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O USO DOS PRONOMES EU, MIM E ME

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O USO DOS PRONOMES EU, MIM E ME
Laisa Barreto Ferreira 
Toda língua muda com o tempo e varia no espaço. Assim, não existe a língua portuguesa, mas variedades do português. Há a norma-padrão, o modelo ideal de língua que é ensinado nas escolas e, o português não-padrão que, apresenta variações de acordo com a região, classe social, faixa etária e nível de escolarização. Porém, no momento que se estabelece uma norma-padrão a mesma ganha tanto prestígio social que, passa a ser considerada a única representante legítima dos falantes dessa língua e, as demais variações sofrem o estigma do erro.
De acordo com Marcos Bagno (2009) “[...] do ponto de vista científico, simplesmente não existe erro de português”. O que ocorre na verdade sob essa ótica do “certo” e do “errado” é o preconceito linguístico instalado em nossa sociedade. O preconceito linguístico e na verdade um preconceito social, pois ele desencadeia inúmeros estigmas. 
O USO DOS PRONOMES EU, MIM E ME DE ACORDO COM A GRAMÁTICA NORMATIVA
Mim e me são pronomes pessoais oblíquos que são relativos à primeira pessoa do singular, porém, ambos exercem funções distintas nas orações. Mim é um pronome pessoal oblíquo tônico, sendo regido por uma preposição, como: para, a, de, com e, tendo, na frase, a função de objeto indireto. Me é um pronome pessoal oblíquo átono, está sempre associado a um verbo, não é precedido de uma preposição e pode assumir a função de objeto direto ou indireto.
Exemplos: Ele ajudou-me
Ele ajudou a mim.
Usa-se eu sempre antes de um verbo no infinitivo determinando uma ação. Exemplo: quero que o sol continue assim para eu pegar um bronzeado. Mim não conjuga verbo, quem conjuga o verbo é eu, tu (você), ele, nós, vós, eles.
Outro erro gramatical é a utilização do eu depois de preposição. A construção “Entre eu e você não existe mais nada”, está incorreta. Do ponto de vista gramatical, o correto é: “Entre mim e você não existe mais nada”. Só se utiliza eu depois de preposição se, em seguida, tiver um verbo. Exemplo: Esta coluna da revista foi feita para eu escolher as dúvidas de língua portuguesa.
O PRONOME MIM COMO SUJEITO DE INFINITIVOS
O uso do pronome mim como sujeito de infinitivos é comumente usado em nosso cotidiano. Construções como “pra mim ir”, “pra mim comprar”, “pra mim fazer” (PARA + MIM + INFINITIVO), segundo Bagno (2014, p. 180), já se insinua na fala de muitos falantes cultos, mas ainda encontra resistências para se incorporar definitivamente. Embora o pronome-sujeito de 1º pessoa seja eu, é o pronome oblíquo mim que se consagrou como sujeito de infinitivo, sempre que vem precedido da preposição para. Exemplos:
A construção para eu fazer, presente na gramática normativa está em desuso e até causa estranhamento.
A posição que o pronome mim ocupa hoje, como sujeito de infinitivos, não surgiu recentemente. Na obra Inocência de Visconde de Taunay, publicado em 1872, encontramos um dos personagens dizendo “para mim atalhar” e, o autor ressalta na nota de rodapé que este é um erro comum da época. Segundo Bagno(2014, p. 181), o ano de 1872 indica o registro escrito dessa construção, mas quando algo aparece registrado na língua escrita é porque já vem sendo usada na língua oral há muito tempo.
Em sua obra “A Língua de Eulália”, Marcos Bagno (2014, p.182 -185) explica, levanta hipóteses, sobre o motivo das pessoas utilizarem essas construções. Primeiro ele explica que, há um “cruzamento sintático”, ou seja, pode-se dizer: “João trouxe um monte de livros para mim” ou “João trouxe um monte de livros para eu escolher”, porém, na tentativa de dizer as duas coisas num só enunciado, o sujeito cruza as frases e constroem uma terceira: “João trouxe um monte de livros para mim escolher. Uma outra hipótese é a do “fica com a vaga quem chegar primeiro” que, nesse caso, se falamos “João trouxe um monte de livros para [ ] escolher”, o que aparece primeiro nesse enunciado é a preposição para e, existe uma regra na gramática normativa da língua portuguesa que diz que, depois de uma preposição usa-se pronome oblíquo. Porém, existe outra regra: na função de sujeito de um verbo, o pronome deve ser do caso reto. São duas regras distintas a serem seguida, assim, o sujeito irá seguir a que for acionada primeiro. Como a preposição para vem primeiro, normalmente ele preenche esse lugar. Por fim, existem situações em que o para mim aparece no infinitivo sem que se constitua um erro, por exemplo: É muito difícil para mim fazer isso sozinho. Aqui, fazer é o sujeito da oração é muito difícil e não o mim. Para mim tem o sentido, nesse caso, de “na minha opinião", “no que diz respeito”.
Não é possível eliminar o para mim, pois essa construção está cada dia mais presente em nosso cotidiano. O que precisamos perceber é que existem duas formas de uso e que cada uma ocupa um lugar social distinto. Embora essa construção seja utilizada pela maioria da população, essa maioria não tem poder de influenciar nas decisões políticas, econômicas, sociais, educacionais e culturais. O que é considerado bom, bonito e certo é aquilo que a minoria elitizada da população legitima. É a norma-padrão que, tem um poder simbólico que acaba se transformando numa verdadeira violência simbólica. Ao invés de ser usada como instrumento de “ascensão social” a norma-padrão termina servindo como mecanismo de exclusão. (Bagno 2014, p.189). “A norma-padrão serve como um poderoso arame farpado para bloquear o acesso ao poder. (Gnerre apud Bagno, 2014, p.189)
Há também as construções: “Deixa-me ver isso! ”; “Por que você não foi me ver jogar? ”; “Eu não gosto que me mandem fazer esse tipo de coisa”. O sujeito desses infinitivos é o pronome me. Quando as orações possuem os verbos mandar, fazer, sentir, deixar, ouvir e ver seguidos do infinitivo, a gramática normativa exige que se use um pronome oblíquo para ocupar o lugar de sujeito do infinitivo. Esses verbos pedem um objeto direto, enquanto o infinitivo pede um sujeito. A palavra que ocupar o lugar vai ter dupla função sintática.
AMORIM, André Wesley Dantas de; NASCIMENTO, Ingrid Cruz do. O Mito do Erro para com a Linguagem: Considerações sobre a Variação Linguística. Disponível em: Acesso em: 
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália: Novela Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2014.

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