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Doenças da orelha externa A orelha externa é formada pelo pavilhão auditivo, meato acústico externo e membrana timpânica. O pavilhão auditivo é composto por duas partes: cartilaginosa e óssea. Funções da orelha externa: - Proteção mecânica - Manutenção da temperatura e umidade (presença dos folículos pilosos e glândulas sebáceas) - Localização da fonte sonora - Condução e amplificação do som OTITES EXTERNAS É um processo inflamatório da orelha externa. Existem algumas formas clínicas: Otite externa difusa aguda (mais comum); Otite externa localizada; Otite externa fúngica; Otite externa crônica; Otite externa necrosante ou maligna. Otite externa difusa aguda Inflamação difusa da orelha externa, também É uma celulite da pele e do tecido subcutâneo do conduto auditivo ocasionada por uma quebra na barreira protetora natural do conduto e facilitada pela presença de umidade no seu interior. Possui etiologia bacteriana e o P. aeruginosa é o patógeno mais frequentemente isolado em todos os estágios da doença, seguido por S. epidermidis e S. aureus. Existem fatores predisponentes ao quadro como: clima quente e úmido, trauma local, uso de prótese, ph alcalino. OBS: a orelha externa é formada basicamente por cerume, é então um local que possui ph ácido que dificulta a proliferação de bactérias. Assim, a remoção do cerume, imersão em água, uso de sabonetes e detergentes tornam esse ph mais alcalino, o que é prejudicial. O estágio clínico inicial é denominado pré- inflamatório e caracteriza-se por prurido, edema e sensação de plenitude (sensação de que o ouvido esta entupido). A otalgia é o sintoma mais característico do estágio inflamatório agudo, podendo refletir-se em toda a região periauricular. Pode ocorrer otorreia, que geralmente é clara e inodora. Em quadros mais graves, os sintomas intensificam-se e a otorreia se toma mais intensa, espessa e seropurulenta. Alguns sinais: otalgia a mobilização do tragus e/ou pavilhão, hiperemia, edema e otorreia. Pensando em tratamento as opções são: Analgesia Limpeza local: a medida isolada mais impor- tante no manejo terapêutico da otite externa. Fazer todo debridamento necessário, tirar peles, otorreia, deixando o ambiente limpo e seco. Gota tópica; com a limpeza feita fazer a aplicação do antimicroniano adequado, no caso Fluoroquinolonas. Otite externa localizada É uma foliculite do terço lateral do conduto auditivo haverá uma obstrução/inflamação das glândulas pilossebáceas causada por estafilococos aureus. Os principais sintomas são otalgia intensa, aguda e eventual hipoacusia devida à obstrução do conduto. A inspeção demonstra tumefação à entrada do conduto, acompanhada de hiperemia e edema da pele e enfartamento de linfonodos regionais. O exame otoscópico, delicadamente executado, apresenta tumefação circunscrita e membrana timpânica normal. Estabelece-se como tratamento a limpeza cuidadosa e delicada através de lavagem com água, para reduzir o edema local, e secagem completa do conduto. A seguir, é feita anti- sepsia e curativo local com creme contendo antibióticos associados a corticosteróides fluorados. O conduto é deixado aberto ou seja, não obliterado com gaze ou algodão. É necessário o uso de antibióticos por via sistêmica, analgésicos, anti-inflamatórios e calor através de compres- sas locais três a quatro vezes ao dia durante 15 minutos. Se houver ponto de flutuação: drenagem cirúrgica + atb sistêmica (cefalexina) Se não há ponto de flutuação: gota tópica e/ou atb sistêmico. Otite externa fúngica - Existem fatores desencadeantes para que se instale a otomicose, endógenos ou exógenos. Dentre os exógenos a umidade, o calor, a maceração da pele, as exsudações são os mais comuns. Além também do uso prolongado de antimicrobianos tópicos. São fatores endógenos os distúrbios hormonais, ausência de cerume e tampões epidérmicos. Os fungos mais encontrados como patógenos na orelha externa são do gênero Aspergillus e Candida. O quadro clínico é marcado pelo prurido e otorreia. O tratamento consiste na limpeza cuidadosa do CAE para a remoção do fungo e detritos acumulados, realizada através de aspiração sob visão microscópica. Se não houver perfuração timpânica a limpeza pode ser feita através da lavagem com água morna seguida de secagem completa do CAE com o uso de mechas de algodão e aplicação, anti-sépticos fungostáticos e antifúngicos líquidos e em creme como o nitrato de isoconasol. Obs: lembrar de manter a acidificação. Otite externa crônica É uma inflamação crônica do conduto auditivo. Não possui uma etiologia especifica, pode ser causada por uma hipersensibilidade, podem possuir culturas negativas. Quaisquer das patologias inflamatórias anteriormente referidas, se não tratadas adequadamente, podem estabelecer-se como otite externa crônica. É uma doença indolor (como esta cronicamente inflamada afeta a inervação), onde o prurido intenso e a hipoacusia são os sintomas mais frequentes. É caracterizada por diminuição da espessura, sinais de atrofia e ressecamento do epitélio do conduto auditivo externo associado à alteração da descamação das camadas superficiais, incluindo muitas vezes a membrana timpânica, propiciando e mantendo a estagnação de detritos epiteliais, fatores estes que favorecem as infecções recidivantes. O tratamento é local para que se restabeleça o ciclo de descamação da pele, conseguido através do uso de gotas tópicas, que promovem a remoção química da superfície da pele, in- terferindo nas camadas mais internas e normalizando o processo de queratinização alterado. Segue-se anti-sepsia com aplicação de timerosal em solução aquosa ou merbromino e curativo local com creme contendo antibiótico (gentamicina) e corticosteróide fluorado (betametasona). Obs: A este tratamento associa-se vacinoterapia antiestafilocócica sistêmica como prevenção às otites infecciosas bacterianas recidivantes. Otite externa granulomatosa Doença inflamatória do terço interno do CAE incluindo a membrana timpânica. Esta inflamação é revestida por secreção purulenta, escassa e cremosa proveniente de tecido de granulação justa timpânicas. Os sintomas predominantes são hipoacusia e prurido não intensos. O tratamento é local. É necessária limpeza realizada através de lavagem com água morna, seguida de secagem completa do conduto auditivo externo com mecha de algodão. Otite externa necrosante ou maligna É uma doença grave, de caráter infeccioso invasivo e necrotizante, que se inicia no conduto auditivo externo e que progride invadindo a re- gião parotídea, mastóide, ouvido médio e base do crânio. Presença de Pseudomonas aeruginosa que produz exotoxinas que são responsáveis pela neurotoxicidade reversível e enzimas que pro- vocam vasculites seletivas, trombose e necrose focal, havendo, assim, a destruição enzimática dos tecidos, determinando a evolução rápida e extremamente grave da doença. Os sintomas iniciais presentes são prurido, supuração, otalgia e hipoacusia, podendo evoluir com comprometimento de paralisia facial, sendo geralmente o primeiro nervo a ser acometido, e com a invasão progressiva podem ser acometidos outros nervos cranianos como o glossofaríngeo, vago e hipoglosso. Doenças da orelha média Ela se encontra na parte petrosa do osso temporal e é composta pela cavidade timpânica e pelo recesso epitimpânico. Na cavidade timpânica estão localizados os ossículos da audição (martelo, bigorna e estribo). Obs: a tuba auditiva na criança é mais horizontalizada, possui uma menor inclinação. Essa inclinação favorece a drenagem do que é produzido na orelha média para a nasofaringe. Quando a tuba possui uma menor inclinação ela favoreceo refluxo da nasofaringe para orelha média. Além disso, a tuba também realiza a equalização da pressão com o ambiente. Funções da orelha média: transmissão sonora, equalização de impedâncias e proteção contra sons intensos. Formas clínicas: Otite média aguda Otite média com efusão Otite média crônica não colesteatomatosa Otite média crônica colesteatomatosa Otite média aguda (OMA) É o processo inflamatório da mucosa da orelha média, com presença de secreção, de início agudo, acompanhado de sinais e sintomas de inflamação. Além disso, é uma das principais causa de atendimento médico em pediatria. E cursa como a principal complicação do resfriado comum. Possui etiologia viral ou bacteriana, mais comum bacteriana e os principais agentes: streptococcus pneumoniae, haemophillus influenzae e s. pyogenes. Quando o individuo/ a criança tem um quadro de IVAS será também afetada a tuba auditiva (pois possuem ligação), causando edema na TA e consequentemente uma disfunção na tuba auditiva, fazendo com que a pressão na orelha média fique cada vez mais negativa promove um acúmulo de secreções e então colonização de bactérias. LEMBRAR: aleitamento materno é fator de proteção. A OMA se inicia com a inflamação das vias aéreas superiores, principalmente na rinofaringe. Ocorre contaminação por ascensão de bactérias e vírus da rinofaringe até a tuba auditiva, provocando infecção da orelha média. A inflamação leva a secreção de transudato pela mucosa da orelha que, com o aumento progressivo de seu volume, leva a otalgia e abaulamento da membrana timpânica. Ocorre também ingurgitação dos vasos submucosos da membrana timpânica, permitindo sua visualização através da otoscopia. No quadro clássico de OMA o paciente relata otalgia aguda após quadro de IVAS, com piora da dor ao deglutir e assoar o nariz, comumente associada a hipoacusia e sensação de plenitude auricular. Pode ocorrer ruídos inespecíficos e o sinal de Scheibe. Em lactentes é difícil perceber a otalgia, então irritabilidade,recusa alimentar, choro e manipulação da orelha sugerem OMA. A ocorrência simultânea de sintomas de OMA com obstrução e secreção nasal fortalecem o diagnóstico. OBS: Crianças com episódios recorrentes (3 episódios em seis meses ou 4 em doze meses) podem evoluir com perda auditiva condutiva, que apesar de transitória, pode levar a atraso na aquisição de linguagem e, consequente má desempenho escolar com déficits de aprendizagem. Mas raramente, a OMA pode ter complicações fatais como meningite bacteriana e abscesso cerebral. O diagnóstico é clínico, os critérios são: otalgia súbita, febre e abaulamento da membrana timpânica. Deve também ser realizada a otoscopia os achados que indicam OMA são: abaulamento, opacidade, hiperemia, edema e hipervascularização da membrana timpânica e presença de líquido ou efusão na orelha média. O tratamento engloba analgésicos, acompanhamento da evolução de doença e avaliação da necessidade de antibioticoterapia, analisando a gravidade dos sintomas. A analgesia pode ser realizada com analgésicos simples como dipirona e paracetamol. Pacientes com quadro não grave podem receber conduta expectante. Ela se baseia no uso de exclusivo de sintomáticos com reavaliação do paciente após 48-72 horas, pois a maioria das otites são benignas, de etiologia viral e alcançarão resolução espontânea. Havendo obstrução nasal importante, pode-se associar prednisona aos sintomáticos. Quando necessária, a antibioticoterapia deve ser realizada visando cobrir os principais agente patogênicos. O antimicrobiano de primeira escolha é amoxicilina 50 mg/kg/dia, duas ou três vezes por dia, por dez dias. Pacientes com história anterior de OMA ou uso de amoxicilina em menos de 30 dias podem fazer uso de amoxicilina em altas doses 70 a 90 mg/ kg/dia, duas ou três vezes por dia, por dez dias. Outra opção é associar amoxicilina com ácido clavulânico: 40 a 60 mg/kg/dia, duas ou três vezes por dia, por dez dias. Otite média com efusão (secretora) - OME Presença de fluido na orelha média, na ausência de sinais ou sintomas de infecção. Essa secreção pode ser mucoide, serosa, sanguinolenta ou até purulenta. A fisiopatologia envolve uma reação inflamatória inicial, como um quadro de otite média aguda, le- vando a produção de líquido na tuba auditiva. Essa cavidade preenchida com líquido sofre um desequilíbrio de pressão e, o bombeamento muscular piora ainda mais o quadro, aumentando a pressão negativa dentro da tuba, resultando na permanência do líquido dentro da tuba auditiva. O quadro clínico, na maioria das vezes é o paciente assintomático. Quando há presença de sintomas, o mais comum é a perda auditiva (transitória), a efusão na orelha média provoca redução na mobilidade da membrana timpânica, dificultando a propagação do som. A criança pode se apresentar com déficit de atenção, atraso no desenvolvimento da fala e linguagem, uso de aparelhos com som alto. O diagnóstico é clínico associado à otoscopia, na qual observa-se membrana timpânica de coloração amarelada ou azulada, com diminuição da transparência, retração ou abaulamento e nível hidroaéreo retrotimpanico. A opacidade da membrana timpânica faz com que o martelo seja visualizado com uma coloração mais es- branquiçada e ocorre também, sua horizontalização. Quanto ao tratamento a maioria dos casos tem cura espontânea, então se a criança está assintomática, a conduta expectante é mais indicada. Não havendo resolução espontânea ou havendo qualquer atraso no desenvolvimento do paciente uma audiometria deve ser realizada para avaliar o nível de comprometimento. São considerados normais níveis de até 20dB, nesse caso, pode seguir com a conduta expectante. Níveis entre 21 e 39 dB são considerados perda auditiva leve e a abordagem deve ser individualizada, levando em consideração a duração da efusão e a preferência dos pais. Níveis acima 40 dB são moderados: recomenda-se cirurgia. Otite média crônica É um processo inflamatório da orelha média que pode ser focal ou generalizada e acomete a fenda auditiva (cavidade timpânica, tuba auditiva, complexo mastoideo), com duração superior a 3 meses, associada a secreção, que pode ou não levar a perfuração da membrana timpânica. A OMC geralmente está associada a uma OMA prévia não adequadamente tratada, mas também pode estar associada a outras causas, como dis- função tubária, otite média serosa e trauma. Tem uma grande variedade de manifestações clínica. Pode ser uma otite média silenciosa, assintomática, sendo um achado no exame físico, chegando a casos mais graves, levando a sofrimento dos portadores. Em geral, o paciente apresenta otorréia intermitente, de característica fluída ou mucóide. Os episódios de otorréia geralmente estão associados a IVAS, entrada de água no ouvido e sendo tratados com antimicrobiano local. O paciente queixa-se também de hipoacusia de grau variável, que costuma ser condutiva. Na otoscopia se observa membrana timpânica com perfuração, otorreia, erosão de ossículos com presença de bridas. O conduto auditivo externo pode ser normal, apresentar secreção, edema, hiperemia ou granulações. O tratamento medicamentoso local é suficiente para controle da otorreia. Utiliza-se antibiótico tópico em gotas, geralmente ciprofloxacino, pois não é ototóxico e consegue cobrir pseu- domonas, que geralmente está presente. Obs: a colesteatomatosa indica a presença de tecido epitelial escamoso queratinizado. Diferentes fases de um mesmo processo. Inicialmente tem se a fase 1 reversível quando há abaulamento da membrana timpânica (quadro clássico da OMA), O paciente então passa a ter casos recorrentes ou de duração maior, levando a uma alteraçãoirreversível, uma disfunção tubária. Então, cada vez mais, haverá uma pressão negativa da membrana timpânica que acaba se retraindo (quase colabada). Otite não colesteatomatosa: A perfuração timpânica ela pode ser central ou marginal (essa possui maior probabilidade de se tornar uma otite colesteatomatosa). O diagnostico é clínico, o paciente vai apresentar um quadro de repetição de otites + avaliação audiométrica (mais comum a perda auditiva condutiva). Obs: o exame de imagem (TC) pode ser solicitado em casos de otorreia refratária ao tto e em suspeita de complicações. Otite crônica colesteatomatosa Obs: a retração da membrana timpânica ocorre pelo aumento excessivo da pressão negativa consequência da cronicidade.