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A condição dos afrodescendentes e indígenas na sociedade brasileira
Os dados do Censo 2010, publicados no Diário Oficial da União do dia 4/11/2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a população brasileira já atinge a soma de 185.712.713 habitantes. Entretanto, quando o assunto é a igualdade social entre brancos, índios e negros, os números são bastante
Raça é Raça é um conceito político
Conforme já tratamos anteriormente, precisamos reforçar que raça é, portanto, um conceito político, tomado por grupos étnico-raciais para fortalecer seus direitos e favorecer o processo de inclusão e de acesso a direitos fundamentais desses grupos. Importa entendermos o uso político que esses grupos sociais fazem do termo “raça”, a circunstância em que é aplicado, não para dividir ou cindir a sociedade em grupos estanques, mas para, assumindo as diferenças, garantir a igualdade de direitos para todos.
Negar as diferenças étnico-raciais, conforme vimos no tópico sobre o mito da democracia racial, não é a solução. É necessário, entretanto, que esses grupos desfavorecidos, tanto social quanto economicamente, afirmem suas diferenças e especificidades étnico-culturais, e, na diferença, assumirmos que as oportunidades não são as mesmas para todos e que tal condição injusta precisa ser corrigida, por força da lei, dos movimentos sociais e da mudança de mentalidades e comportamentos.
Veja distribuição racial brasileira, desenvolvimento econômico e 
desigualdades no mercado de trabalho
Além do levantamento de dados feito pelo censo, que visita a todos os domicílios brasileiros a cada dez anos, temos também disponíveis nas bases de dados do IBGE as informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Esta anualmente seleciona uma amostra dos domicílios brasileiros para um levantamento parcial, que, por critérios estatísticos, traz uma visão bastante representativa de nosso país. A partir daqui, vamos fazer uma ampla análise dos dados da PNAD referentes ao ano de 2009.
Em primeiro lugar, é interessante observar que, segundo dados publicados pelo IBGE sobre o levantamento de 2008 da PNAD, a proporção de brasileiros que se declararam pretos e pardos cresceu em relação aos anos anteriores.
Essa pesquisa demonstra que o número de pretos e pardos cresceu de um ano para o outro, chegando, em números absolutos, a um aumento de mais de um milhão de pessoas por ano. Por outro lado, o número de brancos e amarelos diminuiu. O que isso significa? Que, na verdade, o que aumentou foi o número de pessoas que se autodenominaram pretos e pardos, indicando que as campanhas das quais falamos no início deste tópico podem, de fato, ter trazido resultados diretos sobre os dados levantados pelo IBGE.
Podemos observar também um pequeno crescimento no percentual de pessoas que se identificam como indígenas, cerca de 0,9% em 2008. Esse crescimento da população indígena pode ser atribuído a diversos fatores, como às campanhas de conscientização para a autoidentificação e à melhoria de acesso aos serviços de saúde por esses grupos populacionais. Vale destacar que o Brasil em 1500 (quando da chegada de Pedro Álvares Cabral) tinha pelo menos 5 milhões de índios, atualmente essa população está reduzida a cerca de 700 mil indígenas.
Outro aspecto interessante a ser notado é que os negros já são maioria no Brasil, visto que a soma de pretos e pardos totalizou, em 2008, 51,1% da população. É possível perceber mais nitidamente essa constatação a partir do gráfico a seguir:
Quando verificamos a distribuição racial entre as diferentes regiões do Brasil, entretanto, os dados nos mostram que os negros concentram-se nas regiões mais pobres e menos desenvolvidas social e economicamente, como Norte e Nordeste. Já nas regiões Sul e Sudeste, onde as condições de vida são melhores e o desenvolvimento econômico é mais elevado, a maioria da população é branca, contrariando os dados nacionais, segundo os quais os brancos não chegam a 49% da população.
Quanto aos indígenas, eles se espalham também pelas regiões Centro-Oeste e Sudeste, contrariando o senso comum que os imagina vivendo isolados na floresta amazônica.
Perceba como uma simples tabela ou um gráfico pode nos trazer tantas verdades sobre o Brasil: a população autodenominada branca pode variar de 78,5% na r egião Sul a 23,6% na região Norte, uma diferença enorme, portanto. Já a população parda que se concentra na região Norte, com 71,2%, se reduz a 17,3% na região Sul, numa inversão quase direta entre brancos e pardos nas regiões Norte e Sul do país.
Quanto à população indígena, os dados do IBGE mostram que, como em outras partes do mundo, esses grupos se encontram numa situação mais desfavorecida com relação a diversos aspectos, além do fato de suas especificidades culturais exigirem do poder público políticas formuladas diretamente para esse público.
A fim de ampliar nossa compreensão sobre população, raça e desenvolvimento no Brasil, daremos continuidade às análises dos dados do IBGE, tratando a seguir do desenvolvimento econômico e das diferenças no mercado de trabalho entre brancos e negros.
Se quisermos entender como é gerada a riqueza no país, devemos observar, em primeiro lugar, que o produto interno bruto (PIB) é produzido diferentemente em cada região, sendo as mais ricas, Sul e Sudeste, responsáveis por 72,5% de toda a produção econômica brasileira. O PIB é o total de riquezas produzidas em um país por todos os setores da economia. Observe o que nos mostra a tabela a seguir:
Desigualdade racial no sistema educacional
Todos os dados apresentados até este ponto estão diretamente ligados ao acesso à educação, assunto deste subtópico. Como futuro educador e, portanto, uma pessoa interessada em questões educacionais, você provavelmente já se perguntou por que os índices relativos à educação em nosso país são tão desfavoráveis. Apresentaremos agora um panorama recente da educação no Brasil, especialmente sob a perspectiva de cor/raça, conforme interesse de nossa disciplina. Vamos privilegiar a análise de disparidades entre brancos, negros e pardos, ficando o estudo sobre as populações indígenas para um ponto mais adiante, tendo em vista as especificidades culturais desse grupo.
O primeiro traço da educação brasileira é o elevado analfabetismo ainda presente nas últimas pesquisas do IBGE, conforme a PNAD 2009.
De acordo com [esses] dados [...] a taxa de analfabetismo entre negros e pardos, a partir de 15 anos de idade, é de 13,3% para os negros e de 13,4% para os pardos. Entre os brancos, esse número fica em 5,9%. A população branca de 15 anos ou mais tem, em média, 8,4 anos de estudo. Enquanto entre negros e pardos a média é de 6,7 anos.
Mais uma vez, observamos claramente que o acesso aos direitos mais fundamentais, como a educação, ainda se apresenta como uma barreira para os negros (Tabela seguinte) e para os indígenas. Brancos estudam em média um ano e sete meses a mais do que pretos e pardos, e o analfabetismo entre os negros é mais que o dobro do observado entre os brancos.
Tais diferenças acabam se desdobrando em desigualdades no mercado de trabalho, no acesso aos melhores empregos, em melhores salários e, portanto, nas condições de vida da população negra no Brasil, conforme já procuramos mostrar.
A questão de gênero e a condição da mulher negra
Todos os índices apresentados sobre a condição dos afrodescendentes no Brasil atual mostraram claramente a posição desfavorável em que ainda se encontra esse segmento populacional: são os negros que moram nas regiões mais pobres, recebem os menores salários, ocupam os cargos mais baixos na hierarquia das organizações, têm acesso a uma educação de menor qualidade, ficando na escola por um período de tempo menor do que os brancos, entre outras condições adversas. Há, porém, um grupo que apresenta índices ainda mais desfavoráveis em todos esses quesitos: o de mulheres negras.
Por isso, vamos discutir neste subtópico a perspectiva de gênero, especificamente a condição da mulher negra, que, em todas asestatísticas, é aquela que ocupa os piores lugares, desempenha as atividades mais desvalorizadas socialmente, recebe os piores tratamentos etc.
Figura 11
Em primeiro lugar, falaremos sobre as condições de saúde das mulheres negras no Brasil. Sabendo-se que elas experimentam situações de exclusão, marginalidade e/ou discriminação socioeconômica maiores que as de mulheres brancas e de homens brancos e negros, tais restrições têm reflexos nas condições de saúde dessas mulheres e em seu acesso ao atendimento público de saúde. A pesquisadora Quessia Rodrigues fez um levantamento no serviço público de saúde na cidade de Salvador/BA, porém suas considerações são válidas para entendermos a situação das mulheres negras no Brasil como um todo:
Além da classe social e do gênero, a raça tem sido outra característica social determinante na análise das situações de saúde. Com relação à população negra brasileira, sabe-se que esta vive a tripla desigualdade – social, econômica e racial –, que se expressa em seus corpos e na qualidade e quantidade de serviços sociais públicos a que tem acesso (RODRIGUES, 2009, p. 27).
Para essa autora, todas as dificuldades e desigualdades enfrentadas pela população negra resultam “em vulnerabilidade para uma série de agravos à saúde” (2009, p. 28). Vejamos, por exemplo, o caso da mortalidade materna. Segundo Martins (2006, p. 2473), independentemente da questão de cor/raça, o problema da mortalidade materna atinge as mulheres no Brasil de maneira colossal, principalmente as mais pobres:
No Brasil, a morte materna configura-se como um problema de saúde pública. Segundo o Ministério da Saúde (MS), as altas taxas de mortalidade materna compõem um quadro de violação dos direitos humanos de mulheres e de crianças, atingindo desigualmente aquelas das classes sociais com menor ingresso e acesso aos bens sociais, nas várias regiões brasileiras.
Entretanto, ainda segundo a autora (2006, p. 2475-6), o fator cor/raça deve receber toda a atenção dos pesquisadores, uma vez que altera muito os índices em relação às mulheres amarelas e brancas. Atente para os números apresentados em sua pesquisa:
[...] utilizando o Censo do IBGE realizado em 1991, ao comparar a distribuição da população feminina e o número de mortes maternas por cor, para 1993, observou-se que o risco relativo de morte destas mulheres foi 7,4 vezes maior nas pretas e 5 vezes maior entre as amarelas, quando comparadas com as brancas. Ainda neste estudo, na população de mulheres negras, apenas 2,2% eram pretas, porém 8,2% dos óbitos maternos foram destas. As mulheres de raça/cor amarela apresentaram características socioeconômicas e demográficas melhores do que as brancas; as pretas, as piores. No entanto, o risco de morte de ambas foi muito elevado, sugerindo que deve existir relação entre raça, doença, condições de vida e mortalidade materna.
Além das consequências sobre as mães, tal situação de “tripla desigualdade – social, econômica e racial”, segundo Rodrigues (2009, p. 27), também acomete de forma mais grave os bebês negros, que sofrem inúmeros problemas ao nascer:
Cunha (2003) detectou em São Paulo uma maior percentagem de crianças negras com baixo peso ao nascer, característica que poderia indicar, além de problemas nutricionais da mãe e da criança, a possibilidade de maior prevalência de doenças maternas, como diabetes e hipertensão, não controladas durante a gravidez pelo acesso restrito aos serviços de saúde ou pela pior qualidade comparativa dos serviços utilizados pelas mães desse grupo.
Observe que o que ocorre em São Paulo se confirma nos dados do IBGE, referentes ao país como um todo, em relação ao acesso aos serviços de saúde, de acordo com Rodrigues (2009, p. 29):
[...] as mulheres negras apresentam menor acesso à assistência obstétrica, pois 61,3% delas realizaram o número mínimo de consultas pré-natais recomendado pelo Ministério da Saúde, seis consultas, enquanto para as mulheres brancas esse percentual foi de 76,6%. Outro diferencial encontrado foi o percentual de mulheres negras que não realizaram o pré-natal (12,8%) em comparação com as brancas (6%).
Não há como justificar tais desigualdades, uma vez que sabemos que todas as mulheres deveriam, por direito, receber o mesmo tratamento nos aparelhos públicos de saúde. Entretanto, a única explicação que se apresenta é a presença do racismo também no atendimento à saúde em nosso país, recaindo mais uma vez sobre a mulher negra os custos dessas diferenças de tratamento e acompanhamento à saúde.
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A condição social dos indígenas no Brasil
 Desde o início do processo de colonização do Brasil pelos portugueses, o que vimos nas relações com os povos indígenas foram processos de exploração, extermínio e de exclusão dos povos nativos. No entanto, os diversos conflitos e as transformações ocorridas durante o século XX colocaram para a sociedade do século XXI questionamentos sobre como promover a diversidade cultural, superando o patamar da tolerância, do reconhecimento de uma história morta e da folclorização cultural. Como fazer para compreender a organização social desses povos sem cair na armadilha da anulação das diferenças culturais? Entendemos que o primeiro passo é saber sobre e com quem estamos falando, sabendo que no processo de constituição histórica e social do povo brasileiro também existe uma forte porção indígena.
Como você já deve ter entendido, queremos demonstrar que a questão indígena não está desvinculada das questões globais do país; ao contrário, é parte destas. É nesse sentido que se vincula a questão étnica à discussão nacional. Segundo Polanco apud Silva (2005),
[...] os sistemas étnicos são conformações sociais submetidas ao processo histórico, cujas bases socioculturais, condições de reprodução e formas de vinculação política sofrem constantes modificações; estes três planos relacionados e em permanente transformação são ponto de partida fundamental para a compreensão da problemática étnica e, ao mesmo tempo, para avaliar a força histórica que contém.
Movimentos sociais e Ações afirmativas: É possível acelerar o processo de mudança
Após números e mais números comprovando a condição desfavorável em que se encontram os negros e índios na sociedade brasileira, você deve estar se perguntando: mas, afinal, será possível reverter esse processo perverso?
Nossa tese é: sim, isso é possível. A partir deste tópico, começaremos a apresentar algumas dessas possibilidades. Na próxima unidade, trataremos das legislações vigentes no Brasil no combate ao racismo e na promoção da igualdade racial, bem como faremos um retorno histórico a fim de compreender mais profundamente as raízes desse racismo. Por fim, terminaremos com a última unidade, em que discutiremos exclusivamente questões educacionais e estratégias para nós que queremos colaborar para a igualdade racial em nossas escolas e na sociedade de modo geral.
Movimentos negros na luta contra o racismo: para uma nova condição 
Afrodescendente
Muitos de nós, ao longo de nossa trajetória escolar, já devemos ter-nos deparado com algumas das seguintes explicações para a escravização do negro e para a posição que este ocupa até os dias atuais em nossa sociedade.
· Durante	o	processo	de	colonização	do	Brasil	feito	pelos	portugueses,	a	escravização	do	negro	foi	“preferível” à do índio, pois aquele sempre fora mais “passivo”, “aceitando” de forma mais mansa sua própria escravização.
· O	negro,	por	ser	mais	“preguiçoso”,	acomodava‑se	à	sua	condição	de	escravo,	o	que	fez	com	que permanecesse nela por quase quatrocentos anos. São ideias que sustentam ideologicamente concepções naturalizantes da condição do negro como escravo, como se os africanos já tivessem nascido escravos, numa tentativa de apagar todo o processo econômico e social de escravização de pessoas negro-africanas por escravizadores portugueses brancos.
· Os	negros	estão	na	situação	em	que	estão	atualmente	porque	querem,	porque	não	têm	“competência” para “conquistar” o que os brancos conquistaram.
Essas são explicações esdrúxulas e indignantes, masque infelizmente todos nós já ouvimos pelo menos uma vez na vida. Para que a crítica que estamos realizando fique mais clara, é necessário que se reflita sobre os seguintes questionamentos:
· Será	mesmo	que	alguém	pode	se	“acomodar”	à	condição	de	escravizado	ou	toda	a	história	da	resistência negra sempre foi propositalmente esquecida pelos historiadores?
· Será	que	o	negro	realmente	“aceitou	passivamente”	sua	escravização	ou	se	organizou	em	inúmeros	movimentos ao longo da história colonial, imperial e republicana brasileira, movimentos esses nunca citados nos livros de história?
· Será	que	as	estatísticas	que	insistentemente	mostramos	anteriormente	confirmam	a	“superioridade”	e a “competência” do branco em relação à “falta de capacidade” do negro ou são o reflexo da sociedade desigual, aristocrática e racista na qual vivemos?
É facilmente perceptível que nossa tese nesta disciplina procura confirmar sempre a segunda parte das perguntas anteriores. Por razões didáticas, deixaremos as formulações históricas, necessárias para a compreensão das raízes de algumas dessas proposições, para serem tratadas na próxima unidade.
Neste ponto do livro-texto, queremos reforçar o papel do movimento negro contemporâneo na luta contra as desigualdades raciais no Brasil, bem como na promoção de outra condição para os afrodescendentes, a partir, principalmente, de uma tomada de consciência dessas questões e da implantação de políticas de ações afirmativas, das quais falaremos em seguida.
Figura 17 
Muitos dos movimentos negros em ação atualmente são resultado de um longo processo de lutas, muitas delas remontando ao período pré-abolicionista, no século XIX, ou até muito antes, desde o século XVI, no início da colonização brasileira e da escravização de africanos por portugueses. A questão aqui é afirmar veementemente que os africanos nunca foram “passivos”, “pacíficos” ou “acomodados”. Há muitos episódios em que os negros se colocaram como resistentes ao modelo colonial. Até mesmo a organização dos chamados “quilombos” é uma importante demonstração de que eles pretendiam construir, no Brasil, outro modelo de sociedade, aberta a todos e que pudesse desmontar a estrutura escravocrata, implantando em seu lugar, “outra forma de vida, outra estrutura política na qual se encontraram todos os tipos de oprimidos” (MUNANGA; GOMES, 2006, p. 71).
Outros movimentos negros, entretanto, remontam a períodos posteriores à abolição, dado que as desigualdades sociais entre brancos e negros continuaram a existir, mesmo após a “libertação” dos escravizados. Munanga e Gomes (2006, p. 107) assim explicam esse fenômeno:
O fato de serem libertados por força da lei não garantia aos negros os mesmos direitos de fato e todas as oportunidades dadas aos brancos em nosso país, sobretudo às camadas mais ricas da população. Por isso, além da libertação oficial, instituída na lei, os negros brasileiros após a abolição tiveram que implementar um longo e árduo processo de construção de igualdade e de acesso aos diversos setores sociais. [...] [assim,] É importante lembrar que a movimentação, a reação e a resistência que fazem parte da história do negro brasileiro constituem momentos importantes na história do Brasil.
Por isso é tão importante que as crianças aprendam na escola outra história do Brasil, recontada; dessa vez, levando em consideração esse personagem que, mesmo tão importante, foi tão estigmatizado em nossos livros tradicionais, sendo tomado apenas como “escravo”.
reforçado por boa parte da literatura disponível sobre a história do Brasil colônia, que sempre mostrou em suas páginas os negros apenas na figura de escravos, dando a impressão, inclusive, de que esta seria sua condição original, natural, como se todos os africanos já tivessem nascido escravos na África.
A escola, como espaço de formação, é um excelente lugar para se promover ações afirmativas, a começar pela reformulação de conceitos sobre as populações negras, seu papel na formação do Brasil, suas trajetórias, lutas e conquistas. Portanto, urge colocarmos em prática a Lei nº 10.639/2003 e ensinarmos nas aulas esse outro lado da história.
A especificidade das ações afirmativas
A força do movimento negro contra todas as formas de discriminação por raça ou cor e pela garantia de direitos sociais fundamentais da população afro-brasileira acabou se traduzindo basicamente em duas formas na legislação antirracista vigente no Brasil: de um lado, por meio de uma legislação penal que pune todo ato discriminatório; por outro, a partir da promoção de igualdade de oportunidades a grupos desfavorecidos socialmente, pelas chamadas ações afirmativas.
Neste subtópico, vamos nos aprofundar apenas nesta última questão, procurando mostrar um pouco da discussão em torno de um tema ainda tão polêmico no Brasil, que altera os ânimos de intelectuais, ativistas e políticos, tanto de esquerda quanto de direita, com negros, brancos e amarelos, com as pessoas de modo geral, professores, alunos, profissionais, donas de casa etc. O debate em torno das ações afirmativas é capaz de mobilizar opiniões em qualquer âmbito social ou contexto cultural, principalmente porque fazem parte delas algumas políticas que procuram garantir cotas para afrodescendentes em universidades e empresas, visando à inclusão justa desse segmento populacional.
Movimentos indígenas na luta pelo reconhecimento
Darcy Ribeiro em seu livro O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil (1995, p. 44) descreve de forma bem interessante como deve ter sido o primeiro encontro entre os primeiros portugueses que aqui chegaram e os habitantes locais:
Esse foi o primeiro efeito do encontro fatal que aqui se dera. Ao longo das praias brasileiras de 1500, se defrontaram, pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a selvageria e a civilização. Suas concepções, não só diferentes mas opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Os navegantes, barbudos, hirsutos, fedentos de meses de navegação oceânica, escalavrados de feridas do escorbuto, olhavam, em espanto, o que parecia ser a inocência e a beleza encarnadas. Os índios, vestidos da nudez emplumada, esplêndidos de vigor e de beleza, tapando as ventas contra a pestilência, viam, ainda mais pasmos, aqueles seres que saíam do mar.
É possível a partir desse trecho perceber uma descrição bem mais próxima do que realmente deve ter acontecido no encontro entre duas culturas tão diversas. Daquele momento em diante, as relações que se estabeleceram foram as mais diversas. Logo de início, foram mediadas por conflitos, assim descritos:
Embora minúsculo, o grupelho recém-chegado de além-mar era superagressivo e capaz de atuar destrutivamente de múltiplas formas. 
Principalmente como uma infecção mortal sobre a população preexistente, debilitando-a até a morte.
Esse conflito se dá em todos os níveis, predominantemente no biótico, como uma guerra bacteriológica travada pelas pestes que o branco trazia no corpo e eram mortais para as populações indenes. No ecológico, pela disputa do território, de suas matas e riquezas para outros usos. No econômico e social, pela escravização do índio, pela mercantilização das relações de produção, que articulou os novos mundos ao velho mundo europeu como provedores de gêneros exóticos, cativos e ouros (RIBEIRO, 1995, p. 30).
A curiosidade mútua inicial entre europeus e nativos foi sendo transformada paulatinamente, à medida que se estabeleciam relações mais próximas e se familiarizavam com os costumes uns dos outros. Inicialmente os índios eram vistos como uma gente bela e inocente, mas logo viraram objeto de curiosidade e discussão entre teólogos e outros estudiosos dos séculos XVI e XVII. Num primeiro momento, prevaleceu uma visão salvacionista, assim descrita por Ribeiro (1195, p. 59):
De todo o debate, só reluzia, clara como o sol, para a cúpula real e para a Igreja, a missão salvacionista que cumpria à cristandade exercer, a ferro e fogo, se preciso, para incorporar as novas gentes ao rebanho do rei e da Igreja. Esse era um mandato imperativono plano espiritual. Uma destinação expressa, uma missão a cargo da Coroa, cujo direito de avassalar os índios, colonizar e fluir as riquezas da terra nova decorria do sagrado dever de salvá-los pela evangelização.
Daí decorre a tutela dos índios pela Igreja Católica, por meio principalmente das irmandades franciscanas e jesuítas, que viam nos indígenas a possibilidade de expansão dos seus rebanhos e domínios, numa busca de recuperação do espaço perdido para os protestantes na Europa. Os religiosos viam nas novas terras a possibilidade de fazer da expansão europeia a universalização da cristandade. Viam nos nativos a expressão de uma sociedade utópica, solidária, igualitária, orante, pia e cristã, passando por cima de toda a tradição cultural dos índios, a qual consideravam a expressão do paganismo. Para garantir a implantação de seus projetos religiosos, usaram de toda a sua influência e poder econômico para proteger os índios das investidas dos colonizadores.
Entretanto, essa proposta dos religiosos contrapunha-se ao projeto colonial, levando à instauração de inúmeros conflitos, veja o que diz Ribeiro (1995, p. 61):
De um lado, o colono, querendo pôr os braços índios a produzir o que os enricasse, ajudados por mundanos curas regulares dispostos a sacramentar a cidade terrena, dando a Deus o que é de Deus e ao rei o que ele reclamava. Foi um desastre, mesmo onde as missões se implantaram produtivas e até rentáveis para a própria Coroa – como ocorreu com as dos Sete Povos, no sul, e ao norte, na missão tardia da 
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