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GESTÃO AMBIENTAL Programa de Pós-Graduação EAD UniAssElvi-PÓs Autor: José Constantino sommer CEnTRO UnivERsiTÁRiO lEOnARDO DA vinCi Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – inDAiAl/sC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Prof. Márcio Moisés Selhorst Revisão de Conteúdo: Prof. Luiz Hamilton Pospissil Garbossa Revisão Gramatical: Profa. Márcia Junkes Diagramação e Capa: Carlinho Odorizzi Copyright © Editora UniAssElvi 2011 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri – UNIASSELVI – Indaial 363.7 s697g sommer, José Constantino Gestão ambiental / José Constantino Sommer. indaial : UniAssElvi, 2011. 103 p. il. Inclui bibliografia. isBn 978-85-7830-378-5 1. Gestão ambiental 2. Administração i. Centro Universitário leonardo da vinci ii. Núcleo de Ensino a Distância iii. Título José Constantino sommer Biólogo e mestre em Engenharia Ambiental. Educador Ambiental na Fundação Municipal do Meio Ambiente de Blumenau, SC. Professor de disciplinas de Meio Ambiente em cursos de graduação e pós-graduação. Co-autor das publicações Amiguinhos do Meio Ambiente (infantil), da Editora Todolivro e do livro Desenvolvimento e Meio Ambiente em Santa Catarina, da Editora Univille. Sumário APREsEnTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTUlO 1 meio Ambiente, SociedAde e deSenvolvimento ...............................9 CAPÍTUlO 2 economiA ecológicA ou AmbientAl .............................................31 CAPÍTUlO 3 SiStemAS de geStão AmbientAl ....................................................59 CAPÍTUlO 4 Marketing e reSponSAbilidAde AmbientAl ....................................85 APRESENTAÇÃO Caro pós-graduando (a) Gostaria de apresentar-lhe o Caderno de Estudos da disciplina de Gestão Ambiental. Nele serão abordados temas que se relacionam à construção de conhecimentos específicos e gerais sobre essa temática. O caderno inicia, no capítulo 1, com uma visão histórica e conceitual sobre a relação do ser humano, como sociedade, com o meio ambiente. Trata do desenvolvimento e suas interfaces com a degradação e a poluição ambiental, indicando algumas possíveis soluções para melhorar essa relação. No capítulo 2, a questão econômica é mais aprofundada e faz-se um comparativo entre a economia tradicional, altamente usurpadora dos bens naturais e uma visão mais sistêmica e equilibrada, ou seja, a Economia Ecológica ou Ambiental, que é apresentada e levada à reflexão para você. Ainda, neste capítulo, são mostrados diversos exemplos de aplicação da Economia Ecológica, para que você possa refletir sobre a sua aplicabilidade. O capítulo 3 trata da Gestão Ambiental propriamente dita. Nele veremos como as empresas devem implantar seus sistemas, de acordo com a norma isO 14.001; e, seguindo exemplos exitosos de outras organizações que decidiram implantar programas próprios. Por fim, o capítulo 4 apresenta os conceitos de Marketing e Responsabilidade Ambiental. São apresentados como necessidades, mas também, como potencialidades às organizações. Também são apresentados vários exemplos de instituições que atuam de forma responsável e que galgaram prêmios e reconhecimento por parte da sociedade, incorporando valor à imagem de suas corporações ou produtos. Então, quero convidar você a acompanhar e participar desse interessante estudo sobre como podemos, sendo sociedade ou sendo organização, mudar a nossa relação com o meio ambiente e construir um futuro melhor para nós e para as gerações que virão. O autor. 8 Gestão Ambiental 8 CAPÍTUlO 1 meio Ambiente, SociedAde e deSenvolvimento A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Conhecer o histórico da questão ambiental no mundo e no Brasil. 3 Analisar as percepções e visões sobre a temática ambiental. 3 Conhecer e analisar as diferentes concepções sobre a relação entre sociedade e meio ambiente. 3 Conhecer as diferentes concepções da relação entre desenvolvimento e sustentabilidade ambiental. 3 Investigar e propor soluções para a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento da sociedade, compatíveis com o processo produtivo. 10 Gestão Ambiental 10 11 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 11 Capítulo 1 contextuAlizAção Já nos acostumamos a ver e ouvir notícias sobre os problemas relacionados à natureza com muita frequência. A todo o tempo somos perturbados por informações que dão conta de temas não agradáveis, como o aquecimento global e suas consequências mais terríveis, furacões e ciclones, maremotos, secas e inundações, perda de vidas e de produção agrícola, entre outros. Além disso, outros problemas aparecem de forma recorrente para nós: destruições das florestas, matança e maus tratos aos animais, poluição do ar, da água e do solo, má destinação ao lixo e tantos outros. Também é claro para todos nós que estes problemas são potencializados, se não causados, pelo próprio ser humano, na sua ânsia pelo consumo e dominação da natureza, como você poderá perceber ao longo deste capítulo. Essa dominação, necessária para a produção de riquezas e qualidade de vida, segundo a economia tradicional, tem suas origens nas visões de mundo mais antigas da humanidade, que se aprofundaram na Idade Media, como veremos a seguir. Francis Bacon, filósofo que viveu no século XVI, foi o pai do método empírico da ciência, também conhecido como método experimental. Ele acreditava que o saber científico deveria ser medido em termos da capacidade de dominação da natureza. Essa capacidade era a de domar as forças naturais como as águas e as tempestades. vivemos, depois de Bacon, uma visão da modernidade, que fragmenta o mundo para compreendê-lo; mas, que não faz nenhum sentido, por exemplo, para muitos dos povos indígenas que pensam o Universo de forma mítica. Como também, não faria nenhum sentido na Grécia antiga, que não concebia a natureza em oposição aos humanos. Os gregos desse período tinham um nome muito especial para denominar a natureza e todo o Universo que não era pensado como um objeto, mas como totalidade: Physis. Ela designava a natureza de todas as coisas, que nascem e se desenvolvem sem a assistência dos humanos, isto é, que se desenvolvem por si mesmas, independentemente da vontade humana. A vida na Terra se entrelaça numa rede e todos dependemos da harmonia desse entrelaçamento. O ser humano e as relações que fazem parte do meio ambiente são objetos de estudo da área ambiental. Ao longo dos tempos, o ser humano transformou o meio ambiente, criou cultura, estabeleceu relações econômicas, desenvolveu modos de integração com a natureza e com outros seres humanos. Mas, raramente, ele assim promoveu a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental. “Não são todas as atividades humanas que causam 12 Gestão Ambiental 12 impactos relevantes sobre a natureza, mas um determinado modo de produção que inclui não só as relações da sociedade com a natureza como também, as relações dos homens entre si”. (Brügger, 2004) Nós sabemos que a vida se produz nas relações dos indivíduos com o meio físico, social e cultural. Falar de qualidade de vida é pensar na qualidade do ar que se respira, no uso consciente do solo e da água, no respeito a todas as formas de vida. Ela certamente não está no consumismo desenfreado, na miséria, na iniquidade social, na desnutrição e nas condições degradantes do meioonde se vive. Neste capítulo, você poderá conhecer e aprofundar-se sobre as razões históricas e culturais que levaram a humanidade a estabelecer esta forma de relação com a natureza tão danosa e tão pouco ética. Também poderá perceber alguns caminhos que poderão e deverão ser trilhados pela humanidade para não só melhorar a relação com a natureza, como também garantir, a própria sobrevivência da vida humana na Terra. Na próxima seção iremos estudar a evolução da questão ambiental ao longo do tempo e as mudanças de percepção da humanidade sobre a sua relação com o meio ambiente. evolução HiStóricA dA QueStão AmbientAl Você sabe e percebe nas mudanças tecnológicas e comportamentais que desde os primórdios da civilização humana até os tempos atuais, fomos impelidos pela vontade de melhorar a condição de vida humana e de poder enfrentar as adversidades, que naqueles tempos significava mesmo, manter a própria vida diante das dificuldades e agressões que a natureza nos impunha. Assim, fomos desenvolvendo técnicas e tecnologias, inicialmente muito rudimentares, como armas e utensílios de madeira e pedras, utilizando o fogo como meio para aquecer e afugentar animais, por exemplo. Depois, veio a sedentarização, com a agricultura e a pecuária substituindo a coleta e a caça, os agrupamentos primitivos, a urbanização e a sociedade moderna, com a explosão demográfica. Também cada técnica e tecnologia anteriormente utilizada foi aprimorada, ampliando gradativamente e largamente a capacidade de degradação e a poluição no ambiente. Entre 1400 e 1900 ocorreram grandes modificações que deram origem à civilização industrial: criação dos estados modernos europeus, crescimento do mercantilismo, surgimento do sistema colonial (acumulação de capitais financeiros e comerciais), descobertas técnicas e científicas, formação de mão-de-obra (artesãos e camponeses nas primeiras manufaturas), concentração das populações nas cidades (mercados de consumo) e desenvolvimento cultural. Antes de 1500 os agrupamentos humanos mais importantes estavam organizados em civilizações agropastoris orientadas pelo capitalismo comercial. 13 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 13 Capítulo 1 Somente a Revolução Industrial, no século XVIII, é que modificou o cenário de dominação pelo capitalismo comercial. surgiu assim, uma nova ordem capitalista, exercida pelos donos das fábricas sobre a população marginalizada e os camponeses. Entre 1760 e 1830, aproximadamente, ocorreu a primeira revolução industrial, com o surgimento da máquina a vapor. Por volta de 1870 aconteceu a segunda revolução industrial, em função da descoberta e do domínio da eletricidade. A partir de então, a produção em série e o consumo tomaram um rumo de crescimento exponencial e irreversível. no início do século seguinte, ocorreu a primeira grande guerra mundial, que deu impulso às novas tecnologias, porém, em meados do século, com a segunda guerra e os eventos que a sucederam, especialmente de reerguimento da Europa semidestruída, é que o desenvolvimento adquiriu o padrão hoje, observado e as conseqüências das dimensões planetárias. Observe o histórico abaixo, que traz uma sequência comentada sobre os principais acontecimentos relacionados direta ou indiretamente à questão socioambiental. 1945: Primeira explosão da Bomba atômica no Novo México (julho) e em Hiroshima e Nagasaki, Japão (agosto), que pôs fim à segunda guerra mundial. O ser humano adquiria a capacida- de de destruir a si e a toda a vida. 1963: Publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Raquel Carls- son. Denunciava o uso de agrotóxicos na agricultura e os danos ecológicos. 1965: É publicado “Antes que a Natureza Morra”, de Jean Dorst. 1965/70: Surgiramm as primeiras ONGs ambientais e aprofunda- ram-se os movimentos sociais (pacifistas, antinucleares, estudantis e hippies). 1968: Foi lançada a obra “Bomba Populacional”, de Paul Ehrlich, que trata da questão do aumento exponencial da população humana e a relação com o consumo de recursos naturais. Reuniu-se o Clube de Roma, basicamente composto por em- presários e que destacou o consumo de recursos naturais e o aumento da população (controle e consumo). Deu origem ao livro limites do Crescimento, ou relatório Meadows, que é Somente a Revolução Industrial, no século XVIII, é que modificou o cenário de dominação pelo capitalismo comercial. Surgiu assim, uma nova ordem capitalista, exercida pelos donos das fábricas sobre a população marginalizada e os camponeses. 14 Gestão Ambiental 14 considerado, por muitos, alarmista demais. Pregava o cres- cimento zero, no que foi criticado pelos países do Terceiro Mundo. Colocou a questão ambiental em nível planetário. 1968/69: Viagens à lua, com a imagem da Terra. Conduziu à per- cepção sobre a pequenez humana e da Terra no Universo. 1970: Crescimento exponencial dos ecologistas, irritando tanto a direita conservadora quanto a esquerda radical. 1972: Foi lançado o Manifesto pela Sobrevivência, em Londres, culpando o consumismo e o industrialismo pela degradação. Também ocorreu neste ano a Conferência de Estocolmo, Suécia, cujo tema central foi a poluição industrial. Em Esto- colmo, Brasil e Índia defenderam que a poluição é o preço a pagar pelo desenvolvimento. 1973: Crise do petróleo e energética. Percepção sobre a esgotabili- dade dos recursos naturais, corrida à energia nuclear com de- bates profundos. E.F. Schumacher produziu Small is Beautifull, que fala de tecnologias alternativas e novos modelos de desen- volvimento. surgiu o Ecology Party, depois Green Party, primei- ro partido identificado com o tema ecológico, na Inglaterra. 1975: Em Belgrado, atual capital da sérvia, ocorreu a i Reunião de Educação Ambiental, em âmbito mundial, onde se produz a Carta de Belgrado, com princípios e orientações para os pro- gramas mundiais de Educação Ambiental. 1989: Foi produzido o documento Nosso Futuro Comum, sob a co- ordenação de Gro Brundtland, então primeira ministra da no- ruega. A partir da realização de várias reuniões, produziu-se um relatório que serviria de subsídios para a Conferência do Rio de Janeiro, enfatizando o Desenvolvimento Sustentável e a Educação Ambiental. 1990: Herman Daly lançou For the Common Good, em que consi- dera a sistematização de princípios de economia ecológica e faz uma profunda crítica à economia tradicional. 1992: Realiza-se a ECO-92, ou Conferência do Rio de Janeiro. Di- feriu fundamentalmente de Estocolmo porque aquela tratou basicamente da relação homem e natureza e esta do desen- volvimento econômico, com influência direta sobre a Educa- 15 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 15 Capítulo 1 ção Ambiental. Todos os países do mundo participaram. Teve como um dos produtos mais importantes a Agenda 21, em que países, cidades e outros territórios deveriam definir me- tas socioambientais para o século XXI. 1995: Foi lançado o livro O Ponto de Mutação, de Fritjof Capra. Nele há um profundo questionamento do modelo cartesiano, que se opõe à visão sistêmica. 1996: Criação do Programa Cidadania Ambiental Global, pela ONU. Compreensão e ação foram as questões centrais. Também deu força ao terceiro setor sobre as questões ambientais. 1997: Ocorreu a conferência Rio +5, em que se perceberam pou- cos avanços sobre 1992. Neste ano produziu-se no Japão, o Protocolo de Quioto, depois Tratado, no qual se estabelece- ram metas de redução da produção de gases do efeito estufa pelas nações. 2002: Realizou-se a Conferência de Cúpula de Joannesburgo, África do Sul, sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente. Fracasso anunciado pela ausência dos EUA. 2003: Ocorreram a 1ª Conferência Nacional das Cidades e 1ª Con- ferência Nacional do Meio Ambiente em Brasília, no Brasil. 2004: Ocorreu a homologação do Tratado de Quioto, apesar da postura negativa dos EUA. 2004: Foi realizada a convenção de Estocolmo,Suécia, sobre Produ- tos orgânicos Persistentes, que passou a vigorar mundialmente. 2009: Foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Saúde Ambiental, em Brasília, no Brasil, numa tentativa de aproximar essas duas áreas, tão próximas em termos de necessidades e tão distantes em termos de políticas. 2010: Vazamento de petróleo no Golfo do México (empresa British Petroleum), alterando drasticamente a paisagem, os ecossiste- mas e a economia dos EUA. Fonte: O autor. 16 Gestão Ambiental 16 Figura 1 – Conferência do Desenvolvimento e Meio Ambiente Fonte: Disponível em: <http://biodiversidadedasamericas. blogspot.com/>. Acesso em: 10 mar. 2011. A Conferência do Rio de Janeiro, sobre Desenvolvimento e Meio ambiente, realizada pela ONU, em 1992, é considerada ainda hoje, o grande evento mundial. Porém, poucos avanços ocorreram desde lá. Figura 2 – Vazamento de petróleo Fonte: Disponível em: <http://www.jornal.us/article-4969.Governador- da-Florida-declara-estado-deemergencia-apos-vazamento-de- oleo-no-Golfo-do-Mxico.html>. Acesso em: 10 mar. 2011. O vazamento de petróleo da empresa British Petroleum no Golfo do México, em 2010, é um exemplo da pouca preocupação mundial com o meio ambiente. O desastre contaminou e degradou grandes áreas naturais e afetou negativamente a economia da região. 17 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 17 Capítulo 1 Observe que as imagens, que destacam dois momentos importantes da história recente da humanidade, mostram que ela é feita de decisões acertadas ou erradas, cujas consequências afetam não somente o meio ambiente, mas a toda atividade humana e a sua qualidade de vida. Você pode perceber nessa linha do tempo, que tivemos diversas contribuições literárias, e outros acontecimentos mundiais e em nosso país que acrescentaram conhecimento e debate sobre a questão ambiental. Porém, tudo isso e outros tantos acontecimentos, como veremos nos capítulos seguintes, pouco influenciaram a humanidade para que tivéssemos mudanças significativas na relação sociedade e meio ambiente. Atividade de Estudos: 1) Você poderá estabelecer um rol de problemas ambientais que percebe em seu cotidiano, na cidade em que você mora. Embora esses não tenham, geralmente, o alcance dos problemas globais, são um indicativo importante da cultura local. Também, no somatório, esses problemas contribuem significativamente para a poluição e a degradação mais gerais. Procure listar os 10 principais descasos com o meio ambiente que você observa no seu dia a dia. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ SociedAde e meio Ambiente Na seção anterior, vimos como a humanidade foi criando, ao longo da história, o modelo de sociedade em que vivemos, com suas vantagens e desvantagens. Nesta seção iremos aprofundar o conhecimento sobre como a sociedade se relaciona com o meio ambiente e o que resulta dessa relação. 18 Gestão Ambiental 18 A humanidade sempre teve e terá uma enorme dependência dos chamados recursos naturais. Absolutamente, todas as coisas materiais são produzidas a partir de produtos da natureza, por mais distantes que dela pareçam, como os componentes eletrônicos de diversos equipamentos, ou os plásticos e fibras industriais, por exemplo. Assim, transformá-las ou usá- las diretamente são atividades inerentes à sociedade moderna. Produzir bens a partir dos recursos que a natureza proporciona é necessário para gerar riquezas e bem-estar social. Além disso, é o ambiente natural prestador de outros serviços essenciais, que são exercidos diretamente, em seu estado original, como o equilíbrio atmosférico, neutralizando os efeitos danosos dos gases de estufa, equilibrando o clima ou reciclando a matéria orgânica e permitindo o uso e contemplação da natureza para o lazer. Tudo isso demonstra a indissociabilidade entre humano e o natural. Aliás, como sabemos, dele fazemos parte. As atividades humanas parecem ser as causas mais comuns e imediatas dos problemas que nos estão confrontando. Na esfera ecológica, por exemplo, a excessiva produção de madeira e de mineração e a expansão agrícola têm levado ao desflorestamento, à alteração de habitats e à perda da biodiversidade. Muitos desastres “naturais” são atualmente considerados como tendo sido induzidos pelo homem. (CAvAlCAnTi, 2002, p.39) O crescimento desordenado e acelerado das atividades humanas, centrado em sociedades cada vez mais complexas e utilizando ferramentas mais impactantes, mais demandadoras de energia e geradoras de resíduos, associado ao crescimento populacional, como especialmente, visto nos países ditos periféricos, concentradores de pobreza e de dependência direta dos recursos do ambiente têm levado o planeta à exaustão. Assim, já consumimos mais recursos do que a capacidade de reposição da própria natureza. Percebemos que o aumento do consumo desenfreado (consumismo) é outro fator de descompasso. O aumento do chamado consumo vegetativo, relacionado ao crescimento populacional, isoladamente, já gera aumento significativo do consumo de recursos, mas há um crescimento exponencial do consumo per capita, de energia, água, bens materiais e produção de lixo, por exemplo, colocando sério risco para a humanidade. A questão do lixo, como sabemos, é um dos principais problemas ambientais, especialmente no ambiente urbano. O adequado gerenciamento dos resíduos, especialmente os de origem doméstica, principalmente evitando a sua produção, são um desafio enorme para os gestores públicos e para a própria sociedade, como nos mostra a figura abaixo: É o ambiente natural prestador de outros serviços essenciais, que são exercidos diretamente, em seu estado original, como o equilíbrio atmosférico, neutralizando os efeitos danosos dos gases de estufa, equilibrando o clima ou reciclando a matéria orgânica e permitindo o uso e contemplação da natureza para o lazer. 19 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 19 Capítulo 1 Figura 3 – Aterro sanitário Fonte: O autor. A produção excessiva de resíduos é um problema mundial que afeta indistintamente grandes e pequenas cidades. A produção per capita mundial triplicou nos últimos 50 anos. Para Feldmann (2003, p. 155): Cada vez se amplia mais o entendimento sobre a situação de risco em que a Humanindade se encontra, em função das alterações que ela mesma tem provocado no planeta. A urgência dos problemas está nitidamente colocada. Entretanto, nem sempre está claro para cada cidadão deste planeta o papel que exerce na sua condição de consumidor, ou seja, no poder político que lhe é conferido em relação às escolhas que faz. De certa maneira, o consumidor afluente encontra-se atordoado pelo gigantesco repertório de opções de consumo que possui, sem se dar conta das suas repercussões. Observe que o cerne da questão é a percepção. A forma como vemos ou deixamos de enxergar o quanto somos protagonistas no processo de degradação, nos torna algozes e vítimas ao mesmo tempo, do nosso destino. Você pode perceber que a visão hegemônica na relação entre sociedade e meio ambiente é a do domínio da exploração, do consumo e do descarte. Observe que o cerne da questão é a percepção. A forma como vemos ou deixamos de enxergar o quanto somos protagonistas no processo de degradação, nos torna algozes e vítimas ao mesmo tempo, do nosso destino. 20 Gestão Ambiental 20 O crescimento desenfreado do consumo, da economia e o desenvolvimentoa qualquer custo têm levado a uma situação de perigo para a humanidade. Ainda assim, a maioria das pessoas não consegue enxergar o caminho que estamos trilhando e toda a amplitude das consequências que virão. Atividade de Estudos: 1) Reflita sobre as razões que fazem com que o consumo per capita aumente considerando os principais bens de consumo e serviços que adquirimos. Produza um texto dissertativo, em torno de 15 linhas, sobre essa questão. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Compare as ferramentas abaixo e perceba a diferença entre a transformação gerada no solo pelos antigos arados já utilizados há milênios e as modernas máquinas capazes de mover toneladas de terra em poucos minutos. Figura 4 - Arado antigo Disponível em: <www.egito. fernandofelix.com.br/imagens/fig9. jpeg>. Acesso em: 15 mar. 2011. Figura 5 - Trator moderno Fonte: Disponível em: <http://www. connectionworld.org/wpcontent/ uploads>. Acesso em: 20 dez. 2010. 21 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 21 Capítulo 1 Observe também as profundas alterações nos agrupamentos humanos, desde os tempos mais primitivos às sociedades modernas. Figura 6 - comunidade pré-histórica Fonte: Disponível em: <http://www.comunidad.pedagogia.com. mx/diseno/historia_1.jpg>. Acesso em: 15 dez. 2010. Figura 7 - Sociedade Medieval Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_lZgrrP1BjjI/SxfpEIUmaNI/ AAAAAAAAAX4/iKK2OuDTfsw/s400/sociedade.jpg>. Acesso em: 15 dez. 2010. Figura 8 - Sociedade Moderna Fonte: Disponível em: <http://www.eluniversal.com.co/v2/sites/default/ files/imagecache/foto_interior/CAOS.jpg>. Acesso em: 15 dez. 2010. Tanto o uso de técnicas ou tecnologias novas, quanto o crescimento populacional, especialmente o urbano, são transformações dramáticas na relação do homem com a natureza e consigo mesmo, como se pode ver nas imagens acima. 22 Gestão Ambiental 22 A crescente urbanização contribui largamente para o aprofundamento da crise socioambiental. Não só as megalópoles ou as metrópoles caracterizam- se pela degradação e poluição. Também cidades de porte médio, mundo afora, possuem em menor escala, problemas relacionadas ao lixo, esgoto não tratado, destruição da mata ciliar, poluição atmosférica, sonora, visual e dominação pelo automóvel. nem a criação dos chamados distritos industriais nas metrópoles e cidades industriais brasileiras, já a partir da década de 1980, foram suficientes para estancar a degradação do ambiente urbano. Tornaram-se, os distritos industriais, na maioria das vezes, novas áreas de moradia dos trabalhadores, pela possibilidade de viverem próximas ao local de trabalho. Assim, a vizinha poluição industrial fez com que tivessem a sua qualidade de vida piorada. Muitas novas técnicas e tecnologias permitiram e até impuseram, por razões legais, às empresas a possibilidade de diminuírem o impacto por elas geradas, inclusive no que tange a sua relação com a saúde e com a qualidade ambiental das áreas que as circundam. Esse acelerado ritmo de industrialização e concentração de contingentes populacionais em áreas urbanas, principalmente a partir de 1960, passou a provocar profundos impactos no meio ambiente, tanto físicos como econômicos e sociais, promovendo a atividade industrial a fator determinante nas transformações ocorridas (AnDRADE et al, 2006). Como vimos nesta seção, o processo de industrialização, o crescimento populacional e todas as atividades humanas são decisivas para o estado do planeta e se revertem em uma piora significativa da qualidade de vida da população. Uma excelente dica de leitura para entendermos a relação da sociedade com o meio ambiente é o livro: CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: editora Cultrix, 1996, no qual o autor nos conduz a uma visão de interligação ecológica de todos os eventos que ocorrem na Terra da qual fazemos parte. Aqui ele apresenta o conceito de Ecologia Profunda. A crescente urbanização contribui largamente para o aprofundamento da crise socioambiental. 23 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 23 Capítulo 1 deSenvolvimento e SuStentAbilidAde Vimos na seção anterior sobre a fragilidade da nossa relação, como humanidade, com a natureza. Nessa seção, veremos que o desenvolvimento, num sentido amplo, é o elemento necessário a gerar a qualidade de vida nas sociedades ditas modernas, mas que também contribui de forma determinante para o agravamento dos problemas. Evidentemente, ele não faz sentido em sociedades que se mantém originais, como os nativos de várias partes do mundo que vivem diretamente da e na natureza. Eles têm qualidade de vida à sua maneira, de acordo com a sua cultura. Não são nem mais nem menos evoluídos do que nós. Estes povos mantém sustentáveis as suas relações com a natureza, pois dela extraem apenas o absolutamente necessário às suas atividades, majoritariamente endossomáticas. Endossomática é a energia utilizada apenas para a manutenção das atividades corpóreas de um indivíduo. A energia exossomática inclui todas as necessidades energéticas que temos não relacionadas à manutenção da vida propriamente dita, mas que tem a ver com a inserção na sociedade e na economia. A vida moderna impõe vários usos de energia que vão além das necessidades básicas vitais. Nessa “conta” individual poderíamos destacar a energia elétrica e a queima de combustíveis, necessárias ao cumprimento das nossas atividades, mas também, o gasto para produzir a própria energia elétrica e os combustíveis, além do transporte desses produtos. Você pode perceber, então, que para essa “conta” pessoal convergem gastos energéticos (exossomáticos) de processos até mesmo bastante distantes de nós, como a energia necessária à produção de um bem, como uma roupa, em outro país, por exemplo. Mas, temos muitas formas de diminuir o gasto energético per capita e devemos permanentemente ponderar sobre isso. Quando optamos por utilizar transporte urbano, ao invés do automóvel, todo o gasto relacionado ao ônibus, inclusive a sua produção, que é muitas vezes superior ao de um automóvel, deve ser dividido entre todos os passageiros, o que diminui significativamente o consumo individual. O gasto endossomático é o natural, embora caminhando para uma população mundial de 7 bilhões de pessoas, ele se torne muito importante 24 Gestão Ambiental 24 também. Se a humanidade vivesse, ainda hoje, de forma muito primitiva, seríamos apenas alguns milhões de pessoas, com gasto energético endossomático imensamente inferior. Outra curiosidade é que há gastos exossomáticos que parecem endossomáticos. O melhor exemplo pode ser o da atividade cerebral. Acompanhe o raciocínio. se um indígena, por exemplo, precisa pensar sobre a melhor forma de pegar um peixe para sua alimentação, o gasto é endossomático, mas você, que está estudando neste momento, usa energia exossomática para tal, porque esta é uma atividade não vital, do ponto de vista puramente biológico. Mas, voltemos às sociedades modernas. O que temos é um desenvolvimento à custa de profunda alteração ambiental. Essa alteração e suas consequências mais dramáticas nos conduzem à percepção sobre a insustentabilidade deste modelo. De uma forma geral, você pode perceber que o desenvolvimento e a economia não consideram os recursos naturais como bens finitos, apesar dos váriosindicadores da exaustão do suporte dos ecossistemas. não há uma preocupação, na economia tradicional, com o capital natural como fator que limita o próprio desenvolvimento da economia. se por um lado os recursos naturais são a fonte de matéria prima para a economia, são também os receptores dos resíduos e da poluição, o elemento de equilíbrio ecossistêmico e o espaço que permite o lazer e a produção de bem estar social, e como tal deve ser admitido pelo processo produtivo. Na natureza a energia e a matéria estão em permanente fluxo, tanto no mundo vivo como no inerte. Para a economia, a energia latente do universo não tem valor, necessitando ser liberada pelos processos econômicos para ser utilizada. Porém, isso gera um aumento entrópico, que é representado pela energia que já realizou trabalho, segundo a física, e que significa desordem, observada no aumento da temperatura do planeta, nos resíduos e nos poluentes diversos. Sabemos que a sociedade humana foi criando, ao longo do desenvolvimento tecnológico, diversos instrumentos que retiram energia latente da natureza, muito além das suas necessidades biológicas, contribuindo para o aumento entrópico. O processo de produção fotossintética, que prende energia, não dá conta do equilíbrio ecossistêmico somado à energia livre produzida pela atividade humana. O desenvolvimento socioeconômico precisa de energia, mas esta já aparece livre na natureza de várias formas, não havendo necessidade do O desenvolvimento socioeconômico precisa de energia, mas esta já aparece livre na natureza de várias formas, não havendo necessidade do uso de energia latente naturalmente aprisionada. 25 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 25 Capítulo 1 uso de energia latente naturalmente aprisionada. Essa diferente concepção, associada a outras importantes mudanças, especialmente comportamentais, faz- se necessária para frear o aumento da energia entrópica no planeta, que desestabiliza a vida como um todo e só atende às necessidades econômicas de uma parcela da sociedade humana. O modelo de desenvolvimento socioeconômico vigente tem se revelado como um sistema que não atende as necessidades humanas e ambientais, de uma forma geral. Os processos pertinentes a esse modelo são geradores de exclusão social, concentração de renda, poluição e degradação ambiental. Esses aspectos nos conduzem a uma percepção do esgotamento do sistema e da insustentabilidade do modelo. Se este modelo socioeconômico se mostrou insustentável, faz-se urgente o estabelecimento de uma nova forma de desenvolvimento que contemple, portanto, as necessidades sociais e ambientais. Essa nova forma de desenvolvimento pode ser chamada de desenvolvimento sustentável ou de sociedade sustentável, num sentido mais amplo. A partir destas observações, vários ideólogos, educadores e pesquisadores, comprometidos com a necessidade de mudanças, iniciaram um processo de tentar construir esse novo conceito, ao passo que tentativas isoladas em âmbito local e em alguns países têm produzido experiências neste sentido. Um conceito aplicado em várias partes do mundo é o de Ecovilas, um modelo de assentamento baseado na sustentabilidade ambiental e harmonia entre as pessoas. Nelas todas as questões ambientais são pensadas, já na sua concepção e projeto, mas também nas práticas, para promover a autosustentabilidade. você poderá ver mais a respeito no site da institução Ecovilas, disponível em http://www.ecovilas.ecocentro.org. 26 Gestão Ambiental 26 Basicamente, desenvolvimento sustentável pode ser conceituado como um sistema que gera qualidade de vida, atendimento das necessidades básicas e respeito ao meio ambiente. Outro elemento importante é a continuidade desse processo ao longo do tempo, razão pela qual também é conhecido com desenvolvimento durável. Sustentabilidade, do ponto de vista ambiental, apresenta-se como um conceito um tanto mais amplo que o de desenvolvimento sustentável. Envolve a construção de uma sociedade de equilíbrio que considera uma nova ética, que não é apenas social ou humana, mas também ambiental. Filosoficamente, apregoa um retorno a conceitos antigos, mas nunca ao mesmo tempo tão atuais, como uma visão mais holística da relação do homem com a natureza e consigo mesmo. Essa relação depende, em grande parte, de produzirmos uma economia também mais sustentável, em que a natureza não seja vista apenas como recurso, em que os bens ambientais sejam valorados economicamente, como veremos no próximo capítulo. isso permitirá o seu uso sustentável para as atuais e para as futuras gerações. O termo sustentabilidade, numa dimensão socioambiental, pressupõe uma reflexão muito profunda de cada um, em que a sua relação com a natureza e com cada outra pessoa seja permanentemente revista. Há alguns ótimos filmes que apresentam e discutem sobre questões relacionadas a desenvolvimento e meio ambiente. Muitos são símbolos da preocupação com os destinos da humanidade face às mudanças socioambientais. Eis algumas sugestões: Uma Verdade Inconveniente. Albert Gore, ex-vice-presidente dos EUA, faz um alerta sobre as razões e consequências das mudanças climáticas e a própria sustentabilidade da vida humana, neste filme que é homônimo do livro. Disponível em http://www. guba.com/watch/3000081561/049-Uma-verdade-inconveniente A origem das coisas. O filme de 2006 faz uma análise e um alerta sobre o consumo desenfreado e suas consequências mundiais. Disponível em http://videolog.uol.com.br/video.php?id=353307 Desenvolvimento sustentável pode ser conceituado como um sistema que gera qualidade de vida, atendimento das necessidades básicas e respeito ao meio ambiente. O termo sustentabilidade, numa dimensão socioambiental, pressupõe uma reflexão muito profunda de cada um, em que a sua relação com a natureza e com cada outra pessoa seja permanentemente revista. 27 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 27 Capítulo 1 sACHs, ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Editora Garamond, 2006. Esta obra introduz as ideias do economista sobre a eco-sócio-economia, uma ciência que percebe as interfaces entre a ecologia política, a sociologia e a economia, propondo uma nova visão para o desenvolvimento. Atividades de Estudos: Responda às questões abaixo, a partir de pesquisa, refletindo sobre os conceitos e informações vistos e pesquisando em fontes disponíveis. 1) Quais foram as diferenças fundamentais entre as Conferências de Estocolmo (1972) e a do Rio de Janeiro (1992), relativamente à participação das nações, produtos e resultados? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ 2) O que diferencia essencialmente os conceitos de desenvolvimento sustentável, sociedade sustentável e sustentabilidade? _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 28 Gestão Ambiental 28 3) A globalização contribuiu para o aprofundamentoda crise ambiental. Que consequências estão ligadas a este processo? Dê exemplos de como a globalização pode e tem sido usada para ajudar os países na busca por economia e tecnologias sustentáveis. ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ AlgumAS conSiderAçõeS Este capítulo faz, num primeiro momento, uma análise histórica e conceitual dos principais acontecimentos e eventos que contribuíram, positiva ou negativamente, para a questão ambiental. Associa a relação e as interfaces do ambiental e do humano, que devem ser considerados como parte do mesmo todo, tal é a indissociabilidade entre si. Na sequência, apresenta de forma mais explícita, esta relação apontada, mostrando como a sociedade, através da sua complexificação e do uso dos recursos da natureza tem acelerado a degradação e a poluição do ambiente, tanto o natural como aquele pelo homem transformado. Por fim, trata do desenvolvimento socioeconômico, da forma como é hegemonicamente colocado, em nível mundial, e de sua relação com os problemas ambientais. Também apresenta a ideia do desenvolvimento sustentável, em oposição ao desenvolvimento tradicional e as dificuldades para sua implantação. No próximo capítulo, você terá contato com a visão da economia sobre os bens naturais, em que a inesgotabilidade dos recursos não é percebida pelo processo tradicional. Também serão apresentadas e analisadas as visões das chamadas economia ecológica e ambiental, que trazem luz à questão econômica, necessária ao desenvolvimento e à geração de qualidade de vida das sociedades. 29 Meio AMbiente, SociedAde e deSenvolviMento 29 Capítulo 1 referênciAS ANDRADE, Rui Otávio; TACHIZAWA, Takeshy; de CARVALHO, Ana Barreiros. Gestão Ambiental: Enfoque Estratégico Aplicado ao Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Editora MAKRON Books, 2006. BRÜGGER, Paula. Educação ou Adestramento Ambiental. Chapecó e Florianópolis: Editoras Argos e letras Contemporâneas, 2004. CAvAlCAnTi, Clóvis (org.). Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. São Paulo: Editora Cortez, 2002. FELDMANN, Fábio. In Meio Ambiente no Século 21. Rio de Janeiro: Editora sextante, 2003. sACHs, ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. são Paulo:Editora Garamond, 2006. 30 Gestão Ambiental 30 CAPÍTUlO 2 economiA ecológicA ou AmbientAl A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Conhecer as diferenças conceituais e práticas entre a economia dominante e a ecológica ou ambiental. 3 Analisar e debater sobre as concepções entre as diferentes visões econômicas. 3 Propor cenários de compatibilidade entre a economia tradicionalmente concebida e as necessidades de preservação e conservação. 32 Gestão Ambiental 32 33 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 33 Capítulo 2 contextuAlizAção no capítulo anterior, vimos como o desenvolvimento da sociedade, ao longo de toda a sua história, produziu alterações significativas no planeta, ao ponto de colocar em risco a própria existência da vida na Terra. Agora veremos como o desenvolvimento econômico aprofundou as alterações, levando a humanidade a utilizar exaustivamente os recursos da natureza, de tal forma que invadimos o que poderíamos chamar de “poupança ambiental”, os bens que podem garantir os processos econômicos, mas também a própria existência humana e das demais formas de vida no planeta. A economia tradicionalmente concebida crê, ou pelo menos age, no sentido do crescimento ilimitado e vê a natureza como recurso a ser explorado, desconsiderando como regra, os demais serviços prestados por ela, como a neutralização dos produtos da economia (resíduos, gases e poluentes), o uso direto da natureza, como geradora de bem estar (lazer, contemplação e pesquisas) e o chamado valor intrínseco da natureza (o simples valor de existir). Este último baseia-se em um profundo senso ético, pois é o único não antropocêntrico, não se caracterizando como um uso, exatamente. Dar valor à natureza com um sentido simbólico, para o necessário equilíbrio ambiental da Terra é necessário, mas, mais do que isso, valorar a natureza do ponto de vista econômico é absolutamente imperioso. Nesse sentido, surge a Economia Ecológica, cujos princípios remontam ao início do século XX. Evidentemente, tais ideias são contrárias ao modelo de expropriação dos bens naturais como ocorre no desenvolvimento tradicional. Nela, esses bens sempre foram tidos como livres, sem valor econômico. Entretanto a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento com sustentabilidade socioambiental trouxe à tona essa preocupação, que passou a ser compartilhada por vários economistas dessa nova visão. Passou- se a teorizar sobre a questão e literatura e pesquisas foram e estão sendo realizadas, para refletir e mensurar o valor que a natureza deve ter, do ponto de vista econômico, como veremos a seguir. A economiA trAdicionAl e SuA interfAce com o AmbientAl A necessária importância da inclusão da temática ambiental nos aspectos econômicos começa a acontecer verdadeiramente apenas no final dos anos 1960, como você pode perceber no histórico (quadro abaixo): 34 Gestão Ambiental 34 Quadro 1 - EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO-ECOLÓGICO • Sergei Podolinski: No final do século XIX trocou correspondência com Karl Marx, em que discutiam as relações entre a termodinâmica, a biologia e a economia. • Mahatma Gandhi: No início do século 20 já mostrava preocupação com o desen- volvimento e o crescimento econômico vigentes. • Arthur Pigou: Autor de “The Ecomomics of Welfare”, em 1920, em que trata da questão das externalidades na economia. • Vladimir Vernadsky: Escreveu duas obras que tornaram-se marcos da Economia Ecológica ou Ambiental, “La Géochimie”, e “La Biosphère”, entre 1924 e 1926, falando sobre recursos naturais e os limites dos ecossistemas. • Alfred Lotka: Autor de “The Law of Evolution as a Maximal Principle”, em 1945, cuja obra trata sobre os mecanismos exosomáticos nos seres humanos. • John Hicks: Escreve “Value and Capital”, em 1946, tratando de economia sus- tentável. • Nicholas Georgescu-Roegen: Um dos nomes mais importantes para a Econo- mia Ecológica, o autor romeno produziu a obra “The Entropy Law and the Econo- mic Process”, em 1971, em que trata do processo entrópico e sua relação com a economia. • E.F. Schumacher: Autor de “Small is Beautiful“, de 1973, em que fala de tecnolo- gias alternativas e novos modelos de desenvolvimento, ponderando sobre a tese de que pequenos negócios, pequenas cidades e pequenas ações são mais fáceis de administrar e geram menos impacto ambiental. • Herman Daly: “For the Common Good”, 1990, em que considera a sistematiza- ção de princípios de economia ecológica e faz uma profunda crítica a economia tradicional. Fonte: O autor. Além dos autores e pensadores da questão econômico-ambiental, também o movimento ambientalista logo percebeu a necessidade de incorporar à sua luta a questão ecológica, que começava a ser fundamentada pelos trabalhos citados e que foi aprofundada pela crise do petróleo e a escassez de outros minerais, especialmente no início da década de 1970. 35 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 35 Capítulo 2 A chamada questão ambiental trouxe a crítica ao modelo de desenvolvimento socioeconômico, mostrando a incompatibilidade entre a preservação dos bens naturais e as necessidades do crescimento econômico. O esgotamento destes recursos significaria, assim, o próprio esgotamentodo crescimento econômico. A partir daí, a ciência econômica começou a dar atenção ao fato e vários estudos, debates e obras serem produzidos, relacionado ao tema. Neste processo, é de grande destaque o impacto do Clube de Roma, com a publicação de “The Limits to Growth”, o Relatório Meadows, de 1972. Tal trabalho aponta para um cenário catastrófico de impossibilidade de perpetuação do crescimento econômico devido à exaustão dos recursos ambientais por ele acarretada, levantando assim à proposta de um crescimento econômico “zero”. O debate passa então, a polarizar-se entre esta posição de “crescimento zero”, conhecida por “neo-malthusiana” e posições desenvolvimentistas de “direito ao crescimento” (defendida pelos países do terceiro mundo), indo desaguar na Conferência da UNCED em Estocolmo em 1972. (Amazonas, 2008). Ainda, segundo Amazonas (2008 p. 5) [...] a Economia Ecológica não partilha do ceticismo pessimista alarmista ecológico, que vê tais limites como iminentes e intransponíveis, pois ela reconhece que o progresso tecnológico constantemente promove a superação de limites naturais pelo aumento de eficiência e pela substituição de recursos exauríveis por renováveis. Tampouco a Economia Ecológica partilha do “otimismo tecnológico”, o qual entende as restrições naturais como um problema menor, pois estas sempre hão de ser superadas pela tecnologia, pois a Economia Ecológica reconhece que o progresso tecnológico de fato se dá, mas apenas dentro de certos limites fisicamente possíveis. Assim, a Economia Ecológica não adota nenhuma posição a priori quanto a existência ou não de limites ambientais ao crescimento econômico, adotando sim uma posição de “ceticismo prudente”, a qual busca justamente delimitar as escalas em que as restrições ambientais podem constituir limites efetivos às atividades econômicas. Sabemos que a Conferência de Estocolmo, em 1972, foi o primeiro grande encontro mundial para tratar de desenvolvimento e meio ambiente. Nele produziu-se a tese do ecodesenvolvimento, na qual se rompe com a visão da incompatibilidade entre desenvolvimento e preservação. Segundo esta tese, na realidade há uma interdependência entre eles. inicia-se então, um período de teorização sobre como promover esta compatibilização, que vai culminar com o conceito de desenvolvimento sustentável, consolidado no relatório nosso Futuro Comum, ou Brundtland, 15 anos depois de Estocolmo. A chamada questão ambiental trouxe a crítica ao modelo de desenvolvimento socioeconômico, mostrando a incompatibilidade entre a preservação dos bens naturais e as necessidades do crescimento econômico. 36 Gestão Ambiental 36 Como vimos no Capítulo 1, os eventos posteriores à conferência de Estocolmo e à edição do relatório Brundtland, especialmente as Conferências do Rio de Janeiro, em 1992 e 1997, reafirmaram a relação entre economia, desenvolvimento e meio ambiente. Pressupõe-se então, que o desenvolvimento precisa estar baseado em um tripé formado pela eficiência econômica, o equilíbrio ambiental e a equidade social. O Desenvolvimento Sustentável passou a ser o ponto de maior penetração da questão ambiental na Economia. Figura 9 – Tripé do desenvolvimento Fonte: Disponível em: <http://apuracao.wordpress.com/2010/11/05/ desenvolvimentosustentavel-ontem-e-hoje/.>. Acesso em: 11 mar. 2011. A crítica ambiental que gerou a preocupação com o desenvolvimento e a economia tem sua origem no campo das ciências naturais, posteriormente nas sociais, para só então, tardiamente, penetrar o campo das ciências econômicas. Este fato atrasou a criação deste novo conceito de desenvolvimento econômico, na verdade, ainda hoje algo muito “etéreo” e, por muitos, considerado intangível. Ainda assim, surge uma nova abordagem mundial, a da “Bioeconomia”, que propõe uma nova visão, ou ciência econômica, denominada de Economia Ecológica. Bioeconomia pode ser conceituado como um campo interdisciplinar das ciências que visa compatibilizar as evoluções da economia humana e do ambiente natural. O Desenvolvimento Sustentável passou a ser o ponto de maior penetração da questão ambiental na Economia. 37 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 37 Capítulo 2 Você pode ver, então, que a sustentabilidade depende de uma nova visão econômica. Nem tão nova do ponto de vista conceitual, mas como ciência aplicada. Brügger (2004, p.22), acrescenta que (...) as premissas da verdadeira sustentabilidade não podem ficar confinadas nem mesmo aos valores da economia ambiental, a qual não rompe de fato com os pressupostos da economia neoclássica que vê a natureza como uma grande fábrica.é necessário, portanto, que adotemos as premissas da economia ecológica a qual se situa, em termos paradigmáticos, mais próxima dos valores defendidos pelos teóricos críticos da Escola de Frankfurt. A Escola de Frankfurt é um agrupamento de cientistas sociais, do início da década de 1960, que debatia sobre como explicar o rápido desenvolvimento das economias mundiais, criticando tanto o capitalismo como o comunismo e apresentando uma alternativa para o desenvolvimento social. A Economia Ecológica está fundada no princípio de que o funcionamento do sistema econômico precisa ser concebido tendo em vista as condições, ou limitações, do mundo biofísico, considerando que o sistema se estabelece sobre este e depende dele para a sua sustentação em termos de energia e matéria prima, mas também, para dar conta da entropia gerada pelo sistema. A Economia Ecológica pressupõe, ainda, que a integração dos dois sistemas, o econômico e o natural, deverá ocorrer em um sentido de funcionamento comum, harmônico e integrado. O problema principal é determinar a sustentabilidade desta interação, as condições de estabilidade. Além disso, esta sustentabilidade precisa ser estendida às gerações futuras, num sentido de equidade intergeracional. A exploração excessiva dos bens naturais, como aceita pela sociedade, adquire um caráter egoísta por parte das gerações atuais. Estamos extraindo mais recursos do que a natureza repõe a cada ano. Essa é uma conta que somos obrigados a refazer. Você pode perceber, então, que não é suficiente pensarmos em sustentabilidade ambiental e social apenas para o presente, mas também, em uma solidariedade para com as futuras pessoas que habitarão a Terra. Essas serão nossos filhos e netos e terão direito a gerar qualidade de vida para si da mesma forma que queremos para nós. Na economia tradicional, os bens naturais são considerados como gratuitos, não possuem valoração econômica, embora representem custos líquidos para o ambiente. Observe que segundo essa lógica, não tendo valor econômico, temos a sensação, como sociedade, que não necessitamos economizar os bens naturais. Há uma falsa impressão de abundância. É claro que essa percepção é variável. Em países em que os bens naturais tornaram- A Escola de Frankfurt é um agrupamento de cientistas sociais, do início da década de 1960, que debatia sobre como explicar o rápido desenvolvimento das economias mundiais, criticando tanto o capitalismo como o comunismo e apresentando uma alternativa para o desenvolvimento social. 38 Gestão Ambiental 38 se escassos, um consumo e produção mais responsáveis ocorrem; mas, em países como o Brasil, de dimensões continentais, com relativa abundância, a sociedade tende a ser perdulária. Interessantes contribuições à noção e ao estudo da Economia Ecológica você pode ver no site da sociedade Brasileira de Economia Ecológica, em www.ecoeco.org.br Uma interessante e importante forma de valoração de um bem natural é o caso da cobrança pelo uso da água. Esse instrumento, que no Brasil ocorre a partir da ação dos comitês de bacia, busca ultrapassar um conceito arraigado entre os usuários de água, de que este bem é de uso livre e gratuito. Assim, os múltiplos usos são contemplados. Você pode ver,então, que é imperioso darmos valor econômico a cada produto natural, como a água, os minerais e a madeira. Esses bens não serão infinitos e há a necessidade de recuperarmos a degradação causada pela sua extração ou pela poluição dos processos industriais e sociais. se não, alguém arcará com os custos no futuro. Um exemplo de que a valoração econômica e o uso racional não podem ser negligenciados é o caso do uso da água, já citado anteriormente. Em muitas bacias hidrográficas brasileiras não é aplicado o princípio dos usos múltiplos, expresso na própria Política nacional dos Recursos Hídricos (lei Federal nº 9.433, de 1997), ocorrendo escassez do bem. Vale lembrar que, de acordo com a lei, em casos de falta de água, os usos prioritários são a dessedentação de pessoas e animais, ou seja, o uso econômico fica relegado a segundo plano. A extração de minérios, como o carvão, no sul do Brasil, é um exemplo claro da má repartição dos custos com a recuperação das áreas degradadas, ocorridas desde há muitas décadas, e cujos maiores beneficiários à época auferiram enormes lucros e poucos participarão no custeio da recomposição do solo e da vegetação. Os efeitos positivos ou negativos, de determinada atividade, como esses que acabamos de ver, são considerados como externalidades econômicas, pois não participam diretamente da contabilidade. Essa é a diferença fundamental entre a economia vigente e a ecológica. 39 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 39 Capítulo 2 Atividade de Estudos: 1) Uma externalidade ocorre quando há custos ou benefícios sociais significativos advindos da produção ou do consumo que não são refletidos nos preços de mercado. Por exemplo, a poluição do ar pode ser considerada uma externalidade negativa e educação pode ser uma externalidade positiva. Produza uma lista com externalidades positivas e negativas originadas de alguma atividade econômica à sua escolha. Depois, pondere sobre o resultado. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ economiA e preServAção doS recurSoS AmbientAiS Nesta seção trataremos sobre como os bens naturais exercem e garantem a manutenção e prestação de serviços à economia. Embora não possamos mais tratar esta questão de forma parcial e pouco profunda, a sociedade e a própria economia não parecem muito dispostos a fazê-lo. A realização de mais e novos estudos poderá trazer luz ao tema. A informação e o conhecimento gerados deverão nos conduzir a buscar o equilíbrio entre as necessidades de desenvolvimento e de preservação da natureza. Você já pensou sobre qual é o valor dos serviços prestados pela Natureza? Podemos dizer que a princípio é infinito? Pense sobre isso: a economia mundial entraria rapidamente em colapso sem a existência de solos férteis, água de boa qualidade e ar limpo. Porém, “infinito” muito rapidamente pode se transformar em “zero” nas equações utilizadas 40 Gestão Ambiental 40 por administradores públicos e em decisões políticas. Assim, valores mais consistentes e concretos são necessários para se evitar decisões econômicas não sustentáveis, que possam degradar os recursos naturais e os serviços que os ecossistemas geram. Com esse objetivo, uma equipe de treze pesquisadores, tendo à frente o cientista Robert Costanza, da Universidade de Maryland, estimou o valor econômico de 17 serviços que o meio ambiente pode proporcionar (regulação hídrica, de gases, climática e de distúrbios físicos, abastecimento d’água, controle de erosão e retenção de sedimentos, formação de solos, ciclo de nutrientes, tratamento de detritos, polinização, controle biológico, refúgios de fauna, produção de alimentos, matéria-prima, recursos genéticos, recreação e cultura), em 16 biomas espalhados pelo mundo. Informações dispersas em mais de uma centena de estudos de valoração econômica de bens e serviços ambientais foram agrupadas e analisadas, e ao final o resultado encontrado para o valor médio dos serviços proporcionados pela Natureza, nos ecossistemas pesquisados, foi de US$ 33 trilhões ao ano. logicamente, a tentativa de se estimar o valor corrente total dos serviços ambientais em questão tem uma série de limitações, admitidas por Costanza e seus colaboradores. Vários biomas e diversas categorias de serviços ambientais ficaram de fora do trabalho, já que não são ainda adequadamente pesquisados e objeto de valoração econômica. O próprio Cerrado, cujos estudos de valoração econômica ainda são muito recentes, não foi considerado no estudo. Portanto, à medida que outros estudos ocorrerem e forem disponibilizados, o valor total dos bens e serviços irá aumentar. Em muitos casos os valores encontrados são baseados em levantamentos da “disposição a pagar” da sociedade por serviços ambientais, levantamentos esses nos quais se firmam alguns dos métodos de valoração econômica do meio ambiente Aqui, o perigo é que os cidadãos possam estar desinformados quanto à importância dos bens e serviços ambientais, e assim suas preferências não incorporarem adequadamente preocupações sociais, econômicas e ecológicas, entre outras, o que pode resultar em valores inconsistentes. Podemos perceber que a valoração econômica dos serviços prestados pela natureza sempre será, de certa forma, empírico, porque envolve percepções das pessoas sobre o que é importante e sobre que valor deve ter. Não há como eliminar totalmente essa subjetividade, portanto. Pode-se questionar a tentativa de dar um valor à atmosfera, ou às rochas e ao solo no suporte aos ecossistemas, O valor, nesses casos, é incomensurável. Entretanto, como bem aponta o estudo, é de fundamental importância investigar como modificações na quantidade e qualidade dos Valores mais consistentes e concretos são necessários para se evitar decisões econômicas não sustentáveis, que possam degradar os recursos naturais e os serviços que os ecossistemas geram. 41 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 41 Capítulo 2 vários tipos de capital natural e de serviços ambientais podem acarretar impactos no bem estar humano. Levanta-se a questão de que a valoração de bens e serviços ambientais é tampouco correta, já que não podemos dar valor a bens “intangíveis”, como a vida humana, paisagens, ou benefícios ecológicos de longo prazo. Porém, na verdade valoramos bens e serviços “intangíveis” todos os dias, ao estabelecermos, por exemplo, padrões para construção de estradas, pontes, e similares: nesse caso valoramos a vida humana, já que estamos gastando mais dinheiro em construções que salvarão vidas. A realidade é que a sociedade valora o meio ambiente todos os dias. Qualquer decisão quanto ao uso da terra envolve estimativas de valor, mesmo quando valores monetários não são utilizados. Para Alier (2005, p. 34), “Antes de atribuirmos valores econômicos aos recursos ou serviços ambientais, deve haver a percepção social de que estes recursos e serviços existem e são valiosos [...]”. Argumenta-se que devemos preservar os ecossistemas por razões morais, não lhes cabendo atribuir nenhum tipo de valor econômico. A preservação seria uma questão relacionada aos direitos de todas as espécies, tendo a ver com as nossas obrigações morais para com as futuras gerações. Os bens e serviços ambientais seriam fins em si próprios, e não um instrumental para se obter determinado objetivo, no caso o desenvolvimento. Você podeconcluir que, se todos os bens naturais têm direito à existência, presume-se que não é possível optar por um em detrimento de outro, estando, assim, todas as perdas moralmente condenadas. Porém, a realidade é que a sociedade tem que fazer opções. Sendo assim, ciente de que nem tudo pode ser salvo e mantido intacto, é essencial optar entre formas de intervenção que tenham a melhor relação custo/benefício. Nesse ponto é que a valoração econômica de bens e serviços ambientais pode prestar um relevante papel. Observe que essas escolhas geralmente são feitas por outros e não por nós mesmos, mas há um outro sentido muito importante nessa questão das escolhas sobre o que devemos preservar. Trata-se das escolhas dirigidas pela ética e pela cidadania, que são geralmente individuais. Além disso, nossa consciência sobre isso deve influenciar outras pessoas, o que requer, também, uma pró-atividade de nossa parte. “Antes de atribuirmos valores econômicos aos recursos ou serviços ambientais, deve haver a percepção social de que estes recursos e serviços existem e são valiosos [...]”. 42 Gestão Ambiental 42 Atividade de Estudos: 1) Procure definições para os termos Ética Ambiental (ou Ecológica) e Cidadania Ambiental (e Planetária). Disserte sobre isso e sobre como esses conceitos deveriam influenciar nossas decisões sobre desenvolvimento e economia. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Não costumamos refletir sobre as opções que devemos fazer todos os dias, ainda que indiretamente. Raramente percebemos que para gerar desenvolvimento econômico precisamos eliminar vidas, inclusive humanas. Isso pode ser entendido como as escolhas entre ações individuais ou coletivas que podem significar menos mortes humanas ou de animais, como os alimentos que consumimos, a participação e as escolhas políticas ou sociais que fazemos, as campanhas que apoiamos, entre outras tantas. Sabemos que o desenvolvimento econômico está intimamente ligado a aumentos no nível de bem estar da sociedade, resultantes da produção e consumo de bens e serviços tradicionais. Porém, isso depende de diversas funções dos recursos naturais, como matérias primas, capacidade de suporte de ecossistemas, assimilação de resíduos e biodiversidade. O meio ambiente faz parte da função de produção de grande quantidade de bens econômicos, cuja obtenção seria impossível sem a sua existência. Cabe destacar que a economia de bens e serviços ambientais possui características diferentes da economia tradicional. O uso dos recursos ambientais, por exemplo, gera custos e benefícios que pouco são apreendidos em um sistema de mercado, muito embora os recursos tenham valor 43 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 43 Capítulo 2 econômico. Embora o valor econômico dos recursos ambientais não seja observável no mercado por meio de preços, o meio ambiente tem um valor. Na medida em que seu uso altera o nível de produção e consumo da sociedade, já que o bem estar das pessoas é medido tanto pelo consumo de bens e serviços tradicionais, como pelo consumo de bens de origem recreacional, política, cultural e ambiental. Você também já deve ter observado que pelo fato de não serem quantificados e transacionados em mercados, os bens e serviços ambientais têm muito pouco peso nas decisões políticas. Isso não é diferente em quase parte nenhuma do mundo. A não ser, paradoxalmente, naquelas sociedades justamente por nós consideradas como mais primitivas. Esta negligência econômica e política pode ter como consequência o comprometimento da sustentabilidade da vida na Terra, já que os ativos ambientais não possuem substitutos. Apesar dos diversos problemas de ordem conceitual e empírica inerentes à produção de uma estimativa dessa ordem, o trabalho de Costanza pode ser importante para se estabelecer uma primeira aproximação da magnitude relativa dos ecossistemas globais, e para estimular debates e pesquisas em valoração de bens e serviços ambientais. Contudo, talvez o maior mérito do trabalho é a comparação que permitiu ser feita entre os valores existentes do Produto Interno Bruto global e o valor econômico médio dos serviços ambientais prestados pelos 16 biomas pesquisados: para o meio ambiente o resultado encontrado foi de US$ 33 trilhões anuais, enquanto que no mesmo ano o PIB global somava cerca de US$ 18 trilhões. Ou seja, o valor dos serviços ambientais era quase o dobro do encontrado para o PIB. A diferença entre o PIB Mundial e os serviços ambientais, ainda que subdimensionados, mostram que estes têm uma posição destacada na contribuição para o bem estar humano no nosso planeta. A economia não pode continuar a ser vista como um sistema fechado e isolado, no qual existem fontes inesgotáveis de matéria prima e energia para alimentar o sistema, onde o processo de produção converte todos os insumos em produtos sem deixar resíduos indesejáveis, e no consumo todos os produtos desaparecem como num passe de mágica, sem deixar vestígios. Ou seja, a economia não pode insistir em considerar o meio ambiente como mero coadjuvante. A diferença entre o PIB Mundial e os serviços ambientais, ainda que subdimensionados, mostram que estes têm uma posição destacada na contribuição para o bem estar humano no nosso planeta. 44 Gestão Ambiental 44 Uma interessante dica para entendermos os mecanismos da produção de preços é o filme a Origem das Coisas, disponível em http://video.portalcab.com/?play=historia-das-coisas. Nele, você poderá entender como as relações de produção e consumo são baseadas em motivações nada éticas. Ekins (1992) já considerava a necessidade de entender a economia não apenas pelo capital produzido (ou manufaturado), mas através do conceito do que ele chama de quatro capitais: natural, humano, social-organizacional e o próprio manufaturado. Este modelo difere do tradicional de criação de riqueza, segundo Merico (2002), que demonstra uma relação simplificada entre terra, trabalho e capital. Ainda, segundo Merico (2002, p. 20 e 21): É importante reconhecer esta ampla conceituação de riqueza, que não se limita à noção exclusiva de dinheiro. E é igualmente importante produzir, sistematizar e desenvolver um arcabouço básico de análise econômica que consiga superar a análise exclusiva de fluxo monetário e que considere os fluxos de matéria e energia no ambiente, desencadeados pelo processo de produção econômica. O processo produtivo não considera a internalização dos custos ambientais, que vem a ser o preço a ser pago para resolver a poluição e a degradação ambiental. Isto significa exatamente contabilizar os impactos e é ferramenta para melhorar a alocação de recursos econômicos. Para tal, é necessário identificar os impactos e sua correta valoração econômica. A base de cálculo da macroeconomia (e também da microeconomia), portanto, é falsa e impede a produção real da performance econômica de um determinado espaço geográfico e mesmo mundial. A microeconomia é parte de um sistema maior, a macroeconomia, e a ela está sujeita. Mas é importante lembrar que não há economia sem bens naturais. Assim, a macroeconomia é parte de um sistema maior, a própria Biosfera. A microeconomia, também conhecida como teoria de preços, é quem determinavalores para bens e serviços, mas também para salários e aluguéis (fatores de produção), por exemplo. A microeconomia é parte de um sistema maior, a macroeconomia, e a ela está sujeita. Mas é importante lembrar que não há economia sem bens naturais. Assim, a macroeconomia é parte de um sistema maior, a própria Biosfera. 45 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 45 Capítulo 2 Você pode concluir que há sérias razões para preocupação sobre o futuro do planeta e da humanidade. A capacidade de suporte da Biosfera precisa ser mais bem conhecida, para evitarmos a sua exaustão. Biosfera traduz-se como o conjunto de todos os ambientes (ecossistemas) que abrigam vida no planeta. Veja que a performance econômica de um país, por exemplo, é medida apenas pela sua capacidade de gerar bens, serviços e riqueza, e não considera a diminuição dos bens naturais necessários para tal fim, o que significa um empobrecimento daquele país. O quadro abaixo nos mostra situações originadas pelo uso excessivo dos bens naturais: Quadro 2 - indicadores da Exaustão do Planeta Alguns indicadores da exaustão do planeta • A produção primária líquida (PPL), produzida pelos processos fotossintéti- cos, já é apropriada em cerca de 40% (da PPL terrestre) pelos humanos. Se dobrasse inviabilizaria o equilíbrio ecossistêmico (carvão, petróleo, gás natural e madeira). • Aquecimento global: os combustíveis fósseis produzem cerca de 7 bilhões de toneladas de CO2/ano. No período pré-industrial a concentração do gás na atmosfera era da ordem de 280 ppmv (partes por milhão de volume). Hoje é cerca de 380 ppmv, ou seja, mais de 35% de aumento. E não há processo natural significativo de incorporação de C02 nesse período que seja apenas de natureza antrópica. O aumento médio da temperatura glo- bal é de cerca de 0,6°C desde 1866 (primeira medições com cientificida- de). Pode chegar a 2,9°C no final do século. A elevação dos oceanos é de cerca de 1mm/ano em média. O aquecimento global já causa danos à agricultura, biodiversidade, doenças e clima. • Depleção do ozônio atmosférico: o CFC e o brometo de metila, usado em defensivos agrícolas, são os principais responsáveis pela destruição do ozônio na estratosfera. A “camada” de ozônio retém o excesso de raios ultra violeta B, que permitem a existência da vida. Serão necessários ainda 46 Gestão Ambiental 46 150 anos para retornarmos aos níveis de 1970. O Protocolo de Montreal, produzido em 1996, reduziu a 20% a produção atual de gases CFC em relação à década de 1980. • Extinção da biodiversidade: calcula-se em 5 a 150 mil o número de espé- cies extintas por ano, principalmente pela destruição dos ecossistemas. • Escassez de água: calcula-se em 40% a diminuição da disponibilidade de água no planeta. Cerca de 1,5 bilhão de pessoas não tem água em qua- lidade e quantidade. Há uma forte vinculação da saúde humana com a poluição da água. No Brasil, estima-se que 80% das internações no Sis- tema Unico de Saúde (SUS) estejam relacionadas ao contato com água contaminada química ou biologicamente. Fonte: O autor. Atividade de Estudos: 1) O Brasil é um dos países signatários da Convenção da Biodiversidade, um acordo mundial produzido em 1992, na Conferência do Rio de Janeiro, cuja finalidade é a preservação das espécies através, principalmente, da manutenção dos ecossistemas. A Convenção afirma que há uma profunda relação entre a preservação da biodiversidade e a manutenção da Economia e da qualidade de vida humana. Leia sobre o assunto e comente sobre o que é afirmado aqui. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 47 econoMiA ecológicA ou AMbientAl 47 Capítulo 2 no caso dos seres humanos, não podemos considerar a capacidade de suporte ecossistêmica apenas em termos de população, porque há que se considerar um consumo per capita, que não é permanente ao longo do tempo, como acontece com os outros animais. O problema está em criar um método operacional para medir os custos e benefícios da expansão da atividade humana. Faça o teste da sua pegada ecológica no site do WWF (http:// www.wwf.org.br/wwf_brasil/pegada_ecologica/) Os termos capital natural e recursos naturais são uma forma de reduzir a natureza ao antropocêntrico, como um fator de produção. Além das necessidades humanas, a natureza é também o abrigo de toda a vida, que, aliás, não pode ser entendida apenas para sua relação direta com a humanidade (processo econômico). Qualquer e todo ser vivo, por mais belo e impressionante, como as baleias, ou singelo como um fungo microscópico, deve ser respeitado pelo seu valor intrínseco, pelo direito de existir, mesmo que nunca haja qualquer vantagem ou descoberta a ele relacionada que favoreça a sociedade humana. Outro importante aspecto é a percepção da necessidade de preservarmos apenas os animais em extinção. Segundo Brügger (2004, p. 42): A matança de animais que não estão em extinção é emblemática nesse sentido: desprovidos de valor instrumental como bancos genéticos (para garantia da manutenção da biodiversidade cujo valor instrumental é inquestionável), tais animais são “obrigados” a servir a outros propósitos instrumentais (como fonte de proteína, ou pele, por exemplo) sem que jamais se considere o seu valor intrínseco. Normalmente enxergamos a natureza apenas por sua função utilitarista para o ser humano. Você deve lembrar-se de várias situações em que essa visão ocorre. Veja alguns exemplos: enxergamos a água apenas pela sua utilidade e não como componente de um ecossistema; a árvore como madeira, papel ou fruto e; o solo como fonte de minério ou sustentação para a agricultura (falamos até em solo improdutivo, quando não serve ao plantio). Outra questão importante, que também se tornou cultural, é o uso dos adjetivos ecológico ou verde. Você também já deve ter percebido que a simples incorporação de qualquer tecnologia ambientalmente “melhor” por um produto 48 Gestão Ambiental 48 ou empresa, já o tornam ecológico ou verde. Para o imaginário social isto é péssimo, porque passa a ideia que aquele produto não agride o meio ambiente, o que é falso. Ele apenas “agride” menos que outros produtos similares. Esse conceito limita-se a apenas um pequeno avanço tecnológico, na maioria das vezes, como um motor de automóvel menos poluente, componentes com maior reciclabilidade em notebooks ou diminuição do uso de substâncias tóxicas na fabricação de uma linha de tintas de parede, por exemplo. Verde, simbolicamente poderia representar uma empresa que tivesse implantado um SGA completo, eficaz e eficiente, com cuidados que vão desde a escolha dos insumos até o ciclo de vida dos produtos, passando por todo o processo industrial, o que é raro. Porém, ecológico, só pode ter sentido como aquilo que não altera minimamente o natural. Assim, não há atividade humana que não gere algum impacto, por menor que seja. Portanto, o termo ecológico não tem sentido num processo ou produto econômico de transformação. No máximo poderíamos chamar de ambientalmente melhor. Atividade de Estudos: 1) Depois de fazer o teste da Pegada Ecológica no site do WWF, reflita sobre o resultado por você obtido. Liste mudanças possíveis no seu estilo de vida e refaça o teste, como se as mudanças já tivessem ocorrido. Compare os resultados obtidos e pondere sobre isso. _____________________________________________________
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