Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Aplicação do Modelo de Kanitz na Previsão de Falência em Empresas Contemporâneas NOVA IGUAÇU - RJ 2015 MICHEL LEVY DA SILVA MORAES A Aplicação do Modelo de Kanitz na Previsão de Falência em Empresas Contemporâneas Pré- projeto apresentado na Disciplina Estágio Supervisionado como requisito básico para a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso de Contabilidade. ORIENTADOR: THIAGO ABREU NOVA IGUAÇU – RJ 2015 1. INTRODUÇÃO: Vive-se hoje na era do conhecimento onde os estudiosos cada vez mais desenvolvem diversos artigos sobre a nova economia trazendo novas formas de analisar uma empresa, mas de maneira nenhuma invalida os conceitos tradicionais e já consagrados da análise dos índices econômico-financeiros e atualmente no tempo da valorização das informações estes indicadores tem uma importância muito participativa nas tomadas de decisões. De acordo com MATARAZZO, assim como um médico usa certos indicadores, como pressão e temperatura para elaborar o quadro clínico do paciente, os índices financeiros permitem construir um quadro de avaliação da empresa (MATARAZZO, 2010, p.82). A análise de Balanço através dos índices tem com objetivo extrair informações das Demonstrações Financeiras e vem sendo desenvolvida no meio acadêmico através da integração com os empresários, que vêem esse tipo de análise como mais uma ferramenta gerencial que podem criar novas fórmulas de acordo com as necessidades de cada empresa, onde esses empresários poderão ter uma análise mais detalhada do patrimônio de sua empresa e usar esses detalhes para fazer bons negócios e continuar no seu ramo de atividade por muito tempo e alcançando bons resultados. De acordo com Matarazzo (2003 pág. 225) “Espera-se de qualquer análise baseada num conjunto de índices que estes sejam capazes de distinguir as empresa saudáveis daquelas com as quais os negócios devem ser evitados”. Infelizmente, não existem fórmulas mágicas de prever se a empresa vai chegar a falência ou não, o importante é mostrar as ferramentas de análise que poderão detectar com antecedência se no futuro à empresa terá ou não como pagar as suas dívidas e continuar com a sua atividade. Segundo Matarazzo (2003 pág. 146) “Um índice é como uma vela acesa num quarto escuro” dá uma visão geral de como se comportou o patrimônio da empresa em determinada data, podendo com esse dado passado fazer previsões futuras que auxiliam na administração. Como ferramenta de gestão os métodos de análise das demonstrações contábeis se apresentam como meios de interpretação dos dados, os transformando em informações para tomadas de decisões. Para MARION (2009), p.11) “As técnicas mais conhecidas da análise de balanço são: Análise horizontal, análise vertical, análise dos índices e quocientes, sendo estes últimos melhores para analisar a saúde financeira da empresa”. De acordo com IUDÍCIBUS (2010, p.26), “ a necessidade de analisar as demonstrações é pelo menos tão antiga quanto a própria origem de tais peças”. Esta pesquisa tem como proposta principal trazer uma técnica de utilização de índices econômico-financeiros que foi utilizada a quatro décadas aos dias atuais, observando se pode haver confiabilidade no presente em uma ferramenta considerada relativamente antiga. Entre os modelos usados pelas empresas para analisar se uma entidade pode correr o risco de falir, destaca- se o modelo de KANITZ (1978) aplicado neste estudo. É importante mencionar que as variáveis aplicadas neste modelo são captadas das principais demonstrações contábeis elaboradas pelas companhias que são o balanço patrimonial (BP) e a demonstração do resultado do exercício (DRE). Entretanto, alguns pensadores criticam as variáveis contempladas nos modelos, pois os mesmos afirmam que elas têm se mostrado insuficientes para capturar a realidade das empresas, demonstrando apenas tendências. Contudo, recurso da análise de solvência é extremamente importante para as diversas partes interessadas numa boa gestão empresarial, sendo que essas partes interessadas são gestores, credores, trabalhadores e as respectivas organizações, investidores e clientes. A análise de solvência é relevante, porque cada grupo ou indivíduo possui diferentes interesses, sendo assim, utilizada para diversos objetivos. A escolha deste tema se motivou pela importância das empresas, que atuam em qualquer ramo de atividade, utilizar modelos de prevenções para evitar a falência de suas entidades, assim como tentar demonstrar se de alguma forma, ou até que ponto, as mudanças de leis, formato atual do balanço, novas tendências do mercado e economia, afetam direta ou indiretamente na eficiência da aplicação do método em questão, Termômetro de Kanitz. 1.1. OBJETIVOS 1.1.1 GERAL Verificar se a técnica do termômetro de Kanitz pode prever falências em empresas que tenham falido recentemente. 1.1.2 ESPECÍFICOS 1. Explicar a técnica do termômetro de Kanitz. 2. Aplicar o termômetro em uma empresa de capital aberto que tenha falido recentemente. 3. Verificar se funciona na empresa. 2.REFERENCIAL TEÓRICO: Conforme Assaf Neto (2010, p. 267-268) a solvência reflete sobre a capacidade da empresa em cobrir suas obrigações de prazos mais longos, já “a insolvência de uma empresa ocorre pela incapacidade de solver suas obrigações, ou seja, pela falta de dinheiro no momento de vencimentos de uma dívida” (MATARAZZO, 2010). 2.1 INSOLVÊNCIA E FALÊNCIA: O termo falência vem do latim, fallere que significa faltar, a falência também é um termo associado ao fim de algo, no caso deste estudo o de uma empresa. Assim, falência ou insolvência é uma situação jurídica decorrente de sentença onde uma entidade se omite em cumprir com determinada obrigação patrimonial e por consequência é obrigada judicialmente a alienar seus ativos para satisfazer todos seus credores. No Brasil a definição dos contadores e economistas para falência é a própria noção do estado de insolvência levando- se em consideração a situação patrimonial do devedor, já segundo o conceito jurídico não basta o estado de insolvência, para que seja caracterizada a falência é preciso que haja execução coletiva das dívidas. Uma definição prática para os dois conceitos seria: Falência é quando as dívidas ultrapassam o valor de seu patrimônio, enquanto que insolvência seria quando o devedor tem prestações a cumprir superiores aos rendimentos que auferem, ou seja, não recebe o suficiente para honrar seus compromissos a tempo. 2.2 RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A contabilidade pode prestar informações tanto para administração e proprietários, utilizando instrumentos de previsão de falência, como também para que os Juristas possam avaliar essas empresas e decidir se elas têm condições de continuar no mercado, decretando assim a Recuperação Judicial. Diante dessas considerações a contabilidade e os contadores exercem um papel de grande importância em tudo que diz respeito à administração da empresa e no processo falimentar. Processo esse que outrora foi redigido pela Lei n° 7661, de junho de 1945, e que se encontra incompatível com a realidade atual, que é controlada pela economia capitalista globalizada, e que nos dias atuais é regido pela recuperação judicial e extra- judicial que substitui a lei das falências 11.101 de fevereiro de 2005. Essa atual legislação veio com muitas mudanças, e uma delas é privilegiar a recuperação das empresas para garantir que elas continuem no mercado, onde deverá ser traçado um plano de como essa recuperação será efetuado, caso sua permanência seja viável. Com isso, evitará a redução de empregos e o desaquecimentoeconômico, causado pela quebra de muitas empresas “Art 47”. A recuperação judicial consiste em um dispositivo legal que visa resolver a situação de insolvência de uma empresa, seja premiando e evitando a falência. De acordo com Marion e Iudícibus ( 2002 pág. 42) “ As experiências do administrador não são mais fatores decisivos no quadro atual; exige-se um elenco de informações reais, que norteiam tais decisões. E essas informações estão contidas nos relatórios elaborados pela Contabilidade”. Diante desses processos a Contabilidade tem um papel de extrema responsabilidade, pois para efeito de Recuperação Judicial os dados serão fornecidos com base nos livros e demonstrações contábeis, que deverão condizer com a realidade da empresa. Pois são esses documentos que serão apresentados pelo devedor ao Juiz. Também no artigo 21 da citada Lei o contador tem destaques “importantes”, que administrará empresa na fase de recuperação judicial. 2.3. MODELO de KANITZ (1978) Kanitz realizou, no início da década de 70, um dos primeiros, senão o primeiro estudo de previsão de falência no Brasil utilizando modelo estatístico. A partir de 5 (cinco) índices extraídos das demonstrações contábeis ele elaborou uma equação matemática utilizando técnica de regressão múltipla e análise discriminante (KANITZ, 1978). O objetivo do trabalho de Kanitz foi avaliar o risco de insolvência, através do que denominou fator de insolvência um indicador daquilo que poderia acontecer em futuro próximo, caso a empresa não corrigisse os rumos que estava seguindo (KANITZ, 1978). O estudo foi baseado em uma amostra composta por 30 empresas, sendo 15 empresas classificadas como “falidas” e 15 empresas classificadas como “saudáveis”. A equação desenvolvida era composta do seguinte modelo: FI = 0,05 RPL + 1,65 LG + 3,55 LS – 1,06 LC – 0,33 PCT, onde: 0,05; 1,65; 3,55; 1,06 e 0,33 são os pesos que devem multiplicar os índices. Cada variável tem o seguinte significado: . RPL = lucro líquido/patrimônio líquido; • LG = (ativo circulante + realizável a longo prazo)/exigível total; • LS = (ativo circulante – estoques) / passivo circulante; • LC = ativo circulante/passivo circulante; • PCT = exigível total/patrimônio líquido O modelo de Kanitz (1978) pode ser representado pelo “termômetro” como mostra a Figura 2. A sua utilização tem sido, via de regra, relativa a empresas isoladas. Procura-se analisar se determinada empresa tem possibilidade ou não de falir, principalmente em curto prazo. FATOR DE INSOLVÊNCIA: X1 + X2 + X3 – X4 – X5 Figura 1 - Termômetro de Kanitz (1978) Fonte: Adaptado de Kanitz (1978) A classificação adotada corresponde a: • FI entre 0 e 7 a empresa sem problemas financeiros – solvente; • FI entre 0 e -3 a empresa com situação financeira indefinida; e • FI entre -3 a -7 a empresa enfrentando problemas financeiros (insolvente). Também se faz necessário destacar que o resultado de cada variável utilizada na equação é obtido através da aplicação de indicadores que evidenciam a situação financeira (índices de estrutura de capital e endividamento) e econômica (índices de rentabilidade). Sendo assim, a primeira variável (RPL) faz parte do índice de rentabilidade que diferente dos índices de estrutura de capital e liquidez, esse retrata a situação econômica da empresa, isto é, a rentabilidade das operações realizadas pelos seus gestores. 2.4 REFERÊNCIA AOS ÍNDICES: A Rentabilidade do Patrimônio Líquido (RPL) é encontrada pela fórmula: RPL = LUCRO LÍQUIDO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Para Matarazzo (2010), esse índice “indica o quanto à empresa obteve de lucro para cada R$ 100,00 de capital próprio investido”. O ideal para a empresa é que quanto maior, melhor, pois significa que a empresa está tendo lucro face ao seu patrimônio líquido. Após terem sido apresentados os principais conceitos envolvidos na análise do balanço financeiro de uma empresa, de acordo com o modelo contábil selecionado, o trabalho parte para a descrição e análise dos resultados da empresa avaliada. Os índices de liquidez assim como os índices de estrutura de capitais também evidenciam a base da situação financeira da empresa. Eles têm como objetivo verificar se a empresa tem condições de cumprir suas obrigações, ou seja, pagar suas dívidas. Esse resultado é obtido através da relação entre os diretos realizáveis e o passivo exigível. Tais indicadores buscam evidenciar a condição da empresa de saldar suas dívidas e de sua estrutura de endividamento. São indicadores extraídos apenas do balanço patrimonial, razão porque são considerados indicadores estáticos. Quer dizer que no momento seguinte esses indicadores serão alterados (PADOVEZE, 2000, p. 150). Deste modo, os índices de liquidez usados na equação de Kanitz são: liquidez geral, liquidez seca e liquidez corrente. O primeiro é representado pela fórmula: ILG = __ATIVO CIRCULANTE + REALIZÁVEL A LONGO PRAZO PASSIVO CIRCULANTE + EXIGÍVEL A LONGO PRAZO Segundo Marion (2002, p. 89) esse índice indica a capacidade de pagamento da empresa a longo prazo, considerando tudo o que ela converterá em dinheiro (a curto e longo prazo), relacionando-se com tudo o que já assumiu como dívida (a curto e longo prazo). O ideal para a empresa é que quanto menor o percentual, melhor, pois significa que a empresa tem condições de cumprir com suas obrigações totais com o seu ativo circulante mais o ativo realizável a longo prazo. Já o índice de liquidez corrente (ILC) é evidenciado pela fórmula: ILC = __ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE Esse índice indica se a empresa tem bens e direitos e curto prazo suficientes para cumprir com suas obrigações de curto prazo. O ideal para a empresa é que quanto maior seja esse percentual, melhor, pois significa a empresa possui recursos suficientes para cumprir suas obrigações de curto prazo. E por fim o índice de liquidez seca é calculado por: ILS = DISP + AF + DRL PC De acordo com Silva (1995, p. 227) esse índice “indica quanto à empresa possui em dinheiro, mais aplicações financeiras a curto prazo, mais duplicatas a receber, para fazer face a seu passivo circulante”. O ideal para a empresa é que quanto maior for esse percentual, melhor, pois significa que a empresa tem condições de cumprir com suas obrigações de curto prazo através do seu disponível mais aplicações financeiras mais duplicatas a receber líquidas (duplicatas a receber menos provisão para devedores duvidosos). Torna-se necessário evidenciar o que: (1) DISP significa disponibilidades; (2) AF, Aplicações Financeiras; (3) DRL, duplicatas a receber (líquidas de provisão para devedores duvidosos); e (4) PC, passivo circulante. Os índices de estrutura de capitais mostra a estruturação do capital da empresa, isto é, se a empresa possui dependência de capitais de terceiros ou se a maior parte de seus recursos são próprios. Sendo assim, tais indicadores demonstram como se comportou a situação financeira da empresa, ou seja, qual a linha de estratégia que ela segue para tomar as grandes decisões financeiras, no que diz respeito à obtenção e aplicação de recursos. A última variável utilizada no modelo é a participação de capitais de terceiros representado pela fórmula: PCT = PASSIVO CIRCULANTE + EXIGÍVEL A LONGO PRAZO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Esse índice indica a relação entre o capital próprio e o de terceiros, ou seja, se a empresa possui dependência ou não de terceiros. O ideal para a empresa é que e quanto menor seja esse percentual, pois significa que ela consegue manter-se com seus recursos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:ALMEIDA, L.C.S.; DUARTE JUNIOR, A.M. Desafios e Soluções da Petrobras em seu Projeto de Atendimento à Lei Sarbanes-Oxley. In: 11º Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, 2011, São Paulo. Anais... São Paulo, 2011. ALMEIDA, Amador Paes De. Curso De Falência e Concordata. 8º Edição. São Paulo: Editora Saraiva; 1988. ASSAF NETO. A. Estrutura e Análise de balanço: Um Enfoque Econômico- Financeiro comércio e serviços, indústrias, bancos comerciais e múltiplos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRANDÃO, Claudinei Terra, Rozo, José Danúbio, Coordenadores: CORRAR, Luiz J. THEÓPHILO; Carlos Renato, --. Pesquisa Operacional para Decisão em Contabilidade e Administração: Contabilometria: São Paulo: Editora Atlas 2004. BRASIL. Decreto 3000/99 – Regulamento do Imposto de Renda; BRASIL. Lei 10.406/2005 – Novo Código Civil; BRASIL. Lei 11.101/2005 – Lei de Falências; BRASIL. Medida Provisória 2158/2001; BM&FBOVESPA. Bolsa de Valores de São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 13 de fev. 2010 CVM. Comissão de valores mobiliários. Disponível em: . Acesso em: 13 de maio. 2011. IUDÍCIBUS, Sergio de, MARION, José Carlos – Introdução à Teoria da Contabilidade para o nível de graduação – 3º Edição. São Paulo: Atlas 2002; Junta Comercial do Estado de Pernambuco, pesquisa local efetuada em 17/05/2005. KANITZ, S.C. Como prever falências. São Paulo: McGraw Hill, 1978. KAZMIER, L.J. Teoria e Problemas de Estatística Aplicada à Administração e Economia. Porto Alegre: Bookman, 2007. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010. PADOVEZE, C.L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. SANTOS, C.M.A. Estatística Descritiva: Manual de Autoaprendizagem. Lisboa: Sílabo, 2007. SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1995.
Compartilhar