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5 A Terra sólida: minerais e rochas Fábio Ramos Dias de Andrade Ian McReath José Barbosa Madureira Filho Daniel Atencio 6 Magma e seus produtos Gergely Andres Julio Szabó Wilson Teixeira Marly Babinski 7 Água: ciclo e ação geológica Ivo Karmann 8 Da rocha ao solo: intemperismo e pedogênese M. Cristina Motta de Toledo Sonia Maria Barros de Oliveira Adolpho José Melfi 9 Do grão à rocha sedimentar: erosão, deposição e diagênese Paulo César Fonseca Giannini Mário Sérgio de Melo 2unidade Fo to s: G . J ul ie n / D re am st im e 130 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas A Terra sólida: minerais e rochas 130 Ca pí tu lo 2 Sumário 5.1 Breve história da mineralogia 5.2 O que é um mineral? 5.3 Composição e simetria 5.4 Classificação de minerais 5.5 Como identificar minerais 5.6 Minerais formadores de rochas 5.7 Os minerais e sua utilidade 5.8 Origem e distribuição dos minerais 5.9 O ciclo das rochas O conhecimento sobre o reino mineral vem se acumulando desde a origem da civilização, período não por acaso co-nhecido como Paleolítico ou Idade da Pedra. Por muito tem- po, os minerais e as rochas foram identificados e selecionados de modo empírico para a confecção de ferramentas (Figuras 5.1a, b, c), amuletos, pigmentos para pinturas rupestres, como matérias-primas para cerâmicas, como fontes de metais e até como medicamentos. Toda a matéria sólida da natureza é composta por minerais, com algumas exceções, como veremos ao longo deste capítulo. Os mi- nerais são formados por átomos organizados em um arranjo perió- dico tridimensional denominado estrutura cristalina. Apesar de este empacotamento de átomos ocorrer em escala nanométrica, ou seja, com grandeza da ordem bilionésimos de metro, ele produz feições si- métricas visíveis a olho nu. As rochas, por sua vez, são agregados con- solidados de minerais, formadas por diversos processos da dinâmica terrestre. Já os materais inconsolidados, como as dunas de areia e o cascalho dos leitos de rio, não são rochas, mas sim sedimentos. Nes- te capítulo serão abordados principalmente os minerais. As rochas são tratadas brevemente aqui e detalhadas nos capítulos subsequentes. Fábio Ramos Dias de Andrade, Ian McReath, José Barbosa Madureira Filho, Daniel Atencio Ca pí tu lo 5 131131 Figura 5.1c – Artefato lítico encontrado no sul da Inglaterra. Fonte: <http://encarta.msn.com/ media_43958_761555928_-1_1/Late_Acheulean _Handaxe.html>. Detalhe de granito CuriosidadeOs minerais e as rochas contêm o registro de nossa história mais remota, desde a origem da Terra até o surgimento e a diversifi cação da vida. O reino mineral é o substrato da vida e é também a nossa principal fonte de matérias-primas em pratica- mente todos os setores produtivos. A ciência que estuda os minerais é a mineralogia e a ciência que estuda as rochas é a petrologia (não, petrologia não é a ciência que estuda o petróleo!). As regras de nomenclatura e classifi cação da mineralogia e da petrologia seguem convenções in- ternacionais, que padronizam os nomes de minerais e rochas para permitir o estudo comparativo destes materiais em diferentes regiões do mundo. A organização dos átomos em estruturas cristalinas segue algumas regras que são descritas e estudadas pela cristalografi a, que aplica conceitos de geometria espacial e regras de simetria para classifi car os minerais conforme sua morfologia externa e interna. Figura 5.1a – Lajedo do Pai Mateus, Cabaceiras, Paraíba. Fonte: R. Chaves. Pulsar Imagens. Por volta do ano 400 a.C., o fi lósofo pré-socrá- tico grego Demócrito escreveu que “o sabor doce e o amargo são convenções, como são também o calor e o frio; na realidade há apenas átomos e vazio”. Após esta percepção visionária, foram ne- cessários cerca de dois mil anos para que o arranjo ordenado dos átomos em estruturas cristalinas, como nos minerais formadores de rochas, fosse inferido por Nicolau Steno no século XVII. E mais três séculos foram necessários para que as estruturas cristalinas fi nalmente fossem desvendadas pela difratometria de raios X, no início do século XX. Figura 5.1b – Detalhe de rocha granítica. Fon- te: <http://www.monanneeaucollege.com/mine- rauxphoto/granite.a.1.net2.jpg>. 2 cm 132 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas Breve história da mineralogia lançou os fundamentos da estratigra- fia e da paleon tologia e foi um grande anatomista, descobrindo, inclusive, as glândulas lacrimais. Reafirmando a hi- pótese de organização interna da ma- téria proposta por Steno, René Haüy (1743-1822) sugeriu, em 1784, que o empacotamento de minúsculos blocos idênticos seria a explicação da regularidade da forma externa dos minerais. Carl von Linné (1707-1778) chegou a propor uma classificação com base na forma externa dos cristais, mas a classi- ficação que se consagrou foi a propos- ta pelo químico Jöns Jakob Berzelius (1779-1848), que percebeu que mi- nerais com o mesmo tipo de ânion ti- nham propriedades físicas semelhantes. Berzelius também descobriu as proteí- nas em 1838 e ajudou a criar a notação química moderna. Outra classificação proposta nesta época e usada ainda hoje é a escala relativa de dureza de Friedrich Mohs (1773-1839). A invenção, em 1828, do filtro polarizador de luz por William Nicol (1770-1851) marcou o início da análise microscópica de minerais. A partir de então, os microscópios com luz polari- zada permitiram correlacionar fenôme- nos ópticos, com simetria e composição química, e se tornaram imprescindíveis à mineralogia moderna. O conhecimento mineralógico acu- mulado até o início do século XIX era vasto e de difícil consulta, o que levou James D. Dana (1813-1895) a publi- car uma série de obras de referência, entre elas o System of Mineralogy (1837) e o Manual of Mineralogy (1848). Atualmente, alguns dos prin- cipais compêndios de mineralogia se- guem o sistema proposto por Dana. A descoberta dos raios X por Gustav Roentgen (1845-1923) em 1895 revolucionou a Física, a Me- dicina e também a Mineralogia. A cristalografia de raios X tornou-se uma das áreas mais efervescentes da ciência no início do século XX. O experimento de difração de raios X por cristais realizado em 1912 por Max von Laue (1879-1959) revelou a ordem interna da matéria cristalina (Figura 5.3). Recebido com entusias- mo pela comunidade científica, inclu- sive por Albert Einstein e pelo próprio Roentgen, este feito levou Laue a re- ceber o Prêmio Nobel de Física em 1914. William H. Bragg (1862-1942) e seu filho, William L. Bragg (1890-1971), fizeram em 1914 a primeira determi- nação de uma estrutura cristalina por difração de raios X e dividiram o Prê- mio Nobel de Física em 1915. A difra- tometria de raios X continua sendo um dos métodos mais precisos, rápidos e difundidos de se estudar minerais. Os microscópios eletrônicos de varredura permitiram um novo salto no estudo dos minerais. Estes equipa- mentos produzem imagens não com a luz visível, mas pela incidência de um feixe de elétrons sobre a amostra; o feixe de elétrons percorre a amos- tra em linhas contíguas, daí o nome varredura. O primeiro microscópio Plínio, o velho (23-79 d.C.), filósofo, historiador e político do Império Romano, publicou Naturalis Histo- 5.1 O grego Teofrasto (372-287 a.C) é considerado o fundador da mineralogia. Discípulo de Aristóteles, escreveu De Lapidibus, com descrições de 16 minerais que levaram à descoberta de diversos elementos químicos. riae em 77 d.C., em que discutiu a na- tureza dos minerais e das rochas, sem considerar os aspectos metafísicos a eles atribuídos na época. Plínio fale- ceu na ocasião da erupção do Vesúvio (ver capítulo 6). Muito tempo transcorreu até que Georgius Agricola (Georg Bauer, 1494- 1555) escrevesse De Re Metallica, obra publicada postumamenteem 1556 e que por mais de 200 anos foi a princi- pal referência sobre minerais e rochas, mineração e metalurgia, entre outros assuntos (Figura 5.2). O médico, naturalista e teólogo Nicolau Steno (Niels Stensen, 1638- 1686), ao perceber a constância dos ângulos entre as faces de cristais, infe- riu a existência de uma ordem interna na matéria cristalina. Steno também Figura 5.2 – Beneficiamento de minério na Idade Média. Fonte: De Re Metallica (Paperback) by Georgius Agricola, Dover Publications (1950). 133 eletrônico de varredura foi conce- bido por Ernst Ruska e Max Knoll, em 1932, e tinha uma capacidade de aumento de cerca de 400 vezes, enquanto os atuais atingem até 2 milhões vezes, permitindo o estu- do de aspectos morfológicos e com- posicionais invisíveis ao microscópio óptico. Ernst Ruska recebeu o Prêmio Nobel em 1986 por este feito. Uma observação ainda mais detalhada é possível com a microscopia eletrô- nica de transmissão, cujas imagens são formadas por difração de elé- trons. O primeiro equipamento deste tipo foi construído em 1938 por Albert Prebus e James Hillier. Hillier também participou do desenvolvi- mento da microssonda eletrônica em 1944, combinando recursos de microscopia eletrônica e fluorescên- cia de raios X, que permitiram a re- alização de microanálises químicas de alta precisão. Figura 5.3 – a) O primeiro registro da simetria interna da estrutura cristalina, em uma imagem obtida por difração de raios X autografada por Max von Laue. b) Nas imagens de Laue, a disposição dos pontos tem a mesma simetria do retículo cristalino visto ao longo da direção de incidência do feixe de raios X, como na imagem da vesuvianita, onde se vê o eixo de simetria de ordem 4. Fonte: Klein & Hurlbut. Manual of Mineralogy. John Wiley & Sons, 21. ed.p. 281; <http://userpage.chemie.fu-berlin.de/~weber/roentgen2.jpg>. O que é um mineral?5.2 Os minerais são sólidos homo-gêneos, portanto têm forma própria e não fl uem espontanea- mente, em oposição aos líquidos e gases. Eles são formados por processos natu- rais, o que exclui as substâncias sintéticas ou artifi ciais, mesmo quando estas apre- sentam as mesmas características de seus equivalentes naturais (Figura 5.4). O gelo das geleiras, por exemplo, é um mineral, Um mineral é um sólido homogêneo, com composição química defi nida, mas que pode variar dentro de intervalos restritos, formado por processos naturais inorgânicos, cujos átomos se encontram organizados em um arranjo periódico tridimensional. já o gelo produzido em refrigeradores é um equivalente sintético do gelo natural. Na fala cotidiana, entretanto, os compos- tos sintéticos recebem em geral os mes- mos nomes de seus equivalentes naturais. Os minerais são inorgânicos, o que exclui as substâncias cristalinas biogêni- cas. Por exemplo, as conchas carbonáti- cas que encontramos nas praias podem ter a mesma composição química e a mesma estrutura cristalina dos minerais, calcita ou aragonita (CaCO 3 ), mas não são consideradas minerais, pois são formadas pelo metabolismo de organismos. Estrutura cristalina é o nome dado ao arranjo tridimensional periódico de átomos, que gera sólidos simétricos. Se a cristalização for lenta e se houver espaço livre, os minerais desenvolvem faces pla- nas com ângulos defi nidos entre si, em a b 134 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas decorrência de sua estrutura cristali- na. Mas mesmo grãos irregulares ou fragmentos de minerais que não apre- sentem faces regulares têm estrutura cristalina. A composição química dos minerais varia dentro de limites defi- nidos. Em outras palavras, a composi- ção química dos minerais não varia de modo aleatório, porque ela é contro- lada pelos espaços disponíveis na es- trutura cristalina e pelas valências dos íons presentes. A estrutura cristalina é o principal fator limitante da variação química de um mineral, pois os íons ocupam espaços determinados na es- trutura e o tamanho destes espaços é condicionado pelos próprios raios dos íons predominantes. A grande maioria dos minerais é formada pela combinação de dife- rentes elementos químicos, em pro- porções fixas ou variáveis. Há minerais com composição fixa, que praticamen- te não aceitam elementos estranhos em sua estrutura, como o quartzo (SiO 2 ). Os minerais podem apresentar variações composicionais, onde um ou mais sítios da estrutura cristalina são ocupados por diferentes íons. A substituição de um elemento químico por outro numa estrutura cristalina é possível se eles tiverem raios iônicos semelhantes. Este fenômeno é de- nominado de solução sólida, como demonstrado mais adiante. Alguns minerais são compostos por um único elemento químico, como o diamante (C), o enxofre (S) e o ouro (Au). A linguagem cotidiana usa alguns destes termos de modo ambíguo. Em geral, são termos antigos e consagra- dos pelo uso, mas que às vezes podem causar confusão. Por exemplo, alguns elementos e compostos químicos são conhecidos popularmente como “sais minerais”, entretanto, nem todos os sais minerais são sais e nem todos têm origem mineral. As embalagens de ali- mentos e cosméticos comumente se referem a “minerais” como ferro, potás- sio, lítio, entre outros, que não são mi- nerais, e sim elementos químicos. Caso semelhante ocorre com cáli- ces e vasos de cristal. O termo “cristal” implicaria, à primeira vista, um material cristalino, isto é, com arranjo organizado de seus átomos. Entretanto, vasos de cristal são feitos de vidro e não de cristal, eles apenas têm um brilho que lembra o brilho dos cristais, por serem vidros com alto índice de refração. Os vidros são sólidos sem estrutura cristalina, denominados sólidos amor- fos. Os sólidos amorfos são raros na natureza, pois seu arranjo atômico não ordenado lhes confere grande instabi- lidade e reatividade – em termodinâ- mica se diz que os sólidos amorfos têm alta de energia livre. Os vidros naturais são principalmente encontrados em rochas vulcânicas, onde o resfriamento instantâneo da lava dificulta o processo de cristalização (ver capítulo 6). A fala popular também não faz dis- tinção clara entre os termos mineral e minério. Minério é um conceito econô- mico e se refere a minerais ou rochas que possam ser extraídos da natureza com lucro. Os minérios, portanto, cor- respondem a um grupo especial de minerais ou rochas. Há materiais que são semelhantes a minerais, mas que não satisfazem ple- namente as condições do conceito for- mal. Estes materiais são denominados mineraloides, que incluem materiais cristalinos naturais biogênicos como pérolas, âmbar e recifes de coral, e ma- teriais naturais inorgânicos sem estru- tura cristalina, como opala e obsidiana. A água mineral e o carvão mineral não são minerais, pois o primeiro é líquido à temperatura ambiente e o segundo é formado por material biogênico. Apesar de não serem minerais no senso estrito, estes materiais são incluídos na catego- ria dos recursos minerais, pois são extraí- dos da Terra para nosso uso. Figura 5.4 – Rubi natural e seu análogo sintético. O rubi é a variedade vermelha do mineral co- ríndon (Al2O3). Um rubi sintético não é um mineral, apesar de ambos terem a mesma composi- ção química e estrutura cristalina. Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Ruby_cristal.jpg>, <http://www.dkimages.com/discover/Home/Science/Earth-Sciences/Geology/Gemstones/ Synthetic-Gems/Ruby/Ruby-2.html>. SintéticoNatural 135 Para o estudo da simetria e da composição química de um mi-neral se estabeleceu o conceito nico mais externo, para fi car com uma confi guração eletrônica semelhante à dos gases nobres, que são átomos estáveis, praticamente não reativos. Na busca por esta confi guração, os átomos doam ou recebem elétrons, tornando-se eletricamente carrega- dos, quando entãosão denominados íons, sendo cátions os íons positivos e ânions os negativos. As cargas dos íons recebem o nome de valência. Os elementos são organizados na tabela periódica, em função da variação sistemática de suas proprie- dades (ver apêndice). Os elementos das colunas da direita (VIa, VIIa) têm tendência a ganhar elétrons e formar ânions, ou seja, eles têm alta eletro- negatividade. Já os elementos das colunas da esquerda (Ia, IIa) tendem a perder elétrons e formar cátions. Os elementos das colunas centrais (IIIa, IVa, Va) são denominados elementos de transição e podem perder, ganhar ou compartilhar elétrons, e, por isto, apresentam íons de diversas valências (por exemplo Fe2+, Fe3+). Os elementos de transição são os principais formadores de cores em minerais, devido a oscila- ções eletrônicas em seus orbitais internos incompletos. Quando a luz branca atinge um elemento de transição, parte dela é absorvida pelas oscilações no nível 3d, e as cores são geradas por esta absorção seletiva da energia luminosa. As ligações químicas determinam grande parte das propriedades físicas dos minerais (Figura 5.6). Os minerais podem apresentar em sua estrutura todos os tipos de ligações, que são re- sumidas a seguir: ligações iônicas ocorrem quando • átomos doam e recebem elétrons, e passam a ter cargas opostas. Estas liga- ções são fortes e os materiais iônicos têm baixa maleabilidade e alto ponto de fusão; ligações covalentes se dão pelo com-• partilhamento de elétrons dos orbitais de valência. Materiais covalentes têm Composição e simetria5.3 Composição química e estrutura cristalina são os dois parâmetros fundamentais e interdepen- dentes que caracterizam um mineral. A simetria resulta do empacotamento ordenado dos átomos. Figura 5.5 – Estrutura da halita (NaCl), mineral do sistema cúbico. A cela unitária contém a fórmula química completa e todos os elementos de simetria do retículo completo. de cela unitária, um referencial geo- métrico arbitrário que contém todos os elementos de simetria da estrutura cristalina e refl ete a composição quími- ca do mineral (Figura 5.5). O átomo é a menor parte de um elemento químico que conserva todas suas propriedades físicas e químicas. Ele tem um núcleo formado por prótons e nêutrons, circundado por uma nu- vem de elétrons que ocupam orbitais correspondentes a níveis energéticos. A concepção atual diverge dos mode- los que consideravam o átomo como um pequeno sistema solar, com um núcleo correspondente ao Sol, circulado por átomos que percorrem órbitas bem defi nidas. Os modelos atuais de átomo, fundamentados na física quântica, con- sideram as probabilidades de uma dada confi guração eletrônica existir. As grandezas que defi nem os ele- mentos químicos são o número atô- mico (Z), que é o número de prótons de um átomo, e a massa atômica, que é a soma dos prótons e nêutrons. Em- bora o número atômico seja constan- te para um dado elemento, átomos de um mesmo elemento químico podem ter diferentes números de nêutrons e, portanto, diferentes massas atômicas, que são denominados isótopos. Os átomos são eletricamente neu- tros, pois têm o mesmo número de elétrons e prótons. Mas os átomos tendem a completar seu orbital eletrô- Na+ Cl – cela unitária do NaCl cela unitária do NaCl Na+ Cl – 136 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas baixa maleabilidade, alto ponto de fusão e alta dureza; ligações metálicas apresentam cá-• tions neutralizados por uma nuvem ele- trônica comum que os envolve, na qual os elétrons se movimentam livremente, permitindo a condução de calor e ele- tricidade e conferindo maleabilidade e ductibilidade aos materiais metálicos; ligações de Van der Waals e as pontes • de hidrogênio são as ligações mais fra- cas, formadas por cargas eletrostáticas residuais; minerais com este tipo de li- gação têm baixa dureza. Os minerais comumente apresentam em sua estrutura mais de um tipo de liga- ção atômica, ou ainda ligações de caráter misto iônico-covalente, dependendo da eletronegatividade dos íons envolvidos, onde eletronegatividade é uma medida da afinidade dos íons por elétrons. A estreita relação que existe entre composição química e estrutura crista- lina leva à definição de três conceitos decorrentes: solução sólida, polimorfis- mo e isomorfismo. Soluções sólidas são estruturas cristalinas em que um ou mais sítios iônicos são ocupados por diferentes elementos químicos (Figura 5.7); isto é possível para íons que tenham raios iônicos semelhantes. Quando os íons envolvidos em uma solução sólida têm valências diferentes, o “desbalan- ço” de cargas é equilibrado por subs- tituições acopladas em outros sítios da estrutura. Por exemplo, na série dos plagiclásios, a substituição acoplada entre (Na+Si4+) e (Ca2+Al3+) mantém a neutralidade elétrica da estrutura. As soluções sólidas podem ser completas, quando a diferença de raios iônicos dos íons que se substituem for menor que 15%, como no caso da série das olivinas [(Fe,Mg) 2 SiO 4 ], onde Fe2+ (raio iônico ~ 0,78Å) e Mg2+ (raio iônico ~ Halita NaCl Na Na+ Cl Cl- Transferência de elétron Átomos sem carga Íons com carga a 0 a 0a 0 = 0,357 nm Compartilhamento dos elétrons da camada mais externa Diamante C Núcleo catiônico + 2 elétrons de valência Elemento nativo metálico Núcleos catiônicos Nuvem de elétrons de valênciapode ser visto como Metal isolado + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + a b c Figura 5.6 – As ligações químicas. a) Ligação iônica = transferência de elétrons gerando cargas e atração eletrostática entre íons (Na+ e Cl– na halita (NaCl). b) Ligação covalente = compartilhamento de elétrons de valência entre átomos vizinhos. c) Ligação metálica = elétrons com movimentação livre entre núcleos catiônicos (metais nativos como ouro, prata e platina). d) Ligação de Van der Waals e pontes de hidrogênio = ligações fracas que se dão por assimetria na distribuição de car- gas em moléculas (ligações nos planos de clivagem de caolinita ou grafita). Fonte (d): John Willey and Sons, Inc, 1988. d 137 Polimorfos de Al2SiO5 A+ (A+, B+) X– B+ 0,72Å) são intercambiáveis na estrutu- ra, ou seja, as olivinas podem apresen- tar qualquer proporção Fe:Mg, desde o extremo puro em Fe até o extremo puro em Mg. Quando as diferenças de raio iônico são maiores, as possibilida- des de substituição se tornam mais limitadas, formando soluções sólidas parciais, como no caso dos feldspatos alcalinos [KAlSi 3 O 8 - NaAlSi 3 O 8 ], em que as diferenças de raio iônico entre K+ (raio iônico ~ 1,38Å) e Na+ (raio iônico ~ 1,02Å) permitem apenas uma limita- da substituição de um pelo outro. relativamente pequena no interior da crosta e tem estrutura menos densa. O isomorfi smo ocorre em minerais de diferentes composições químicas que apresentam o mesmo tipo de estru- tura cristalina (ver fi gura 5.9), como no caso da halita (NaCl) e sylita (KCl), ou da fl uorita (CaF 2 ) e uraninita (UO 2 ). Além da simetria, outra propriedade decorrente da presença de uma estrutu- ra cristalina é a anisotropia, que se refere às variações das propriedades físicas em função da direção dentro de um cristal (ver fi gura 5.10). Seu oposto, a isotropia, é um conceito mais intuitivo, usado para materiais cujas propriedades físicas são as mesmas em todas as direções. Por exemplo, a velocidade e o comprimen- to de onda da luz são os mesmos em qualquer direção de propagação dentro de materiais isotrópicos como gases, líquidos e sólidos amorfos (vidros). Nos materiais anisotrópicos, uma ou mais propriedades físicas como índices de refração ou dureza, são distintos em di- ferentes direções na estrutura cristalina. O principal fator que controla o ar- ranjo dos átomos numa estrutura cris- Figura5.8 – Polimorfos são minerais que têm a mesma composição química e diferentes estrutu- ras. Dependendo das condições de temperatura e pressão, o composto Al2SiO5 pode se cristali- zar em três polimorfos: cianita (triclínico), andalusita (ortorrômbico) ou sillimanita (ortorrômbico). Fonte: <http://www.mineralminers.com/images/kyanite/mins/kyam101.jpg>, <http://www.dkimages.com/ discover/previews/867/65019351.jpg>, <http://www.dkimages.com/discover/Home/Science/Earth-Scien- ces/Geology/Minerals-and-Crystals/Classifi cation/Silicates/Sillimanite/Sillimanite-1.html>. Figura 5.7 – Soluções sólidas são varia- ções composicionais causadas pela subs- tituição de um elemento por outro, em um dado sítio em uma estrutura cristalina. Além do raio iônico, a estabilidade das soluções sólidas é controlada pela temperatura, pois quanto maior for a temperatura, maior é a oscilação vibra- cional dos átomos no retículo, fazendo com que a estrutura cristalina fi que mais dilatada e aberta. Isto permite uma maior fl exibilidade para acomodar diferenças de raios iônicos. Soluções sólidas estáveis a alta temperatura po- dem se desestabilizar com a redução da temperatura, gerando duas fases mais puras por um processo de desmistura denominado exsolução. Como o próprio nome indica, poli- morfi smo é a propriedade de uma subs- tância química se cristalizar em diferentes formas, ou seja, com diferentes tipos de ar- ranjos atômicos (fi gura 5.8). Os principais fatores que possibilitam o polimorfi smo em minerais são pressão e temperatura. Os minerais com estruturas mais com- pactas são mais estáveis a pressões elevadas, como é o caso do diamante, formado no manto a profundidade de centenas de quilômetros. A grafi ta, que tem a mesma composição química do diamante (C), forma-se a profundidade cianita andalusita Temperatura P re ss ão sillimanita 138 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas talina é o raio dos íons presentes na sua estrutura. O empacotamento ordena- do dos átomos gera uma simetria, que pode ser defi nida como sendo uma repetição ordenada das partes de um todo. Um dos conceitos relacionados à simetria de estruturas cristalinas é o de número de coordenação, que cor- responde ao número de átomos que estão em proximidade imediata com um átomo de referência (Figura 5.11). Por exemplo, imagine um arranjo de esferas de mesmo raio em um plano: cada esfera tem seis vizinhos, portan- to o número de coordenação de cada esfera é 6. Este princípio é aplicado em estruturas cristalinas que são tridimen- sionais e que podem ter íons de raios iônicos diferentes, ocupando diferentes sítios estruturais. O número de coorde- nação é controlado pela relação entre os raios iônicos dos íons que partici- pam de uma dada estrutura. Uma regra indica que, quanto maior for um íon em relação aos seus vizinhos, mais vizinhos poderão se acomodar ao seu redor, e vice-versa. Outro modo de se referir à coordenação de íons em uma estrutu- ra é usando poliedros, que são fi guras geométricas tridimensionais que ideal- mente reproduzem o empacotamento de íons ao redor de um íon de refe- rência. Deste modo, representa-se por exemplo um sítio tetraédrico, onde um cátion é cercado por quatro ânions, ou um sítio octaédrico, onde um cátion é cercado por seis ânions. A simetria das estruturas cristalinas e das formas externa dos cristais pode ser descrita por elementos de simetria, que são os planos, eixos e centros de simetria (Figura 5.12). Os planos de simetria são planos ima- ginários que passam pelo centro geomé- trico de um cristal dividindo-o em duas metades iguais, mas especulares entre si. Eixo de simetria é uma reta ima- ginária que passa pelo centro de um cristal e em torno da qual o cristal é girado para mostrar feições idênticas à feição inicial (Figura 5.13). São as chamadas posições de recobrimento. Os eixos de simetria são representa- dos pelas letras E ou A de axis (eixo em inglês). Dependendo do ângulo de giro podemos ter eixos monários (E 1 ou 1) para um giro de 360o; eixos binários (E 2 ou 2) para giros de 180o; eixos ternários (E 3 ou 3) para giros de 1200; eixos quaternários (E 4 ou 4) para giros de 900 e eixos senários (E 6 ou 6) para giros de 600. Centro de Simetria é um ponto no centro geométrico do cristal, que une motivos geométricos semelhantes e equidistantes do centro (Figura 5.14). Número de coordenação = 8 (cubo) Número de coordenação = 4 (tetraedro) Número de coordenação = 6 (octaedro) Figura 5.10 – Anisotropia de dureza da cianita (Al2SiO5), que tem dureza me- nor longitudinalmente (dureza 5) e maior transversalmente (dureza 7). Figura 5.11 – O número de coordenação de um íon corresponde ao número de seus vizinhos diretos em uma estrutura cristali- na. A fi gura mostra arranjos com números de coordenação 4 (a), 6 (b) e 8 (c). Figura 5.9 – Isomorfos são minerais que têm o mesmo tipo de estrutura cristalina, mas composição química diferente, como por exemplo, halita (NaCl) e sylvita (KCl). a b c 5 7 139 O reconhecimento da simetria em re- lação ao centro se faz unindo-se cada detalhe de um motivo geométrico de referência, como a face de um cristal, ao centro de simetria e prolongando- -se a uma igual distância, para se obter uma feição equivalente do lado oposto do centro. Há casos em que a simetria pode ser descrita pela combinação de ele- mentos simples. Exemplos de opera- ções combinadas de simetria são (a) um giro + uma refl exão e (b) um giro Figura 5.14 – Centro de simetria (seta) em uma molécula genérica. + uma inversão por um centro de si- metria. Existem ao todo dez operações de simetria simples e combinadas que permitem descrever todas as formas externas dos cristais. Apesar de haver uma aparente infi - nidade de possibilidades de se agrupar regularmente átomos em uma estru- tura cristalina, estas muitas confi gura- ções convergem para um número bas- tante restrito de possibilidades, como será visto a seguir. Para isto serão apre- sentados brevemente os conceitos de grupos pontuais, classes cristalinas, sis- temas cristalinos, retículos de Bravais e grupos espaciais. Os grupos pontuais são as 32 com- binações possíveis de elementos de simetria externa (próprios: eixos; e impróprios: centro, plano e eixos de roto-inversão) através de um ponto. Como consequência disto, as substân- cias cristalinas são agrupadas em 32 classes cristalinas de acordo com a sua simetria externa em referência aos 32 grupos pontuais. a b a b c d fe Figura 5.12 – Elementos de simetria, representados por fi guras humanas. a) Plano de simetria (linha pontilhada). b) Eixo de simetria de ordem 2, atravessando perpendicularmente as mãos dadas das duas fi guras. c) Combinação de eixo de ordem 2 com plano de simetria. d) Eixo de simetria de ordem 3. e) Centro de simetria. f) Eixo de simetria de ordem 4 com inversão. Fonte: Glasser, L. S. D. The Chemistry of Cements. Academic Press, 1964. Capítulo 19. Figura 5.13 – a) Eixo de simetria de ordem 6 em um fl oco de neve. b) Seção transversal de um cristal de turmalina com eixo de ordem 3. Fonte: <http://www.mineralium.com/Media/Shop/ extralapis-english-no3-tourmaline.jpg>. 140 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas As classes cristalinas podem ser agrupadas em sete sistemas cristalinos (cúbico, hexagonal, trigonal, tetrago- nal, ortorrômbico, monoclínico, triclí- nico) segundo a simetria característi- ca dos respectivos grupos pontuais. A definição dos sistemas cristalinos é feita com base nos parâmetros de cela (Figura 5.15). Os sistemas cristalinos definem os conjuntos de eixos mais convenientes para o posicionamento espacial dos elementos de simetria e elementos morfológicos dos cristais (Figura 5.16). As celas ou retículos de Bravais são as 14 combinações possíveis paraa dis- posição ordenada de pontos (nós) no espaço por meio de translações suces- sivas em três eixos. Finalmente, os grupos espaciais são as 230 combinações possíveis entre as 14 celas de Bravais e os 32 grupos pon- tuais, onde a simetria do grupo espacial se refere ao objeto representado pelos nós dos retículos de Bravais. Assim, sur- gem elementos de simetria que com- binam os elementos da morfologia externa com operações de translação (planos deslizantes e eixos helicoidais). Os grupo espaciais descrevem a sime- tria interna das substâncias cristalinas. Figura 5.15 – Os parâmetros de cela são dados pelos tamanhos relativos dos eixos cristalográficos (a, b, c) e pelos ângulos entre estes eixos (α, β, γ). Figura 5.16 – A partir dos sete sistemas cristalinos (cúbico, tetragonal, ortorrômbico, hexagonal, trigonal, monoclínico, triclínico) podem ser gerados quatorze retículos de Bravais. β α γ a c b CÚBICO a = b = c α = β = γ = 90º TETRAGONAL a = b ≠ c α = β = γ = 90º HEXAGONAL a = b ≠ c α = β = 90º γ = 120º MONOCLÍNICO a ≠ b ≠ c α = γ = 90º β ≠ 120º TRICLÍNICO a ≠ b ≠ c α ≠ β ≠ γ ≠ 90º P F F I I I P P P P P P C C TRIGONAL a = b = c α = β = γ ≠ 90o 4 tipos de cela unitária P = Primitiva I = Corpo centrado F = Face centrada C = Face C centrada + 7 classes cristalinas → 14 retículos de Bravais 141 A siderita (FeCO3), por exemplo, tem mais semelhanças com a calcita (CaCO 3 ) ou com a magnesita (MgCO 3 ) do que com a pi- rita (FeS 2 ) ou a hematita (Fe 2 O 3 ). Além disto, minerais com o mesmo radical aniônico tendem a se formar por pro- cessos físico-químicos semelhantes e a ocorrer juntos na natureza. As doze principais classes de mi- nerais são: 1) silicatos; 2) sulfetos; 3) sulfossais; 4) óxidos simples, múltiplos e hidróxidos; 5) haletos; 6) carbonatos; 7) nitratos; 8) boratos; 9) fosfatos; 10) sulfatos; 11) tungstatos; e 12) elementos nativos. Os silicatos são a classe mais abundante na crosta e no manto terrestres. Além de serem os principais minerais formadores de rochas, os silicatos apresentam di- versos tipos de estruturas cristalinas, decorrentes de diferentes modos de polimerização da sílica. A classe dos silicatos é, portanto, dividida em sub- classes por critérios estruturais, como será visto mais adiante. As classes são divididas em grupos por critérios químicos e os grupos, por sua vez, são constituídos de espécies minerais. Algumas espécies se relacio- nam entre si por soluções sólidas, for- mando assim séries, cujos membros têm a mesma estrutura cristalina e diferentes composições químicas, como a série dos feldspatos plagio- clásios, que são minerais de mesma estrutura e que podem apresentar qualquer composição entre uma composição extrema sódica (albita, NaAlSi 3 O 8 ) e outra cálcica (anortita, CaAl 2 Si 2 O 8 ). Quando as variações químicas na composição de um mi- neral são pouco expressivas, podem ser designadas variedades de espé- cies minerais. Em português, os nomes de novos minerais têm o sufixo “ita” [dolomita CaMg(CO 3 ) 2 ] – enquanto que o sufi- xo “ito” se refere a rochas (dolomito, rocha composta predominantemen- te pelo mineral dolomita). Os nomes de minerais podem indicar a locali- zação de sua descoberta [brasiliani- ta, NaAl 3 (PO 4 ) 2 (OH) 4 , (Figura 5.17)], suas proprie dades físicas (magnetita, Fe 3 O 4 ), ele mento químico predomi- nante (mo libdenita, MoS 2 ) ou ho- menagear uma pessoa proeminente (andradita, Ca 3 Fe 2 (SiO 4 ) 3 , em home- nagem a José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), geólogo e patriarca da Independência do Brasil). Os mi- nerais conhecidos há muito tempo podem ter nomes consagrados, que não seguem as regras atuais, como quartzo (SiO 2 ), galena (PbS) e ruti- lo (TiO 2 ). A nomenclatura dos minerais é controlada por uma comissão da As- sociação Mineralógica Internacional (IMA - International Mineralogical Asso- ciation), criada em 1959. Figura 5.17 – Cristal de brasilianita encrustado em quartzo, proveniente dos pegmatitos de Galileia, Minas Gerais. Foto: A. Liccardo, <www.geoturismobrasil.com.br>. Classifi cação de minerais5.4 Os minerais são divididos em classes de acordo com seu ânion ou grupo aniônico, pois em geral minerais com o mesmo ânion possuem semelhanças físicas e morfológicas entre si, o que não acontece com minerais que têm apenas um cátion em comum. 142 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas 5.5.1 Propriedades físicas macroscópicas Hábito cristalino – forma habitual exibi- da pelos minerais, em decorrência de sua estrutura cristalina (Figura 5.18). Alguns minerais têm forma característica que auxiliam em sua identificação, tais como o hábito laminar das micas (muscovi- ta, KAl 2 (AlSi 3 O 10 )(OH) 2 ), o prismático da apatita (Ca 5 (PO 4 ) 3 (OH,F,Cl)), o fibroso da serpentina (crisotila, Mg 3 Si 2 O 5 (OH) 4 ), o tabular da barita (BaSO 4 ) e o equidimensio- nal da granada (almandina, Fe 3 Al 2 (SiO 4 ) 3 ). Entretanto, nem todos os minerais têm um hábito característico que possa ser usado em sua identificação. Transparência – capacidade de permitir a passagem da luz, que divide os minerais em translúcidos ou opacos. Alguns mine- rais são aparentemente opacos em amos- tras macroscópicas, mas são transparentes em lâminas delgadas vistas ao microscó- pio. Os elementos nativos metálicos, óxi- dos e sulfetos são em sua maioria opacos. Brilho – refere-se ao modo como o mi- neral reflete a luz e é geralmente dividi- do em brilho metálico e não metálico (Figura 5.19). Os minerais que refletem mais de 75% da luz incidente exibem brilho metálico. É o caso da maioria dos minerais opacos. Os que não atingem esta reflexão têm brilho não metálico, com inúmeras subdivisões propostas de modo subjetivo por diversos autores. Entre os tipos de brilho não metálico, é usual distinguir alguns característicos, como o vítreo, o gorduroso e o sedoso. Cor – a cor de um mineral resulta da absorção seletiva de comprimentos de onda da luz visível, principalmente em virtude da presença de elementos quími- cos de transição (como Fe, Cu, Ni, Cr,V) ou de defeitos cristalinos. Os minerais que têm cores características são chamados de idiocromáticos, como a malaquita, que é verde, enquanto os alocromáticos apresentam cores variadas, como a fluori- ta, o quartzo e o coríndon (Figura 5.20). Como identificar minerais5.5 Figura 5.20 – A malaquita (a) é idiocromá- tica verde e o coríndon (b) é alocromático, em cores diversas. Fonte: <http://www. gc.maricopa.edu/earthsci/imagearchive/ Malachite%20slab%20755.jpg>,<http:// dave.ucsc.edu/myrtreia/photos/corun- dum_colors.jpg>. a b a b c a b Figura 5.18 – Alguns exemplos de hábitos cristalinos. a) Acicular (rutilo em quartzo). b) Lami- nar (mica). c) Prismático (turmalina). Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/Crystal_habit>. Figura 5.19 – a) Brilho metálico (hemati- ta, Fe2O3). b) Brilho vítreo (quartzo, SiO2). Fonte: <http://csm.jmu.edu/minerals/mine- rals% 5C+Galena.jpg>. Os minerais podem ser identificados pelas suas propriedades macroscópicas determinadas através de ensaios físicos simples. Uma identificação precisa, entretanto, requer o uso de equi- pamentos sofisticados. 143 Traço – a cor do pó obtido ao se riscar o mineral contra uma placa de porce- lana é denominada traço. Esta proprie- dade é útil para se identifi car minerais opacos, que em geral apresentam tra- ço colorido (Figura 5.21). A maioria dos minerais translúcidos ou transparentes tem traço incolor. Figura 5.21 – Traço castanho avermelha- do da hematita em placa de porcelana. Fonte: <http://earth.geol.ksu.edu/sgao/ g100/ plots/1001_hematite_streak.jpg>. Figura 5.22 – Escala de dureza de Mohs, dureza relativa versus dureza absoluta. Figura 5.23 – Planos de clivagem em minerais. Fonte: <http://academic.brooklyn.cuny.edu/geology/grocha/mineral/images/cleavage.jpg>. Figura 5.24 – Fraturas conchoidal em um fragmento de quartzo (linhas curvas aproximadamente concêntricas). Fonte: <http://www.iun.edu/~geos/Zoran%20 IUN/G%20101/Photos/Conchoidal%20 fracture.jpg>. Clivagem – planos de fratura de no- tável regularidade, que refletem a presença de planos de fraqueza em determinadas direções na estrutura cristalina (Figura 5.23). As superfí- cies de clivagem são nomeadas de acordo com sua orientação crista- lográfica ou em referência aos sóli- dos geométricos por elas formados, tais como clivagem laminar, cúbica ou romboédrica. Fratura – assim como a clivagem, as superfícies de fratura são controladas pela estrutura atômica interna do mi- neral, podem ser irregulares ou con- choidais (em forma de concha), quan- do apresentam ranhuras concêntricas, como no quartzo (Figura 5.24). Densidade – a densidade absoluta ou massa específi ca é um valor escalar (g/cm3), enquanto que a densidade relativa é um número adimensional Dureza – é a resistência do mineral ao ser riscado. Para classifi cá-la, utiliza-se a escala relativa de dureza de Mohs, basea da na dureza relativa de dez mi- nerais utilizados como padrões (Figura 5.22). A sequência dos minerais na es- cala de dureza não se refere à magnitu- de escalar (absoluta) desta propriedade física, mas apenas indica que os mine- rais de dureza maior riscam os minerais de dureza menor. Figura 5.25 – A geminação em cruz da estaurolita é uma característica marcante deste mineral. Fonte: <http://www.geol.lsu. edu/dutrow/mingy/Staurolite_002.jpg>. que indica quantas vezes certo volu- me do mineral é mais pesado que o mesmo volume de água a 4 °C. Como a densidade da água é muito próxima a 1 g/cm3, ambas as notações têm valores numéricos muito próximos. A densidade relativa da maioria dos minerais formadores de rocha oscila entre 2,5 e 3,3. Geminação – é a propriedade de certos cristais de se apresentarem intercrescidos de maneira regular. A geminação pode ser simples, quan- do envolve dois indivíduos intercres- cidos, ou múltipla, quando une um número maior de indivíduos. O tipo de geminação pode ser uma proprie- dade diagnóstica do mineral, como no caso da geminação em cruz da es- taurolita ((Fe,Mg) 2 Al 9 (Si,Al) 4 O 20 (O,OH) 4 ) (Figura 5.25) ou da geminação múlti- pla do plagioclásio ((Na,Ca)(Si,Al) 4 O 8 ). 400 300 200 d ur ez a ab so lu ta Diamante Coríndon Topázio Quartzo Or to clá sio Ap at ita Flu or ita Ca lci ta Gi ps ita Ta lco escala de Mohs 100 75 50 25 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 2 cm Clivagem em uma direção: exemplo muscovita Clivagem em três direções: exemplo halita Clivagem em duas direções: exemplo feldspato Clivagem em três direções: exemplo calcita 144 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas Propriedades magnéticas – Entre os minerais mais comuns, a magne- tita (Fe 3 O 4 ) e a pirrotita (Fe 1-x S) são os únicos atraídos pelo campo mag- nético de um ímã de mão. Outros minerais podem apresentar magne- tismo sutil, perceptível apenas por equipamentos mais potentes, como os eletroímãs. 5.5.2 Microscopia óptica com luz polarizada A microscopia óptica é a base dos estudos mineralógicos e petrológicos, pois orienta estudos subsequentes feitos por outros métodos. Os proce- dimentos de identificação de minerais ao microscópio óptico necessitam de um longo tempo para o seu aprendi- zado, havendo livros específicos que apresentam uma abordagem comple- ta do tema. A maioria dos minerais formado- res de rocha pode ser identificada por suas características morfológicas e ópticas, observadas ao microscópio em lâminas delgadas ou em grãos, sob luz transmitida ou refletida. As propriedades ópticas variam de acordo com a simetria e com a com- posição química e, portanto, a iden- tificação de espécies minerais ao microscópio óptico é possível com boa precisão. Outras informações po- dem ser obtidas, tais como estimativas das proporções relativas entre os mi- nerais presentes, reconhecimento de sequên cias de cristalização, de reações minerais e de eventos de deformação. A análise petrográfica é o primeiro passo na reconstrução da história de uma rocha. Como já dito anteriormente, os mi- nerais são anisotrópicos e esta aniso- tropia também se aplica à propagação da luz em seu interior. Ou seja, de acor- do com sua direção, a luz encontra di- ferentes tipos de ligações químicas e densidades de ocupação atômica e isto faz com que ela tenha caracterís- ticas diferentes dependendo da sua direção de propagação. A luz, ao atravessar a matéria cris- talina, sofre diversos fenômenos ópti- cos, cuja observação é feita com luz polarizada, que vibra em apenas um plano ortogonal à direção da propa- gação. Os microscópios petrográficos são equipados com dois filtros polari- zadores com direções de polarização ortogonais entre si, sendo um locali- zado sob e o outro sobre a amostra. Entre as características ópticas medidas ao microscópio, o índice de refração e a birrefringência estão entre as mais importantes para a identificação de minerais. O índice de refração (n) é a razão entre a velocida- de da luz no vácuo (c) e a velocidade da luz no mineral (v), ou seja, n = c/v. O índice de refração é, portanto, um número adimensional inversamente proporcional à velocidade da luz no material de estudo. A luz, ao atravessar um cristal, é decomposta em dois raios que vi- bram perpendicularmente entre si, cada um com índice de refração pró- prio. A diferença entre estes índices de refração é denominada birrefrin- gência (δ). As tabelas de identifica- ção de minerais listam para cada espécie mineral valores de birrefrin- gência máxima, ou seja, a diferença entre os índices de refração máximo e mínimo (δ = n max -n min ). A diferença de índices de refração gera uma de- fasagem entre os raios, que anula al- guns comprimentos de onda e leva à formação de cores de interferência (Figura 5.26). Vários acessórios acoplados ao microscópio óptico podem ser con- jugados para a realização de me- dições das propriedades ópticas e morfológicas necessárias à identifi- cação de minerais. 5.5.3 Difratometria de raios X Os raios X são ondas com maior frequência e maior poder de penetra- ção que a luz visível. A difratometria de raios X é uma das principais técnicas de identificação de sólidos cristalinos, incluindo minerais, ligas metálicas, proteínas, fármacos, entre outros. Seu princípio baseia-se na incidência so- bre a amostra de um feixe de raios X com comprimento de onda definido. Figura 5.26 – Muscovita cercada por grãos menores de quartzo e feldspato em secção delgada. Na imagem superior a) vemos os minerais com luz polarizada pla- no paralela, com sua cor natural (incolor) e abaixo b) vemos a mesma amostra com polarizadores cruzados, onde se pode ver a cor de interferência, gerada pela birre- fringência. A muscovita, ao centro, apresen- ta cores mais intensas que o quartzo e os feldspatos ao seu redor, que aparecem em tons de cinza, isto porque a birrefringência da muscovita é maior que a do quartzo e dos feldspatos. Fonte: <http://www. union.edu/PUBLIC/GEODEPT/COURSES/ petrology/ig_minerals.htm#Micas>. a b 145 Os elétrons dos átomos do retículo cristalino passam a vibrar na mesma frequência dos raios X incidentes, e cada átomo passa a ser um novo cen- tro de emissão de ondas esféricas. As ondas emitidas pelos átomos de uma mesma estrutura cristalina in- teragem entre si e em algumas dire- ções privilegiadas ocorrem interações plenamente construtivas, produzindo assim feixes de raios X em posições an- gulares bem definidas. Este fenômeno é conhecido como difração e permite medir as distâncias entre planos de átomos em uma estrutura cristalina e a densidadeatômica nestes planos. Denomina-se de padrão difratomé- trico a correlação entre os ângulos onde ocorre a difração, proporcionais às distâncias entre os diversos planos atômicos da estrutura cristalina, e a intensidade de cada feixe difratado, proporcional à densidade da ocupa- ção atômica nos respectivos planos (Figura 5.27). Cada substância sólida cristalina tem um padrão caracterís- tico de difração de raios X. A identifi- cação de um material desconhecido é feita comparando-se o padrão da amostra com padrões disponíveis em bancos de dados. 5.5.4 Microscopia eletrônica de varredura No microscópio eletrônico de varredura, as imagens são geradas por um feixe de elétrons que percor- re a superfície da amostra em linhas contíguas paralelas. Um filamento aquecido libera elétrons que são acelerados em direção à amostra por uma diferença de potencial elétrico entre a amostra e o filamento. O flu- xo de elétrons é focalizado em um feixe por um conjunto de lentes ele- tromagnéticas. As interações do feixe eletrônico com a amostra são capta- das por diversos tipos de detectores e transformadas em imagens (Figura 5.28). Informações morfológicas e composicionais a respeito são obti- das pelo uso de diferentes detecto- res, tais como: detectores de elétrons secundários – os elétrons secundários têm baixa energia e são emitidos pela superfície da amostra por causa do impacto do feixe eletrônico (elétrons primários). A intensidade da emissão de elétrons secundários é proporcional ao ângulo de incidência do feixe sobre a amos- tra, revelando portanto detalhes mor- fológicos da amostra; detectores de elétrons retroespalhados – retroespalhamento de elétrons depende principalmente do número atômico médio da amostra. Portanto, variações na composição química da amostra se apresentam como variações de tonalidade na imagem; detectores de espectros de energia dispersiva – os elementos químicos da amostra emitem espectros ca- racterísticos de raios X quando ex- citados pelo feixe de elétrons. Este espectro é um conjunto de emis- sões com comprimentos de ondas (ou energia) definidos, geradas por saltos quânticos dos elétrons entre diferentes orbitais. Este tipo de de- tector permite identificar os elemen- tos químicos presentes na amostra, gerando análises químicas qualitati- vas ou semiquantitativas. Figura 5.27 – Difratograma de raios X indicando as posições angulares em graus (2 teta) em que ocorre o efeito da difração e a intensidade relativa da difração em cada posição. 20 20 (°) In te ns id ad e (c on ta do s/ se g. ) 30 40 50 a b Figura 5.28 – Imagens produzidas por microscópio eletrônico de varredura. a) Imagem de elétrons retroespalhados, que realça variações composicionais da amostra, em particular o peso atômico médio dos materiais presentes. b) Imagem de elétrons secundários, que apresenta in- formações morfológicas. 146 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas Minerais formadores de rochas Figura 5.29 – Os oito elementos químicos mais abundantes na crosta terrestre. (Figura 5.30). Assim sendo, cada ânion de oxigênio pode usar metade de sua carga para se ligar a outros cátions ou a outros tetraedros de [SiO 4 ]-4. Há sete tipos geométricos fundamentais de cadeias polimerizadas e a classe dos silicatos é dividida em subclasses de acordo com o tipo de polimerização (Figura 5.31), que condicionam aspectos estruturais, com- posicionais e morfológicos. Os principais minerais formadores de rochas são silica- tos, tais como feldspatos, quartzo, olivinas, piroxênios, anfibólios, granadas e micas. Figura 5.30 – O tetraedro de sílica e a dis- tribuição de suas cargas. Mais de 70% da crosta é forma-da por oxigênio e silício (Fi-gura 5.29), e em decorrência disto os silicatos são a classe amplamen- te predominante de minerais, consti- tuindo mais de 90% de seu volume. Por razões práticas, os minerais serão dividi- dos em silicatos e não silicatos. 5.6.1 Silicatos Os silicatos são os mais abundantes minerais da crosta e do manto terrestres. Seu radical aniônico, a sílica [SiO 4 ]-4, forma tetraedros que se unem entre si ou com cátions pelo compartilhamento dos áto- mos apicais de oxigênio. A polimerização da sílica é possível em virtude da distribuição interna de car- gas nos tetraedros, em que cada um dos quatro ânions oxigênio (O2-) fornece me- tade de sua carga negativa para neutrali- zar o cátion silício (Si4+) que se encontra no centro do tetraedro de coordenação Figura 5.31 – As subclasses dos silicatos, de acordo com o grau de polimerização da sílica. 5.6 Dos milhares de minerais conhecidos, apenas pouco mais de uma dezena são considerados minerais formadores de rochas, ou seja, são constituintes essenciais das rochas mais abundantes da crosta terrestre. Isto porque a crosta é composta quase que em sua totalidade por apenas oito elementos químicos: oxigênio, silício, alumínio, ferro, cálcio, sódio, potássio e magnésio. Oxigênio Silício Al Fe Ca Na K Mg Porcentagem em peso O 46,60 Si 27,72 Al 8,13 Fe 5,00 Ca 3,63 Na 2,83 K 2,59 Mg 2,09 98,59 62,55 21,22 6,47 1,92 1,94 2,64 1,42 1,84 Porcentagem atômica 100,00 -1 -1 -1 -1 -1 -1 –1 –1 +4 O–2 Si +4 Nesossilicatos Sorossilicatos Ciclossilicatos Inossilicatos de cadeia simples Inossilicatos de cadeia dupla Filossilicatos Tectossilicatos 147 5.6.2 Principais não silicatos Os não silicatos, apesar de represen- tarem menos de 10% em volume da crosta, têm grande importância cientí- fica e econômica. A seguir, serão apre- sentadas resumidamente as principais classes de não silicatos. Carbonatos – são minerais com radical aniônico (CO 3 )2-, cujos principais exem- plos são calcita e aragonita (polimorfos de CaCO 3 ) e dolomita (CaMg(CO 3 ) 2 ). Os car- bonatos são importantes insumos mine- rais da indústria, usados na fabricação de cimento portland e como corretivos de solos, entre um grande número de outras aplicações. Eles se formam comu- mente por precipitação química a partir de soluções aquosas saturadas em am- bientes marinhos ou lacustres. Sulfatos – apresentam o radical ani- ônico (SO 4 )2-; e alguns exemplos de sulfatos são anidrita (CaSO 4 ), barita (BaSO 4 ) e gipsita (CaSO 4 .2H 2 O). De modo análogo aos carbonatos, os sulfatos se formam em geral por pre- cipitação química. Sulfetos – são compostos por metais combinados com o ânion S- ou S2-. Os sulfetos são importantes minerais de minérios, incluindo pirita (FeS 2 ), calcopirita (CuFeS 2 ), galena (PbS) e pentlandita [(Fe,Ni) 9 S 8 ]. Haletos – são a classe de minerais que apresentam ânions da coluna VII da tabela periódica (halogênios), que são F-, Cl-, Br- e I-. Os haletos mais co- muns são fluorita (CaF 2 ), halita (NaCl) e silvita (KCl). Quadro 5.1 – Minerais e mineralogia no Brasil Óxidos – são os minerais com ânion O2- e constituem importante fonte de bens minerais metálicos, tais como hematita (Fe 2 O 3 ), magnetita (Fe 3 O 4 ), cromita (Cr 2 O 4 ), espinélio (MgAl 2 O 4 ) e rutilo (TiO 2 ). Fosfatos – têm como ânion (PO 4 )3-; o fosfato mais comum e impor- tante economicamente é a apatita (Ca 5 (PO 4 ) 3 (F,Cl,OH)), de onde se extrai o fosfato utilizado como fertilizante na agricultura. Elementos nativos – incluem todos aqueles elementos que ocorrem cristali- zados em substâncias puras, não combi- nados com ânions, tais como ouro (Au), prata (Ag), cobre (Cu), enxofre (S), grafi- ta (C) e diamante (C) (Quadro 5.1). Este grupo também inclui algumas raras ligas naturais, como o electrum (liga Au-Ag). Desde 1789 quando foi descoberto nos arredores de Ara- çuaí o mineral crisoberilo (Al 2 BeO 4 ), surgiram muitos no- mes para os minerais descritos pela primeira vez no Brasil, mas apenascerca de 50 destes nomes permanecem vá- lidos até hoje. Um dos mais recentes é o mineral ruifran- coíta [Ca 2 2 Fe3+ 4 Be 4 (PO 4 ) 6 (OH) 6 •4H 2 O)], que homenageia o grande mineralogista brasileiro Rui Ribeiro Franco. O precursor das pesquisas mineralógicas e geológicas no Brasil foi Gabriel Soares de Sousa, que residiu na Bahia de 1567 a 1584. Ele publicou o Tratado Descritivo do Brasil (1587), no qual mencionou as pedras de cons- trução dos arredores da cidade de Salvador, descreveu as rochas calcárias do rio Jaguaribe e de Alcântara, es- creveu sobre a obtenção de cal a partir de conchas e corais da região de Taparica e sobre a existência de mi- nérios de ferro, cobre, ouro (Figura 5.32) e prata, entre diversos assuntos relacionados à mineralogia. Nos séculos XVIII e XIX, houve a fase das expedições científicas pelo Brasil, com equipes lideradas por re- nomados naturalistas europeus como André Antonil, John Mawe, Spix e von Martius, Saint-Hilaire, entre ou- tros, que deram grande contribuição ao conhecimento de nossa geologia. Antonil, em 1711, foi o primeiro a usar o termo ouro preto em referência a pepitas escuras encontradas em Vila Rica, em Minas Gerais, na atual cidade de Ouro Preto. Ape- nas em 1998 foram feitos estudos mineralógicos que revelaram que a cor escura das pepitas se deve ao recobrimento por uma película composta por platina, paládio, ouro, cobre, ferro, manganês e oxigênio. Figura 5.32 – Pepita de ouro (32,71 g). Amapá. Coleção Araújo Ferraz. Foto: F. Colombini. 148 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas Os minerais e sua utilidade Figura 5.34 – Casas são feitas de minerais. Fonte: Conexão Editorial. Figura 5.33 – Geodo de ametista, Rio Grande do Sul. Foto: A. Liccardo, <www.geoturismobrasil.com.br>. Os insumos minerais estão na base das cadeias produtivas e podemos encontrá-los em maior ou menor proporção em prati- camente todos os materiais industriali- zados. Assim como esta folha de papel, que contém partículas minerais entre as fi bras de celulose. Nos períodos Paleolítico e Neo- lítico, conhecidos como a Idade da Pedra, os artefatos líticos marcaram o nascimento e o desenvolvimento da cultura humana. Desde então, o acúmulo de conhecimento empírico levou à descoberta dos metais e de outros materiais geológicos que pas- saram a ser parte indissociável de nos- sa vida cotidiana. Nossas casas e cidades estão re- pletas de minerais e seus derivados (Figura 5.34). É muito provável que você neste momento esteja em uma Os minerais são o substrato da vida, a matéria da qual nosso planeta é feito. Seria um desafio enumerar os materiais ao nosso redor que não contenham insumos minerais em si mesmos ou em sua cadeia de produção. construção feita de concreto e que ao seu redor haja metais, vidros, peças cerâmicas e talvez rochas ornamentais (Quadro 5.2). O setor da construção ci- vil é um dos maiores consumidores de insumos minerais em escala mundial. Gemas do Brasil Uma parte importante das gemas brasileiras provém de pegmatitos, que são rochas com minerais de grandes dimensões, desde alguns centímetros até vários metros. O crescimento cristalino nos pegmatitos é favorecido pela abundância de compostos voláteis, como vapor de água e fl úor. Os pegmatitos produtores de gemas são quimicamente complexos e formados a pequenas pro- fundidades na crosta. Situados próximos à superfície terrestre e sendo ricos em gases, os pegma- titos contêm cavidades onde se cristalizam minerais grandes, límpidos e bem formados. A principal propriedade de uma gema é a sua beleza, que pode se traduzir por cor, brilho, trans- parência ou efeitos luminosos. Além da beleza, as gemas também devem ser resistentes e, de pre- ferência, raras. Algumas das gemas mais apreciadas são o diamante, o rubi, a safi ra, a esmeralda, a água-marinha e a turmalina. A raridade desses materiais está confi rmada por suas poucas ocorrên- cias mundiais. As rochas pegmatíticas estão distribuídas em duas regiões brasileiras, chamadas de província pegmatítica oriental ou do sudeste, abrangendo os estados do Rio de Janeiro, Minas Ge- rais, Espírito Santo e sul da Bahia, e a província do nordeste, com os estados de Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e norte da Bahia. Corpos pegmatíticos também ocor- rem nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Amapá e Pará. O Brasil possui numerosas ocorrências de geodos de ametista e ágata em rochas basálticas (Figura 5.33). O principal centro produtor de ametistas é o Rio Grande do Sul. 5.7 Concreto (cimento = calcário + argila, brita, areia, água)Vidro (areia, calcário, feldspato) Telha cerâmica (argila) Fiação (cobre) Tubulações (derivados de petróleo, cerâmica) Piso (cerâmica, rochas ornamentais, derivados de petróleo) esquadrias (aço, alumínio) tinta s (de riva dos de pe tróle o, pig men tos e ca rga s m iner ais) 149 Nem sempre os limites entre os processos formadores de mine-rais é nítido, havendo diversos não é homogênea; minerais estáveis a temperaturas mais elevadas se cristalizam primeiro e à medida que a temperatura cai, outros minerais se cristalizam. Esta sequência de cristalização é conhecida como série de Bowen (ver capítulo 6). Precipitação a partir de soluções sa- turadas – a cristalização de minerais a partir de soluções aquosas a baixas temperaturas (< 100 oC) é um processo importante na formação das rochas se- dimentares químicas, um processo que ocorre em ambientes evaporíticos em desertos e nas plataformas carbonáti- cas marinhas (ver capítulo 9). Este tipo de cristalização também ocorre a tem- peraturas mais elevadas, até poucas Origem e distribuição dos minerais 5.8 Os minerais são formados por diferentes tipos de processos naturais, que envolvem principalmente a cristalização a partir de magmas, de soluções aquosas saturadas, de reações em estado sólido entre minerais e da degradação de minerais preexistentes pela reação com fluidos. centenas de graus centígrados, quando soluções aquosas quentes, denomina- das soluções hidrotermais, interagem com as rochas causando dissolução e reprecipitação de minerais. Reação entre fluidos e minerais – este caso está intimamente relacio- nado com a precipitação a partir de soluções saturadas, sendo em geral processos concomitantes e interde- pendentes. As soluções aquosas, tanto a baixas temperaturas (intemperismo) como a altas temperaturas (hidroter- malismo) são importantes agentes de transformação da crosta terrestre, em particular no que diz respeito à forma- ção de jazidas (ver capítulo 19). casos transicionais. Vários dos conceitos apresentados a seguir são discutidos em detalhe em capítulos subsequentes. A seguir são apresentados aspectos de cada tipo de processo de formação de minerais: Cristalização magmática – produto do resfriamento de magmas, que são líqui- dos de composição em geral silicática e, mais raramente, carbonática. Os magmas são gerados pela fusão parcial de rochas do manto ou da crosta e seu resfriamento leva à formação de um grande número de minerais. A cristalização dos magmas O Brasil é um dos grandes produtores e exportadores de rochas ornamentais. Sua participação no mercado mundial tem crescido em ritmo acelerado e, nos últimos anos, o país tem saído da condição de exportador de matéria-prima bruta, passando a exportador placas beneficiadas, cujo valor agregado é muito maior. O Brasil produz principalmente rochas silicáticas, como gra- nitos e ardósias. O Espírito Santo é o maior produtor e exportador nacional, com volumes muito superiores aos de outros Estados produtores, como Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. A terminologia usada para rochas ornamentais difere da terminologia científica, adotando nomes consagrados comercialmente. Por exemplo, o termo granito se refere a pratica- mente qualquer rocha quartzo-feldspática,tanto ígnea como metamórfica. A denomina- ção mármore abrange rochas carbonáticas de qualquer origem, desde mármores strictu sensu até calcários. Outras rochas populares no mercado são os quartzitos (pedra mineira ou pedra São Tomé) e as ardósias, das quais o Brasil está entre os maiores produtores mundiais. Os nomes comerciais também podem se referir ao tipo de corte ou beneficiamento, como no caso das pedras por- tuguesas, cortadas em tamanhos pequenos e formas aproximadamente cúbicas, e usadas para pavimentação em calçadas e pátios. O mercado de rochas ornamentais é fortemente influenciado pela moda. Os preços são, em geral, mais controlados pelo gosto do momento do que pela qualidade técnica do material. Nos últimos anos, as cores intensas têm sido muito valorizadas. Talvez a rocha bra- sileira mais apreciada e uma das mais caras do mundo seja o granito azul Bahia, que contém o mineral sodalita [Na 8 (AlSiO 4 ) 6 Cl 2 ], de cor azul forte (Figura 5.35). Seu altíssimo valor de mercado se deve à sua raridade e à sua cor intensa. De acordo com a classificação formal, este “granito azul” não é um granito, e sim um sienito, por não conter quartzo entre seus constituintes minerais (ver capítulo 6). Figura 5.35 – Sodalita sienito, popularmente conhecido como granito azul Bahia. Fonte: Catálogo de Rochas Ornamentais do Brasil <www.abirochas.com.br>. Quadro 5.2 – Rochas ornamentais no Brasil 150 Capítulo 5 - A Terra sólida: minerais e rochas Reação entre minerais em estado sólido – variações nas condições de pressão e temperatura podem levar a reações entre minerais no estado sólido, sem que haja fusão ou dissolução do mineral original. As reações minerais em estado sólido são parte importante dos processos meta- mórficos (ver capítulo 15). A diversidade de processos formado- res de minerais está, de certo modo, re- lacionada ao modo como os minerais e as rochas estão distribuídos na Terra. Os grandes compartimentos em que nosso planeta é dividido (ver capítulo 2) têm características mineralógicas próprias, decorrentes das condições físicas e da composição química de seus materiais. Os minerais que constituem a cros- ta e o manto são principalmente os silicatos, como já mencionado. O estudo da composição e das relações texturais dos minerais nas rochas é a base da pe- trologia, ramo da Geologia que estuda a origem e a evolução das rochas. O ciclo das rochas As rochas estão em constante transformação, passando de um tipo a outro, em virtude das dinâ- micas interna e externa da Terra (Figura 5.36). Abordagens detalhadas de cada um dos grupos de rochas são apresenta- das nos capítulos subsequentes. A distribuição dos tipos de rochas na crosta continental indica que 95% do seu volume total correspondem a rochas ígneas e metamórficas e apenas 5% a rochas sedimentares. Entretanto, consi- derando a distribuição destas rochas em área de exposição rochosa superficial 5.9 As rochas são divididas em três grandes grupos: ígneas, sedimentares e metamórficas. Estes três grupos de rochas são caracterizados com base nos processos envolvidos em sua formação. nos continentes e assoalhos oceânicos, os números se modificam para 75% de rochas sedimentares e apenas 25% de rochas cristalinas. Isto indica que as ro- chas sedimentares formam uma delga- da lâmina que recobre as rochas ígneas e metamórficas. As rochas ígneas ou magmáti- cas são formadas pela cristalização de magmas, que são líquidos na sua maioria silicáticos e de alta tempera- tura, provenientes do interior da Terra. As rochas ígneas podem conter jazidas de vários metais como ouro, platina, cobre ou estanho, e trazem à super- fície do planeta importantes informa- ções sobre as regiões profundas da crosta e do manto terrestre. As rochas sedimentares são o pro- duto da consolidação de sedimentos na superfície terrestre. Elas fornecem in- formações sobre as variações ambien- tais ao longo do tempo geológico. Os fósseis, que são vestígios de seres vivos antigos preservados nestas rochas, são a chave para a compreensão da origem e evolução da vida. A importância eco- nômica das rochas sedimentares está A camada inferior da atmosfera (ver capítulo 4), a troposfera, tem espessura entre 10 e 15 km e nela estão as maiores concentrações de partículas sólidas, for- mando um aerossol, isto é, uma solução coloidal de partículas sólidas ou líquidas dispersa em um gás. A maior fração em massa dos aerossóis da troposfera cor- responde à poeira mineral, oriunda de erupções vulcânicas e da erosão eólica em regiões áridas, semiáridas e em solos expostos. A ação humana tem aumen- tado a emissão de poeira mineral para a atmosfera, em virtude principalmente do desmatamento, da agricultura me- canizada, da mineração a céu aberto e da desertificação. A fuligem gerada pela combustão incompleta de compostos orgânicos é outro componente impor- tante da fração sólida na troposfera. A maior fonte de minerais extrater- restres são os meteoritos (ver capítulo 1). De modo geral, a maioria dos minerais presentes nos meteoritos também exis- te na Terra. Os meteoritos metálicos ou sideritos, que são compostos por ligas de ferro e níquel e que não existem de for- ma natural na superfície terrestre, muito provavelmente têm a mesma compo- sição do núcleo de nosso planeta. Os meteoritos condríticos são os principais portadores de minerais exóticos, os quais ocorrem como inclusões microcristalinas, que mal podem ser vistas mesmo com microscópios eletrônicos. Alguns mine- rais de meteoritos são muito raros, como a moissanita (SiC) e nierita (Si 3 N 4 ). É pro- vável que esses minerais raros tenham formado parte da poeira da nebulosa an- terior à formação do Sistema Solar. A hi- bonita [(Ca,Ce)(Al,Ti,Mg) 12 O 19 ] é possivel- mente testemunha das fases iniciais da formação da Terra e de outros planetas internos, a partir da nebulosa solar. Esses compostos ficam entre os primeiros mi- nerais formados durante a condensação da nebulosa quando ainda estava quen- te na região mais próxima ao Sol. 151 principalmente em suas reservas de petróleo, gás natural e carvão mineral. As rochas metamórfi cas são o pro- duto da transformação de qualquer tipo de rocha quando exposta a um ambiente cujas condições físicas (pres- são, temperatura) ou composição quí- mica são muito distintas daquelas onde a rocha se formou originalmente. O es- tudo das rochas metamórfi cas permi- te a identifi cação de grandes eventos geotectônicos ocorridos no passado, fundamentais para o entendimento da atual confi guração dos continentes. O ciclo das rochas representa as va- riadas possibilidades de transformação de um tipo de rocha em outro. Esta ca- deia de processos foi inicialmente per- cebida por James Hutton, por volta do ano 1790. Os processos ígneos são em geral colocados no início do ciclo das rochas, pois se considera que nas fases iniciais de acreção e consolidação da Terra, a formação de rochas acontecia principalmente pela cristalização a par- tir de magmas. As rochas expostas à ação da at- mosfera, hidrosfera e biosfera sofrem intemperismo, um processo natural que envolve oxidação, hidratação, so- lubilização, ataques por substâncias orgânicas, variações diárias e sazonais de temperatura, entre outras. O intem- perismo faz com que as rochas percam sua coesão, sendo erodidas, transporta- das e depositadas em depressões onde, após a diagênese, passam a constituir as rochas sedimentares. A dinâmica interna da Terra faz com que rochas formadas em um certo tipo de ambiente geológico sejam levadas a am- bientes muito diferentes, principalmen- te em termos de pressão, temperatura e composição química. Neste caso, as rochas sofrem transformações minera- lógicas e texturais, tornando-se rochas metamórfi cas. Quando as condições demetamorfi smo são particularmen- te intensas, as rochas podem se fundir, gerando magmas que, ao se solidifi car, darão origem a novas rochas ígneas. O ciclo das rochas existe desde os primórdios da história geológica da Terra e, através dele, a crosta está em cons- tante transformação e evolução. Leitura recomendada BRANCO, P. M. Dicionário de mineralogia. 3. ed. Porto Alegre: Sagra Editora, 1987. p. 362. CASTAÑEDA, C.; ADDAD, J. E.; LICCARDO, A. (Orgs.). Gemas de Minas Gerais: esmeralda, turmalina, safi ra, topázio, quartzo, água-marinha, alexan- drita. Belo Horizonte: SBG-MG, 2001. 280 p. CHVÁTAL, M. Mineralogia para principiantes: crista- lografi a. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Geologia, 2007. 232 p. ERNST, W. G. Minerais e rochas. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1971. 162 p. GUINIER, A. A estrutura da matéria. São Paulo: EDUSP, 1980. 324 p. KLEIN, C.; DUTROW, B. Manual of mineral science. 2nd ed. New York: Wiley, 2007. 704 p. M et am or fis m o Sedimentos Biosfera At m os fe ra H id ro sf er a Ro ch as íg ne as Diagênese Anatexia Cr ista liza çã o Depósitos biogênicos Ro ch as se dim ent ares M eteorização transporte Rochas m etam órficas Magma Material “primário” Rochas ígneas Manto Plac a Lit osfé rica Fus ão Rochas ígneas Rochas metamórfi cas Rochas sedimentares O ciclo das rochas Erosão, transporte e deposição Compressão e aquecimento Ascensão Figura 5.36 – Representações do ciclo das rochas, ilustrando as diversas possibilidades de transformação de um tipo de rocha em outro (ver capítulos 6, 8, 9,15). Os continentes se originam pela transferência de materiais do manto para a superfície terrestre por processos magmáticos, cuja cristalização gera rochas magmáticas e gases que contribuem para a formação da atmosfera, hidrosfera e, consequentemente, da biosfera. As rochas expostas ao intemperismo perdem sua coesão, sendo erodidas, transportadas e depositadas em depressões topográfi cas, onde constituem rochas sedimentares. Os processos de formação de rochas sedimentares atuam sobre todos os tipos de rocha (ígnea, metamórfi ca, sedimentar). De modo análogo, qualquer rocha que sofra ação de altas pressões e temperaturas passa por transformações mineralógicas e texturais, tornando-se uma rocha metamórfi ca. Se as condições de metamorfi smo forem muito intensas, as rochas metamórfi cas podem se fundir parcialmente gerando magmas, cuja cristalização dará origem a novas rochas ígneas. O ciclo das rochas existe desde os primórdios da história geológica da Terra e, através dele, a crosta está em constante transformação e evolução devido ao deslocamento das placas. Fonte do esquema: modifi cado de Manson, B. Principles of Geochemistry. John Wiley & Sons, 2. ed. Nova York: 1952. p. 310.
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