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Desagravo a Calvino

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Prévia do material em texto

Desagravo a Calvino 
 
 
 
Silvio Dutra 
 
 
 
 
DEZ/2015 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
Honra a Quem é Devida 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
Introdução 
O material contido neste livro é o fruto de traduções que 
fizemos de textos de autoria de João Calvino, do original 
inglês, em domínio público. 
Tantas são as divisões de nosso texto que não emitimos 
um sumário para as mesmas, uma vez que este ocuparia 
um grande número de páginas. 
Por uma leitura deste livro, ainda que breve, pode-se 
entender melhor por que Deus usou Calvino como um 
dos principais dos seus instrumentos para promover a 
Reforma no século XVI, pela qual o Protestantismo foi 
estabelecido em todo o mundo. 
Se Calvino foi achado digno de promover uma Reforma 
de tal envergadura em seus dias, porque ele não deveria 
ser também ouvido e acatado por nós em nossos 
presentes dias, especialmente quando a própria Igreja 
Protestante apresenta sinais de falta de vigor e de 
apostasia? 
Afinal, a Reforma nada mais é do que trazer a verdade de 
Deus novamente à tona, e moldar a Igreja segundo a 
mesma santidade que ela possuiu pela prática da Palavra 
nos dias apostólicos; e Calvino contribuiu para isto de 
forma extraordinária com a sua muita sabedoria e 
conhecimento de Deus e da Sua Palavra. 
 
4 
Orações Por Toda a Humanidade - Comentário de 1 
Timóteo 2.1 
“Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de 
súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor 
de todos os homens,” 
“Portanto, exorto, antes de tudo”. Os exercícios 
religiosos que o apóstolo aqui ordena mantêm e 
fortalecem em nós o culto sincero e o temor de Deus, 
bem como nutrem a consciência íntegra de que falamos 
anteriormente. O termo, portanto, é então 
perfeitamente apropriado, visto que essas exortações se 
deduzem naturalmente do encargo que ele pusera sobre 
Timóteo. 
Primeiramente, ele trata da oração pública e de sua 
regulamentação, a saber: que ela deve ser feita não só 
em favor dos crentes, mas em favor de todo o gênero 
humano. É possível que alguém argumente: “Por que 
devemos preocupar-nos com o bem-estar dos incrédulos, 
já que não mantêm nenhuma relação conosco? Não é 
suficiente que nós, que somos irmãos, oremos uns pelos 
outros e encomendemos a Deus toda a Igreja? Os 
estranhos não significam nada para nós”. Paulo se põe 
contra essa perversa perspectiva, e diz aos efésios que 
incluíssem em suas orações todos os homens, e não as 
restringissem somente ao corpo da Igreja. 
Admito que não entendo plenamente a diferença entre 
os três ou quatro tipos de oração de que Paulo faz 
5 
menção. É pueril a opinião expressa por Agostinho, a qual 
torce as palavras de Paulo para adequarem-se ao uso 
cerimonial de sua própria época. O ponto de vista mais 
simples é preferível, a saber: que súplicas são solicitações 
para sermos libertados do mal; orações são solicitações 
por algo que nos seja proveitoso; e intercessões são 
nossos lamentos postos diante de Deus em razão das 
injúrias que temos suportado. Eu mesmo, contudo, não 
entro em distinções sutis desse gênero; ao contrário, 
deduzo um tipo diferente de distinção. Proseucai 
[Proseuche] é o termo grego geral para todo e qualquer 
tipo de oração; e deh>seiv [deeseis] denota essas formas 
de oração nas quais se faz alguma solicitação específica. 
Portanto, essas duas palavras se relacionam como o 
gênero e a espécie. v´Enteu>xeiv [Enteuxeois] é o termo 
usual de Paulo para as orações que oferecemos em favor 
uns dos outros, e o termo usado em latim é 
intercessiones, intercessões. Platão, contudo, em seu 
segundo diálogo intitulado, Albibíades, usa a palavra de 
forma diferenciada para denotar uma petição definida, 
expressa por uma pessoa em seu próprio favor. Em cada 
inscrição do livro, bem como em muitas passagens, ele 
mostra claramente que proseuch [proseuche] é, como eu 
já disse, um termo geral. 
Todavia, para não nos determos desproporcionalmente 
por mais tempo numa questão que não é de grande 
relevância, Paulo, em minha opinião, está simplesmente 
dizendo que sempre que as orações públicas foram 
oferecidas, as petições e súplicas devem ser formuladas 
em favor de todos os homens, mesmo daqueles que 
6 
presentemente não mantêm nenhum relacionamento 
conosco. O amontoado de termos não é supérfluo; pois 
ao meu ver Paulo, intencionalmente, junta esses três 
termos com o mesmo propósito, ou seja, com o fim de 
recomendar, com o maior empenho possível, e pedir com 
a máxima veemência, que se façam orações intensas e 
constantes. 
Sobre o significado de ações de graças não há nada de 
obscuro, pois ele não só nos incita a orar a Deus pela 
salvação dos incrédulos, mas também a render graças por 
sua prosperidade e bem-estar. A portentosa 
benevolência que Deus nos demonstra dia a dia, ao fazer 
“seu sol nascer sobre bons e maus”, é digna de todo o 
nosso louvor; e o amor devido ao nosso próximo deve 
estender-se aos que dele são indignos. 
 
O Louvor Devido à Fé e ao Amor - Comentário de 
Colossenses 1.1-3 
“1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, 
e o irmão Timóteo, 
2 aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram 
em Colossos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, 
nosso Pai. 
3 Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor 
Jesus Cristo, quando oramos por vós,” 
7 
“Paulo, apóstolo”. Já expliquei, em repetidas ocasiões, o 
propósito de tais dedicatórias. Como, contudo, os 
colossenses nunca tinham lhe visto, e por essa causa sua 
autoridade não estava ainda tão firmemente 
estabelecida entre eles a ponto de fazer seu nome por si 
mesmo suficiente, ele afirma que é um apóstolo de Cristo 
separado pela vontade de Deus. Disso seguia-se que ele 
não agia imprudentemente ao escrever a pessoas que 
não o conheciam, considerando que estava 
desempenhando a função de embaixador que Deus tinha 
lhe confiado. Pois ele não estava ligado a uma Igreja 
meramente, mas seu apostolado se estendia a todas. O 
termo santos que aplica a eles é muito honroso, mas ao 
chamá-los de irmãos fiéis, ele os encoraja ainda mais a 
ouvi-lo desejosamente. Quanto às outras coisas, 
explicações podem ser encontradas nas Epístolas 
precedentes. 
3. “Damos graças a Deus”. Ele louva a fé e o amor dos 
colossenses, para que isso possa encorajá-los à maior 
diligência e constância da perseverança. E mais, ao 
demonstrar que tem uma persuasão desse tipo com 
respeito a eles, ele procura a consideração amigável 
deles, para que possam ser mais favoravelmente 
inclinados e ensináveis para receber a sua doutrina. 
Devemos sempre observar que ele faz uso de ação de 
graças no lugar de congratulação, pelo que nos ensina, 
que em todas as nossas alegrias devemos prontamente 
chamar à lembrança a bondade de Deus, visto que tudo 
o que é agradável e prazeroso para nós, é uma 
benignidade conferida por ele. Além disso, ele nos 
8 
admoesta, por seu exemplo, a reconhecer com gratidão 
não meramente aquelas coisas que o Senhor nos confere, 
mas também as que ele confere aos outros. 
Mas por quais coisas ele dá graças ao Senhor? Pela fé e 
amor dos colossenses. Ele reconhece, portanto, que 
ambas são conferidas por Deus: de outra forma a 
gratidão seria fingida. E o que temos que não seja por 
meio de sua liberalidade? Se, contudo, mesmo os 
menores favores chegam até nós dessa fonte, quanto 
mais esse mesmo reconhecimento deve ser feito com 
referência a esses dois dons, nos quais consiste a soma 
inteira da nossa excelência? 
“Ao Deus e Pai”. Entenda a expressão assim – A Deus, que 
é o Pai de Cristo. Pois não é lícito para nós reconhecer 
qualquer outro Deus, que não aquele que se manifestou 
a nós em seu Filho. E essa é a única chave para abrir a 
porta para nós, se estivermos desejosos de ter acesso ao 
Deus verdadeiro. Por esse motivo, também, ele é um Pai 
para nós, pois nos aceitou em seu Filho unigênito, e nele 
também apresenta seu favor paternal para a nossa 
contemplação. 
“Sempre por vós”. Alguns explicam isso assim – Nós 
damosgraças a Deus sempre por vós, isto é, 
continuamente. Outros explicam que significa – Orando 
sempre por vós. A frase pode ser interpretada dessa 
forma também: “Sempre que oramos por vós, ao mesmo 
tempo damos graças a Deus”; e esse é o significado 
simples: “Damos graças a Deus, e ao mesmo tempo 
oramos”. Com isso ele indica que a condição dos crentes 
9 
nunca é perfeita neste mundo, de forma a não ter, 
invariavelmente, algo em falta. Pois mesmo o homem 
que começou admiravelmente bem, pode ficar aquém 
em centenas de ocasiões todo o dia; e devemos estar 
sempre fazendo progresso, enquanto ainda estamos no 
caminho. Tenhamos, portanto, em mente que devemos 
nos regozijar nos favores que já recebemos, e dar graças 
a Deus por eles de tal maneira, que ao mesmo tempo 
buscamos dele perseverança e progresso. 
 
Distinguidos pela Fé e pelo Amor - Comentário de 
Colossenses 1.4 
“desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do 
amor que tendes para com todos os santos;” 
(Colossenses 1.4) 
“Tendo ouvido da vossa fé”. Esse era um meio de 
provocar seu amor para com eles, e sua preocupação 
pelo bem-estar deles, quando ouviu que eram distintos 
pela fé e amor. E, inquestionavelmente, os dons de Deus 
que são tão excelentes deveriam ter tal efeito sobre nós, 
a ponto de instigar-nos a amá-los onde quer que 
apareçam. Ele usa a expressão fé em Cristo, para que 
possamos sempre ter em mente que Cristo é o objeto 
apropriado da fé. Ele emprega a expressão amor para 
com os santos, não com a visão de excluir os outros, mas 
porque, na proporção em que alguém está unido conosco 
em Deus, devemos aceitá-lo ainda mais proximamente 
10 
com especial afeição. O amor verdadeiro, portanto, se 
estenderá à humanidade universalmente, porque todos 
eles são nossa carne, e criados à imagem de Deus 
(Gênesis 4.6); mas com respeito a graus, começará com 
aqueles que são da família da fé (Gálatas 6.10). 
 
A Esperança Reservada nos Céus - Comentário de 
Colossenses 1.5 
“por causa da esperança que vos está reservada nos céus, 
da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do 
evangelho,” (Colossenses 1.5) 
“Por causa da esperança que vós está reservada nos 
céus”. Porque a esperança da vida eterna nunca será 
inativa em nós, não deixando assim de produzir amor em 
nós. O motivo é que, necessariamente, aquele que está 
plenamente persuadido que um tesouro da vida está 
reservado para ele nos céus aspirará àquele lugar, 
desdenhando deste mundo. A meditação, contudo, sobre 
a vida celestial provoca nossas afeições tanto ao louvor a 
Deus, como aos exercícios de amor. Os sofistas 
pervertem essa passagem com o propósito de enaltecer 
os méritos das obras, como se a esperança da salvação 
dependesse das obras. O raciocínio, contudo, é fútil. Pois 
não se segue que, porque a esperança nos estimula a 
aspirar viver retamente, ela esteja portanto 
fundamentada sobre as obras, visto que nada é mais 
eficaz para esse propósito do que a bondade imerecida 
11 
de Deus, que elimina absolutamente toda confiança nas 
obras. 
Há, contudo, um exemplo de metonímia no uso do termo 
esperança, visto que é usado pela coisa que se espera. 
Porque a esperança que está em nosso coração é a glória 
pela qual esperamos no céu. Ao mesmo tempo, quando 
ele diz, que existe uma esperança que para nós está 
reservada nos céus, ele quer dizer que os crentes 
deveriam sentir-se seguros quanto à promessa de 
felicidade eterna, igualmente como se já tivessem um 
tesouro reservado num lugar particular. Da qual já antes 
ouvistes. Como a salvação eterna é uma coisa que 
ultrapassa a compreensão do nosso entendimento, ele 
adiciona que a segurança dela foi trazida aos colossenses 
por meio do evangelho; e ao mesmo tempo diz no 
princípio que ele não irá apresentar algo novo, mas tem 
meramente em vista confirmá-los na doutrina que 
tinham recebido anteriormente. Erasmo traduziu assim – 
a palavra verdadeira do evangelho. Também estou bem 
ciente que, de acordo com o idioma hebraico, o genitivo 
é frequentemente usado por Paulo no lugar de um 
epíteto; mas as palavras de Paulo aqui são mais enfáticas. 
Pois ele chama o evangelho, kay ejxoch>n, (com o 
objetivo de eminência), de palavra da verdade, com a 
visão de colocar honra sobre ele, para que eles possam 
aderir mais leal e firmemente à revelação que tinham 
derivado dessa fonte. Assim, o termo evangelho é 
introduzido por aposição. 
 
12 
O Fruto do Evangelho - Comentário de Colossenses 
1.6-8 
“6 que chegou até vós; como também, em todo o mundo, 
está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre 
vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça 
de Deus na verdade; 
7 segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado 
conservo e, quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo, 
8 o qual também nos relatou do vosso amor no Espírito.” 
6. “Como também em todo o mundo produz fruto”. Isso 
tem uma tendência tanto de confirmar como confortar os 
piedosos – ver o efeito do evangelho em todo o lugar, 
reunindo muitos para Cristo. É verdade que a fé dele não 
depende do seu sucesso, como se nós devêssemos crer 
no evangelho com base no fato de muitos crerem. 
Mesmo que o mundo inteiro desabasse, o próprio céu 
caísse, a consciência de um homem piedoso não deve 
hesitar, pois Deus, em quem ela está fundamentada, 
permanece verdadeiro. Isso, contudo, não impede nossa 
fé de ser confirmada sempre que percebe a excelência de 
Deus, que indubitavelmente se mostra com maior poder 
na proporção do número de pessoas que são ganhas para 
Cristo. Em adição a isso, na multidão dos crentes naquele 
tempo havia uma contemplação do cumprimento das 
muitas predições que estendiam o reino de Cristo do 
oriente ao ocidente. É um auxílio trivial ou comum à fé, 
ver realizado diante dos nossos olhos o que os profetas 
13 
há tempos tinham predito quanto à extensão do reino de 
Cristo por todas as nações do mundo? Não existe 
nenhum crente que não experimente do que estou 
falando. Paulo, dessa forma, tinha como objetivo 
encorajar ainda mais os colossenses com essa declaração, 
pois, vendo em vários lugares o fruto e progresso do 
evangelho, eles poderiam abraçá-lo com maior zelo. 
Aujxano>menon, que traduzi como propagatur, (é 
propagada) não aparece em algumas cópias; mas, por sua 
adaptação ao contexto, escolhi não omiti-la. Parece 
também a partir dos comentários dos antigos que essa 
leitura foi sempre a mais geralmente recebida. 
“Desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça”. 
Aqui ele os louva por causa de sua docilidade, visto que 
imediatamente aceitaram a sã doutrina; e louva-os por 
causa de sua constância, por perseverarem nela. É 
também com propriedade que a fé do evangelho é 
chamada o conhecimento da graça de Deus; pois 
ninguém jamais provou do evangelho, senão o homem 
que sabe estar reconciliado com Deus, e se apegou à 
salvação que está em Cristo. Em verdade significa 
verdadeiramente e sem fingimento; pois como tinha 
anteriormente declarado que o evangelho é verdade 
indubitável, assim declara agora que ele tinha sido 
puramente administrado sobre eles, e isso por Epafras. 
 
Associações Não Aprovadas por Deus - Comentário 
de 1 Coríntios 5.9,10 
14 
“9 Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com 
os impuros; 
10 refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros 
deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou 
idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo.” 
9. “Já escrevi para vocês em uma epístola”. A epístola de 
que Paulo fala não é existente em nossos dias. Nem há 
qualquer dúvida de que muitas outros estão perdidas. É 
o bastante, no entanto, que foram preservadas para nós 
aquelas que o Senhor previu seriam suficientes. Mas esta 
passagem, em consequência de sua obscuridade, tem 
sido foi torcida por uma variedade de interpretações, 
mas eu não acho que seja necessário ocupar o tempo 
para refutá-las, senão simplesmente apresentar o que 
parece-me ser o seu verdadeiro significado. Ele lembra 
aos coríntios que já lhestinha ordenado que deveriam se 
abster de relações sexuais com os ímpios. Porque a 
palavra traduzida para “associáveis”, significa estar em 
familiaridade com qualquer um, e ter hábitos de 
intimidade com ele. Agora, ele recorda que apesar de 
terem sido admoestados, ainda permaneciam inativos. 
Ele acrescenta uma exceção, para que possam entender 
melhor o que isso se refere especialmente aos que 
pertencem à Igreja, uma vez que não necessitavam ser 
admoestados para evitar a sociedade do mundo. Em 
suma, então, ele proíbe os Coríntios de terem 
intercâmbio com aqueles que, embora professando ser 
crentes, no entanto, vivem impiamente e para a desonra 
de Deus. Essa exceção, no entanto, aumenta a 
15 
criminalidade dos remissos, na medida em que eles 
admitiam no seio da Igreja uma pessoa abertamente 
ímpia; pois é mais vergonhoso negligenciar os de sua 
própria casa do que negligenciar estranhos. 
10. "Quando eu te ordeno a evitar os fornicadores, eu 
não quero me referir a todos eles; caso contrário seria 
necessário ir em busca de um outro mundo; porque 
temos de viver entre os espinhos, enquanto 
permanecemos na terra. É somente isto o que eu exijo, 
que você não mantenha companhia com os fornicadores, 
que desejam ser considerados como irmãos em Cristo, 
para que não pareça pela sua tolerância que aprova a sua 
iniquidade. "Assim, o termo mundo aqui, deve ser 
entendido como a presente vida, como em João 17.15: 
“Não peço, Pai, que os tires do mundo, mas que os livre 
do mal”. 
Contra esta exposição uma pergunta pode ser proposta 
por meio de objeção: "Como Paulo disse isso em uma 
época em que os cristãos estavam ainda misturados com 
pagãos, e dispersados entre eles, o que deveria ser feito 
agora, quando todos confessavam o nome de Cristo? 
Pois, mesmo nos dias de hoje é preciso sair do mundo, se 
quisermos evitar a sociedade dos ímpios; e não há 
ninguém que seja estranho, quando todos tomam sobre 
si o nome de Cristo, e são consagrados a ele pelo 
batismo." Se alguém se sentir inclinado a seguir 
Crisóstomo, não encontrará qualquer dificuldade em 
responder, ao que Paulo tem aqui por certo e que era 
verdade - que, quando há o poder de excomunhão, há um 
16 
remédio fácil para efetuar a separação entre o bem e o 
mal, se as igrejas fazem o seu dever. Quanto a estranhos, 
os cristãos de Corinto não tinham jurisdição, e eles não 
poderiam restringir o seu modo de vida dissoluta. 
Portanto, eles teriam necessariamente que deixar o 
mundo, se quisessem evitar a sociedade dos ímpios, 
cujos vícios não puderam curar. 
De minha parte, eu tomo a palavra traduzida por sair no 
sentido de ser separados , e o termo mundo no sentido 
das corrupções do mundo. "Que necessidade há de uma 
união com os filhos deste mundo (Lucas 16. 8), por ter 
uma vez por todas renunciado ao mundo, você fica por 
conseguinte distante de sua sociedade; porque o mundo 
inteiro jaz no maligno" (1 João 5.19). Se alguém não está 
satisfeito com essa interpretação, aqui está uma outra 
que ainda é provável: "Eu não escrevo para você, em 
termos gerais, que você deve evitar uma associação com 
os devassos deste mundo, todavia você deve fazê-lo, sem 
qualquer admoestação minha." Prefiro, no entanto, a 
interpretação anterior. 
 
 
Associações Não Aprovadas por Deus 2 - 
Comentário de 1 Coríntios 5.11 
“Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com 
alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, 
17 
ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; 
com esse tal, nem ainda comais.” (1 Coríntios 5.11) 
“Alguém que dizendo-se irmão”. No grego há um 
particípio sem um verbo. Aqueles que veem isso como se 
referindo ao que se segue, dão-lhe um sentido forçado, e 
em desacordo com a intenção de Paulo. Confesso, de 
fato, que esse é apenas um sentimento, e digno de ser 
particularmente notado - que ninguém pode ser punido 
pela decisão da Igreja, senão alguém cujo pecado tornou-
se público e notório; mas estas palavras de Paulo não 
podem ser obrigadas a suportar esse significado. O que 
ele quer dizer, então, é o seguinte: "Se alguém é contado 
como um irmão no meio de vós, e ao mesmo tempo leva 
uma vida ímpia, e como isto é impróprio para um cristão, 
mantenham-se afastados de sua companhia." Em suma, 
ser chamado irmão, significa aqui uma falsa profissão de 
fé, que não tem nenhuma realidade correspondente. 
Mais adiante, ele não faz uma enumeração completa de 
pecados, mas apenas menciona cinco ou seis à guisa 
de exemplo, e então, depois, sob a expressão “tal 
pessoa”, ele resume o todo; e ele não menciona ninguém, 
senão o que caiu sob o conhecimento dos homens. 
Porque impiedade interior, e tudo o que é secreto, não se 
enquadra no julgamento da Igreja. 
É incerto, porém, o que ele quer dizer com “idólatra”, 
porque como pode ser dedicado à idolatria quem tenha 
feito uma profissão de Cristo? Alguns são de opinião que 
havia entre os coríntios naquela época alguns que 
receberam a Cristo, mas ao mesmo tempo estava 
18 
envolvidos, no entanto, envolvidos com idolatria, como 
os israelitas do passado. De minha parte, prefiro 
entendê-la se referindo àqueles que, enquanto tinham 
abandonado o culto aos ídolos, no entanto, davam uma 
homenagem fingida aos ídolos, com a intenção de 
agradar aos ímpios. Paulo declara que essas pessoas não 
devem ser toleradas na sociedade dos cristãos; e não sem 
uma boa razão, na medida em que fizeram tão pouca 
conta em pisar a glória de Deus debaixo dos pés. 
Devemos, no entanto, observar as circunstâncias do caso 
- que, enquanto eles tinham uma igreja, em que podiam 
adorar a Deus em pureza, e fazer o uso legítimo dos 
sacramentos, ingressaram na Igreja, de tal forma, que 
não renunciaram à comunhão profana dos ímpios. Faço 
esta observação, a fim de que não se possa pensar que 
devemos empregar medidas igualmente severas contra 
aqueles que, embora no dia de hoje dispersos sob a 
tirania de líderes religiosos hereges, poluem-se com 
muitos ritos corruptos. Estes, na verdade, eu mantenho, 
que pecam, no geral, a este respeito, e devem ser 
fortemente tratados com diligência urgente, para que 
aprendam a consagrar-se totalmente a Cristo; mas não 
me atrevo a ir tão longe a ponto de contar-lhes dignos de 
exclusão da comunhão dos santos, pois o seu caso é 
diferente. 
“Com esse tal nem ainda comais”. Em primeiro lugar, 
temos que verificar se ele se refere aqui a toda a Igreja, 
ou apenas a indivíduos. Eu respondo que isso é dito, de 
fato, a indivíduos, mas, ao mesmo tempo, está 
conectado com a sua disciplina em comum; porque o 
19 
poder de exclusão não é concedido a qualquer membro 
individual, mas a todo o corpo. Quando, portanto, a 
Igreja exclui alguém, nenhum crente deve recebê-lo em 
termos de intimidade para com ele; caso contrário, a 
autoridade da Igreja seria levada ao desprezo, se cada 
indivíduo tivesse a liberdade de admitir à sua mesa 
aqueles que foram excluídos da mesa do Senhor. Por 
partilhar o alimento aqui, se entende viver junto, ou ter 
associação familiar nas refeições. Mas se, por entrar em 
uma pousada, eu vejo aquele que foi excluído sentado à 
mesa, não há nada que me impeça de jantar com ele; pois 
eu não tenho autoridade para excluí-lo. O que Paulo quer 
dizer é que, na medida em que está em nosso poder, 
devemos evitar a companhia daqueles a quem a Igreja 
cortou de sua comunhão. 
O excluído não deve ser considerado como um inimigo, 
mas como um irmão (2 Tessalonicenses 3.15) porque ao 
se colocar essa marca pública de desgraça sobre ele, a 
intenção é que ele possa se envergonhar e ser conduzido 
ao arrependimento. 
 
 
Purificação da Carne e do Espírito - Comentário de 2 
Coríntios 7.1 
20 
“Tendo, pois, estas promessas, amados, purifiquemo-nos 
de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando 
a santificação no temor de Deus.” (2 Coríntios 7.1) 
“Estas promessas, portanto”. Deus, é verdade, nos 
contempla em suas promessas por seu puro favor; mas 
quando ele tem, por sua própria vontade,conferido a 
nós seu favor, ele logo em seguida exige de nós a gratidão 
em troca. Assim, o que ele disse a Abraão, “Eu sou teu 
Deus” (Gênesis 17. 7), foi uma oferta da sua bondade 
imerecida, mas ele, ao mesmo tempo acrescentou o que 
ele exigia dele – “Anda na minha presença e sê perfeito”. 
Como, no entanto, esta segunda frase nem sempre é 
expressada, Paulo nos ensina que em todas as 
promessas, esta condição está implícita, as quais devem 
ser incitações a nós para promover a glória de Deus. Para 
que propósito ele apresenta um argumento para nos 
estimular? É a partir disto, que Deus nos confere uma 
honra tão ilustre. Essa, então, é a natureza das 
promessas, para que elas nos chamem para a 
santificação, como se Deus as tivesse interposto por um 
acordo implícito. Sabemos, também, que a Escritura 
ensina isto em várias passagens, em referência ao projeto 
da redenção, e a mesma coisa deve ser vista como a 
aplicação de cada prova do seu favor. 
“De toda a imundícia da carne e do espírito”. Tendo já 
mostrado, que somos chamados à pureza, agora ele 
acrescenta, que esta deveria ser vista no corpo, bem 
como na alma; porque o termo carne significa aqui corpo, 
e o termo espírito significa alma, é manifesto disto, que 
21 
se o termo espírito significa a graça da regeneração, a 
declaração de Paulo, em referência à poluição do espírito 
seria absurda. Ele nos queria então, puros de 
contaminações, não só interiormente, tendo apenas a 
Deus como testemunha; mas também no exterior, como 
estando sob a observação dos homens. "Não devemos 
ser somente de consciência casta aos olhos de Deus. 
Também devemos consagrar a ele todo o nosso corpo e 
todos os nossos membros, para que nenhuma impureza 
possa ser vista em qualquer parte em nós." 
Agora, se considerarmos qual é o ponto que ele tem em 
vista, facilmente iremos perceber, que são aqueles que 
agem com imprudência excessiva, que desculpam a sua 
idolatria, eu não sei sob que pretextos. Porque, assim 
como a impiedade interior, e superstição, de qualquer 
tipo, é a contaminação do espírito, o que eles entendem 
por contaminação da carne, senão uma profissão externa 
de impiedade, seja isto fingido, ou expressado do 
coração? Eles se vangloriam de uma consciência pura; 
que, de fato, está baseada em motivos falsos, mas 
concedendo-lhes aquilo do que se gabam, eles têm 
apenas a metade do que Paulo requer dos crentes. 
Portanto, eles não têm base para pensar, que têm dado 
satisfação a Deus por aquela metade; porque, deixe uma 
pessoa mostrar qualquer aparência de uma total 
idolatria, ou qualquer indicação da mesma, ou tomar 
parte em rituais maus ou supersticiosos, embora ela 
fosse - o que ela não pode ser - perfeitamente reta em 
sua própria mente, ela seria, no entanto, não isenta da 
culpa de poluir seu corpo. 
22 
“Aperfeiçoando a santidade”. Apesar de que o 
verbo ἐπιτελεῖν em grego signifique às vezes, 
“aperfeiçoar”, e às vezes “realizar ritos sagrados”, isto é 
elegantemente usado aqui por Paulo na antiga 
significação, que é a mais frequente - de tal forma, 
porém, como para aludir à santificação, da qual ele está 
agora tratando. Por enquanto isto denota perfeição, 
parece ter sido intencionalmente transferido para ofícios 
sagrados, porque não deve haver nada defeituoso no 
serviço de Deus, senão que tudo deve ser completo. 
Assim, a fim de que você possa se santificar a Deus 
corretamente, você deve se dedicar de corpo e alma 
inteiramente a ele. 
“No temor de Deus”. Porque, se o temor de Deus nos 
influencia, não estaremos tão dispostos a sermos 
indulgentes conosco, e nem haverá uma erupção dessa 
audácia de luxúria que se mostrou entre os Coríntios. 
Porque como acontece que muitos se deliciam tanto em 
idolatria exterior, e altivamente defendem tão grosseiro 
vício, a não ser por eles pensarem que zombam de Deus 
impunemente? Se o temor de Deus tivesse domínio sobre 
eles, eles iriam imediatamente, no primeiro momento, 
deixar todos os sofismas, sem a necessidade de serem 
constrangidos a isso por qualquer contestação. 
 
(Nota do Pr Silvio Dutra: Calvino apresenta uma 
excelente interpretação desta passagem, ao associar o 
assunto da santificação à vida devotada a Deus, em 
separação sobretudo de práticas idolátricas, e não 
23 
meramente em seu sentido moral, o qual é importante, 
mas que é apenas a consequência de um caminhar na 
presença de Deus e em comunhão com Ele. Apoia a sua 
interpretação o fato de Paulo ter tratado no contexto 
imediato anterior, nos últimos versículos do 6º capítulo, 
à não conveniência da associação dos crentes com as 
práticas idolátricas daqueles que não conhecem a Deus, 
seja a qual pretexto for.) 
 
Tristeza que é para Arrependimento e Vida - 
Comentário de 2 Coríntios 7.8-10 
“8 Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a 
carta, não me arrependo; embora já me tenha 
arrependido vejo que aquela carta vos contristou por 
breve tempo, 
9 agora, me alegro não porque fostes contristados, mas 
porque fostes contristados para arrependimento; pois 
fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa 
parte, nenhum dano sofrêsseis. 
10 Porque a tristeza segundo Deus produz 
arrependimento para a salvação, que a ninguém traz 
pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.” 
8. “Porque ainda que eu vos tenha entristecido”. Paulo 
agora começa a pedir desculpas ao Coríntios por lhes ter 
tratado um pouco asperamente numa antiga epístola. 
24 
Agora, temos de observar, no que uma variedade de 
modos ele lida com eles, de forma que ele pudesse 
parecer como se tivesse suportado diferentes caracteres. 
A razão é que o seu discurso foi dirigido a toda a Igreja. 
Havia alguns lá, que entretinham uma visão desfavorável 
dele - havia outros que o tinham, como merecia, na mais 
alta estima - alguns tinham dúvidas; os outros estavam 
confiantes - alguns eram dóceis: outros eram obstinados. 
Em consequência desta diversidade, ele foi obrigado a 
dirigir seu discurso agora em um lado, depois de outro, a 
fim de adequar-se a todos. Agora, ele diminui, ou melhor, 
ele tira completamente qualquer ocasião de escândalo, 
por conta da severidade que ele havia usado, em razão 
de esta ter em vista a promoção do bem-estar deles. "O 
seu bem-estar", diz ele, "é tanto um objeto de desejo 
para mim, que tenho o prazer de ver que eu lhes tenho 
feito o bem." Este abrandamento só é admissível quando 
o professor fez o bem o tanto quanto foi necessário, por 
meio de suas reprovações; pois se ele tivesse encontrado, 
que as mentes dos Coríntios ainda permaneciam 
obstinadas, e se ele tivesse percebido uma vantagem 
decorrente da disciplina que ele tinha tentado, ele, sem 
dúvida, nada teria diminuído de sua antiga severidade. 
Deve ser observado, entretanto, que ele se alegra por ter 
sido uma ocasião de tristeza para aqueles a quem ele 
amava; pois estava mais desejoso de benefício, do que 
agradá-los. 
Mas o que ele quis dizer quando ele acrescenta – 
“embora já me tenha arrependido? Porque se 
admitirmos, que Paulo se sentiu insatisfeito com o que 
25 
ele havia escrito, se seguiria uma incoerência de não leve 
caráter - que s Epístola anterior foi escrita sob uma 
erupção de impulso, em vez de sob a orientação do 
Espírito. Respondo que a palavra arrependimento é 
usada aqui num sentido amplo para significar tristeza. 
Pois enquanto ele entristeceu os Coríntios, ele próprio 
também participou da tristeza, e de uma forma infligiu 
sofrimento ao mesmo tempo a si mesmo. "Ainda que eu 
lhe tenha causado sofrimento contra minha vontade, e 
isso me entristeceu sob a necessidade de ser rude com 
você, eu não estou mais triste por causa disso, quando eu 
vejo que tem sido um benefício para você." Tomemos por 
exemplo o caso de um pai; porque um pai sente tristeza 
em conexão com sua severidade, quando a qualquer 
momento ele corrige seu filho, mas aprova isto, não 
obstante, porque vê que é propício para a vantagem de 
seu filho. Da mesma forma como Paulo não podia sentir 
qualquer prazerem irritar as mentes dos Coríntios; mas, 
consciente do motivo que influenciou sua conduta, ele 
preferiu o dever à inclinação para poupá-los. 
“Pois vejo que aquela carta.” A transição é abrupta; mas, 
afinal, não prejudica a clareza do sentido. Em primeiro 
lugar, ele diz, que ele havia totalmente apurado o fato 
pelo efeito, que a epístola anterior, ainda que por um 
momento indesejável, tinha, no entanto, sido vantajosa, 
e em segundo lugar, que se alegrou por conta daquela 
vantagem. 
9. “Não porque vocês foram entristecidos”. Ele quer 
dizer, que ele não sente prazer em qualquer que seja a 
26 
sua tristeza - mais ainda, ele tinha sua escolha, ele iria se 
esforçar para promover igualmente seu bem-estar e sua 
alegria, pelos mesmos meios; mas que, como ele não 
poderia agir de outra forma, o bem-estar deles era de 
tanta importância, em sua opinião, que se alegrou de que 
haviam sido contristados para arrependimento. Pois há 
casos de médicos, que são, de fato, em outros aspectos 
bons e fiéis, mas são ao mesmo tempo duros, e não 
poupam seus pacientes. Paulo declara que ele não é de 
tal disposição em empregar curas duras, quando não 
constrangido pela necessidade. Como, no entanto, tinha 
se saído bem, que tinha produzido aflição com aquele 
tipo de cura, ele se congratula sobre o seu sucesso. Ele faz 
uso de uma forma similar de expressão em 2 Coríntios 
5.4, “os que estamos neste tabernáculo gememos 
angustiados, não por querermos ser despidos, mas 
revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.” 
10. “Tristeza segundo Deus”. Em primeiro lugar, a fim de 
compreender o que se entende por esta frase “segundo 
Deus”, devemos observar o contraste, porque a tristeza 
que é segundo Deus é contrastada por ele com a tristeza 
do mundo. Vamos agora tomar, também, o contraste 
entre dois tipos de alegria. A alegria do mundo é, quando 
os homens loucamente, e sem o temor do Senhor, 
exultam com vaidade, isto é, no mundo, e, embriagados 
com uma felicidade passageira, nada procuram mais alto 
do que a terra. A alegria que é segundo Deus é, aquela 
em que os homens colocam toda a sua felicidade em 
Deus, e têm satisfação em Sua graça, e mostram desprezo 
ao mundo, usando a prosperidade terrena como se eles 
27 
não a usassem, e alegres em meio a adversidade. Por 
conseguinte, a tristeza do mundo é quando os homens 
ficam desalentados em consequência de aflições 
terrenas, e ficam sobrecarregados com a dor; enquanto a 
tristeza segundo Deus é a daqueles que têm um olho 
voltado para Deus, enquanto eles acham que isto é a 
única miséria - ter perdido o favor de Deus; quando, 
impressionados com o temor do Seu juízo, lamentam por 
seus pecados. Desta tristeza Paulo faz a causa e a origem 
do arrependimento. Isto deve ser cuidadosamente 
observado, pois a menos que o pecador esteja 
insatisfeito consigo mesmo, detestando o seu modo de 
vida, e ficando profundamente contristado a partir de 
uma apreensão do pecado, ele nunca vai se valer do 
Senhor. Por outro lado, é impossível para um homem 
experimentar uma dor desse tipo, sem que ela dê um 
nascimento para um novo coração. Daí o 
arrependimento ter sua origem na tristeza, pela razão 
que eu mencionei - porque ninguém pode voltar para o 
caminho direito, senão o homem que odeia o pecado; 
mas onde o ódio do pecado está, há autoinsatisfação e 
tristeza. 
Há, no entanto, uma bela alusão aqui ao termo 
arrependimento, quando ele diz - não estar arrependido; 
porque embora uma coisa seja desagradável ao primeiro 
gosto, torna-se desejável por sua utilidade. O epíteto, é 
verdade, pode se aplicar ao termo salvação, igualmente 
ao arrependimento, mas parece-me que se adequa 
melhor com o prazo de arrependimento "Somos 
ensinados pelo próprio resultado, que a dor não deve ser 
28 
dolorosa para nós, ou angustiante. Da mesma forma, 
embora o arrependimento contenha em si um certo grau 
de amargura, se, dele é dito que não devemos não nos 
arrepender, por conta do fruto precioso e agradável que 
ele produz." 
“Para a salvação”. Paulo parece fazer do arrependimento 
a base da salvação. Se fosse assim, ele afirmaria a seguir, 
que somos justificados pelas obras. Respondo que 
devemos observar o que Paulo trata aqui, porque ele não 
está falando sobre a base da salvação, mas simplesmente 
elogiando o arrependimento pelo fruto que ele produz, 
ele diz que é como um caminho pelo qual podemos 
chegar à salvação. Nem isto é sem uma boa razão; porque 
Cristo nos chama por meio de favor livre, mas isto é para 
o arrependimento. (Mateus 9.13). Deus por meio de livre 
favor perdoa nossos pecados, mas somente quando 
renunciamos a eles. Mais ainda, Deus realiza em nós a um 
e ao mesmo tempo duas coisas: somos renovados pelo 
arrependimento, somos libertos do cativeiro de nossos 
pecados; e, sendo justificados pela fé, somos libertos 
também da maldição de nossos pecados. Eles são, 
portanto, frutos inseparáveis da graça, e, em 
consequência de sua conexão invariável, o 
arrependimento pode com idoneidade e propriedade ser 
representado como uma introdução para a salvação, mas 
neste modo de falar dele, ele é representado como um 
efeito, em vez de uma causa. Estes não são refinamentos 
para fins de evasão, senão uma solução verdadeira e 
simples, porque, enquanto a Escritura nos ensina que 
nunca obtemos o perdão dos pecados, sem 
29 
arrependimento, este representa, ao mesmo tempo, em 
uma variedade de passagens, a misericórdia de Deus 
somente como o fundamento da nossa obtenção dele. 
 
Vindicando a Santidade de Deus - Comentário de 2 
Coríntios 7.11 
“Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em 
vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, 
que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que 
vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes 
neste assunto.” (2 Coríntios 7. 11) 
“Que cuidado isto produziu em você”. Eu não entrarei em 
qualquer disputa sobre se as coisas que Paulo enumera 
são efeitos de arrependimento, ou pertencem a ele, ou 
sejam preparatórias para isso, pois tudo isto é 
desnecessário para a compreensão do propósito de 
Paulo, pois ele simplesmente prova o arrependimento 
dos Coríntios a partir de seus sinais, ou as coisas que o 
acompanharam. Ao mesmo tempo, ele faz a tristeza 
segundo Deus ser a fonte de todas essas coisas, na 
medida em que surgiram a partir disto - que é 
seguramente o caso; porque quando nós começamos a 
sentir autoinsatisfação, somos posteriormente 
despertados a buscar as outras coisas. 
O que se entende por desejo sincero, podemos entender 
do que se lhe opõe; porque contanto não haja qualquer 
30 
apreensão do pecado, permanecemos negligentes e 
inativos. Daí sonolência ou falta de cuidado, ou 
indiferença, se opõe a esse desejo, a que ele faz menção. 
Assim, “desejo sincero” significa simplesmente uma 
assiduidade ansiosa e ativa na correção do que está 
errado, e na mudança da vida. 
Paulo emprega o termo ἀπολογίαν (defesa). É por esse 
motivo que eu teria preferido manter o termo 
defensionem, que o antigo intérprete tinha usado. Deve, 
no entanto, ser observado, que é um tipo de defesa que 
consiste antes em súplica por perdão, do que na 
atenuação do pecado. Como um filho, que está desejoso 
de livrar-se do castigo de seu pai, não entra em um pleito 
regular de sua causa, mas reconhecendo suas falhas 
desculpa a si mesmo, em vez de ter o espírito de um 
suplicante, e que em tom de confiança, hipócrita, 
também, se desculpa - ou melhor, eles arrogantemente 
se defendem, mas é um pouco à maneira de disputarem 
com Deus, do que de voltarem a buscar o Ser favor; e 
algum outro preferia a palavra excusationem (desculpa). 
Eu não me oponho a isto; porque o significado atingirá a 
mesma coisa, que o Coríntios foram solicitados a se 
limparem, enquanto que anteriormente eles não se 
importavam com o que Paulo pensava deles. 
“Sim, que indignação”. Esta disposição, também, é em 
tristeza sagrada - que o pecador está indignado contra os 
seus vícios, e até mesmocontra si mesmo, como também 
todos os que são movidos por um zelo correto estão 
indignados, como muitas vezes eles como que veem que 
31 
Deus está ofendido. Essa disposição, no entanto, é mais 
intensa do que tristeza. Porque o primeiro passo é que o 
mal seja desagradável para nós. O segundo é que, sendo 
inflamados com ira santa, nós pressionamos 
severamente sobre nós mesmos, para que a nossa 
consciência possa ser tocada para ser avivada. Pode, no 
entanto, ser entendido aqui, por indignação, que os 
Coríntios ficaram inflamados contra os pecados de 
alguns, a quem haviam poupado anteriormente. Assim, 
eles se arrependeram de sua concordância ou conivência. 
O temor é o que surge a partir de uma apreensão do 
julgamento divino, enquanto o agressor pensa - "Marque 
bem isto, uma conta deve ser prestada por ti, e como 
esperas avançar na presença de tão grande juiz?" Pois, 
alarmado com tal consideração, ele começa a tremer. 
Como, porém, os próprios ímpios são, por vezes, tocados 
com um alarme desta natureza, ele acrescenta “desejo”. 
Esta disposição sabemos ser mais de natureza voluntária 
do que por medo, pois muitas vezes temos medo contra 
a nossa vontade, mas nunca desejamos, senão por 
inclinação, por disposição. Assim, como haviam temido o 
castigo ao receber a admoestação de Paulo, assim eles 
ansiosamente desejaram se corrigir. 
Mas o que devemos entender por zelo? Não pode haver 
dúvida de que ele pretendia um clímax. Por isso, zelo é 
mais do que desejo. Agora podemos entender por que, 
foi despertado um espírito de rivalidade mútua entre os 
Coríntios. É mais simples, no entanto, compreendê-lo no 
sentido de que cada um, com grande fervor de zelo, o 
32 
fizeram com o objetivo de dar provas de seu 
arrependimento. Assim zelo é a intensidade do desejo. 
“Sim, que vindita!”. Ou seja, que vingança! O que 
dissemos em relação à indignação, deve ser aplicado 
também à vingança, por causa da maldade que tinham 
encorajado por sua conivência e indulgência, eles tinham 
se mostrado depois como rigorosos em vindicar a 
santidade de Deus. Eles tinham há algum tempo tolerado 
o incesto; mas, ao serem admoestados por Paulo, eles 
não tinham somente evitado o semblante do ofensor, 
mas haviam lhe reprovado severamente - esta foi a 
vingança a que o apóstolo se refere. Como, no entanto, 
devemos punir pecados onde quer que estejam, e não 
somente isso, mas devemos começar mais especialmente 
com nós mesmos, há algo mais para dizer em que o 
apóstolo diz aqui, pois ele fala dos sinais de 
arrependimento. Há, entre outros, este em particular - 
que, por punir os pecados, podemos evitar, de uma 
forma, o juízo de Deus, como ele ensina em outro lugar, 
se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos 
julgados pelo Senhor (1 Coríntios 11.31). Nós não 
devemos, no entanto, inferir a partir disso, que a 
humanidade, tomando vingança contra si, compense a 
Deus por causa do castigo que lhe era devido, para que 
eles se redimam de sua mão. O caso fica assim - que, 
como é o desígnio de Deus nos castigar, para nos 
despertar da nossa falta de cuidado, que, sendo 
lembrados de seu descontentamento, possamos estar 
em guarda para o futuro, quando o próprio pecador está 
de antemão infligindo a punição em si mesmo por sua 
33 
própria vontade, o efeito é, que ele já não tem 
necessidade de tal admoestação de Deus. Mas pergunta-
se, se o Coríntios tinham um olho em Paulo, ou em Deus, 
nesta vingança, assim como no zelo, e na vontade, e 
quanto ao demais. Respondo que todas estas coisas são, 
sob todas as circunstâncias, atendidas sob o 
arrependimento, mas há uma diferença no caso de um 
indivíduo pecar secretamente diante de Deus, ou 
abertamente perante o mundo. Se o pecado de uma 
pessoa é segredo, é o suficiente que ele tenha essa 
disposição perante os olhos de Deus; por outro lado, 
onde o pecado está aberto, é requerida uma 
manifestação de arrependimento aberta. Assim, os 
Coríntios, que tinham pecado abertamente e com grande 
ofensa ao bem, estavam obrigados a dar provas do seu 
arrependimento por essas evidências. 
 
Unidade na Promulgação do Evangelho - Comentário de 
Filipenses 1.27 
“Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de 
Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, 
ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um 
só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé 
evangélica;” (Filipenses 1.27) 
“Por modo digno do evangelho”. Nós fazemos uso desta 
forma de expressão, quando estamos inclinados a passar 
para um novo assunto. Assim, é como se Paulo tivesse 
34 
dito: "Mas, quanto a mim, o Senhor proverá, mas quanto 
a vocês, etc, seja o que for que possa ocorrer comigo, que 
seja o seu cuidado, no entanto, avançar no curso 
correto." Quando ele fala de um comportamento puro e 
honrado como sendo digno do evangelho, ele afirma, por 
outro lado, que aqueles que vivem de outra forma fazem 
injustiça ao evangelho. 
“Ou indo ver-vos”. Como a frase no grego usado por 
Paulo é elíptica, fiz uso de videam (vejo), em vez de 
videns (vendo). Se isto parecer não satisfatório, você 
pode aplicar o verbo principal Intelligam (Eu posso 
aprender) neste sentido: "se, quando eu for vê-los, ou se 
estando ausente, em relação à sua condição, que eu 
possa aprender em ambos os sentidos, tanto por estar 
presente ou por receber informações, que estão num 
mesmo espírito." Nós não precisamos, no entanto, ficar 
ansiosos quanto às condições particulares, quando o 
significado é evidente. 
“Estar firme em um só espírito”. Esta, certamente, é uma 
das principais excelências da Igreja e, portanto, esta é 
uma forma de preservá-la em um estado saudável, na 
medida em que é feita em pedaços por dissensões. Mas, 
apesar de que Paulo estivesse desejoso por meio desse 
antídoto para prevenir doutrinas novas e estranhas, ele 
exige uma dupla unidade - do espírito e da alma. A 
primeira é o que temos como pontos de vista; e a 
segunda, que sejamos de um só coração. Porque, quando 
esses dois termos estão ligados entre si, spiritus (espírito) 
denota o entendimento, enquanto anima (alma) denota 
35 
a vontade. Ainda mais, o acordo de pontos de vista vem 
em primeiro lugar em ordem; e, em seguida, a partir dele, 
surge a união proveniente de nossa inclinação, de nossas 
disposições interiores relativas ao espírito. 
“Lutando juntos pela fé”. Este é o laço mais forte de 
concórdia, quando temos que lutar juntos sob a mesma 
bandeira, porque isto tem sido muitas vezes ocasião de 
conciliar até mesmo os maiores inimigos. Assim, a fim de 
que ele possa confirmar ainda mais a unidade que existia 
entre os filipenses, ele lhes chama para perceberem que 
são companheiros de armas, que, tendo um inimigo 
comum e uma guerra comum, deveriam ter suas mentes 
unidas em um acordo santo. A expressão que Paulo fez 
uso no grego (συναθλοῦντες τὣ πίστει) é ambígua. O 
antigo intérprete a toma como Collaborantes fidei, 
(trabalhando em conjunto com a fé). Erasmo o interpreta 
como Adiuvantes fidem (Ajudando a fé), como 
significando ajudar a fé para o máximo de seu poder. 
Como, porém, é feito uso do dativo (objeto indireto) 
grego em vez do ablativo (instrumental), eu não tenho 
nenhuma dúvida de que a interpretação autêntica do que 
diz o Apóstolo é a seguinte: "Deixem que a fé do 
evangelho lhes una, mais especialmente porque essa é 
uma armadura comum contra um e o mesmo inimigo." 
desta forma, a partícula σύν (junto, comum) que outros 
usam para se referir à fé, eu tomo como referência aos 
Filipenses, e com maior propriedade, se não me engano. 
Em primeiro lugar, cada um está ciente de quão eficaz 
incentivo é a concórdia, quando temos que enfrentar um 
conflito juntos; e ainda mais, sabemos que na guerra 
36 
espiritual estamos equipados com o escudo da fé (Efésios 
6.16), para repelir o inimigo; mais ainda, a fé é tanto a 
nossa bandeira quanto a nossa vitória. Por isso, ele 
acrescentou esta frase, para que pudesse mostrar qual é 
a finalidade de uma união piedosa.Os ímpios, também, 
conspiram juntos para o mal, mas o seu acordo é 
amaldiçoado; vamos, portanto, lidar com uma só mente 
sob a bandeira da fé. 
 
Não se Deixando Intimidar pelos Adversários do 
Evangelho - Comentário de Filipenses 1.28 
“e que em nada estais intimidados pelos adversários. 
Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para 
vós outros, de salvação, e isto da parte de Deus.” 
(Filipenses 1.28) 
“E em nada estais intimidados”. A segunda coisa que 
Paulo recomenda aos Filipenses é a fortaleza de ânimo, 
para que não pudessem ser lançados em confusão pela 
ira de seus adversários. Naquela época as perseguições 
mais cruéis assolavam quase todos os lugares, porque 
Satanás se esforçou com toda sua força para impedir o 
início do evangelho, e ficava mais enfurecido na 
proporção em que Cristo estendia poderosamente a 
graça de seu Espírito. Ele exorta, por isso, os Filipenses a 
permanecerem destemidos, e não ficarem alarmados. 
37 
”O que é para eles uma prova manifesta”. Este é o 
sentido apropriado da palavra grega, e não havia 
nenhuma razão para que alguns a interpretassem como 
“causa”. Porque os ímpios, quando em guerra contra o 
Senhor, já dão pela mesma uma prova do sinal de sua 
ruína, e quanto mais ferozmente insultam os piedoso, 
mais se preparam para a própria ruína. A Escritura, com 
certeza, não ensina em qualquer lugar que as aflições que 
os santos sofrem de ímpios são a causa de sua salvação, 
mas Paulo em outra instância, também, fala delas como 
uma prova clara ou evidência (2 Tessalonicenses 1.5) e 
em vez de ἔνδειξιν, usado em 2 Tes 1.5, ele faz uso nessa 
passagem do termo ἔνδειγμα. Isto, portanto, é uma 
consolação escolhida, que quando somos atacados e 
perseguidos por nossos inimigos, temos nisto uma 
evidência da nossa salvação. Porque perseguições são de 
uma certa maneira selos de adoção para os filhos de 
Deus, se eles a suportam com coragem e paciência; os 
ímpios dão, ao contrário, uma evidência ou prova de sua 
condenação, porque tropeçam numa Pedra pela qual eles 
devem ser quebrados em pedaços (Mateus 21.44). 
“E isto da parte de Deus”. Isto está restrito à última frase, 
para que o gosto da graça de Deus possa aliviar a 
amargura da cruz. Ninguém vai perceber naturalmente a 
cruz como um sinal ou evidência de salvação, pois são 
coisas que são contrárias na aparência. Por isso Paulo 
chama a atenção dos Filipenses para uma outra 
consideração - que Deus por sua bênção transforma em 
uma ocasião de bem-estar as coisas que de outra forma 
parecem tornar-nos infelizes. Ele prova a partir disto, 
38 
que o suportar a cruz é o dom de Deus. Agora é certo, que 
todos os dons de Deus são salutares para nós. Para você, 
diz ele, é dado, não somente crer em Cristo, mas também 
sofrer por ele. Por isso mesmo os próprios sofrimentos 
são evidências da graça de Deus; e, já que é assim, você 
tem a partir desta fonte uma evidência de sua salvação. 
Oh, se esta persuasão fosse efetivamente inculcada em 
nossas mentes - de que as perseguições devem ser 
contados entre os benefícios de Deus, que grande 
progresso seria feito na doutrina da piedade! E, ainda, 
mais certo do que isto é a maior honra que é conferida a 
nós pela graça divina, que soframos por causa do nome 
de Cristo, reprovação, ou prisão, ou misérias, ou torturas, 
ou até mesmo a morte, porque assim ele nos adorna com 
as suas marcas de distinção. 
 
A Graça de Crer em Cristo e de Sofrer por Ele - 
Comentário de Filipenses 1.29,30 
“29 Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por 
Cristo e não somente de crerdes nele, 
30 pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, 
ainda agora, ouvis que é o meu.” 
 
29. “Crerdes nele”. Paulo sabiamente conjuga a fé com a 
cruz por uma conexão inseparável, para que os Filipenses 
39 
pudessem saber que eles foram chamados para a fé de 
Cristo nesta condição – para que suportassem 
perseguições por sua causa, como se ele tivesse dito que 
sua adoção não poderia mais ser separada da cruz, do 
que Cristo possa ser separado de si mesmo. Aqui, Paulo 
atesta claramente, que a fé, assim como a constância nas 
perseguições duradouras, é um dom imerecido de Deus. 
E, certamente, o conhecimento de Deus é uma sabedoria 
que é muito elevada para que possa ser atingida pelo 
nosso próprio entendimento, e nossa fraqueza se revela 
em exemplos diários em nossa própria experiência, 
quando Deus retira sua mão por um tempo. Para que 
Paulo pudesse intimar mais distintamente que ambos 
são imerecidos, ele diz expressamente - pelo amor de 
Deus, ou pelo menos que nos são dados no fundamento 
da graça de Cristo; pelo que ele exclui qualquer ideia de 
mérito. 
Esta passagem também está em desacordo com a 
doutrina dos escolásticos, que sustentam que os dons da 
graça ultimamente conferidos são frutos de nosso 
mérito, com o fundamento de termos feito um uso 
correto dos que tinham sido anteriormente concedidos. 
Eu não nego, de fato, que Deus recompensa o uso correto 
de seus dons de graça concedendo-nos ainda mais graça, 
contanto que não coloquemos mérito, como eles fazem, 
em oposição à sua liberalidade imerecida e o mérito de 
Cristo. 
30. “tendo o mesmo combate”. Ele confirma, também, 
pelo seu próprio exemplo o que tinha dito, e isso não 
40 
acrescenta pouca autoridade à sua doutrina. Pelos 
mesmos meios, também, ele lhes mostra, que não há 
nenhuma razão pela qual eles deveriam se sentir 
atribulados em razão das lutas que eles contemplavam 
na vida do apóstolo, em prol do evangelho. 
 
O Fruto do Espírito Santo no Crente - Comentário de 
Gálatas 5.22,23 
“22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, 
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 
23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há 
lei.” 
22. “Mas o fruto do Espírito”. Justamente como havia 
condenado toda a natureza humana como nada 
produzindo senão frutos nocivos e indignos, agora Paulo 
nos diz que todas as virtudes, todas as boas e bem 
ordenadas afeições procedem do Espírito, ou seja, da 
graça de Deus e da natureza renovada que recebemos de 
Cristo. Como se houvera dito: “Nada, senão o mal, 
procede do homem; nada de bom pode proceder senão 
do Espírito Santo”. Pois ainda que às vezes surjam nos 
homens não regenerados notáveis exemplos de nobreza, 
fidelidade, temperança e generosidade, o fato é que não 
passam de marcas ilusórias. Curio e Fabricio foram 
famosos por sua coragem; Cato, por sua temperança; 
Scipio, por sua bondade e generosidade; Fabio, por sua 
41 
paciência. Mas tudo isso era apenas aos olhos dos 
homens e como membros da sociedade. Aos olhos de 
Deus, nada é puro senão o que procede da fonte de toda 
a pureza. 
Não tomo alegria, aqui, no sentido de Romanos 14:17, 
mas como aquele bom humor (hilaritas) para com nossos 
companheiros, o qual é o posto de melancolia. Fé é usada 
para verdade, e é contrastada com astúcia, engano e 
falsidade. Paz contrasto com rixas e contendas. 
Longanimidade é a suavidade da mente, a qual nos 
dispõe a levar tudo com otimismo, não permitindo a 
suscetibilidade. O restante é óbvio, pois a condição da 
mente se abre a parte de seu fruto. 
Pode-se perguntar, porém, que juízo formaremos dos 
perversos e idólatras que, não obstante, exigem 
extraordinária semelhança de virtudes. Pois pelo prisma 
de suas obras parecem espirituais. Eis minha resposta: 
nem todas as obras da carne despontam numa pessoa 
carnal; mas sua carnalidade é exibida por um ou outro 
vício; assim como uma pessoa não pode ser tida como 
espiritual pelo prisma de uma única virtude. Às vezes se 
fará óbvio à luz de outros vícios que a carne reina em tal 
pessoa; e isso é facilmente visto em todos aqueles a 
quem mencionamos. 
 
23. “Contra tais coisas não há lei”. Há quem entenda isso 
como significando simplesmente que a lei não é dirigida 
contra as boas obras, visto que das boas maneiras têm 
42 
emanado boas leis. Mas a intenção de Paulo é mais 
profunda e menos óbvia, ou seja: onde o Espírito reina, alei não mais exerce qualquer domínio. Ao modelar nossos 
corações segundo sua própria justiça, o Senhor nos 
liberta da severidade da lei, de modo que não trata 
conosco segundo o pacto da lei, nem obriga nossas 
consciências sob sua condenação. Não obstante, a lei 
continua a exercer seu ofício de ensinar e exortar. Mas o 
Espírito de adoção nos livra da sujeição a ela devida. 
Paulo, pois, ridiculariza os falsos apóstolos, os quais 
forçavam a sujeição à lei, mas que ninguém estava mais 
ansioso do que eles para livrar-se do jugo dela. Paulo nos 
diz que a única forma pela qual isso se faz possível é 
quando o Espírito de Deus assume o domínio. À luz desse 
fato, segue-se que eles não se preocupavam com a justiça 
espiritual. 
 
Permanecer na Doutrina para Permanecer em Jesus - 
Comentário de I João 2.24,25 
“24 Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. 
Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, 
também permanecereis vós no Filho e no Pai. 
25 E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida 
eterna.” 
24. “Que permaneça em vós”. João acrescenta uma 
exortação à doutrina anterior; e para que isto pudesse ter 
43 
mais peso, ele aponta os frutos que receberiam da 
obediência. Ele, então, exorta-os à perseverança na fé, 
para que pudessem reter fixamente em seus corações o 
que tinham aprendido. 
Mas, quando ele diz, desde o início, ele não quer dizer 
que a antiguidade era suficiente para provar qualquer 
doutrina verdadeira; mas assim como ele já tem 
mostrado que eles haviam sido corretamente instruídos 
no puro evangelho de Cristo, ele conclui que eles 
deveriam continuar no mesmo. E esta ordem deveria ser 
especialmente observada; porque somos dispostos a 
divergir daquela doutrina que temos uma vez abraçado, 
seja ela qual for, e isso não seria perseverança, mas 
obstinação perversa. Assim, a distinção deveria ser 
exercida, de modo que a razão da nossa fé possa ser 
evidenciada a partir da palavra de Deus; então devemos 
seguir uma perseverança inflexível. 
“Desde o princípio ouvistes”. Aqui está o fruto da 
perseverança - que aqueles em quem a verdade de Deus 
permanece, permaneçam em Deus. Nós, portanto, 
aprendemos o que devemos procurar em cada verdade 
relativa à religião. Faz, portanto, a maior proficiência, 
quem faz tal progresso estando completamente apegado 
a Deus. Mas em quem o Pai não habita através de seu 
Filho, é completamente fútil e vazio, qualquer 
conhecimento que ele possa possuir sobre religião. Além 
disso, esta é a mais alta comenda da sã doutrina, a qual 
nos une a Deus, e que nela se encontra tudo o que diz 
respeito à verdadeira fruição de Deus. 
44 
Em último lugar, João nos lembra que isto é a verdadeira 
felicidade, quando Deus habita em nós. As palavras que 
ele usa são ambíguas. Elas podem ser interpretadas: 
"Esta é a promessa que ele nos prometeu a vida eterna." 
Você pode, no entanto, adotar qualquer uma destas 
interpretações, porque o significado ainda é o mesmo. A 
suma do que é dito é que não podemos viver, exceto em 
nutrir até o fim a semente da vida semeada em nossos 
corações. João insiste muito sobre este ponto, que não 
somente o começo de uma vida abençoada deve ser 
encontrada no conhecimento de Cristo, mas também a 
sua perfeição. Mas nenhuma repetição disto será demais, 
desde que é sabido que isto tem sido sempre a causa de 
ruína para os homens, que estando, não contentes com 
Cristo, eles têm tido um desejo para vaguear além da 
simples doutrina do evangelho. 
 
O Espírito Santo nos Guia na Verdade Doutrinária - 
Comentário de I João 2.26-29 
“26 Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos 
procuram enganar. 
27 Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes 
permanece em vós, e não tendes necessidade de que 
alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a 
respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, 
permanecei nele, como também ela vos ensina todas as 
45 
cousas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, 
como também ela vos ensinou. 
28 Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, 
quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não 
nos afastemos envergonhados na sua vinda. 
29 Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo 
aquele que pratica a justiça é nascido dele.” 
26. “Estas coisas vos escrevi”. O próprio apóstolo se 
desculpa novamente por ter admoestado aqueles que 
eram bem dotados de conhecimento e julgamento. Mas 
ele fez isso, para que eles pudessem se aplicar à 
orientação do Espírito Santo, para que sua admoestação 
não fosse em vão; como se ele tivesse dito: "Eu, na 
verdade faço a minha parte, mas ainda é necessário que 
o Espírito de Deus deve encaminhá-los em todas as 
coisas; em vão seria até o som da minha voz, batendo nos 
seus ouvidos, ou melhor, o ar, a menos que ele fale 
dentro de vocês." 
Quando ouvimos que ele escreveu a respeito de 
sedutores, devemos ter sempre em mente, que é o dever 
de um bom e diligente pastor, não somente reunir um 
rebanho, mas também afugentar os lobos; porque do que 
adiantaria proclamar o evangelho puro, se formos 
coniventes com as imposturas de Satanás? Ninguém, 
então, pode ensinar fielmente à Igreja, a não ser que ele 
seja diligente em banir erros, sempre que encontrá-los 
espalhados por sedutores. O que ele diz sobre a “unção 
que dele recebestes”, eu o aplico a Cristo. 
46 
27. “E não tendes necessidade de que alguém vos 
ensine”. Deve ter sido o propósito de João, como eu já 
disse, se ele pretendia apresentar o ensino como sendo 
inútil. Ele não lhes atribui tanta sabedoria, como para 
negar que eles fossem estudiosos de Cristo. Ele só quis 
dizer que eles não eram de nenhuma forma 
tão ignorantes como se precisassem que as coisas 
desconhecidas lhes fossem ensinadas, porque ele não 
colocou diante deles qualquer coisa, que o Espírito de 
Deus não pudesse lhes sugerir de si mesmo. 
Absurdamente, então, agem os homens fanáticos leigos 
que usam essa passagem, com o fim de excluir da Igreja 
o uso do ministério externo (que chamam de leigo). Ele 
diz que o fiéis, ensinados pelo Espírito, já entenderam o 
que ele lhes entregou, porque eles não tinham 
necessidade de aprender coisas desconhecidas para eles. 
Ele disse isso, para que pudesse acrescentar mais 
autoridade à sua doutrina, enquanto cada um a 
recebendo em seu coração, a gravasse como se fosse pelo 
dedo de Deus. Mas, como cada um tinha conhecimento 
de acordo com a medida de sua fé, e como a fé em alguns 
era pequena, e em outros mais forte, e em nenhum era 
perfeita, portanto, segue-se que ninguém sabia tanto, 
que não houvesse espaço para o progresso. 
Há também um outro uso para ser feito desta doutrina, - 
que quando os homens realmente entendem o que é 
necessário para eles, ainda devemos adverti-los e 
despertá-los, para que possam ser mais confirmados. Por 
que o que João diz que eles foram ensinados sobre todas 
as coisas pelo Espírito, não deve ser 
47 
tomado genericamente, mas deve ser limitado ao que 
está contido nessa passagem. Ele tinha, em suma, 
nenhuma outra coisa em vista senão fortalecer a fé deles, 
enquanto ele lhes lembrou do exame do Espírito, que é o 
único corretor e aprovador de doutrina, que a sela em 
nossos corações, para que possamos conhecer com 
certeza o que Deus fala. Por enquanto a fé deve olhar 
para Deus, somente ele pode ser um testemunho de si 
mesmo, de modo a convencer os nossos corações que o 
que nossos ouvidos recebem tem vindo dele. 
E o mesmo é o significado dessas palavras, “como a sua 
unção ensina todas as coisas”, e é verdade; isto é, o 
Espírito é como um selo, pelo qual a verdade de Deus é 
testificada a você. Quando ele acrescenta, “e não é falsa”, 
ele aponta outro ofício do Espírito, pois ele nos reveste 
com julgamento e discernimento, para que não sejamos 
enganados por falsidades, para que não hesitemos e 
fiquemos perplexos, para que não vacilemos em coisas 
duvidosas. 
“Permanecei nele, como também ela vos ensinou”. Ele 
tinhadito, que o Espírito habitava neles; agora ele os 
exorta a permanecerem na revelação feita por ele, e 
especifica que revelação era, "permanecei", diz ele, "em 
Cristo, conforme o Espírito Santo vos ensinou." Outra 
explicação, eu sei, é comumente dada: “Permanecei 
nela", isto é, na unção. Mas, como a repetição que se 
segue imediatamente, não pode ser aplicada a qualquer 
outro, senão a Cristo, eu não tenho nenhuma dúvida de 
que ele fala aqui também de Cristo; e isso é exigido pelo 
48 
contexto; porque o Apóstolo discorre muito sobre este 
ponto, que os fiéis devem reter o verdadeiro 
conhecimento de Cristo, e que eles não devem ir a Deus 
de qualquer outra forma. 
Ele, ao mesmo tempo mostra, que os filhos de Deus são 
iluminados pelo Espírito, para nenhum outro fim, senão 
para que possam conhecer a Cristo. Providenciando para 
que eles não se desviassem dele, ele lhes prometeu o 
fruto da perseverança, mesmo da confiança, de modo a 
não terem vergonha na sua presença. Pois a fé não é uma 
nua e fria apreensão de Cristo, mas um sentimento vivo 
e real do seu poder, que produz confiança. De fato, a fé 
não pode permanecer, enquanto jogada diariamente por 
tantas ondas, senão somente por se esperar a vinda de 
Cristo, e, apoiado por seu poder, isto traz tranquilidade à 
consciência. Mas a natureza da confiança é bem 
expressada, quando ele diz que ela pode corajosamente 
sustentar a presença de Cristo. Pois aqueles que se 
entregam de forma segura aos seus vícios, viram as 
costas para Deus; e nem podem de outra forma obter a 
paz do que por esquecê-lo. Esta é a segurança da carne, 
que entorpece os homens; para que se afastando de 
Deus, nunca tenham medo do pecado, nem da morte; 
enquanto evitam o tribunal de Cristo. Mas uma piedosa 
confiança encanta o olhar para Deus. Por isso, é que os 
santos calmamente esperam por Cristo, nem temem a 
sua vinda. 
29. “Se sabeis que ele é justo”. Ele passa novamente às 
exortações, para que ele as misture continuamente com 
49 
a doutrina em toda a Epístola; mas ele prova por muitos 
argumentos que a fé é necessariamente conectada com 
uma vida santa e pura. O primeiro argumento é que 
somos gerados espiritualmente à semelhança de Cristo; 
que daí resulta, que ninguém nasce de Cristo, senão 
aquele que vive em retidão. É ao mesmo tempo incerto 
se ele quer dizer Cristo ou Deus, quando ele diz que os 
que nascem dele praticam a justiça. É um modo de falar 
certamente utilizado nas Escrituras, que nascemos de 
Deus em Cristo; mas não há nada inconsistente em dizer 
também, que aqueles que são nascidos de Cristo, 
são aqueles que são renovados por seu Espírito. 
 
O Amor de Deus por Israel - Comentário de Oseias 
11:1 
“Quando Israel era um menino, eu o amei, e chamei meu 
filho do Egito” (Oseias 11.1) 
Deus, aqui, protesta contra o povo de Israel por causa da 
ingratidão. A obrigação deles era dupla, pois Deus lhes 
adotara desde o início, quando não havia nenhum mérito 
ou valor no povo. De fato, era outra a sua condição, ao 
ser emancipado dos seus trabalhos servis no Egito? 
Indubitavelmente, eles pareciam, então, como um 
homem meio morto ou uma ossada podre; pois não 
possuíam vigor algum remanescente neles. O Senhor, 
pois, estendeu sua mão ao povo quando esse estava em 
tal desesperado estado, puxou-o, por assim dizer, do 
50 
túmulo, e restaurou-o da morte para a vida. Porém, em 
segundo lugar, não reconheciam isso como um tão 
maravilhoso favor de Deus, senão que, logo depois, 
petulantemente, deram as costas a ele. Que impiedade 
foi essa, e quão vergonhosa imoralidade, dar as costas, 
assim, ao autor da vida e da salvação deles? O Profeta, 
portanto, realça o pecado e a vileza do povo com esta 
circunstância, que o Senhor lhes amara ainda na infância; 
quando, ele diz, Israel ainda era uma criança, eu o amei. 
O nascimento do povo foi sua saída do Egito. O Senhor, 
deveras, celebrara seu concerto com Abraão 
quatrocentos anos antes; e, como sabemos, os patriarcas 
também foram reputados por ele como seus filhos: mas 
Deus queria que sua Igreja fosse, por assim dizer, extinta, 
quando a redimiu. Desse modo, a Escritura, quando fala 
da libertação do povo, amiúde se refere àquela mercê 
divina como que de alguém trazido para o mundo. Não é, 
por conseguinte, sem razão que o Profeta lembra o povo, 
aqui, de que esse fora amado quando na meninice. A 
prova de tal amor era que fora trazido do Egito. O amor 
precedera, como a causa vem sempre antes do efeito. 
Mas o Profeta expande o argumento: Eu amei Israel, 
precisamente quando ele ainda era uma criança; eu o 
chamei do Egito; ou seja: “Eu não somente o 
amei quando criança, mas, antes que tivesse nascido, eu 
comecei a amá-lo; pois a libertação do Egito foi o 
nascimento, e meu amor precedeu esse. Então, fica claro 
que o povo havia sido amado por mim, antes que viesse 
à luz; pois o Egito era como uma tumba sem qualquer 
centelha de vida; e a condição miserável em que esse 
51 
povo se encontrava era pior do que duzentas mortes. 
Então, ao chamar meu povo do Egito, eu provei que meu 
amor foi gratuito, antes deles nascerem”. O povo, por 
isso, era menos desculpável quando retribuiu a Deus com 
uma tão indigna recompensa, visto que esse tinha, 
anteriormente, conferido seu livre favor sobre eles. 
Compreendemos, agora, o sentido dado pelo Profeta. 
Mas aqui se levanta uma questão difícil; pois Mateus, no 
capítulo segundo, acomoda essa passagem à pessoa de 
Cristo. Aqueles que não são bem versados na Escritura, 
confiantemente, aplicam esse ponto a Cristo; todavia, o 
contexto se opõe a isso. Por esse motivo, ocorreu de os 
escarnecedores haverem tentado perturbar toda a 
religião de Cristo, como se o Evangelista tivesse aplicado 
erroneamente a declaração do Profeta. Dão uma 
resposta mais conveniente aqueles que dizem que, nesse 
caso, há somente uma comparação: como quando uma 
passagem de Jeremias é citada em outro lugar, quando a 
crueldade de Herodes - o qual se enraiveceu contra todos 
os infantes de seu domínio, abaixo de dois anos de idade 
- é mencionada: “Raquel, chorando por seus filho, não 
quis receber consolação, porque eles não mais existem” 
(Jer 31.15). O Evangelista diz que tal profecia foi 
cumprida (Mt 2.18). Mas é certo que o objetivo de 
Jeremias era outro; contudo, nada impede que tal 
declaração seja aplicada ao que Mateus relata. Assim 
entendem essa passagem. Não obstante, penso que 
Mateus tenha considerado mais profundamente o 
propósito de Deus ao ter levado Cristo para o Egito, bem 
como seu retorno posterior à Judeia. Em primeiro lugar, 
52 
deve ser lembrado que Cristo não pode ser separado de 
sua Igreja, visto que o corpo ficará mutilado e imperfeito 
sem uma cabeça. Tudo o que ocorreu outrora à Igreja, 
devia, por fim, ser cumprido pela cabeça. Isso é uma 
coisa. Então, não há dúvida alguma de que Deus, em sua 
maravilhosa providência, tencionava que seu Filho 
partisse do Egito para que fosse um redentor para os 
fiéis; e, dessa forma, ele indica que uma libertação 
verdadeira, real e perfeita foi, finalmente, efetuada, 
quando o Redentor prometido surgiu. Foi, pois, o pleno 
nascimento da Igreja quando Cristo partiu do Egito para 
redimi-la. Assim, em minha opinião, é insípido demais 
aquele comentário que adota a ideia de que Mateus fez 
apenas uma comparação. Pois convém a nós considerar 
isto, que Deus, quando dantes resgatou seu povo do 
Egito, somente provou, através de um indiscutível 
prêmio, a redenção que ele protelou até a vinda de 
Cristo. Por isso, como o corpo foi, pois, trazido do Egito 
para a Judeia, assim, finalmente, a cabeça também saiu 
do Egito: e, então, Deus revelou plenamente ser ele o 
verdadeiro libertador de seu povo. Eis, então, o 
significado. Mateus, portanto, com a maior propriedade, 
acomoda essa passagem a Cristo, que Deus amou seu 
Filho desde sua primeira infância e o chamou do Egito. Ao 
mesmo tempo, sabemos que Cristo é denominado o Filho 
de Deus em um aspecto diferente do povo de Israel;pois 
a adoção fez dos filhos de Abraão os filhos de Deus, mas 
Cristo é, por natureza, o unigênito Filho de Deus. 
Contudo, a dignidade dele deve permanecer na cabeça, 
para que o corpo continue em seu estado inferior. Não 
há, pois, nada incoerente nisso. Porém, quanto à 
53 
acusação de ingratidão, que tão grande mercê de Deus 
não fosse reconhecida, isso não pode ser adaptado à 
pessoa de Cristo, como bem conhecemos; tampouco é 
necessário, nesse sentido, aludir a ele; pois vemos, a 
partir de outros lugares, que nem tudo que é dito de Davi, 
do sumo sacerdote ou da posteridade davídica se aplica 
a Cristo; apesar de terem sido tipos de Cristo. Porém, há 
sempre uma grande diferença entre a realidade e seus 
símbolos. 
 
A Verdade Revelada por Deus ao Seu 
Povo - Comentário do Salmo 78.1,2 
 
“1 Escutai, povo meu, a minha lei; prestai ouvidos às 
palavras da minha boca. 
2 Abrirei os lábios em parábolas e publicarei enigmas dos 
tempos antigos.” 
Para compreender muitas coisas dentro de pouco espaço 
deve-se observar que neste Salmo há dois tópicos 
principais. Por um lado, declara-se como Deus adotou 
para si a Igreja, oriunda da posteridade de Abraão, quão 
terna e graciosamente ele cuidou dela, quão 
maravilhosamente ele a tirou do Egito e quão variadas 
foram as bênçãos que ele lhe outorgou. Por outro lado, 
os judeus, que lhe eram tão devedores pelas grandes 
54 
bênçãos que ele lhes conferira, são censurados por terem 
de tempo em tempo perversa e traiçoeiramente se 
revoltado contra um Pai tão liberal; de modo que sua 
inestimável bondade foi claramente manifesta, não só 
em havê-los outrora adotado tão graciosamente, mas 
também em continuar no curso ininterrupto de sua 
bondade, tudo fazendo contra a rebelião de um povo tão 
pérfido e contumaz. Além disso, faz-se menção da 
renovação da graça de Deus, e como foi de uma segunda 
eleição que ele escolheu a Davi, da tribo de Judá, para 
alçar o cetro sobre o reino de Israel. 
“Dai ouvidos a minha lei, povo meu!” Por todo o Salmo 
podemos conjeturar, com boa probabilidade, que ele foi 
escrito muito depois da morte de Davi; pois aí temos 
celebrado o reino erigido por Deus na família de Davi. Aí 
também a tribo de Efraim, a qual lemos ter sido rejeitada, 
é contrastada e posta em oposição à casa de Davi. Disto 
é evidente que as dez tribos estavam naquele tempo em 
estado de separação do restante do povo eleito; porque 
deve haver alguma razão pela qual o reino de Efraim é 
estigmatizado com o estigma da desonra como sendo 
ilegítimo e bastardo. 
Quem quer que tenha sido o escritor inspirado deste 
Salmo, ele não introduziu Deus falando como alguns 
imaginam, mas ele mesmo se dirige aos judeus no caráter 
de mestre. Não há objeção quanto ao fato de ele chamar 
o povo de meu povo e a lei, minha lei; não sendo algo 
incomum que os profetas tomavam por empréstimo o 
nome daquele por quem eram enviados, para que sua 
55 
doutrina desfrutasse de maior autoridade. Aliás, a 
verdade que lhes havia sido confiada pode, com 
propriedade, ser chamada sua. Assim Paulo, em 
Romanos 2.16, se gloria no evangelho como sendo meu 
evangelho, expressão essa que não deve ser entendida 
como significando que ele [o evangelho] era um sistema 
que devia sua origem a ele [Paulo], mas que ele era 
meramente pregador e testemunha dele. E tenho 
dúvidas se os intérpretes estão estritamente certos em 
traduzir a palavra hrwt, torah, por lei. O significado dela 
parece ser um tanto mais geral, como transparece da 
sentença seguinte, onde o salmista usa a frase: as 
palavras de minha boca, no tempo sentido. Se 
considerarmos com que intenção mesmo aqueles que 
fazem veementes confissões de por serem discípulos de 
Deus ouvem sua voz, ficaremos admirados com o fato de 
que os profetas tivessem boa razão para introduzir suas 
lições de instruções com uma solene chamada de 
atenção. É verdade que ele não se dirige aos obstinados 
que não se deixam instruir, que teimosamente recusam 
submeter-se à Palavra de Deus; mas como até mesmo os 
verdadeiros crentes geralmente são tão relutantes em 
receber instrução, esta exortação, longe de ser supérflua, 
era muitíssimo necessária para curar a indolência e 
inatividade entre eles. 
Para assegurar uma atenção mais firme, ele declara ser 
seu propósito discutir temas de um caráter profundo, 
elevado e difícil. A palavra lXm mashal, a qual traduzi por 
parábola, denota sentenças graves e notáveis, tais como 
adágios, provérbios e apotegmas. Como, pois, a própria 
56 
questão que temos tratado, se é de peso e importante, 
desperta a mente dos homens, a pena inspirada afirma 
que é seu propósito pronunciar somente sentenças 
notáveis e ditos extraordinários. A palavra twdyx, 
chidoth, a qual, seguindo a outros, traduzi por enigmas, 
é aqui usada não tanto para sentenças obscuras, mas 
para ditos que são enfatizados e dignos de nota especial. 
Ele não pretendia encerrar seu cântico com linguagem 
ambígua, mas clara e distintamente conservar tanto os 
benefícios de Deus quanto a gratidão do povo. Como eu 
já disse, seu desígnio é apenas estimular seus leitores a 
pensarem e considerarem mais atentamente o tema 
proposto. Esta passagem é citada por Mateus 13.35 e 
aplicada à pessoa de Cristo quando ele manteve a mente 
do povo em suspenso através de parábolas às quais não 
podiam entender. O objetivo de Cristo, de agir assim, era 
provar que ele era um Profeta de Deus distinto dos 
demais, e que assim pudesse ser recebido com maior 
reverência. Visto que ele então se assemelhava a um 
profeta por pregar mistérios sublimes num estilo de 
linguagem acima do gênero comum, isso que o escritor 
sacro afirma aqui acerca de si mesmo é com propriedade 
transferido para ele [Cristo]. Se neste Salmo resplandece 
uma majestade tal que com razão incita e inflama os 
leitores com o desejo de aprender, deduzimos disto com 
que solícita atenção ele nos faz receber o evangelho, no 
qual Cristo nos abre e nos exibe os tesouros de sua 
celestial sabedoria. 
O Único Cordeiro Sacrificado que Tira o Pecado do 
Mundo - Comentário de João 1.29 
57 
“No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e 
disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do 
mundo!” (João 1.29) 
No dia seguinte”. Não pode haver dúvida de que João já 
havia falado sobre a manifestação do Messias; mas 
quando Cristo começou a aparecer, ele desejou que o 
anúncio dele fosse rapidamente conhecido, e o tempo 
havia chegado no qual Cristo poria fim ao ministério de 
João, assim como, quando o sol se levanta, e a aurora 
desaparece. Depois de ter testemunhado aos sacerdotes 
que foram enviados a ele, sobre Aquele no qual deveriam 
buscar a verdade e o poder de batizar com o Espírito 
Santo, já se achava presente, e João estava conversando 
no meio do povo, e no dia seguinte, ele apontou Jesus à 
vista de todos. Porque esses dois atos, um após o outro, 
em rápida sucessão, devem ter afetado poderosamente 
suas mentes. Esta também é a razão por que Cristo 
apareceu na presença de João. 
“Eis o Cordeiro de Deus”. O principal ofício de Cristo é 
breve e claramente indicado; que tira os pecados do 
mundo pelo sacrifício da sua morte, e reconcilia os 
homens com Deus. Existem outros favores, de fato, que 
Cristo nos concede, mas este é o principal favor, e o resto 
depende disso; que, por apaziguar a ira de Deus contra o 
pecado, faz com que sejamos contados como santos e 
justos. Porque a partir desta fonte fluem todos os rios de 
bênçãos, que, por não imputar os nossos pecados, ele nos 
recebe em seu favor. Assim, João, a fim de nos conduzir 
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a Cristo, começa com o perdão gratuito dos pecados que 
nós obtemos através dele. 
Pela palavra Cordeiro ele alude aos antigos sacrifícios da 
Lei. Ele tinha que tratar com os judeus que, tendo sido 
acostumados a sacrifícios, não poderiam ser instruídos 
sobre a expiação dos pecados de qualquer outra forma 
que não fosse por meio de um sacrifício. Como havia 
diversos tipos deles, ele apresenta um, por uma

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