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Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Centro de Tecnologia do Vestuário de Blumenau TTTTRRRRAAAATTTTAAAAMMMMEEEENNNNTTTTOOOO DDDDEEEE EEEEFFFFLLLLUUUUEEEENNNNTTTTEEEESSSS IIIINNNNDDDDUUUUSSSSTTTTRRRRIIIIAAAAIIIISSSS Blumenau 2001 SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 1 TTTTRRRRAAAATTTTAAAAMMMMEEEENNNNTTTTOOOO DDDDEEEE EEEEFFFFLLLLUUUUEEEENNNNTTTTEEEESSSS IIIINNNNDDDDUUUUSSSSTTTTRRRRIIIIAAAAIIIISSSS SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 2 José Fernando Xavier Faraco Presidente da FIESC Sérgio Roberto Arruda Diretor Regional do SENAI/SC Antônio José Carradore Diretor de Educação e Tecnologia do SENAI/SC Antônio Demos Diretor do CTV – Blumenau SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 3 Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina Serviço Regional de Aprendizagem Industrial Centro de Tecnologia do Vestuário de Blumenau TTTTRRRRAAAATTTTAAAAMMMMEEEENNNNTTTTOOOO DDDDEEEE EEEEFFFFLLLLUUUUEEEENNNNTTTTEEEESSSS IIIINNNNDDDDUUUUSSSSTTTTRRRRIIIIAAAAIIIISSSS Blumenau 2001 SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 4 É autorizada a reprodução total ou parcial deste material, por qualquer meio ou sistema, desde que a fonte seja citada. Organizador Sergio Rosa Revisão 00 Outubro/2001 S474t SENAI Tratamento de efluentes industriais / Sérgio Rosa (Org.) – Blumenau : SENAI/CTV, 2001. 70 p. : il. 1. Tratamento de efluentes industriais I. ROSA, Sérgio II. Título CDU: 504.06 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Centro de Tecnologia do Vestuário de Blumenau e-mail: blumenau@senai-sc.ind.br site: www.senai-ctv.ind.br Rua São Paulo, 1147 – Victor Konder CEP: 89012-001 – Blumenau – SC Fone: (0XX47) 321-9600 Fax: (0XX47) 340-1797 SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 5 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.................................................................................... 06 LISTA DE TABELAS.................................................................................... 07 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1.1 O ciclo hidrológico e a industrialização.................................................. 1.2 Processo de autodepuração dos cursos d’água.................................... 1.3 Algumas definições................................................................................ 09 10 12 14 2 CARACTERÍSTICAS DOS EFLUENTES................................................. 2.1 Métodos analíticos para caracterização de águas................................. 2.2 Coleta de amostras................................................................................ 2.4 Preservação das amostras.................................................................... 15 17 18 19 3 PROCESSOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES............................... 3.1 Processos de tratamento preliminares.................................................. 3.2 Processos físicos e químicos – Tratamento primários e avançados..... 20 22 24 4 TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTES........................................ 4.1 Introdução à microbiologia aplicada ao tratamento de efluentes........... 4.2 Microorganismos de importância para os processos de tratamento biológico....................................................................................................... 4.3 Influência de fatores ambientais na atividade dos microorganismos.......................................................................................... 4.4 Parâmetros de controle de processo..................................................... 38 39 42 47 49 5 SISTEMAS AERÓBIOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES................ 5.1 Lodos ativados....................................................................................... 5.2 Lagoas aeradas..................................................................................... 5.3 Lagoas de estabilização......................................................................... 5.4 Filtro biológico........................................................................................ 54 54 56 57 58 6 SISTEMAS ANAERÓBIOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES........... 6.1 Processo de contato anaeróbico........................................................... 6.2 Lagoas anaeróbias................................................................................ 6.3 filtros anaeróbios.................................................................................... 6.4 Reator anaeróbios de manta de lodo UASB.......................................... 59 60 61 62 63 7 REMOÇÃO DE NUTRIENTES.................................................................. 65 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 70 SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Esquema simplificado do ciclo hidrológico................................ 11 Figura 2 Esquema mostrando os princípios envolvidos no processo de flotação...................................................................................... 28 Figura 3 Esquema geral de flotados com ar dissolvido........................... 30 Figura 4 Zonas de sedimentação num sedimentador contínuo............... 32 Figura 5 Modelo típico decantador vertical com tração central................ 32 Figura 6 Modelo típico decantador vertical com compartimentação........ 33 Figura 7 Modelo típico decantador horizontal com esgotamento total..... 33 Figura 8 Um leito de secagem de lodo.................................................... 35 Figura 9 Desenho esquemático de um digestor de lodo.......................... 36 Figura 10 Fases típicas de crescimento microbiano em batelado............. 42 Figura 11 Abundância de grupos de microorganismos relacionados ao substrato remanescente............................................................ 44 Figura 12 Representação anaeróbica com os principais grupos de bactérias.................................................................................... 46 Figura 13 Esquema simplificado de tratamento por lodo ativado.............. 54 Figura 14 Esquema de aeradores de superfície e tipo turbina.................. 56 Figura 15 Desenho esquemático de um reator anaeróbico por contato.... 60 Figura 16 Desenho esquemático de filtros anaeróbios.............................. 63 Figura 17 Desenho esquemático de um reator anaeróbio de manto de lodo UASB................................................................................. 64 Figura 18 Esquema simplificado de um processo de remoção de nitrogênio................................................................................... 67 Figura 19 Desenho esquemático do processo Bardempho de 5 etapas... 69 SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Resumo de dados de coleta e preservação de amostras............ 20 Tabela 2 Processos e operações com as suas aplicações no tratamento de efluentes.................................................................................. 21 Tabela 3 Alguns exemplos de gêneros microbianos presentes em lodos ativados........................................................................................ 43 Tabela 4 Microorganismos indicadores das condições de depuração........45 Tabela 5 Relação entre filamentos e flocos e as características do lodo.... 45 Tabela 6 Alguns exemplos de bactérias que participam do processo anaeróbico.................................................................................... 47 SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 8 SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 9 1 – INTRODUÇÃO A crescente preocupação das autoridades constituídas e da sociedade em geral com as relações homem X meio ambiente fez com que os vários segmentos econômicos adotassem medidas de controle com relação aos despejos industriais, agrícolas e urbanos. Quase todos os dias são noticiados fatos relativos à agressão do meio ambiente ou então sobre soluções, desenvolvimentos tecnológicos etc. Isto fez com que se abandonasse a idéia de que a poluição é um mal necessário e fruto do desenvolvimento econômico. Houve época em que certas municipalidades conclamavam os empresários poluidores a se instalarem no município e hoje ocorre exatamente o contrário, pois o custo social destes empreendimentos é, em alguns casos, muitas vezes maior que os benefícios gerados. Muitos países desenvolvidos criaram inclusive artifícios para barrar a importação de produtos de indústrias, em alguns casos de países, sem este comprometimento ambiental. É o caso dos países da Comunidade Econômica Européia (CEE) com a criação do SELO VERDE, necessário obter-se para poder exportar aos países da CEE. Mais recente temos as normas da série ISO 14000 que também estão contribuindo para que várias indústrias adotem sistemas de tratamento de seus dejetos num curto espaço de tempo. É claro que os problemas ambientais não se restringem apenas à atividade industrial e sua solução não está apenas dependente deste setor. A poluição urbana e agrícola em muitas regiões urbanas deve merecer uma atenção especial dos governantes e planificadores da vida comunitária das grandes cidades. Não se resolverá o problema da poluição sem antes se ter uma melhor distribuição de renda, um melhor nível qualitativo e quantitativo do ensino, desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores agrícola e industrial. Já o setor industrial tem hoje uma maior consciência de que a poluição é originária do desperdício. Alterações no processo são muito mais eficazes no combate à poluição, não importando qual tipo de tratamento utilizado. Nos últimos 100 anos os processos de tratamento tiveram um impulso de desenvolvimento pelo avanço da biotecnologia e sem sombra de dúvidas o progresso futuro será ainda maior pela velocidade com que são gerados novos conhecimentos na área da microbiologia e bioquímica dos processos de tratamento. A seguir apresentaremos algumas datas importantes no desenvolvimento dos processos de tratamento: SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 10 ANO EVENTO PAÍS 60 A.C. Deposição de esgoto urbano em áreas específicas Grécia 30 D.C. Instalação de curtumes em áreas fora do perímetro urbano Roma 1760 Primeira estação de tratamento de lodo urbano Inglaterra 1762 Precipitação química de esgotos Inglaterra 1812 Digestão anaeróbica do lodo urbano França 1860 Compostagem e uso agrícola do lodo digerido Alemanha 1876 Fossa Séptica EUA 1891 Digestão de lodo em lagoas Alemanha 1895 Uso de metano produzido na digestão de esgoto Inglaterra 1904 Sistema Imhoff Alemanha 1904 Travis de digestão Inglaterra 1906 Primeira unidade de filtro biológico EUA 1908 Filtro biológico EUA 1908 Digestão esterco bovino Índia 1916 Lodo Ativado EUA 1930 Primeira instalação de lodo ativado EUA 1950 Degradação com bactérias específicas EUA 1967 Associação de bactérias EUA 1971 Digestão anaeróbia em duas fases EUA 1980 Fluxo ascendente Holanda 1984 Leito fluidizado Holanda 1990 Degradação de cloroligninas por via enzimática EUA Observa-se deste resumo de datas importantes que nestes últimos cinqüenta anos tem-se uma maior velocidade de geração de tecnologia pois começa-se a conhecer os processos fundamentais do tratamento biológico, ficando cada vez menos dependentes do empirismo como a medida de poluição pelos índices globais de Demanda Química de Oxigênio, tempo de retenção hidráulica e eficiência medida apenas em percentual de remoção de Demanda Biológica de Oxigênio. Este curso não tem a pretensão de esgotar este assunto nestas vinte horas, mas trazer informações sobre a ciência aplicada aos tratamentos físicos, químicos e biológicos permitindo, quem sabe, obter-se esclarecimentos suplementares para os futuros projetos. 1.1. O ciclo hidrológico e a industrialização Toda a vida depende de água. Água limpa! Por milhares de anos, a natureza proporciona água limpa aos seres vivos por meio da evaporação. Quando a água evapora deixa para trás as impurezas adquiridas, essa água evaporada, forma nuvens que resultam em chuva. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 11 Essa é uma forma como a natureza “limpa” a água suja e a recicla para a terra. Esse processo é parte do que chamamos de ciclo hidrológico ou ciclo da água. A figura 1 mostra o que acontece no ciclo hidrológico sempre que a água é exposta à atmosfera, o calor do sol a evapora e esse vapor de água produzido sobe. Portanto, evaporação significa a transformação de água em vapor. A umidade exposta à atmosfera em diversas origens as principais são: oceanos, rios, lagos, pântanos e transpiração vegetal e animal. Por exemplo, em um dia quente uma grande macieira pode transpirar, ou seja, pode liberar, aproximadamente três litros e meio de água por minuto. O vapor de água produzido sobe, até encontrar regiões mais frias, onde condensa em gotículas. Formando nuvens. Quando a temperatura da nuvem diminui, as gotículas se juntam, formando gotas maiores, Como ficam pesadas, caem na forma de chuva. Se a temperatura do ambiente for muito baixa, as gotas de água podem solidificar-se e cair sobre a terra na forma de neve ou granizo. Ou seja, a água volta para a terra, rios, lagos e mares. A água que cai na terra se infiltra no solo e forma os lençóis de água subterrâneos, que originam os fontes e os regatos. Estes, reunidos, vãos desaguar nos mares, onde é exposta novamente ao ar quente e começa a evaporar. Assim, o ciclo hidrológico se repete. Além do ciclo hidrológico existem significativas melhorias na qualidade destas águas por intermédio de ação biológica (que veremos mais detalhadamente no capítulo 2). A água na natureza, não é pura: gases, sais, sólidos e uma infinidade de substâncias químicas formam uma complicada mistura e dentro desta existe uma coleção extraordinária variada de vida animal e vegetal responsável pela limpeza, em parte, das águas superficiais. Figura 1 – Esquema simplificado do ciclo hidrológico SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 12 Mas com o desenvolvimento do homem e seus modernos meios de vida, o sistema natural de limpeza das águas ficou sobrecarregado. A forma natural de purificação da água não foi mais capaz de manter o meio ambiente suficientemente inalterado. Assim, o homem teve que ajudar a natureza. As estações de tratamento de efluentes líquidos são feitas para reduzir a quantidade de água suja que o homem devolve para o meio ambiente. Essas estações de tratamento nos ajudam no controle da poluição e de doenças de veiculação hídrica. Com a explosão demográfica e mais indústrias surgindo, devido a uma necessidade crescente de desenvolvimento da sociedade humana, podemos perceber a grande importância e responsabilidade das pessoas que têm a função de manter uma estação de efluentes em perfeito funcionamento. Apesar das novas tecnologias maislimpas de produção, sempre haverão resíduos a serem tratados, pois a perfeição quando possível, tem custo proibitivo, ou seja, pouca viabilidade econômica. Assim, a responsabilidade do trabalho dessas pessoas vai muito além da própria estação de tratamento. Todos os usuários das fontes de água que recebem os efluentes são afetados, assim como toda a vida aquática existente no corpo de água receptor. Isso significa que as pessoas responsáveis pelo funcionamento da estação têm que ter realmente conhecimento do que estão fazendo, pois do seu trabalho depende a saúde e até mesmo a vida de inúmeras pessoas, plantas e animais. 1.2. Processo de autodepuração dos cursos d’água Provavelmente você concorda que o efluente deve ser tratado. Mas você sabe por que? • A primeira razão é evitar a transmissão de doenças através da água contaminada • A segunda é preservar e proteger o ambiente aquático e as diversas formas de vida que dele dependem. O homem muitas vezes lança seus resíduos diretamente em rios, lagos, e mares que servem de corpos receptores, esperando que a natureza se encarregue de depurá-los. Isto realmente ocorre. O processo de autodepuração natural mantém o corpo receptor limpo e benéfico aos seres vivos, enquanto a carga poluente não for muito grande. Se muita carga poluente for lançada na água, a autodepuração natural não será capaz de manter a situação original e condições inconvenientes para a sobrevivência dos seres aquáticos serão geradas no corpo receptor. Todas as formas de vida aquática original podem ser exterminadas e corpo receptor fica inadequado para usa humano. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 13 Quando um efluente líquido, com um alto teor de matéria orgânica é descartado em um curso d’água, profundas alterações ocorrem neste ecossistema. A matéria orgânica propicia uma intensa proliferação bacteriana, originando uma enorme população de bactérias aeróbias que utilizam o O2 dissolvido no meio para se alimentar dessa matéria orgânica, mantendo estável o seu metabolismo. A restauração do oxigênio dissolvido é promovida pela aeração superficial e pela atividade de organismos fotossintetizantes. Estes, porém, são raros nesta fase devida normalmente à elevada turbidez da água nestes pontos, o que impede a penetração da luz e conseqüentemente a fotossíntese. Assim, o oxigênio dissolvido pode ser consumido totalmente pelas bactérias, fungos e outros organismos aeróbios, instalando-se condições de anaerobiose (falta de oxigênio), em toda a massa d’água ou, pelo menos, nos pontos de maior concentração de lodo orgânico. Caracteriza-se estas condições pela acentuada cor cinza e depósitos escuros de lodo no fundo. Nestes desaparece a vida aeróbia, surgindo, em seu lugar, uma flora e fauna constituídas de organismos capazes de respiração intramolecular, o que dá origem ao desprendimento de bolhas contendo gases tais como metano, gás sulfídrico, mercaptanas e outros, responsáveis pelo ativo mau cheiro característico do ambiente séptico. Tais organismos são denominados anaeróbios. As bactérias são as maiores responsáveis pelo consumo da matéria orgânica contida no efluente, em ambas as formas de respiração, aeróbia e anaeróbia. À medida que a demanda de oxigênio, proporcionada pelo consumo de matéria orgânica pelos microorganismos. Vai sendo satisfeita, começa haver um saldo deste gás que é constantemente introduzido no curso d’água, seja através da superfície em contato com a atmosfera, seja por organismos fotossintetizantes que proliferam em número cada vez maior. Com o consumo da matéria orgânica e superávit de oxigênio, começa a acontecer uma grande redução do número de bactérias, entrando também em declínio o número de protozoários que delas se alimentam. A presença de oxigênio vai sendo cada vez maior, assim como a de organismos fotossintetizantes, notadamente as algas. As águas vão tomando-se mais e mais claras, permitindo a penetração da luz e não mais existe o desprendimento de gases mal cheirosos. Com a oxidação dos compostos de nitrogênio, fósforo, enxofre, etc., ocorre uma fertilização do meio que possibilita o desenvolvimento, além das SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 14 algas, de grande número de larvas e muitos vermes que servem de alimento aos primeiros peixes, mais tolerantes, que começam a aparecer. Desta forma, as águas atingem as condições normais existente antes de se dar a poluição. Entretanto, em virtude da citada oxidação de compostos de nitrogênio, fósforo e enxofre essas águas são muito mais férteis. A produção de algas e, por conseguinte, toda a produtividade da massa líquida, é muito maior. As algas servem de alimento à protozoários, estes a rotíferos, crustáceos e larvas de insetos das quais se alimentam os peixes, restabelecendo-se, assim, o ciclo biodinâmico normal de um manancial. Vemos, portanto, que uma situação onde ocorre o lançamento em um corpo d’água, observa-se que a poluição diminui com o decorrer do tempo ou com a extensão vencida pela correnteza, graças à oxidação biológica da matéria orgânica e a restauração do oxigênio dissolvido que é promovida pela aeração. Porém, não são às vezes em que a capacidade de autodepuração de um curso d’água é suplantada e, então, o que se observa é a paisagem desoladora de um rio tolhido de sua população natural, suas formas de reposição de oxigênio dissolvido que é promovida pela aeração superficial ou atividade de organismos fotossintetizantes. Porém, não raras às vezes em que a capacidade de autodepuração de um curso d’água é suplantada e, então, o que se observa é a paisagem desoladora de um rio tolhido de sua população natural, suas formas de reposição de oxigênio impotente e i predomínio de seres anaeróbios que dotam o corpo d’água de aparência e odor desagradáveis. É importante que se perceba que um rio nestas condições é recuperável, de modo que se ocorrer à minimização das emissões de efluentes, o rio pode regenerar-se através do fenômeno da autodepuração natural dos cursos d’água. Evitar que elevadas cargas poluidoras atinjam os rios é o principal objetivo das estações de tratamento de efluentes. 1.3. Algumas definições Meio Ambiente – Conjunto de condições físicas, químicas e ou biológicas necessárias para a existência de uma comunidade de seres vivos. Ecologia – Ramo da biologia que estuda as relações entre organismos e seu meio. Poluição – Alteração das condições de equilíbrio do meio ambiente. Poluentes – Agentes químicos, físicos ou biológicos causadores de poluição. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 15 Degradação – Conversão de uma substância para um estado (forma) mais simples. Biodegradação – Degradação d matéria orgânica, pela ação de microorganismos, transformando componentes complexos em compostos simples, tais como: sais minerais, gás carbônico e outros. Autodepuração – Capacidade natural dos cursos d’água por meio de ações físicas, químicas e de organismos vivos presentes na água, estabilizar (degradar) matéria orgânica. Oxidação – Destruição da matéria orgânica pela ação do oxigênio contido na água. Renovação de Oxigênio – Fenômeno físico-químico natural, que restitui às águas a quantidade do oxigênio normalmente contida e que tinha sido retirada (consumida) da massa líquida, na oxidação de matéria orgânicas e poluentes. Substância Tensoativa – Substâncias redutoras da tensão superficial dos líquidos (detergentes, por exemplo). Influente – Corrente líquida ou gasosa na entrada de um processo. Efluente – Corrente líquida ou gasosa na saída de um processo. pH – Indica o quanto ácido ou básico está o efluente DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) – Consumo de oxigênio na degradação biológica da matéria orgânica. DQO (Demanda Química de Oxigênio)– Consumo de oxigênio na oxidação da matéria orgânica e inorgânica contida na água. 2 – CARACTERÍSTICAS DOS EFLUENTES De um modo geral o efluente gerado pelas atividades industriais normalmente são variáveis em termos de vazão e/ou composição, pois diferentes operações são realizadas em diferentes setores durante o período de trabalho. Para se definir o processo de tratamento, bem como para se controlar a eficiência dos tratamentos aplicados a um dado efluente é necessário se conhecer as características desse efluente. Características físicas químicas: § Temperatura. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 16 § pH § Turbidez: refração da luz § Cor: colorimetria ou visual § Odor: sensibilidade ao olfato § Material em suspensão: partículas presentes na água sob a forma de suspensões e emulsões com dimensões acima de 0,45 µm. Avaliação do conteúdo orgânico: § Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) - avalia a quantidade de oxigênio dissolvido (OD – em mg/l de O2), que será consumido pelos organismos aeróbios ao degradarem a matéria orgânica. É expressa como DOB5, porque o teste é realizado em 5 dias, no escuro, sem fonte externa de OD, a 20°C, com diluição e semeaduras apropriadas. Após 5 dias, 67 a 75 % da DBO última (total DBO20 ) é satisfeita para maioria dos esgotos domésticos. A DBO remanescente é diferença entre a DBO ultima e a DBO exercida ao final de um dado tempo. A DBO divide-se em demanda carbonácea e demanda nitrogenada. DBO carbonácea - os microorganismos utilizam para oxidar compostos orgânicos em CO2. DBO nitrogenada - ocorre em média após 10 dias de teste e os microorganismos oxidam compostos nitrogenados a nitritos e finalmente nitratos. § Demanda Química de Oxigênio (DQO) – é outro teste indireto de medida que avalia a quantidade de Oxigênio em mg/l (de O2) consumido em meio ácido para degradar matéria orgânica, biodegradável ou não. O teste dura de duas a três horas e pode sofrer interferência de nitratos, piridinas e compostos reduzidos de ferro. Este teste tem sido empregado nas operações de sistema de tratamento de efluentes e para a caracterização de efluentes. § Carbono Orgânico Total (TOC) - estima a quantidade carbono orgânico (mg/l) existente em uma amostra líquida, sem distinguir se é matéria biodegradável ou não. O teste dura cerca de dois minutos e pode ser realizado por dois métodos: SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 17 1. Queima de matéria orgânica a 900°C com Oxigênio puro e detecção do CO2 gerado por espectrofotometria em infravermelho. 2. Oxidação da matéria orgânica a frio e detecção por ultravioleta. Este teste é muito empregado para monitorar águas superficiais e subterrâneas, pois é um potencial formador de metanos halogenados. § Sólidos Suspensos Voláteis (SSV) - utilizados na caracterização de amostras líquidas e sólidas para verificar a possibilidade de degradação biológica dos sólidos em suspensão. Tem sido empregado para efluentes, lodos de estação de tratamento de esgoto e para estimar o conteúdo orgânico de sedimentos de fundo em corpos d′água. Avaliação da Vazão: Conforme já mencionado, a vazão é um parâmetro extremamente variável dependendo da atividade industrial do seu porte e do nível tecnológico empregado. O conhecimento da vazão e de suas oscilações é extremamente importante para se avaliar a geração dos efluentes e para o dimensionamento de cada etapa que compõe o sistema de tratamento. Existem vários métodos de medição de vazão, sedo os mais comuns hidrômetros e medidores magnéticos para tubos cheios e calha Parshal e Vetedor triangular para tubulação aberta. 2.1. Métodos analíticos para caracterização d’água A caracterização das águas é uma tarefa básica para o equacionamento adequado do problema de tratamento das mesmas. É uma etapa de trabalho que gera informações quanto à composição e vazão da água natural ou residuária, levando em conta as suas variações ao longo do tempo, em função das atividades responsáveis por sua geração. Visto que se trata de uma etapa que vai subsidiar o projeto do sistema de tratamento e, portanto vai influir decisivamente no seu desempenho, deve ser realizada de modo a fornecer as informações da forma mais precisa possível. Por essa razão, deve-se muito cuidado no planejamento e na execução das atividades desenvolvidas. O Planejamento deve ter por objetivo obter as informações necessárias da forma mais precisa com o menor custo possível. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 18 Essa fase define todo o trabalho (o programa de coleta de amostras, os métodos analíticos a serem aplicados, os procedimentos), assim como os recursos humanos, materiais e financeiros necessários. Para que a caracterização dos efluentes tenha o melhor desempenho em termos de relação custo/benefício, o planejamento deve ser embasado em informações preliminares que levem em conta fatores como: A geração dos efluentes É necessário conhecer em detalhes os processos industriais responsáveis pela produção dos efluentes: suas variações ao longo do dia, semana, etc, enfim todos os detalhes operacionais que influem na qualidade dos efluentes. É necessário também levantar a existência ou a possibilidade de implantar uma separação das correntes provenientes de diferentes operações. As substâncias químicas que podem estar presentes nos efluentes. Fatores como a toxicidade das substâncias presentes deve ser considerado na definição dos métodos analíticos, que serão usados na fase de análise química das amostras coletadas. Se um determinado componente é tóxico a uma concentração de xmg/L, deve-se usar um método capaz de quantificar esse nível de concentração. Os parâmetros de interesse: Os parâmetros a serem determinados são um dos fatores para a definição do programa de amostragem, uma vez que para cada parâmetro existe uma forma adequada de coleta e preservação de amostras. Por exemplo, a amostragem para a caracterização da DBO (demanda bioquímica de oxigênio) de um efluente deve levar em conta que a amostra perde a validade em 24 horas. Além disso, é preciso prever o tipo de frasco (se de plástico ou de vidro) a ser utilizado para cada parâmetro, de acordo com a afinidade da espécie com o material (absorção) que pode resultar em erros, principalmente em baixos teores. (Tabela 2.1). 2.2. Coleta de amostras Devido às variações nas condições locais e a variedade de finalidades de uma amostragem, torna-se bastante difícil o estabelecimento de normas absolutas para todos os casos. Existem, entretanto, princípios gerais aplicáveis na maioria dos casos e que pode ser adaptados sempre que necessário. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 19 O objetivo de qualquer amostragem é sempre coletar uma porção representativa para exame cujo resultado fornecerá uma imagem do universo estudado. Não existem normas absolutas para a escolha do ponto de coleta, face ao seu íntimo relacionamento com as condições locais variáveis para cada caso. Pode-se afirmar, entretanto, que quando ocorre a mistura completa num corpo d’água, uma amostra tomada em qualquer ponta da seção transversal e representativa do mesmo. No caso de despejos, a coleta de amostra deve ser feita sempre que possível a partir do ponto em que se dê a mistura completa. O número de amostras, a freqüência da amostragem, o número de pontos de coleta e a escolha dos indicadores de qualidade são determinados pela finalidade do estudo. A necessidade de se tomar amostras composta é determinada pela finalidade do estudo. A amostra resulta da soma de porções individuais coletadas em determinados intervalos de tempo durante um dado período - porções estas de volume (não inferior a 120 ml), proporcionais a vazão.A necessidade de se adicionar preservativos em uma amostra composta faz com que se adicione o mesmo, inicialmente, no frasco de coleta, de modo que todas as porções dessas amostras sejam preservadas imediatamente após a coleta. Em geral, quanto menos o intervalo entre as coletas das porções, tanto mais representativa será a amostra composta. No caso de serem efetuadas em campo algumas determinações físico- químico-biológicas, os devidos resultados devem ser anotados na respectiva ficha que caracteriza a amostra coletada. Em geral o programa de coleta de amostras deve ser estabelecido previamente incluindo quantidade e tipo de frascos usados, volume de amostra, preservação, acondicionamento, etc. 2.3. Preservação das amostras As amostras coletadas devem ser preservadas, acondicionadas, transportadas e manipuladas de maneira que suas características não se alterem até a elaboração laboratorial do seu exame, permanecendo assim, inalterados os seus constituintes e suas propriedades. O mesmo princípio é valido para as porções individuais das amostras compostas. Todos os reagentes a serem utilizados na preservação de amostras e na lavagem de frascos e vidraria deverão ser de qualidade para análise. Para cada análise deverão ser tomados cuidados quanto a sua preservação. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 20 TABELA 1 – Resumo de dados de coleta e preservação de amostras DETERMINAÇÃO FRASCO VOLUME PRESERVAÇÃO PRAZO Acidez Vidro propileno ou prolipropileno 200 ml t = 4 c Água limpa = 24h Água poluída Alcalinidade idem 200 ml t = 4 c Água limpa = 24h Água poluída Cloreto idem 200 ml -- 7 dias Condutividade idem 500 ml 7 = 4 c -- Cor idem 200 ml t = 4 c 24 horas DBO idem 2.000 ml t = 4 c 24 horas DQO idem 200 ml H2SO4cone Até ph 2 7 dias Dureza idem 300 ml HNO3 até pH < 2 t = 4 c 7 dias Fósforo total vidro 1.000 ml t = 4 c 7 dias Formas de fosfato vidro 300 ml t = 4 c 24 horas Nitrogênio Amoniacal polietileno Polipropileno/ vidro 1.000 ml H2SO4 conc. Até pH <2/t = 4 c 7 dias Nitrogênio orgânico idem 1.000 ml H2SO4 conc. Até pH <2 7 dias Nitrogênio Total idem 1.000 ml H2SO4 até pH <2 7 dias * OD vidro 1.000 ml 2 ml sulf.mag. 2 ml al.iod. 4 a 8 horas pH Polietileno, vidro ou polipropileno. 200 ml -- -- Temperatura -- -- -- -- Turbidez idem 200 ml Evitar luz 24 horas Bacteriológico idem 125 ml 250 ml refrigeração 4 c 08horas/24 horas Sólidos idem 1.000 ml t = 4 c 7 dias Cianeto idem 500ml NaOH pH >12 14 dias Sulfeto idem 200ml Lentilhas de NaOH + Acetato de Zico 2N 7 dias Fenol idem 500ml H2SO4 conc. Até pH <2 28 dias 3 – PROCESSOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES Atualmente há um grande número de operações unitárias e processos em uso, cuja aplicação está relacionada às características dos efluentes e o grau de tratamento requerido. Estes processos e operações estão em contínua e intensiva investigação quanto à implementação e aplicação, e como resultado, muitas modificações e novos desenvolvimentos têm ocorrido para atingir os melhores níveis de tratamento exigidos pelas crescentes restrições ambientais. Embora a maioria dos compostos orgânicos encontrados nos efluentes possam ser prontamente tratados, o número de compostos que não são tratáveis ou de difícil remoção por processos convencionais, atualmente em uso, está aumentando. Como conseqüência disso, maior ênfase está sendo dado em tratamentos avançados para a remoção de componentes específicos. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 21 Os métodos de tratamento nos quais predomina a aplicação de forças físicas são conhecidos como “operações unitárias ou processos físicos”. Como exemplo temos: gradeamento, mistura, floculação, sedimentação, flotação, secagem, etc. Métodos de tratamento nos quais a remoção de contaminantes é obtida por atividades químicas ou biológicas são conhecidos como “processos unitários”. Na tabela abaixo, estão relacionados diversos processos e operações e suas aplicações ao tratamento de efluentes. TABELA 2 – Processos e operações com as suas aplicações no tratamento de efluentes. DESCRIÇÃO APLICAÇÃO OPERAÇÃO UNITÁRIA (FÍSICO) Destilação Remoção de sólidos dissolvidos, separação de efluente líquido para recuperação ou disposição. Evaporação: Secadores - Múltiplo efeito Adensamento de lodo, secagem de lodo, remoção de materiais voláteis, concentração de despejos líquidos. Filtração - Gravidade - Pressão - Vácuo Remoção de sólidos suspensos, adensamento de lodos. Diálise - Osmose Recuperação de materiais dos processos, remoção de sólidos dissolvidos, sais. Filtração tangencial - Microfiltração/Ultrafiltração Remoção de material orgânico, sólidos, colidais, e microorganismos. Filtração tangencial - Nanofiltração Remoção de compostos orgânicos, sólidos coloidais, microorganismos. Flotação: - Ar – dissolvido (FAD) - Ar – disperso - Gravidade Remoção de partículas sólidas, líquidos suspensos ou flutuantes, concentração de lodos. Transferência de gás: - Adsorção - Aeração - Stripping Adição e remoção de gases, remoção de óleos voláteis. Peneiramento: - Rotatório - Vibratório - Hidrodinâmica Remoção de materiais grosseiros e sólidos suspensos. Sedimentação: - Gravidade - Centrífuga Remoção de material particulado, lodo biológico, flocos químicos, concentração de lodo. Extração por solvente Remoção de substâncias solúveis específicas do despejo, recuperação de produtos solúveis. DESCRIÇÃO PROCESSOS QUÍMICOS UNITÁRIOS Adsorção Remoção de compostos orgânicos solúveis Coagulação-floculação Remoção de material coloidal Combustão Conversão de lodo a cinzas, redução de material orgânico, redução de volume. Troca de Íons Recuperação de íons específicos e compostos, remoção de compostos orgânicos ionizados e inorgânicos. Neutralização Controle de pH Ozonização Desinfecção, redução de DQO, Remoção de cor. DESCRIÇÃO PROCESSOS UNITÁRIOS BIOLÓGICOS Processos aeróbios: - Lodos Ativados - Lagoas - Filtros Biológicos Remoção de matéria orgânica dissolvida ou coloidal Processos aeróbios: - Reatores Anaeróbios - Digestor anaeróbio - Lagoas Anaeróbias - Lagoas Remoção de matéria orgânica dissolvida ou coloidal e estabilização de lodos orgânicos SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 22 De acordo com a seqüência de aplicação, tradicionalmente os processos e operações, citados acima, são classificados em quatro grupos: § Tratamento preliminar ou pré-tratamento; § Tratamento primário ou físico-químico; § Tratamento secundário ou biológico; § Tratamento terciário ou avançado. 3.1. Processos de tratamento preliminares O tratamento primário tem por objetivo preparar o efluente para ser tratado, através da remoção de sólidos grosseiros, sedimentáveis ou flutuantes, que poderiam causar problemas na rede hidráulica, ou evitando-se grandes variações de vazão o que causaria problemas operacionais às unidades subseqüentes da estação de tratamento de efluentes. Algumas operações típicas: • Gradeamento Remoção de material grosseiro em suspensão; objetos flutuantes para proteger bombas, válvulas de retenção, tubulações e outros equipamentos mecânicos. • Peneiramento Principal finalidade é remoção de sólidos grosseiros dos efluentes com granulometria superior a 0,25 mm. Algumas peneiras típicas são: Peneiras estáticas: O efluente é alimentado pela parte superior, desce pela tela e passa para pela malha, caindo para a parte inferior, de onde direcionado para a próxima etapa, enquanto que os sólidos deslizam na tela inclinada sendo já separados da corrente líquida. Aplicação: papel e celulose para remoção de fibras; industria têxtil remoção de fios e fibras; frigoríficos, curtumes, sucos, alimentos remoção de sólidos suspensos. • Desarenação (caixade areia) Objetivo principal é reter substâncias inertes, como areias e sólidos minerais, facilmente sedimentáveis, para proteger e bombas, válvulas, tubulações de entupimentos e abrasão. • Equalização Tem como objetivos principais regular a vazão que deve ser o mais uniforme possível para as unidades subsequentes e homogeneizar e efluente SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 23 tornando o mais uniforme quanto ao pH, temperatura, turbidez, sólidos suspensos, DQO, DBO, cor, e outros parâmetros em geral. Variações bruscas de vazão, pH ou de concentração de determinado poluente, impossibilitam o funcionamento de correção de pH, floculadores, decantadores e podem provocar cargas de choque nos tratamentos biológicos. Características Gerais: - Densidade de potência 10 a 20 W/m3; - Formato quadrado com entrada em canto oposto à saída e agitação em sentido contrário; - Entrada por cima saída por baixo são utilizados recomendações gerais; - Bombas submersíveis e as afogadas são as mais utilizadas. As três variações básicas de equalização: nível constante, nível variável e com lagoa ou tanque de retenção. A equalização a nível constante não regulariza vazão, apenas uniformiza a carga em termos de concentração e serve para neutralizar. Na equalização a volume variável o efluente é retirado a volume constante, acarretando variações de volume. Esquema da equalização a volume variável: Influente Qi = f(t) h = altura variável ∞ Efluente Qe = constante Na equalização com tanque ou lagoa de retenção o excesso de vazão é desviado para um tanque auxiliar, do qual haverá um escoamento controlado para o tanque de equalização. Este método é recomendado para equalização de concentração e vazão. Método de equalização com tanque ou lagoa auxiliar. Tanque de equalização Tanque auxiliar Influente Vazão controlada Efluente SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 24 Determinação do volume de equalização: Uma vez que o objetivo maior da equalização no tratamento de efluentes é regularizar a vazão, a determinação do volume é baseada na variação diária de vazão. Neste caso, a função do tanque de equalização é estocar vazões acima da média diária de descarga e descarregá-las quando a vazão é inferior a média. O volume exigido pode ser determinado do gráfico de variações de vazão como o tempo. Uma vez estimado o volume verifica-se o efeito na minimização de variações de concentração e carga. Existem casos particulares como em alguns curtumes que têm descarga de banhos alcalinos de manhã e banhos ácidos à tarde, nestes casos, seriam necessários 24 hrs para equalizá-los. Correção de pH A necessidade de correção do pH depende da etapa subseqüente: coagulação/floculação ou tratamento biológico. Para a coagulação/floculação exige-se um pH ótimo para a formação dos flocos, o qual deve ser determinado através do método “Jar test”. Para os sistemas biológicos, dependerá das características do tipo de sistema utilizado, os quais serão discutidos adiante. Efluentes alcalinos é utilizado um produto acidificante: H2SO4 ou CO2. Efluentes ácidos: Água de cal, barrilha ou soda cáustica. 3.2. Processos físicos e químicos – tratamentos primários e avançados Geralmente esses processos consistem na remoção de sólidos suspensos, sedimentáveis e não sedimentáveis de águas residuárias ou na remoção de componentes específicos que não foram removidos após o sistema biológico. Há um número grande de operações e processo aplicáveis atualmente, conforme pode mostrado na tabela anterior, dos quais os sistemas mais comuns serão abordados a seguir. Os processos físico-químicos são utilizados para a remoção de: - Poluentes inorgânicos; - Metais pesados; - Óleos e graxas; - Cor; - Sólidos sedimentáveis; - Sólidos em suspensão por coagulação/floculação; - Material orgânico não biodegradável; - Sólidos dissolvidos por precipitação química; - Compostos orgânicos através de oxidação química. Na escolha do tipo de tratamento, dois parâmetros são de grande importância para se avaliar qual é o mais próprio: a DBO e a DQO. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 25 No caso em que a DQO seja menor que o dobro da DBO é bem razoável dizer que grande parte da matéria orgânica seja biodegradável em um tratamento biológico convencional. Se a DQO for muito maior do que o dobro da DBO (3 vezes , 4 vezes, ...), é possível que grande parte da matéria orgânica não seja biodegradável nos processos biológicos convencionais e seja necessário processos químicos e ou físico-químicos. Princípios básicos de Coagulação Floculação Nos efluentes em geral, parte dos sólidos em suspensão podem sedimentar naturalmente em função do tamanho e da densidade. No entanto, grandes partes dos sólidos, principalmente de componentes orgânicos, estão presentes em na forma distribuição coloidal. A tarefa da coagulação/floculação é simplesmente juntar as partículas de materiais dispersos colidais e aumentar o tamanho, de modo que possam ser separados por processos de sedimentação ou flotação. Mesmo em partículas que poderiam sedimentar naturalmente pode-se reduzir o tempo necessário para a sedimentação em função da floculação. Coagulação é um fenômeno bastante distinto da floculação, consistindo essencialmente na neutralização de cargas eletronegativas dos colóides presentes na água, ou então a chamada desestabilização dos colóides. Enquanto que a floculação trata-se da aglomeração dos colóides desestabilizados, resultantes de sucessivas colisões causadas por um processo externo de mistura. A ausência de coagulação/floculação significa maior carga orgânica imposta ao tratamento biológico e, deve-se avaliar os custos dos produtos químicos e das instalações necessárias e comparar os custos agregados ao tratamento biológico em função dessa carga. Coagulação A coagulação consiste basicamente na introdução de produtos capazes de neutralizar as cargas eletronegativas dos colóides presentes na água. O processo de coagulação, conforme praticado no tratamento de efluentes, envolve a desestabilização da suspensão de colóides seguida de floculação para gerar partículas grandes que possam subseqüentemente ser removidos por flotação. Para ocorrer a coagulação é necessário a desestabilização dos colóides, que pode ser realizada por: 1. Abaixamento do Zeta Potencial pela adição de um eletrólito catiônico forte como o Al2(SO4)3. A dosagem do eletrólito catiônico é independente da concentração de colóide. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 26 2. A adição de um eletrólito catiônico e um álcali resultando na formação de hidróxido metálico carregado, Mex(OH)yz+. As partículas são adsorvidas sobre o colóide. 3. Aglomeração pela adição de polieletrólito suficiente para baixar o Zeta Potencial para zero. 4. Coagulação mutua de polieletrólitos aniônico e catiônico em um sistema. 5. Aglomeração de um colóide negativo com polieletrólito aniônico ou não-iônico. 6. O pH deve estar próximo ou no ponto isoelétrico para atingir uma ótima formação de flóculo, o qual para o sulfato de alumínio é de 5 a 7. Uma desestabilização mais efetiva será conseguida do contato das partículas de colóide com microflóculos de hidróxidos metálicos carregados positivamente. O hidróxido metálico é gerado em menos de 0,1 segundo. Flóculos de alumínio e ferro tendem ser frágeis e facilmente dispersos pela agitação. É adicionado sílica ativada numa dosagem de 2 a 5 mg/l para aumentar a resistência do flóculo. A presença de sais tais como NaCl tenderá a diminuiro Zeta Potencial e aumentar a dosagem do coagulante. Surfactantes aniônicos também tendem a aumentar a estabilização do colóide e a dosagem do coagulante. A desestabilização também pode ser conseguida pela adição de um polímero catiônico, o qual pode levar o meio para o ponto isoelétrico sem a correção de pH. Embora polímeros catiônicos sejam 10 a 15 vezes mais efetivo como coagulante do que o alumínio, eles são considerados mais caros. Para a coagulação são utilizados misturadores mecânicos, tanque de mistura rápida (TRH = 0,5 – 1,5 min), ou misturadores hidráulicos como a Calha Parshal e a própria tubulações. Teoria da dupla camada elétrica A maior parte das substâncias adquire uma carga elétrica superficial quando postas em contato com um meio polar (exemplo meio aquoso); os possíveis mecanismos de criação dessa carga, pode ser a inonização, adsorção ou dissolução de íons. Ions de cargas opostas (conta-íons) são atraídos pela superfície e íons de mesmo sinal (co-íons) são repelidos pela superfície. Esse fato, mais a tendência de mistura pela agitação térmica, leva a formação de uma dupla camada elétrica (3), constituída por duas partes, uma superfície carregada e um meio polar em que se distribuem, de maneira difusa contra-íons (estes em excesso para manter a neutralidade) e co-íons. Zeta Potencial SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 27 Grutsch e Mallatt descreveram que a estabilidade dos sistemas coloidais deve-se ao fato das partículas possuírem cargas elétricas iguais, o que causa repulsão entre as mesmas mantendo-as em suspensão. Esta carga superficial total é denominada de Potencial Zeta. A carga da maior parte das substâncias é negativa. O Zeta Potencial (Z) se deve ao fato de que os cátions têm uma maior tendência para serem hidratados, enquanto que os ânions, que são menores, menos hidratados e mais polarizados, tem maior tendência a serem adsorvidos. O tratamento químico, adição de polieletrólito ou ajuste de pH, tem por objetivo neutralizar ou reduzir a carga elétrica para diminuir a repulsão entre elas e permitir que se aproximem os suficientes para que as forças de Wan der Waals sejam mais efetivas. As forças de atração de Van der Waals causam a agregação das partículas formando aglomerados que podem ser separados por decantação flotação ou mesmo por filtração. A mistura do coagulante e o efluente provocam a hidrolização, que é a reação do eletrólito metálico com a alcalinidade, formando hidróxidos denominados de gel, produzindo na solução íons positivos. Estes desestabilizarão as cargas negativas dos colóides, reduzindo o Potencial Zeta para próximo de zero, denominado também de ponto isoelétrico, permitindo a aglomeração das partículas e, consequentemente, a formação de flocos. A reação do coagulante com a alcalinidade ocorre em curtíssimo espaço de tempo, aproximadamente 1 segundo. É importante salientar que para a desestabilização dos colóides utiliza-se compostos químicos (sais de Al, polieletrólitos, etc.), mas que uma superdose de reagentes pode produzir efeitos negativos na neutralização das cargas superficiais. Floculação A floculação é a aglomeração dos colóides desestabilizados, resultantes de sucessivas colisões causadas por um processo externo de mistura. O mecanismo da floculação é totalmente diferente da coagulação, o agente floculante está presente principalmente em uma forma coloidal “unidimensional” e liga as partículas coloidais dos componentes do efluente através da formação de pontos umas com as outras. No estado desestabilizado, as partículas têm em torno de si macromoléculas, sem, no entanto, já estarem conectadas com as partículas vizinhas. O Potencial Zeta não tem nenhuma importância neste caso e em geral está próximo de zero. Os flocos formados por este mecanismo químico são volumosos e muitos bem flotáveis. A floculação é obtida principalmente através de floculantes inorgânicos ou polímeros orgânicos e também sob determinadas condições podem intensificar os efeitos conseguidos com sais metálicos. A agitação promove a colisão necessária entre os flocos, no entanto, é importante encontrar uma velocidade SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 28 relativa dos flocos uns com relação aos outros, de modo que seja alcançado o máximo de impurezas restantes, sem que, atinja uma velocidade de colisão tão alta que os flóculos sejam novamente destruídos. Basicamente o processo de floculação de partículas sólidas suspensas pode ser descrito através dos grupos de parâmetros: - parâmetros físico-químicos: - tipo e tamanho da partícula; - pH; - concentração e capacidade de troca iônica; - assim como o tipo e a quantidade de floculantes. - e os parâmetros físicos: - cinética de coagulação; - temperatura; - Influência da movimentação na formação de flocos - e Esforço de cisalhamento dos flocos. A determinação das condições de operação para uma boa coagulação e floculação, são avaliadas em testes de bancada chamada “Jar Test”. Flotação Princípios básicos do processo de flotação Entende-se por flotação o movimento ascendente de materiais sólidos e/ou líquidos insolúveis para a superfície de uma suspensão, a partir da qual o material flotado pode ser separado através de dispositivos de remoção adequados. A flotação pode ocorrer de forma natural quando existe um diferencial de densidade significativo entre o sólido (geralmente substâncias orgânicas pouco densas) relativo ao líquido do efluente que se deseja separar. No entanto, para a maior parte das aplicações indústrias para se ter eficiência na remoção de partículas sólidas é necessário o uso de técnicas como injeção de bolhas de ar e auxiliares químicos de floculação, também chamada de flotação forçada. O fenômeno da flotação de um sólido ou aglomerado de sólidos obedece aos princípios ilustrados na figura abaixo(Navier Stokes): VL VL E P Fay VF VL E P Fay V F V L F ax Figura 2 – Esquema mostrando os princípios envolvidos no processo de flotação. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 29 Condição de flotabilidade: Onde: P = peso do sólido ou da gota particulada; E = empuxo; Fa = força de arraste ou de atrito entre a partícula e o meio líquido escoante; VL = velocidade do meio líquido; VF = velocidade terminal de flotação vertical; Quanto aos materiais flotáveis de um efluente podemos classificá-los em: a) Fortemente flotáveis (E>>P+Fay): Partículas ou aglomerado de partículas consistentes que conferem a força empuxo a predominância de arraste. São sistemas que possuem significativo diferencial de densidade e não precisam necessariamente de coadjuvantes de flotação. b) Fracamente flotáveis (E≅P+Fay): Em função do baixo diferencial de densidade, o tempo de residência para uma boa eficiência de flotação é muito alto, o que resulta em dimensões relativamente grandes para o flotador. Neste caso é necessário o uso de flotação forçada. Flotação com ar dissolvido (FAD) Os diferentes processos de flotação diferenciam-se basicamente através do modo de obtenção de bolhas de ar. Enquanto que inicialmente a flotação de efluentes líquidos se tentava produzir a chamada água com bolhas, através da introdução de ar comprimido, hoje é preferido o emprego de água saturada com ar, que produz uma distribuição de bolhas de ar extremamente mais finas e homogêneas. Neste processo, inicialmente é dissolvido o ar no efluente sob pressão e expandido antes da entrada no tanque de flotação através de uma redução repentina de pressão, na qual o ar excedente é novamente liberado na forma de uma dispersão fina. Como a dissolução de ar necessita de tempo, o efluente bruto ou retorno de efluente clarificado é enriquecido com ar através de um vaso de pressão por um determinado tempo de retenção, a partirdo qual chega no tanque de flotação onde ocorre a expansão. Um esquema geral da flotação por ar dissolvido pode ser visto na Figura 3.2. A flotação forçada por injeção de ar dissolvido (FAD) é mais efetiva quando temos microbolhas de ar, as quais aderem com maior facilidade na superfície de matérias orgânicas, em função de tensões superficiais e também E>P+Fay SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 30 em matérias inorgânicas porosas. Resultando num acréscimo da força de empuxo que age sobre o sólido e aumentando a eficiência. Quanto menor o diâmetro das microbolhas, menor sua velocidade ascensional, consequentemente, a possibilidade das bolhas menores aderirem na superfície do sólido é maior. Para o caso do FAD, quanto maior a pressão na injeção de ar, menor os diâmetros das microbolhas, enquanto que, para o sistema de flotação por injeção de ar o tamanho das bolhas é função, basicamente, do diâmetro dos discos dispersores ou das características das palhetas e rotação das bombas aeradoras. Logo, a distância da superfície do líquido até os dispositivos de lançamento das bolhas ou microbolhas, bem como as localizações estratégicas dos mesmos, são fatores importantes de projeto. Figura 3 – Esquema geral do flotador com Ar Dissolvido (FAD). É indispensável a realização de testes laboratoriais com o efluente em estudo para determinação dos parâmetros de flotabilidade afim de se escolher o processo de flotação e projetá-lo. A flotação por ar dissolvido (FAD) tem sido largamente utilizada para a clarificação dos efluentes de processos antes de enviá-los ao tratamento biológico. Esta técnica tem sido considerada a mais eficiente. Um resultado desta clarificação é a redução da carga orgânica, através da remoção de óleos e graxas, sólidos suspensos totais, refletindo diretamente no processo de tratamento de efluentes. Também possibilita a recuperação do material flotado. A maioria dos equipamentos de flotação dos sistemas de tratamento de efluentes das indústrias de alimentos é precedida de uma etapa de condicionamento do efluente através do uso de coagulante e floculante para aumentar a eficiência do processo. O volume de flotado gerado do processo SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 31 FAD é usualmente de 1% a 5% do volume de efluente tratado e com teor de 5% a 6 % de sólidos. Produtos químicos típicos utilizados na flotação: Coagulantes típicos – Sultato de alumínio, Cloreto férrico (dosagem 100 – 1000 mg/L). Polímero – aniônico ou catiônicos (0,05 a 10 mg –princípio ativo/L). Produtos para correção de pH quando necessário Vantagens da flotação se comparado com a decantação: - Lodo mais concentrado; - Remoção de sólidos de difícil decantação; - Ocupa área e volume menores; - Tempo de Retenção Hidráulico de 10 a 15 min. Eficiências Médias de Remoção: - Sólidos suspensos: 65 a 90 % - Gorduras (óleos &graxas) 65 – 98 % - DBO5: 25 a 98 % Decantadores ou sedimentadores São equipamentos utilizados para promover a separação de uma suspensão de partículas sólidas, ou flocos, diluídos em um meio líquido, pela força da gravidade. A fase sedimentada (lodo ou torta) terá um destino nobre ou não, porém o efluente de topo, que é a fase de interesse, poderá estar totalmente limpo ou contendo, ainda, sólidos e/ou líquidos imiscíveis flutuantes, dependendo do tipo de efluente, o qual será tratado posteriormente. Os princípios básicos da sedimentação são semelhantes aos da flotação. Os sedimentadores ou decantadores podem ser classificados: § Quanto a sua finalidade: - clarificadores - quando a fase que interessa é o líquido límpido; - espessadores - quando a fase que interessa é a lama. § Quanto ao processo: - sedimentadores ou decantadores em batelada; - sedimentadores ou decantadores contínuos. § Quanto a concentração da suspensão: SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 32 - sedimentação livre - para baixas concentrações de sólidos; - sedimentação retardada ou obstada - para altas concentrações de sólidos; § Quanto ao uso de coadjuvantes: - sedimentação natural - quando não se faz uso de substâncias floculantes; - sedimentação forçada - quando se faz uso de floculantes para aumentar a velocidade de sedimentação. Os floculantes podem ser eletrólitos, coagulantes, tensoativos ou polieletrólitos. Os sedimentadores industriais são geralmente projetados para trabalhar continuamente, como mostra o esquema abaixo: al iment aç ão saí da do lí quido lí mpi do zona de transição zona de espessamento zona de c onc entração v ariável lí quido lí mp ido zona de concentração uniforme saída da lama espessada Figura 4 – Zonas de sedimentação num sedimentador contínuo. Existem inúmeros modelos de decantadores contínuos, cada qual projetado em função de fatores otimizantes ou especificação do próprio processo. Nas figuras abaixo temos alguns modelos típicos de decantadores verticais e horizontais, classificados de acordo com o sentido de escoamento do efluente. Verticais: Figura 5 – Modelo típico decantador vertical com tração central. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 33 Figura 6 – Modelo típico decantador vertical com compartimentação. Horizontais Figura 7 – Modelo típico de decantador horizontal com esgotamento total. Os principais fatores que controlam a velocidade de sedimentação são as densidades dos sólidos e do líquido, forma e diâmetro das partículas, e a viscosidade do meio, que é influenciada pela temperatura. O projeto de decantadores e espessadores é feito como base em testes de decantação em provetas, onde se obtém as velocidades de sedimentação e espessamento do lodo em função das características dos flocos formados. Atualmente, utilizam-se decantadores com alta taxa cujo emprego de módulos ou placas, diminuem a turbulência. Nestes casos aplicam-se taxas de 60 a 75 m3/m2 dia e TRH = 1,5 a 3 h. Manuseio e destino do lodo Os processo de tratamento biológico implicam na correspondente produção de biomassa, essencial para a renovação de células e com isto favorecer a distribuição de idade das mesmas no meio a tratar. Os sólidos suspensos no efluente final do tratamento, portanto, são compostos na sua maioria pelos diversos microorganismos participantes do processo biológico, além, é claro daqueles originários do processo decantação primária quando for necessário. A remoção dos sólidos é feita por decantação SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 34 e em alguns casos seguida de adensamento para aumentar a concentração. A partir desta etapa o lodo, já separado da corrente de efluente, ainda precisa ser tratado e dado uma destinação final o que será discutido a seguir. Os métodos mais utilizados para o tratamento e eliminação de sólidos suspensos (biomassa+sólidos suspensos no efluente) são: - digestão anaeróbica; - desidratação; - secagem; - incineração; - compostagem. Desidratação do lodo: É a operação física empregada para reduzir o teor de umidade do lodo, por uma ou mais das seguintes razões: redução do custo de transporte para o local de disposição final; facilidade de manipulação; operação necessária antes da secagem ou posterior disposição em solo ou aterro industrial, dependendo de suas características. Alguns dos processos e equipamentos mais utilizados para esta operação serão apresentados abaixo: Filtro rotativo de correia (belt press): O filtro rotativo é continuamente alimentado com o lodo e o desaguamento envolve a aplicação de condicionantes químicos (polímeros), drenagem por gravidade e pressão mecânica. Na maioria dos tipos de filtro rotativo de correia, o lodo inicialmente passa por uma seção de drenagem por gravidade ondea maior parte da água livre é removida. Em algumas unidades, esta seção é auxiliada com vácuo. A seguir, aplica-se a pressão, onde o lodo é prensado entre cilindros com auxílio de telas de filtração. Este sistema de filtração normalmente consiste de bomba de alimentação de lodo, equipamento para a alimentação de polímero, tanque condicionador (floculador), um filtro "belt press" e sistema de suporte. A eficiência deste tipo de filtro depende da pressão aplicada ao lodo, tempo de retenção, tamanho das partículas formadas com auxílio de polieletrólitos, etc. A concentração final de sólidos é de 20 a 25%. Filtro prensa: Em um filtro prensa, a remoção de água é feita forçando-se a água do lodo sob alta pressão. As vantagens para o filtro prensa são: alta concentração da torta de sólidos (30 a 40%); boa clarificação do filtrado. As desvantagens SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 35 são complexidade mecânica; alto custo com produtos químicos; operação e limitação na duração do tecido de filtração.Os filtros prensas são compreendidos de uma série de pratos metálicos, entre 50-100 pratos, suspendidos por barras laterais. O lodo é bombeado para dentro da câmara sob pressão para canais de alimentação e cada prato. Neste processo o ciclo operacional normalmente varia de 3-5 horas e os fatores mais relevantes para a velocidade de filtração são: escolha dos tecidos de filtro, pressão de bombeamento, filtrabilidade do teor de sólidos secos do lodo e condições do tecido filtrante. Este processo é principalmente usado para o lodo bruto, mas pode ser utilizado igualmente para o digerido, misturado e termicamente condicionado. Dependendo das características do lodo necessita de produtos condicionantes como cal e cloreto férrico ou polímero. Leito de secagem: Leitos de secagem de lodo são tanques rasos com um sistema de drenagem com camadas de meios filtrantes graduados, normalmente 100 mm de cascalho coberto com uma camada de areia de 25mm. É um dos métodos mais utilizados na redução da umidade do lodo. As principais vantagens dos leitos de secagem são o baixo custo e o alto teor de sólidos no produto secado. Estes são principalmente restritos a pequenas plantas de tratamento devido ao espaço requerido e problemas com odor e moscas. lodo drenos areia cascalho Figura 8 – Um leito de secagem de lodo. A base dos leitos tem leve inclinação para fora do meio filtrante, e o lodo é bombeado sobre o leito até uma altura de 150-300 mm. A retirada de água ocorre principalmente pela drenagem que é rápida nos primeiros dois dias e depois decresce progressivamente até que os sólido se tornem tão compactados sobre a superfície do meio filtrante que a drenagem cesse. O líquido drenado é retornado a planta de tratamento e então a evaporação se torna o maior responsável pelo processo de desidratação do lodo. A evaporação é afetada pelas condições ambientas, em particular o vento, umidade e radiação solar. O desempenho dos leitos de secagem depende do tipo de lodo, teor de sólidos iniciais, período de secagem, porosidade do meio e condições SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 36 ambientais. É possível obter teores de sólidos de 35 a 40%, em climas quentes, de 6-7 dias, mas em condições menos favorecidas, poderão ser necessários de 30 a 40 dias. Digestão anaeróbia: Os digestores anaeróbios de lodo são reatores utilizados para estabilizar os lodos concentrados produzidos durante o tratamento de esgotos, bem como de alguns efluentes industriais. Os digestores de lodo foram desenvolvidos após a constatação de que a digestão do lodo aquecido em tanque separado apresentava boa eficiência na estabilização. A partir de então muitos tipos de digestores foram desenvolvidos, com e sem aquecimento, de baixa e alta carga com e sem aquecimento. A massa global de sólidos suspensos, tanto aquela separada em processos primários como secundários, pode sofrer uma digestão anaeróbica, que é um processo biológico realizado em ausência total de oxigênio e visa principalmente a produção de biogás (mistura de metano e gás carbônico). Durante o processo de digestão ocorre a ação de diferentes tipos de microorganismo, cada qual com uma função específica, dependendo das condições de operação e composição do efluente. Inicialmente se dá a ação das bactérias hidrolíticas que transformam alguns hidrocarbonetos em açúcares e substâncias orgânicas simples, estas substâncias serão transformadas em "ácidos graxos voláteis" e acetatos pelas bactérias acidogênicas e acetogênicas, respectivamente; tanto os acetatos como os ácidos graxos voláteis são precursores da produção do biogás que poderá posteriormente ser aproveitado como combustível. Figura 9 – Desenho esquemático de um digestor de lodo A eficiência destes processos na remoção de sólidos voláteis é de 45 a 50%. Características dos digestores. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 37 DIGESTOR BAIXA TAXA ALTA TAXA Taxa de aplicação (kg SSV/m3.d) <1,2 1,2 a 6,0 Tempo de detenção no reator (dias) - Não homogeneizado - Reator homogeneizado 45 30 - > 15 Secagem e incineração: Pode-se reduzir grandes volumes de lodo a um pequeno volume de cinzas, que estão livres de matéria orgânica e, portanto, facilmente eliminável, por uma combinação de secagem aparente e incineração. Na secagem, as partículas de lodo em suspensão se encontram com uma corrente de gases quentes o que assegura, praticamente, uma eliminação instantânea da umidade. Depois de seco, o gás que contém as partículas de lodo, normalmente, passa por ciclones de separação, onde as partículas de lodo seco se separam dos gases úmidos. O teor de umidade do lodo final é de menos de 10%. Dependendo das características do lodo (classificação de resíduos sólidos) será feita a sua disposição final, podendo ser desde a disposição em aterro industrial controlado ou até o uso com acondicionador. Poderá também ser queimado em câmara de combustão de fornos. Para eliminar os odores, depois da combustão, reutiliza-se os gases na câmara de combustão. Para eliminar as cinzas, o gás resfriado após a combustão passa por um sistema seletor de cinza. O valor do lodo como combustível varia bastante, dependendo do tipo e teor de sólidos voláteis. O calor liberado para vários tipos de lodo está abaixo: Tipo de lodo Calor combustão, BTU/lb sólido seco. Faixa típico Lodo tratamento primário 10.000 - 12.500 11.000 Lodo ativado 7.000 - 10.000 9.000 Lodo digerido anaerobiamente 4.000 - 6.000 5.000 Lodo trat. Primário precipitado quimicamente 6.000 - 8.000 7.000 Filtro biológico 7.000 - 10.000 8.500 Compostagem: Compostagem é um processo no qual o material orgânico sofre degradação biológica para um produto final estável. Aproximadamente 20 a 30% dos sólidos voláteis são convertidos a dióxido de carbono e água. Quando o material orgânico do lodo decompõe, o processo de compostagem eleva a temperatura para uma faixa de 50-70ºC, e os microorganismos patogênicos são destruídos. Após a compostagem o lodo pode ser usado como condicionador do solo, aplicado na agricultura ou horticultura ou para disposição final, dependendo é claro da sua classificação. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 38 Fatores que afetam o tipo de sistema de compostagem são a natureza do lodo produzido, estabilização do lodo antes da compostagem, se houve alguma e o tipo de equipamento de desidratação e produtos químicos utilizados. A maioria das operações de compostagem consistem nas seguintes etapas básicas: mistura do lodo desidratado com um agente de correção e/ou um agente desagregador; aeração da pilha de compostagem por adição de ar ou, por turbina mecânica; recuperação do agente desagregador, se for usado; posteriorcura, estocagem e disposição final. Um agente de correção é um material orgânico adicionado, primariamente, para diminuir a densidade da pilha e aumentar os espaços vazios para aeração apropriada. Agentes de correção podem também ser usados para aumentar a quantidade de orgânicos degradáveis na mistura. Normalmente utiliza-se com essa finalidade serragens, palha de arroz, etc. Os agentes desagregadores mais utilizados, que aumentam ainda mais os espaços vazios são os cavacos de madeira. A aeração é requerida não somente para fornecimento de oxigênio, mas para controlar a temperatura da compostagem e remover o excesso de umidade. Os três tipos de sistema de compostagem utilizados são: • Pilha estática: consiste de uma grade de aeração ou tubos de exaustão sobre a qual a mistura de lodo e o agente de suporte são colocados; • Canais de Ventilação (WINDROW); • Sistemas em vasos: neste caso a compostagem ocorre dentro de um container fechado. 4 – TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTES A utilização de microorganismos nos processos de tratamento de águas residuária é realizada há mais de um século. Esta área vem se desenvolvendo de forma exponencial á medida que a microbiologia vem desvendando os mistérios do comportamento dos microorganismos na natureza. A biotecnologia aplicada ao tratamento de efluentes vem sendo utilizada principalmente para remoção da matéria orgânica, no entanto, os outros poluentes também podem ser removidos pela ação direta ou indireta dos microorganismos. Incluem-se entre os processos mais conhecidos a remoção de nitrogênio, fósforo, sulfato, além da remoção de metais pesados pelos processos de biolixiviação e biosorção. Contaminantes orgânicos tóxicos, antes considerados recalcitrantes ou até mesmo não biodegradáveis, vem mostrando-se passíveis de serem transformados biologicamente, principalmente devido à evolução e otimização dos diferentes compostos vem no sentido de extrair dos mesmos, fontes nutricionais e energéticas necessárias para o crescimento e funções metabólicas dos mesmos. O tratamento biológico de resíduos emprega a ação conjunta de espécies diferentes de microorganismos, em biorreatores, que operados sob determinadas condições resulta na estabilização dos mesmos. Em geral, os SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 39 diferentes tipos microbianos nos processos biológicos de tratamento atuam conjuntamente, formando uma verdadeira cadeia alimentar com interações nutricionais facultativas e obrigatórias. 4.1. Introdução à microbiologia aplicada ao tratamento de efluentes A grande maioria dos processos biológicos de tratamento estão associados ao crescimento dos microorganismos envolvidos. Ou seja, à medida que o substrato (matéria orgânica e nutriente) vai sendo consumido (degradado), os microorganismos crescem proporcionalmente em massa. Degradação do substrato = crescimento microbiano proporcional. No entanto, a biotransformação de alguns compostos não tem sido associada a nenhum benefício para a célula, seja nutricional ou energético. Estes são casos muitos particulares, os quais não serão objetos deste curso. Nutrição e Nutrientes A composição química do meio é de importância fundamental nestes processos biológicos, sendo um fator determinante da predominância das populações de microorganismos que irão participar do mesmo. • Compostos doadores de elétrons (ou de hidrogênio): são compostos passíveis de oxidação, perdendo elétrons em reações REDOX. Ex. matéria orgânica. • Compostos receptores de elétrons (ou de hidrogênio): são compostos passíveis de redução, recebendo os elétrons dos doadores, em reações REDOX. Ex. matéria orgânica, O2, CO2, SO22- e NO3-. • Fontes de energia: compostos que ao serem metabolizados geram energia. Ex. compostos orgânicos, compostos inorgânicos e luz. • Fontes de carbono: compostos que ao serem metabolizados são transformados em matéria celular. Ex. compostos orgânicos e CO2. • Fontes de nitrogênio: NH3, NO3 e NO2 • Nutrientes minerais: compostos essenciais para o crescimento. Macronutrientes (P, S, Na, Fe, Mg e Ca) e micronutrientes (Ni, Co, Zn, Bo, Mo, Se, etc.). • Fatores de crescimento: compostos essenciais para o crescimento que alguns microorganismos não sintetizam. Ex. vitaminas, aminoácidos, etc. A grande maioria das águas residuárias possui, além do seu conteúdo orgânico, uma composição bastante diversificada, contendo a maioria dos SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 40 compostos necessários para o crescimento dos microorganismos em geral. No entanto, aqueles nutrientes que são necessários em maiores quantidades devem estar atentos para verificar se os mesmos estão em quantidades suficientes. O nitrogênio e o fósforo são os de maior interesse. Portanto, é necessário que se verifique as concentrações proporcionais destes nutrientes em função da quantidade de matéria orgânica que se deseja degradar. Considerando que as moléculas de carbono devem combinar-se com as de nutrientes para gerar as moléculas da composição celular, um bom ponto de partida para avaliar as necessidades nutricionais é a análise elementar da composição celular. • Fórmula química média de microorganismos; Bactéria aeróbia: C5H7O2N Anaeróbia: C5H9O3N Leveduras: C5H12O3N Portanto, é de se imaginar que uma relação C:N 5:1, no caso de bactérias seria o ideal para atender estas necessidades. No entanto, deve-se considerar alguns fatos nesta análise: nem todo o carbono será utilizado para a composição celular, sob a forma disponível para os microorganismos; nem toda a matéria orgânica é biodegradável. Por isso, uma série de relações C:N podem ser encontradas na literatura, indicando como sendo a ideal para sustentar o crescimento dos microorganismos sem limitações nutricionais. Na realidade, estas relações são obtidas na prática, referindo-se para aqueles casos em particular. Deve-se ter cuidado na extrapolação destas quando se estuda um caso específico. • Relação carbono: nitrogênio (C:N) – 2:1 – 30:1 • Relação DQO:N:P:S – 500:7:1:1 Outra questão muito importante é com relação do que venha a ser considerado para substância tóxica. Na realidade, qualquer substância pode ser tóxica ou nutritiva para um microorganismo, dependendo da sua concentração no meio. Normalmente, considere-se tóxica aquela substância que em baixas concentrações provoca um efeito inibitório aos microorganismos, e contrariamente, uma substância nutritiva aquela que é necessária em altas concentrações para promover em franco desenvolvimento do mesmo. Além disso, quando duas ou mais substâncias estão em solução, elas podem ter um efeito sinérgico ou antagônico com relação à toxicidade. Algumas definições importantes: Metabolismo: são reações que ocorrem na célula para produzirem energia e para a síntese de composto necessário à vida e ao crescimento. SENAI/CTV Blumenau Tratamento de efluentes industriais 41 Catabolismo: são as reações metabólicas que ao final de uma seqüência irão gerar energia para as várias funções dos microorganismos. Geralmente estas reações estão associadas à degradação dos compostos orgânicos. Anabolismo: são as reações metabólicas que ao final de uma seqüência irão gerar um produto para as várias funções dos microorganismos. Geralmente estas reações estão associadas à síntese dos compostos orgânicos necessários ao crescimento. Nas reações de síntese energia é requerida. As reações anabólicas poderão ocorrer se energia suficiente nas reações catabólicas. Organismos Autotróficos: são aqueles que derivam seu carbono celular de dióxido de carbono. A energia pode ser suprida pelo sol (fotossíntese) ou por reação inorgânica de oxidação. Organismos Heterotróficos: derivam seu carbono celular a partir de compostos orgânicos. A energia necessária para a síntese
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