e provocaram ressentimento quando obteve lucros enormes em legados de vítimas de peste. No final da Idade Média, aos poucos a ciência começou a estudar a anatomia humana e a realizar análises e dissecações, o que era proibido pela Igreja. Neste período da história, começa a existir a preocupação com o cadáver e surgem as primeiras identificações lapidares, demonstrando o desejo de individualizar a sepultura para que permanecesse a memória corpórea e uma lembrança física. Os defuntos passam a ser reconhecidos e homenageados e não mais eram escondidos em mortalhas e esquifes (SCHIMITT, 2010). 1 Entre os séculos IX e XI as chamadas heresias medievais se disseminam cada vez mais e com mais força pela Europa. Um dos fatores influentes nesse crescimento foi o grande cisma ou cisma grego (1054), episódio no qual a Igreja oriental, sediada em Constantinopla, se apartou da Igreja ocidental de Roma. Esse acontecimento impactou como uma desunião entre os cristãos. Nesse contexto, a expansão econômica da Europa do século XI ao XIII, juntamente com reunião de mercadores e de classes pobres organizadas nas cidades, proporcionou o surgimento de movimentos populares que deram início a muitas heresias. Esses movimentos acabaram por incomodar profundamente a Igreja e o poder civil, intimamente ligados e que representavam o poder dominante da época. ―A heresia nem sempre nasce da dúvida intelectual, como ocorreu nos séculos anteriores, ela também surge das condições sociais, econômicas e políticas; da oposição das classes dominantes (DENOVAC, 2014). A partir do século XII, as sepulturas, anônimas desde o século V, passaram a ser novamente identificadas por inscrições, efígies e retratos a partir do século XII, revelando a preocupação da época: era importante preservar a identidade mesmo após a morte. A icnografia deste período passa a representar as novas inquietações do homem na descoberta do seu destino (ARIÈS, 2014). 3 A FILOSOFIA ESCOLÁSTICA No século XI, a produção literária filosófica, o desenvolvimento para a educação, reflexão, análise e elaboração escrita, torna-se possível devido à difusão e consolidação das escolas e catedrais dedicadas à formação do clero e incluindo em seu currículo o estudo dos Padres da Igreja, de filósofos e teólogos, principalmente santo Agostinho, bem como de gramática e de retórica. Em 1070 a ‘reforma gregoriana’, decretada pelo Papa Gregório VII, estabeleceu que cada abadia e catedral tivesse uma escola onde se ensinavam os elementos básicos da cultura da época, o trivium, ou três vias, consistindo de uma introdução à gramática, lógica e retórica, e o quadrivium, ou quatro vias, composto de música, geometria, aritmética e física (MARCONDES, 2016). A escolástica era um tipo de vida intelectual e educativa que predominou entre os séculos XI e XV, contribuindo para o estabelecimento das universidades. Produziu um acervo literário extensivo. Tinha como premissa justificar a fé a partir da razão, revigorando a religiosidade exaltando a Igreja através dos argumentos intelectuais. Observa-se que em algumas sociedades ocidentais a cultura geral e mesmo popular é advinda das produções dos grupos considerados intelectualizados. Pode-se apropriar-se dessa compreensão e atentar para o fato de que a essa época os escolásticos possuíam uma bagagem intelectual considerável e eram, enquanto membros da Igreja, pedagogos e doutrinários (BASTEZINI, 2019). Além de atuarem como escritores e copiadores de obras, literárias e filosóficas, influenciadas pelos escritos bíblicos e greco-romanos. Hubert afirma que "O objetivo da escolástica era apoiar a fé a razão, revigorar a vida religiosa e a igreja pelo desenvolvimento intelectual." (HUBERT, 1976, p. 119). A Filosofia Escolástica consistia em harmonizar as doutrinas ortodoxas da igreja em argumentações não ortodoxas e isso se dava pela necessidade de se fundamentar as crenças na razão. Os interesses principais da época visavam as grandes doutrinas da Igreja referentes à remissão dos pecados, à predestinação, à Trindade ao livre arbítrio e à doutrina da eucarística. Podemos perceber que os dogmas que faziam parte do cotidiano medieval eram como as regras que o capitalismo dita a condição social dos indivíduos hoje. Com a razão alimentando a religiosidade o ensino tornava-se o mediador cultural e social oferecendo aulas nos mosteiros e cátedras a crianças e adolescentes de famílias bem sucedidas, e até mesmo havia exceções de aulas a domicilio. Para as crianças pobres os mosteiros eram uma saída para se ter moradia e alimentação. Os jovens pensionistas nem sempre se tornam monges. Os conventos e confrarias também podem manter escolas, assim como os hospitais e os orfanatos. O saber escolástico dinamizou de um certo modo a visão da Igreja em relação ao seu tempo. Orientou e desenvolveu um novo olhar sobre os preceitos cristãos revitalizando os dogmas católicos de então. Na nossa sociedade há influencias que se perpetuavam no âmbito do chamado ensino tradicional. A título de exemplo vale lembrar que os monges escolásticos ensinavam sobre um púlpito representando uma simbologia de superioridade. A Escolástica, enquanto instrumento de ensino filosófico e literário influencioua sociedade medieval em seu universo mental, social e cultural por trazer à torna uma renovação dos dogmas católicos unindo a fé, a razão conseguindo enaltecer o catolicismo através de sua doutrina cristã e orientação dos pensadores antigos, conseguiu arregimentar mais ainda seu poder através do ensinar e rezar os bons costumes. 4 APROXIMAÇÕES ENTRE MÉTODOS DE ENSINO DAS DIDÁTICA NAS UNIVERSIDADES MEDIEVAIS E NAS ATUAIS O surgimento das primeiras universidades, na virada dos séculos XII e XIII, é um momento essencial da história cultural ocidental. Durante o século XII, os centros escolares se multiplicaram em várias grandes cidades europeias: professores e alunos reuniam-se em empresas com regras muito específicas. No início do século XIII, as universidades eram oficialmente reconhecidas e incentivadas pelo papado, que lhes concedia proteção, privilégios e autonomia. O termo "universitas" surge no Ocidente para designar o grupo formado por professores e seus alunos. As universidades mais antigas foram criadas mais ou menos simultaneamente, por volta de 1200, em locais já ativos no final do século XII: Bolonha, Paris, Oxford, Montpellier. Essas quatro instituições permaneceram até o final da Idade Média e, bem depois, as mais prestigiosas universidades ocidentais. A partir de 1200, o rei Philippe Auguste concedeu privilégios legais aos mestres e alunos parisienses. Em agosto de 1215, Robert de Courson, cardeal legado do papa, concede aos professores e “alunos” (termo usado para designar estudantes) de Paris, uma primeira carta que fixa a organização dos estudos. Os estatutos de 1215 reconhecem a nova instituição universitária: a sua autonomia é garantida pelo papado nos seus aspectos essenciais: acesso à função de professor, livre organização do ensino e dos exames, privilégios judiciais. Em 1231, uma bula do Papa Gregório IX decretou que os mestres e alunos parisienses estavam doravante sob sua proteção. A universidade moderna, que surgiu na Europa, especificamente Alemanha no início século XIX, tendo como objetivo produzir conhecimento científico e cultura leiga, como também preparar uma elite de profissionais. Esta universidade restringiu a produção de conhecimentos à ciência pura e também à alta cultura. Com o avanço científico da sociedade, os profissionais formados nestas universidades foram trabalhar na indústria, na agricultura e no transporte e com seus conhecimentos revolucionaram os modos de produção (PEREIRA, 2009). A universidade é uma instituição social, que se destina à qualificação profissional e promoção do desenvolvimento político, econômico, social e cultural (COLOSSI et al, 2001). Na perspectiva de Silva (2001), a universidade pública exerce papel preponderante na apropriação da cultura, pois “a universidade pública é a instituição em que a cultura pode ser considerada sem as regras do mercado e sem os critérios de utilidade e oportunidade socialmente introjetados a partir da racionalidade midiática”. Silva (2001, p.12) defende a ideia que: A universidade como instituição pública pode assumir a função de garantir o efetivo caráter público de que em princípio se revestem os bens de cultura historicamente legados ao presente, à medida em que estes não se apresentem como produtos que as organizações comerciais de ensino possam vender no mercado. O ensino superior desde a sua origem busca transmitir e disseminar conhecimento, que atualmente ocupa lugar central nos processos que configuram a sociedade contemporânea. Dessa forma, as instituições de educação superior, apresentam papel na sociedade contemporânea. Por esta razão as relações entre sociedade e educação superior são importante tema de debates, partindo do princípio que a universidade deve assumir compromisso processos sociais, econômicos e culturais (BERNHEIM; CHAUÍ, 2008). Neste sentido, Bernheim e Chauí (2008, p.14) assinalam que: A educação superior é um fenômeno de alta complexidade, cuja análise exige instrumentos que superem as abordagens puramente economicistas ou parciais, e respeitem a necessidade de manter o equilíbrio entre as necessidades do setor produtivo e da economia, as da sociedade como um todo, e as não menos importantes necessidades do indivíduo como ser humano. Tudo considerado dentro de um contexto particular, histórico, social e cultural. A partir da realização da Conferência Mundial sobre Educação Superior, em Paris, em 1998, foi constatado que no mundo todo a educação superior está passando por um processo de transformação universitária. Esta Conferência revelou que o debate internacional deve priorizar a preocupação com a qualidade do ensino acentuando a organização dos processos de avaliação e acreditação. Além disto, também há preocupação com aperfeiçoamentos do gerenciamento e administração, com a necessidade da introdução as novas tecnologias de informação e comunicação (BERNHEIM; CHAUÍ, 2008). Em relação a utilização do método escolástico nas universidades medievais, e trata-se de um procedimento pedagógico da universidade, que é a principal instituição da sociedade medieval, organizada como um sindicato de professores e alunos, com regras muito claras. Nesta instituição professores e discentes definiam os textos para leitura e comentários. Ele também identifica os textos proibidos. Textos filosóficos e teológicos exigem preparação do leitor, um domínio das técnicas de aprendizagem e superação de dificuldades. Antes de lidar com tais procedimentos, temos que explicar a origem do método Escolástico e o papel da autoridade a que é essencialmente devido. De acordo com Oliveira (2013, p.6): A Escolástica é uma criação medieval, que surgiu no interior das escolas, no seio das relações medievais. É filha dos conventos, das catedrais e, mais tarde, das Universidades medievais. Trata-se, portanto, de algo novo. Mais do que isso, ela responderia às questões humanas de sua época, revelando, assim, um impulso vital que passa despercebido aos estudiosos que julgam que a Escolástica nada teria criado. O método escolástico começou na Idade Média latina nos séculos XII e XIII e foi muito desenvolvido nas práticas pedagógicas nas universidades. Não se pode referir ao método de aquisição de conhecimento antes desse período. Pode ser denominado ideal cultural, como aquele concebido por Agostinho quando ele organizou, com grande profundidade, os elementos da cultura milenar. Sua Doutrina Cristã fornece um exemplo de tal formação cultural cristã ao defender a apropriação cultural dos filósofos antigos em benefício dos cristãos No entanto, é Boécio, um filósofo romano, que encaminha as origens da Escolástica e sua influência nos teólogos da Idade Média Ele fornece um modelo de exposição filosófica compreendendo temas, como a predição divina, a relação entre razão e fé, divisão entre filosofia especulativa e filosofia prática. Isso dá origem a uma discussão calorosa sobre o estatuto da lógica, se é uma arte ou uma ciência, ou se pode ser considerada parte da filosofia ou apenas uma ferramenta ao seu serviço (OLIVEIRA, 2007). Estes temas são relevantes para a filosofia medieval de século XII e XIII, englobando a teologia de São Thomaz de Aquino. O objetivo da Escolástica era trazer a razão para apoiar a fé; fortalecer a vida religiosa e a igreja pelo desenvolvimento do poder intelectual. Buscava silenciar todas as dúvidas e questionamentos por meio da argumentação. A fé ainda era considerada superior à razão. As doutrinas da Igreja há muito foram formuladas; elas agora deveriam ser analisadas, definidas, sistematizadas (OLIVEIRA, 2013). Os objetivos educacionais da Escolástica foram: 1). Desenvolver o poder de disputa; 2) Sistematizar o conhecimento; para dar o domínio individual deste sistema de conhecimento. O treinamento escolar objetivou desenvolver o poder deformular crenças em um sistema lógico e o poder de apresentar e defender tais declarações de crenças contra todos os argumentos que possam ser apresentados contra elas. O objetivo da educação escolar era sistematizar o conhecimento e, assim, dar- lhe forma científica. Mas, para a mente escolástica, o conhecimento era principalmente de caráter teológico e filosófico. A forma científica valorizada foi a da lógica dedutiva. O terceiro aspecto do propósito educacional da Escolástica era dar ao indivíduo o domínio desse conhecimento, agora reduzido a proposições e silogismos, todos sistematizados em um todo lógico. A escolástica foi a redução completa do pensamento religioso a uma forma lógica. Uma vez que esta organização foi fornecida inteiramente pelos escritos lógicos de Aristóteles, a Escolástica é frequentemente definida como a união das crenças cristãs e da lógica aristotélica. Na Escolástica, os interesses religiosos eram supremos (OLIVEIRA, 2013). Cabia aos escolásticos sistematizar o pensamento escolar e reduzi-lo à forma lógica apropriada. Embora grande ênfase fosse dada à necessidade de apoiar pela razão as crenças da Igreja, certo conhecimento fragmentário dos problemas filosóficos fundamentais discutidos por Platão e Aristóteles tornou-se predominante. Em seu estudo, Teixeira (2016) ressalta que existe uma correlação entre os mestres que atuavam nas universidades medievais e Paulo Freire. Segundo este autor, pois, ainda que vivessem em tempos diferentes, eles concretizaram reformulações importantes no ensino e em seus métodos, revolucionando o método de ensinar visando a formação integral do homem. Sobre o legado das universidades medievais, Oliveira (2013, p.6) relata que: O importante nesse processo de materialização de suas ideias é que elas foram tão reais e corresponderam, significativamente, aos interesses dos homens e que muitas prevalecem ainda hoje. Vivemos em e vivenciamos instituições cuja existência data de mais de oito séculos, como a universidade. [...] as instituições são criadas para responder necessidades de uma determinada época [...] assim, se elas sobrevivem até os nossos dias é porque correspondem ainda a determinadas exigências da vida humana. Dito de outra maneira, ela ainda possui vitalidade. Em sua pesquisa, Oliveira (2017) lembra que as universidades foram uma criação da Idade Média e que permanecem até os dias atuais. Existe uma aproximação entre os conhecimentos produzidos na Idade Média com a atualidade, pois, naquela época os professores ensinavam para a produção do conhecimento, como acontece nos dias atuais. Outro fator que permaneceu é o lirismo e o cultivo do romantismo entre o cavaleiro e a donzela indefesa, por meio dos trovadores medievais, que foi demonstrado nas poesias dos trovadores medievais. Oliveira (2007) destaca em seu estudo os teóricos do medievo eram considerados apenas representes do pensamento da igreja, contudo, esta percepção vem sofrendo transformações e atualmente busca-se uma aproximação com o conhecimento produzido nas universidades medievais por meio das traduções. A autora enfatiza que esta aproximação contribui para trazer paras universidades atuais o legado das instituições séculos XIII e XIV. CONCLUSÃO O objetivo deste artigo é demonstrar a relevância da educação escolástica presentes no ensino universitário na Idade Média e examinar a importância de resgatar este legado histórico. Constatou-se que as universidades surgiram na Idade Média entre os séculos XII e XIII. A partir disto, passaram a ser oficialmente reconhecidas e incentivadas pelo papado, que lhes concedia proteção, privilégios e autonomia. Foi verificado que objetivo da Escolástica era trazer a razão para apoiar a fé; fortalecer a vida religiosa e a igreja pelo desenvolvimento do poder intelectual. Buscava silenciar todas as dúvidas e questionamentos por meio da argumentação. A fé ainda era considerada superior à razão. As doutrinas da Igreja há muito foram formuladas; eles agora deveriam ser analisados, definidos, sistematizados. A partir dos dados extraídos da literatura constatou-se mesmo que em tempos históricos diferentes, pode-se ver que existe uma relação entre os mestres que atuavam nas universidades medievais com educadores das universidades nos tempos atuais, , ainda que vivessem em tempos diferentes, eles concretizaram reformulações importantes no ensino e em seus métodos, revolucionando o método de ensinar visando a formação integral do homem. A realização do estudo permitiu dar a devida relevância para AS Universidades Medievais, sendo um contributo para a história das Ciências, abrindo caminhos para a expansão do ensino superior em todo o mundo. A estrutura e o pensamento das Universidades Medievais, que apresentou um movimento cultural e filosófico, apresentam implicações para as universidades na sociedade contexto atuais, pois, a formação atual, dentro do mundo globalizado, deixa- se de lado a formação humanística, incluindo a arte, como lógica gramática e retórica. Nas universidades da Idade Média, havia uma rede de formação favorecendo a criação de uma identidade intelectual, que era um local de pesquisa, que existe até os dias atuais. REFERÊNCIAS ARIÈS, Philippe. O homem diante da morte. Tradução de Luiza Ribeiro. São Paulo: Editora Unesp, 2014. BAGNOREGIO, Boaventura de.Escritos Filosóficos Teológicos. Porto Alegre: Edipucrs, 1999. (Coleção Pensamento Franciscano, 01). BASTEZINI, Gustavo. O jesuíta que criticou o Rei: Juan de Mariana e o tratado De Monetae Mutatione (1609) na mudança do pensamento econômico da Igreja Católica. Trabalho de Conclusão.72 F.Universidade Federal de Santa Catarina como requisito Florianópolis, 2019. BEAUNE, C. Escola, a escada para a ascensão social. História Viva, SãoPaulo: Duetto Editorial, n. 5, p. 48-51, Papel. MAR/2004 BERNHEIM, Carlos Tünnermann; CHAUÍ, Marilena de Souza. Desafios da universidade na sociedade do conhecimento: cinco anos depois da conferência mundial sobre educação superior. Brasília: UNESCO, 2008. BOENAVIDES, Dionathas Moreno. O martírio no século XIII: uma temática mendicante? Brathair 17 (1), 2017. CAPUTO, Rodrigo Feliciano. O homem e suas representações sobre a morte e o morrer: um percurso histórico. Saber Acadêmico – nº 06 - Dez. 2008. CEZAR, C.R. O Conhecimento Abstrativo em Duns Escoto. Porto Alegre: Edipucrs, 1996. (Coleção Filosofia, 42). COLOSSI, Nelson et al. Mudanças no contexto do ensino superior no Brasil: uma tendência ao ensino colaborativo Abenge, 2001. Disponível em : HTTP://WWW.ABENGE.ORG.BR/COBENGE/ARQUIVOS/18/TRABALHOS/Cpi00 8.PDF.Acesso em 12 set.2020. COSTA, Marcos Roberto Nunes. Santo Agostinho: um Gênio Intelectual a Serviço sa Fé. Porto Alegre: Edipucrs, 1999. (Coleção Filosofia, 91). Ghisalberti, Alessandro. As Raízes Medievais Do Pensamento Moderno. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. (Coleção Filosofia, 131). DENOVAC, Adriano. A natureza é a igreja de satã: o medievo que nos olha por entre o filme anticristo de Lars Von Trier (2009). Trabalho de Conclusão de Curso. 56 fls. Universidade Federal De Santa Catarina, Florianópolis, 2014. HUBERT, René. História da Pedagogia. 3 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. http://www.abenge.org.br/cobenge/arquivos/18/trabalhos/CPI008.pdf.ACESSO http://www.abenge.org.br/cobenge/arquivos/18/trabalhos/CPI008.pdf.ACESSO MARCONDES, Danilo. O desenvolvimento da escolástica: Uma iniciação à filosofia. São Paulo: Zahar, 2016. OLIVEIRA, T. A Escolástica como Filosofia e Método de Ensino na Universidade Medieval: uma reflexão sobre o Mestre Tomás de Aquino. Notandum. maio-ago CEMOrOC-Feusp / IJI-Universidade do Porto, 2013. _________.Origem e memória das universidades medievais a preservação deuma instituição educacional. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 23, nº 37: p.113-129, Jan/Jun 2007. PEREIRA, Elisabete Monteiro de Aguiar. A universidade da modernidade nos tempos atuais. Avaliação (Campinas), Sorocaba , v. 14, n. 1, p. 29-52, Mar. 2009 . REALE, G.; ANTISERI, D.História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média eale,; São Paulo: PAULUS, 1990. SCHIMITT, Juliana Luiza de Melo. Reprecurssões do macabro no romantismo brasileiro. Tese. 244 fls. Universidade de São Paulo. São Paulo- SP, 2010. SILVA, Franklin Leopoldo e. Reflexões sobre o conceito e a função da universidade pública. Estud. av., São Paulo , v. 15, n. 42, p. 295-304, Aug. 2001 TEIXEIRA, C.M.O método de ensino na universidade medieval e na atualidade, uma proposta de aproximações sem oposições: os casos Pedro Abelardo, Tomás de Aquino e Paulo Freire. Monografia. 61 fls. Universidade Federal Fluminense. Niterói-RJ, 2016.
Compartilhar