Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANEMIA FALCIFORME RESUMO INTRODUÇÃO Anemia falciforme é uma doença hereditária caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue, tornando-os parecidos com uma foice. Essas células têm sua membrana alterada, perdendo sua forma arredondada e elástica, endurecendo e dificultando a passagem do sangue pelos vasos de pequeno calibre e consequentemente, a oxigenação dos tecidos, rompendo-se mais facilmente, causando anemia. A hemoglobina, que transporta o oxigênio e dá a cor aos aos glóbulos vermelhos, é essencial para a saúde de todos os órgãos do corpo. Essa condição é mais comum em indivíduos da raça negra. No Brasil, representa cerca de 8% dos negros, mas devido à intensa miscigenação do país, pode ser observada também em pessoas de raça branca ou parda. As hemácias falciforme vivem apenas 20 dias (hemácias normais vivem cerca de 120 dias), pois são eliminadas rapidamente do organismo pelo baço. A falta de maleabilidade leva as hemácias falciformes a ficarem presas em certas regiões dos pequenos vasos sanguíneos, causando obstrução do fluxo de sangue. Elas 2 contêm um tipo de hemoglobina (hemoglobina S), que se cristaliza na falta de oxigênio. Genética da Anemia Falciforme É causada por uma alteração do cromossomo 11. ~ Cromossomo é uma sequência de DNA composto por vários genes que determinam as nossas características. O ser humano possui 46 cromossomos, 23 herdados do pai e 23 da mãe. Nossas características são determinadas pela combinação dos cromossomos herdados da mãe e do pai. Quando se recebe o gene defeituoso de apenas 1 dos pais, chamamos essa pessoa de portadora de traço falciforme. É um carreador assintomático do gene. Se essa pessoa tiver filhos com alguém que tenha a doença ou com outro carreador assintomático, o filho pode nascer e ter anemia falciforme. Ou seja, para que a doença se manifeste, é necessário ter 2 genes defeituosos. ~ Sintomas: Primeiro, é importante lembrar que os sintomas podem variar de pessoa para pessoa. Uns apresentam apenas sintomas leves, outros apresentam um ou mais sinais. Os sintomas geralmente aparecem no primeiro ano de vida da criança. ● Dor forte - provocada pelo bloqueio do fluxo sanguíneo e pela falta de oxigenação nos tecidos; - É o sintoma mais frequente. - A dor é mais frequente nos ossos e nas articulações, mas podem atingir qualquer parte do corpo. - As crises de dor têm duração variável e podem ocorrer várias vezes ao ano. Geralmente são associadas ao tempo frio, infecções, período pré-menstrual, problemas emocionais, gravidez ou desidratação. 3 - Crises falciformes (crises álgicas vaso oclusivas): ocorrem principalmente no tórax, abdômen e membros. - Quando as obstruções ocorrem em vasos maiores ou acometem órgãos internos, elas podem levar a complicações sérias, tais como AVC, infarto do miocárdio, insuficiência renal, trombose venosa dos membros inferiores e isquemia dos membros com formação de úlceras. Nos olhos, a obstrução de vasos da retina pode levar à cegueira. - Síndrome mão-pé (dactilite falcêmica): nas crianças pequenas as crises de dor podem ocorrer nos pequenos vasos sanguíneos das mãos e dos pés, causando inchaço, dor e vermelhidão no local. OBS: O baço é um dos órgãos que mais sofre com a anemia falciforme, pois ele é o órgão responsável pela retirada das hemácias defeituosas da circulação sanguínea. Como nessa forma de anemia há muitas células defeituosas, depois de algum tempo, o baço fica congestionado de células que obstruem a chegada de sangue, ocasionando o infarto esplênico. ● Dores articulares; ● Fadiga intensa; ● Derrame - Acidente vascular cerebral (AVC) - Ocorre devido à interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro por infarto cerebral. - Ocorre em 6% das crianças. - Dependendo da área lesada, os sintomas podem ser desde pequenos problemas motores (alteração na marcha) até acometimentos graves como afasia (perda da fala) e paralisias completas bilaterais. - Em sua maioria, o AVC leva a sequelas definitivas como déficit neurológico e dificuldade de aprendizado. ● Palidez e icterícia 4 - icterícia (pele amarelada pelo acúmulo de bilirrubina no sangue) poderá ocorrer se o fígado não processar glóbulos vermelhos de modo eficiente, pois eles quebram e se destroem rapidamente. Quando essas células são destruídas é produzido um pigmento chamado bilirrubina que, se o fígado não conseguir eliminar por completo, deposita-se na pele e na esclera (branco dos olhos) ● Atraso no crescimento; ● Anemia - surge porque a taxa de destruição das hemácias é mais rápida que a capacidade da medula óssea de produzir novas células saudáveis. - O portador de anemia falciforme precisa de transfusão sanguínea sempre que a anemia torna-se grave, o que costuma acontecer várias vezes durante a vida. - Algumas situações aumentam a quantidade de hemácias em forma de foice, sendo a desidratação uma das principais. ● Sequestro do sangue no baço - O baço é o órgão que filtra o sangue. - Em crianças com anemia falciforme, o baço pode aumentar rapidamente por sequestrar todo o sangue, podendo levar rapidamente à morte por falta de sangue para os outros órgãos como cérebro e coração. - Complicação que envolve risco de vida e exige tratamento emergencial. ● Feridas nas pernas - Úlcera de perna - Ocorre mais frequentemente próximo aos tornozelos, a partir da adolescência. - Podem levar anos para cicatrizar totalmente, se não forem bem cuidadas no início do seu aparecimento. - Para prevenir o aparecimento das úlceras, os pacientes devem usar meias grossas e sapatos. ● Tendência a infecções - Além de remover as células defeituosas do sangue, o baço também participa do sistema imunológico. A ausência do 5 funcionamento desse órgão leva a uma queda na imunidade e favorece certas infecções como, 1. pneumonia e 2. meningite. - As infecções são a principal causa de morte em pacientes com anemia falciforme. - As crianças, principalmente, têm mais propensão a infecções. Por isso é importante receberem as vacinas especiais (Anti hemophilus e antipneumocócica) para prevenir estas complicações. - É recomendado que, ao primeiro sinal de febre procurar o hospital onde é feito o acompanhamento da doença, para que a infecção seja controlada com mais facilidade. ● Cálculos biliares - Decorre da destruição prematura dos eritrócitos falciformizados, acúmulo de seus precursores e precipitação dos sais biliares, além de hiperbilirrubinemia indireta crônica. - Em pacientes sintomáticos, a colecistectomia aberta ou laparoscópica é o tratamento de escolha. - A hemólise crônica característica da doença é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento da litíase biliar. - A migração de um cálculo pode obstruir o colédoco (coledocolitíase) provocando dor aguda no hipocôndrio direito, febre e icterícia. ● Problemas neurológicos, cardiovasculares, pulmonares e renais; ● Priapismo - Ereção dolorosa do pênis - Ereção dolorosa e prolongada do pênis sem relação com desejo sexual. - Ocorre por obstrução dos vasos por células vermelhas afoiçadas que irrigam esse órgão. - Normalmente o pênis fica avermelhado e muito inchado, sendo extremamente doloroso. - Mais frequente em adolescentes e adultos. - Emergência urológica e caso não seja tratado de forma correta e rápida pode levar à impotência funcional. 6 - Pode ser tratado com caminhadas ou pequenos exercícios (ex: pular) e compressas mornas. Caso não haja melhora, procurar rapidamente uma unidade hospitalar. Diagnóstico da doença A detecção é feita através do exame eletroforese de hemoglobina. O teste do pezinho, realizado gratuitamente antes do bebê receber alta da maternidade, proporciona a detecção precoce de hemoglobinopatias, como a anemia falciforme. Tratamento Quando descoberta a doença, o bebê deve ter acompanhamento médico adequado baseado num programa de atenção integral. Nesse programa, os pacientes devem ser acompanhados por toda a vida por uma equipe com vários profissionaistreinados no tratamento da anemia falciforme para orientar a família e o doente a descobrir rapidamente os sinais de gravidade da doença, a tratar adequadamente as crises e praticar medidas para sua prevenção. A equipe é formada por médicos, enfermeiras, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, dentistas, etc. Além disso, as crianças devem ter seu crescimento e desenvolvimento acompanhados, como normalmente é feito com todas as outras crianças que não têm a doença. Apesar do tratamento não ser específico, em algumas situações pode haver indicações de ações para diminuir as crises dolorosas (hidroxiureia - medicamento que ajuda a diminuir o percentual de células foice no sangue), isquemias cerebrais de repetição (terapia de transfusão regular), terapia da quelação de ferro para aqueles que recebem transfusões com frequência e acumulam ferro no organismo e, mais raramente, a troca de hemácias (eritrocitaférese). 7 A anemia falciforme pode ter cura através do transplante alogênico de medula óssea. O grande problema é que a maior parte dos pacientes não é candidata ao procedimento pelos critérios de elegibilidade ou por não ter doador compatível. ~ No transplante alogênico de medula óssea, as células tronco hematopoiéticas vêm de um doador, idealmente irmão ou irmã com uma composição genética semelhante. Se o paciente não tem um doador aparentado compatível, a medula óssea de uma pessoa não aparentada e com uma composição genética semelhante pode ser usada. ~ O transplante de medula óssea não é nada simples e está reservado, atualmente, para pessoas com menos de 16 anos, pois os riscos de grave toxicidade e morte são muito elevados para os pacientes mais velhos que isso. Por isso, o tratamento para essa doença acaba por ser, na maioria das vezes, evitar as crises álgicas, aliviar os sintomas e prevenir as complicações. Para reduzir o risco de infecções é importante que o paciente seja vacinado contra: - Streptococcus pneumoniae - Influenza - Neisseria meningitidis - Haemophilus influenzae tipo B - Hepatite B Recomendações para lidar com a anemia falciforme ● Exija que o teste do pezinho seja feito em seu filho (a) logo depois do nascimento. ● Procure imediatamente assistência se a pessoa com anemia falciforme tiver uma crise de dor. 8 ● A febre no portador de anemia falciforme é um sinal de alerta, então procure orientação médica do profissional que acompanha o caso. ● Leve imediatamente para o hospital mais próximo uma criança com anemia falciforme que tenha ficado pálida de repente. ● Lembre-se de que alterações oculares podem ocorrer nesses pacientes. Por isso, eles devem ser avaliados periodicamente por um oftalmologista. Perguntas frequentes sobre anemia falciforme 1. Quem tem anemia falciforme pode engravidar? Sim, mas é considerada uma gravidez de alto risco por conta das possíveis complicações. 2. Por que a doença provoca crises de dor? As dores são causadas pela obstrução de pequenos vasos sanguíneos pelos glóbulos vermelhos em foice. A dor é mais frequente nos ossos e articulações, mas podem atingir qualquer parte do corpo. 3. Por que o paciente com anemia falciforme precisa ingerir grande quantidade de líquidos? É recomendada ingestão de cerca de 3L de água por dia para manter o sangue menos viscoso, mais fluido e evitar obstruções nos vasos. 4. Qual a expectativa de vida de um indivíduo que tenha anemia falciforme? 40 a 50 anos. 9 Como um dentista deve se comportar com um paciente que apresente essa doença? Existe um protocolo para o atendimento a pacientes diagnosticados com anemia falciforme. Os pacientes falciformes possuem condições clínicas que podem ser intensificadas durante o tratamento odontológico, logo as medidas preventivas são importantes, pois as infecções dentárias podem precipitar crises vaso oclusivas. As condições de saúde bucal podem causar grande impacto na saúde geral e na qualidade de vida dos portadores da doença, e o cirurgião dentista desempenha um papel importante na prevenção das complicações. PROTOCOLO: 1. Anamnese criteriosa; 2. Avaliação médica para confirmação do real estado de saúde do paciente; 3. Realização do tratamento odontológico durante as fases crônicas da doença, reservando às fases agudas apenas procedimentos paliativo; 4. Realização de consultas curtas; 5. Evitar procedimentos longos e complicados (evitar estresse); 6. Manter níveis adequados de oxigenação e temperatura corporal; 7. Administração de benzodiazepínicos como medicação pré-anestésica, a pacientes mais ansiosos; 8. Instituir uma terapia preventiva agressiva: Instruções de higiene oral; Dieta controlada; Escovação e uso de fio dental; Fluorterapia; 9. Evitar infecções orais, e tratamento agressivo na ocorrência das mesmas; 10. Uso de anestésico local sem vasoconstritor para procedimentos dentários de rotina, e no caso de procedimentos cirúrgicos uso de anestésico local com vasoconstritor, de preferência, lidocaína a 2% com adrenalina 1:100.000; 10 11. Evitar realização de cirurgias eletivas (ex: exodontia de sisos inclusos) em casos assintomáticos; 12. A sintomatologia dolorosa deve ser tratada com paracetamol, dipirona ou codeína, já que o ácido acetilsalicílico é contra-indicativo; 13. Evitar a prescrição de barbitúricos; 14. Realização de profilaxia antibiótica frente a procedimentos em que haja expectativa de sangramento e consequentemente bacteremia; 15. Uso da técnica de óxido-nitroso com nível adequado de oxigenação (50% de oxigênio) e adequada ventilação; 16. Realização de sedação endovenosa e anestesia geral com muita precaução e acompanhamento médico (anestesista e hematologista). Durante o tratamento odontológico a pacientes diagnosticados com anemia falciforme são importantes os seguintes cuidados: Os procedimentos odontológicos só podem ser iniciados após minuciosa anamnese, exame clínico e tratamento planejado. Deve-se considerar o histórico da doença e suas complicações, assim como as condições físicas e emocionais e a tolerância aos procedimentos operatórios, para evitar ou diminuir o estresse. É importante salientar que o tratamento pode desencadear uma crise falcêmica. É fundamental que o profissional de odontologia registre os dados específicos das pessoas com doença falciforme sob seus cuidados, a fim de orientar-se no curso do tratamento. É importante também, se necessário, entrar em contato com os outros profissionais da saúde que acompanham o paciente falcêmico, haja vista que conhecer o quadro clínico é de grande utilidade para o tratamento. Além disso, todos os tratamentos considerados invasivos devem ser realizados na fase crônica da doença, reservando para fase aguda apenas intervenções de urgência, que visem minimizar quadros infecciosos ou dolorosos. A profilaxia antibiótica é de suma importância, uma vez que, os pacientes são particularmente susceptíveis a infecções e estas podem desencadear quadros agudos, colocando em risco a vida do indivíduo. Sendo assim, a saúde bucal de pessoas com anemia falciforme deve ser mantida 11 principalmente através das práticas preventivas, para minimizar o risco da instalação de infecções bucais e para que as intervenções curativas sejam cada vez menos frequentes. Anemia falciforme e alterações bucais Os portadores de anemia falciforme são mais susceptíveis a infecções, a doença periodontal e ao desenvolvimento da cárie dentária, devido a vários fatores específicos aos quais estão expostos (ex: alta prevalência de opacidades dentárias ~alterações de formação e de calcificação do esmalte e da dentina~; uso frequente e contínuo de medicamentos contendo sacarose; alta frequência de intercorrências e de internações acarretadas pela ausência de higiene oral adequada). As medidas preventivas são importantes para minimizar as consequências da anemia crônica, das crises de falcização e das infecções dentárias, as quais podem precipitar essas crises. As manifestações bucais da doença nãosão patognomônicas e podem estar presentes em indivíduos com outros distúrbios sistêmicos. Os sinais mais comuns são: palidez da mucosa, atraso da erupção dos dentes, transtornos na mineralização do esmalte e da dentina, calcificações pulpares e alterações das células da superfície da língua. Esses transtornos de mineralização resultam em opacidades, especialmente em molares, com prevalência de 67,5%. Os portadores também podem exibir úlceras bucais, particularmente nas gengivas, representando áreas de infarto infectadas secundariamente. Em alguns casos, é possível observar má oclusão devido à protrusão da maxila e retrusão dos dentes anteriores. - http://revodonto.bvsalud.org/pdf/rgo/v61s1/a12v61s1.pdf http://revodonto.bvsalud.org/pdf/rgo/v61s1/a12v61s1.pdf
Compartilhar