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1 José Ronaldo de C. Souza Júnior Diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea ronaldo.souza@ipea.gov.br Marco A. F. H. Cavalcanti Diretor adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea marco.cavalcanti@ipea.gov.br Paulo Mansur Levy Técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea paulo.levy@ipea.gov.br Leonardo Mello de Carvalho Técnico de planejamento e pesquisa da Dimac/Ipea leonardo.carvalho@ipea.gov.br Estêvão Kopschitz X. Bastos Técnico de Planejamento e Pesquisa da Dimac/Ipea estevao.bastos@ipea.gov.br Francisco E. de Luna A. Santos Técnico de Planejamento e Pesquisa da Dimac/Ipea francisco.santos@ipea.gov.br Divulgado em 30 de junho de 2021. NÚMERO 51 — NOTA DE CONJUNTURA 33 — 2 ° TRIMESTRE DE 2021 Visão Geral da Conjuntura Sumário A economia brasileira vem registrando recuperação significativa desde o terceiro trimestre do ano passado. A piora das condições sanitárias no final de 2020, e a consequente adoção de novas medidas restritivas em março e abril deste ano, im- pactaram negativamente a atividade econômica em magnitude significativamen- te menor que se temia inicialmente. A queda na mobilidade de trabalhadores e consumidores foi menos intensa e persistente do que no início da pandemia, e a economia parece ter aprendido a produzir e vender mesmo com menor grau de mobilidade. Ainda assim, é certo que a pandemia continua a representar um obs- táculo à retomada mais forte da atividade econômica. No segundo semestre deste ano, com o avanço da vacinação, diante do ambiente externo favorável e da redu- ção das incertezas fiscais no curto prazo, espera-se crescimento mais sustentado da atividade econômica. Na média do ano, o crescimento projetado é de 4,8%, e para 2022, de 2,0%. Uma das características desta retomada tem sido a heterogeneidade setorial: a in- dústria reagiu rapidamente na segunda metade do ano passado, mas perdeu fôlego no primeiro quadrimestre de 2021, enquanto o setor agropecuário, cuja operação foi menos afetada pela pandemia, foi o grande responsável pelo crescimento obser- vado no primeiro trimestre deste ano. Algumas atividades do setor serviços, como comércio e transportes, acompanharam a trajetória da indústria – refletindo fenô- meno já amplamente reconhecido de substituição do consumo de serviços pelo consumo de bens. Porém, as outras atividades de serviços – que correspondiam a cerca de um quarto do valor adicionado pelo setor como um todo em 2019 e que incluem os serviços prestados às famílias –, mesmo tendo crescido 13,2% nos três últimos trimestres até março, ainda se encontravam 6,1% abaixo do nível pré-pan- demia. O cenário externo favorável tem sido um fator importante para explicar a resili- ência da economia à situação ainda grave do quadro sanitário. Desde o segundo semestre do ano passado, com algumas oscilações relacionadas à evolução da pan- demia, as economias mais avançadas e a China têm registrado crescimento robusto, tendência que se acelerou em 2021. Esse quadro tem favorecido a economia brasi- leira através da valorização das commodities exportadas pelo Brasil, do aumento dos fluxos de comércio internacional e de condições financeiras globais que estimulam o apetite por risco e, portanto, maiores fluxos de capital para países emergentes. Nesse contexto externo favorável, as exportações brasileiras deram um salto, tanto em volume quanto em valor. Com a retomada da economia brasileira, as importa- ções também têm se recuperado. 2 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 Nas últimas semanas, o cenário de inflação no país veio se modificando, refletindo nova conjunção de fatores internos e externos, cujo impacto sobre o Índice de Pre- ços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de alta, em 2021, maior que a prevista ante- riormente. De abril para maio, a taxa de inflação acumulada em doze meses saltou de 6,8% para 8,1%, pressionada pela aceleração, acima das expectativas, dos preços monitorados e dos bens industriais. O surgimento de novos elementos no cenário econômico alterou o balanço de riscos para a inflação, de forma que a projeção para o IPCA, em 2021, feita pelo Grupo de Conjuntura do Ipea – divulgada na Nota de Conjuntura no 17 – avançou de 5,3% para 5,9%. Ainda que ocorra melhora no ce- nário de câmbio, a continuada aceleração dos preços das commodities no mercado internacional vem mantendo os índices de preços ao produtor pressionados, pos- sibilitando altas adicionais nos preços dos bens de consumo industriais no varejo e levando ao aumento na projeção de inflação deste subgrupo de 4,3% para 4,8%, em 2021. A estimativa para a alta dos preços monitorados também foi revista para cima, passando de 8,4% para 9,7%, sobretudo pela piora no comportamento da energia elétrica. Ainda que em menor intensidade, a expectativa da inflação dos serviços livres (exceto educação) também foi majorada – de 4,0% para 4,2% –, motivada por uma melhora do nível de atividade e pelo avanço da vacinação, que devem gerar incremento de demanda para esse setor. Já para os alimentos e para a educação, as projeções divulgadas anteriormente foram mantidas. Diante da aceleração da inflação, o Banco Central deu início a um ciclo de aperto monetário que já levou a taxa básica de juros (Selic) de 2% ao ano – patamar em que se encontrava desde agosto do ano passado – para 4,25% ao ano em junho. A sinalização inicial foi de um ajuste parcial que manteria os juros reais abaixo do neutro. No entanto, com a persistência da inflação em nível elevado, a perspectiva após a última reunião passou a ser a de um ajuste de maior alcance. Apesar do aumento das expectativas de mercado para a inflação em 2021 e 2022, a inflação esperada para 2023 mantêm-se em torno da meta de 3,25%, demonstrando a ca- pacidade do Banco Central ancorar as expectativas. As contas públicas melhoraram nos últimos meses, assim como a relação entre a dívida e o produto interno bruto (PIB) foi revista para baixo, por conta do cres- cimento nominal e real do PIB mais elevado que o previsto no início do ano. O aumento da arrecadação no primeiro quadrimestre levou a revisão importante do total esperado para 2021, tanto por parte do governo quanto por agentes privados, de acordo com expectativas coletadas pelo Prisma Fiscal. No entanto, as despesas primárias federais projetadas para o ano apresentaram redução, diminuindo de for- ma substancial a necessidade de ajuste visando cumprir o teto de gastos da União. Permanece, ainda, a necessidade de algum esforço adicional em termos de conten- ção de despesas visando satisfazer o teto, mas parece factível realizar esse esforço sem que isso implique prejuízos adicionais mais difusos em termos de funciona- mento da máquina pública. Para 2022 e 2023, espera-se uma folga razoável das despesas projetadas em relação ao teto. Isso decorre fundamentalmente da trajetó- ria esperada para a inflação ao longo de 2021, com a inflação (medida pelo IPCA) acumulada em doze meses em junho, que balizará o reajuste do teto de gastos para 3 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 2022, situando-se próxima de 8,6%, enquanto a inflação no final do ano, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que embasará o reajuste de despesas importantes indexadas ao valor do salário mínimo, deverá atingir ape- nas 5,1%. A evolução favorável dos indicadores fiscais no curto prazo parece ter melhorado a percepção de risco em relação à situação fiscal do país, pois reduziu, ceteris paribus, a magnitude dos resultados primários futuros requeridos para estabilizar a razão dí- vida/PIB, bem como ampliou a janela de tempo para a adoção de medidas adicio- nais de consolidação fiscal. Contudo, essa melhora não deve ser interpretada como sinal de que a questão fiscal foi resolvida. Deve-se ter em mente que o ambiente externo favorável – recuperação da economia mundial, preços de commodities emelevação e baixas taxas de juros – não perdurará indefinidamente. Assim, o desafio de recolocar as contas públicas em uma trajetória sustentável ainda requer esforço adicional significativo, principalmente no que tange a medidas de controle do cres- cimento de despesas obrigatórias. 1 Conjuntura econômica: análise do período recente1 A economia brasileira vem registrando recuperação significativa desde o terceiro trimestre do ano passado. O choque da Covid-19 em março de 2020 e as medidas de distanciamento social que se seguiram produziram uma queda acumulada do PIB de 11,2% no primeiro semestre relativamente ao final de 2019. Desde então, o PIB cresceu 12,6% até o primeiro trimestre deste ano. O crescimento do primeiro trimestre de 2021, de 1,2% na comparação dessazonalizada com o trimestre an- terior, e de 1,0% em termos anuais, foi particularmente surpreendente diante do agravamento da pandemia a partir de novembro e do fim do auxílio emergencial em dezembro. 1.1 Pandemia e atividade econômica O recrudescimento da pandemia desde o final de 2020 teve um impacto bem me- nor sobre a atividade econômica do que no início da crise sanitária. Em parte, isso ocorre porque as medidas restritivas foram menos rigorosas que no ano passado. Além disso, houve, desde o início da pandemia, um gradual processo de adapta- ção da economia às restrições associadas ao distanciamento social, amortecendo a queda dos negócios diante do endurecimento das restrições adotadas para conter o ritmo de contágios e assim a pressão sobre o sistema de saúde. A mobilidade média nas estações de transporte público, segundo dados da Google, atingiu nível 47,4% abaixo do patamar pré-pandemia no segundo trimestre do ano passado, mas en- contrava-se apenas 24,2% menor que esse patamar no primeiro trimestre de 2021, e 18,4% menor no segundo trimestre (com dados até 24/6). O box 1 discute bre- vemente a evolução recente da pandemia no país e sua relação com os indicadores de mobilidade e de atividade econômica. 1 Esta seção contou com a colaboração de Maria Andréia P. Lameiras técnica de planejamento e pesquisa da Dimac/Ipea. 4 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 Um fator que provavelmente contribuiu de modo importante para reduzir o im- pacto do agravamento da pandemia sobre a economia foi o início do processo de vacinação no final de janeiro. De acordo com a One World Data, a vacinação ganhou velocidade em março, tendo passado de uma média diária de 227 mil doses em fevereiro para 1,1 milhão de doses em meados de abril. Nos trinta dias subsequentes, o ritmo de vacinação desacelerou, oscilando em torno de uma média de 720 mil doses/dia. Nova aceleração ocorreu entre o final de maio e ao longo de junho, de modo que, em 22 de junho, a média móvel de sete dias registrava a aplicação de 1,4 milhão de doses/dia. BOX 1 Pandemia e indicadores de mobilidade no Brasil O agravamento da crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19 no país a partir de novembro de 2020 foi significativo. O número de novos casos da doença registrados diariamente, que na média móvel de sete dias havia caído para cerca de 17 mil no início de novembro, rapidamente voltou a subir nas semanas e meses seguintes, chegando a mais de 75 mil no final de março de 2021 e estabilizando-se na faixa de 60 mil a 70 mil entre abril e junho. De modo semelhante, o número médio de óbitos diários por Covid-19, que se situava em torno de 330 na segunda semana de novembro, apresentou crescimento substancial a partir de então, supe- rando as marcas de 1.000 óbitos em meados de janeiro de 2021, 2.000 óbitos em março e 3.000 óbitos no início de abril. Esse número caiu um pouco no segundo trimestre, mas permaneceu muito elevado, oscilando entre 1.600 e 2.000 óbitos diários em junho. Os gráficos 1 e 2 apresentam a evolução dos números de novos casos e óbitos por Covid-19 no país como um todo, bem como sua distribuição por grandes regiões. Observa-se que o aumento dos casos e óbitos a partir do final do ano passado foi difuso, afetando todas as regiões, ainda que não necessariamente com a mesma força. Os gráficos 3 e 4, que mostram os números de novos casos e mortes por 100 mil habitantes em cada grande região, indicam que a região Sul foi uma das que mais sofreram em termos relativos, apresentando pronunciados picos de incidência de novos casos em dezembro do ano passado e em março deste ano, e elevada mor- talidade entre março e abril. As outras regiões com taxas mais altas de mortalidade nesse período foram o Centro-Oeste e o Sudeste, mas todas apresentaram quadro muito adverso. 5 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 Para além da perda de vidas, a consequ- ência direta mais grave da Covid-19, é provável que o agravamento recente da pandemia no país também tenha tido consequências econômicas negativas. Os principais canais por meio dos quais a pandemia pode ter afetado a economia no curto prazo referem-se não somente à imposição de novas medidas de distan- ciamento social e de restrições a ativida- des econômicas e sociais, mas também à maior cautela da população na realiza- ção de atividades fora de casa, visando reduzir as chances de contágio. De acor- do com os indicadores de mobilidade disponibilizados pela Google em seu Relatório de Mobilidade da Comunidade GRÁFICO 1 Brasil e Grandes Regiões: novos casos confirmados de Covid-19 (Média móvel de sete dias) Fonte: Brasil.io. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas da Dimac/Ipea. - 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 07 /0 3/ 20 20 07 /0 4/ 20 20 07 /0 5/ 20 20 07 /0 6/ 20 20 07 /0 7/ 20 20 07 /0 8/ 20 20 07 /0 9/ 20 20 07 /1 0/ 20 20 07 /1 1/ 20 20 07 /1 2/ 20 20 07 /0 1/ 20 21 07 /0 2/ 20 21 07 /0 3/ 20 21 07 /0 4/ 20 21 07 /0 5/ 20 21 07 /0 6/ 20 21 CO NE NO SE SU GRÁFICO 2 Brasil e Grandes Regiões: novos óbitos por Covid-19 (Média móvel de sete dias) Fonte: Brasil.io. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 07 /0 3/ 20 20 07 /0 4/ 20 20 07 /0 5/ 20 20 07 /0 6/ 20 20 07 /0 7/ 20 20 07 /0 8/ 20 20 07 /0 9/ 20 20 07 /1 0/ 20 20 07 /1 1/ 20 20 07 /1 2/ 20 20 07 /0 1/ 20 21 07 /0 2/ 20 21 07 /0 3/ 20 21 07 /0 4/ 20 21 07 /0 5/ 20 21 07 /0 6/ 20 21 CO NE NO SE SU GRÁFICO 3 Grandes Regiões: novos casos confirmados de Covid-19 (Casos por 100 mil habitantes; média móvel de sete dias) Fonte: Brasil.io. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 07 /0 3/ 20 20 07 /0 4/ 20 20 07 /0 5/ 20 20 07 /0 6/ 20 20 07 /0 7/ 20 20 07 /0 8/ 20 20 07 /0 9/ 20 20 07 /1 0/ 20 20 07 /1 1/ 20 20 07 /1 2/ 20 20 07 /0 1/ 20 21 07 /0 2/ 20 21 07 /0 3/ 20 21 07 /0 4/ 20 21 07 /0 5/ 20 21 07 /0 6/ 20 21 CO NE NO SE SU GRÁFICO 4 Grandes Regiões: novos óbitos por Covid-19 (Por 100 mil habitantes; média móvel de sete dias) Fonte: Brasil.io. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 07 /0 3/ 20 20 07 /0 4/ 20 20 07 /0 5/ 20 20 07 /0 6/ 20 20 07 /0 7/ 20 20 07 /0 8/ 20 20 07 /0 9/ 20 20 07 /1 0/ 20 20 07 /1 1/ 20 20 07 /1 2/ 20 20 07 /0 1/ 20 21 07 /0 2/ 20 21 07 /0 3/ 20 21 07 /0 4/ 20 21 07 /0 5/ 20 21 07 /0 6/ 20 21 CO NE NO SE SU GRÁFICO 5 Indicadores de mobilidade no Brasil — variação em re- lação ao nível de janeiro de 2020 (Em %) Fonte: Google. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. -80 -60 -40 -20 0 20 40 fe v/ 20 m ar /2 0 ab r/ 20 m ai /2 0 ju n/ 20 ju l/2 0 ag o/ 20 se t/ 20 ou t/ 20 no v/ 20 de z/ 20 ja n/ 21 fe v/ 21 m ar /2 1 ab r/ 21 m ai /2 1 ju n/ 21 Presença em lojas de varejo e locais de lazer Presença em mercados e farmácias Presença em estações de transporte público Presença em locaisde trabalho 6 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 (disponível em: <https://www.google.com/covid19/mobility/>), a presença de pessoas em estabelecimentos e locais públicos, que vinha se recuperando de forma contínua desde a forte queda observada no inicio da pandemia, em abril de 2020, voltou a diminuir no começo de 2021, especialmente em março – quando novas restrições às atividades econômicas e sociais foram adotadas em vários estados e municípios. O gráfico 5 mostra a evolução, entre abril de 2020 e junho de 2021, dos indica- dores de mobilidade nos quatro tipos de estabelecimentos ou locais públicos mais diretamente associados à atividade econômica: lojas de varejo e locais de lazer; mercado e farmácias; estações de transporte público; e locais de trabalho. Os in- dicadores são expressos como variações percentuais em relação ao valor mediano da mobilidade observada no período de cinco semanas entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro de 2020. Observa-se que, em todos esses tipos de locais, houve queda da mobilidade entre o final de 2020 e os meses de março e abril de 2021, o que pode ter tido reflexo negativo na atividade econômica. É interessante notar, contudo, que a queda na mobilidade foi significativamente mais branda e menos persistente do que a observada no início da pandemia. A partir de maio, os indicadores de mobilidade voltaram a aumentar. Cabe notar que os dados de mobilida- de não são dessazonalizados, de modo que parte dessas variações pode refletir fatores puramente sazonais; contudo, há motivos para crer que a redução da mobilidade, especialmente em março e abril, esteve relacionada à intensificação das medidas de distanciamento social nesse período. De fato, exercícios econo- métricos mostram forte correlação entre os indicadores de mobilidade e o índi- ce de medidas legais de distanciamento social (Physical Distancing Rules Index – PDI) calculado pelo Ipea (disponível em: <http://tinyurl.com/ipeacoronavi- rus>). O gráfico 6 apresenta o indicador de mobilidade em locais de trabalho e seu valor ajustado, quando regredido no PDI. Observa-se que as variações no PDI são capazes de explicar parcela signifi- cativa das variações na mobilidade – resultado corroborado por estimações com dados de painel no nível das Unidades da Federação (UFs). Em particular, a inten- sificação das medidas de distanciamento em março parece explicar grande parte na queda da mobilidade nesse mês. Pode-se também especular que a recuperação dos indicadores de mobilidade a partir de maio deve estar parcialmente associada ao re- laxamento recente das medidas de distanciamento social e de restrições a atividades econômicas e sociais em alguns estados, ainda não captado no índice do Ipea, que possui dados apenas até 11 de abril de 2021. GRÁFICO 6 Indicador de mobilidade em locais de trabalho no Brasil: valor observado e valor predito com base no índice de medidas legais de distanciamento social (Em %) Fonte: Google e Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 10 /0 3/ 20 20 10 /0 4/ 20 20 10 /0 5/ 20 20 10 /0 6/ 20 20 10 /0 7/ 20 20 10 /0 8/ 20 20 10 /0 9/ 20 20 10 /1 0/ 20 20 10 /1 1/ 20 20 10 /1 2/ 20 20 10 /0 1/ 20 21 10 /0 2/ 20 21 10 /0 3/ 20 21 10 /0 4/ 20 21 10 /0 5/ 20 21 10 /0 6/ 20 21 Mobilidade - observada Mobilidade - ajustada https://www.google.com/covid19/mobility/ http://tinyurl.com/ipeacoronavirus> http://tinyurl.com/ipeacoronavirus> 7 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 O gráfico 7 sugere que, como seria de se esperar, os índices de mobilidade apresen- tam forte correlação com indicadores de atividade econômica, notadamente no se- tor de serviços. Esse resultado é corroborado por exercício econométrico divulgado pelo Banco Central do Brasil (BCB) em seu Relatório de Inflação de junho de 2021, na box Intensidade Da Pandemia E Atividade Econômica. Contudo, é interessante notar que, de acordo com o estudo do BCB, parece ter ocorrido uma redução da sensibilidade da atividade econômica à intensidade da pandemia ao longo do tempo, que pode ter ocorrido por dois canais: menor correlação entre pandemia e mobilidade, e menor impacto da mobilidade na atividade econômica. Elaboração: Marco A. F. H. Cavalcanti, diretor-adjunto da Dimac/Ipea. Os dados de curto prazo da atividade econômica corroboram a visão de que a economia está mais resiliente. A indús- tria de transformação, que no primeiro trimestre caiu 0,5%, dá sinais de reação. Estima-se que tenha crescido 1,4% em maio em relação a abril na série dessazo- nalizada, interrompendo uma sequência de três quedas consecutivas. Esse movi- mento pode estar associado ao compor- tamento das vendas do comércio, que também retraíram nos meses iniciais do ano, refletindo a interrupção do Auxí- lio Emergencial, a aceleração da inflação na segunda metade de 2020 e o próprio agravamento da pandemia, com a rein- trodução de restrições à mobilidade e ao funcionamento do comércio. O relaxa- mento dessas restrições e a retomada, em abril, das transferências às famílias e do GRÁFICO 7 Indicadores de mobilidade versus atividade econômica: variação em relação aos níveis de janeiro de 2020 (jan./ 2020-jun./2021) (Em %) Fonte: Google e IBGE. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 30 50 70 90 110 130 ja n/ 20 fe v/ 20 m ar /2 0 ab r/ 20 m ai /2 0 ju n/ 20 ju l/2 0 ag o/ 20 se t/ 20 ou t/ 20 no v/ 20 de z/ 20 ja n/ 21 fe v/ 21 m ar /2 1 ab r/ 21 m ai /2 1 ju n/ 21 Presença em lojas de varejo e locais de lazer Presença em mercados e farmácias Presença em estações de transp. Público Presença em locais de trabalho Serviços prestados às famílias Vendas de artigos farmacêuticos GRÁFICO 1 Indicadores Mensais da Atividade Econômica e estimativas para maio de 2021 (Índice com ajuste sazonal, fev./2020 = 100) Fonte: IBGE, Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV) e Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Obs.: Os valores entre parênteses referem-se à previsão Dimac/Ipea de taxa de crescimento na margem (com ajuste sazonal) para cada indicador. 100,4 104,0 99,8 100 100,1 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 m ai /1 9 ju l/1 9 se t/ 19 no v/ 19 ja n/ 20 m ar /2 0 m ai /2 0 ju l/2 0 se t/ 20 no v/ 20 ja n/ 21 m ar /2 1 m ai /2 1 Indústria geral (PIM-PF) Varejo Ampliado (PMC) Serviços (PMS) PIB (Monitor) (3,9%) (1,4%) (2,0%) (1,3%) 8 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) indicam reversão daquela trajetória: a estimativa é de que o volume de vendas no comércio tenha crescido 3,8% em maio e 25,8% em relação a maio de 2020. A produção industrial vem sendo também positivamente impactada pela recom- posição dos níveis de estoques, que nas sondagens empresariais do final de 2020 apareciam em nível bem inferior ao desejado. Esse processo pode ter compensado parcialmente a queda da demanda no primeiro quadrimestre. Embora, em maio, as sondagens já indicassem níveis de estoques próximos aos desejados na média, em alguns setores, especialmente bens de consumo duráveis e bens intermediários, os estoques ainda eram insuficientes. Essa situação pode estar refletindo os problemas de suprimento de partes, peças e componentes – em especial eletrônicos – que têm limitado a expansão da produção e, em alguns setores, levado à sua interrupção total. A normalização das cadeias de suprimento funcionaria assim como um estí- mulo adicional ao crescimento nos próximos trimestres. Os serviços, como comentado anteriormente, ainda são o setor da economia que mais sofre com o quadro sanitário e as restrições à mobilidade e ao funcionamen- to de várias de suas atividades, onde o contato presencial é quase inevitável. Não obstante, vem se recuperando, em parte pelo relaxamentogradual das restrições, em parte pela adaptação às novas condições. Em abril, o indicador de volume de serviços cresceu 0,7%, revertendo parcialmente a queda de 3,1% de março. Para maio, a estimativa da Dimac/Ipea é de que tenha havido crescimento de 1,3% ante abril e de 22,8% contra maio do ano passado. O quadro relativamente positivo da atividade econômica encontra respaldo na evolução dos indicadores de confiança (gráfico 2). Embora generalizada, a melho- ra observada tem sido mais intensa entre os empresários, enquanto o sentimento dos consumidores parece seguir refletindo as condições adversas do mercado de trabalho. De acordo com as pesquisas Sondagens Setoriais, da FGV, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) atingiu o patamar de 97,7 pontos em maio, estiman- do-se, com base nos indicadores setoriais já divulgados, que em junho tenha su- perado a zona neutra que separa otimismo de pessimismo pela primeira vez desde outubro de 2013. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), embora venha se recuperando desde abril, ainda se encontra em nível que reflete um razoável pessimismo (gráfico 3). A diferença entre as duas séries chegou a 21,5 pontos em maio, a maior diferença já registrada na série histórica. O resultado chama atenção para um descompasso entre os setores produtivos, cujo desempenho tem superado as expectativas, e a demanda interna, pois as famílias ainda se deparam com altas taxas de desocupação e aumento de custo de vida. Em junho, todos os indicadores de confiança empresarial setoriais e o ICC apresentaram melhoras significativas. 9 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 1.2 Mercado de trabalho De fato, apesar do comportamento melhor que o esperado da produção e das ven- das, as condições gerais do mercado de trabalho pouco se alteraram nos últimos meses, revelando um quadro ainda deteriorado. Os dados dessazonalizados, obti- dos após a desagregação mensal dos trimestres móveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, mostram que em março a taxa de de- socupação foi de 14,7%, levemente superior à registrada em fevereiro (14,4%), pressionada principalmente pelo retorno à força de trabalho de uma parcela de indivíduos que dela haviam saído por conta da pandemia. De janeiro a março de 2021, a força de trabalho aumentou em 589 mil pessoas, enquanto o contingente ocupado recuou em 11 mil. No entanto, apesar desta aceleração na margem, os dados ainda mostram uma força de trabalho 5% abaixo da observada nos períodos pré-pandemia. A recuperação da ocupação nos últimos meses vem ocorrendo de forma mais in- tensa nos segmentos informais do mercado de trabalho, ou seja, entre os empre- gados sem carteira e os trabalhadores por conta própria – de acordo com os dados GRÁFICO 2 ICE por setor Fonte: IBRE/FGV. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 40 50 60 70 80 90 100 110 120 ju n/ 14 ou t/ 14 fe v/ 15 ju n/ 15 ou t/ 15 fe v/ 16 ju n/ 16 ou t/ 16 fe v/ 17 ju n/ 17 ou t/ 17 fe v/ 18 ju n/ 18 ou t/ 18 fe v/ 19 ju n/ 19 ou t/ 19 fe v/ 20 ju n/ 20 ou t/ 20 fe v/ 21 ju n/ 21 Indústria Comércio Construção Serviços Otimista Pessimista GRÁFICO 3 Índices de confiança de empresários e consumidores Fonte: IBRE/FGV. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Nota: 1 Resultado para o índice de confiança empresarial de junho foi estimado com base nos resultados setoriais. 40 50 60 70 80 90 100 110 120 ju n/ 14 ou t/ 14 fe v/ 15 ju n/ 15 ou t/ 15 fe v/ 16 ju n/ 16 ou t/ 16 fe v/ 17 ju n/ 17 ou t/ 17 fe v/ 18 ju n/ 18 ou t/ 18 fe v/ 19 ju n/ 19 ou t/ 19 fe v/ 20 ju n/ 20 ou t/ 20 fe v/ 21 ju n/ 21 Empresarial Consumidor Otimista Pessimista GRÁFICO 4 Mercado de trabalho: força de trabalho, população ocupada e taxa de desocupação Fonte: PNAD Contínua/IBGE. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 106,2 106,2 103,2 97,1 95,7 95,7 94,1 96,5 98,7 99,4 100,3 100,5 100,3 100,7 100,9 94,0 94,0 90,5 84,5 83,5 82,3 80,3 82,5 84,4 85,4 85,5 85,9 86,2 86,3 86,1 11,6 11,6 12,4 12,9 12,7 13,9 14,3 14,4 14,6 14,1 14,8 14,7 14,2 14,4 14,7 ja n/ 20 fe v/ 20 m ar /2 0 ab r/ 20 m ai /2 0 ju n/ 20 ju l/2 0 ag o/ 20 se t/ 20 ou t/ 20 no v/ 20 de z/ 20 ja n/ 21 fe v/ 21 m ar /2 1 Força de trabalho (milhões de pessoas) População ocupada (milhões de oessoas) Taxa de desocupação (%) 10 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 da PNAD Contínua. Na comparação interanual, embora esses dois grupos ainda apresentem recuo na ocupação, as quedas vêm perdendo intensidade. Já a ocupação do setor privado com carteira vem mantendo uma trajetória de baixo dinamismo, marcada por uma estabili- dade de pessoal ocupado em patamares bem desfavoráveis. Os dados do Novo Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Novo Caged), do Ministério da Economia, mostram um cenário bem mais favorável para o emprego formal que o descrito pela PNAD Contínua. De acordo com o cadastro, nos quatro primeiros meses do ano, a economia brasileira gerou liquidamente cer- ca de 960 mil novos postos de trabalho formal, enquanto no acumulado em doze meses o saldo de novas vagas com carteira ultrapassa o montante de 1,93 milhão.2 1.3 Economia mundial e seus impactos sobre o Brasil O cenário externo favorável tem sido um dos fatores críticos para explicar a resi- liência da economia à situação ainda grave do quadro sanitário. Desde o segundo semestre do ano passado, com algumas oscilações relacionadas à evolução da pan- demia, as economias mais avançadas e a China têm registrado crescimento robusto, tendência que se acelerou em 2021 à medida que a vacinação avançou e novas medias de estímulo foram adotadas, especialmente nos Estados Unidos. Esse qua- dro externo tem impactado positivamente a economia brasileira por meio da valo- rização das commodities exportadas pelo Brasil, do aumento dos fluxos de comércio internacional e de condições financeiras globais que estimulam o apetite por risco e, portanto, maiores fluxos de capital para países emergentes. As previsões para o crescimento da economia mundial e para os países desenvolvi- dos foram significativamente revistas para cima desde o início do ano. A Organisa- tion for Economic Co-operation and Development (OECD), por exemplo, reviu o crescimento global previsto para 2021 de 4,2% em seu World Economic Outlook de dezembro de 2020 para 5,8% no relatório de maio, principalmente pelo desempe- nho dos países desenvolvidos. A reabertura da economia nesses países tem contri- buído para a retomada de atividades como lazer e turismo, acelerando a redução do desemprego e aumentando a confiança de consumidores e empresários. O volume do comércio internacional em abril foi 25% superior ao de um ano antes, já tendo retomado nível compatível com a tendência pré-pandemia. Os preços internacionais de commodities têm refletido a retomada da atividade eco- nômica global, com forte crescimento nos últimos meses e nível histórico elevado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que em maio, para o conjunto 2. Uma discussão sobre a comparação entre PNAD Contínua e Caged está disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/ index.php/2021/03/a-reducao-no-numero-de-entrevistas-na-pnad-continua-durante-a-pandemia-e-sua-influencia-para-a-evolucao-do-em- prego-formal/>. GRÁFICO 5 Evolução da ocupação segundo natureza do vínculo de trabalho (Taxa de variação interanual, em %) Fonte: PNAD Contínua/IBGE. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. -10,7 -12,1 1,4 -1,3 -30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 ja n- m ar /1 9 m ar -m ai /1 9 m ai -ju l/1 9 ju l-s et /1 9 se t- no v/ 19 no v- ja n/ 20 ja n- m ar /2 0 m ar -m ai /2 0 m ai -ju l/2 0 ju l-s et /2 0 se t- no v/ 20 no v- ja n/ 21 ja n- m ar /2 1 Privado com carteira Privado sem carteira Publico Conta própria https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/03/a-reducao-no-numero-de-entrevistas-na-pnad-continua-durante-a-pandemia-e-sua-influencia-para-a-evolucao-do-emprego-formal/https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/03/a-reducao-no-numero-de-entrevistas-na-pnad-continua-durante-a-pandemia-e-sua-influencia-para-a-evolucao-do-emprego-formal/ https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/03/a-reducao-no-numero-de-entrevistas-na-pnad-continua-durante-a-pandemia-e-sua-influencia-para-a-evolucao-do-emprego-formal/ 11 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 das commodities, os preços tenham aumentado 70% em relação a maio do ano pas- sado. O crescimento, contudo, vai mais além do efeito de uma base deprimida: o nível de preços das commodities registrado em maio é o mais alto desde setembro de 2014, embora ainda esteja 23% abaixo do de julho de 2008, quando o superciclo de commodities iniciado em 2002 atingiu seu pico. Além disso, a intensidade da recuperação recente é maior que a do período pré-crise financeira internacional, que levou ao recorde da série: de janeiro de 2007 a julho de 2008, o crescimento médio mensal foi de 3,4% ao mês, enquanto agora, de abril do ano passado a maio de 2021, foi de 4,9% ao mês. BOX 2 Índices de preços de commodities Um tema em destaque recentemente é o preço das commodities: sua evolução recen- te, seu nível em relação à série histórica e suas perspectivas. Como as mercadorias são muitas, é usual recorrer-se a índices de preços quando se deseja ter uma visão sintética. No entanto, é preciso atentar para o fato de que diferentes índices mos- tram resultados diversos. Dois tipos básicos de índices de preços de commodities são os construídos com preços à vista e os que se baseiam em cotações dos mercados futuros. Os índices de preços à vista são médias ponderadas de preços de commodities, compostos por variadas cestas, com diferentes pesos para cada commodity. Os índices de preços de mercados futuros usam preços de bolsas de mercadorias e, além da composição e pesos, são influenciados também pelos retornos de rolagem e de colateral, que decorrem, respectivamente, dos fatos de que os contratos que vencem precisam ser substituídos – o que pode gerar perdas ou ganhos – e de que, em mercados futuros, só uma pequena parte do valor do contrato precisa ser depositada como margem – permitindo a aplicação do restante do valor em renda fixa, por exemplo. Aqui serão mostrados apenas exemplos de índices de preços à vista, produzidos pelo FMI. O gráfico 1 mostra o índice para todas as commodities: apesar de o ín- dice ter subido 85% desde o vale de abril do ano passado, ele ainda se encontra, em maio de 2021, 23% abaixo do pico do período mostrado no gráfico, ocorrido em julho de 2008. No gráfico 2, vê-se, no entanto, que essa distância em relação ao máximo de 2008 se deve aos preços dos combustíveis (energia). O índice das demais commodities está bem acima do nível daquele ano e em nível equivalente ao máximo de 2011. Olhando o índice de metais (gráfico 3), importante para o Brasil por causa do minério de ferro, o aumento em relação a abril de 2020 foi de 99%, fazendo o nível de maio de 2021 ficar muito perto (apenas 2% abaixo) do de 2011. Finalmente, o índice de alimentos (gráfico 4) – também muito importante para o Brasil por incluir grãos, óleos vegetais, carnes e açúcar – subiu 47% entre abril do ano passado e maio deste ano, superando em 3% o pico de 2011. 12 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 Elaboração: Estêvão Kopschitz X. Bastos, Felipe Simplicio Ferreira e Marcelo Vilas Boas de Castro (Dimac/ Ipea). Nesse contexto externo favorável, as exportações brasileiras deram um salto, tanto em volume quanto em valor – neste caso, beneficiadas pelo aumento dos preços externos. Desde o início de 2021, as exportações tiveram uma aceleração da ten- dência de crescimento: entre janeiro e maio ele foi de 40%, contra 12% no mesmo período do ano passado. Com a retomada da economia, as importações também têm se recuperado, registrando crescimento de 21% nos cinco primeiros meses do ano em relação a igual período de 2020. O saldo da balança comercial nos pri- meiros cinco meses do ano passou de US$ 15,8 bilhões em 2020 para US$ 27,1 bilhões este ano. Houve também uma tendência geral de redução do deficit em transações correntes do balanço de pagamentos, com superavit em abril (US$5,4 bilhões) e maio (US$3,8 bilhões). GRÁFICO 1 Índice de preços de todas as commodities (2016 = 100) Fonte: FMI. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. jul/08; 202,8 abr/20; 84,0 155,4 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 ja n/ 92 m ai /9 3 se t/ 94 ja n/ 96 m ai /9 7 se t/ 98 ja n/ 00 m ai /0 1 se t/ 02 ja n/ 04 m ai /0 5 se t/ 06 ja n/ 08 m ai /0 9 se t/ 10 ja n/ 12 m ai /1 3 se t/ 14 ja n/ 16 m ai /1 7 se t/ 18 ja n/ 20 m ai /2 1 -23% +85% GRÁFICO 2 Índice de preços de energia e não energia (2016 = 100) Fonte: FMI. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Obs.: energia – petróleo, gás natural, carvão e propano; não energia – metais preciosos, alimentos e bebidas e insumos industriais. jul/08; 127,0 abr/11; 155,0 mai/21; 155,4 jul/08; 312,4 mai/21; 155,3 0 50 100 150 200 250 300 350 ja n/ 92 m ai /9 3 se t/ 94 ja n/ 96 m ai /9 7 se t/ 98 ja n/ 00 m ai /0 1 se t/ 02 ja n/ 04 m ai /0 5 se t/ 06 ja n/ 08 m ai /0 9 se t/ 10 ja n/ 12 m ai /1 3 se t/ 14 ja n/ 16 m ai /1 7 se t/ 18 ja n/ 20 m ai /2 1 Não-energia Energia GRÁFICO 3 Índice de preços de metais (2016 = 100) Fonte: FMI. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Obs.: Alumínio, cobalto, cobre, minério de ferro, chumbo, molibdênio, níquel, estanho, urânio e zinco. fev/11; 234,7 abr/20; 115,2 mai/21; 229,7 0 50 100 150 200 250 ja n/ 92 m ai /9 3 se t/ 94 ja n/ 96 m ai /9 7 se t/ 98 ja n/ 00 m ai /0 1 se t/ 02 ja n/ 04 m ai /0 5 se t/ 06 ja n/ 08 m ai /0 9 se t/ 10 ja n/ 12 m ai /1 3 se t/ 14 ja n/ 16 m ai /1 7 se t/ 18 ja n/ 20 m ai /2 1 GRÁFICO 4 Índice de preços de alimentos (2016 = 100) Fonte: FMI. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Obs.: Cereais, óleos vegetais, carnes, peixes, frutos do mar, açúcar e outros alimentos (maçãs, bananas, leguminosas, farinha de peixe, amendoim, leite e laticínios e tomate). abr/11; 132,8 abr/20; 92,9 mai/21; 136,8 40 60 80 100 120 140 160 ja n/ 92 m ai /9 3 se t/ 94 ja n/ 96 m ai /9 7 se t/ 98 ja n/ 00 m ai /0 1 se t/ 02 ja n/ 04 m ai /0 5 se t/ 06 ja n/ 08 m ai /0 9 se t/ 10 ja n/ 12 m ai /1 3 se t/ 14 ja n/ 16 m ai /1 7 se t/ 18 ja n/ 20 m ai /2 1 13 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 1.4 Aceleração inflacionária recente A forte alta dos preços de commodities tem pressionado os custos no setor indus- trial, além de impactar o consumidor em itens como alimentação e transportes. A aceleração da inflação desde o segundo semestre do ano passado foi significativa: no caso do setor produtivo, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) registrou variação anual de 50% em maio, com aumento próximo a 75,6% em matérias pri- mas brutas. Os preços agrícolas no IPA registram crescimento de 47,7%, enquanto os produtos industriais apontam variação de 54,7%, pressionados pelo aumento da demanda mundial. Em nível de consumidor, o IPCA acumulou variação de 8,1% nos doze meses terminados em maio, refletindo os recentes aumentos dos preços monitorados e dos bens industriais, assim como a pressão, ainda existente, nos alimentos no do- micílio. No caso dos preços monitorados, cuja variação em doze meses avançou de 1,8% em janeiro para 13,1% em maio, parte da aceleração decorre de reajustes não ocorridos em 2020, mas a intensidade da alta vem surpreendendo. Os prin- cipais determinantes dessa aceleração foram os repasses da desvalorização cambial de 2020 – que impactou, entre outros, os preços dos combustíveis – e a adoção da bandeira vermelha nas contas de luz residenciais em maio em função do baixonível dos reservatórios. Em relação aos bens industriais, além dos impactos defasados do câmbio, o aumento nos preços internacionais das matérias-primas e a escassez de alguns insumos vêm pressionando a inflação neste segmento, cuja taxa de variação em doze meses já chega a 8,2%. Por fim, mesmo desacelerando nos últimos meses, os preços dos alimentos no domicílio ainda registram forte variação em doze meses (15,4%), constituindo-se no segundo grupo com maior contribuição ao IPCA no período. Diante da aceleração da inflação, o BCB elevou os juros básicos da economia em 0,75 ponto percentual (p.p.) na reunião do Comitê de Política Monetária (Co- pom) de março, repetindo a mesma decisão nas três reuniões seguintes de modo a trazer a taxa Selic para 4,2% ao ano (a.a.). No primeiro momento, talvez refletindo GRÁFICO 6 IPA: inflação acumulada em doze meses (Em %) Fonte: IBRE/FGV. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 0 10 20 30 40 50 60 70 ja n/ 19 m ar /1 9 m ai /1 9 ju l/1 9 se t/ 19 no v/ 19 ja n/ 20 m ar /2 0 m ai /2 0 ju l/2 0 se t/ 20 no v/ 20 ja n/ 21 m ar /2 1 m ai /2 1 IPA Ind IPA Agro GRÁFICO 7 IPCA: inflação acumulada em doze meses (Em %) Fonte: IBGE. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. -5 0 5 10 15 20 25 ja n/ 20 fe v/ 20 m ar /2 0 ab r/ 20 m ai /2 0 ju n/ 20 ju l/2 0 ag o/ 20 se t/ 20 ou t/ 20 no v/ 20 de z/ 20 ja n/ 21 fe v/ 21 m ar /2 1 ab r/ 21 m ai /2 1 IPCA Administrados Serviços Alimentos Bens industriais 14 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 a percepção de um choque transitório, o Copom falou em “ajuste parcial”, sinali- zando que a taxa nominal de juros ao fim do processo ainda resultaria numa taxa real inferior à taxa neutra, mantendo assim a postura expansionista. Em junho, porém, diante da sustentação da inflação em patamar elevado, o Copom sinalizou com uma trajetória mais agressiva e com a perspectiva de levar os juros ao nível considerado neutro. Como discutido na box 3, a estrutura a termo da taxa de juros ficou menos inclinada com a elevação das taxas mais curtas, em proporção maior que as taxas mais longas. As expectativas de inflação para este ano aumentaram 2 p.p. desde o início de março, estando em 6,0% em 25 de junho. As de 2022 também cresceram, porém bem menos, apenas 0,4 p.p., para 3,8%. As expectativas para a inflação de 2023 permanecem estáveis e ancoradas pela meta de 3,25%. BOX 3 Expectativas de IPCA, juros e câmbio hoje e há três meses Como evoluíram as previsões de inflação, juros e dólar desde a última Visão Geral da Conjuntura (de março deste ano)? Os gráficos a seguir o ilustram. Na última sexta-feira de março, o IPCA previsto pela mediana do Focus para 2021 era de 4,81%. Essa expectativa subiu até os atuais 5,97%. Para o ano que vem, a previsão passou de 3,51% para 3,78%; para 2023, não se alterou, continuando presa à meta de 3,25% (gráfico 1). Concomitantemente ao aumento da inflação esperada para este e o próximo anos, a trajetória da Selic definida pelo Copom alterou-se, com o nível de 6,5% passando a ser esperado para outubro deste ano; em março, a Selic para o fim de 2021 era esperada em 5,00% e uma sequência de elevações a levaria até 6,50% somente em março de 2023. Agora, espera-se que, uma vez atingido o patamar de 6,50%, ele será mantido ao longo de todo o ano que vem (gráfico 2). Ao mesmo tempo, toda a estrutura a termo da taxa de juros de títulos públicos se elevou, mais nos primeiros dois anos e entre 0,4 e 0,1 p.p. a partir do terceiro (gráfico 3). Por fim, o gráfico 4 mostra a trajetória mensal esperada para a taxa de câmbio real/dólar há três meses e recentemente. Em 26 de março, quando a taxa vigente era de R$ 5,70, a expectativa era de valorização até R$ 5,33 em dezembro deste ano e R$ 5,26 em dezembro de 2022. Agora, com a taxa observada de R$ 4,92 em 25 de junho, a expectativa é de desvalorização até R$ 5,10 em dezembro deste ano e R$ 5,20 em dezembro de 2022. 15 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 Elaboração: Estêvão Kopschitz X. Bastos, Felipe Simplicio Ferreira e Marcelo Vilas Boas de Castro (Dimac/ Ipea). 1.5 Expansão do crédito O saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN), medido em rela- ção ao PIB, apresentou tendência de crescimento até dezembro de 2020, atingindo então o patamar de 54,0%. Desde então, o saldo total oscila em torno deste valor, o que pode ser explicado pela redução da taxa de crescimento de pessoas jurídicas, cujo movimento favorável impulsionou o crescimento do crédito ao longo de todo o ano de 2020. Conforme pode ser visto pelo gráfico 8, a variação em doze meses do saldo real para pessoas jurídicas pode ser dividida em duas grandes fases no período recente: crescimento em 2020 e desaceleração em 2021, possivelmente refletindo a perda de dinamismo de alguns setores, como a indústria, no início do GRÁFICO 1 Expectativa para o IPCA, de acordo com a mediana do Focus Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 26/03/2021; 4,81 5,01 11/06/2021; 5,82 25/06/2021; 5,97 3,51 3,61 3,78 3,78 3,25 3,25 3,25 3,25 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 01 /0 3/ 20 21 08 /0 3/ 20 21 15 /0 3/ 20 21 22 /0 3/ 20 21 29 /0 3/ 20 21 05 /0 4/ 20 21 12 /0 4/ 20 21 19 /0 4/ 20 21 26 /0 4/ 20 21 03 /0 5/ 20 21 10 /0 5/ 20 21 17 /0 5/ 20 21 24 /0 5/ 20 21 31 /0 5/ 20 21 07 /0 6/ 20 21 14 /0 6/ 20 21 21 /0 6/ 20 21 2021 2022 2023 Metas e intervalos: 2021 – 3,75% (2,25-5,25) 2022 – 3,50% (2,00-5,00) 2023 – 3,25% (1,75-4,75) GRÁFICO 2 Meta para a Selic: observada e prevista pela mediana do Focus em março e junho de 2021 (Em %) Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 5,00 6,00 out/21; 6,506,50 3,75 2,00 4,25 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 m ar /1 8 ju l/1 8 no v/ 18 m ar /1 9 ju l/1 9 no v/ 19 m ar /2 0 ju l/2 0 no v/ 20 m ar /2 1 ju l/2 1 no v/ 21 m ar /2 2 ju l/2 2 no v/ 22 m ar /2 3 ju l/2 3 26/03/2021 25/06/2021 Meta Selic Observada GRÁFICO 3 Estrutura a termo da taxa de juros nominais prefixados (Em %) Fonte: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 5,11 6,11 6,84 7,36 7,73 8,01 8,22 8,39 8,52 8,63 8,72 8,80 8,86 8,92 8,97 9,01 9,05 6,64 7,31 7,70 7,96 8,14 8,29 8,42 8,54 8,66 8,77 8,88 8,98 9,08 9,17 9,27 9,35 9,431,53 1,20 0,87 0,60 0,41 0,28 0,20 0,15 0,14 0,14 0,16 0,19 0,22 0,26 0,30 0,34 0,38 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 4 5 6 7 8 9 10 11 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 Anos 22/03/2021 28/06/2021 Diferença GRÁFICO 4 Taxa de câmbio: expectativa mediana do Focus/BCB (Em R$/US$ fim do mês) Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 5,55 5,47 5,40 5,37 5,33 5,31 5,30 5,30 5,32 5,33 5,26 5,30 5,05 5,05 5,05 5,10 5,10 5,12 5,15 5,25 5,25 5,20 5,12 5,13 5,10 m ar /2 02 1 ab r/ 20 21 m ai /2 02 1 ju n/ 20 21 ju l/2 02 1 ag o/ 20 21 se t/ 20 21 ou t/ 20 21 no v/ 20 21 de z/ 20 21 ja n/ 20 22 fe v/ 20 22 m ar /2 02 2 ab r/ 20 22 m ai /2 02 2 ju n/ 20 22 ju l/2 02 2 ag o/ 20 22 se t/ 20 22 ou t/ 20 22 no v/ 20 22 de z/ 20 22 ja n/ 20 23 fe v/ 20 23 m ar /2 02 3 ab r/ 20 23 m ai /2 02 3 26/03/2021 25/06/2021 16 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 ano. O segmento de pessoas físicas (PF) sofreu algum abalo no início da pandemia, no ano passado, mas voltou a acelerar o crescimento logo depois. Ao analisar o movimento recente das concessões, observam-se ciclos curtos de ex- pansão e retração. O gráfico 9 mostra que a fase atual é ascendente tanto para PF, quanto pessoa jurídica (PJ). Na segmentação por tipo de recursos, a evolução das concessões é mais favorável em recursos livres, ao passoque as concessões com recursos direcionados estão estáveis em termos reais, após apresentarem queda no final de 2020 por conta da retirada gradual dos estímulos públicos. A trajetória ascendente da taxa média de novas operações de crédito antecedeu a elevação na taxa básica de juros. Desde setembro de 2020, o aumento ficou na faixa de 2-3 p.p. em todas as aberturas, com exceção das taxas para recursos dire- cionados. Em maio, no entanto, houve reversão desta tendência com a queda de aproximadamente 0.5 p.p. nas taxas médias. O Indicador de Custo do Crédito (ICC), que mede o custo médio de todo o crédito do SFN, apresenta evolução bastante parecida. Os níveis de comprometimento de renda mantêm trajetória as- cendente, ainda que com efeitos limitados sobre os níveis de inadimplência, que se encontram em suas mínimas históricas. Ao analisar todos os fatores em conjunto, observa-se uma discreta piora nas condições gerais do mercado de crédito, cuja evo- lução e tendência para os próximos meses depende da evolução da economia, com destaque para o mercado de trabalho, e da implementação de medidas de estímulo, como a renovação do programa de garantias de crédito, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (PRONAMPE), que agora é permanente. GRÁFICO 8 Variação em doze meses do saldo real da carteira de crédito (Em %) Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 m ai /1 1 ja n/ 12 se t/ 12 m ai /1 3 ja n/ 14 se t/ 14 m ai /1 5 ja n/ 16 se t/ 16 m ai /1 7 ja n/ 18 se t/ 18 m ai /1 9 ja n/ 20 se t/ 20 m ai /2 1 Total Pessoa jurídica Pessoa física GRÁFICO 9 Média diária de concessões dessazonalizadas (Em R$ milhões a preços constantes de setembro de 2019) Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 m ai /1 1 ja n/ 12 se t/ 12 m ai /1 3 ja n/ 14 se t/ 14 m ai /1 5 ja n/ 16 se t/ 16 m ai /1 7 ja n/ 18 se t/ 18 m ai /1 9 ja n/ 20 se t/ 20 m ai /2 1 Total PJ PF 17 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 2 Cenário fiscal3 As contas públicas apresentaram melhora nos últimos meses. O governo central, que havia registrado deficit primário de R$ 101,2 bilhões, a preços de abril de 2021, no primeiro quadrimestre de 2020, apresentou um superavit de R$ 41,5 bilhões no primeiro quadrimestre deste ano – uma diferença de R$ 142,7 bilhões (tabela 1). A diferença entre as despesas para mitigação dos efeitos da Covid-19 nos dois quadrimestres, mais alta no ano passado que neste ano, explica algo como R$ 44,2 bilhões; as demais despesas, pouco mais de R$ 20 bilhões; e a receita líquida, R$ 78,1 bilhões. O menor volume de despesas se explica também pelo atraso na aprovação do orçamento, que limitou as despesas discricionárias. As receitas federais cresceram 16,6% em termos reais no acumulado no ano até abril, e o crescimento foi forte tanto nas administradas pela Receita Federal do 3 Esta seção contou com a colaboração de Geraldo Julião Júnior, Felipe Martins e Sergio Ferreira, pesquisadores da Dimac/Ipea. GRÁFICO 10A PJ e PF – Taxas de juros das operações de crédito (Em %) Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 19,91 12,55 24,57 3,29 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 m ai /1 1 ja n/ 12 se t/ 12 m ai /1 3 ja n/ 14 se t/ 14 m ai /1 5 ja n/ 16 se t/ 16 m ai /1 7 ja n/ 18 se t/ 18 m ai /1 9 ja n/ 20 se t/ 20 m ai /2 1 Total PJ PF Selic anualizada GRÁFICO 10B Livres e direcionados – Taxas de juros das operações de crédito (Em %) Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 28,45 6,97 3,29 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 m ai /1 1 ja n/ 12 se t/ 12 m ai /1 3 ja n/ 14 se t/ 14 m ai /1 5 ja n/ 16 se t/ 16 m ai /1 7 ja n/ 18 se t/ 18 m ai /1 9 ja n/ 20 se t/ 20 m ai /2 1 Recursos Livres Recursos Direcionados Selic anualizada TABELA 1 Resultado primário do governo central (1o quadr. de 2020 e 2021) (Em R$ bilhões de abril de 2021) Fonte: STN. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Notas: 1 Receita federal do Brasil (RFB) 2 Regime geral de previdência social (RGPS) Período Janeiro-abril (preços constantes, R$ milhões de abr./2021) Taxa de variação (%) 2020 2021 1. Receita total 534.952 623.519 16,6 1.1 Receitas administradas pela RFB¹ 345.481 406.584 17,7 1.2 Arrecadação do RGPS² 128.030 138.613 8,3 1.3 Receitas não administradas 61.441 78.356 27,5 2. Transferências a estados e municípios 99.949 110.376 10,4 3. Receita líquida (1-2) 435.003 513.143 18,0 4. Despesa total 537.199 471.477 -12,2 4.1 Pessoal e encargos sociais 106.782 102.487 -4,0 4.2 Benefícios da previdência 219.702 215.119 -2,1 4.3 Outras despesas obrigatórias 131.620 86.804 -34,0 4.4 Despesas do Poder Executivo sujeitas à programação financeira 79.094 67.066 -15,2 5. Resultado previdenciário -91.672 -76.506 -16,5 6. Resultado primário (3-4) -101.244 41.496 -141,0 18 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 Brasil (RFB) quanto nas não administradas. Esse crescimento contrasta com a ex- pansão anda relativamente modesta da atividade econômica no período: segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), o crescimento foi de 4,8% até abril. Mesmo quando se consideram os fatores não recorrentes destacados pela RFB na divulgação dos resultados mensais de arrecadação, o crescimento – superior a 10% reais – ainda é bem maior que a expansão da atividade no período. Isso pode ser explicado, em parte, pela composição setorial do crescimento, com maior contribuição da indústria em relação aos serviços e do setor formal vis-à-vis o informal. Ou seja, com a retomada das atividades no setor serviços, o crescimento da arrecadação em relação ao crescimento do PIB tende a ser menor. O aumento da arrecadação no primeiro quadrimestre levou a uma revisão im- portante do total esperado para 2021. De acordo com o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do segundo bimestre, divulgado em maio, as receitas primárias federais previstas para o ano aumentaram em cerca de R$ 108,4 bilhões, relativamente aos relatórios anteriores. Considerando-se as transferências por re- partição de receitas aos entes subnacionais, o acréscimo na receita líquida do gover- no federal foi de R$ 88,2 bilhões. As previsões dos agentes de mercado avançaram na mesma direção: as medianas das projeções do Prisma Fiscal para a arrecadação federal em 2021 e 2022, que eram de R$ 1.600 bilhões e R$ 1.724 bilhões em janeiro, passaram para R$ 1.721 bilhões e R$ 1.829 bilhões em junho. De outro lado, as despesas primárias federais projetadas para o ano apresentaram redução de cerca de R$10,1 bilhões no relatório do segundo bimestre, relativa- mente ao relatório anterior. Essa redução nas despesas deveu-se primordialmente ao veto presidencial às programações de despesas discricionárias constantes do Au- tógrafo do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2021, que permitiu reduzir as despesas discricionárias em cerca de R$ 19,8 bilhões em relação ao relatório anterior e mais do que compensou o aumento das despesas obrigatórias projetadas para o ano, da ordem de R$9,7 bilhões, associado a novas medidas de mitigação dos efeitos da pandemia de Covid-19 no país. A revisão do valor das despesas projetadas para 2021 diminuiu de forma substan- cial a necessidade de ajuste visando cumprir o teto de gastos da União – que passou de R$29,1 bilhões no relatório de avaliação extemporânea de abril para R$ 4,5 bilhões no relatório de maio (tabela 2). Permanece, assim, a necessidade de algum esforço adicional em termos de contenção de despesas visando satisfazer o teto, mas parece factível realizar esse esforço sem que isso implique prejuízos adicionais mais difusos em termos de funcionamento da máquina pública. Para 2022 e 2023, espera-se uma folga razoáveldas despesas projetadas no Projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias (PLDO) 2022 em relação ao teto. Isso de- corre fundamentalmente da trajetória projetada para a inflação ao longo de 2021: enquanto se espera que a inflação (medida pelo IPCA) acumulada em doze meses em junho, que balizará o reajuste do teto de gastos para 2022, se situe próxima de 8,6%, a inflação no final do ano deverá estar em patamar substancialmente mais baixo, em torno de 5,8%. Trajetória semelhante deverá ser observada para o INPC, 19 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 cuja variação acumulada em 2021 está projetada em 5,1% e deverá balizar o rea- juste de despesas importantes indexadas ao valor do salário mínimo, como os bene- fícios previdenciários, abono salarial, seguro-desemprego e Benefício de Prestação Continuada (BPC)/ Renda Mensal Vitalícia (RMV). Assim, supondo que a infla- ção de fato apresente trajetória declinante ao longo do ano, espera-se que o teto de gastos seja reajustado a uma taxa substancialmente mais alta do que alguns itens importantes da despesa primária da União, abrindo a folga mostrada na tabela. Como resultado das revisões nas projeções das receitas e despesas primárias federais para 2021, a magnitude do deficit primário esperado para o ano diminuiu consi- deravelmente, de R$ 286 bilhões no relatório de avaliação de receitas e despesas extemporâneo de abril para R$ 187,7 bilhões no relatório do segundo bimestre. As projeções medianas de mercado para o deficit primário do governo central em 2021 também apresentaram melhora, ainda que em menor magnitude, passando de R$ 257,4 bilhões em maio para R$ 200,8 bilhões em junho, conforme dados do Prisma Fiscal. Para 2022, é importante notar que parte da folga em relação ao teto de gastos apresentada na tabela 2 poderá ser ocupada por despesas adicionais, quando da elaboração do orçamento daquele ano. Ainda assim, diante do aumento esperado nas receitas, o deficit primário projetado pelos agentes de mercado dimi- nuiu de R $170,2 bilhões para R$ 135,6 bilhões. A melhora no resultado primário esperado para 2021 e 2022, combinada ao au- mento mais forte esperado para o PIB nominal (decorrente de maior crescimento real e, também, de aumento no deflator do PIB), tem levado a revisões na trajetória esperada para a relação entre a dívida bruta do governo geral (DBGG) e o PIB. O gráfico 11 apresenta as projeções de mercado para a razão DBGG/PIB nos anos de 2021 a 2023, coletadas pelo Prisma Fiscal entre janeiro de 2020 e junho de 2021. Após terem atingido valores máximos entre setembro e outubro de 2020, essas projeções diminuíram e se estabilizaram em patamares mais baixos no início TABELA 2 Estimativa das despesas primárias do governo central sujeitas ao teto de gastos e da “folga” ou “necessidade de ajuste” em relação ao teto (Em R$ milhões) Fonte: Ministério da Ecocomia; Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Notas: 1 Inclusive a despesa com emendas parlamentares. 2 Exclusive as despesas com emendas parlamentares. Obs.: Os dados para 2020 são observados. Para 2021, as principais informações são retiradas do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas do Ministério da Economia de maio de 2021, e para 2022 e 2023 a fonte básica é o PLDO 2022. As estimativas oficiais para 2021-23 foram complementadas com projeções para alguns itens de despesa em nível desagregado e atualizadas com base nas projeções de inflação (IPCA e INPC) da DIMAC/IPEA. Essas projeções de inflação também subsidiaram a estimativa do teto de gastos em 2022 e 2023. As estimativas não consideram o impacto potencial da Lei 14176, de 22 de junho de 2021, nas despesas com BPC. 2020 2021 2022 2023 1 - Teto de gastos 1.454.946 1.485.936 1.615.213 1.679.821 2 - Despesas sujeiras ao teto 1.402.792 1.490.458 1.585.343 1.647.558 2.1. Obrigatórias¹ 1.173.079 1.232.416 1.323.540 1.391.256 Benefícios previdenciários 663.505 706.839 767.578 815.497 Pessoal e encargos sociais 306.619 321.864 332.355 341.691 Abono e Seguro desemprego 59.571 50.182 65.550 70.171 BPC 62.668 67.655 70.797 74.441 Legislativo, Judiciário, MPU e DPU 10.614 13.910 17.910 19.328 Demais obrigatórias¹ 70.102 71.966 69.350 70.128 2.2. Obrigatórias com controle de fluxo 133.784 154.886 165.128 170.945 2.3. Discricionárias do Poder Executivo² 95.929 103.156 96.675 85.357 3 - Folga(+)/necessidade de ajuste(-) em relação ao Teto dos gastos (1 - 2) 52.155 -4.522 29.869 32.264 20 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 de 2021, até que em junho, diante dos dados recentes de atividade econômica e arrecadação tributária, apresentaram nova queda. A razão DBGG/PIB pro- jetada para 2021, que era de 95,7% em outubro de 2020 e 90,8% em janeiro de 2021, caiu para 84,5% em junho. Que- das de magnitudes semelhantes ocorre- ram nas projeções para 2022 e 2023. A evolução favorável dos indicadores fis- cais no curto prazo parece ter melhora- do a percepção de risco em relação à si- tuação fiscal do país, pois reduziu, ceteris paribus, a magnitude dos resultados primários futuros requeridos para estabilizar a razão dívida/PIB, bem como ampliou a janela de tempo para a adoção de medidas adicionais de consolidação fiscal. Contudo, essa melhora não deve ser interpretada como sinal de que a questão fiscal foi resolvida. Deve-se ter em mente, em particu- lar, que o ambiente externo favorável – recuperação da economia mundial, preços de commodities em elevação e baixas taxas de juros – não perdurará indefinidamen- te. Assim, o desafio de recolocar as contas públicas em uma trajetória sustentável ainda requer esforço adicional significativo, principalmente no que tange a medi- das de controle do crescimento de despesas obrigatórias. 3 Projeções de PIB e inflação para 2021 e 20224 3.1 PIB A interrupção de alguns programas de sustentação da renda e do emprego ao final do ano passado foram fontes importantes de incerteza em relação ao ritmo de crescimento da demanda no primeiro trimestre de 2021. Esses fatores, somados ao recrudescimento da pandemia no período – que culminou com um novo endu- recimento das medidas de distanciamento social –, gerou uma expectativa de que o ritmo de recuperação da atividade econômica poderia desacelerar no primeiro semestre. Porém, o avanço de 1,2% registrado pelo PIB no primeiro trimestre de 2021, na comparação já livre de efeitos sazonais, surpreendeu positivamente, fi- cando acima da previsão divulgada em março deste ano na Visão Geral5 da Carta de Conjuntura no 50 – que era de queda de 0,5%. Os indicadores mensais mais recentes de atividade econômica, como detalhado na Nota de Conjuntura no 31,6 reforçam esse cenário positivo, em que a economia se mostrou mais resiliente aos efeitos do agravamento da pandemia e das políticas de afastamento social. 4. Esta seção contou com a colaboração de Sidney Caetano e Tarciso G. da Silva, pesquisadores visitantes da Dimac/Ipea; Marcelo L. de Moraes, Pedro M. Garcia e Carolina Ripoli, assistentes de pesquisa da Dimac/Ipea; Maria Andreia P. Lameiras e Ajax B. Moreira, técnicos de planejamento e pesquisa da Dimac/Ipea; e Fabio Servo, especialista em políticas públicas e gestão governamental na Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura (Diset) do Ipea. 5. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/03/visao-geral-da-conjuntura-10/>. 6. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/06/indicadores-mensais-de-industria-comercio-e-servicos/>. GRÁFICO 11 Projeções de mercado para a razão DBGG/PIB (Em %) Fonte: Prisma Fiscal/SPE. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 95,7 90,77 84,5 97,9 92,36 87,8 70 75 80 85 90 95 100 105 ja n/ 20 fe v/ 20 m ar /2 0 ab r/ 20 m ai /2 0 ju n/ 20 ju l/2 0 ag o/ 20 se t/ 20 ou t/ 20 no v/ 20 de z/ 20 ja n/ 21 fe v/ 21 m ar /2 1ab r/ 21 m ai /2 1 ju n/ 21 Mês de realização das projeções 2021 2022 2023 https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/03/visao-geral-da-conjuntura-10/ https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/06/indicadores-mensais-de-industria-comercio-e-servicos/ 21 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 Embora alguns setores ainda se encontrem em níveis distintos de recuperação após uma queda generalizada em março, a rápida reação observada na maioria dos in- dicadores de atividade de abril e maio mostra um cenário econômico bem distinto em relação ao observado no ano passado, diante da primeira leva de restrições às atividades econômicas e sociais, que se havia caracterizado por quedas recordes na maioria dos setores. O retorno de alguns programas de estímulos fiscais (o Auxílio Emergencial e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda) deve estimular a demanda neste e no próximo trimestre, mas o fator que deve ter um impacto mais duradouro e com efeitos especialmente positivos sobre os seg- mentos do setor de serviços mais afetados pela crise é a aceleração da campanha nacional de vacinação. Embora ainda não tenhamos atingido o grau de cobertura suficiente para permitir a flexibilização mais generalizada das políticas de distancia- mento social, a aceleração recente da vacinação já pode estar contribuindo para re- duzir a ocupação de leitos de UTI e de mortes pela doença. Além da normalização dos níveis de mobilidade no segundo semestre, que irão contribuir para aquecer a demanda doméstica, esperamos também que o desempenho da economia mundial continue sendo um importante driver de crescimento, particularmente para os se- tores ligados ao agronegócio e para as indústrias extrativas. Nesse contexto, a previsão da Dimac/Ipea para o crescimento acumulado do PIB, em 2021, foi revisada de 3,0% – previsão feita em março – para 4,8% (ver tabela 3). Projetamos um crescimento interanual de 12,7% no segundo trimestre, que viria acompanhado por um resultado próximo à estabilidade na margem. É bom lembrar que, embora os indicadores de atividade tenham vindo melhores que os esperados em abril, ainda assim foram afetados pelo agravamento da pandemia de Covid-19. Mesmo com a recuperação esperada para maio para a produção indus- trial, as nossas estimativas apontam para um carregamento estatístico negativo no segundo trimestre.7 Apesar dessa melhora significativa da projeção de crescimento, há riscos relacionados à escassez de energia – devido à crise hídrica – e à própria dinâmica da pandemia – pois ainda não se sabe ao certo a eficiência e a duração da imunidade proveniente da vacinação em massa para a Covid-19. 7. Com base nas estimativas de crescimento para os indicadores de maio feitas na Nota de Conjuntura no 31, estima-se carry-over negativo para a PIM-PF, do IBGE, de 2,4%. TABELA 3 Projeções: taxas de crescimento do PIB e de seus componentes (Em %) Fonte: Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Observado Previsto 2019 2020 2020-T4 2021-T1 2021-T2 2021 2022 Trim. Ano anterior Trim. Ano anterior Trim. Ano anterior Trim. Anterior dessazonalizado PIB 1,4 -4,1 -1,1 1,0 12,6 0,1 4,8 2,0 Agropecuária 0,6 2,0 -0,4 5,2 12,7 7,7 2,6 2,0 Indústria 0,4 -3,5 1,2 3,0 17,4 -0,5 5,7 1,5 Serviços 1,7 -4,5 -2,2 -0,8 9,9 0,1 4,5 2,2 Consumo das famílias 2,2 -5,5 -3,0 -1,7 11,7 0,6 3,9 2,2 Consumo do governo -0,4 -4,7 -4,1 -4,9 4,9 1,5 2,0 2,0 FBCF 3,4 -0,8 13,5 17,0 26,8 -9,3 10,7 3,5 Exportações de bens e serviços -2,4 -1,8 -4,3 0,8 9,7 8,8 6,7 3,9 Importações de bens e serviços 1,1 -10,0 -3,1 7,7 20,2 -2,6 9,2 5,3 22 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 Pela ótica da produção, esperamos que o avanço na campanha de imunização re- duza os riscos de um novo agravamento da crise sanitária. Com isso, o setor de serviços, que ainda apresenta segmentos em patamares bastante inferiores àqueles observados no período pré-pandemia, terá condições de apresentar uma trajetória de recuperação mais robusta no segundo semestre, com impactos positivos, princi- palmente, no mercado de trabalho. Após um provável segundo trimestre com baixo crescimento, esperamos uma trajetória de aceleração nos dois trimestres seguintes, encerrando o ano com crescimento de 4,5%. A conjuntura internacional tem sido um fator relevante na recuperação da econo- mia brasileira. O crescimento do PIB mundial e a aceleração dos preços de com- modities têm provocado um aumento na demanda externa e melhora nos termos de troca. Na esteira desses movimentos, os setores do agronegócio e das indústrias extrativas, particularmente, têm sido os mais beneficiados. A previsão para o valor adicionado do setor agropecuário em 2021, com base nas estimativas do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE, e em projeções próprias para a pecuária a partir dos dados da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, da Produção de Ovos de Galinha e Leite, foi revisada de 2,2% para 2,6%.8 A produção vegetal, por sua vez, tem alta de 2,7%, em relação ao ano anterior. O principal destaque é o crescimento estimado para a produção de soja – produto com maior peso no valor bruto da produção da produção vegetal – de 9,4%, resultando em nova safra recorde para o grão. No caso da produção animal, projetamos alta para todos os segmentos, com destaque para as produções de suí- nos e frangos, que devem crescer 6,8% e 6,5%, respectivamente. Em relação ao PIB industrial, o segmento das indústrias extrativas é o que tem melhores perspectivas devido às altas de demanda e preços internacionais. A indús- tria de transformação, por seu turno, segue enfrentando escassez e encarecimento de insumos de produção. Parte desse problema também se reflete em níveis insu- ficientes de estoques, cujo processo de ajustamento vai continuar contribuindo positivamente para o crescimento da produção industrial ao longo de 2021. Como mencionado anteriormente, a produção industrial continua com carry-over negati- vo para o segundo trimestre, mesmo com a recuperação esperada para maio. Desse modo, uma queda na margem de 0,5% no segundo trimestre é aguardada, seguida por recuperação no restante do ano, acumulando alta de 5,7% em 2021. Pelo lado da despesa, a recuperação do consumo de bens e serviços segue contida, devido à lenta recuperação do mercado de trabalho e à aceleração inflacionária. Contudo, a retomada do Auxílio Emergencial e do BEm 2021, já em meados de abril, deve contribuir para incrementar a demanda interna. Sendo assim, o consu- mo das famílias deve apresentar ritmo moderado de expansão no segundo trimestre de 2021, acelerando ao longo dos períodos seguintes, com o avanço da vacinação e a normalização dos níveis de mobilidade. Com isso, esperamos que encerre o ano com crescimento de 3,9%. 8. Análise completa da previsão de crescimento do setor agropecuário está disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index. php/2021/06/projecao-do-valor-adicionado-do-setor-agropecuario-para-2021-2/>. https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/06/projecao-do-valor-adicionado-do-setor-agropecuario-para-2021-2/ https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/06/projecao-do-valor-adicionado-do-setor-agropecuario-para-2021-2/ 23 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 Em relação aos investimentos, os indi- cadores setoriais de destino da produ- ção nacional de bens de capital indicam que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) tem sido estimulada pelo cres- cimento da demanda de setores como agricultura, indústrias extrativas e da construção civil. Apesar da estimativa de alta interanual de 26,8% no segundo tri- mestre, deve-se ter em mente o efeito do ajuste contábil das importações fictas de plataformas de petróleo do Repetro nos primeiros três meses do ano, que elevou a base de comparação, o que explicaa queda prevista na comparação na margem, como mostra o gráfico 12. Mais especi- ficamente, a ausência desse fluxo contábil de importações irá causar uma queda da FBCF que não representará uma redução de fato do fluxo de investimentos. Para o ano, espera-se crescimento de 10,7% da FCBF. Por fim, estimamos contribuição negativa das exportações líquidas no ano. Ape- sar da alta esperada de 6,7% das exportações, impulsionadas pelo crescimento da economia mundial e pelo câmbio desvalorizado, estimamos que o crescimento da demanda interna irá causar uma elevação ainda maior das importações, de 9,2% Para 2022, a Dimac/Ipea projeta um aumento de 2% para o PIB, inferior aos 2,8% previstos na divulgação anterior. O motivo para essa revisão é o aumento da base de comparação, o PIB em 2021. A recuperação do PIB já no primeiro trimestre aumenta o crescimento de 2021 e reduz o carrego estatístico para o próximo ano. Diferentemente do que acontece neste ano, o esforço de crescimento em 2022 é maior, refletindo um efeito carry-over inferior a 1%. Vale destacar que, apesar da redução do crescimento esperado para 2022, a previsão para o crescimento acumu- lado no biênio passou de 5,9% para 6,9%. As hipóteses cruciais deste cenário envolvem o controle da pandemia no Brasil por meio de vacinação e a manutenção de um cenário relativamente estável para a política fiscal no curto prazo – especialmente em relação ao teto dos gastos. Com os níveis de mobilidade em patamares próximos àqueles pré-pandemia, o setor de serviços deverá ser o principal motor do crescimento pela ótica da produção, ge- rando impactos positivos no mercado de trabalho. Como fator de risco positivo, o investimento pode refletir, nos próximos anos, os avanços nos marcos regulatórios de setores de infraestrutura, como saneamento e gás, assim como as concessões e privatizações já realizadas ou encaminhadas. Os efeitos defasados do ciclo de nor- malização das taxas de juros, no entanto, deverão ser sentidos mais intensamente em 2022. Entre os fatores de risco negativos, destaca-se o possível aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, no âmbito externo, que poderia pressionar câm- bio e juros no Brasil. Por fim, os estímulos provenientes da demanda mundial ain- GRÁFICO 12 Importações de bens de capital: total sem Repetro versus importações do Repetro (Em US$ milhões) Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 ja n/ 20 fe v/ 20 m ar /2 0 ab r/ 20 m ai /2 0 ju n/ 20 ju l/2 0 ag o/ 20 se t/ 20 ou t/ 20 no v/ 20 de z/ 20 ja n/ 21 fe v/ 21 m ar /2 1 ab r/ 21 m ai /2 1 Importações de bens de capital (sem Repetro) 24 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 33 | 2˚ trim estre de 2021 da estarão presentes, embora num ritmo menor, provocando alguma desaceleração no crescimento das exportações. 3.2 Inflação De abril a maio deste ano, a taxa de inflação acumulada em doze meses saltou de 6,8% para 8,1%, impactada por uma aceleração, acima das expectativas, dos preços monitorados e de bens industriais. No caso dos preços monitorados, a alta de 2,1% em maio refletiu não apenas o acionamento da bandeira vermelha e seus impactos sobre a energia elétrica, como também os novos aumentos dos medicamentos, do gás e da gasolina. Em relação aos bens industriais, embora uma recomposição de preços já fosse esperada – dados os impactos defasados do câmbio, o aumento nos preços internacionais das matérias-primas e a escassez de alguns insumos –, a inten- sidade da alta registrada em maio (1,3%) surpreendeu. O surgimento de novos elementos no cenário econômico gerou uma mudança no balanço de riscos para a inflação brasileira de tal forma que a projeção para o IPCA em 2021 foi revisada de 5,3% – previsão divulgada no final de maio na Nota de Conjuntura no 179 – para 5,9%. Ainda que ocorra uma melhora no cenário de câm- bio, a aceleração dos preços das commodities no mercado internacional vem man- tendo os índices de preços ao produtor pressionados. Altas adicionais nos preços dos bens de consumo industriais no varejo devem levar a um aumento na projeção de inflação desse subgrupo, de 4,3% para 4,8% em 2021. De modo análogo, a estimativa para a alta dos preços monitorados também foi revista para cima, pas- sando de 8,4% para 9,7%, pressionada, sobretudo, pela piora no comportamento da energia elétrica. Por certo, além da aplicação da bandeira vermelha nível 2 em junho e da hipótese de que esta se manterá em vigor durante todo o ano – dada a baixa histórica no nível dos reservatórios –, a correção dessa sobretaxa, que pode- rá passar de R$ 6,24 a cada 100 KW/h para R$ 9,49 a cada 100 KW/h, explica essa aceleração esperada da energia em 2021. Ainda que em menor intensidade, a expectativa da inflação dos serviços livres, exceto educação, também foi majorada – de 4,0% para 4,2% –, motivada por uma melhora do nível de atividade e pelo avanço da vacinação, que devem gerar um incremento de demanda para este setor. Já para os alimentos e para a educação, o grupo de conjuntura manteve as projeções divulgadas anteriormente. Assim como o IPCA, a inflação do INPC projetada para o ano também foi revi- sada para cima, passando de 4,6% para 5,1%. No caso dos preços monitorados, o aumento previsto acelerou de 8,0% para 9,2%, enquanto para os bens livres e serviços, as altas estimadas passaram de 2,7% e 3,2%, para 3,2% e 3,5%, respec- tivamente. Para 2022, as estimativas da Dimac/Ipea indicam uma desaceleração da inflação, tanto para o IPCA quanto para o INPC, em relação à alta projetada em 2021. De acordo com os modelos de previsão utilizados, a inflação medida pelo IPCA deve encerrar o ano de 2022 em 3,9%, levemente acima dos 3,7% estimados para o INPC. 9. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/05/analise-e-projecoes-de-inflacao-2/>. https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/05/analise-e-projecoes-de-inflacao-2/ 25 Carta de Conjuntura | 51 | N ota 32 | 2˚ trim estre de 2021 TABELA 4 Cenários para juros e câmbio – final de ano (Em %) Fonte: Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Observado Previsto 2019 2020 2021 2022 Taxa de juros SELIC (% a.a.) 4,50 2,00 6,50 7,00 Taxa de câmbio R$/US$ 4,03 5,20 4,90 5,20 TABELA 5 IPCA: previsão para inflação em 2021 (Em %) Fonte: Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Obs.: Previsão anterior refere-se à Nota de Conjuntura no 17, disponível em <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/05/analise-e-projecoes- -de-inflacao-2/>. Previsão Anterior Previsão Revisada Peso Previsão da taxa de variação Contribuição para o IPCA Previsão da taxa de variação Contribuição para o IPCA Alimentos no domicílio 15,2 5,0 0,8 5,0 0,8 Bens livres (exceto alimentos) 22,8 4,3 1,0 4,8 1,1 Serviços (exceto educação) 30,7 4,0 1,2 4,2 1,3 Educação 5,4 3,8 0,2 3,8 0,2 Monitorados 25,9 8,4 2,2 9,7 2,5 IPCA 100,0 5,3 5,9 TABELA 6 INPC: previsão para inflação em 2021 (Em %) Fonte: Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Obs.: Previsão anterior refere-se à Nota de Conjuntura no 17, disponível em <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/05/analise-e-projecoes- -de-inflacao-2/>. Previsão Anterior Previsão Revisada Peso Previsão da taxa de variação Contribuição para o INPC Previsão da taxa de variação Contribuição para o INPC Alimentos no domicílio 18,6 5,2 1,0 5,2 1,0 Bens livres (exceto alimentos) 25,9 2,7 0,7 3,1 0,8 Serviços (exceto educação) 25,2 3,2 0,8 3,5 0,9 Educação 4,3 1,0 0,0 1,0 0,0 Monitorados 26 8,0 2,1 9,2 2,4 INPC 100,0 4,6 5,1 https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/05/analise-e-projecoes-de-inflacao-2/ https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/05/analise-e-projecoes-de-inflacao-2/ https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/05/analise-e-projecoes-de-inflacao-2/
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