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Contra o Fluxo - Augustus Nicodemus

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Prévia do material em texto

ISBN (versão impressa) 978-85-69215-02-8
1a edição, 2017
Proibida a reprodução, gravação ou armazenamento total ou parcial desta obra, em sistemas eletrônicos,
fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos e/ou outros quaisquer, sem autorização prévia, por
escrito do autor. (Lei 9.610 de 19/02/1998).
Editor:
Rodrigo Bibo de Aquino
Transcrição:
Joaquim Avelino
Revisão:
Adalberto Nunes
João Guilherme S. dos Anjos (Box95)
Adaptação para e-book:
Josué de Oliveira
Capa:
Guilherme Gontijo (Box95)
Esta edição foi feita pela Box95, em parceria com a
BTBooks, especialmente para você, associado da
Box95, com muito carinho.
SUMÁRIO
Apresentação
Introdução
1. O que Jesus exige de seus seguidores
2. Religiosidade e cristianismo
3. A impureza e o chamado para a santidade
4. Nossas palavras revelam quem nós somos
5. Um irmão em Cristo me deu prejuízo: e agora?
Epílogo
APRESENTAÇÃO
Uma das mensagens da Reforma Protestante é o retorno às Escrituras
Sagradas. Representada pelo sola scriptura, a mensagem é que somente a
Bíblia é nosso guia de fé e prática, infalível e inerrante. Neste ano em que se
comemora os 500 anos desde que Lutero pregou suas teses na porta da igreja
do castelo de Wittenberg e iniciou uma revolução, essas informações já não
são tão novas para muitas pessoas.
Porém, não basta aprender que não aceitamos qualquer outro texto como
sendo inspirado, não basta vociferar que nada que o homem diz, ontem ou
hoje, tem mais peso que a Palavra de Deus. É preciso mais. Deus nos chama
a vivermos o que está registrado no seu livro sagrado. Nosso padrão de
comportamento ético não pode estar além nem aquém do que Deus nos revela
em sua Palavra. Qualquer rigidez moral que sobrepuja a Bíblia redunda em
legalismo, qualquer frouxidão redunda em liberalismo, senão libertinagem.
Dizer sim ao chamado de Deus de sermos santos porque ele é santo é
desafiador e, para buscar a santidade de forma genuína, é imprescindível
viver o sola scriptura, ou seja, não basta negar outra autoridade que não a
bíblica, é preciso olhar para ela e perceber que não dá para ser como antes,
não dá para viver segundo os padrões da nossa era. Essencialmente, pregar o
sola scriptura implica em nadar contra a corrente, remar contra a maré, ir
contra o fluxo.
Neste livro, Augustus Nicodemus expõe com maestria cinco temas para
quem quer ser, digamos, crente de verdade. E ser crente de verdade, hoje, na
época de Jesus ou nos dias da reforma, é caminhar no sentido contrário, é ir
contra o fluxo. Afinal, amar Cristo sobre todas as coisas importará em
negação das próprias paixões, perda de amigos ou família, poderá trazer
sofrimento. Mas ser cristão sem amar Cristo não é ser cristão. E amar Cristo
sem ir contra o fluxo do mundo é impossível. Seja crente de verdade, entenda
o que Jesus exige de seus seguidores.
Cuidado! Entender errado o que é ser crente de verdade poderá te levar a
um comportamento farisaico, o qual é mais religiosidade do que cristianismo
de verdade, por isso, observe bem o segundo capítulo deste livro para não
incorrer no mesmo erro dos fariseus e dos clérigos católicos do século 16,
que, apesar de bonitos por fora, tendo todas as regras decoradas de trás para
frente, eram, na verdade, podres por dentro. Isso não é seguir Jesus.
O verdadeiro seguidor de Cristo que anda contra o fluxo vê a si próprio como
o pior dos pecadores e clama incessantemente pela graça, para ter diariamente
o coração moldado ao caráter de Cristo.
Corações quebrantados buscam santidade invariavelmente. Não existe
meio termo, não existe desculpa, nem contexto. E santidade não caminha
com imoralidade. E imoralidade é mais ampla do que nossos corações
pecaminosos querem interpretar. Como Nicodemus expõe no capítulo três,
Deus exige de nós um padrão de comportamento sexual. Conforme nos
ensina 1Ts 4.1-8, o viver que agrada a Deus envolve abstenção da
imoralidade sexual, o que significa qualquer comportamento que atenda “a
paixão de desejos desenfreados, como os pagãos que desconhecem a Deus”
(v. 5).
Seja crente de verdade. Em meio a tantas notícias de corrupção, de
mentiras e dissimulações, ande contra o fluxo e deixe o Espírito Santo limpar
seu coração para que suas palavras não denunciem seu interior corrompido,
mas exibam um coração transformado pela graça de Deus.
Sabe o que é mais bonito neste livro? O autor não tirou nada da sua
própria cabeça. Ele simplesmente expôs a Palavra de Deus, nosso guia de fé e
prática, pois uma importante herança da Reforma Protestante é esta: não
pregaremos nada que não seja a Palavra de Deus, não pregaremos nada que
não esteja na Palavra de Deus, não deixaremos nunca de pregar a Palavra de
Deus.
Que esta obra te inspire a buscar Jesus de todo o coração, a desenvolver
seu caráter, a ir contra o fluxo.
JOÃO GUILHERME E OLAVO BANDEIRA
Brasília, outubro de 2017
INTRODUÇÃO
Quando assumi o pastorado da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia em
agosto de 2014, decidi iniciar meu ministério ali pregando sermões que
fossem úteis e relevantes para o maior número possível de pessoas que
viessem a participar dos cultos da manhã e da noite. Como eu ainda não
estava familiarizado com a igreja e sua membresia, escolhi temas que julguei
que teriam uma aplicação prática para todos.
Assim, preguei sobre as demandas de Jesus aos seus seguidores, os
perigos da religiosidade, a necessidade de uma vida livre da imoralidade, o
poder e o efeito das nossas palavras, quer para o bem, quer para o mal, e
obviamente, sobre irmãos que causam prejuízo financeiro a outros.
Essas mensagens foram muito abençoadas por Deus na vida da igreja.
Depois, elas foram disponibilizadas na Internet e tiveram um alcance ainda
maior. Agora, elas viraram o livro que o leitor tem em mãos.
Acredito que a utilidade dessas mensagens é que elas tratam de assuntos
que representam áreas constantes de conflito e luta na vida dos crentes em
Jesus Cristo. Disciplina pessoal, piedade e vida devocional, santidade e
pureza na área sexual, o emprego certo das palavras e os problemas na área
financeira são temas recorrentes na vida da maioria dos cristãos. O objetivo
deste livro é ajudá-los a encarar esses problemas e lidar com eles de maneira
cristã.
Acredito que a pregação expositiva é a melhor e mais eficaz maneira de
pregar a Palavra de Deus. O que você tem em mãos, portanto, são exposições
bíblicas de textos que considerei apropriados para tratar desses assuntos.
Assim, leia este livro com sua Bíblia na mão. Minha oração é que Deus o use
para abençoar sua vida como usou para abençoar aqueles que primeiro
ouviram essas mensagens no templo da Primeira Igreja Presbiteriana de
Goiânia.
1
O QUE JESUS EXIGE
DE SEUS SEGUIDORES
Texto-base: Mateus 10.34-391
Introdução
Meu querido leitor, minha intenção neste capítulo, em primeiro lugar, é expor
as demandas que o Senhor Jesus Cristo faz nessa passagem com relação aos
seus seguidores. Em segundo, chamá-los à submissão plena e completa à
pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Acredito que nem sempre entendemos o que significa ser cristão. O
pecado afetou toda a raça humana e o indivíduo como um todo de tal maneira
que não existe uma solução parcial ou indolor, por assim dizer, para o
problema causado por ele.
A solução de Deus é extremamente radical, e Cristo, aqui, apresenta-a de
maneira clara. As demandas que ele faz para as pessoas que se dizem cristãs
ou que querem segui-lo são demandas extremamente radicais.
Creio que, às vezes, não estamos entendendo isso. Pensamos,
ocasionalmente, que ser um cristão evangélico é uma opção que fazemos
entre tantas tradições religiosas. E é bem verdade que essa escolha é feita sem
que nós tenhamos ideia do que representa, de fato, ser um seguidor de Jesus
Cristo.
Penso que, se entendêssemos o que Jesus requer de nós, o número de seus
seguidores seria bem menor. E é exatamente por existirem tantos conceitos
errados a respeito do que é ser cristão ou de quem é Jesus Cristo que
precisamos sempre nos voltar a esses ensinos básicos do Senhor, a fim de que
nullnós estejamos seguros de que, de fato, queremos ser cristãos e o que está
envolvido nisso.
Jesus disse essas palavras aos seus discípulos quando os mandou em
missão. Elas se iniciam no capítulo 10, verso 1. Jesus chama seus doze
discípulos, dá a eles autoridade para expelir demônios e curar toda sorte de
doenças e enfermidades. No verso 5, ele os envia com uma série de
instruções, dadas à medida que eles iam de cidade em cidade, de vila em vila,
pregando e anunciando o Evangelho. Ele ainda dá algumas admoestações
sobre como deveriam se comportar nas casas que os recebessem e os encoraja
diante das dificuldades.
No texto que encabeça esse primeiro capítulo, Jesus apresenta com clareza
as demandas que serão exigidas não só dos doze, os quais por ele estão sendo
enviados, mas também daqueles que quiserem ouvir a mensagem dos doze e
se tornarem cristãos.
Jesus faz três demandas, que serão apresentadas a seguir.
Primeira demanda: sofrer por Cristo
Se quisermos nos tornar cristãos, temos que estar dispostos a sofrer por causa
de Jesus. Se nós estamos pensando que o cristianismo é uma religião que veio
para nos livrar dos nossos problemas, trazer-nos paz e tranquilidade, além de
uma vida relativamente tranquila, estamos muito enganados, porque a
primeira demanda apresentada por Jesus nos diz que nós temos que estar
dispostos a sofrer por causa dele.
Ele apresenta a razão no verso 34: “Não penseis que vim trazer paz à
terra; não vim trazer paz, mas espada”.
Para entendermos o que Cristo quis dizer com “Não penseis que vim
trazer paz à terra”, é necessário entender o seu alvo nesse trecho. É bem
verdade que ele trouxe, sim, paz entre nós. Por meio de seu sacrifício na cruz,
tendo pagado a nossa culpa e sofrido o castigo que nos era merecido e justo,
reconciliou-nos com Deus para que pudéssemos ter paz com ele. Por causa
disto, podemos também ter paz com outras pessoas. Porém ele quis dizer que
seu alvo, na sua primeira vinda, não era estabelecer aquele reino messiânico
de paz que os judeus tanto ansiavam e que os profetas prometeram no Antigo
Testamento. Não era seu propósito resolver todos os problemas do mundo.
Quando ele veio a essa terra, há mais de 2.000 anos, seu objetivo não era
pregar paz e amor como pregavam os falsos profetas naquela época e nos dias
de hoje, os quais querem transformar Jesus em um arauto da paz – tanto é que
nas figuras que fazem de Jesus sempre o colocam com a pombinha branca e
com aquele rosto emaciado, olhos azuis e um aspecto sereno.
No entanto, ele não veio trazer paz. Esse Jesus que pintam não é o Jesus
viril que o Novo Testamento apresenta. Cristo diz: “Não pensem que eu vim
trazer paz, eu não vim resolver os problemas do mundo agora, eu não vim
instalar um reino onde todos viverão em harmonia, eu não vim acabar com as
guerras e as polêmicas, não foi isso o que eu vim fazer”.
Então, este é o primeiro esclarecimento a respeito de Cristo que precisa ser
feito: ele traz paz no sentido de que, pelo seu sacrifício, nós temos paz com
Deus e, assim, podemos ter paz com outras pessoas. Todavia, isso está longe
de tornar Jesus uma espécie de pacificador ou uma pessoa que veio ao mundo
para resolver todos os seus problemas e estabelecer um reino de paz. Pelo
menos, não foi isso que ele veio fazer agora. Pelo contrário! Ele diz que veio
trazer espada. Mas o que ele não quis dizer com isso?
Quando Jesus disse que veio trazer espada, ele não disse que veio fundar
uma religião ancorada na violência, como existem algumas neste mundo.
Quando ele declarou que veio trazer espada, ele não quis dizer que nós
deveríamos nos armar e lutar contra o resto do mundo, muito menos que nós
viríamos a usar espadas ou armarmo-nos para converter os infiéis pela força.
Jesus Cristo não está dizendo isso.
O que ele quis dizer com essa expressão é que, por causa dele, haveria
muitos conflitos entre pessoas, cidades e até países e que a sua pessoa seria
motivo de discórdia, de polêmicas e de inimizade. E a razão para isso é a
apresentação radical que ele faz de si mesmo.
Jesus se apresenta como sendo o Filho de Deus, aliás, o próprio Deus. Ele
diz que é o único caminho para Deus e que, sem ele, todos estão perdidos;
expõe a perdição da humanidade por causa dos seus pecados e diz que o ser
humano sozinho não pode alcançar a felicidade eterna; ele afirma ser o
caminho, a verdade e a vida. Isso é colocar uma espada na mão de quem não
acredita. Por afirmar essas coisas, os seguidores de Jesus despertam
inimizade, hostilidade, ódio e perseguição por parte de quem não acredita em
Cristo.
A espada que Cristo trouxe não é para que seus seguidores firam o mundo.
Por incrível que pareça, a espada que ele trouxe é a mesma pela qual os seus
seguidores são feridos.
A pessoa de Jesus provoca esse comportamento por causa das suas
demandas radicais e pela forma como ele se apresenta: o Filho de Deus, o
único em quem existe salvação, sendo que fora dele não há possibilidade de
redenção ou felicidade eterna.
Essa espada, portanto, que é resultado de quem é Jesus, é tão profunda que
corta, inclusive, laços familiares, como ele diz no verso 35: “Pois vim causar
divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua
sogra”.
Existe uma relação mais querida do que a de pai e filho? Eu amo meu pai
e eu amo meus filhos. E eu sei que vocês sabem o que é isso. Mas Jesus está
dizendo que essa espada que foi trazida por ele corta, inclusive, esse tipo de
laço. Do mesmo modo, a relação de mãe e filha, que também é um laço terno,
querido, profundo, é cortada por essa espada. O terceiro laço pode parecer
mais fácil, pois é entre a nora e sua sogra. Mas, brincadeira à parte, sabemos
que há sogras que são maravilhosas, como a minha.
Eu compreendo a dificuldade. O que o Senhor está dizendo é que a sua
pessoa, quem ele é, as suas demandas, o que ele representa, causam atrito e
polêmica entre as pessoas a ponto de separar, inclusive, familiares.
Veja como ele diz que haveria inimigos do homem até mesmo em sua
família: “Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa”. Em
outras palavras, algumas pessoas odiarão Jesus e seus seguidores com
tamanha ira que, se um filho se tornar discípulo de Cristo, o amor do pai por
esse filho será menor que o ódio sentido por Cristo. Igualmente na relação
entre irmãos ou de um filho para com seu pai.
E isso tem acontecido ao longo da história, especialmente em períodos de
perseguição aberta e oficial ao cristianismo. Durante o Império Romano, há
muitas dessas histórias. John Foxe, em O Livro dos Mártires, página 353,
relata um caso de uma mulher que entregou o marido às autoridades para ser
morto, porque ele se tornou cristão; ou ainda casos de pais que renegaram
filhos, entregando-os para serem mortos, porque se tornaram cristãos.
Nos países comunistas, onde há perseguição até hoje, há casos e casos de
famílias que entregaram seus membros que se tornaram cristãos para não
serem mortas ou presas; em países islâmicos, isso também ocorre ainda hoje.
Enfim, famílias se fragmentam, dividem-se, acabam-se, porque um membro
entrega o outro que se tornou cristão.
Em resumo, Jesus é claro: quem quiser ser discípulo dele tem de estar
disposto a enfrentar a ira e a hostilidade do mundo e até mesmo a da esposa,
do marido, dos pais ou dos irmãos.
Veja como é esse cristianismo que nos é apresentado aqui. Essa demanda
de Jesus torna o cristianismo bíblico bem diferente daquele tipo que apresenta
Cristo como uma espécie de guru que prega paz e amor a todos. Esse não é o
Jesus da Bíblia. Este é muito claro com seus seguidores. Ele está dizendo
que, na hora em que nos tornarmos seguidores dele, devemos nos preparar,
porque a espada poderá ir até a nossa casa, até o nosso casamento, até o nosso
relacionamento com nossos filhos, porque ele não veio trazer paz no presente
momento, mas a espada, e os inimigos do homem serão os da sua própria
casa.
Esta é a primeira demanda de Jesus: vocês têm de estar dispostos a sofrer
por ele, inclusive dentro das suas próprias famílias.Segunda demanda: amar Cristo acima de tudo e de todos
A segunda demanda é ainda mais radical. Jesus diz que ele é a pessoa que
você deve dar amor supremo. Ele exige isto, conforme os versos 37 e 38:
“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim;
quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e
quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim”.
Mas o que significa ser digno de Jesus? É ser, e eu uso essa palavra com
cuidado, merecedor. Mas do quê? Do amor, da graça, da misericórdia de
Cristo. É poder ter o direito de dizer que é, de fato, cristão. É ser digno de tal
modo que Jesus não se envergonhará de nós. Isso é ser digno dele. Mas, para
isso, ele diz que temos que o amar acima daquilo que nós temos de mais
precioso, que é a família e a nossa própria vida.
Você tem que amá-lo acima de tudo. Mas o que significa isso? Preste
atenção. Ele não está dizendo que temos de deixar nossa família, nossos lares
e irmos morar com nossos irmãos em Cristo, como se eles fossem uma nova
família. Algumas seitas fazem isso, como, por exemplo, os Meninos de Deus.
Essa seita é muito antiga e perigosa e tem seu foco de atuação principalmente
entre os jovens, nas universidades e escolas. Eles se apresentam como irmãos
em Cristo Jesus e tiram os jovens de seus lares para morar em comunidades,
em acampamentos. O moço e a moça largam suas famílias e seus estudos e
vão morar com outros jovens em retiros.
Não é isso que Jesus está dizendo. Ele não está nos incentivando a
abandonarmos nossa família, muito menos que negligenciemos nossas
obrigações com os familiares. Ele não está nos encorajando, por exemplo, a
nos envolvermos nas atividades da igreja de tal forma que nos esqueçamos de
nossas obrigações como membros de uma família (esposo, esposa, filho (a)).
Não é isso que ele está dizendo. O que ele quer dizer é que o nosso amor a ele
deve superar o amor que nós temos por qualquer outra pessoa, inclusive
familiares e parentes. Isso porque o nosso relacionamento com Cristo é
superior aos laços familiares e terrenos. Isso é algo que nós precisamos
entender claramente.
Os laços terrenos um dia acabarão. A relação entre pai e filho, mãe e filha,
irmão, irmã são pertencentes a essa vida. Um dia, isso tudo se acabará e no
novo estado, no novo mundo, na nova era que Deus está trazendo e que já foi
inaugurada, essas relações familiares desaparecerão. O que ficará é a nossa
relação com Deus e com os seus demais filhos. Então, aqueles que você hoje
ama como familiares poderão não ser os mesmos que estarão nesse reino
celestial. Se forem, aleluia. Mas o que prevalecerá na eternidade é a
irmandade. É a família da fé.
Veja como Jesus, nesse mesmo Evangelho, explicou isso, no capítulo 12,
versos 46 ao 50: “Falava ainda Jesus ao povo, e eis que sua mãe e seus
irmãos estavam do lado de fora, procurando falar-lhe. E alguém lhe disse:
Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar-te. Porém ele respondeu
ao que lhe trouxera o aviso: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E,
estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos.
Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão,
irmã e mãe”.
O Senhor Jesus disse que quem fizer a vontade do Pai é, de fato, seu
irmão, sua mãe e sua irmã, colocando em segundo lugar o relacionamento
familiar que ele tinha com a sua mãe e os seus irmãos terrenos. Isso quer
dizer que é esse o relacionamento que prevalecerá na eternidade e é por isso
que o Senhor Jesus Cristo disse que temos que amá-lo mais do que amamos
nosso pai, nossa mãe, nossos filhos e filhas, uma vez que essas relações
haverão de passar e a que permanecerá por toda a eternidade é a relação que
temos com ele.
Em outras palavras, o Senhor Jesus está dizendo que, se chegar uma
ocasião em que tivermos de escolher entre a nossa família e Jesus Cristo, a
decisão deve ser a favor de Jesus. Só assim nos tornaremos dignos dele.
Dou aqui alguns exemplos práticos: o marido de alguém cometeu um erro
que está sendo confrontado por algumas pessoas. A esposa dele é cristã,
crente, discípula de Jesus. Ela sabe que seu marido está errado, contra a
verdade de Cristo, e que está sendo confrontado. Porém, mesmo assim, ela
toma partido dele. Quem ela está amando mais? O marido ou Jesus Cristo? É
claro que ela pode ficar ao lado do seu marido, mas com sabedoria. Ela pode
dizer: “Querido, você sabe que eu te amo de todo coração, mas nesse ponto
você está errado. Eu vou estar ao seu lado. Se você tiver que ir preso, eu vou
para a cadeia com você, mas eu vou dizendo que você está errado. A verdade
é essa. Vamos admitir, corrigir e resolver isso”.
Há pessoas que, nesse particular, preferem ofender Cristo e a verdade,
ficando ao lado do familiar. Algo bem comum que poderia ser citado como
exemplo são casais que se dizem crentes, mas - quando o filho faz algo
errado na escola - defendem-no. Isso mostra que eles não estão amando Jesus
mais do que o seu filho, uma vez que a atitude correta é deixar este ser
corrigido. É preciso dizer: “Filho, você sabe que nós te amamos. Nós vamos
estar ao seu lado sempre, mas você está errado e precisa ser corrigido. Você
vai aceitar essa disciplina e essa correção”. Às vezes, nós defendemos os
nossos por causa desses laços.
Outra situação: alguém tem parentes que se envolvem em uma briga com
os sócios da empresa. Porém, mesmo sabendo que os parentes estão errados,
a pessoa toma partido deles.
Posso citar mais uma situação entre tantas possíveis: imaginemos os
familiares de uma pessoa lhe pedindo para fazer algo que, ao final, representa
um ato errado ou até ilegal. Por exemplo, o diretor de uma empresa está
fazendo um exame de seleção, e o seu sobrinho é um dos candidatos. De
repente, a irmã desse diretor pede que ele dê um jeitinho para que seu filho
obtenha aquele emprego, dizendo a ele: “É o seu sobrinho, dê uma forcinha”.
É exatamente isso que as pessoas fazem. Às vezes, elas querem usar os laços
familiares para propor ações que vão contra Jesus.
Em resumo, o que ele está dizendo é que quem quiser segui-lo precisa
estar disposto a tomar a sua cruz, conforme o verso 38, que diz que quem não
tomar a sua cruz e seguir após ele não é digno dele.
A cruz era um instrumento de morte. Os condenados à morte de cruz,
naquela época, carregavam-na nas costas até o local de execução. Foi isso
que obrigaram o Senhor Jesus a fazer. Ele foi até uma parte do caminho,
quando, então, Simão, o Cirineu, tomou a cruz de Cristo e a levou.
A figura presente aqui é que, diariamente, temos que morrer para nós
mesmos e para nossa vontade e submetermo-nos a Jesus. Isso significa tomar
a cruz. Às vezes, as pessoas dizem: “Essa doença é minha cruz!”. Não, esse
não é o sentido de tomar a cruz. Ela, aqui, é instrumento de morte,
representando que nós temos que mortificar nós mesmos e a nossa vontade e
morrermos para o nosso eu, para que então possamos seguir a Cristo. Nada
menos do que isso é exigido por ele. Jesus quer amor supremo, dedicação
suprema maior do que o amor que temos pela nossa família, maior do que o
amor que temos por nós mesmos.
Terceira demanda: perder a vida pelo Senhor
Esta, sem dúvida, é a demanda mais radical de todas. Jesus diz, no verso 39:
“Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha
causa achá-la-á”.
Esse é um dos ensinamentos que Jesus mais repetiu. Ele aparece cerca de
seis vezes nos quatro Evangelhos. Ele significa que quem acha a sua vida a
perderá.
Achar a vida significa alguém ser bem-sucedido, de acordo com os
padrões desse mundo, ser realizado profissionalmente, poder realizar todos os
desejos, ter independência financeira. E o pior: tudo isso alheio a Deus, sem
lugar para Jesus Cristo. No fim de toda essa dedicação aos próprios desejos,
pensando que ganhou a vida, verá que, na verdade, perdeu-a.
Então, achar a vida é entendido como lutar, procurar, esforçar-se, buscar
as coisas que as pessoas consideram como sendo as mais importantes em suas
vidas. Mas o que significa perdera vida?
A melhor resposta para isso é a parábola do Rico Insensato, contada por
Jesus e registrada em Lucas, capítulo 12, versos 16 a 21: “E lhes proferiu
ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com
abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho
onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus
celeiros, reconstrui-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos
os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para
muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te [...]”.
Vale comentar que aqui está um homem que achou sua vida: bem-
sucedido, com boa provisão, aposentadoria tranquila, possuidor de bens, sem
medo do futuro, tinha de sobra, possuía propriedades, enfim, alguém que
achou sua vida. Mas ele a perdeu, como veremos a seguir: “[...] Mas Deus
lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado,
para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para
com Deus”. É isso que significa “Quem acha a sua vida perdê-la-á [...]”.
Muitas coisas dessa vida são lícitas, legais, boas, necessárias, mas o
problema é o primeiro lugar dado a elas. Sendo assim, se você se dedicar,
nesse mundo, no tempo presente, a buscar incessantemente apenas essas
coisas, aplicando nelas o coração e fazendo de Cristo apenas uma nota de
rodapé em sua vida ou, às vezes, nem dando importância nenhuma a ele, você
chegará ao fim de sua vida e verá que desperdiçou seu tempo, sua juventude e
suas forças correndo atrás daquilo que não lhe trará felicidade eterna, que não
resolverá seu problema de relacionamento com Deus.
Por isso, quem acha sua vida nesse mundo vai perdê-la, mas quem perde a
sua vida nesse mundo por causa de Jesus vai achá-la.
Você pode, sim, trabalhar, ganhar dinheiro, ter família, mas tudo isso
precisa ser secundário e por amor a Jesus, para de alguma forma promover o
nome de Cristo e trazer glória a ele, afinal, o Senhor é a razão de tudo que
você faz.
Outrora você era o centro de tudo, mas agora você vive para ele. A
diferença entre nós e os outros é que os outros querem ganhar dinheiro para
gastar consigo mesmos, mas nós, da mesma forma, queremos ganhar dinheiro
a fim de podermos abençoar os outros, para poder ajudar outras pessoas. A
diferença é a motivação.
Então, para os que perdem a vida aqui neste mundo, ou seja, para os que
renunciam a busca da sua própria glória, do seu próprio conforto; para os que
abrem mão das coisas do seu eu e vivem, de fato, para Cristo, ele promete,
por meio de sua Palavra, que estes acharão a vida.
Em resumo, quem quiser ser discípulo de Cristo deve estar disposto a
renunciar a si mesmo e a tudo quanto tem por amor a ele.
Conclusão
Mas com que direito Jesus Cristo exige isso? Quem é ele para prometer
essas coisas?
Amado leitor, pensemos direito. Nós temos aqui um judeu, filho de Maria,
chamado Jesus, que viveu aqui há mais de 2.000 anos. De repente, ele se
dirige para um grupo de seguidores e diz: “Vocês têm que me amar mais do
que vocês amam as suas famílias; vocês têm que estar dispostos a morrer por
minha causa; e digo mais, se vocês não passarem a vida toda tendo a mim
como a razão suprema de vocês serem, vocês estão condenados”.
Notemos que estamos diante de um homem que só pode ser duas coisas:
um louco ou Deus! Não há opção. Ele ou é louco, megalomaníaco, esperto,
porque enganou quase três bilhões de pessoas, que é a quantidade de cristãos
que existe hoje, ou ele é o que diz realmente ser.
Sendo assim, você, leitor, precisa decidir: quem é Jesus para você? Pense
no que ele está reivindicando. Nenhum outro fundador de religião, se é que
eu posso chamar Jesus de um fundador de religião, fez demandas ao menos
parecidas com essas. Ninguém. Nesse sentido, de fato, ele é único.
Não há opção para nós. Jesus demanda isso porque ele é Deus. Ele é o
Filho de Deus. Ele é o Criador de todas as coisas e o Senhor de tudo e de
todos, que morreu pelos nossos pecados, ressuscitou dos mortos, subiu aos
céus e tem todo poder no céu e na terra e em todo o universo. Sendo assim,
ele tem o direito de exigir de nós amor supremo, lealdade absoluta e
obediência total. Ninguém mais pode demandar isso se não for o próprio
Deus. Ninguém tem o direito de pedir essas coisas a não ser que ele seja
Deus. Nenhum ser humano tem o direito de pedir essas coisas a outro ser
humano.
Todavia, se Deus, o Criador de todas as coisas, na Pessoa do seu Filho,
veio até nós e nos fez tais demandas, é nosso dever curvarmo-nos diante dele
e obedecer-lhe.
O que isso representa para nós hoje (nós que nos dizemos crentes, cristãos,
evangélicos)? As perguntas são: nós somos dignos dele? Nós amamos o
Senhor Jesus mais do que nosso cônjuge, filhos, irmãos, pais? Estamos
dispostos a renunciar a tudo que temos e ao que somos por amor a Jesus?
Valorizamos a vida eterna que ele nos promete mais do que a vida nesse
mundo? Ele tem o primeiro lugar na nossa vida?
Qual é a razão pela qual, às vezes, muitos cristãos são apáticos e
descomprometidos? Das duas uma: ou porque nunca entenderam de fato
quem é Jesus Cristo ou porque entenderam, mas, por alguma razão que vai
desde a incredulidade até a covardia, eles não têm a disposição de assumir o
que significa de fato ser cristão. Espero que você não se enquadre nesse caso.
Quero, então, convidá-lo a repensar sua vida e sua declaração de fé de que
você é cristão. É mesmo? Olhe o que ele exige de nós. Olhe para os seus atos,
olhe para as suas atitudes, para as suas escolhas, para os planos que você tem
feito. Qual o lugar de Cristo neles? Para que você quer ir para a universidade?
Para que você quer um emprego? Para que você quer constituir uma família?
Por que você está correndo atrás dessas coisas? Qual a razão? Qual o lugar de
Cristo em sua vida? Se ele tem o primeiro lugar nela, quanto tempo você
dispõe para se dedicar a ele? Você lê a sua Palavra? Gasta tempo em oração e
em comunhão com ele? Porque se nós amamos uma pessoa, é claro que nós
queremos estar com ela.
Eu quero que você examine sua vida e tome uma decisão: ou você é, de
fato, discípulo de Cristo nos moldes ditados por ele ou então é melhor fazer
como muitos: virar as costas e ir embora. E eu espero que isso não seja
necessário como aconteceu quando Jesus ensinava na sinagoga de
Cafarnaum. Quando disse quem ele era e o que queria, muitos, entendendo a
mensagem, viraram as costas e foram embora2.
Por isso, eu coloquei que, se nós entendêssemos quem é Jesus, o número
de seus seguidores seria bem menor, porque ele nunca esteve interessado em
números. Somos nós que ficamos interessados em encher a igreja. Jesus
nunca esteve preocupado com isso, pelo contrário, ele estava expulsando
pessoas, pois só queria que ficasse quem realmente era dele, quem de fato o
amava, quem o entendia. Ele queria o verdadeiro adorador, não um
consumidor do evangelicalismo brasileiro (trazendo para nossos dias), mas
um discípulo de verdade.
Se você ainda não se dobrou diante de Jesus Cristo como Senhor e
Salvador, eu te convido para tal. Não deixe passar essa oportunidade que
Deus te dá. Você acabou de ler essa exposição da Palavra de Deus que
apresenta as demandas de Cristo, as promessas que ele fez. Não há salvação,
de fato, em nenhum outro. Ele é o Filho de Deus e o salvador do mundo. Ele
te chama a se curvar diante dele.
Certamente, eu não estou pedindo para você dar uma chance a Jesus
Cristo, como, às vezes, as pessoas fazem: “Dê uma chance a Jesus”. Não, de
jeito nenhum. É ele que está dando a você a chance. Ele te chama pela leitura
da sua Palavra, do Evangelho, e você deveria dar atenção a ele porque nem
sempre a porta estará aberta.
Que você possa tomar a decisão de se curvar diante dele e confessá-lo
como Senhor. Que possa se entregar a ele e que Cristo seja o amor maior em
sua vida.
Amém!
Oração
Jesus, quem é digno do Senhor? Cristo, Filho de Deus, ressurreto dos mortos, entronizado à direita
do Pai nas alturas, o Senhor tem todo o poder no céu e na terra e pode fazeressas reivindicações
sobre nossa vida, nossos bens, nossos laços familiares, porque o Senhor é digno, nosso salvador e
nosso Redentor.
Senhor, ensina a nós esse cristianismo radical que é ensinado na Bíblia. Que nós te amemos de
coração mais do que amamos qualquer outra coisa. Ajuda-nos a sermos fiéis ao Senhor mesmo que
isso nos custe amizades preciosas, laços preciosos e coisas preciosas neste mundo.
Ajuda-nos a amá-lo acima de tudo, com os olhos na glória, com os olhos na eternidade, quando
então o reino de paz será estabelecido, quando finalmente a paz reinará neste mundo, quando o
Senhor vier pela segunda vez para reinar com os seus.
Jesus, se o leitor ainda não havia compreendido o que é o Evangelho e quem é o Senhor, faça
brilhar a sua luz no seu coração para que discípulos verdadeiros sejam chamados para viver para
sua glória.
Perdoa-nos, Deus, e recebe-nos por amor de Jesus.
Amém!
1 Sermão pregado em 26 de outubro de 2014.
2 Cf. João 6.60-69.
2
RELIGIOSIDADE
E CRISTIANISMO
Texto-base: Mateus 23.1-383
Introdução
Caro leitor, o meu alvo neste capítulo é refletir a respeito da diferença que
existe entre religião e cristianismo; entre religiosidade e a verdadeira prática
espiritual. Para isso, usarei esse sermão de Jesus contra os religiosos da sua
época: os fariseus e os escribas. Esse sermão aparece também em Lucas 11,
um pouco resumido, o que mostra que Jesus, em outro contexto, disse essas
coisas várias vezes.
Ao falar sobre religiosidade e verdadeiro cristianismo, fazendo uso dessa
passagem na qual Jesus fala contra os fariseus, eu estou consciente de que eu
não posso comparar os cristãos verdadeiros com os fariseus e, de certo, essa
não é a minha intenção, visto que seria desonesto com você.
O que ocorre, porém, é que existem elementos da religiosidade dos
fariseus que percebo estarem presentes também no meio dos evangélicos. Por
isso, mesmo que a comparação esteja muito distante, ainda há pontos
mencionados por Jesus, nos quais ele critica os escribas e fariseus, que bem
podem ser aplicados à nossa vida, pelo menos à guisa de exame e de
referência.
Eu creio que toda Escritura é proveitosa e se aplica a nós. Ela foi escrita
para o nosso benefício. Portanto, o capítulo 23 de Mateus não é uma exceção.
E, com certeza, se essa mensagem de Jesus contra os escribas e fariseus foi
preservada no Evangelho, é porque Deus, sem dúvida, deseja que ela seja
lida, refletida e aplicada pela sua igreja durante todas as suas épocas.
Meu alvo é que, ao examinarmos aquilo que Jesus criticou na religiosidade
dos escribas e fariseus, nós nos examinemos também, a fim de que possamos
aprender e desejar o cristianismo puro e simples que a Bíblia nos ensina. É
isto que nós queremos ser: cristãos, de acordo com o que o Evangelho nos
ensina.
Mas deixe-me fazer outras observações à guisa de introdução. O ser
humano é religioso por natureza. Mesmo as pessoas que não nasceram de
novo, que não foram regeneradas e que não estão salvas, são capazes de orar,
cantar, dar ofertas, fazer sacrifícios. A prova disso é a quantidade de religiões
falsas que existem no mundo, nas quais as pessoas fazem praticamente tudo o
que os cristãos fazem. Elas vão aos seus cultos, têm corais, pregadores e
pastores, dão ofertas, fazem sacrifícios, vão de porta em porta distribuindo
folhetos e espalhando aquilo em que elas creem, ou seja, a religião é algo que
pertence ao ser humano, mesmo que ele não seja salvo. Desse modo, um
descrente pode ser religioso.
Por isso, nós não podemos medir a salvação de alguém simplesmente
pelos atos religiosos que ele pratica, porque um descrente também pode ser
religioso.
Então, é preciso notar quais são esses elementos da religiosidade que, por
vezes, manifestam-se em nossa vida, para que nós os rejeitemos e vivamos
um cristianismo autêntico, puro e simples.
Quando Jesus disse essas palavras, ele estava na última semana da sua
vida terrena, em Jerusalém. Ele já tinha tido vários conflitos com os escribas
e fariseus. Se você, depois, quiser ler o capítulo 22, poderá notar que houve
uma discussão entre Jesus, os escribas e os fariseus com relação ao tributo –
eles discutiam se era necessário pagar imposto a Cesar ou não; depois, houve
uma discussão a respeito da ressurreição; logo em seguida, um debate sobre
qual era o grande mandamento; e ainda sobre quem era aquele senhor sobre o
qual o rei Davi havia dito no Salmo 110, verso 1: “Disse o SENHOR ao meu
senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos
debaixo dos teus pés”.
Aquela tinha sido uma semana extremamente conturbada, e Jesus estava
envolvido em polêmicas e discussões diretas com os escribas e fariseus, que
eram os líderes religiosos daquela época. E agora, no fim, como que já
cansado de ver tanta cegueira, tanta religiosidade, tantos conceitos errados,
Jesus, então, pronuncia, no capítulo 23, esse sermão, que é considerado um
dos mais duros pronunciados por ele.
Contudo, é preciso lembrar que nem todos os fariseus eram como Jesus
está dizendo aqui. Havia fariseus como, por exemplo, Nicodemos e José de
Arimateia, os quais esperavam o Reino de Deus, eram sinceros, verdadeiros,
tementes a Deus e portadores da verdadeira fé.
Porém a grande liderança do farisaísmo daquela época era composta de
pessoas extremamente religiosas, mas que não conheciam a Deus. De
qualquer forma, eles praticavam a sua religião pensando que estavam fazendo
o que era correto diante de Deus.
O que, então, Jesus censurou neles? Ao respondermos essa pergunta, nós
estaremos dando alguns dos elementos da religiosidade que nós queremos
evitar.
Hipocrisia
A primeira censura de Jesus aos fariseus e escribas foi quanto à hipocrisia,
como consta no capítulo 23, versículos de 1 a 3: “Então, falou Jesus às
multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés, se assentaram os
escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem,
porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem”.
Havia, literalmente, uma cadeira na sinagoga chamada “cadeira de
Moisés”, na qual os fariseus e os escribas se assentavam para ensinar todos os
ditames da Lei ao povo. Eles sabiam de cor o discurso ortodoxo a ponto de
Jesus dizer que o problema com eles não era seu ensino, pois eles eram
ortodoxos e doutrinariamente corretos. O problema estava no fato de eles não
praticarem o que ensinavam.
Nesse ponto, você tem o primeiro elemento da religiosidade: um religioso
é alguém que se preocupa com a exatidão, a precisão doutrinária, o
andamento das coisas de acordo com as normas, todavia, ele não vive aquilo
que prega e ensina.
Normas e regras
A segunda crítica de Jesus aos fariseus é que eles haviam criado normas e
regras que Deus nunca mandara, como consta no versículo 4: Atam fardos
pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens;
entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.
Não satisfeitos com a Lei de Moisés, que já continha muitas normas e
regras, os fariseus do período anterior a Cristo, por volta de 200 a 150 a.C.,
começaram a elaborar novas regras por meio dos rabinos. Como exemplo,
podemos citar a questão do sábado. Na Lei de Moisés, era dito que não se
podia trabalhar nesse dia. Mas o que era trabalho? A partir dessa pergunta,
podemos imaginar a seguinte discussão entre os rabinos: trabalho é andar um
quilômetro, logo, andar um quilômetro é pecado; trabalho é levantar três
quilos, ou seja, se levantar até dois quilos não é pecado, mas se levantar três
quilos ou mais, sim.
Claramente, aquilo que já era pesado, os rabinos tornaram mais pesado
ainda, criando normas que Deus nunca havia criado, impondo um fardo
difícil sobre o povo de Deus. Contudo, eles não queriam mover o fardo nem
com um dedo. Então, esse é o segundo aspecto da religiosidade: ela cria
normas e regras que Deus nunca mandou.
Um exemplo óbvio são aquelas regras que proíbem as pessoas de ir ao
cinema, de cortar os cabelos, de usar calça comprida, de usar barba, entre
outras. Há um legalismo no meio evangélico peloqual as pessoas criam
normas, colocando-as sobre as pessoas, que, por sua vez, vivem carregadas
debaixo dessas regras e preceitos humanos nunca ordenados por Deus. A
religiosidade faz isso em nome de Deus.
Aprovação humana
A terceira crítica de Jesus aos fariseus é que eles buscavam a aprovação dos
homens. O versículo 5 diz: “Praticam, porém, todas as suas obras com o fim
de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as
suas franjas”.
Filactérios são caixinhas de couro, com trechos da Torá, que os judeus
amarravam nas mãos e na testa. Isso porque, em Deuteronômio 6.6-8, Moisés
tinha dito ao povo para guardar a Palavra de Deus no coração e atá-la à mão e
à cabeça. É claro que Moisés estava falando figuradamente, porque mão e
cabeça significam, respectivamente, o que alguém faz e pensa. Porém eles
interpretaram aquilo literalmente.
Outro ponto é que o fariseu mandava fazer essas caixinhas, de certo modo,
grandes para que, quando ele as colocasse na testa e nas mãos e saísse
andando pelas ruas, os homens olhassem e comentassem o quanto ele era
religioso e piedoso, até mesmo um santo, tal era o tamanho dos filactérios do
fariseu.
Já as franjas eram as borlas da veste. Elas funcionavam como o atual
rosário católico, que são aqueles nós (contas) usados para contar as orações e
os pais-nossos. Os judeus tinham, então, franjas, que eram penduradas na sua
roupa a fim de contar as orações. O problema é que os fariseus mandavam
encher suas roupas de franjas. Desse modo, quando eles andavam na rua com
aqueles filactérios e com as franjas, as pessoas que os viam poderiam, por
certo, dizer o quanto aqueles homens eram santos, não querendo, assim, nem
chegar perto deles, para não serem fulminadas, tal era a santidade.
É isso o que a religião faz. Ela busca agradar e impressionar as pessoas.
Um religioso dos dias de hoje é alguém que pratica o cristianismo, faz as
atividades relacionadas à vida cristã, mas apenas por estar preocupado em se
aparecer aos homens, em agradar-lhes, em ostentar a sua religiosidade. Não é
difícil dar exemplos disso.
Autoexaltação
O quarto item que Jesus condena nos fariseus é a autoexaltação. Os
versículos 6 a 12 nos dizem: “Amam o primeiro lugar nos banquetes e as
primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem
chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres,
porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a
terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus.
Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. Mas o
maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será
humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado”.
Os fariseus usavam a religião que eles praticavam para se promover diante
dos homens. Diz Jesus no versículo 6 que eles amavam o primeiro lugar nos
banquetes. Quando os judeus faziam os seus banquetes, eles reservavam
lugares para as autoridades. Assim, quando o judeu e o fariseu chegavam,
gostavam de ser distinguidos e se sentarem na frente, para que todos vissem
que eles eram pessoas especiais.
Nas sinagogas, isso não era diferente. Quando não era na cadeira de
Moisés, era nos primeiros lugares das sinagogas – bancos reservados para as
pessoas especiais. Logo, o fariseu fazia questão de sentar-se ali para que
todos pensassem que ele era uma pessoa especial.
Do mesmo modo, quando ele andava nas praças, gostava que as pessoas o
chamassem pelos títulos que tinha, como mestre e rabi. Isso era
extremamente apreciado por ele.
Jesus disse: “Vós, porém, não sereis chamados mestres [...]”. Ele não está
proibindo esse título, mas está proibindo que usemos esse título para bajular
alguém, ou que uma pessoa o use para se autoglorificar.
Quando Jesus diz: “[...] porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois
irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai [...]”, é claro que não
está proibindo que eu me refira ao meu genitor como pai; o que ele está
dizendo nesse ponto é que não façamos de alguém nosso pai, que não usemos
esse título para bajular alguém, ou que ninguém diga sobre si mesmo: “Eu
sou o pai dessa ideia, eu sou o pai dessa igreja, eu sou o mestre dessa igreja”.
Jesus completa dizendo que ninguém deveria usar esses títulos com esse
objetivo porque um só é o Pai, aquele que está nos céus; da mesma forma, ele
proíbe o chamar-se de guias, porque um só é o nosso guia: o Cristo. E afirma:
“Mas o maior dentre vós será vosso servo”.
Quer ser grande? Sirva. Você quer realmente ser grande? Então, o
caminho do cristianismo é o serviço. Na religião, para alguém ser grande, ele
precisa buscar títulos, posições nos primeiros lugares e ostentação, mas no
cristianismo quem quiser ser grande tem de começar sendo pequeno, servindo
aos irmãos e não sendo servido por eles.
Ainda sobre isso, no versículo 12, Jesus diz: “Quem a si mesmo se exaltar
será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado”. Ou seja,
quem hoje se exalta em nome de Deus, no Dia do Juízo será humilhado
diante dos homens e de Deus. A religião busca exaltação humana, mas o
cristianismo faz com que nós sejamos servos e vivamos para servir a ele.
Mas por que Jesus condenou essas atitudes? Do versículo 13 em diante,
ele muda a direção do discurso. Até aqui Cristo vinha falando aos discípulos
e alertando-os sobre ter cuidado com os fariseus. Agora, no versículo 13, ele
se volta diretamente aos fariseus, que estavam naquela audiência. Imagine-
nos ouvindo o que Jesus falava; pense em um sermão duro. É fácil falar dos
fariseus pelas costas, mas, no caso, eles estavam presentes naquela audiência.
Os ais
A partir deste ponto, Jesus, voltando-se a eles, pronuncia oito ais. Esses ais
são como condenações por determinadas coisas. Mas que coisas são estas?
Por que Jesus condenou essa religiosidade farisaica? Nós as veremos em
seguida.
Primeiro ai
Condena-se a religiosidade farisaica primeiramente porque esse tipo de
atitude que Jesus acabou de descrever acima impede não apenas que o
próprio religioso seja salvo, mas que outras pessoas sejam salvas. Como ele
disse no verso 13: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais
o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar
os que estão entrando!”.
Os escribas e fariseus deveriam estar abrindo o Reino de Deus para as
pessoas, porque eles conheciam a Lei; eles conheciam a Palavra de Deus e
seus ensinamentos dados por meio dos profetas, de Moisés, de Davi. Eles
eram os conhecedores daquilo que Deus havia dito no Antigo Testamento.
Mas, por causa da sua religiosidade, eles não entraram no Reino de Deus.
Além disso, pelos seus ensinos e exemplos, eles também não deixavam as
outras pessoas entrarem.
Quando nós fazemos essa aplicação em nossa vida, percebemos como a
religiosidade tem consequências terríveis. Pessoas que são religiosas – mas
que não são salvas – terminam por dar um péssimo exemplo, pois elas não
entram no Reino de Deus e acabam sendo um tropeço para aqueles que
querem entrar.
Segundo ai
A segunda razão pela qual Jesus condenou a religiosidade dos fariseus é que,
por vezes, ela é somente uma capa para esconder pecados. O versículo 14 diz:
“[Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das
viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo
muito mais severo!]”.
O fariseu chegava à casa de alguma pobre viúva que estava sofrendo e
dizia: “Irmã, eu vou orar pela senhora, mas você sabe, minha oração é paga
por tempo, se eu orar um minuto é uma dracma, se eu orar dois minutos serão
cobradas duas dracmas; a senhora sabe como é, tenho que ganhar a vida”.
Então, era como se ele ligasse seu taxímetro, vamos chamar de
oraçãozímetro, e começasse a fazer longas orações, porque na verdade ele
queria se valer da inocência e da ingenuidade da coitada da viúva, usando a
religião como meio de esconder e camuflar a sua ganância, o seu amor ao
dinheiro.
Da mesma forma, a religiosidade é uma capa para pecados maissérios. Eu
já acompanhei e conheço casos de gente que estava na igreja, era superzelosa,
frequentava todas as reuniões de oração, não perdia um culto, exercia várias
atividades e ministérios, era oficial da igreja, mas, de repente, descobre-se
que tudo aquilo era uma capa e que, na verdade, aquele homem era
desonesto, ladrão, imoral, agredia a esposa, mas na igreja ninguém
suspeitava.
Às vezes, a religiosidade é uma capa apenas para esconder pecados graves
e terríveis, por isso, Jesus a condena, porque o religioso se justifica por meio
dessas práticas listadas acima.
Terceiro ai
O terceiro ai se encontra no versículo 15. Jesus condena a religiosidade
porque ela leva as pessoas ao inferno. “Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma
vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!”.
Os fariseus eram extremamente ativistas. Eram evangelistas, saíam de
porta em porta evangelizando, pois queriam que os que não eram judeus se
tornassem judeus, especialmente o prosélito, que era um gentil, um não
judeu, que havia se convertido ao judaísmo e se circuncidado, sendo agora
um judeu. Então, os fariseus percorriam vários lugares e faziam qualquer
esforço para este fim. Jesus diz, neste ponto, que eles rodeavam mar e terra a
fim de conseguir seus adeptos. Todavia, no fim, esses coitados eram duas
vezes filhos do inferno.
Por isso, Jesus condenou os fariseus, porque a religiosidade leva as
pessoas ao inferno, visto que elas praticam aquilo que Deus não mandou ou
praticam aquilo que Deus mandou pelos motivos errados. Elas podem parecer
religiosas, podem enganar os seus corações com atos religiosos, mas, na
verdade, nunca nasceram de novo, nunca foram regeneradas, não conhecem a
graça de Deus, nunca tiveram um encontro verdadeiro com ele.
É justamente por esses fatores que a religiosidade é tão perigosa e
perniciosa e conduz para o inferno, porque a pessoa considera que ser
religiosa, ir à igreja, dar o dízimo, estar no ministério, ser pastor e pregador,
são evidências de que ela está salva. Porém ela pode não ser. Por isso, Jesus
adverte os escribas e fariseus, porque eles conduziam outras pessoas à
condenação.
Quarto e quinto ais
A quarta razão pela qual Jesus condenou a religiosidade dos fariseus é porque
ela foca no que é secundário e acaba se esquecendo do que é mais importante
na vida cristã.
Há dois ais que tratam disso. Eles estão na sequência dos versículos 16 ao
24: “Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é
nada; mas, se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que
jurou! Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro ou o santuário que
santifica o ouro? E dizeis: Quem jurar pelo altar, isso é nada; quem, porém,
jurar pela oferta que está sobre o altar fica obrigado pelo que jurou. Cegos!
Pois qual é maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta? Portanto, quem
jurar pelo altar jura por ele e por tudo o que sobre ele está. Quem jurar pelo
santuário jura por ele e por aquele que nele habita; e quem jurar pelo céu
jura pelo trono de Deus e por aquele que no trono está sentado. Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e
do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a
justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir
aquelas! Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!”.
O que esses dois ais têm em comum? É que em ambos os casos o que
Jesus está condenando é o foco dado pelos fariseus às coisas secundárias e
miúdas, esquecendo-se do quadro maior, do mais importante. É exatamente
isso o que o religioso faz. Ele está preocupado com as coisinhas pequenas, os
detalhes, os arranjos aqui e acolá, e se esquece das grandes coisas, das
grandes virtudes, dos pontos centrais do cristianismo.
No caso dos fariseus, temos primeiro a questão do juramento. Era comum
jurar entre os judeus. Na verdade, a Bíblia não proíbe esse ato. Ela proíbe o
juramento falso. Em algumas ocasiões, como diz nossa confissão de fé4, o
juramento é lícito. Mas os fariseus faziam disso algo banal. Vejam como é
que se manifestava a religiosidade. Eles diziam que a ação de jurar pelo
templo de Jerusalém e pelo santuário não significava nada, mas se alguém
fizesse um juramento pelo ouro trazido, ficaria devendo. Por que o judeu
queria pegar a consciência de quem jurava pelo ouro? Porque eles ficavam
com o ouro. Eles também diziam que jurar pelo altar não significava nada,
mas se alguém jurasse pela oferta trazida sobre o altar ficaria devendo. Por
que eles faziam isso? Porque eles não estavam preocupados com a oferta da
pessoa, no sentido de que a pessoa fosse aceita por Deus e perdoada, mas
estavam de olho na própria oferta. Logo, eles inventaram todas essas regras.
Então, Jesus os repreende dizendo: “Cegos, quem é maior? O que santifica
o ouro? É o templo. O que santifica a oferta? É o altar. Se você jura pelo céu,
está jurando por Deus. Tudo leva a Deus. Será que vocês não percebem?”. E
acrescenta: “Vocês estão cegos, estão torcendo a Palavra de Deus e focando
nas coisas secundárias, por causa do interesse mesquinho de vocês”.
Jesus, então, após repreendê-los chamando-os de cegos, questiona-os
sobre quem era o maior: o ouro ou o santuário que o santifica? A oferta ou o
altar que a santifica? Acrescenta dizendo que, se alguém jurar pelo céu, está
jurando por Deus, porque tudo leva a Deus. Diante disto, os escribas e
fariseus, por causa de seus interesses mesquinhos, estavam torcendo a
Palavra de Deus e focando nas coisas secundárias.
O mesmo acontece no versículo 23, no qual ele diz: “[...] porque dais o
dízimo da hortelã, do endro e do cominho [...]”. Os fariseus tinham roça em
suas propriedades. Eles davam 10% da alface, do tomate, do legume, do
endro, do cominho etc. Eles mediam com exatidão. Toda décima parte tinha
de ser levada à igreja. Essa questão de líquido ou bruto não interessava a eles.
Tudo era calculado sempre pelo bruto. Eles eram meticulosos para dar aquilo.
Mas se esqueciam das coisas mais importantes da Lei: a justiça, a
misericórdia e a fé.
Alguém pode estar tão preocupado com as coisas da igreja, como a
organização do templo e o andamento dos serviços; pode estar tão
mergulhado em atividades, cuidando de um detalhe aqui, outro ali, que acaba
se esquecendo de que o cristianismo não é isso. É muito mais que isso.
Religião é tornar esses equipamentos, recursos, lugar e atividades em fins
em si mesmos. Estas coisas existem para nos levar a Deus, a seu filho Jesus
Cristo; elas existem para nos levar a viver vidas santas, retas e justas. Ou
como disse Jesus: “[...] a justiça, a misericórdia e a fé [...]”.
Às vezes, as pessoas se dedicam aos acessórios da igreja, como se fossem
a própria religião verdadeira em si, e perdem de vista o mais importante,
como Jesus disse: “[...] coais o mosquito e engolis o camelo!”. Mosquito era
um inseto considerado impuro, então, o judeu, para não correr o risco de
engolir um mosquito, colocava um coador por cima de tudo o que ele fosse
beber. Ele era muito cuidadoso nisso. Mas, ao mesmo tempo, ele engolia um
camelo, que também era um animal imundo, sendo o maior animal conhecido
pelo judeu. Então é óbvio o que Jesus está dizendo aqui. Ele está condenando
aquela atitude do religioso, porque ele é meticuloso com coisas secundárias e
se esquece de ser santo, de orar, de amar, de exercer misericórdia e de exercer
e praticar a justiça.
Sexto e sétimo ais
A quinta razão pela qual Jesus condena aquela religiosidade é porque ela leva
as pessoas a se preocuparem com o que é externo, esquecendo-se, então, do
que é interno. Mais uma vez, temos dois ais sobre esse tema. Os versículos 25
a 28 dizem: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o
exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e
intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que
também o seu exterior fique limpo! Ai de vós,escribas e fariseus, hipócritas,
porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram
belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens,
mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade”.
Jesus usa duas figuras para ilustrar esse ponto da religiosidade. Primeiro, a
lei cerimonial, que mandava que o judeu fizesse determinadas lavagens. O
que acontecia era o seguinte: o judeu, quando ia ao mercado comprar
alimentos ou utensílios, poderia se deparar com gentios, não judeus, ou com
judeus não conservadores, que estivessem manipulando estes itens; então,
para evitar se contaminar, ele levava todos os itens adquiridos para casa e os
lavava, fossem copos, pratos ou alimentos, tudo era lavado, mas não era por
uma questão de higiene, era por uma questão de religião. Jesus condena o
fato de eles se preocuparem com o exterior e, por dentro, estarem cheios de
rapina, iniquidade, pecado e corrupção.
A religião se preocupa com o exterior da pessoa, com normas, com regras,
mas acaba se esquecendo da necessidade de intimamente esta pessoa ser
convertida, da necessidade de quebrantamento do coração, de fé verdadeira,
de um amor que parte do coração. Não é só não adulterar, mas também não
pensar em adultério; não é só não matar, mas também não querer que o seu
irmão morra. Jesus explicou isso no Sermão do Monte (Mateus 5:27-28),
dizendo: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo:
qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já
adulterou com ela”. A religião se preocupa com o aspecto interno, mas o
cristianismo diz que o Deus que fez o exterior é o Deus que vê o interior
também. Então, essa preocupação com a vida interior é necessária.
A segunda ilustração que Jesus diz é a das sepulturas. No versículo 27, ele
chama os escribas e fariseus de sepulcros caiados. Eles gostavam de
embelezar a sepultura dos antigos, só que a sepultura pode ser bonita por
fora, mas por dentro está cheia de podridão e de ossos decompostos, de carne
pútrida. E assim Jesus diz: “Vocês são sepulcros caiados. Vocês estão
preocupados em adornar o exterior para parecerem justos aos homens, mas
por dentro vocês estão completamente corrompidos”.
Oitavo ai
A última razão pela qual Jesus condena a religiosidade dos fariseus é porque
ela impede que os religiosos ouçam a Palavra de Deus. Do versículo 29 ao
32, Jesus diz: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque edificais os
sepulcros dos profetas, adornais os túmulos dos justos e dizeis: Se tivéssemos
vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue
dos profetas! Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos que
mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais”.
O que Jesus está dizendo aqui? Na época do Antigo Testamento, Deus
mandou profetas como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oseias, Joel, Amós para
falar àquele povo religioso. Foram homens a quem Deus revelou sua Palavra.
Homens que ele levantou para dizer ao povo, como consta no primeiro
capítulo de Isaías, no verso 12: “Quando vindes para comparecer perante
mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?”. E continua nos
versos 16 a 18: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de
diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei
à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a
causa das viúvas. Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os
vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a
neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã”.
Todos conhecem essa passagem. Era isso que o profeta fazia no Antigo
Testamento. Deus levantava um profeta para trazer o povo religioso de volta
à verdade. Mas o que o povo de Israel fazia com os profetas? Ele os rejeitava,
apedrejava-os, matava-os. Não os queria ouvir. A história da Bíblia do
Antigo Testamento é a história de Deus tentando convencer aquele povo a
voltar à verdade, mas este permanecia rejeitando, matando, prendendo e
apedrejando os enviados de Deus.
Agora, na época de Jesus, os escribas e os fariseus disseram: “Se
tivéssemos vivido naquela época, não teríamos feito o mesmo. Nós somos
melhores que os nossos pais, porque se tivéssemos vivido na época de Isaías,
Jeremias, nós teríamos aceitado a Palavra de Deus”. Jesus disse: “seus
hipócritas, vocês estão prestes a me matar, estão tramando planos, urdindo
como vocês me pegarão e matarão; vocês estão enchendo a medida dos seus
pais. Vocês são iguais a eles, zelosos pela tradição e pela antiguidade, mas
não querem a Palavra de Deus”. A religião é assim, ela é muito
tradicionalista, sempre apelando para o passado, mas na verdade não quer
ouvir a Palavra de Deus.
Jesus, então, termina condenando os escribas e fariseus do versículo 33 ao
36. Ele diz, no versículo 33: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis
da condenação do inferno?”. No versículo 34, Jesus diz que eles vão
continuar fazendo o que sempre fizeram: “Por isso, eis que eu vos envio
profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros
açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade”. E foi
exatamente o que fizeram com Jesus e com os seus discípulos. Depois, no
versículo 35, continua: “para que sobre vós recaia todo o sangue justo
derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de
Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o santuário e o altar”.
Jesus está dizendo que isto iria acontecer para que a medida do pecado deles
se enchesse e Deus derramasse o juízo dele contra aqueles homens.
No verso 36, Jesus afirma: “Em verdade vos digo que todas estas coisas
hão de vir sobre a presente geração”. E foi exatamente o que ocorreu. Trinta
e cinco anos após Jesus ter dito estas palavras, os romanos cercaram
Jerusalém e, após um cerco de três anos, entraram na cidade, matando mais
de 500 mil judeus, que foram espalhados por toda a parte; destruíram a
cidade e o templo, arrasando-o no seu fundamento. Tudo isso para
cumprimento da Palavra de Jesus acerca dos juízos de Deus contra aquela
geração.
Aplicação e conclusão
Leitor, como afirmei no início, eu seria desonesto em compará-lo aos escribas
e fariseus, mas preste atenção ao seguinte: você sabe que está se tornando
religioso quando está mais preocupado com o arranjo de flores, com o lugar
do coral, com a roupa do pastor, do que com a pregação; quando leva mais
tempo se preparando diante do espelho antes do culto do que se preparando
espiritualmente para participar do culto; quando não consegue aturar os erros
dos outros, contudo, é muito tolerante com os seus e de seus familiares;
quando participa de todas as atividades da igreja, mas não tem mais tempo
para sua família e para estar a sós com Deus; quando é zeloso para dar dízimo
e ofertas, mas trata mal seus empregados, não perdoando quem te ofende e
não pratica misericórdia para com os pobres; quando sua vida cristã gira em
torno de elementos da igreja que, embora legítimos, não são essenciais.
Eu também corro esse risco, por exemplo, quando penso no ministério que
tenho no púlpito, na pregação, no ministério pastoral, no título de reverendo,
doutor. Eu peço a Deus que me livre dessas coisas, porque eu não posso girar
a minha vida cristã e o meu ministério em torno disto.
Eu quero concluir com o fim do capítulo. Veja como termina: Jesus
lamentando. Os versículos 37 a 39 são o lamento de Jesus: “Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!
Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus
pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos
ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que
venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!”.
Notem que Jesus diz no versículo 37: “[...] Quantas vezes quis eu reunir
os teus filhos, como a galinha ajuntaos seus pintinhos debaixo das asas, e
vós não o quisestes!”. Jesus está se referindo a todas as tentativas de Deus
durante a história de reunir o povo dele, o povo da antiga aliança debaixo de
si, a fim de ter um relacionamento verdadeiro, pessoal, íntimo. Porém ele diz
nesse trecho que o povo não queria.
A grande pergunta que nós queremos fazer é esta: nós somos o povo de
Deus hoje, ele continua nos chamando para debaixo das suas asas, ele quer
ter um relacionamento verdadeiro e íntimo conosco, pois é isso que é o
verdadeiro cristianismo, mas nós queremos isso? Porque Israel não queria.
Queremos viver para Deus? Queremos deixar a religiosidade? Queremos
buscar a verdade? Queremos ser mudados? Queremos ser usados? Essas são
as perguntas que Deus nos faz. Queremos? Desejamos? Ansiamos por isto?
Se nós não estivermos dispostos, se não quisermos, se não nos
prontificarmos, as coisas continuarão como sempre foram. Mas se nós
queremos crescer, se queremos progredir, se queremos servir a Deus mais e
melhor, é preciso que nós queiramos nos deixar reunir debaixo dele, das suas
asas, em uma relação verdadeira, deixando de lado tudo que ele nunca
ordenou, para que nós vivamos sempre para sua glória.
Amém!
Oração
Ó Deus, livra-nos da justiça própria, da religião carnal, dessa religiosidade que nos atrapalha de ver
o que é essencial. Ajuda-nos a viver um cristianismo puro e simples, focado naquilo que sua
Palavra nos diz. Ajuda-nos em todas as coisas, pois o Senhor é o nosso Deus, queremos viver para
sua glória, em nome de Jesus.
Amém!
3 Sermão pregado em 31 de agosto de 2014.
4 Confissão de Fé de Westminster, capítulo 22 (Dos juramentos legais e dos votos).
3
A IMPUREZA E O CHAMADO PARA
A SANTIDADE
Texto-base: I Tessalonicenses 4.1-85
Introdução
Boa parte dos problemas que nós enfrentamos como cristãos no
relacionamento uns com os outros e com Deus é na área da impureza sexual.
Nós não podemos e não precisamos ir muito longe para vermos que essa é
uma área que foi tremendamente afetada pelo pecado. No Novo Testamento,
há várias listas de pecados, e quase todas começam com pecados
relacionados à área da sexualidade: a imoralidade, o adultério, a fornicação, a
prostituição etc.
Creio que todos nós, de uma forma ou de outra, lutamos para viver uma
vida pura diante de Deus no que diz respeito à sexualidade. Paulo escreveu
essa carta, e mais precisamente essa parte dela, com o objetivo de ajudar os
crentes em Tessalônica a viver uma vida pura diante de Deus nessa área da
nossa vida que é tão importante.
Ele tinha fundado a igreja e passado pouco tempo com ela. De acordo com
o livro de Atos, capítulo 17, ele passou três semanas pregando nas sinagogas
e, por meio da sua pregação, Deus levantou uma igreja naquela cidade. Não
demorou muito para que Paulo fosse obrigado a fugir daquela localidade por
conta da perseguição levantada pelos judeus incrédulos. Ele saiu de lá
deixando uma igreja jovem, talvez com um ou dois meses de fundação; novos
convertidos com um ou dois meses de conversão. Ele até tentou voltar para
continuar a discipular a igreja, mas não pôde. Então, mandou Timóteo, que
conseguiu chegar à igreja, reunir-se com os irmãos e retornar trazendo
notícias a respeito daquela comunidade. Essas notícias eram boas e más.
As notícias boas eram que a igreja estava firme, aqueles novos convertidos
permaneceram, apesar da perseguição que estavam passando, mas havia
surgido questionamentos a respeito da saída de Paulo da cidade, como por
exemplo, por que ele não ficou com o rebanho, mas saiu no meio da
perseguição. Alguns estavam dizendo que Paulo era um mercenário
interessado apenas no dinheiro que receberia da igreja.
Também havia necessidade de Paulo completar o que havia começado a
ensinar. Talvez Timóteo tenha trazido alguns dos temas que a igreja gostaria
que Paulo concluísse, visto que não pôde por ter sido interrompido pelas
perseguições.
Paulo, então, escreveu essa carta com o objetivo de explicar porque ele
saiu, explicar que suas motivações eram corretas e ainda responder a alguns
questionamentos doutrinários que tinham sido feitos, além de completar
aquilo que ele não tinha podido terminar quando estava com aqueles irmãos.
E um dos assuntos que ele tratou foi a questão da pureza sexual. E, por meio
da leitura do texto que sustenta esse capítulo, fica muito claro que ele já tinha
falado a respeito disso. Estava, pois, completando o que havia começado.
Aqui, ele trata do assunto de maneira direta.
Com base nisso, eu quero destacar aqui os pontos do ensinamento de
Paulo com o objetivo de aplicá-los ao nosso coração, até porque nossa
situação é bastante parecida com a situação dos tessalonicenses.
A impureza na época de Paulo e hoje
O mundo greco-romano, no qual eles viviam, era um mundo erotizado, onde
a imoralidade sexual era vista como algo normal. Os homens casados tinham
as suas amantes, e isso era aceitável na sociedade. As escravas serviam como
objeto sexual. Também as próprias patroas e as senhoras tinham seus casos
amorosos com jovens de aluguel. Não é muito diferente dos escorts6 que
existem hoje.
A prática da homossexualidade era bastante difundida e aceita no mundo
greco-romano, embora houvesse resistência por parte de alguns filósofos
como, por exemplo, os estoicos, que achavam que aquele comportamento era
inadequado. Todavia, no geral, a sociedade daquela época era bastante
permissiva na área sexual.
Quando uma pessoa em Tessalônica aceitava o Evangelho e ingressava na
igreja, ela era desafiada a mudar completamente esses padrões. Ela era
confrontada com um estilo de vida completamente oposto a tudo o que ela,
até então, experimentara durante sua vida.
Tudo isso não é muito diferente dos nossos dias. Vivemos uma época em
que a imoralidade ou a permissividade, a libertinagem na área sexual são
largamente espalhadas no mundo ocidental; em que relacionamentos sexuais
casuais, traição, ter vários parceiros, enfim, todo tipo de perversão sexual são
comportamentos aceitos como se fossem normais dentro da nossa sociedade.
E a igreja, quando confrontada, parece que está na contramão da cultura,
porque ela é, por assim dizer, o último bastião de resistência.
Porém isso não se aplica a todas as igrejas, uma vez que muitas delas já
adotaram comportamentos estranhos às Sagradas Escrituras. Num português
claro: liberaram geral para a juventude e para os casais. Essas igrejas não
abordam esses assuntos sexuais. Preferem dizer que é uma questão pessoal e
que solteiros e casados precisam resolver entre si e Deus. Simplesmente essas
lideranças não querem se envolver nesse assunto.
Mas o cristianismo bíblico rompe com o mundo, com a cultura,
caminhando na contramão, não porque ele é chato, mas porque a cultura se
desviou dos caminhos de Deus. A cultura foi contaminada, impregnada de
valores contrários à Palavra de Deus, e o cristão tem que fazer uma escolha:
se ele vai seguir o que a Palavra de Deus diz ou se vai seguir o caminho da
cultura, da sociedade, da mídia, dos artistas, do que se propaga por todos os
meios.
O que vemos aqui é um confronto. Paulo escreve à igreja de Tessalônica e
a chama (chamado este que se estende a nós) a tomar uma posição naquela
sociedade completamente permissiva, estabelecendo uma separação muito
clara entre a igreja e o mundo nessa área da sexualidade.
Chamado à santidade
Ele começa dizendo que a santificação é a vontade de Deus para nós, como
vemos nos versos de um a três. Notemos que ele já havia ensinado isso
quando estava com aquele povo. No primeiro verso, Paulo diz: “Finalmente,
irmãos, nós vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como de nós
recebestes, quanto à maneira por que deveis viver e agradar a Deus, e
efetivamente estais fazendo, continueis progredindo cada vez mais”.
Quando Paulo estava em Tessalônica, ele ensinava àquele povo a maneira
pela qual deveria viver e agradar a Deus, porque essa é a função do pastor.
Nós não temos outra função. É esse o nosso objetivo. É isso que significa a
função pastoral e presbiteral. Pastorese presbíteros são aqueles homens que
Deus levantou na igreja para, por meio deles, dizer a ela de que maneira deve
viver e agradar a Deus, porque esse é o alvo da nossa existência. Esse é o
objetivo da minha vida: agradar a Deus e não a mim mesmo nem às outras
pessoas. É claro que se eu puder agradar a Deus e às outras pessoas será
ótimo, mas nem sempre isso é possível. Às vezes, temos que escolher a quem
vamos agradar. Isso Paulo havia ensinado. Ele diz: “Vocês continuem
fazendo isso, eu sei o que vocês estão fazendo, progridam, vão em frente,
vocês começaram, mas têm a vida toda pela frente para aprender a viver e
agradar a Deus”.
No verso dois, Paulo diz: “porque estais inteirados de quantas instruções
vos demos da parte do Senhor Jesus”. Mais uma vez ele está se referindo ao
templo. Paulo diz que, quando estava com eles, havia dado muitas instruções.
O apóstolo não era só um teórico, não era alguém que falava de filosofia ou
de aspectos teológicos profundos e misteriosos, embora ele fale disso
também, mas a função dele como pastor era ensinar, instruir, dar orientações
práticas à igreja sobre como ela deveria viver e agradar a Deus, e isso ele
tinha feito. Ele tinha dado essas instruções.
Quando ingressamos em uma igreja, tomando parte nela, estamos,
claramente, dizendo: “Estamos aqui com o objetivo de servir a Deus com
essa comunidade! Queremos nos tornar parte dela. Para tanto, ouviremos o
que nos é instruído, o que nos é dito a respeito de como viver e agradar a
Deus”. Logo, se é parte do trabalho pastoral instruir a igreja como ela deve
viver e agradar a Deus, então faz parte da igreja escutar os seus pastores
enquanto eles estão dentro da Palavra de Deus. Enquanto assim eles fizerem,
cumpre ouvir, colocar no coração e pôr em prática.
Essa é a razão pela qual nós vamos à igreja. Não há outra razão. Nós
temos tantas coisas boas quando estamos congregados. Revemos os amigos,
os familiares, enfim, é muito agradável. Todavia, se fosse só para isso,
poderíamos fazê-lo no clube, não é verdade? Seria até mais agradável.
Porém, ao nos reunirmos, somos instruídos pela Palavra de Deus e
prestamos culto a ele; ouvimos sua voz e, ao fim do culto, saímos para servi-
lo.
O mais importante da nossa vida não acontece na igreja, aos domingos,
mas na segunda-feira pela manhã até o sábado à noite. O momento que
passamos no domingo na igreja é para aprendermos o que devemos fazer de
segunda até sábado à noite, quer seja no nosso trabalho, na nossa família, na
nossa escola, na nossa vizinhança, no nosso prédio, no nosso negócio, enfim,
em todas as áreas da vida. O ensino que temos no domingo, na igreja, é o
ponto de partida, entretanto, é na nossa vida de segunda até sábado à noite
que viveremos como cristãos. É nela que desenvolveremos e aplicaremos o
que aprendemos.
Essa digressão que fizemos aqui também é feita pelo apóstolo Paulo e é,
por meio dela, que ele prepara o que dirá em seguida, no verso três, que tem
relação com a vontade de Deus: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa
santificação, que vos abstenhais da prostituição”.
Por que ele tinha feito tudo isso? Por que ele tinha ensinado a igreja dessa
forma? Porque a vontade de Deus para a igreja é a santificação. Santificação
é uma palavra difícil de traduzir, pois ela abarca muitas ideias. Uma delas é a
ideia de separação do mundo ou de consagração a Deus. Também tem a ver
com os rituais de purificação no Antigo Testamento, em que objetos e
pessoas eram consagrados a Deus para o uso dele.
É uma palavra prenhe de significados, ou seja, não tem como traduzir por
outra que a expresse completamente ou esgote seu significado. Então,
poderíamos dizer que santificação significa nos separarmos das práticas
contrárias a Deus, ou seja, da maneira de viver contrária a Deus. Significa nos
consagrarmos, entregarmo-nos inteiramente a Deus para vivermos de acordo
com a vontade dele, voluntariamente, sem reservas. Entregarmo-nos
completamente! É isso que a palavra santificação significa. É isso que Paulo
diz ser a vontade de Deus.
Porém, às vezes, a vontade de Deus nos parece misteriosa. Não sabemos
por que determinadas coisas acontecem. Às vezes, morre uma pessoa; um
acidente acontece; uma coisa trágica ocorre em uma família, e nós ficamos
nos perguntando: “Por quê? Por que isso aconteceu?”.
Provavelmente, não teremos resposta neste mundo. A providência de Deus
é frequentemente misteriosa, e ele não revela a razão pela qual faz
determinadas coisas. O que ele exige de nós é que confiemos que ele é justo,
sábio, bom e verdadeiro e que ele nunca fará o que é errado, o que é injusto.
Ele nunca agirá de maneira injusta conosco. Ele pede que nós confiemos
nele, mesmo que nós não compreendamos.
Mas o meu ponto é que há uma vontade de Deus que nos é oculta. Nós não
sabemos, mas há uma vontade de Deus declarada, pública e conhecida de
todos.
Encontraremos no Antigo e no Novo Testamentos vários pontos
expressando o desejo, o querer, a vontade e o propósito de Deus. Ele revelou
na Bíblia sua vontade para conosco. É claro que se você, leitor, perguntar a
mim: “Augustus, qual a vontade dele para minha vida? Deus quer que eu me
case ou quer que eu fique solteiro?”, eu, certamente, não terei resposta. É
claro que torcerei para você se casar. Ou, se você perguntar: “Deus quer que
eu more em Goiânia ou em Brasília, pastor?”. Ora, se dependesse de mim,
você moraria na minha cidade, Goiânia, para que fique aqui com a nossa
igreja. Você ainda poderia questionar: “Deus quer que eu seja médico ou que
eu seja jogador de futebol?”. Sinceramente, eu direi que não sei se Deus quer
que você seja médico ou jogador de futebol – desde que você não jogue pelo
Corinthians, para mim estará ótimo!
Brincadeiras à parte, há muita coisa relacionada com a vida, com as
decisões para as quais nós não temos uma resposta direta de Deus. Todavia,
uma coisa eu sei: quer você seja jogador de futebol ou médico, quer você vá
para Brasília ou Goiânia, quer você case ou fique solteiro, a vontade de Deus
sempre vai ser que você seja santo, sempre, seja em Brasília ou em Goiânia,
em um consultório ou em um campo de futebol, solteiro ou casado. A
vontade de Deus para você será sempre a santificação.
Para isso não há questionamento. Não precisamos gastar nosso tempo
perguntando: “Será que posso fazer determinada coisa pecaminosa?”. A
resposta é NÃO! Ou ainda: “Será que Deus não abriria uma exceção por
conhecer a minha situação? É só um errinho!”. Novamente a resposta é
NÃO! Ou então: “Deus não sabe meu estado? Eu sou um pecador miserável,
eu também tenho as minhas necessidades!”. De novo, a resposta é NÃO!
A vontade de Deus é sempre a santificação. Sempre. Sempre. Em todas as
circunstâncias. Paulo detalha isso, porque a santificação abrange todas as
áreas da nossa vida.
Agora, o apóstolo trata de um assunto que ele não deixou terminado, mas
em aberto com aquela igreja, que era a questão da vida sexual. Como é
possível notar, na segunda parte do verso três, ele diz: “[...] que vos
abstenhais da prostituição”.
Então, a partir desse ponto, ele se dedica à questão da santificação na área
sexual.
Não é muito perceptível na tradução portuguesa, mas na língua original é
possível notar três pontos que Paulo pode ter colocado. Primeiro (verso 3b):
“[...] que vos abstenhais da prostituição”. Segundo (versos 4 e 5): “que cada
um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o
desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus”. Terceiro
(verso 6): “e que, nesta matéria, ninguém ofenda nem defraude a seu irmão;
porque o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos avisamos e
testificamos claramente, é o vingador”.
Sendo assim, dentro da área de santificação, entrando na área sexual, Deus
tem três orientações: a primeira é abster-se da prostituição; a segunda é
possuir o corpo da maneira certa; e a terceira é não ofender ninguém nessa
área.
Veremos cada uma dessas áreas abordadas por Paulo e, ao fim,
receberemos quatro encorajamentos e aplicações apresentados por

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