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1 CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA GASTRO P3 RUTE PAULINO XXII CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA CLASSIFICAÇÃO DO IMC PELA OMS/NIH PARA BRANCOS, HISPÂNICOS E NEGROS: IMC= peso (Kg)/Altura (m²) Obesidade diferente de sobrepeso. → 1991 NIH: obesidade mórbida: indivíduos com IMC > ou = a 35 com doenças relacionadas à obesidade ou indivíduos com IMC >40, sem comorbidades → 2013 AMA: definiu obesidade como doença (indivíduo com IMC > ou = a 30) O erro do IMC: ambos indivíduos têm a mesma estatura, mesma massa e mesmo IMC. Mas, um pode possuir músculos e o outro cheio de gordura. ETIOPATOGENIA DA OBESIDADE MÓRBIDA • Multifatorial e complexa • Fatores arrolados: o Genéticos: há um componente genético para o obesidade, mas há também a susceptibilidade em ter compulsão alimentar. o Comportamentais: costume da prática de exercícios físicos na população e excesso de consumo calórico (alimentos com baixo valor nutritivo e alto valor calórico). o Psicológicos: isolamento social; acionamento do SNAS o Físicos: atividade física do próprio indivíduo DIVISÃO 1) Obesidade central ou abdominal (androide): comum em homens 2) Obesidade periférica (ginecoide): comum em mulheres Acúmulo de gordura visceral (estocado no fígado, no mesentério, nas artérias, entre outros órgãos) é a responsável pelo risco de doenças secundárias. DOENÇAS ASSOCIADAS À OBESIDADE MÓRBIDA O sangue precisa circular em uma superfície maior, então vão ter locais que o O2 não vai conseguir chegar, fazendo com que a gordura seja consumida e produza ácido láctico. Tem-se, também uma inflamação generalizada. • Dislipidemia (aumento do LDL/TG): A cada Kg de gordura extracorpórea, tem-se o aumento adicional de 20 mg de colesterol à produção diária • SPM (Síndrome Pluri-metabólica): obesidade mórbida, HAS, apneia obstrutiva do sono, hiperventilação, entre outros • SRIS (Síndrome da resposta inflamatória sistêmica por aumento da secreção de adipocinas pró- inflamatórias) • SRIP (Síndrome da resistência à insulina periférica)→ DM tipo 2 CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA P3 RUTE PAULINO XXII 2 • SOP (Síndrome dos ovários policísticos): o tecido adiposo funciona como um órgão endócrino que libera muitos mediadores bioativos, as adipocinas, que influenciam não apenas a homeostase do peso corporal, mas também a inflamação, a coagulação, a fibrinólise, a diabete, a resistência insulínica e a aterosclerose. • Disfunção erétil: desvio da produção de testosterona. A andropausa atualmente ocorre aos 35 anos de idade nos homens. Daí, tem-se o início da feminilização do homem, inclusive a disfunção erétil. • Aumento da atividade do SNAS: liberação de cortisol (mineralocorticoide), induzindo a retenção de sódio, gerando a própria HAS. • HAS: por aumento da reabsorção de sódio. Aumento da PAS e da PAD (hipertensão sistodiastólica) • Arritmias cardíacas: a mais comum é a Fibrilação Atrial • Disfunção ventricular: não funciona corretamente (equação de Franklin Starling) – disfunção do volume sistólico ejetado a cada batimento do VE • Mudanças da morfologia cardíaca: aumento da pressão intra-abdominal, levantando o diafragma, gerando alterações do ECG (mudança na posição do coração) • ICo (insuficiência coronariana): aumento do LDL – pelo aumento da HAS há o turbilhonamento sanguíneo, favorecendo a entrada do LDL na íntima, gerando todo o processo de formação da placa ateromatosa. • Doenças renais crônicas: o néfron é um ramo da artéria renal, que virou capilar e desce pela alça de Henle e túbulo coletor, mais a cápsula de Bowman. Se tem uma lesão na microvasculatura do endotélio, tem-se tbm uma lesão glomerular, levando ao aparecimento de doenças renais (pode virar IRC) • AVE: embolo ou formação de trombo nas veias/artérias encefálicas. • IVC (insuficiência venosa crônica): aumento da pressão na cava faz com que todo o sangue comece acumular, gerando um regime hipertensivo, desenvolvendo IVC, podendo levar à uma úlcera venosa(?) • Síndrome da apneia ou hipopneia do sono: aumento de PIP → diminuição da complacência pulmonar → aumento da tensão da parede torácica → alteração da relação ventilação-perfusão → diminuição da força-resistência dos mm respiratórios → Broncoespasmo. • Trombose Venosa Profunda (TVP) ou Tromboembolia pulmonar (TEP): o aumento de colesterol aumenta tbm hormônios como o estrógeno e a progesterona, vai diminuir a capacidade de retorno das veias dos mmii, mudando a tríade de Virshow. Fazendo com que o sangue flua mais devagar, gerando trombose nos membros venosos que pode chegar a uma embolia pulmonar. • Pancreatite necrosante: diminuição de volume sanguíneo por causa da acidose, diminui circulação pancreática. O pâncreas imediatamente ativa enzimas pancreáticas que começam a digerir o próprio órgão, porque não há passagem. • Esteatose hepática não alcoólica: quando o cortisol está alto, ele inverte o metabolismo do colesterol → Aumento da quantidade de colesterol e TG armazenados no próprio fígado, sem a indução do álcool. CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA P3 RUTE PAULINO XXII 3 • Esteatohepatite (inflamação reacional do fígado, pela presença de grande quantidade de gordura) → Fibrose hepática (causada pelo processo inflamatório iniciado) → Cirrose hepática • Colelitíase (aumento da fração de colesterol na bile): a bile é produzida 24 horas. Quando há o aumento de um dos componentes da bile, há precipitação deste, formando cálculo na vesícula biliar. • DRGE: aumento do tamanho do fígado e da espessura do mesentério, fazendo com que o estomago comprima, refluindo o conteúdo gástrico. • Osteoartrite de joelhos/tornozelos: o Alteração do metabolismo da cartilagem e osso independente da ação mecânica sobre as articulações o Aumento da carga mecânica • Tumores: aumento dos níveis de fatores de crescimento, como IGF-1, demais moléculas promotoras de tumores. • Bullying ou Assédio moral: atualmente é considerado uma “comorbidade” que justifique a cirurgia bariátrica. • Transtorno afetivo: por questões psicossociais relacionadas à obesidade (neurose classificada por Freud) • Demência: estou com MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS • Peso, altura, IMC • Circunferências: o Braço o Cintura o Quadril: na altura da crista ilíaca o Abdominal: dois dedos acima da cicatriz umbilical TRATAMENTOS 1) Mudança no estilo de vida: → Dieta: diminuição da ingesta calórica, perda de peso é esperada com dieta de 800 a 1200 kcal/dia → Mudança comportamental: atividade física regular 2) Farmacoterapia: → Fentermina (USA) para uso < ou = a 3 meses → Orlistatina (120 mg antes das refeições, 3x ao dia): inibidor da lipase → Lorcasserina (10 mg 2x ao dia): agonista serotoninérgico que promove saciedade → Liraglutida – Victoza® (0,6 mg SC/dia com incremento semanal até atingir 3 mg): retarda esvaziamento gástrico. → Fentermina-Topiramato (3,75/23 mg CO progressão até 15/92 mg/dia): redução do apetite – perda de peso média em 1 ano de 8,1 a 10,2 Kg (associados à bons hábitos alimentares) → Naltrexona-Bupropiona (01 cp de 8/90 dia com progressão até 02 cp 2x ao dia): diminui a ingesta de alimentos – perda de peso média em 1 ano de 6,2 Kg • Dobras cutâneas o Tricipital (DCT) o Bicipital (DCB) o Subescapular (DCSE) o Axilar média (DCAM) o Supra ilíaca (DCSI) o Coxa (DCC) o Peitoral o Panturrilha (DCP) CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA P3 RUTE PAULINO XXII 4 → Recuperação de peso pós prandial da medicação é comum (reincidência) 3) Cirurgia Bariátrica → Quando não há resposta terapêutica clínica → Perda de peso em longo prazo não ocorre em todas as tentativas anteriores. → Melhoria ou resolução das comorbidades → Aumento da expectativa de vida. INDICAÇÃO • IMC superior a 40 Kg/m², sem comorbidades ou >= 35 kg/m² comcomorbidades • Idade entre 18 e 60 anos • Obesidade de longa data (>5 anos) • Falha de tratamentos clínicos anteriores • Motivação – o paciente precisa querer a cirurgia • Capacidade de fornecer um consentimento válido (consentimento informado) • Disposição/Aptidão para cumprir recomendações dietéticas, desenvolver atividade física, manter acompanhamento médico-nutricional no pós-operatório • Ausência de contraindicações (risco cirúrgico elevado/Cirrose grave/Abuso de álcool e drogas) • No Brasil, está prevista a cirurgia para pacientes entre 16-18 anos/>65 anos. TECNICAS CIRÚRGICAS As técnicas vão se resumir em diminuir o tamanho do estômago (método restritivo), ou muda a “tubulação”, deixando um pedaço forma do percurso (diminui absorção), ou as duas estratégias juntas. Para cada uma delas se tem a perda de peso e as complicações esperadas e possíveis. Gastrectomia Vertical (Sleeve): Procedimento restritivo e metabólico. O estômago é transformado em um tubo gástrico, com capacidade de armazenamento reduzida (80 a 100 ml). O pedaço não funcional não é retirado, é grampeado e permanece ali. É colocada uma sonda espessa (que vai delimitar o tamanho do novo tubo gástrico), e vai usar o grampeador, rente a essa sonda. Delimitando o espaço correto. Colocação de Banda Gástrica Ajustável Representa hoje menos de 1% das cirurgias. É uma medida somente restritiva. Caracterizada pela colocação de um anel de silicone inflável e ajustável que é instalado ao redor da transição do fundo gástrico, criando uma câmara que tem cerca de 15 a 40 ml, tornando possível controlar o esvaziamento do estômago pelo subcutâneo (injeção de SF para diminuir a câmara gástrica). Problemas: possíveis complicações intrusão transparede do estômago (rasga e entra). CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA P3 RUTE PAULINO XXII 5 Derivação Biliopancreática (Cirurgia de Scorpinaro) Associação entre gastrectomia vertical e desvio intestinal. 60% do estômago é retirado, mas a anatomia básica e sua fisiologia de esvaziamento são mantidas. O desvio intestinal reduz a absorção dos nutrientes. Técnica restritiva e metabólica É feito ressecção de parte do estômago, o coto duodenal é fechado, há a redução do espaço para o alimento, e um desvio do intestino inicial (anastomose íleo-pancreática) é feito, deixando 150 cm apenas de intestino. BYPASS Gástrico em Y de Roux Cirurgia mais praticada no Brasil (75% dos casos). Alta eficácia e segurança. Técnica restritiva e metabólica O paciente perde de 70 a 80% do excesso de peso inicial. Na técnica de Scorpinaro, tem uma ressecção com uma anastomose, nesse caso, não há ressecção, apenas a separação de um coto do estômago, deixando uma câmara de 30-50ml, a alça intestinal com 150 cm, diminuindo a área de absorção. Promove o aumento de hormônios que dão saciedade e diminuem a fome e diminui a área de absorção. Derivação Biliopancreática com Switch Duodenal. I Técnica Restritiva Aqui, há a manutenção do piloro. Por laparotomia ou laparoscopia realiza-se gastrectomia vertical com manutenção do piloro e tubo gástrico da pequena curvatura. Secciona-se o duodeno no plateau pancreático. A boca distal é sepultada. O íleo é seccionado entre 200 e 300cm do ceco e a boca distal é anastomosada ao bulbo duodenal. A boca proximal é anastomosada ao íleo de 50 a 100cm do ceco. O piloro controla então o esvaziamento gástrico. CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA P3 RUTE PAULINO XXII 6 COMPLICAÇÕES COMPLICAÇÕES IMEDIATAS: ▪ Deiscência de anastomose: abertura da anastomose realizada (5 ao 7º dia – maior período de formação de colágeno, antes disso é erro técnico). Por isso é deixado um dreno de silicone, próximo à anastomose, que não evita a deiscência, mas mostra instantaneamente se está havendo o vazamento de ácido para a cavidade peritoneal. ▪ Embolia Pulmonar: uso de meia compressiva, anticoagulantes (clexane) etc., para evitar TVP COMPLICAÇÕES PRECOCES (3 a 4 dias após a cirurgia): ▪ Fístulas: complicação mais temida. Para cada tipo de tecido há um grampo específico ou uma tensão específica, para permitir a passagem dos capilares e evitar a isquemia. Se algo der errado, o grampo corta o fluxo sanguíneo, gera isquemia e inflamação, fazendo com que o grampo se solte e abra uma fístula ali. Para isso serve o dreno tbm (para mostrar) ▪ Embolia pulmonar: formação de trombos que podem migrar para o pulmão ▪ IAM: geralmente já são pacientes com algum tipo de lesão cardíaca, com o uso de anticoagulante e todo o estresse da anestesia (favorecimento de coagulação), pode haver um IAM. ▪ Atelectasias: o alvéolo é comprimido pelos lobos pulmonares, que por sua vez são comprimidos pelo diafragma, fazendo com esses sejam colabados. Precisa colocar uma máscara de O2 para forçar a abertura dos alvéolos. ▪ Broncopneumonia: se os alvéolos continuarem colabados, há o acúmulo de secreção naquele local e formação de um foco bacteriano/viral, gerando a broncopneumonia. ▪ Insuficiência respiratória: pacientes que não conseguem sair da IOT (principalmente pacientes com enfisema) ▪ Infecção da Ferida: mais em cirurgias abertas. Acúmulo de linfa > Abscesso, ou formação de úlcera. ▪ Hemorragia digestiva COMPLICAÇÕES TARDIAS: ▪ Aderências: toda vez que há violação do peritônio, há formação de bridas. ▪ Hérnia interna (Petersen): o Ao levar a alça intestinal para a realização desta anastomose, o cirurgião causa uma mudança na anatomia normal do paciente. Esta alça passa a cruzar anteriormente o cólon transverso. O contato do meso do intestino grosso com o meso da alça intestinal gerado na cirurgia provoca o surgimento de um espaço, chamado de brecha (espaço de Petersen), que não existia antes da cirurgia. o Como o ID é móvel, pode ocorrer a passagem de alguns segmentos do intestino através desta brecha, causando uma hérnia interna o Pode ser completamente assintomática e não causar prejuízo algum ao paciente, no entanto, quando uma grande quantidade de alças passa por esta brecha ou a própria alimentação CIRURGIA DA OBESIDADE MÓRBIDA P3 RUTE PAULINO XXII 7 normal do paciente promove uma distensão ou aumento das alças, gera isquemia, resultando em necrose e/ou perfurações. ▪ Obstrução intestinal: Grudou na parede e fechou, ou fez um volvo – obstrui intestino e irrigação ▪ Náuseas e vômitos: pelo tamanho da camada gástrica ▪ Obstrução de boca anastomótica: por edema ou por alimento que tampona o local. ▪ Impactação de alimento ▪ Úlceras marginais ▪ Refluxo Gastroesofágico ▪ Síndrome de Dumping ▪ Litíase Biliar: porque foi retirado o local das vias biliares, fazendo com que aumente a produção de Bb, causando uma disfunção nos componentes da bile e consequentemente, gerando a precipitação de cálculos. ▪ Hérnia incisional ▪ Desnutrição e desidratação (só cabe pouca comida e pouca água) ▪ Deficiência de ferro; Deficiência de vitamina B12 e lipossolúveis; Deficiência de cálcio por diminuição da absorção intestinal. RESULTADOS DA CIRURGIA BARIÁTRICA 1) Redução de peso (2/3 do excesso de peso em 12 a 18 meses) 2) Correção de algumas ou todas as comorbidades (DM, Dislipidemia, HAS, Apneia do sono, RGE, Osteoartrite, depressão, EHNA
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