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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/284532954 Manejo e conservação do solo e da água - guia de estudos Technical Report · January 2015 DOI: 10.13140/RG.2.1.3609.2241 CITATIONS 5 READS 13,757 4 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Surface complexation modeling View project Saprolite erosion and the fate of heavy metals: pioneering UAV-SfM as a community mapping tool. View project Marx Leandro Naves Silva Universidade Federal de Lavras (UFLA) 247 PUBLICATIONS 3,491 CITATIONS SEE PROFILE Diego Antonio França de Freitas Universidade Federal de Viçosa (UFV) 46 PUBLICATIONS 313 CITATIONS SEE PROFILE Bernardo M Cândido Instituto Agronômico de Campinas 35 PUBLICATIONS 54 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Bernardo M Cândido on 24 November 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/284532954_Manejo_e_conservacao_do_solo_e_da_agua_-_guia_de_estudos?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/284532954_Manejo_e_conservacao_do_solo_e_da_agua_-_guia_de_estudos?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Surface-complexation-modeling-2?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Saprolite-erosion-and-the-fate-of-heavy-metals-pioneering-UAV-SfM-as-a-community-mapping-tool?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marx-Silva-3?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marx-Silva-3?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Federal_de_Lavras_UFLA?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marx-Silva-3?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Diego-Freitas-2?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Diego-Freitas-2?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-de-Vicosa-UFV?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Diego-Freitas-2?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bernardo-Candido?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bernardo-Candido?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Instituto_Agronomico_de_Campinas?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bernardo-Candido?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bernardo-Candido?enrichId=rgreq-ee7578fd3993dfc3b05d65094aba0835-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NDUzMjk1NDtBUzoyOTkzMzg0NTE0Mzk2MTdAMTQ0ODM3OTI1NjQ5MA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Universidade Federal de Lavras – UFLA Centro de Educação a Distância – CEAD MANEJO E CONSERVAÇÃO DE SOLO E DA ÁGUA GUIA DE ESTUDOS Marx Leandro Naves Silva Diego Antônio França de Freitas Bernardo Moreira Cândido Anna Hoffmann Oliveira Lavras/MG 2015 CEAD 25.indd 1 15/10/2015 10:05:41 Ficha catalográfica elaborada pela Coordenadoria de Processos Técnicos da Biblioteca Universitária da UFLA Manejo e conservação do solo e da água : guia de estudos / Marx Leandro Naves Silva ... [et al.]. – Lavras : UFLA, 2015. 74 p. : il. Uma publicação do Centro de Educação a Distância da Universidade Federal de Lavras. Bibliografia. 1. Erosão hídrica. 2. Tecnologia conservacionista. 3. Qualidade do solo. 4. Conservação de estradas. 5. Terraceamento. I. Silva, Marx Leandro Naves. II. Universidade Federal de Lavras. III. Título. CDD – 631.45 CEAD 25.indd 2 15/10/2015 10:05:41 Governo Federal Presidente da República: Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação: Renato Janine Ribeiro Universidade Federal de Lavras Reitor: José Roberto Soares Scolforo Vice-Reitora: Édila Vilela Resende von Pinho Pró-Reitor de Pós-Graduação: Alcides Moino Júnior Centro de Educação a Distância Coordenador Geral: Ronei Ximenes Martins Curso de Extensão Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável Coordenadores do Curso: Daniel Carvalho de Rezende, Marcelo Márcio Romaniello e Luiz Cláudio Paterno Silveira CEAD 25.indd 3 15/10/2015 10:05:41 CEAD 25.indd 4 15/10/2015 10:05:41 Manejo e Conservação de Solo e da Água 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................7 2. SUSTENTABILIDADE DO USO DOS RECURSOS SOLO E ÁGUA .................8 2.1. Manejo de solos em agroecossistemas .......................................................8 2.2. Conceitos de gestão e manejo sustentável em agroecossistemas .............8 3. ATRIBUTOS FÍSICOS .......................................................................................10 3.1. Textura ........................................................................................................10 3.2. Estrutura do solo ........................................................................................11 3.3. Consistência do Solo .................................................................................12 3.4. Retenção e movimento de água no solo ....................................................13 3.5. Compactação e descompactação do solo .................................................16 3.5.1. Compactação do solo .........................................................................163.5.2. Descompactação do solo ....................................................................17 4. EROSÃO DO SOLO ..........................................................................................20 4.1. Erosão hídrica ...........................................................................................20 4.1.1. Erosão pelo impacto da gota de chuva ...............................................21 4.1.2. Erosão laminar ....................................................................................21 4.1.3. Erosão em sulcos ...............................................................................22 4.1.4. Erosão por deslocamento de massa ..................................................22 4.1.5. Erosão em queda ................................................................................23 4.1.6. Erosão em pedestal ............................................................................23 4.1.7. Voçorocas ...........................................................................................23 4.2. Erosão pelo vento (Eólica) .........................................................................24 4.2.1. Controle da erosão eólica ...................................................................25 4.3. Taxa de formação e tolerância de perdas de solo por erosão hídrica .......26 4.4. Erosão hídrica e impactos ambientais .......................................................27 5. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS, SISTEMAS DE PREPARO E MANEJO DO SOLO ..............................................................................................28 5.1. Práticas conservacionistas .........................................................................28 5.1.1. Práticas Vegetativas ...........................................................................28 5.1.1.1. Rotação de culturas .....................................................................28 5.1.1.2. Culturas em faixas de rotação .....................................................29 5.1.1.3. Culturas em faixas de retenção ...................................................29 5.1.1.4. Culturas de proteção e adubação verde ......................................30 5.1.2. Práticas mecânicas .............................................................................31 5.1.2.1. Cultivo em contorno ou plantio em nível ......................................31 5.1.2.2. Terraceamento .............................................................................32 5.1.2.3. Canais escoadouros, paralelos e divergentes .............................36 5.1.2.4. Estabilização de voçorocas .........................................................36 5.1.3. Práticas edáficas .................................................................................37 CEAD 25.indd 5 15/10/2015 10:05:41 Manejo e Conservação de Solo e da Água 6 5.1.3.1. Ajustamento da capacidade de uso .............................................38 5.1.3.2. Controle de queimadas ................................................................38 5.1.3.3. Adubação Verde ..........................................................................39 5.1.3.4. Adubação orgânica ......................................................................40 5.1.3.5. Adubação química .......................................................................42 5.1.3.6. Calagem ......................................................................................42 5.1.3.7. Fosfatagem ..................................................................................43 5.1.3.8. Gessagem ...................................................................................44 5.2. Sistemas de preparo e manejo do solo convencional e conservacionista .44 5.2.1. Cultivo mínimo ....................................................................................45 5.2.2. Plantio direto .......................................................................................46 5.2.3. Integração dos sistemas lavoura, floresta e pecuária ........................47 6. CONSERVAÇÃO DO SOLO EM ESTRADAS E CARREADORES E BACIAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA ......................................................................49 6.1. Conservação do solo em estradas e carreadores .....................................49 6.1.1. Causas da erosão hídrica em estradas ..............................................49 6.1.2. Controle da erosão em estradas não pavimentadas ..........................51 6.1.3. Carreadores e caminhos .....................................................................51 6.1.4. Planejamento ......................................................................................52 6.2. Bacias de captação de água ......................................................................53 6.2.1. Declividade da estrada .......................................................................53 6.2.2. Intensidade máxima de precipitação ..................................................53 6.2.3. Erodibilidade do solo ...........................................................................54 6.2.4. Cálculo de espaçamento entre bacias ................................................54 6.2.5. Cálculo do volume de água captado nos trechos de estradas ...........55 6.2.6. Cálculo do volume da bacia de captação de água .............................55 6.2.7. Cálculo da profundidade e do raio da bacia de captação de água .....56 6.2.8. Locação e construção das bacias de captação de água ....................56 6.3. Recomendações gerais .............................................................................57 6.3.1. Leito e laterais das estradas ...............................................................57 6.3.2. Taludes de estradas ............................................................................57 6.3.3. Manutenção das estradas e bacias de captação de água ..................58 6.3.4. Dados para suporte orçamentário ......................................................58 7. INDICADORES DA QUALIDADE DO SOLO EM SISTEMAS DE MANEJO .....59 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................63 CEAD 25.indd 6 15/10/2015 10:05:41 Manejo e Conservação de Solo e da Água 7 1. INTRODUÇÃO Ao observarmos a paisagem da maioria dos ecossistemas terrestres nosso olhar é geralmente tomado pela vegetação exuberante, animais interessantes, rios e lagos ou picos rochosos de extraordinária beleza. Quando se fala em conserva- ção ambiental logo pensamos em animais, plantas e água. Raramente nos lem- bramos que essas plantas e animais tiram seu sustento de outro material e que a qualidade e a quantidade da água também dependem desse mesmo material, esse material é o solo. Por estar geralmente coberto por vegetação, ele tende a passar despercebido da maioria das pessoas. No entanto, o solo influencia diretamente no homem, animais, plantas e água. Mesmo em ambientes urbanos, a influência do solo é sentida ao se realizarem construções, drenos para as águas pluviais e depósitos de lixo. O solo influencia até mesmo a vida nos oceanos, pois essa depende dos nu- trientes minerais trazidos pelas águas dos rios. Não é por acaso que a maior parte dos animais marinhos está concentrada ao longo dos continentes, sendo a parte central dos oceanos verdadeiros desertos. É justo, portanto, como já feito, consi- derar o solo como o quarto reino da natureza, de igual importância aos minerais, plantas e animais. Por ocupar uma posição central na maioria dos ecossistemas terrestres, ao classificarmos um determinado solo estamos também caracterizando um determi- nado ambiente, um ecossistema específico e completo. Ao estudarmos as relações entre diferentes solos numa paisagem, estamos também caracterizando as rela- ções entre os diferentes ambientes existentes naquele dado local. O objetivo com este texto é levar ao leitor noções de conservação do solo e da água. Vamos abordar temas como a sustentabilidade do usodos recursos solo e água. Abordaremos tópicos básicos de física do solo, notadamente os aspectos de retenção e movimento da água no solo, compactação e descompactação (mecâni- ca e com cultivos) dos solos. Abordaremos também os conceitos e tipos de erosão hídrica. Abordaremos os sistemas de preparo, manejo e práticas conservacionistas do solo e da água; terraços e bacias de captação de água de chuva; conserva- ção de estradas e carreadores. Discutiremos os atributos indicadores da qualidade do solo no contexto da sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Faremos também uma abordagem das técnicas de integração lavoura, pecuária e floresta visando ao menor impacto ambiental e melhor retorno econômico. CEAD 25.indd 7 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 8 2. SUSTENTABILIDADE DO USO DOS RECUR- SOS SOLO E ÁGUA 2.1. Manejo de solos em agroecossistemas O manejo de agroecossitemas, considerando a preservação ambiental, apa- rece no início deste século como a emergência de um processo de mudança de paradigma, a fim de se prevenir a degradação dos recursos naturais. Tal ação exige maior capacitação por parte de toda a sociedade, de modo urgente e estratégico. Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável representa uma formulação míni- ma proposta pelas Nações Unidas, como um estilo de desenvolvimento capaz de garantir as necessidades das atuais gerações sem comprometer as futuras, envol- vendo conceitos que têm sido bastante discutidos, englobando contribuições de vários setores da sociedade, sendo bastante relevante o estudo e aplicação desses conceitos em termos práticos e operacionais. O sistema solo é definido sob uma perspectiva ambiental como uma unidade ecológica funcional da superfície da terra, que inclui sedimentos e rochas perme- áveis e águas subterrâneas. O solo apresenta neste enfoque várias funções, tais como produção de biomassa; fibras e proteínas; proteção ambiental; filtragem e transformação; banco genético e fluxo gênico; suporte infraestrutural de superfícies rurais, urbanas, industriais e tráfego; depósito de resíduos; fonte de matéria-prima e ainda patrimônio cultural. Essas funções, quando mal manejadas, deixam o solo sujeito à degradação, que pode ou não apresentar caráter reversível. As consequências diretas da degra- dação é a redução da produtividade das culturas e aumento de problemas ambien- tais como erosão, assoreamento de cursos de água, falta de água e poluição do ecossistema. Em muitos casos desencadeiam reações que, em última análise, cul- minarão com empobrecimento, geração de fome e desemprego. A perda da susten- tabilidade do ecossistema pode provocar, entre outros efeitos, o êxodo rural, com o agravamento de problemas sociais no meio urbano. Desse modo, o uso sustentado do solo passa a ser uma questão de sobrevivência das populações. 2.2. Conceitos de gestão e manejo sustentável em agroecossistemas Gestão e manejo sustentável representam um conjunto de medidas e procedi- mentos que visam reduzir e controlar os impactos introduzidos ao ambiente, tornan- do simples o entendimento da estreita relação entre a prática e a sustentabilidade. Pela gestão e manejo sustentável busca-se qualidade de vida, o que “a priori” não CEAD 25.indd 8 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 9 poderia coexistir com condições de miséria e fome em uma população. A gestão e manejo ambiental são, portanto, um meio para que se aumente a qualidade de vida do ambiente, não sendo difícil de entender que, neste contexto, devem também ser satisfeitas as necessidades básicas de sobrevivência dos seres humanos. Uma série de conceitos de gestão e manejo sustentável tem sido desenvolvi- da, sendo que a ideia central está associada ao uso equilibrado dos recursos dos ecossistemas. A definição de indicadores da qualidade do solo constitui importante instrumento para avaliação da sustentabilidade do sistema como um todo. Esses indicadores, no entanto, devem ser compreendidos dentro de um contexto multidis- ciplinar, uma vez que, além dos aspectos físicos, químicos e biológicos, também estão inseridos os aspectos econômicos e sociais. A medida prática de execução do conceito de gestão e manejo sustentável deve considerar a série de normas propostas pela ISO 14.000, uma versão ambien- tal da ISO 9.000, que trata da gestão da qualidade através de normas destinadas a repercutir em todos os aspectos das atividades do setor agrícola. No caso em questão, relativas à conservação e qualidade do solo, relevantes para o manejo sustentável de agroecossistemas. Esses Sistemas de cultivos, que muitas vezes utilizam recursos naturais, como o solo e a água, devem adaptar-se às novas normas, aplicando princípios de gestão e manejo ambiental em consonância com o desenvolvimento sustentável. A tendência nos dias atuais é que sejam assegurados níveis de qualidade ambiental na exploração de recursos naturais e na extração de matérias-primas utilizadas nos produtos oferecidos aos consumidores. Isso pode representar forte agente de pressão sobre fornecedores, produtores e governos. Os países de regiões tropicais provavelmente enfrentarão as maiores difi- culdades para certificar seus produtos, visando à competitividade no mercado in- ternacional com a globalização da economia. Esses países estão vulneráveis ao protecionismo e restrições impostas por países desenvolvidos, por possuírem os ecossistemas mais preservados e com maior biodiversidade do mundo. Entre ou- tros, pode-se citar o uso desenfreado de defensivos e a ocupação dos grandes ecossistemas (biomas) com lavouras, que quando mal manejadas, contribuem para a poluição, a aceleração do processo erosivo e a redução da área de ecossistemas típicos, citando-se como exemplo, as veredas, o pantanal, o cerrado e a mata atlân- tica. Esse quadro aponta para a necessidade do país investir na gestão e manejo sustentável dos sistemas agrícolas para a garantia da certificação de seus produtos e serviços, de acordo com as normas vigentes internacionais, adquirindo condições que garantam a competitividade de produtos e serviços no mercado globalizado. CEAD 25.indd 9 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 10 3. ATRIBUTOS FÍSICOS Os atributos físicos dos solos são basicamente textura e estrutura, que depen- dem da composição química, mineralógica e microbiológica, que definem o movi- mento e a retenção de água e ar no solo e a consistência do solo. 3.1. Textura Refere-se à distribuição de partículas por tamanho que, misturadas em di- ferentes proporções, resulta em diferentes classes texturais (Figura 1). A textura, também chamada granulometria do solo, está relacionada à resistência dos mine- rais constituintes das rochas ao intemperismo. Minerais menos resistentes normal- mente são transformados em outros minerais de diferentes composições, conse- quentemente reduzindo em tamanho, passando a fazer parte de frações mais finas do solo. Já aqueles de maior resistência permanecem inalterados ou sofrem pouca alteração, ficando como parte dos constituintes mais grosseiros ou da fração areia do solo. Os fragmentos maiores do que dois milímetros são chamados de frag- mentos grosseiros, incluindo-se cascalho (2 a 20 mm), calhaus (20 a 200 mm) e matacões (> 200 mm). Partículas de tamanho entre 0,05 e 2 mm são classificadas como areia; as partículas da fração silte variam de 0,002 a 0,05 mm de diâmetro, e as partículas menores de 0,002 mm constituem a fração argila do solo (Ferreira, 2010). Solos de textura mais grosseira (arenosos) apresentam poros maiores e maior movimentação de água, o que pode causar a lixiviação (remoção) de nutrien- tes para além da zona radicular das plantas. Partículas de argila (principalmente os silicatos de alumínio) tendem a apresentar formato de placas, possibilitando o surgimento de estruturas que conferem menor permeabilidade. De maneira geral, solos de texturas mais finas (argilosos) apresentammenor permeabilidade, exce- tuando-se alguns latossolos (solos mais velhos) mais ricos em óxidos de ferro e alumínio, em que a disposição das partículas em agregados mais arredondados garante boa permeabilidade, apesar do elevado teor de argila. Solos siltosos tam- bém apresentam reduzida capacidade de infiltração de água e, neste caso, menor resistência à erosão e predisposição ao encrostamento superficial. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) através de instrução normativa nº 2, de 9 de outubro de 2008, estabelece critérios para uso da textura na liberação de financiamento agrícola, conforme Tabela 1. CEAD 25.indd 10 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 11 Figura 1 – Classes texturais de acordo com as proporções de argila, silte e areia dos solos. Tabela 1 – Classificação da textura conforme Instrução normativa do MAPA. Tipos de Solos Classes Critérios 1 Arenosa Argila > 10% até 15% Argila >15% então % Areia menos % Argila > 50% 2 Média Argila 15% até 35% % Areia menos % Argila < 50% 3 Argilosa Argila > 35% ---- 3.2. Estrutura do solo Refere-se ao arranjo das partículas em unidades maiores chamadas agre- gados. A união das partículas tem a participação de agentes cimentantes, princi- palmente compostos orgânicos que são produtos da decomposição de vegetais e outros resíduos orgânicos no solo e de exudatos dos organismos. Partículas de areia não se agregam facilmente, portanto, solos arenosos possuem estrutura fraca ou mesmo ausência de estrutura, ao passo que solos argilosos tendem a formar agregados mais estáveis. Os solos podem apresentar diferentes formas e tama- nhos de unidades estruturais (Figura 2), de acordo com a composição ou processo CEAD 25.indd 11 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 12 de formação a que foram submetidos. Solos bem estruturados possuem agregados ou torrões maiores que não se desfazem com as operações de preparo e são mais resistentes à ação de chuvas ou ventos. Maiores informações sobre a estrutura do solo podem ser consultadas em Ferreira (2010). Figura 2 – Tipos de unidades estruturais dos solos. 3.3. Consistência do Solo A facilidade de se preparar ou trabalhar o solo sem que este perca a estrutura (seja pulverizado ou compactado) é conhecida como friabilidade. Existem solos que, apesar de conterem água, podem oferecer resistência ao preparo. Esses solos, via de regra, são também pegajosos quando molhados ou duros, quando secos. Por outro lado, há solos que são mais facilmente trabalhados, sem que estejam duros, quando estão com baixos teores de água ou pegajosos, quando o teor de água é mais elevado. A friabilidade é, portanto, determinada pela estrutura e umidade do solo, sendo uma manifestação das forças de coesão (interação sólido - sólido) ou adesão (interação sólido - líquido). A Figura 3 ilustra a manifestação dessas forças em relação ao teor de água no solo. Solos arenosos são mais friáveis, relativa- mente aos solos argilosos. Exceção se faz aos latossolos ricos em óxidos de ferro e alumínio, cuja estrutura granular lhes confere maior friabilidade. Se os solos são CEAD 25.indd 12 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 13 trabalhados fora da faixa de umidade que lhes confere friabilidade, corre-se o risco de degradação da estrutura, pulverizando, se o solo estiver seco ou compactando, se o solo estiver com umidade suficiente para torná-lo relativamente mais plástico (faixa de umidade logo acima daquela que corresponde à de friabilidade). Na Fi- gura 3, para uma mesma força aplicada, o solo mais friável é aquele representado pela linha escura (SOLO 2). Nesse caso, a faixa de umidade ideal para preparo é mais ampla, relativamente àquele solo representado pela linha clara (SOLO 1). Fo rç a d e A tra çã o Coesão Adesão SOLO 2 SOLO 1 SECO ÚMIDO üüü MUITO üüü SATURADO Figura 3 – Relação entre conteúdo de água e forças de coesão e adesão no solo – consis- tência (Kohnke, 1968). 3.4. Retenção e movimento de água no solo A boa estruturação permite o movimento de água e ar pelo solo. O conteúdo de ar e de água depende da presença de espaço poroso. O ar no espaço poroso é indispensável para fornecer oxigênio para às raízes das plantas. Água, também indispensável para as plantas, ocupa o restante do espaço poroso do solo. A rela- ção entre o conteúdo de ar e água não é fixa. Após uma chuva pesada todo o es- paço poroso pode estar ocupado com água. Em alguns casos, o excesso de água não é drenado do solo e pode causar a morte das plantas não tolerantes à falta de CEAD 25.indd 13 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 14 oxigênio. Por outro lado, a falta de água causa o murchamento que também leva as plantas à morte. A baixa umidade do solo entre aquela condição que provoca murchamento e morte das plantas e o máximo de umidade que o solo consegue reter, depois de cessado o movimento gravitacional, é chamada capacidade de armazenamento de água. Maiores detalhes sobre água no solo e na planta podem ser consultados em Jong van lier (2010) e Libardi (2010). A infiltração de água no solo depende da porosidade. Poros de tamanho me- nor (microporos) são responsáveis pela retenção da água no solo, enquanto os poros maiores permitem a passagem da água para camadas mais profundas. Re- tenção de água representa a força que o solo (matriz sólida) faz atraindo moléculas de água (Figura 4). Quanto mais próximo da superfície da partícula, maior a força atrativa sobre as moléculas e água. Por outro lado, quanto mais distante as molé- culas de água estiverem da superfície das partículas, maior a influência da força da gravidade sobre as mesmas. Em outras palavras, para que a água seja retirada do solo há necessidade de força. O próprio peso da água (puxado para baixo pela atração gravitacional) constitui-se na principal força capaz de drenar o solo. Caso a força exercida pela matriz sólida seja menor do que o próprio peso da água, e caso não haja nenhuma camada de impedimento ao movimento da água, haverá drena- gem e, portanto, a água adicionada à superfície infiltrará no solo. O tamanho dos poros representa a proximidade com a matriz sólida. Microporos são aqueles com diâmetro menor do que 0,05 mm e macroporos são aqueles com diâmetro maior do que esse valor. A quantidade de enxurrada à superfície do solo depende diretamente da ca- pacidade de infiltração de água. Quando a intensidade da chuva excede a capaci- dade de infiltração do solo, haverá formação de enxurrada. A água sempre procura o caminho mais fácil para satisfazer a força da gravidade. A infiltração de água no solo e a geração de enxurrada por uma dada chuva são ilustradas na Figura 5. A capacidade de infiltração de água no solo é inicialmente mais elevada, quando o solo encontra-se seco, e diminui, à medida que o espaço poroso é ocupado. Com o decorrer do tempo, a velocidade de infiltração atinge um valor aproximadamente constante, que está relacionado à permeabilidade do solo; esse valor é tido como velocidade básica de infiltração de água no solo. O Departamento de Agricultu- ra dos Estados Unidos (USDA) propõe sete classes relativas de permeabilidade do solo, cujos limites, adaptados para o sistema métrico, são representados na Tabela 2. CEAD 25.indd 14 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 15 Figura 4 – Ilustração de macro e microporos do solo e sua influência na drenagem ou re- tenção de água. CEAD 25.indd 15 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 16 Figura 5 – Relação de dependência entre tempo e velocidade de infi ltração de água no solo (Adaptado de Hillel, 1970). Tabela 2 – Limites aproximados de permeabilidade para defi nição das classes de permea- bilidade dos solos (Adaptado de USDA, 1951). Classe Limites mm h-1 Lenta 1. Muito lenta < 1,25 2. Lenta 1,25 – 5,0 Moderada 3. Moderadamente lenta 5,0 – 25,0 4.Moderada 25,0 – 75,0 5. Moderadamente rápida 75,0 – 150,0 Rápida 6. Rápida 150,0 – 250,0 7. Muito rápida >250 3.5. Compactação e descompactação do solo 3.5.1. Compactação do solo A compactação de solo é um processo de perda da porosidade do solo, que pode ser gerado pelo manejo incorreto da lavoura e pelo uso intensivo de máquinas CEAD 25.indd 16 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 17 agrícolas. As características de solos compactados são: baixa taxa de infiltração de água, intensificação de enxurradas, raízes deformadas, degradação da estrutura e alta resistência do solo às operações de preparo. Em consequência sintomas de deficiência de água nas plantas são evidenciados mesmo em situações de curta estiagem. Constatada a existência de camada compactada indica-se abrir pequenas trincheiras (30 x 30 x 50 cm), visando detectar o limite inferior da camada através do aspecto morfológico da estrutura do solo, da forma e da distribuição do sistema radicular das plantas e/ou da resistência ao toque com instrumento pontiagudo. Normalmente, o limite inferior da camada compactada não ultrapassa 25 cm de profundidade, sendo que o limite superior é frequentemente detectado a partir de 5 a 7 cm da superfície. Maiores informações sobre compactação do solo pode ser consultado em Silva et al. (2010). 3.5.2. Descompactação do solo O solo compactado atrapalha o crescimento das plantas e o desenvolvimento das raízes. No Brasil Central, na região dos Chapadões, o processo é associado também ao monocultivo de culturas e problemas relacionados à qualidade do solo. A questão pode estar relacionada ao emprego incorreto do sistema plantio direto, possivelmente no manejo da rotação de culturas entre plantas de cobertura e a cul- tura comercial. Aliado ao monocultivo, os produtores vêm fazendo o plantio sem o preparo do solo, que é uma prática do plantio direto. Mas, na verdade, ele não está cumprindo com os preceitos do sistema, que inclui rotação de culturas e também a cobertura permanente do solo por plantas ou palha. Um sistema é considerado conservacionista quando o solo está permanentemente coberto em mais de 30%. A adoção correta do plantio direto seria uma das maneiras de reverter o pro- cesso da compactação do solo. Para isso, o produtor deve respeitar três impor- tantes premissas: o não revolvimento do solo, a rotação de culturas e a cobertura vegetal. As espécies vegetais utilizadas de cobertura com grande quantidade de massa, tanto na parte aérea quanto na parte radicular, torna o solo rico em carbono e, portanto, menos suscetível à compactação. Existem também técnicas mecânicas que podem ser utilizadas para reverter à compactação do solo. Podemos lançar mão de práticas, como a escarificação ou a subsolagem, mas a sua utilização de forma isolada não é duradoura e não tem efeito por várias safras. Se não houver a incorporação de matéria orgânica a descompactação não será duradoura, por isso recomenda-se, sobretudo a ado- ção de plantas com sistema radicular muito abundante (gramíneas) e ou pivotante (leguminosas). CEAD 25.indd 17 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 18 Para descompactar o solo indica-se usar implementos de escarificação con- tendo hastes com ponteiras estreitas (não superior a 8 cm de largura), reguladas para operar imediatamente abaixo da camada compactada. O espaçamento entre as hastes deve ser de 1,2 a 1,3 vezes a profundidade de trabalho. A descompac- tação deve ser realizada em condições de solo com baixa umidade. Os efeitos be- néficos dessa prática dependem do manejo adotado após a descompactação. Em sequência às operações de descompactação do solo é indicada a semeadura de culturas, que apresentem grande produção de massa vegetal em elevada densida- de de plantas e de sistema radicular abundante, caso contrário, tal prática mecâni- ca terá efeito de curta duração. Em geral, havendo intensa produção de biomassa em todas as safras e controle do tráfego de máquinas na lavoura, a escarificação do solo não necessitará ser repetida. A compactação é uma das principais causas de decréscimo da produtividade dos solos agrícolas. A escarificação mecânica tem sido sugerida para reduzir a compactação do solo em áreas sob sistema de plantio direto consolidada. Outra opção para aliviar a compactação é o uso de plantas de cobertura com sistema radicular pivotante e bem desenvolvido, como o nabo-forrageiro, com capacidade de crescer em camadas compactadas, formar bioporos estáveis e melhorar os atri- butos físicos do solo (Nicoloso et al., 2008). Estudos desenvolvidos por Nicoloso et al. (2008) avaliando a eficiência do método mecânico (escarificador) e do método biológico (nabo-forrageiro) de des- compactação do solo ou de ambos associados, em promover a melhoria dos atri- butos físicos de um Latossolo de textura muito argilosa e o rendimento de grãos da cultura da soja manejada sob plantio direto. Segundo os autores os tratamentos não afetaram significativamente a densidade do solo em nenhuma das camadas avaliadas, no entanto os tratamentos aveia-preta em semeadura direta e consórcio de nabo-forrageiro e aveia-preta em solo escarificado duplicaram os valores de macroporosidade do solo na média da camada 0–0,20 m, com efeitos mais pronun- ciados nas camadas mais superficiais do solo. Os tratamentos consórcio de nabo-forrageiro e aveia-preta em semeadura direta e consórcio de nabo-forrageiro e aveia-preta em solo escarificado reduziram a resistência do solo à penetração em relação ao tratamento aveia-preta em seme- adura direta, enquanto o tratamento aveia-preta em solo escarificado teve compor- tamento intermediário. Os tratamentos consórcio de nabo-forrageiro e aveia-preta em solo escarificado e consórcio de nabo-forrageiro e aveia-preta em solo escari- ficado aumentaram, em média, 46,6 % a lâmina de água infiltrada em relação aos tratamentos aveia-preta em semeadura direta e aveia-preta em solo escarificado. O maior rendimento de grãos de soja foi observado no tratamento consórcio de nabo-forrageiro e aveia-preta em solo escarificado (3,73 Mg ha-1), que não diferiu CEAD 25.indd 18 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 19 significativamente do consórcio de nabo-forrageiro e aveia-preta em semeadura direta (3,49 Mg ha-1). A escarificação mecânica do solo teve efeito temporário e não foram constata- das melhores condições físicas do solo após nove meses, com exceção do aumen- to da porosidade total e macroporosidade do solo na camada 0–0,05 m. Por outro lado, a escarificação biológica aumentou a macroporosidade do solo, diminuiu sua resistência à penetração e melhorou a infiltração de água. A escarificação mecâ- nica foi uma alternativa eficiente em melhorar as condições físicas do Latossolo textura muito argilosa quando associada à escarificação biológica, que preveniu a reconsolidação do solo. CEAD 25.indd 19 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 20 4. EROSÃO DO SOLO Sob condições naturais, a lenta perda de sedimentos pelo processo erosivo é responsável por esculpir a superfície sólida do planeta, tratando-se, portanto, de um processo natural que se desenvolve através dos séculos ou milênios. Esse fenômeno é chamado erosão geológica ou normal e constitui-se em agente de for- mação de paisagens. A paisagem é a expressão dos fatores de formação do solo (clima, material de origem, organismos e tempo). Em área de topografia plana, a erosão geológica é basicamente causada pelo vento, enquanto que em topografia mais movimenta- da a água, pelo impacto de gotas e arraste pela enxurrada, é a principal causa de formação da paisagem. Ao contrário da erosão geológica, a erosão acelerada é um fator de destruição de paisagens. Alguns autores sugerem que cerca de 20 cm de solo perdidos pela erosão perdemos de 200 a 2000 anos de trabalho da natureza. Erosão inclui a desagregação, transporte de materialde solo pela água ou vento e deposição. Desde o Grand Canyon (Rio Colorado nos Estados Unidos) ou as planícies do Rio Nilo (Egito), às pequenas voçorocas e sulcos das propriedades agrícolas e áreas urbanas, todas atestam a força da água e/ou do vento no proces- so de erosão. As águas ricas em sedimentos em suspensão durante as grandes chuvas mostram o solo sendo levado. A força da água pode transportar grandes quantidades de solo. No Brasil, o estado de São Paulo perde anualmente cerca de 130 milhões de toneladas de terra, o que representa 25% daquilo que perde o país como um todo. Algumas áreas erodidas chegam a perder toda a camada superficial e, em alguns casos, parte do subsolo, depreciando o valor da terra, não somente pelo fato de torná-la improdutiva, mas pelo elevado grau de dificuldade na recuperação e impossibilidade de reincorporação ao processo produtivo. A erosão representa um impacto irreversível quando resulta em perdas de solo mais rapidamente do que o processo de formação consegue repor. Práticas agrícolas de controle da erosão, como o cultivo em nível e terraceamento podem diminuir a erosão, como será dis- cutido posteriormente. 4.1. Erosão hídrica A energia das gotas de chuva, que promove o deslocamento de partículas do solo, é agente primário da erosão, particularmente em solos descobertos. As par- tículas podem ser lançadas a mais de 0,5 m de altura e 1,5 m de distância da sua CEAD 25.indd 20 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 21 posição original. A quantidade de energia imposta pelas gotas supera aquele da enxurrada, desconsiderando-se a turbulência da enxurrada. Dependendo da resis- tência do solo a erosão se manifesta de diferentes formas. 4.1.1. Erosão pelo impacto da gota de chuva Esta forma de erosão resulta do impacto da gota sobre a superfície do solo, conhecida também como salpicamento, e atua diretamente sobre agregados fracio- nando-os em partículas e agregados menores. Grande quantidade de sedimentos é atirada ao ar, chegando a promover perdas de 50 a 90 vezes maior do que as causadas pela enxurrada (Schwab et al., 1993). A relação entre erosão, momento da chuva e a energia é determinada pela massa das gotas, a distribuição de tama- nho, a forma, a velocidade e a direção das gotas. A relação entre intensidade de chuva e a energia pode ser expressa, de acordo com Wischmeier & Smith, (1958), por: E = 0,119 + 0,0873 log10I onde E: energia cinética em MJ (ha-mm)-1, I: intensidade da chuva mm h-1 Alguns fatores afetam a direção e a distância do salpicamento de sedimentos pelas gotas. Em terrenos declivosos, os sedimentos são lançados mais distantes no sentido do declive, comparativamente ao sentido oposto, não somente devido à distância percorrida, mas também pelo ângulo de impacto da gota com a super- fície. Velocidade de vento, cobertura vegetal e rugosidade da superfície do terreno também são fatores que afetam a relação gota e salpicamento de sedimentos. A cobertura vegetal é a forma mais eficiente de proteção contra essa forma de erosão hídrica. 4.1.2. Erosão laminar A erosão em lençol, superficial, laminar ou entre sulcos, caracteriza-se por desgastar uniformemente a superfície do solo em finas camadas, resultante do fluxo superficial da água. Estudos empregando técnicas de microfotografia indicam que essa forma de erosão raramente ocorre. Na verdade, ocorre a formação de pequenos sulcos. A constante troca de posição desses microscópicos sulcos dão a falsa impressão de que a erosão está desgastando uniformemente a superfície do terreno. A combinação de erosão por salpicamento e erosão laminar resulta na erosão entre sulcos. CEAD 25.indd 21 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 22 Essa forma de erosão é, muitas vezes, imperceptível em seu estágio inicial. Entretanto, em estágios avançados, o solo apresenta cores mais claras, a enxurra- da apresenta sedimentos em suspensão, há decréscimo no rendimento das colhei- tas e, finalmente, há o afloramento das raízes das plantas perenes. Essa forma de erosão pode chegar a atingir o horizonte C dos solos. Para efeito de classificação do grau de comprometimento do solo faz-se uma comparação do solo erodido com uma situação do mesmo solo em condições preservadas (sem a ocorrência da erosão) como, por exemplo, uma área de cultivo comparada a uma área de preser- vação adjacente. 4.1.3. Erosão em sulcos A erosão em sulcos, em canais ou em ravinas caracteriza-se pela presença de sulcos sinuosos que se localizam ao longo dos declives em consequência das cor- rentes de água (enxurrada) que escorrem sobre o terreno por ocasião das chuvas intensas (ou de chuvas cuja intensidade supera a capacidade de infiltração de água no solo). Muitas vezes, a erosão laminar evolui para a erosão em sulcos, embora nem sempre seja o início desta forma de erosão. Muitos fatores podem determinar o estabelecimento da erosão em sulcos. Deve-se, no entanto, salientar que a aração acompanhando o declive do terreno é um poderoso aliado da erosão em sulcos. Além de desgastar e empobrecer o solo, como qualquer outra forma de ero- são, a erosão em sulcos em estágio avançado representa um grave impedimento ao preparo do solo e aos cultivos, devido às dificuldades impostas ao tráfego de máquinas. 4.1.4. Erosão por deslocamento de massa Essa forma de erosão pela água é muito comum nos terrenos arenosos. Os solos menos estruturados são particularmente sujeitos à erosão por deslocamen- to de massa. Geralmente, se processa nos sulcos deixados pela enxurrada que são, comumente, tortuosos. A corrente de água atrita fortemente com as margens sinuosas, provocando os desmoronamentos. Com o decorrer do tempo, os sulcos podem evoluir para voçorocas. A essa forma de erosão são atribuídos os desmoronamentos de aterros de es- tradas e os bruscos desabamentos, resultantes da erosão subterrânea, que formam grandes galerias e culminam com desabamentos, muitos deles em áreas urbanas. Algumas voçorocas podem ter origem nessa forma de erosão. Áreas de aterro mal estabilizadas estão, particularmente, sujeitas a essa forma de erosão hídrica. Esse CEAD 25.indd 22 15/10/2015 10:05:42 Manejo e Conservação de Solo e da Água 23 tipo de erosão hídrica está associada a grandes catástrofes ocorridas no Brasil em Petrópolis e Teresópolis no RJ e em SC no Vale do Itajaí. 4.1.5. Erosão em queda A erosão em queda é relativamente de pequena importância agrícola. Essa forma de erosão se manifesta, principalmente, em canais escoadouros, quando a água se precipita de um barranco, formando uma pequena queda-d’água. Essa queda provoca o solapamento da base do barranco, ocasionando desmoronamen- tos periódicos que determinam a formação de um sulco que progride no sentido contrário do sentido da corrente da água. Essa forma de erosão tem maior impor- tância em taludes de voçorocas e de estradas não pavimentadas por também se- rem locais de ocorrência de queda-d’água. 4.1.6. Erosão em pedestal Trata-se da formação de pequenos pedestais em locais protegidos por pe- quenas pedras, agregados resistentes ou pedaços de material vegetal. Nesse caso há a remoção de sedimentos ao redor desses “escudos”, principalmente por sal- picamento de partículas, em solos de pouca ou nenhuma estruturação ou mesmo horizonte C exposto. 4.1.7. Voçorocas Canais ou gargantas profundas causadas pela água. As voçorocas represen- tam uma evolução da erosão em sulcos e o deslocamento de massa, onde não são tomadas medidas para remediação das destas. Outras causas do surgimento de voçorocas são a mineração desordenada, a falta de manutenção em cortes de estradas e o surgimento de pequenos sulcos na parte baixa de encostas que evoluem, encosta acima e lateralmente, por deslocamento de massa ou quedas. Alguns solos são notadamente mais susceptíveis a essa forma de erosão, prin- cipalmente aqueles cujo horizonte B e/ou C friáveis e pouco espessos. Por outrolado, solos com horizonte B argílico são, comparativamente, mais resistentes a essa forma de erosão. Algumas regiões se destacam pela ocorrência de voçorocas, como Morro do Ferro (distrito de Oliveira), Cachoeira do Campo, Nazareno, Lavras e São João Del Rei, localizados nas regiões dos Campos das Vertentes e sul do estado de Minas Gerais (Martins et al. 2011, Gomide et al. 2011). Nesses casos, associações de latossolos nas partes mais elevadas das encostas com cambisso- los nas partes mais baixas têm sido apontadas como agravante no surgimento de voçorocas (Silva et al., 1993). CEAD 25.indd 23 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 24 Estudos conduzidos por Gomide et al. (2014), de caracterização da vegetação presente em diferentes segmentos das voçorocas, leito, terço médio sem vegeta- ção e terço médio com vegetação, além de um fragmento com vegetação nativa, localizado próximo às áreas das voçorocas e adotado como referência. Na área da voçoroca 3, realizou-se o estudo nos locais em que foram implantados eucalipto e candeia (Eremanthus erythropappus), sendo esses segmentos aqui denominados como terço médio com eucalipto e terço médio com candeia. A erosão hídrica im- pactou a cobertura vegetal, bem como alguns dos atributos do solo, especialmente nos segmento terço médio sem vegetação, onde a vegetação foi eliminada, em razão, principalmente, da redução dos valores de diâmetro médio geométrico dos agregados e condutividade hidráulica do solo saturado e aos baixos teores de Ca+2 e Mg+2 trocáveis, K+ e P disponíveis e matéria orgânica. Houve predomínio das fa- mílias Poaceae, Melastomataceae e Gleicheniaceae, as quais foram responsáveis pelo recobrimento de mais de 90% das áreas das voçorocas. As áreas de voçoro- cas apresentaram predominantemente vegetação de plantas pioneiras, indicando que elas se encontram em estádio sucessional inicial. 4.2. Erosão pelo vento (Eólica) A erosão eólica consiste no transporte das partículas do solo pela ação do vento, em suspensão, por rolamento de partículas ou aos saltos. Partículas me- nores de 0,1mm de diâmetro são normalmente transportadas em suspensão. Par- tículas do tamanho da areia (0,5 – 2,0 mm) são transportadas por rolamento à superfície. Partículas intermediárias são transportadas ora em suspensão, ora por rolamento (saltos). Essa forma de erosão é de grande importância em regiões onde a velocidade do vento predominantemente são superiores a 15 km h-1, a 30 cm da superfície. Ventos com velocidade inferior a esta são considerados não erosivos para solos mi- nerais. No Brasil, a erosão eólica está restrita as áreas planas no litoral, do planalto central, nordeste e no sul. A região de Alegrete, RS está entre as áreas com grande incidência de erosão eólica, entretanto esse tipo de erosão não é expressivo no Brasil. Em várias regiões da África, parte das terras tem perdido a vegetação devido à seca, superpastoreio e uso de práticas inadequadas nos cultivos. Isso tem re- sultado em extensas áreas com erosão eólica. A região das Planícies dos Estados Unidos já passou por quatro sérios períodos de erosão eólica desde a ocupação, no século XVII. Em áreas de baixa pluviosidade (< 300 mm de chuva por ano), os solos não apresentam umidade suficiente para suportar as culturas. Em várias dessas áreas os agricultores plantam as culturas esperando por chuva. Quando as CEAD 25.indd 24 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 25 chuvas não vêm, eles aram novamente a terra, preparando para outro plantio. Daí, o solo solto e seco fica exposto, favorecendo a erosão eólica. Algumas práticas de conservação do solo e tipos de manejo da terra ajudam na prevenção contra a erosão. A adoção dessas, isoladamente ou em conjunto, depende do estudo da viabilidade e eficiência das mesmas, o que é definido pela cultura, tipo de solo, topografia e poder aquisitivo do agricultor. 4.2.1. Controle da erosão eólica A erosão eólica pode ser reduzida se o solo for protegido contra o vento, em estruturas vegetais conhecidas como quebra ventos. A melhor forma de proteção é a colocação ou manutenção de faixas de vegetação de porte mais alto a espaços regulares com a função de diminuir a velocidade do vento. As práticas de preparo do solo para plantio e o próprio plantio deixam o solo exposto ao vento. Os quebra-ventos reduzem a velocidade dos ventos, consequen- temente, reduzindo a quantidade de solo transportado. Em alguns casos, fileiras de arvores são plantadas (Tabela 3); em outros, a alternância de faixas da cultura de porte baixo e alto, e diferentes densidades de plantio, ajudam a controlar essa forma de erosão. Tabela 3 – Espécies arbóreas utilizadas como quebra-vento em áreas cultivadas. Nome popular Nome científico Eucalipto Eucalyptus sp. Jambolão Syzygium cumini Alamo Piramidal Populus nigra Alstonia Alstonia macrophylla Cedrinho ou cipreste Cupressus lusitana Grevílea Arbórea Grevillea robusta Melaleuca Folha Larga Melaleuca leucadendron Pinus Pinus illiotiis Sansão do Campo Mimosa caesalpiniaefolia Vime Piramidalis Salix nigra CEAD 25.indd 25 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 26 4.3. Taxa de formação e tolerância de perdas de solo por erosão hídrica A determinação da taxa de formação de solo é dificultada por depender da interação de vários fatores e processos de formação do solo. Nas regiões tropicais, onde os fatores climáticos condicionam um intenso processo de intemperismo, es- tima-se que a taxa de formação do solo é de 2,5 cm em 30 anos. Para condições menos intensas a taxa é de 2,5 cm em 300 a 1000 anos (Lal, 1984). Segundo Hudson (1995), a taxa de formação de um solo é de cerca 120 a 400 anos, para a formação de uma camada de 1 cm, em outras palavras são necessárias de 12.000 a 40.000 anos para a formação de 1 m de solo. Segundo Buol et al. (1973), a taxa de formação de solo para o mundo pode variar de 0,01 a 7,7 mm ano-1. Dunne et al. (1978), estimaram que a taxa de formação de solo para o Quênia é de 0,01 a 0,02 mm ano-1 para as regiões úmidas e inferior a 0,01 mm ano-1 para as regiões semiáridas. Segundo Resende et al. (1988), os ganhos por intemperização (taxa de for- mação de solo) são maiores nos solos eutróficos, com minerais facilmente intempe- rizáveis, quer sejam planos ou acidentados. Nos acidentados, as perdas e ganhos são grandes. Em alguns casos, as produções são elevadas mesmo sem a adição de adubos e corretivos, porém, mantendo-se em níveis compensadores por poucos anos. Nos solos distróficos, os ganhos por intemperização são geralmente muito pequenos, devido à ausência ou à quase ausência de minerais primários facilmen- te intemperizáveis que possam constituir fonte de nutrientes para as plantas. A uma taxa de intemperização de 2,7 mm ano-1, supondo uma densidade do solo de 1,3 g cm-3, ter-se-á ganhos de solos de cerca de 3,51 kg m-2 ano-1, ou seja, 35,1 t ha- 1, uma taxa correspondente a uma erosão acelerada, isto é, altas taxas de erosão podem ser compensadas por intemperização equivalente (Resende et al. 1988). No cálculo da taxa de formação dos solos devem ser consideradas as proprie- dades físicas e químicas, as características morfológicas e a profundidade efetiva do solo. O tipo de horizonte diagnóstico presente também é um importante ponto a ser considerado, podendo apresentar atributos favoráveis ou desfavoráveis ao desenvolvimento das raízes e, consequentemente, na sustentabilidade dos solos. A taxa de formação do solo é utilizada para estimar a tolerância de perdas de solo. Quando as perdas excedem a taxa de formação do solo significa que o manejo adotado não é sustentável por um longo período para essas condições. Numa si- tuação ideal, as perdas por erosão devem ser compensadas pelo acréscimo dado pela formação de novo material do solo. Resultados práticos ainda são poucos registrados na literatura. Entretanto, alguns resultados podem ser encontrados.Para solos agrícolas a FAO (1965), ad- CEAD 25.indd 26 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 27 mite perdas da ordem de 12,5 t ha-1 ano-1 para solos profundos, permeáveis e bem drenados, e 2 a 4 t ha-1 ano-1 para solos rasos ou impermeáveis. 4.4. Erosão hídrica e impactos ambientais Atualmente, existe uma grande preocupação em relação às perdas de nu- trientes, defensivos e carbono orgânico e à poluição ambiental, oriundas da erosão hídrica em sistemas agrícolas. As perdas de matéria orgânica, macro e microele- mentos podem comprometer a produtividade das culturas, devido à diminuição da fertilidade do solo, causar aumento do custo de adubação, além de impactos no meio ambiente, como assoreamento e poluição de mananciais, comprometendo a qualidade e a biodiversidade das águas. Dessa forma a erosão hídrica causa im- pactos ambientais, econômicos e sociais. A presença do carbono orgânico é de grande importância para que o solo apresente boas condições físicas, químicas e biológicas. Os teores de carbono orgânico é um dos indicadores de qualidade do solo em sistemas agrícolas. Per- das de matéria orgânica por erosão têm grande importância para os processos de poluição de mananciais, na medida em que a biodegradação de compostos orgânicos em rios e lagos eleva a demanda bioquímica de oxigênio, colocando em perigo a vida aquática. A aplicação de biossólidos na agricultura é também motivo de preocupação em virtude da possibilidade de movimentação de nitratos e metais pesados nos sedimentos. Os defensivos presentes no solo arrastado pela erosão, quando atingem cur- sos de água e/ou são depositados em áreas de preservação, poderão ser liberados com a mudança das condições físico-químicas do meio. O transporte de pesticidas na água por escoamento superficial ou enxurrada, tem sido considerado como um dos maiores meios de contaminação de rios e lagos. No deflúvio, a água carrega substâncias solúveis ou adsorvidas nas partículas de solo erodido. CEAD 25.indd 27 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 28 5. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS, SISTE- MAS DE PREPARO E MANEJO DO SOLO 5.1. Práticas conservacionistas 5.1.1. Práticas Vegetativas Uma boa cobertura vegetal é a forma mais eficiente de controle da erosão. A parte aérea da vegetação protege o solo contra o impacto das gotas de chuva e dificulta o movimento da enxurrada. Já o sistema radicular confere ao solo maior resistência à desagregação e ao transporte de partículas, além de melhorar as con- dições de infiltração de água no solo, notadamente das gramíneas. As práticas vegetativas de controle da erosão podem ser usadas em associa- ção com métodos mecânicos descritos posteriormente. Dependendo da declivida- de e da natureza do solo, as práticas vegetativas podem, sem a necessidade de práticas mecânicas, controlar eficientemente a erosão. As principais práticas vegetativas para conservação do solo e da água são: rotação de culturas, culturas em faixas de rotação e de retenção, pastagens, reflo- restamento e adubação verde. A vegetação é utilizada, ainda, para o controle da erosão em sulcos, estabilização de canais escoadouros, quebra-ventos e estabili- zação de voçorocas. 5.1.1.1. Rotação de culturas Rotação de cultura consiste na sucessão mais ou menos regular de diferentes culturas numa mesma gleba ou faixa do terreno. A rotação de culturas tem como benefícios: a) evitar o esgotamento do solo em determinados nutrientes, favorecen- do o uso mais equilibrado das reservas nutricionais do solo; b) reduzir a incidência de doenças e pragas; c) melhorar a agregação do solo, com o emprego de plantas com diferentes sistemas radiculares; c) redução da erosão, quando o sistema de rotação é feito em faixas, com as faixas de culturas mais densas atuando como dissipadores de energia da enxurrada. No caso de redução de incidência de doenças e pragas, muitos patógenos ficam preservados na palhada das culturas de uma safra para outra. Dessa forma, quando se cultiva uma cultura sobre seus restos, a possibilidade de incidência de doenças aumenta. Outro aspecto também benéfico da rotação de culturas é a diver- sificação de atividades que contribui para a redução de riscos da atividade agrícola. CEAD 25.indd 28 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 29 A rotação entre gramíneas e leguminosas é benéfica para ambas. A legumino- sa tem capacidade de fixar nitrogênio atmosférico. Por outro lado, seu sistema radi- cular, do tipo pivotante, é menos eficiente na agregação do solo, comparativamente as gramíneas. O resultado final da rotação deve ser sempre a redução na perda de solo e água, em relação às perdas que ocorreriam se o solo fosse cultivado conti- nuamente com a mesma cultura. A rotação de culturas varia com a natureza do solo, condições econômicas, sistema de manejo e especialização agrícola da região. O sistema de rotação que inclui uma cultura principal, grãos, por exemplo, e gramíneas ou consorciação de gramíneas e leguminosas, pode ser considerado básico. No entanto, deve-se ana- lisar, para cada região, as possibilidades de rotação que melhor se adequar à re- alidade econômica e social, tanto em termos de quais culturas utilizar quanto em termos de melhor época de implantação, para que os principais objetivos possam ser alcançados. 5.1.1.2. Culturas em faixas de rotação Entre os fatores que influenciam na erosão está o comprimento da rampa ou lançante. A enxurrada em rampas muito longas aumenta em volume e velocidade, aumentando a energia à medida que desce a encosta (rampa). Consequentemen- te, o seu poder erosivo aumenta com o comprimento da rampa. O cultivo em fai- xas, a exemplo do terraceamento, parcela a rampa em segmentos mais curtos. No caso de faixas de culturas de diferentes densidades de parte aérea, essas atuam como dissipadores de energia ao longo da encosta, reduzindo o poder erosivo da enxurrada. Essa prática consiste na disposição das culturas em faixas niveladas, de lar- guras variáveis e alternadas. As culturas com diferentes densidades de plantio são plantadas em faixas alternadas de forma a se constituírem em obstáculos contra a enxurrada. 5.1.1.3. Culturas em faixas de retenção A faixa de retenção é uma prática que diminui a erosão por obstruir o caminho da enxurrada. Trata-se do plantio, geralmente de gramíneas como cana-de-açúcar, capim napier, erva cidreira, etc., que não sejam plantas invasoras, em faixas com distância também definida como no caso de terraços. A faixa de retenção é consti- tuída de 3 a 5 linhas da planta protetora, em espaçamento bem mais reduzido do que o geralmente recomendado no plantio convencional dessas espécies. CEAD 25.indd 29 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 30 Em declives mais suaves essa prática garante eficiente controle da erosão. As faixas podem também ser empregadas em adição aos terraços, quando cultivadas logo após o camalhão destes, garantindo maior estabilidade e eficiência dessa prá- tica mecânica no controle da erosão. Essas faixas, permanentes ou temporárias, não fazem parte do plano de rotação, frequentemente são dedicadas à produção de forragem. Em condições especiais, poderiam se prestar para frutas silvestres, principalmente, para alimentação e abrigo da fauna. As faixas de retenção, uma vez instaladas, apresentam vantagem de cons- tituir um guia permanente para as mobilizações do solo e para o plantio em nível. Essa prática conservacionista é recomendada para terrenos plantados com cul- turas anuais ou perenes e, especialmente, para declives irregulares, onde alguns pontos necessitam de proteção especial. Faixas de retenção, geralmente, dispen- sam cuidados especiais de manutenção, podendo haver necessidade, apenas, de replantes nas falhas que por ventura tenham ocorrido no início da instalação. 5.1.1.4. Culturas de proteção e adubação verde Cultura de proteção tem a função de protegero terreno da ação de chuva e ventos durante o período de entressafra da cultura principal. Geralmente, se em- prega alguma espécie de leguminosa que, além da proteção, garante boa fixação biológica de nitrogênio. As leguminosas produzem matéria orgânica de fácil decom- posição, relativamente às gramíneas, o que as torna excelente adubo verde. Adubo verde é a prática de se enterrar no solo o tecido vegetal verde, evidentemente, não decomposto. Se o solo apresentar condições apropriadas para a decomposição, o material assim adicionado propiciará maior capacidade de produção agrícola, por melhorar a condição de estruturação e aumentar a quantidade de nutrientes, princi- palmente nitrogênio. A escolha da cobertura vegetal depende de condições locais, preço e uso das eventuais colheitas. A cultura ideal para servir como adubo verde deverá apresentar crescimento rápido, fornecer boa cobertura e ser tolerante à de- ficiência nutricional ou à toxidez de alumínio. Plantas de raízes abundantes e que ofereçam boa cobertura vegetal são ideais como plantas de cobertura e adubação verde. Entre as espécies recomendadas como adubo verde estão as leguminosas: trevo, crotalária, ervilhaca, alfafa, caupi; e entre as não leguminosas: azevém, cen- teio e aveia. A escolha da espécie vegetal a ser usada como cobertura ou adubo verde depende da região. Quando incorporadas ao solo, no caso das gramíneas, há necessidade de aplicação de adubo nitrogenado para evitar que os microrga- nismos retirem esse elemento do solo para a decomposição dos restos vegetais. A produção de sementes mantém uma boa cobertura. Os cortes periódicos produzem grande quantidade de matéria orgânica na superfície do solo, que constitui impor- CEAD 25.indd 30 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 31 tante barreira contra o impacto de gotas de chuvas e a incidência direta de raios solares, propiciando menor amplitude de variação de temperatura na superfície do solo, o que melhora as condições para desenvolvimento de organismos. 5.1.2. Práticas mecânicas 5.1.2.1. Cultivo em contorno ou plantio em nível O cultivo em contorno, também conhecido como plantio em nível, consiste em dispor as fileiras de plantas e realizar todas as operações de cultivo em sentido transversal à declividade do terreno, em curvas de nível ou linhas em contorno. Todos os trabalhos culturais em um solo, do preparo à colheita, devem ser feitos acompanhando as curvas de nível do terreno, sempre associando às demais prá- ticas. Essa prática pode ser utilizada isoladamente no controle da erosão apenas em terrenos em declividade menor que 3% e em pequeno comprimento de rampa (Pruski et al., 2006). No cultivo em contorno, o preparo do solo e a semeadura aumentam a rugosi- dade orientada oposta ao sentido do declive, proporcionando assim o aumento do armazenamento e da infiltração de água no solo. Além disso, o cultivo em contorno filtra os sedimentos, retarda o início da enxurrada e reduz o volume de escoamento superficial e as perdas de solo (Bertoni & Lombardi Neto, 2010). A rugosidade ao acaso, caracterizada pela ocorrência aleatória de microelevações e microdepres- sões na superfície do solo, também reduz as perdas de solo e água, pois aumenta a retenção superficial da água da chuva. Quando o preparo do solo é feito no sen- tido do declive, o processo erosivo é acelerado, pois os sulcos e as linhas das cul- turas formam corredores, por onde a água desce livremente e adquire velocidade suficiente para causar erosão, principalmente nos solos de baixa infiltração (Pires & Souza, 2003). Além de permitir um bom controle da erosão do solo, devido à redução do volume de escoamento superficial, o cultivo em contorno proporciona a redução do tempo gasto nos tratos culturais, dependendo da declividade do terreno e do tipo de solo e economia de combustível nos tratos culturais, devido ao fato de a máquina trabalhar em velocidade mais uniforme, reduzindo as trocas de marcha. O plantio em nível forma os pequenos sulcos através da encosta. A água é armazenada nos sulcos e, por isso, mais água é infiltrada e menos água é escoada. O escoamento que realmente ocorre é normalmente mais lento e menos erosivo. Esse tipo de cultivo reduz a erosão de chuvas de baixa ou média intensidade, mas oferece muito pouco ou nada de proteção contra tempestades pesadas capazes de inundar os sulcos formados pelo cultivo. De acordo com Troeh & Thompson (2007), CEAD 25.indd 31 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 32 na média, cultivo em nível diminui a perda de solo em, aproximadamente, 50% em encostas leves (2 a 7% de declive e comprimento moderado). O escoamento de encostas com menos de 2% não é um problema, exceto em casos em que a per- meabilidade do solo é muito menor do que as taxas de chuva. Plantio em nível é menos benéfico em encostas mais planas do que em encostas leves. As encostas mais íngremes armazenam água nas depressões atrás dos pequenos cumes que, por serem menores, são mais fáceis de transbordar e menos eficazes no controle do escoamento. A eficácia de cultivo em nível nas encostas moderadas pode ser incrementada usando semeadoras ou outros implementos que produzem superfí- cies ásperas. Quando é utilizado sem nenhuma outra prática, em terrenos de topografia acidentada, em regiões de chuvas intensas ou em solos de grande erodibilida- de, há um aumento do risco de formação de sulcos de erosão, pois as pequenas leiras, rompendo-se, podem soltar a água que estava acumulada e o volume da enxurrada aumentando cada vez mais em cada leira sucessiva causa um prejuízo acumulativo. Entre as práticas vegetativas, o preparo do solo, o plantio e a execução de todos os trabalhos acompanhando as curvas de nível (cultivo em contorno) cons- tituem-se em atividade indispensável para a conservação do solo, devendo sem- pre serem associadas às demais práticas, quaisquer que sejam as condições do terreno. 5.1.2.2. Terraceamento Terraços são canais e camalhões de terra, construídos em nível (sem gradien- te) ou em desnível (com gradiente), no sentido perpendicular à direção do declive. Essa prática tem sido usada há séculos em países carentes em áreas de topografia mais plana. Muitos fatores, como o comprimento da encosta no sentido do declive, o tipo de solo, tipos de cultura a ser cultivada e quantidade de chuvas determinam a necessidade e eficiência dos terraços, bem como a distância entre eles e as di- mensões dos mesmos são estruturas dimensionadas em toda sua etapa (Pruski et al., 2006). O terraceamento é uma das práticas de controle da erosão hídricas mais di- fundidas entre os agricultores. Consiste na construção de terraços (estruturas com- postas de um canal e um dique ou camalhão), no sentido transversal à declividade do terreno, formando obstáculos físicos capazes de reduzir a velocidade do esco- amento e disciplinar o movimento da água sobre a superfície do terreno (Bertoni & Lombardi Neto 1990; Bertolini et al. 1994; Pruski et al., 2006; Pruski et al. 2009). CEAD 25.indd 32 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 33 Esse sistema pode ser descrito como um conjunto de terraços adequada- mente espaçados, com o objetivo de reter e infiltrar ou conduzir, com velocidade controlada, o escoamento superficial para fora da área protegida, sendo a eficiên- cia desse sistema dependente do correto dimensionamento do espaçamento entre terraços e de sua seção transversal (CODASP, 1994). Práticas como plantio em nível, rotação de culturas, controle das queimadas e manutenção da cobertura morta na superfície do solo, são de fundamental impor- tância para se obter maior eficácia no sistema de terraceamento. Terraço é normalmente muito efetivo. Muitos terraços são tão velhos quanto os Romanos na Europa, os Incas na América do Sul e os povos do sudeste asiático. Esses e outros povos antigos fizeram muitos declives parecerem escadarias gigan- tescas, construindoterraços de cima para baixo. Muitos desses terraços elimina- ram completamente o efeito do declive por meio de paredes de pedras verticais. O terraceamento de áreas agrícolas tem por objetivo reduzir o comprimento da rampa onde se processa o escoamento superficial, reduzindo a velocidade desse e, consequentemente, a tensão de cisalhamento, que ocasiona a liberação e o ar- raste das partículas de solo. Assim, a erosão do solo pode ser bastante reduzida ou até mesmo evitada. O aumento da infiltração de água no solo também é um dos objetivos visados quando da construção de terraços, principalmente dos terraços em nível. Abaixo, algumas vantagens que podem ser conseguidas com a adoção do terraceamento em áreas agrícolas: a) redução da velocidade e do volume do escoamento superficial; b) redução das perdas de solo, água, defensivos e insumos; c) aumento da umidade do solo, uma vez que há maior infiltração de água; d) redução da vazão de pico dos cursos-d’água e aumento da recarga de água no lençol freático; e) amenização da topografia, melhoria das condições de mecanização das áre- as agrícolas, melhor programação de plantio e colheita. 5.1.2.2.1. Tipos de terraços Os terraços podem ser classificados de diversas formas: quanto à função, construção, tamanho, faixa de movimentação de terra e forma, conforme a seguir especificados (Bertoni & Lombardi Neto 1990; Bertolini et al. 1994; Pruski et al., 2006; Pruski et al. 2009): Quanto à função, os terraços são assim classificados: CEAD 25.indd 33 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 34 a) Terraço de infiltração: construído com o canal em nível (sem gradiente) e as extremidades bloqueadas, de modo que a água decorrente do escoamento superficial seja retida e infiltrada no solo do canal. b) Terraço de drenagem: construído com o canal em desnível (com gradiente), acumulando o excedente de água e conduzindo-o para fora da área protegida em um canal escoadouro ou bacias de captação de água. Quanto à construção, dividem-se em: a) Terraço do tipo Nichols: construído movimentando a terra sempre de cima para baixo, formando um canal triangular. A sua principal desvantagem, entre- tanto, é que a faixa onde é construído o canal não pode ser aproveitada para o cultivo. O tipo de equipamento mais recomendado para a construção desse tipo de terraço é o arado reversível. b) Terraço do tipo Mangum: construído pela movimentação de terra tanto de cima para baixo como de baixo para cima. Esse terraço apresenta canal mais largo e raso, além de maior capacidade de armazenamento de água que o terraço do tipo Nichols. Pode ser construído com arados fixos, sendo a sua construção em terrenos com declividade menor. Quanto à faixa de movimentação de terra, têm-se: a) Terraço de base estreita: apresenta faixa de movimentação de terra de até 3 m de largura, sendo seu uso recomendado em locais em que não seja pos- sível implantar terraços de base média ou larga. Esses terraços podem ser feitos somente com ferramentas manuais, tração animal, grade ou plaina e maquinário de pequeno porte, não devem ser construídos em áreas de ex- ploração extensiva. Seu uso fica restrito, portanto, a pequenas propriedades localizadas em áreas muito declivosas. b) Terraço de base média: apresenta faixa de movimentação de terra de 3 a 6 m de largura. Seu uso é recomendado para pequenas ou médias propriedades, onde haja maquinaria de pequeno ou médio porte. Não pode ser cultivado no seu camalhão. c) Terraço de base larga: a movimentação de terra ocorre ao longo de uma faixa de 6 a 12 m de largura. Seu uso é recomendável para o controle mecânico da erosão em terrenos de relevo plano a suave ondulado, em declives não supe- riores a 12 %. O alto custo de construção desse tipo de terraço é compensado por cultivar-se em toda a sua superfície e por ser a sua manutenção feita no próprio preparo normal do solo. Na sua construção utiliza-se o maquinário específico, conhecido como grade terraceadora. CEAD 25.indd 34 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 35 Quanto à forma têm-se: a) Terraço comum: é usado em terrenos com declividade inferior a 18%. Uma vez que grande parte das culturas de exploração econômica no Brasil é implanta- da em declividades inferiores a 18%, constitui o tipo de terraço mais utilizado. Esses terraços, dependendo da maneira como são construídos, podem sofrer variações na sua forma, originando o terraço embutido, o murundum e outros. b) Terraço embutido: é construído normalmente com motoniveladora ou com tra- tor de lâmina frontal, de modo que o canal tenha a forma triangular, ficando o talude que separa o canal do camalhão praticamente na vertical. Apresenta pequena área inutilizada para o plantio e como característica a grande profun- didade do canal. c) Terraço murundum: é geralmente construído com a utilização de trator com lâmina frontal, sendo requerido, para a sua construção, o movimento de gran- de volume de terra. Caracteriza-se por um camalhão bastante alto (que pode ser de mais de 2,0 m) e um canal triangular. Apresenta, devido à grande mo- vimentação de terra, custo elevado em relação aos outros tipos de terraço. Em virtude da elevada altura do camalhão, representa grande obstáculo para o trânsito de máquinas. O grande volume de terra requerido para a sua cons- trução provém, em boa parte, das camadas mais superficiais do solo (mais férteis), o que reduz o rendimento da cultura na faixa situada imediatamente a montante do camalhão, motivada pela remoção do solo ou em alguns casos, por problemas de encharcamento por períodos longos. d) Terraço em patamar: é utilizado em terrenos com declividade superior a 18%, constituído de plataforma, onde é plantada a cultura, e de um talude, que deve ser estabilizado com revestimento de gramíneas ou pedras. Em virtude da sistematização realizada na área, esse terraço, além de controlar a erosão, facilita as operações agrícolas. Podem ser de sequeiro e de irrigação. Os patamares podem ser contínuos (semelhantes a terraços) ou descontínuos (banquetas individuais). Existem procedimentos para locação dos terraços que podem ser em nível e em desnível, sendo este último com gradiente constante ou progressivo, em função da infiltração da água e da coesão do solo. O espaçamento também deve ser cal- culado em função da cultura, preparo e manejo do solo, declividade erodibilidade do solo. Os canais são também dimensionados em função das chuvas máximas, classe de solo e susceptibilidade à erosão hídrica (Bertoni & Lombardi Neto 1990; Bertolini et al. 1994; Pruski et al., 2006; Pruski et al. 2009). CEAD 25.indd 35 15/10/2015 10:05:43 Manejo e Conservação de Solo e da Água 36 5.1.2.3. Canais escoadouros, paralelos e divergentes Em solos de permeabilidade baixa ou média, os terraços devem apresentar um gradiente que pode ser constante ou progressivo para escoamento do excesso da água. Os terraços com gradiente (também chamados terraços de drenagem) necessitam de canal escoadouro, para o escoamento seguro da água, proveniente dos terraços encosta abaixo, sem que a água cause erosão no interior deste. Para essa finalidade podem ser usadas depressões naturais do terreno, desde que não haja risco de erosão nestas ou podem ser construídos com a finalidade de escoa- mento de água. Em ambos os casos, alguns cuidados como vegetação e colocação de dissipadores de energia da água devem ser tomados. Os canais paralelos são construídos nas estradas não pavimentadas, com o objetivo de drenar a água depositada no leito da estrada, esses canais orientam a água para as bacias de captação de água. Esses canais têm a função de evitar a erosão nas áreas vicinais da estrada. Os canais divergentes têm a função de assegurar a proteção de áreas situ- adas a jusante ou a montante das áreas cultivadas, degradadas em estágio de recuperação e de preservação permanente. 5.1.2.4. Estabilização de voçorocas O termo voçoroca
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