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GESTÃO DA QUALIDADE E CERTIFICAÇÃO LIDIA MARIA RUV CARELLI BARRETO JOÃO CARLOS NORDI GESTÃO DA QUALIDADE E CERTIFICAÇÃO 1ª Edição 2018 1 Copyright©2018. Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof. Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Francisco José Grandinetti (interino) Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. Mario Celso Peloggia (interino) Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Profa. Ma. Angela Popovici Berbare (interino) Pró-reitora de Graduação Profa. Dra. Nara Lucia Perondi Fortes Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Francisco José Grandinetti Coordenação Geral EaD Profa. Dra. Patrícia Ortiz Monteiro Chefe do Setor EAD Coordenação Pedagógica Profa Ma. Sanmya Feitosa Tajra Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Coordenação de Regulação Coordenação Acadêmica de Polos Coordenação de Tecnologias de Informação e Comunicação Profa. Ma. Rosana Giovanni Pires Aline Cristina da Silva Prazeres Wagner Barboza Bertini Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Dra. Suzana Lopes Salgado Ribeiro Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Supervisão Pedagógica de Objetos de Aprendizagem Supervisão de Linguística dos Objetos de Aprendizagem Supervisão de Impl. de Objetos de Aprendizagem Supervisão de ACC Supervisão de TCC Supervisão de Estágio Supervisão de Tutoria Eletrônica/Presencial Supervisão de Avaliação Supervisão ENADE Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico Diagramação Autor Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Prof. Dr. João Carlos Nordi Profa. Dra. Mariana Aranha Souza Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Amaral Profa. Ma. Andréa Maria Giannico de Araujo Viana Consolino Profa. Ma. Simone Guimarães Braz Profa. Ma. Eliana de Cássia Vieira de Carvalho Salgado Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento Profa. Esp. Antônia Lucineire de Almeida Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Profa. Ma. Juraci Lima Sabatino Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Amaral Me. Benedito Fulvio Manfredini Solange Moraes Lidia Maria Ruv Carelli Barreto João Carlos Nordi Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432, Centro Taubaté – São Paulo. CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté – Sede Sistema Integrado de Avenida Marechal Deodoro, 605, Jardim Santa Clara Taubaté – São Paulo. CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12) 3622-6050 Bibliotecas – SIBi B273g Barreto, Lídia Maria Ruv Carelli Gestão da qualidade e certificação. / Lídia Maria Ruv Carelli Barreto, João Carlos Nordi. Taubaté: UNITAU, 2018. 88f.. : il. Bibliografia 1. Planejamento. 2. Alimento. 3. Qualidade. I. Nordi, João Carlos II. Universidade de Taubaté. II!. Título 2 PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor 3 4 Prefácio À ampliação e efetivação de ações de promoção do desenvolvimento rural sustentável, impulsionado pelas crescentes preocupações das organizações sociais do campo e da floresta, e da sociedade em geral, a respeito da necessidade de se produzir alimentos saudáveis conservando os recursos naturais e mantendo a qualidade ambiental da paisagem de uma determinada região, correspondem a missão da Agroecologia. Quando tratamos de gestão e certificação estamos nos referindo ao planejamento e coordenação dessas ações que visam garantir a qualidade e a confiabilidade de alimentos saudáveis, dentro dos padrões agroecológicos. Sem os princípios básicos do planejamento da produção de alimentos, as boas práticas de produção envolvidas e necessárias, bem como o planejamento das ações, dificilmente essas ações poderão acontecer. Visando abordar essas temáticas, esse livro-texto foi preparado para vocês. Espero que apreciem, jamais esquecendo as dicas em cada subcapítulo (Para saber mais) e logicamente as referências, auxiliando-os sempre no aprendizado do conhecimento. Bons estudos e sucesso! Prof. Dr. João Carlos Nordi Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia 5 6 Sobre o autor LÍDIA MARIA RUV CARELLI BARRETO: Bacharelado em Ciências Biológicas, Licenciatura Curta em Ciências Biológicas e Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade de Taubaté-UNITAU-SP-(1984,1985,1987); Especialização em Saúde Pública- pela Universidade de Mogi das Cruzes - UMC-SP (1987), Mestrado em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa-UFV-MG (1999), Doutorado em Nutrição e Produção Animal pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita- UNESP-SP (2004). Concluiu o Programa de Pós-doutorado em Produção e Nutrição Animal na Universidade Estadual Paulista- Unesp-SP em 2010. É concursada como Prof. Assistente Doutor na Cadeira de Apicultura da Universidade de Taubaté. Na mesma instituição responde pela disciplina Desenvolvimento de Projeto Científico I. Atua como Coordenadora do Centro de Estudos Apícolas da Universidade de Taubaté- UNITAU-SP, Coordenadora dos cursos Pós-graduação Lato Sensu em Apicultura e Meliponicultura, Coordenadora do Curso graduação Tecnólogo em Apicultura e Meliponicultura. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Cnpq-Rede Nacional de Pesquisadores Apícola (RENAPIS). Dirigiu o Departamento de Ciências Agrárias da Universidade de Taubaté de janeiro de 2014 a janeiro de 2018. Atualmente está na Coordenação do Polo de Educação a Distância do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade de Taubaté, bem como Presidindo a Comissão Técnico Científica da Confederação Brasileira de Apicultura-Quadriênio 2014-201 JOÃO CARLOS NORDI Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade EstadualPaulista e Paisagismo pela Universidade Federal de Lavras (2007), Mestrado em Botânica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Botucatu (1996) e Doutorado em Botânica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Botucatu (2001). É concursado como Prof. Assistente Doutor na cadeira de Sistemática Vegetal da Universidade de Taubaté. Na mesma instituição responde pelas disciplinas: Sistemática de Espermatófitas e Criptógamas, Anatomia e Morfologia Vegetal de Criptógamas e Espermatófitas, Jardinocultura e Paisagismo e ministra a disciplina optativa Apiterapia para o curso de Medicina. Atua também no Curso de 7 Especialização em Apicultura e Meliponicultura (Lato Sensu Júlio de Mesquita Filho (1983), Licenciatura plena 2º grau - Escola Técnica Agrícola pelo Instituto Americano da Igreja Metodista de Lins (1985), Especialização em Plantas Ornamentais), na Universidade de Taubaté-SP, lecionando a disciplina Flora Apícola e Polinização, no Curso de Tecnólogo em Apicultura e Meliponicultura na Universidade de Taubaté lecionando as disciplinas Flora Apícola e Polinização e Apiterapia e no Mestrado em Ciências Ambientais, na mesma Instituição, lecionando a disciplina Estudos e Análises de Processos Ambientais. Coordena os seguintes cursos na Universidade de Taubaté pelo sistema de Educação a distância (EAD): Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Apicultura e Meliponicultura e os Cursos Tecnólogos em Agroecologia e Agronegócio. Desenvolve as seguintes linhas de pesquisa: Flora apícola, Polinização, Palinologia, Matologia e Arborização Urbana. Terapeuta Holístico, MEMBRO FUNDADOR da FEDERAÇÃO LATINO-AMERICANA DE APITERAPIA, membro do grupo de pesquisa do CNPq: Rede Nacional de pesquisadores apícola (RENAPIS) e membro da COMISSÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE APICULTURA (CBA), responsável pela área temática FLORA APÍCOLA E POLINIZAÇÃO, durante a gestão de 2014 a 2018. 8 Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das Unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU 9 10 Sumário Palavra do Reitor .............................................................................................................. 2 Prefácio ............................................................................................................................. 4 Sobre o autor ..................................................................................................................... 6 Caros(as) alunos(as) ......................................................................................................... 8 Ementa ............................................................................................................................ 12 Objetivos ......................................................................................................................... 13 Unidade 1 Gestão da Qualidade .................................................................................. 16 1.1 Conceitos .................................................................................................................. 16 1.2 Histórico .................................................................................................................. 18 1.3 Alimento Seguro e Alimento Tradicional ................................................................ 20 1.4 Produção Limpa ........................................................................................................ 22 1.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 23 1.6 Para saber mais ......................................................................................................... 24 1.7 Atividades ................................................................................................................. 24 Unidade 2 Boas Práticas de Produção ........................................................................ 26 2.1 Princípios e Requisitos para o Aumento da Qualidade dos Alimentos .................... 26 2.2 Boas Práticas ............................................................................................................ 27 2.2 Protocolos e Níveis de Controle de Qualidade de alimentos.................................... 29 2.4 Legislação na Área de Alimentos ............................................................................. 31 2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 36 2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 36 2.7 Atividades ................................................................................................................. 37 11 Unidade 3 Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) .................. 38 3.1 Histórico do APPCC ................................................................................................. 38 3.2 Conceituação de APPCC .......................................................................................... 39 3.3 Definições e Conceitos ............................................................................................. 41 3.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 55 3.6 Para saber mais ......................................................................................................... 56 3.7 Atividades ................................................................................................................. 56 Unidade 4 Certificação de Alimentos no Campo ....................................................... 58 4.1 Certificação ............................................................................................................... 58 4.2 Histórico da certificação no Brasil ...........................................................................59 4.3 Certificação dos alimentos orgânicos ....................................................................... 61 4.4 Legislação para Alimentos e suas certificações ..................................................... 66 4.5 Outras certificações .................................................................................................. 71 4.6 Síntese da Unidade ................................................................................................... 75 4.7 Para saber mais ......................................................................................................... 75 4.8 Atividades ................................................................................................................. 76 Referências ..................................................................................................................... 78 12 ORGANIZE-SE!!! Você deverá dispor de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. GESTÃO DA QUALIDADE E CERTIFICAÇÃO Ementa EMENTA Conceitos de qualidade e produtividade; Boas Práticas de Fabricação (BPF); Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC); Procedimento Operacional Padrão (POP); Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO); Certificadoras. 13 Objetivo Geral ✓ Apresentar conceitos de qualidade e produtividade. Obj eti vos Objetivos Específicos ✓ Apresentar as ferramentas necessárias para o controle de qualidade e as certificadoras envolvidas no processo. 14 Introdução A gestão da qualidade e a certificação em última análise encontram-se solidamente interligadas com bases bem fundamentadas em questões éticas que inspirem confiança nos produtos gerados à luz de seus postulados. Embora a gestão de qualidade seja um assunto que ganhou grande notoriedade a partir do início da década de 1980, não se trata, contudo, de uma invenção moderna. Produzir com qualidade é uma das capacidades dinâmicas que as empresas devem desenvolver, no seu dia a dia, para que possam competir no mundo globalizado em que vivemos. A necessidade de atendimento às legislações em vigor, cada vez mais exigentes e restritivas, bem como a mercados consumidores com alto nível de informação, demanda do setor agrossilvopastoril a adoção de práticas que garantam a comercialização dos produtos dentro dos padrões de qualidade necessários. O material elaborado busca discutir como a Gestão da Qualidade e a Certificação a partir da adoção do sistema de Boas Práticas pode auxiliar na obtenção de produtos de alta Qualidade, atendendo às atuais exigências legais e comerciais. Na primeira Unidade, estudaremos as bases da Gestão da Qualidade focada na produção de alimentos seguros, alimentos tradicionais e limpos. Na segunda Unidade, o tema a ser abordado são as Boas Práticas de Produção, e seus princípios e requisitos para o aumento da Qualidade dos alimentos Na terceira Unidade, apresentaremos noções sobre o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, cuja implantação é obrigatória para a garantia de qualidade e certificação dos produtos. Na última Unidade do livro-texto iremos abordar certificações de alimentos orgânicos e as legislações pertinentes, bem como outras certificações como Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica. Bons estudos! 15 16 Unidade 1 Unidade 1 Gestão da Qualidade Nesta Unidade, abordaremos temas ligados à Gestão da Qualidade, bem como a definição de alguns conceitos. Vamos lá 1.1 Conceitos Vamos definir os conceitos de Gestão e Qualidade: 1.1.1 Gestão Significa gerenciamento, administração, onde existe uma instituição, uma empresa, uma entidade social de pessoas, um objeto, ou a uma temática a ser gerida ou administrada. A gestão surgiu quando, após a revolução industrial, os profissionais decidiram buscar solução para problemas que não existiam antes, usando vários métodos de ciências, para administrar e conduzir ações ou negócios da época, o que deu início à ciência da administração, pois é necessário o conhecimento e aplicação de modelos e técnicas administrativas. A gestão de um empreendimento rural engloba em seu planejamento diversas áreas; podemos citar a gestão de custos, de pessoas, da produção, ambiental, a tecnologia da informação e ao mesmo tempo o uso de ferramentas que auxiliam na identificação de pontos fortes e fracos da empresa, permitindo a tomada de decisões em consonância com os objetivos e metas traçadas (ALMEIDA, 2008). 17 O planejamento da produção em um empreendimento rural envolve a necessidade de analisar o que produzir, quanto produzir, e para quando produzir. Essa análise deve ser feita considerando as condições de mercado e as características dos recursos disponíveis (BATLHA, 2001). Segundo Almeida (2008), o planejamento deve ser um ato contínuo e avaliado constantemente, sendo flexível frente a situações inesperadas e que necessitem de adequações. 1.1.2 Qualidade A norma brasileira ABNT NBR ISO 9000 define qualidade como: “Grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos”. De acordo com o Dicionário Michaelis, a palavra “qualidade” deriva do latim qualitate e significa atributo, condição natural ou propriedade pela qual algo ou alguém se individualiza, distinguindo-se dos demais. A palavra também pode expressar o grau de perfeição, precisão ou conformidade a certo padrão. Em outras palavras, como afirma o Dicionário Aurélio, é a maneira de ser de algo ou alguém, sua superioridade ou excelência (BARBOSA, 2011) A qualidade de um produto ou serviço pode ser mensurada, quando essa atende às necessidades de seus clientes de forma agradável. Além disso, cada pessoa tem uma visão diferente no momento de comprar um produto ou desfrutar de um serviço, pois estarão baseadas naquilo que aprenderam, nas suas expectativas e também em suas necessidades, que poderão ser distintas. Podemos afirmar, segundo Falconi (1992), que a Gestão da Qualidade é uma gerência focada na qualidade da produção e dos serviços de determinada empresa, sendo que o verdadeiro critério de uma boa qualidade é a preferência do consumidor pelo seu produto em relação ao seu concorrente, hoje e no futuro. 18 1.2 Histórico Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foram encontrados vários defeitos em produtos bélicos, mesmo havendo pessoas responsáveis pela supervisão da qualidade destes produtos. Quando da Segunda Guerra Mundial, para corrigir os erros dos produtos bélicos da Primeira, mudou-se o termo “Controle de Processos”, que passou a denominar-se Garantia da Qualidade, utilizando normas específicas para cada etapa. O Japão, após ser arrasado na Segunda Guerra, adotou sua reconstrução utilizando em todos os sentidos as bases da Gestão da Qualidade, contribuindo com a evolução das técnicas e sendo hoje uma das maiores referências em gestão de qualidade, traduzida em suas estruturas, tecnologias e de produtos exportados para o mundo inteiro. O país, transformado, hoje se classifica como potência mundial, a partir da implantação e do aprimoramento de processos com base na gestão da qualidade, de maneiras altamente distintas. A partir daí, organizações do mundo todo implementaram os modelos de Gestão da Qualidade. A partir do século XX, os consumidores tornaram-se cada vez mais exigentes, cobrando qualidade dos serviços e produtos que adquirem. Esse modelo começou a ser implantado no Brasil a partir de 1990. Através dele, a organização passou a adquirir novas competências como:aprender novos procedimentos, ter atitudes diferenciadas, interação com o público interno e externo e também com o mercado, proporcionando a partir dessa década o início da utilização das normas ISSO 9000, bem como do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, criado pelo Governo Federal com o objetivo de auxiliar na competitividade dos produtos brasileiros. Assim ocorre uma derivação da “Gestão da Qualidade” sem precedentes, porém neste livro-texto será abordada, com enfoque específico, a produção de alimentos. Quando se aborda a temática da qualidade tendo-se como foco principal as características de satisfação que um dado produto proporciona aos seus consumidores, http://segunda-guerra.info/ 19 se essas características apresentam defeitos, erros ou “não conformidades”, pode-se perfeitamente fazer um “recall”, recolhendo produtos e repondo ao cliente outro produto que o atenda em suas expectativas e necessidades. Porém, quando se trata da produção de alimentos que serão consumidos pela população a discussão transcende a um simples um “recall”, se este alimento apresentar “erros” de produção a exemplo de contaminações por agentes químicos, físicos e biológicos ou durabilidades excedidas. Tais ocorrências infelizmente podem acontecer, sem que se tenha tempo para um “recall” no mercado e em função disso tal alimento acaba por intoxicar ou, em casos extremos, matar o consumidor. A qualidade hoje é uma vantagem competitiva que diferencia uma empresa de outra, pois os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à sua expectativa no momento de adquirir um determinado produto. Logo, as empresas que não estiverem preocupadas com esta busca pela qualidade poderão ficar à margem do mercado consumidor. Quando se fala em qualidade na produção de alimentos e demais produtos de consumo, o aspecto segurança do produto é sempre um fator determinante, pois qualquer problema pode comprometer a saúde do consumidor. Analisando a Agroecologia Brasileira em um nível macro, destacam-se os seguintes aspectos que afetam diretamente a Qualidade de nossos produtos agroecológicos: ✓ Níveis de poluentes contidos no solo, água, sementes, etc. ✓ Alta incidência de sujidades e corpos estranhos nos produtos. ✓ Incidência de Fraudes/Falsificações. ✓ Legislação reduzida, pouco aplicada e conhecida. ✓ Carência de Certificações/Sistemas de Qualidade Implantados. ✓ Custos impraticáveis para certificação dos produtos. ✓ Utilização de insumos e equipamentos inapropriados para a produção. ✓ Profissionalização, informação e capacitação na área insuficientes. 20 1.3 Alimento Seguro e Alimento Tradicional O consumo de água e alimentos contaminados é uma das principais causas de morbidade em todo o mundo, apresentando um impacto significativo em saúde pública, com expressivas consequências sociais e econômicas (GURUDASANI; SHETH, 2009). 1.3.1 Alimento Seguro Alimento que não representa perigo para a saúde do consumidor. Entende-se como alimentos seguros os produtos obtidos, conservados, transportados, transformados, expostos à venda ou consumo e preparados em condições que garantam o controle de perigos e agentes de doenças ao homem. São alimentos que não apresentam riscos de causar danos à saúde do consumidor (GERMANO; GERMANO, 2000). A segurança dos alimentos é consequência do controle de todas as etapas e de cada elo da cadeia produtiva, desde a produção primária (no campo) até a mesa do consumidor. A produção agrícola, quando conduzida sob as condições necessárias de higiene, reduz a possibilidade de presença, introdução e aumento de perigos que possam afetar, de forma adversa, a segurança e a propriedade para o consumo dos produtos agrícolas, incluindo os estágios posteriores da cadeia do alimento. Para garantir a segurança dos alimentos, é preciso aplicar as boas práticas agrícolas antes, durante e após a colheita. 1.3.2 Alimento Tradicional Os produtos tradicionais, também denominados produtos com história, constituem e fazem parte da história social de uma determinada cultura. Vindos de um longo tempo, através de gerações que os foram produzindo e recriando, esses produtos marcam um processo que reúne relações sociais e familiares, num encontro entre o saber e a experiência, sendo que a produção desses alimentos vem de uma arte construída ao longo do tempo através da tradição familiar (RIBEIRO; MARTINS, 1995). Para Ribeiro & Martins (1995), os alimentos tradicionais podem ser definidos como "um produto único pelo emprego de matérias-primas e pelos conhecimentos aplicados, 21 assim como os usos de produção, de consumo e de distribuição e que atualmente recebem, entre outras, as denominações de local, artesanal ou regional". Segundo Zuin & Zuin (2008), a massificação e a uniformização generalizada dos alimentos contrapõem-se à crescente orientação da procura pelos consumidores por produtos diferenciados, em que o consumidor passou a buscar e a privilegiar a qualidade presente nos alimentos tradicionais. Essa busca por qualidade é tanto por uma questão de saúde, como também pela simbologia presente nesses alimentos, como: tradição, origens e raízes arraigadas na sua constituição, enfim, a história particular de uma comunidade, de um território, de um grupo ou de uma região que os fizeram como únicos. Vindos de um longo tempo, através de gerações que os foram produzindo e recriando, esses produtos marcam um processo que reúne relações sociais e familiares, num encontro entre o saber e a experiência; portanto, a produção desses alimentos é, ainda, uma arte construída ao longo do tempo através da tradição familiar. E por assim ser é que estes produtos com história, até há poucos anos considerados como símbolos do atraso socioeconômico de um indivíduo, de uma região ou de um país, vêm sendo reconhecidos, em primeiro lugar, pela União Europeia, como elementos potencialmente capazes de revitalizar a economia dos meios rurais. A busca dos consumidores pelos produtos com história faz com que paguem mais por eles, convertendo-a em um componente comercial do produto, o que legitima o argumento de que a tradição ajuda a vender, não só o vendendo mais, mas, principalmente, vendendo-o melhor. Nesse sentido, estar capacitado num modelo para a gestão de processo e desenvolvimento de produtos é de fundamental importância para que o pequeno produtor rural consiga inserir-se no mercado. O modelo de processo e desenvolvimento de produtos rurais, proposto por Zuin & Alliprandini (2006), é a sistematização de como manufaturar esses alimentos tradicionais. A descrição de atividades concernentes à gestão possibilita ao produtor 22 rural emancipar-se por meio da produção de alimentos que já fazem parte de seu contexto 1.4 Produção Limpa A “Produção Limpa ou Produção Mais Limpa é a aplicação contínua de uma estratégia integrada de prevenção ambiental a processos, produtos e serviços, para aumentar a eficiência de produção e reduzir os riscos para o meio ambiente” (GIANNETTI; ALMEIDA, 2006). Trata-se de uma abordagem recente para a produção ecoeficiente que estabelece uma metodologia chamada "downhill", ou seja, os fabricantes devem se preocupar desde o projeto, a seleção de matérias-primas, o processo de produção, o consumo, a reutilização, o reparo, a reciclagem, até a disposição final dos produtos. Para tanto, a logística reversa deve ser utilizada. As principais características de um bem produzido segundo os critérios da Produção Limpa são: • Utilização de materiais não tóxicos e reutilizáveis; • Processos limpos e com baixo consumo de energia; • Mínima utilização de embalagens; • Fácil de montar, desmontar, consertar e reciclar; • Destinação final ambientalmente adequada gerida pelo fabricante. A Produção Mais Limpa caracteriza-se pelos seguintesaspectos: • Só a mudança tecnológica com a adoção de Tecnologia Limpa muitas vezes não é suficiente para tornar um processo produtivo "mais limpo"; https://pt.wikipedia.org/wiki/Produ%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Consumo https://pt.wikipedia.org/wiki/Reciclagem https://pt.wikipedia.org/wiki/Log%C3%ADstica_reversa https://pt.wikipedia.org/wiki/Energia https://pt.wikipedia.org/wiki/Fabricante 23 • A geração de conhecimento endógeno e a aplicação do know-how (saber como fazer) externo ou interno à organização são elementos chaves para o sucesso de um programa de Produção Mais Limpa; • É preciso que ocorram mudanças de atitudes em todos os níveis da organização, referentes ao comprometimento com a implementação de um programa de Produção Mais Limpa. A Garantia da Qualidade se tornou uma expressão de grande impacto nas relações comerciais, ficando associada também a outras palavras e abreviações, tais como: rastreabilidade, Boas Práticas de Fabricação (BPF); Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO), Procedimento Operacional Padrão (POP), Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e certificação. A Garantia de Qualidade pode, portanto, entre outras definições, ter base em um plano de trabalho ou de ação projetado para inspirar confiança. 1.5 Síntese da Unidade Nesta Unidade discutimos sobre a importância da Gestão da Qualidade na produção de alimentos, assim como apresentamos algumas noções básicas sobre Alimento Seguro, Alimento Tradicional, além da conceituação de Produção Limpa de Alimentos. Dica de Leitura Abrangência do requisito segurança em certificados de qualidade da cadeia produtiva de alimentos no Brasil: http://www.scielo.br/pdf/gp/v17n1/v17n1a04 http://www.scielo.br/pdf/gp/v17n1/v17n1a04 24 1.6 Para saber mais Sites • Produção de alimentos tradicionais Contribuindo para o desenvolvimento local/regional e dos pequenos produtores rurais. Disponível em: http://www.rbgdr.net/012008/artigo5.pd • Gestão da qualidade: uma abordagem dialética. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141565552001000500011 1.7 Atividades Agora que você aprendeu os conceitos sobre Gestão da Qualidade, Alimento Histórico e Produção Limpa, procure um exemplo real de um Produtor Rural, de quem se possa descrever seu processo produtivo a caminho ou com total implantação de Gestão da Qualidade do Alimento. Bons estudos! http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141565552001000500011 25 26 Unidade 2 Unidade 2 Boas Práticas de Produção Nesta Unidade, vamos estudar as Boas Práticas na produção de alimentos, que são um conjunto de práticas que servem de suporte e para a obtenção de produtos seguros e que atendam exigências da legislação. 2.1 Princípios e Requisitos para o Aumento da Qualidade dos Alimentos Dentro das perspectivas de um crescente mercado consumidor, pois, segundo a Associação Brasileira de Refeições Coletivas (ABERC), em cada 5 refeições feitas pelos brasileiros, uma é feita fora de casa. Estudos mostram que na Europa, duas em cada seis refeições são feitas fora de casa; nos EUA, uma em cada duas. São números que apontam para um grande aumento de estabelecimentos que produzam alimento para consumo imediato. Dentro deste contexto, a qualidade é aquilo que satisfaz o cliente, e o controle de qualidade é a manutenção dos produtos dentro dos níveis de tolerância aceitáveis para o consumidor/ou comprador. Desse modo, para avaliar a qualidade de um produto alimentar, deve ser mensurado o grau em que o produto satisfaz os itens específicos, sendo esses níveis de tolerância e requisitos expressos por meio de normas, padrões e especificações. Em relação à alimentação e à nutrição, a qualidade está relacionada a aspectos intrínsecos como qualidade nutricional e sensorial. O Comitê Who/Fao admite que doenças provindas de alimentos contaminados são provavelmente o maior problema de saúde no mundo contemporâneo. Portanto, a necessidade de controle sanitário na área alimentar acabou gerando uma enorme quantidade de protocolos utilizáveis para cada tipo de alimento e especificidade de acordo com o posicionamento dos mesmos no contexto da cadeia produtiva de alimentos. 27 2.2 Boas Práticas Boas Práticas são um conjunto de práticas que servem de suporte para a obtenção de produtos seguros e que atendem à legislação existente. A Legislação, em todos os seus níveis, deve ser respeitada. Além da legislação ligada diretamente ao alimento, o Código de Defesa do Consumidor determina que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não deverão acarretar riscos à segurança do consumidor. Os riscos podem ser sensorial, físicos, químicos e biológicos. De um modo resumido, as tabelas a seguir (Tabela 01, 02 e 03) apresentam alguns problemas de Qualidade Sensoriais, Físicos, Químicos e Microbiológicos, que podem ser observados nos alimentos e suas respectivas origens ao longo da cadeia de produção, afetando diretamente os parâmetros de qualidade estabelecidos na Legislação. Tabela 2.1 Problemas de qualidade sensorial PROBLEMA DE QUALIDADE (“SENSORIAL”) ORIGEM Coloração alterada Contaminação de embalagem, altas temperaturas de estocagem. Sabor e Odor não característicos Estocagem inapropriada, embalagens reutilizadas, alta umidade (fermentação). Fonte: Barreto et al., 2006 Tabela 2.2 Problema de qualidade Microbiológico PROBLEMA DE QUALIDADE (“MICROBIOLÓGICO”) ORIGEM 28 Fonte: Barreto et al., 2006 Tabela 2.3 Problemas de Qualidade Físico PROBLEMA DE QUALIDADE (“FÍSICO”) ORIGEM Fragmentos de vidro Luminárias e lâmpadas quebradas; embalagens de vidro quebradas. Joias e objetos de adorno, fios de cabelo e fragmentos de esmalte Higiene pessoal ineficiente. Pragas, fragmentos, pelos e excrementos Higiene ambiental ineficiente. Insetos, fragmentos e excrementos Área de beneficiamento não isolada; falhas nos processos de extração/colheita. poeiras, pedaços de madeira Higienização da matéria-prima vinda do campo mal insuficiente. Pedras, areia Contato da matéria-prima com o solo; falhas no transporte e na higiene ambiental e/ou na higiene pessoal. Fragmentos metálicos Equipamentos e utensílios danificados. Matéria fecal (Flora microbiana das fezes) Contaminação da área produtiva; higiene pessoal ineficiente; qualidade da água utilizada na agroindústria. Bactérias patogênicas Higiene pessoal ineficiente; presença de portadores assintomáticos; veículos de transporte não sanitizados; manipulação ineficiente; estocagem inadequada. Fungos Umidade inadequada; colheita, estocagem inadequadas Fonte: Barreto et al., 2006 29 As Boas Práticas são normas de procedimento a fim de atingir determinado padrão de identidade e qualidade dos alimentos; neste contexto consideram-se quatro pontos a serem analisados: 1- Termos relevantes - pontos críticos de controle e práticas referentes ao pessoal; 2- Instalações - áreas externas, plantas físicas, ventilação e iluminação adequadas, controle de pragas, uso e armazenamento de produtos vinculados à produção (insumos), abastecimento de água, encanamento e coleta de lixo; 3- Requisitos Gerais de Equipamentos – construção e facilidade de limpeza e manutenção; 4- Controles de produção. Em função da preocupação com a segurança alimentar, muitos produtores de alimentos estão optando por aplicar um sistema lógico, prático, sistemático, dinâmico e compreensível para controlar a segurança do produto, sendo esse método denominado Análise de Perigos e Pontos Críticosde Controle – APPCC (DESTRO, 1998). A implantação de Boas Práticas de alimentos representa o início da rota pela qual se pretende chegar aos maiores níveis de controle de qualidade, como a exemplo dos APPC, ou seja, Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle. Entre as Boas Práticas de Produção existem uma série de pré-requisitos a serem transpostos para chegar à grande meta almejada, ou seja, a segurança para o consumo dos alimentos (SPERS, 2002). 2.2 Protocolos e Níveis de Controle de Qualidade de alimentos A Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle de alimentos (APPCC) é considerada uns dos níveis mais elevados e desejáveis na área de produção de alimentos. Porém, no caminho para se chegar até essa grande meta, existe um seriado 30 protocolar que gradua passo a passo as adaptações. Fazem parte desse seriado protocolar: BPA- Boas Práticas de Produção Agrícola/ou Agropecuária/Agrossilvopastoril BPF-Boas Práticas de Fabricação de qualquer produto acima citado POP- Procedimento Operacional Padrão PPHO- Programa Padrão de Higiene Operacional APPCC- Analise de Perigos e Pontos Críticos de Controle Tais protocolos são regulamentados pelo Ministério de Agricultura e Ministério da Saúde, tratando-se cada matéria-prima, processos e produtos de maneira especifica. As BPA são um conjunto de normas/protocolos adotadas para o alimento produzido no campo. Ou seja, uso ou não de adubos convencionais e não convencionais, agroquímicos convencionais e não convencionais, gradeamento e aração, irrigação dentre outros. As BPF são conjuntos de procedimentos/protocolos pelos quais passa a matéria-prima após sua colheita. São exemplos de tratamentos pós-colheita: desidratação, trituração, moagem, liofilização, congelamento, resfriamento, dentre outros. Tais processos deverão seguir protocolos a fim de manter a integridade de produto/matéria-prima. Por exemplo: 1-Produtos/matéria-prima de origem animal ou vegetal, constituídos por proteínas, açúcares e lipídeos. Caso eles sejam expostos a temperaturas negativas ou por um tempo prolongado de resfriamento, apresentarão reações reológicas como: escurecimento em sua aparência, sabor amargo, aroma de envelhecido e rancificado ocorrido pela degradação respectivamente de seus compostos, açúcares, proteínas e lipídeos, pelo processo de queima por baixas temperaturas. 2- Outro processo de decomposição frequentemente sofrido pelos alimentos é referente à desidratação. A matéria-prima ou o produto uma vez expostos a tais condições de 31 degradação pode levar ao endurecimento do alimento, à nulidade de aromas e sabores antes contidos naturalmente no alimento. Existem bons e inúmeros outros exemplos, porém o contexto do livro-texto apresenta outros alvos. Os POP surgem da necessidade de padronização operacional dos procedimentos, principalmente objetivando superar ocorrências não desejáveis em um alimento com bases em sua reologia natural ou até mesmo tendo em vista o prolongamento de sua respectiva vida de prateleira, características desejáveis para qualquer que seja a matéria-prima ou produto alimentício. PPHO - os programas de higiene operacional objetivam padronizar metodologias nos processos pelos quais, neste caso, os alimentos serão submetidos, tendo em vista tempo e temperatura de exposição, processos conservativos, embalagens, e todos os procedimentos higiênicos/ou de higienização para que os referidos alimentos tenham durabilidade à luz da segurança alimentar, a partir dos processos padrões nas operações. 2.4 Legislação na Área de Alimentos A segurança de alimentos é um tema cada vez mais relevante, devido à crescente busca por uma melhor qualidade de vida e conscientização dos consumidores quanto ao direito de adquirir alimento seguro. A construção da legislação na área de alimentos é contínua, sendo aperfeiçoada a medida que são demandas por novas matérias-primas ou novos produtos e aparecimento de novas tecnologias. O Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN) é o principal instrumento da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), instituída pelo Decreto nº 7.272/2010. 32 A estrutura deste Plano tem como macro desafio a Promoção de Sistemas Alimentares Sustentáveis, priorizando o seguinte postulado: “Promover a produção de alimentos saudáveis e sustentáveis, a estruturação da agricultura familiar e o fortalecimento de sistemas de produção de base agroecológica.” A seguir são apresentadas algumas normas da legislação brasileira na área de alimentos; a proposta é a de apresentar de forma ampla e geral as bases de dados onde o aluno poderá acessar e transitar de maneira mais superficial ou aprofundar a temática em questão conforme seu interesse na temática. Para conhecimento hierárquico da legislação é importante saber o significado de cada ação regulatória produzida e seu nível de competência e abrangência: 1- Lei: são atos legislativos; 2- Decreto: é uma ordem emanada de uma autoridade superior ou órgão que determina o cumprimento de uma resolução. No sistema jurídico brasileiro, os decretos são atos administrativos da competência dos poderes executivos (presidente, governadores e prefeitos); 3- Decreto-lei: é um decreto emanado pelo poder executivo, e não pelo poder legislativo, que tem força de lei. É normalmente uma ferramenta do chefe do poder executivo para dar imediata efetividade a um desejo político da administração; 4- Resolução: é um ato legislativo de conteúdo concreto, de efeitos internos. Segundo o mesmo autor, as resoluções não estão sujeitas à promulgação e também não estão sujeitas a controle preventivo da constitucionalidade, exceto as que aprovem acordos internacionais; 5- Portarias: normalmente são um documento de ato administrativo de qualquer autoridade pública, que contém instruções acerca da aplicação de leis ou regulamentos, recomendações de caráter geral, normas de execução de serviços, 33 nomeações, demissões, punições ou qualquer outra determinação de sua competência. A Portaria é um ato emitido pelo poder administrativo; 6- Instruções Normativas: trata-se de um documento de organização e ordenamento administrativo interno destinado a estabelecer diretrizes, normatizar métodos e procedimentos, bem como regulamentar matéria específica anteriormente disciplinada a fim de orientar os dirigentes e servidores no desempenho de suas atribuições; Em termos hierárquicos, as leis e o decretos-lei têm o mesmo valor na ordem jurídica brasileira. Em caso de conflito, aplica-se, entre eles, o que for mais recente ou o que contiver uma regra que, por ser mais específica, seja mais adequada ao caso concreto. Já a portaria tem valor inferior às leis e aos decretos-lei e não os pode contrariar. Compilados da legislação Geral referentes aos alimentos: ✓ LEIS Lei Federal nº 6.437, de 20 de agosto de 1977 com as correções da Lei nº 9.695/98 (Artigos: 2º, 5º e 10). Configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências. Lei Federal nº 10.674, de 16 de maio de 2003. Obriga que os produtos alimentícios comercializados informem sobre a presença de Glúten como medida preventiva e de controle da Doença Celíaca. ✓ DECRETOS Decreto-Lei Federal nº 986, de 21 de outubro de 1969. Institui normas básicas sobre alimentos. ✓ RESOLUÇÕES Resolução-RDC nº 23, de 15 de março de 2000. Dispõe sobre O Manual de Procedimentos Básicos para Registro de Produtos Pertinentes à Área de Alimentos. http://www.direitosedeveres.pt/glossario/p/portaria http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022319.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000027917.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000027917.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022349.PDF34 Resolução - RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001 Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Resolução-RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002. Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. Resolução-RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Regulamento técnico para rotulagem de alimentos embalados. Resolução RDC nº2005/2002 Anvisa - Auditoria BPF. Resolução nº 09/2003 DIPOA/MAPA - Manual de Auditoria SIF. Resolução-RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados para fins de Rotulagem Nutricional. Resolução-RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados, tornando obrigatória a Rotulagem Nutricional. Resolução RDC nº 175, de 8 de julho de 2003. Regulamento Técnico de Avaliação de Matérias Macroscópicas e Microscópicas Prejudiciais à Saúde Humana em Alimentos Embalados. Resolução RDC 269, de 22 de setembro de 2005. Regulamento Técnico sobre a ingestão diária recomendada (idr) de proteína, vitaminas e minerais, constante do Anexo desta Resolução. Resolução RDC nº 35, de 17 de junho de 2009. Dispõe sobre a obrigatoriedade de instruções de conservação e consumo na rotulagem de ovos e dá outras providências. Resolução-RDC nº 27, de 06 de agosto de 2010. Dispõe sobre as categorias de alimentos e embalagens isentos e com obrigatoriedade de registro sanitário. http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022348.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022345.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022346.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022342.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022343.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022336.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022327.PDF 35 Resolução-RDC nº 26, de 02 de julho de 2015. Dispõe sobre os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. ✓ PORTARIAS Portaria nº 326/97 ANVISA - estabelece regulamentos técnicos para as condições higiênico-sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação nos estabelecimentos Produtores/Industrializadores de alimentos. Portaria N° 368/97 MAPA - aprova o Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Elaboradores/Industrializadores de Alimentos. Portaria nº 27, de 13 de janeiro de 1998. Aprova o Regulamento Técnico referente à Informação Nutricional Complementar (declarações relacionadas ao conteúdo de nutrientes), constantes do anexo desta Portaria. Portaria INMETRO nº 157, de 19 de agosto de 2002. Aprova o Regulamento Técnico Metrológico estabelecendo a forma de expressar o conteúdo líquido a ser utilizado nos produtos pré-medidos. ✓ INSTRUÇÃO NORMATIVA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 64, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008. Aprova o Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 46, DE 6 DE OUTUBRO DE 2011. Estabelece o Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos de Produção, bem como as listas de substâncias e práticas permitidas para uso nos Sistemas Orgânicos de Produção, na forma desta Instrução Normativa e de seus Anexos I a VIII. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 11, DE 20 DE OUTUBRO DE 2000. Aprova o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel. http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000083199.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022324.PDF http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000022321.PDF 36 2.5 Síntese da Unidade Nesta Unidade, discutimos sobre as Boas Práticas, legislação cujos conceitos básicos nos permitem apresentar alguns exemplos de requisitos para sua implantação na área de produção de alimentos, bem como para o aumento da qualidade deles. 2.6 Para saber mais Livros • Boas Práticas de Fabricação (Embrapa) Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/132846/1/DOC-120.pdf Sites • http://portal.anvisa.gov.br/legislacao#/ • http://www.agricultura.gov.br/legislacao • http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar- animal/legislacao Dica de Leitura Gerenciamento da Segurança dos Alimentos e da qualidade na Indústria de alimentos http:// www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/72762/000870926.pdf https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/132846/1/DOC-120.pdf http://portal.anvisa.gov.br/legislacao#/ http://www.agricultura.gov.br/legislacao http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar-animal/legislacao http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar-animal/legislacao http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/72762/000870926.pdf 37 • https://www.youtube.com/watch?v=Ldve6I_Gb4U - Qualidade Na Indústria de Alimentos: Conceitos Básicos • https://www.slowfoodbrasil.com/arca-do-gosto/produtos-do-brasil/1006-queijo- da-serra-da-canastra - Queijo da Serra da Canastra 2.7 Atividades Agora que você aprendeu sobre os requisitos necessários para a implantação das Boas Práticas na produção de alimentos, escolha um alimento e elabore uma lista de requisitos para cada etapa da cadeia de produção. https://www.youtube.com/watch?v=Ldve6I_Gb4U 38 Unidade 3 Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) Nesta Unidade, vamos estudar sobre o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), que é um importante requisito para o registro do produto/alimento junto ao Serviço de Inspeção Federal (SIF). 3.1 Histórico do APPCC O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC ou HACCP) é um método embasado na aplicação de princípios técnicos e científicos de prevenção, que tem por finalidade garantir a inocuidade dos processos de produção, manipulação, transporte, distribuição e consumo dos alimentos. Esse conceito cobre todos os fatores que possam afetar a segurança do alimento (ATHAYDE, 1999). O Sistema APPCC é uma técnica sistemática e racional para se prevenir a produção de alimentos contaminados, baseada em análises e evidências científicas. Representa uma atitude proativa para prevenir danos à saúde e enfatizar a prevenção de problemas, ao invés de se focar no teste do produto final. Pode ser utilizado em qualquer estágio da cadeia de produção de alimentos, desde a produção primária até a distribuição. Embora o APPCC seja um sistema amplo para a garantia da inocuidade, da qualidade e da integridade do alimento, este não deve ser considerado único e independente. Considera-se o APPCC uma ferramenta para controle de processo. 39 Como dito nas Unidades anteriores, as BPF e os PPHO constituem-se como pré- requisitos essenciais à implantação do APPCC. Historicamente este processo teve seu início em 1970, a partir de uma série de fatos ocorridos nos Estados Unidos em relação a problemas de segurança dos produtos que estavam sendo consumidos, originando o questionamento de que em 1969 foram capazes de enviar o homem à lua, contudo em 1970 ainda temos incidentes que comprometem a segurança dos nossos produtos alimentícios, havendo a necessidade de se promover uma mudança na forma de desenvolver e produzir os alimentos de modo mais científico e controlado (BENNET & STEED, 1999). O termo “alimento seguro” como visto na Unidade 1 é um conceito que está crescendo na conjuntura global, não somente pela sua importância para a saúde pública, mastambém pelo seu importante papel no comércio internacional (BARENDSZ, 1998). Esse sistema foi utilizado nos anos 60, pela Pillsburg Company, junto com a NASA (National Aeronautics and Space Administration) e o U.S. Army Laboratories em Natick, pela primeira vez, com o objetivo de desenvolver um programa de qualidade, por meio de algumas técnicas, visando ao fornecimento de alimentos seguros para os astronautas da NASA (BENNET & STEED, 1999). A legislação em segurança do alimento é geralmente entendida como um conjunto de procedimentos, diretrizes e regulamentos elaborados pelas autoridades, direcionados para a proteção da saúde pública. O APPCC foi uma ferramenta desenvolvida originalmente pelo setor privado para garantir a segurança do produto e introduzida na legislação de vários países (JOUVE, 1998). 3.2 Conceituação de APPCC O conceito de APPCC permite um estudo sistemático para identificar os perigos, avaliar a probabilidade deles acontecerem durante o processamento, a distribuição ou o uso do produto e definir meios para controlá-los (ILSI, 1997). 40 Trata-se de um método embasado na aplicação de princípios técnicos e científicos de prevenção, que tem por finalidade garantir a inocuidade dos processos de produção, manipulação, transporte, distribuição e consumo dos alimentos De acordo com Ilsi (1997), segundo o “Codex Alimentarius”, o sistema de HACCP consiste em seguir os seguintes princípios: ✓ Identificar os perigos e analisar os riscos de severidade e probabilidade de ocorrência; ✓ Determinar os pontos críticos de controle necessários para controlar os perigos identificados; ✓ Especificar os limites críticos para garantir que a operação está sob controle nos pontos críticos de controle (PCC); ✓ Estabelecer e implementar o monitoramento do sistema; ; ✓ Executar as ações corretivas quando os limites críticos não foram atendidos; ✓ Verificar o sistema; e ✓ Manter registros. O programa envolve o estudo sistemático dos ingredientes, do produto em si, suas condições de processamento, manuseio, estocagem, embalagem, rotulagem, público- alvo e seus hábitos, permitindo identificar, no fluxograma do processo, áreas suscetíveis que possam contribuir para um perigo em potencial e também determinar os pontos críticos de controle. 41 3.3 Definições e Conceitos Ação Corretiva Procedimento ou ação a ser tomada quando se verificar que uma variável encontra-se fora dos limites estabelecidos. Análise de Perigos Consiste na avaliação de todas as etapas envolvidas na produção de um alimento específico, desde a obtenção das matérias-primas até o uso pelo consumidor final, para: ✓ Identificar a presença de perigos nas matérias-primas; ✓ Identificar no processo fontes potenciais de ocorrências de perigos; ✓ Avaliar a possibilidade de sobrevivência ou multiplicação de microrganismos e inclusão de materiais estranhos durante o processo; ✓ Avaliar a gravidade dos perigos identificados. Árvore decisória Identificação de pontos críticos de controle: sequência lógica de questões para determinar se uma matéria-prima ou ingrediente, ou etapa do processo para um determinado perigo é ou não um ponto crítico de controle. Avaliação Programa de APPCC: revisões periódicas documentadas do programa de APPCC com objetivo de: ✓ Modificar as necessidades do processo. ✓ Controlar: gerenciar as condições da operação para mantê-la de acordo com os critérios pré-estabelecidos (controlar um processo). 42 Controle Estado no qual os procedimentos corretos estão sendo aplicados e os critérios estão sendo obedecidos (o processo está sobre controle). Critério: Requisito no qual é baseada a tomada de decisão ou julgamento. Defeito Crítico: Desvio ocorrido no PCC, podendo resultar em um perigo. Desvio Não atendimento dos limites críticos estabelecidos. Equipe de APPCC Grupo multidisciplinar de pessoas, responsável pelo desenvolvimento de um plano de APPCC. Exames aleatórios Observações ou mensurações para suplementar as avaliações programadas requeridas pelo programa de APPCC. Limite crítico Limite que deve ser seguido para cada medida preventiva associada com um ponto crítico de controle. Limite de segurança Valores ou atributos que são os mais estritos que os limites críticos e que são usados para reduzir os riscos de desvio, intimamente relacionados ao padrão pré-estabelecido por cada indústria. 43 Medida Preventiva Fatores físicos, químicos ou biológicos que podem ser utilizados para eliminar, reduzir ou prevenir perigos à saúde identificados. Monitorar: Conduzir uma sequência planejada de observações ou mensurações para avaliar se um PCC está sobre controle e para produzir um registro preciso para verificações futuras. Monitorização Contínua Coleta e registros ininterrupto de dados, tais como registro contínuo de temperatura em um gráfico. Perigo Contaminação inaceitável de natureza física, química ou biológica que leva o produto a ser impróprio para o consumo. Plano de APPCC Documentação escrita baseada nos princípios de APPCC, em que constam todas as etapas e procedimentos a serem seguidos para assegurar o controle de um procedimento ou processo específico. Ponto de controle Qualquer produto, etapa ou procedimento no qual fatores biológicos, físicos ou químicos podem ser controlados para garantir a qualidade do produto. Ponto Crítico de Controle Procedimento pelo qual se aplicam medidas preventivas de controle com o objetivo de eliminar, prevenir ou reduzir riscos que podem causar algum problema à saúde do consumidor. 44 Revalidação do plano de APPCC É o aspecto da verificação na qual uma revisão periódica documentada de um plano de APPCC é feita pela equipe de APPCC com o propósito de modificar o plano se necessário. Risco É a estimativa da probabilidade de ocorrência de um perigo. Sistema de APPCC: é o resultado da implantação do programa de APPCC. Validação do programa de APPCC Revisão inicial pela equipe de APPCC para assegurar que todos os elementos do plano de APPCC são adequados. Variáveis São características de natureza física, química, biológica ou sensorial. Todos os PCC devem ter suas variáveis estabelecidas. Verificação ou auditoria Uso de métodos, procedimentos ou testes, além dos usados na monitorização, para determinar se o sistema de APPCC está em conformidade com o plano de APPCC e/ ou se o plano de APPCC precisa de modificação ou revalidação. Verificações aleatórias Observações ou medidas levadas a cabo para suplementar as avaliações programadas requeridas pelo plano APPCC. 3.4 Programas pré-requisitos para implantação de um plano de APPCC Programas pré-requisitos são definidos como procedimentos universais usados no controle das condições de higiene, deterioração da matéria-prima e produtos, fraude econômica, entre outros que contribuem para a total segurança do produto. 45 Documentados antes de se tentar estabelecer um plano de APPCC, não sendo este um programa isolado, mas uma parte de um programa de controle mais abrangente. Como exemplo, podemos citar as Boas Práticas de Produção (BPF), entendidas como os processos e procedimentos que controlam as condições operacionais dentro de um estabelecimento, de modo a facilitar a produção de alimentos inócuos. Um programa de BPF deverá incluir procedimentos relativos a: Atendimento às normas legais vigentes para equipamentos e instalações e sua adequação ao processo produtivo; Recepção e armazenamento de matéria-prima; Processos de elaboração que visem à sanidade, integridade e ao valor nutritivo dos produtos; Observância das característicasfísico-químicas próprias definidas para o produto; Manutenção, limpeza e desinfecção dos equipamentos e instalações, com controle de pragas; Vetores de contaminação; Treinamento e higiene do pessoal; Armazenamento de produto acabado; Informações ao mercado consumidor; Acompanhamento e monitorização dos resíduos industriais; Mecanismos e procedimentos para descarte ou reprocessamento de produtos não- conformes; 46 Ações efetivas visando à destinação racional das embalagens após o consumo final. O código de BPP, a princípio, é geral, produzido pelas associações industriais, devidamente aprovado pelo Ministério da Agricultura, podendo ser necessários, não obstante, códigos específicos para cada tipo de indústria, preparados e aplicados por elas. Neste caso, a autoridade competente avaliaria cada código, sugeriria e/ ou aceitaria mudanças, requereria uma revisão quando fosse necessário e faria auditorias do código específico em cada empresa, em vez de diversificar a higiene diariamente. O autocontrole não significa uma falta de controle por parte das autoridades competentes. Na prática, o controle diário e detalhado nas condições de higiene passa a ser uma responsabilidade da própria indústria, enquanto que o Poder Público se reserva o direito de supervisar e auditar os programas, tanto o plano de APPCC, como outros. ETAPAS NA IMPLANTAÇÃO DE UM PLANO A implantação de um programa de APPCC é efetuada por uma sequência lógica de atividades, conforme as seguintes etapas: ✓ Formação da Equipe O estudo de APPCC requer a aquisição e avaliação de dados técnicos. Portanto a composição da equipe dever ser multidisciplinar de forma a reunir conhecimentos específicos e experiência adequada ao processo e produto em estudo. Os requisitos necessários para a composição da equipe são: ✓ Profundos conhecimentos do processo de produção; ✓ Grande poder de convencimento, liderança, capacidade de multiplicação de conhecimentos e formação de opinião; 47 ✓ O coordenador do grupo deve estar devidamente capacitado no método de APPCC. Descrição do Produto A Equipe deve examinar as características do produto, desde a formulação até o consumidor final, levando em consideração todos os descritos a seguir, para determinar a probabilidade e a gravidade dos perigos potenciais e a segurança do produto: Formulação: de matérias-primas e ingredientes utilizados, assim como variáveis que possam influenciar na segurança do produto; Processamento e embalagem: variáveis de processamento e da embalagem que possam oferecer perigos ao produto final; Armazenamento e manuseio: condições de tempo e de temperatura e manuseio nos armazéns da fábrica, nos centros de distribuição, nos pontos de venda e pelo consumidor; Hábitos do consumidor: o uso que se espera do produto dever ser baseado na utilização normal pelo consumidor final; Consumidor: o consumidor final pode ser o público em geral ou segmento particular da população. Elaboração do Fluxograma de Processo e Verificação ”in situ” O objetivo do fluxograma é fornecer uma descrição clara e simples das etapas do processo e deve cobrir todas as etapas além daquelas que estão sob o controle da fábrica, devendo conter informações, tais como: ✓ Ingredientes; 48 ✓ Etapas da embalagem; ✓ Condições de processo; ✓ pH; atividade de água; contaminação biológica, física ou química; inativação de nutrientes essenciais; ✓ Formação de substâncias inaceitáveis, projeto das instalações e equipamentos; ✓ Procedimentos sanitários; saúde, higiene e educação dos empregados; informações de rotulagem; ✓ A última fase é a própria identificação dos potenciais pontos de controle, estimando a possibilidade de risco em cada um deles. Identificação, Listagem e Avaliação dos Perigos nas Etapas do Processo e Medidas Preventivas A identificação dos perigos potenciais se faz através da avaliação de todos os ingredientes e etapas do processo, conforme descrição prévia no fluxograma do processo. A avaliação do perigo visa determinar quais os perigos que deverão ser gerenciados como PCC (Ponto Crítico de Controle) e quais deles serão gerenciados por programas pré-requisitos, de acordo com a seguinte chave de avaliação de perigos: AVALIAÇÃO DO PERIGO POTENCIAL (chave decisória) Q1: Sua consequência está associada à ingestão do produto ou à sua perda de qualidade e identidade? Sim → Q2 Não → R2 Q2: Existe risco de sério comprometimento da saúde do consumidor ou da perda de qualidade e identidade do produto? 49 Sim → Q3 Não → R2 Q3: Baseado nos dados disponíveis e na situação corrente, a probabilidade de ocorrência é inaceitável? Sim → R1 Não → R2 Q1: O perigo deve ser controlado no Plano de APPCC. Utilize a árvore de decisão Transcrito pela Food Design* para analisar o processo e determinar o ponto crítico de controle apropriado. Q2: O perigo não deve ser controlado no Plano de APPCC. O mecanismo de controle apropriado deve ser um componente de um programa pré-requisito ou outro programa de controle. Após a identificação dos perigos potenciais, a equipe deve considerar quais são as medidas preventivas que podem ser tomadas para evitar ou minorar o efeito de cada perigo. Um risco ou perigo específico pode exigir mais de uma medida preventiva, sendo também que vários riscos ou perigos podem ser controlados por uma única medida preventiva específica. Identificação dos Pontos Críticos de Controle – PCC Para identificar se um ponto de controle é ou não crítico, pode-se usar a árvore de decisão a seguir: Q1: O controle nesta etapa é necessário para prevenir, reduzir ao mínimo ou eliminar o perigo? Sim→ Q2 Não→ Não é um PCC Q2: Há medidas de controle para o perigo identificado? Sim→ Q3 50 Não→ Modificar (a etapa, o processo, ou o produto). Após, voltar para Q1. Q3: Esta etapa previne, reduz ao mínimo ou elimina o perigo? Sim→ É um PCC Não→ Q4 Q4: Poderiam os perigos para a segurança da saúde, para a perda da qualidade e de fraude econômica, alcançar níveis inaceitáveis? Sim→ Q5 Não→ Não é um PCC Q5: Há alguma etapa subsequente que poderá prevenir, reduzir ao mínimo ou eliminar o perigo? Sim→ Não é um PCC Não→ É um PCC Exemplificando um fluxograma contendo O PC e PCC 51 Podemos de uma maneira simplificada resumir a cadeia de produção apícola no fluxograma a seguir Figura 3.1 Fluxograma Geral na Produção de Alimentos Fonte: elaborada pela autora Procedimentos de Controle e Modificações Os procedimentos de controle podem ser dispositivos, métodos ou meios usados para manter sob controle um determinado PCC. Cada procedimento de controle deve estar associado a uma ou mais medidas preventivas que devem ser adequadamente estabelecidas para assegurar a prevenção, redução ou eliminação do perigo. Exemplos de medidas preventivas: ✓ Controle de tempo e temperatura; ✓ Capacitação de pessoal; ✓ Calibração de balanças e termômetros; ✓ Uso de aditivos oficialmente aprovados. 52 Estabelecimento de Limites Críticos Para cada limite crítico deve haver uma ou mais medidas preventivas de controle, associadas a cada PCC, identificadas no processo, que devem ser adequadamente controladas para assegurar o transcrito pela Food Design*: a prevenção, eliminação ou redução do perigo a níveis aceitáveis. Cada medida preventiva de controle estará associada aos limites críticos, que servem de fronteira de segurança de cada PCC. Limites de Segurança Em alguns casos podem-se definir limites de segurança para evitar que os limites críticos sejam ultrapassados. Monitorização dos Pontos CríticosA vigilância dos PCC por meio de observações e medições de limites críticos, efetuados com maior continuidade possível, dará a informação oportuna para detectar se o processo se mantém sob controle e se as medidas preventivas são efetivas para mantê- lo. Estabelecimento das Ações Corretivas Quando se detectar, durante a monitorização do processo, que a variável está fora dos limites estabelecidos, deve-se aplicar as ações corretivas apropriadas imediatamente para colocar o processo sob controle. Para cada PCC identificado, deve estar associada uma ou mais correções. Estabelecimento de um Sistema de Registro e Arquivo Todos os dados, informações, registros e documentos relacionados ao estudo de APPCC, monitorização, atualização do sistema de APPCC, verificação e resultados laboratoriais devem ser registrados em formulários próprios e mantidos em arquivos para avaliação, quando necessário, por auditores da qualidade, fiscais do Ministério da Agricultura, clientes, etc. Devem-se registrar, também, os desvios, as ações corretivas e as causas dos desvios. 53 Os registros Devem estar acessíveis, ordenados e arquivados durante um período que deve ser estabelecido de acordo com a política da empresa, exigência legal ou conforme requisitos dos clientes, não sendo menor que o tempo de vida na prateleira dos produtos comercializados. Implantação do Sistema de APPCC no Processo Antes de implantar o sistema, há necessidade de treinar todos os envolvidos, enfocando os princípios de APPCC, responsabilidade, envolvimento e compromisso na correta aplicação do programa. No início da implantação, a equipe deve acompanhar todas as atividades relacionadas ao programa com o objetivo de oferecer esclarecimentos e treinamento in loco aos operadores e fazer correções do sistema até que este se consolide. Avaliação do Sistema, Auditoria Interna e Autocontrole Esta etapa será documentada e tem como objetivo verificar se os procedimentos relacionados ao sistema de APPCC estão sendo executados corretamente e também de permitir avaliar se este foi bem concebido para garantir a fabricação de produtos que não ofereçam perigos para a saúde pública, perda de qualidade, evitando fraude econômica e mantendo a identidade dos mesmos. Permite também uma avaliação do programa de APPCC para melhoria contínua, identificação das necessidades treinamento do pessoal e melhoria da comunicação entre os vários níveis hierárquicos da empresa. Esta avaliação é especial, importante e necessária sempre que ocorra modificação no processo de elaboração do produto, modificação esta que deverá ser reavaliada pelo serviço de inspeção vegetal do Ministério da Agricultura. 54 AUDITORIA PELA AUTORIDADE FISCALIZADORA Serão efetuadas auditorias pelo órgão fiscalizador do Ministério da Agricultura com o objetivo de verificar e avaliar a eficácia e adequação do plano de APPCC da indústria baseando-se em: ✓ Mapa de perigos e medidas preventivas; ✓ Inspeção ao longo de todo o processo produtivo para a comprovação de que os pontos críticos estão sendo monitorados; ✓ Registro de ocorrências em cada ponto crítico e sua posição em relação aos limites de segurança e os limites críticos; ✓ Mapa de procedimentos de monitorização de desvios e de medidas corretivas adotadas; ✓ Relatório de comunicação ao coordenador do grupo dos desvios ocorridos e as medidas correlatadas adotadas; ✓ Relatórios de ocorrências externas tipo: reclamação de consumidores; ✓ Laudos analíticos do produto final; ✓ Documentação relativa à aquisição de insumos e matérias-primas, venda de produtos e posição de estoque; ✓ Discussão de alterações na sistemática de controle em relação ao plano original. A auditoria será formalizada através de um relatório, onde serão informadas as ocorrências verificadas. 55 CONCESSÃO DO USO DA MARCA DE CONFORMIDADE A marca de conformidade da Inspeção Vegetal será concedida somente àquelas empresas que adequarem integralmente seu sistema produtivo a este programa; a concessão será disciplinada através de portaria da Secretaria de Defesa Agropecuária, na qual estão definidos: Pré-requisitos básicos técnicos e de ordem legal para implantação do programa; Prazo de utilização e revalidação da concessão de utilização; Responsabilidade das equipes de implantação na indústria e equipes técnicas do órgão certificador; Frequência das auditorias no sistema; Logotipo da marca de conformidade da Inspeção Vegetal para utilização nos rótulos dos produtos. Este regulamento técnico foi transcrito a partir do site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) – Food Design Consultoria e Planejamento Alim. Ltda. (www.fooddesign.com.br) 3.5 Síntese da Unidade Nesta Unidade, discutimos sobre a importância da Qualidade na Apicultura, assim como apresentamos as análises de APPCC, além dos Tipos de Contaminação e de Perigos que podem estar presentes nos alimentos. http://www.fooddesign.com.br/ 56 3.6 Para saber mais Livros • Controle de Qualidade de Produtos Apícolas. Gustavo Frederico Ribeiro Peão. Disponível na biblioteca virtual da EAD Unitau. Sites https://www.youtube.com/watch?v=lFazEEHKqfU Laticínios orgânicos sítio Pé na terra https://www.youtube.com/watch?v=jczmL7w927Y Boas Práticas de Fabricação e Controle - HPPC https://www.youtube.com/watch?v=EpNFx03jIF8 APPCC Indústrias de Alimentos https://www.youtube.com/watch?v=WIrof9_o1MQ Boas práticas de fabricação para agroindústria familiar 3.7 Atividades Escolha um produto e elabore um fluxograma de produção contendo os Pontos Críticos de Controle dele. Registre as possíveis contaminações físico, químicas, biológicas, e as consequências sensoriais 57 58 Unidade 4 Unidade 4 Certificação de Alimentos no Campo Nesta Unidade, vamos conhecer algumas certificações utilizadas na área de alimentos, sua importância e suas finalidades. 4.1 Certificação Regulação e autorização para Fabricação de alimentos e bebidas de origem animal e vegetal. Todas as ações regulatórias no Brasil na área de produção de alimentos, tanto de origem animal como vegetal, são de responsabilidade federal, pelo Ministério de Saúde- ANVISA e Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA. O estabelecimento que está regulamento pelo Serviço de Inspeção Federal, denominado SIF, tem autorização para distribuição e comercialização do alimento em todo território nacional. Quando o estabelecimento requer seu registro junto ao serviço estadual à Inspeção denominada Serviço de Inspeção Estadual (SIE), os alimentos produzidos com essa licença só poderão ser comercializados no estado onde o estabelecimento está instalado. Quando a certificação é feita pelo município é denominada Serviço de Inspeção Municipal - SIM e por consequência a veiculação do produto fabricado só é permitida no município onde o estabelecimento está regularizado. Em 2016, por força do DECRETO No. 8.762, DE 10 DE MAIO DE 2016 foi instituída a “Unificação” do Sistema de Fiscalização na área de Produção Animal. Tal Decreto dispõe sobre a Força Nacional do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (FN-SUASA). Isto significa que em última instância o produto certificado com o registro de Inspeção Municipal pode ser comercializado em todo o país. Porém, 59 como ele se apresenta de forma não obrigatória, não são todos os estados que aderiram ao referido decreto. Certificação é a declaração formal de comprovação, emitida por quem tenha credibilidade ou autoridade legal/moral. Ela deve ser formal, isto é, deve ser feita seguindo um ritual e ser corporificada
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