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VISAGISMO Claudia Stoeglehner Sahd Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os procedimentos clínicos e estéticos realizados para har- monização pessoal. � Reconhecer o visagismo aplicado à harmonização facial. � Discutir a integração do esteticista nas cirurgias plásticas. Introdução A imagem corporal e facial é, hoje, um tema em evidência no mundo corporativo. Vários estudos vêm sendo realizados, dada a relevância do problema em nível nacional. O modelo de beleza vem mudando de tempos em tempos, gerando conflitos entre beleza real e beleza ideal, imposta pela mídia, que estimula a busca de soluções, pelas mulheres, como dietas e cirurgias plásticas, muitas vezes prejudiciais à saúde física e mental. A construção da imagem do indivíduo está ligada com a acei- tação de suas características pessoais físicas e comportamentais, e, para que esteja satisfeito com a sua imagem, primeiramente, deve aceitá-la. Neste capítulo, você aprenderá a aplicar o visagismo nos procedi- mentos clínicos e estéticos, visando à harmonização pessoal, bem como aprenderá a aplicar o visagismo na harmonização facial. Além disso, compreenderá a importância do esteticista nas cirurgias plásticas. Procedimentos clínicos e estéticos na harmonização pessoal A imagem pessoal é de suma importância para transmitir o que a pessoa é e as mensagens que deseja passar através de sua imagem; ou seja, atua na transmissão de sua identidade. Quando utilizada de forma adequada, a imagem complementa e melhora as habilidades do indivíduo nos âmbitos pessoal e profissional. Ao conhecer alguém, você passa inconscientemente a analisar essa pessoa e a sua imagem, que transmite as primeiras sensações, sejam elas negativas ou positivas. O profissional da estética precisa aprender a avaliar seu cliente como um todo, conhecer sua personalidade e saber até onde poderá alterar sua identidade para pode auxiliar na melhora de sua imagem pessoal (FRANCINI, 2002). Muitas vezes, as pessoas só se enxergam da forma que os outros as veem, podendo ter um aspecto negativo de sua imagem, e, com isso, o visagista também tem o papel de conhecer o interior do indivíduo para conseguir realizar um trabalho que valorizará seu cliente. As formas físicas corporais variam de acordo com cada pessoa, além de que, com o passar do tempo, também ocorre alterações no corpo dos indivíduos. No visagismo, é importante valorizar a imagem pessoal de acordo com as formas físicas, o estilo de vida e a personalidade de cada pessoa. O visagista pode identificar e avaliar o formato corporal e suas características; todavia, deve-se levar em consideração o indivíduo com um todo, uma vez que seu trabalho pode influenciar não apenas na parte da estética e da beleza, mas também na parte psicológica. Dessa forma, o uso do visagismo pode auxiliar indivíduos com disfunções estéticas corporais, demonstrando os pontos positi- vos e negativos de cada pessoa, devido ao conhecimento do formato de corpo, da personalidade, do estilo de vida e do que combina com o corpo de cada cliente. Portanto, o visagista pode auxiliar a indicar o que poderia melhorar as qualidades corporais de acordo com o que o cliente deseja, mas também com todas as características analisadas; com isso, a harmonização pessoal e sua manutenção são fortes aliados para melhorar e manter a autoestima e a imagem pessoal (BETTEGA; EMILIANO, 2015; HALLAWELL, 2008). A busca pela harmonização física e a incessante luta para alcançar a beleza faz a procura por tratamentos estéticos aumentar de forma significativa, de modo que a aparência é extremamente valorizada. O mercado oferece produtos e procedimentos estéticos com resultados satisfatórios e imediatos. Para o sucesso no tratamento de qualquer disfunção estética no âmbito corporal, Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas2 seja para estrias, lipodistrofia localizada, lipodistrofia ginoide ou fibroedema geloide (FEG), o conhecimento do profissional é essencial, bem como sua qualificação e atualização, pois, assim, poderá escolher os tratamentos mais adequados, obtendo excelentes resultados (SAHD, 2019). Disfunções corporais que interferem na harmonização corporal Na vivência dos atendimentos em clínicas e centros de estética, o profissional verificará que vários pacientes relatam sentir incômodos, com disfunções que acometem a região facial e corporal. Para conhecer o melhor tratamento, torna-se necessário o entendimento completo de cada disfunção (SAHD, 2019). As estrias são lesões cutâneas inestéticas lineares, atróficas. Inicialmente, apresentam características eritematovioláceas e, após algumas semanas ou meses, branconacaradas, resultantes da ruptura de fibras elásticas da derme. A patogênese das estrias é multifatorial, e os possíveis fatores que as de- sencadeiam são predisposição genética, fatores bioquímicos (hormonais) e fatores mecânicos. A predisposição genética, relacionada a um ou mais fatores, poderá desen- cadear estrias. Dentre os fatores mecânicos, podemos verificar o estiramento crônico e progressivo da pele, o crescimento corporal na puberdade, o período gestacional, o desenvolvimento muscular localizado (devido à prática de exercícios físicos) e a inserção de prótese estética (BORGES, 2006). Alguns fatores hormonais que podem ser desencadeadores das estrias são: � mudanças fisiológicas na puberdade, associadas ao crescimento corporal; � reposição hormonal na menopausa; � na corticoterapia tópica ou sistêmica, podem aparecer estrias largas e difusas. As estrias, nas fases iniciais, apresentam-se planas e rosadas, podendo ser acompanhadas de prurido (Figura 1). Gradualmente, aumentam seu com- primento e largura e assumem uma cor avermelhada, recebendo o nome de estria rubra, até o ponto em que se tornam esbranquiçadas. A superfície pode estar enrugada, mas, em geral, são retilíneas e possuem alguns milímetros, 3Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas podendo chegar até 30 cm de comprimento, apresentando largura variada de 2 a 5 mm e chegando até 3 cm (GUIRRO; GUIRRO, 2002). Figura 1. Estrias em região abdominal. Fonte: Pinheiro (2019, documento on-line). De acordo com Guirro e Guirro (2002), as estrias apresentam duas fases distintas, mas são classificadas perante o grau de acometimento: � Fase inicial: também chamada de fase inflamatória, ocorre quando a derme está edematosa. Nessa fase, as estrias são avermelhadas, finas e pode ocorrer prurido, sendo chamadas de estrias rubras. Quando ocorre o rompimento das fibras, isso se reflete na coloração alterada da pele. Caracterizada por uma cor vermelha de um tom claro, indica o processo inflamatório provocado pela distensão das fibras elásticas. � Fase tardia: quando o processo de formação já está instalado, na fase atrófica, aparentam aspecto esbranquiçado e são denominadas albas. A pele estriada possui alterações nas fibras colágenas, nos fibroblastos e na substância fundamental amorfa, causando uma lesão dérmica inestética. � Lipodistrofia localizada: o tecido adiposo, que consiste em uma con- formação de tecido conectivo, formado por células adiposas, tem várias Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas4 funções no organismo, tais como barreira física ao trauma; isolante térmico; participa da secreção de proteínas e peptídeos bioativos com ação local e distante; e armazena energia. O desenvolvimento irregu- lar do tecido adiposo ficou conhecido como lipodistrofia localizada, tendo algumas formas de origem, por exemplo: genética, metabólica, influência hormonal ou alterações posturais e circulatórias (CUCÉ; FESTA NETO, 2001). As células adiposas podem sofrer, na infância, algum processo errôneo no desenvolvimento, o qual se acredita ser o principal motivo para a formação da adiposidade, além da associação com os fatoresjá descritos. A lipodistrofia localizada se manifesta como um desenvolvimento irregular do tecido conectivo subcutâneo. Desse modo, os adipócitos mostram-se aumentados em regiões específicas, com algumas irregularidades do tecido e aparência ondulada (GUIRRO; GUIRRO, 2002). O tecido adiposo se apresenta como um reservatório de energia, essen- cialmente em períodos de jejum prolongado. Dessa maneira, a lipodistrofia localizada acaba tendo suas funções até certa quantidade no corpo, depois disso passa a ser um fator prejudicial e um incômodo do ponto de vista estético (Figura 2) (CUCÉ; FESTA NETO, 2001). Figura 2. Lipodistrofia localizada em região abdominal. Fonte: BBC Brasil (2016, documento on-line). 5Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas Segundo Borges (2006), a patogênese da lipodistrofia localizada possui vários fatores envolvidos, e alguns podem ser desencadeadores, como: � Predisposição genética: a influência genética pode ser um fator pri- mordial na lipodistrofia localizada, pois uma alteração gênica pode acarretar essa disfunção. � Deficiência metabólica: ocorre um desequilíbrio nos triacilgliceróis do tecido adiposo, e a lipólise pode ser alterada. � Influência hormonal: a alteração dos hormônios na puberdade pode ter grande influência no depósito excessivo de lipídeos no tecido adiposo. � Alterações circulatórias: alterações na vascularização do tecido adiposo podem comprometer o funcionamento e a lipólise. As manifestações referentes à liposdistrofia localizada se baseiam na queixa principal do indivíduo que será atendido. Serão observados os locais com excesso de tecido adiposo, os quais não apresentarão ocorrência de dores ou processos inflamatórios. Os adipócitos sintetizam e liberam uma pluralidade de peptídeos e não peptídeos, expressando alguns fatores que ultrapassam sua capacidade de depositar e mobilizar triacilgliceróis, retinoides e colesterol. Essas características concedem uma interação do tecido adiposo com outros órgãos, assim como com outras células adiposas. A ponderação relevante se dá devido ao fato de que os adipócitos secretam leptina, que institui o tecido adiposo como sendo um órgão endócrino que se expressa com o sistema nervoso central. O FEG — ou celulite, como é conhecido popularmente — é uma patologia multifatorial em que ocorrem estágios de alteração da matriz intersticial, aumento do adipócito, estase microcirculatória e, dependendo do indivíduo, pode evoluir para uma fibrose. O início das transformações na patogênese do FEG ocorre na matriz intersticial, por meio de modificações bioquímicas dos proteoglicanos e mucopolissacarídeos, que passam por uma hiperpolimeri- zação. A matriz intersticial sofre um aumento na viscosidade, resultando em danos às suas principais funções (GUIRRO; GUIRRO, 2002). Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas6 A microcirculação fica comprometida, acarretando má condução da água e iniciando um linfoedema local, seguido de compressão dos pequenos vasos, sofrimento tecidual e hipertrofia do adipócito. Estabelece-se, assim, um círculo vicioso, com degeneração cada vez maior de cada componente, gerando uma dificuldade de reversão do processo fisiológico (CUCÉ; FESTA NETO, 2001). A Figura 3, a seguir, apresenta as transformações na pele devido ao FEG. Figura 3. Transformações na pele em função do FEG. Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com. Pele normal Epiderme Derme Saudável Não saudável Casca de laranja Colágeno e elastina Adipócitos Tecido conectivo Fibrose do tecido conectivo Adipócitos aumentados Camada de gordura de reserva Músculos Todas as alterações mais avançadas resultam em fibrose da matriz in- tersticial, com proliferação desordenada de fibras colágenas e perda da sua elasticidade, levando à compressão dos lóbulos adipocitários. Alguns fatores são predisponentes, desencadeantes e agravantes, como: hormonais e medicamentosos, sedentarismo e dieta, predisposição genética e familiar, distúrbios circulatórios e gravidez (GUIRRO; GUIRRO, 2002). 7Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas Um sinal considerado característico da disfunção FEG é o aspecto “casca de laranja”. Inicia-se com o enrijecimento do interstício e das fibras colágenas, que sofrem com o declínio de sua elasticidade, associado ao aumento dos adipócitos. O conjuntivo da derme se conecta à fáscia profunda por meio das trabéculas interlobulares do tecido adipocitário. A ausência de distensibilidade das trabéculas interlobulares permite um aumento da superfície da pele sobre os adipócitos e, dessa forma, uma retração nas regiões equivalentes à inserção das trabéculas. Essa modificação no relevo cutâneo consegue ser observada antes da hipertrofia das células adiposas, e esse aspecto de casca de laranja fica em evidência quando ocorre contração do tecido muscular. Procedimentos clínicos e estéticos As inovações das técnicas, dos métodos e dos recursos na estética corporal crescem todos os dias devido à grande exigência dos consumidores. Diante disso, torna-se necessário um estudo profundo das principais disfunções estéticas corporais que acometem os pacientes que procuram as clínicas de estética (SAHD, 2019). Alguns métodos e técnicas que podem ser implementados nos tratamentos das disfunções estéticas corporais podem ser vistos a seguir. � Criolipólise: em contato com baixas temperaturas, os adipócitos (célu- las de gorduras) sofrem apoptose e são eliminados naturalmente pelo organismo. � Vacuoterapia: o tratamento libera efeitos importantes para a diminui- ção de medidas, visto que aumenta o metabolismo local e melhora a vascularização, levando a uma maior hidrólise dos triacilgliceróis dos depósitos de gordura. � Eletrolipoforese: consiste na aplicação de uma corrente elétrica de baixa frequência para garantir a redução da lipodistrofia localizada. � Lipocavitação: utiliza o ultrassom com ondas mecânicas de alta ou baixa frequência, dependendo da profundidade que se deseja atingir. Essas ondas formam o processo conhecido como cavitação, produzindo microbolhas, levando à lise celular dos adipócitos. � Criofrequência: essa tecnologia é baseada nos fundamentos da radiofre- quência quando se fala de efeito térmico. Apresenta energia superior e Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas8 causa resfriamento por condução de até −10ºC da camada superficial, com o objetivo de preservação tecidual, devido ao aumento de tem- peratura interna ser maior do que na radiofrequência. A exposição de altas (internas) e baixas (externas) temperaturas provoca choque térmico, que atua no tecido adiposo, levando à lise celular por meio do processo de lipólise. Além disso, essa técnica atua na produção de colágeno, elastina, acarreta no aumento da oxigenação, vasodilatação, metabolismo celular e desintoxicação tecidual. � Microdermoabrasão (peeling de cristal ou peeling de diamante): pro- move uma esfoliação mecânica que auxilia na remoção da camada mais superficial da pele, enquanto a pressão negativa (sucção) remove as células mortas. Esse método consiste na possibilidade da regeneração cutânea, originando uma pele mais lisa, uniforme e elástica. Essa téc- nica também pode ser utilizada na região facial para o tratamento do envelhecimento cutâneo, acne, bem como de discromias, comentados posteriormente. � Eletrolifting: trata-se de uma microcorrente galvânica, que utiliza uma caneta, com uma pequena agulha na ponta e um eletrodo dispersivo, vinculada a um equipamento, o qual gera corrente elétrica para a região de aplicação. Com o objetivo de produzir um processo inflamatório pela ação da agulha e da corrente elétrica, esse procedimento é essencial para a estimulação do fibroblasto, célula responsável pela produção de colágeno e elastina, sendo fundamental no processo regenerativo de atrofia tecidual. Essa técnica também pode ser utilizada para minimizar os efeitos do envelhecimentona região facial. Visagismo aplicado à harmonização facial A primeira avaliação que se tem de um indivíduo é dada pela imagem pessoal em harmonia, pois, independentemente da vontade, quando se observa a aparência de uma pessoa, retira-se imediatamente uma gama de informações significativas: sexo, idade, raça, nível socioeconômico, entre outras. A imagem do indivíduo é composta por seu formato de rosto, feições, cor de pele, corte de cabelo, penteado, coloração, maquilagem, adornos e, no caso dos homens, pelos faciais, e o profissional visagista pode apenas realizar algumas adequações dos formatos com linhas mais harmônicas. Esses fatores fazem uma declaração de quem o indivíduo é por meio da linguagem visual (AGUIAR, 2011). 9Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas Os conhecimentos sobre a anatomia, a estrutura facial, os formatos e as proporções adequadas para cada tipo de rosto — os temperamentos — são de grande importância para auxiliar o profissional na aplicação das técnicas de visagismo. Esses conhecimentos são fundamentais para realizar correções necessárias na face por meio de procedimentos não invasivos, com o objetivo de harmonizar a região facial. O aprendizado sobre as formas geométricas pode servir como referência para ajudar durante a análise, mas também para facilitar a realização de técnicas na busca pela harmonização. Além disso, saber identificar os elementos faciais que estão envolvidos com as principais características de cada pessoa dentro do visagismo pode direcionar a escolha dos melhores procedimentos para sinergia e embelezamento facial, mas sempre respeitando a identidade do cliente. Dessa maneira, o uso de visagismo, aliado ao saber da harmonia facial, possibilita a realização de intervenções de forma mais apropriada, obtendo resultados mais satisfatórios (BETTEGA; EMI- LIANO, 2017; HALLAWELL, 2008; ARAUJO; SEBBEN; ELERY, [201–?]). A estética e a beleza caminham juntas, no entanto, a estética não tem apenas a finalidade de embelezar por meio de alguns artifícios, mas sim se preocupa com as necessidades da pele e os cuidados destinados a ela. Para o belo sobressair na imagem, é de suma importância cuidar da essência, dando a importância aos tratamentos estéticos, que oferecem bem-estar, melhora da autoestima e autovalorização da imagem. Quando se trata da face, as alterações inestéticas, como acne vulgar, hiperpigmentação e o próprio envelhecimento cutâneo, levam o cliente a buscar tratamentos. Com o passar do tempo, alguns sinais do envelhecimento começam a aparecer, alguns mais evidentes e aparentes na pele. O envelhecimento é um processo natural, dinâmico e progressivo, no qual o organismo passa por diversas modificações bioquímicas, fisiológicas, morfológicas e psicológicas, que levam a um processo de redução nas funções orgânicas e funcionais, variando de indivíduo a indivíduo. Esse processo também pode levar a uma maior vulnerabilidade e incidência de processos patológicos. O envelhecimento, embora inevitável, pode ser regulado e influenciado geneticamente pelo estilo de vida, pelas características ambientais e também pelas condições nutricionais (KEDE; SABATOVICH, 2004). Na Figura 4, é possível visualizar as alterações cutâneas do processo do envelhecimento, em que se observa a flacidez tissular e o surgimento de rítides, principalmente na região orbital e no sulco nasogeniano. Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas10 Figura 4. Evidências do envelhecimento facial. Fonte: yomogi1/Shutterstock.com. Outra disfunção que acomete a pele — de forma mais específica, os folículos pilossebáceos — de muitas pessoas é a acne vulgar, que pode ser causada por vários fatores, como a hereditariedade, a qual pode ser transmitida pelos genes autossômicos dominantes; o tamanho da glândula sebácea; a queratinização anômala folicular e sua atividade durante o período da puberdade devido à in- fluência hormonal. A acne vulgar tem uma patogenia multifatorial que envolve algumas etapas principais, como: hipersecreção sebácea por estimulação da glândula sebácea mediada por androgênio, queratinização anormal, obstrução dos folículos com formação de comedões, colonização do Propionibacterium acnes e inflamação folicular e dérmica (Figura 5) (GUIRRO; GUIRRO, 2002). 11Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas Figura 5. Hemiface direita com acne vulgar e hemiface esquerda sem acne vulgar. Fonte: Africa Studio/Shutterstock.com. Segundo Guirro e Guirro (2002), a acne tem sua classificação dependendo da gravidade de acometimento: � Acne grau I ou comedônica: nesse grau, há presença de comedões (comedões abertos e comedões fechados), podendo haver presença de algumas pápulas, mas sem sinais inflamatórios. � Acne grau II ou papulopustulosa: há presença de comedões abertos, pápulas (com ou sem eritema) e pústulas, com sinal inflamatório pontual. � Acne grau III: presença de comedões abertos, pápulas, pústulas. A reação inflamatória se deve à ruptura da parede folicular e à colonização de bactérias, que atinge o folículo piloso, formando nódulos. � Acne grau IV ou conglobata: forma avançada da acne, com caracterís- ticas da acne grau III, mas associada a nódulos purulentos e grandes, formando abscessos e lesões queloidianas. � Acne grau V ou fulminante: forma rara, com características da acne conglobata e associada a sintomas sistêmicos, com febre súbita, leu- cocitose, poliartralgia, eritema, necrose. Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas12 O quadro clínico da acne vulgar é polimorfo, caracterizado por comedões, papulo- pustulosa e nódulos localizados na face, nos ombros e na porção superior do tórax. Tem associação com a seborreia. � Comedões: lesão básica da acne, chamada de acne não inflamatória. Apresenta acúmulo de células queratinizadas e sebo no infundíbulo folicular. Podem ser encontrados de duas maneiras no tecido cutâneo: ■ comedão aberto: conhecido como cravo, possui cor enegrecida na extremidade da lesão, devido à oxidação da melanina; ■ comedão fechado: conhecido como cravo branco, pode, em algumas situações, ser da cor da pele. � Papulopustulosa: lesões inflamatórias de intensidade variável e dolorosa. A pele apresenta processo inflamatório, evoluindo para rompimento dessas lesões, com formação de crostas, e acaba gerando cicatrizes. � Nódulos: processo inflamatório considerável, que atinge a profundidade do folículo pilossebáceo e rompe a parede folicular. Outra alteração cutânea comum são alterações na pigmentação, como as dis- cromias, conhecidas como manchas ou máculas pigmentares, que podem estar relacionadas ao aumento, à diminuição ou à ausência de melanina (pigmento que dá cor à pele). As alterações de cor da epiderme podem se apresentar de maneira local ou difusa, com tonalidades variadas de cor. Essas alterações são, em sua grande maioria, de causa multifatorial e são classificadas clinicamente em: hiperpigmentação (mais escuras do que a pele normal), hipopigmentação (mais claras do que a pele normal) e acrômicas (ausência de pigmentação normal) (GUIRRO; GUIRRO, 2002). Essas alterações pigmentares resultam do excesso do sistema melano- citário. A hipercromia consiste em uma produção excessiva de melanina, causando uma coloração mais escura que o tom de pele. Alguns fatores podem desencadear as discromias, como: envelhecimento, exposição excessiva do sol, gravidez (fator hormonal), distúrbios endócrinos e o tratamento com hormônios sexuais. São exemplos de discromias faciais: melasma ou cloasma (terminologia utilizada na fase gestacional): manchas pigmentadas, com tom castanho, que se desenvolvem e aumentam com a exposição ao sol e afetam mulheres grávidas, pessoas com propensão genética ou que fazem uso de anticoncepcional; efélides ou sardas: manchas com tom castanho-claro que aparecem na infância, após exposição solar, e afetam pessoas de pele clara e ruivas; melanose solar (senil):manchas marrons que variam de tons claros 13Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas a escuros, surgem no dorso das mãos e nos antebraços, em indivíduos com mais de 40 anos (BORGES, 2006). Para entender melhor o conteúdo, faça a leitura do artigo científico Causas e tratamento da hipercromia periorbital, de Glauber Alcântara Oliveira e Andres Raimundo Paiva. Procedimentos clínicos e estéticos para harmonização facial Com o objetivo de melhorar os aspectos do envelhecimento cutâneo, vêm surgindo novas técnicas e métodos que podem ser empregados para favorecer o rejuvenescimento da pele. Algumas técnicas usadas para o tratamento do envelhecimento cutâneo são descritas a seguir. � A aplicação microcorrentes é capaz de estimular a microcirculação local, melhorando a nutrição e a captação de oxigênio na pele, dando um efeito revitalizante. Além disso, aumenta o transporte de aminoá- cidos e a síntese de proteínas, como colágeno e elastina, por meio da estimulação de fibroblastos, bem como melhora o sistema linfático. � A luz intensa pulsada, que possibilita o tratamento de várias lesões causadas pelo fotoenvelhecimento, pode ser utilizada em diversas áreas do corpo, como face, dorso das mãos, colo e pescoço. � A técnica de radiofrequência eleva a temperatura tecidual a 41°C, ace- lerando e contraindo o colágeno existente e aumentando a produção de novas fibras de colágeno pela ativação de fibroblastos. Assim, essa técnica melhora a elasticidade e a força tensora dos tecidos que contêm colágeno, dando sustentação e firmeza à pele, melhorando, então, a flacidez. � A iontoforese consiste na aplicação de corrente elétrica (galvânica), utilizada para aumentar a permeação de ativos, possibilitando, assim, uma melhor ação do ativo para tratamento da disfunção. O tratamento da acne visa à correção da hiperqueratinização folicular, à redução da atividade das glândulas sebáceas e da população de Propionio- Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas14 bacterium acne, bem como de inflamações. O tratamento pode ser por meio de farmacoterapia, cosméticos ou por procedimentos estéticos, como limpeza de pele, peelings mecânicos (cristal; ultrassônico; diamantes — dependendo do grau da acne) e químicos, fototerapia (laser — auxilia muito nas cicatrizes de acne; luz intensa pulsada; diodo emissor de luz [LED], alta frequência e desincruste. � A limpeza de pele pode ser utilizada para remover os comedões, com o objetivo de remover a sujidade da pele e prepará-la para os demais procedimentos futuros. � Os peelings podem ser usados para reduzir as manchas e os sinais superficiais de cicatrizes provocados pela acne. � O uso de fototerapia é indicado devido às suas propriedades anti- -inflamatórias e bactericidas, além da capacidade de reorganização do colágeno do tecido cutâneo. O tratamento de discromias pode ser utilizados com objetivo de inibir a atividade dos melanócitos, inibir a síntese de melanina, destruir os grânulos de melanina, para fotoproteção e esfoliação, a fim de renovar a epiderme. Assim, algumas técnicas que podem ser utilizadas para o tratamento dessa disfunção são eletroterapia, peelings mecânicos e químicos e fototerapia (laser; luz intensa pulsada; LED). � A eletroterapia pode ser utilizada juntamente com cosmecêuticos, a fim de melhorar a permeabilidade cutânea, proporcionando, assim, uma melhora na ação do composto ativo. � Os peelings mecânicos, como o de cristal e o de diamante, realizam uma esfoliação, removendo a camada superficial da pele e amenizando os sinais da discromia. � Tratamentos estéticos com peeling químico superficial utilizando áci- dos podem atuar sobre a pigmentação cutânea epidérmica de diversas formas, proporcionando a inibição da melanogênese e da transferência da melanina para os queratinócitos, a quelação dos íons de cobre e ferro e a descamação epidérmica (renovação epidérmica). 15Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas Integração do esteticista nas cirurgias plásticas A participação do esteticista, quando trabalhada em parceria com cirurgiões plásticos ou dermatologistas, tem intuito de complementação, uma vez que visa a assegurar as indicações propostas por esses profissionais, fornecendo apoio e orientação ao cliente sobre a utilização das técnicas e dos recursos estéticos e cosméticos (CARVALHO, 2010). O profissional pode trabalhar com diferentes recursos estéticos, os quais têm como finalidade potencializar a procura pela melhor qualidade em seus serviços, que é de grande impor tância para melhores resultados, principalmente para a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, os recursos estéticos, quando empregados de forma correta, podem diminuir o tempo de repouso, acelerando a recuperação e proporcionado a reintegração mais rápida do paciente às suas atividades diárias (SDREGOTTI; SOUZA; PAULA, 2009). De acordo com Sahd (2019), as funções que competem ao tecnólogo em estética e cosmética para ação no pré e pós-operatório são: � Pré-operatório: o profissional de estética deve orientar os pacientes sobre a importância de realizar os procedimentos pré e pós-operatórios, para que o resultado final da cirurgia seja satisfatório. São técnicas estéticas utilizadas no pré-operatório: ■ Técnicas estéticas utilizadas no pré-operatório de cirurgia facial: – limpeza de pele; – hidratação profunda com uso de equipamentos (microcorrentes, ionização); – drenagem linfática para relaxamento e otimização do funciona- mento do sistema linfático; – uso de cosméticos homecare. ■ Técnicas estéticas utilizadas no pré-operatório de cirurgia corporal: – esfoliação e hidratação cosmética corporal; – drenagem linfática para diminuição de líquidos e toxinas; – uso de eletroestimulação muscular. � Pós-operatório: deverá ser realizado após a liberação médica. Quanto antes ocorrer o início do tratamento, maiores serão os benefícios para o paciente (SAHD, 2019). São técnicas estéticas utilizadas no pós-operatório: ■ Técnicas estéticas utilizadas no pós-operatório de face e corpo: – drenagem linfática manual; – uso de cosméticos e filtro solar; Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas16 – uso de cintas e faixas compressoras; – uso de eletroterapia (microcorrentes, vacuoterapia, ultrassom, radiofrequência, laser de baixa potência). De modo geral, o uso dessas técnicas pode apresentar algumas contraindi- cações, como: pacientes cardíacos portadores de marcapasso, uso de prótese metálica, neoplasias, patologias circulatórias, renais crônicos, gestantes, pro- cessos infecciosos e patologias neurológicas que contraindiquem o uso desses procedimentos, além de feridas abertas. A falta, o retardo, a ausência e o mau uso desses procedimentos podem levar à formação de fibroses, cicatrizes inestéticas, aderências, queloides e distrofias irreversíveis. AGUIAR, T. Personal stylist: guia para consultores de imagem. 6. ed. São Paulo: Senac, 2011. ARAUJO, A. M.; SEBBEN, M.; ELLERY, F. M. T. Fisiognomonia: um estudo para melhor compreensão do visagismo na estética facial. [201–?]. BBC BRASIL. Teste da barriga: qual é a melhor maneira de se livrar da gordura abdomi- nal?. 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-36768221. Acesso em: 10 jul. 2019. BETTEGA, R. D. C.; EMILIANO, S. O uso do conceito do visagismo na distorção da imagem facial e corporal. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Tecnologia em Estética e Imagem Pessoal) — Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2015. BORGES, F. S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte, 2006. CARVALHO, A. R. M. Oficina de postura profissional e normas técnicas para salão de beleza e clínica de estética. Recife: Senac, 2010. CUCÉ, L. C.; FESTA NETO, C. Manual de dermatologia. São Paulo: Atheneu, 2001. FRANCINI, C. Segredos de estilo: um manual para você se vestir melhor e ficarsempre bem. 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Aplicação do visagismo no âmbito de clínicas estéticas18
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