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A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 1 A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR* David Alberto Beker Jordan** I. Introdução A emergência dos movimentos de ajuda mútua em escala mundial demonstra que as pessoas estão preocupadas umas com as outras cada vez mais: aqueles que têm mais estão ajudando aqueles que têm menos. A maior parte das organizações sem fins lucrativos existe para prover a população de serviços básicos, tais como saúde, educação, dentre outros. Algumas organizações, além de proverem serviços, estão voltadas para a promoção da cidadania e para a luta por determinados direitos. Como exemplos, cabe mencionar as fundações, instituições e organizações sem fins lucrativos voltadas para a ação na comunidade. Este ensaio procura mostrar como o administrador pode encontrar espaços de atuação dentro do universo do chamado Terceiro Setor. Na primeira parte do trabalho, procura-se tratar de questões teóricas relativas ao conceito de Terceiro Setor. A seguir, trata-se das oportunidades de carreira no setor. Em seguida, fala-se sobre os salários no Terceiro Setor. Por fim, é apresentada uma conclusão para o trabalho. II. Sobre o Terceiro Setor O primeiro setor é o Estado e o segundo, a iniciativa privada. Pode-se destacar que o crescimento das organizações sem fins lucrativos é grande devido ao fato de o Estado não conseguir atender todos na provisão dos serviços sociais, sendo que o número de indivíduos que precisam de ajuda também cresce sem parar. * Este artigo foi elaborado sob a orientação do professor Luiz Carlos Merege com base nos resultados de uma pesquisa feita com bolsa de iniciação científica, promovida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Núcleo de Pesquisas e Publicações da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (NPP-EAESP-FGV), desenvolvida no período de agosto de 1996 a junho de 1997. ** O autor é aluno de graduação em Administração de Empresas da EAESP-FGV. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 2 Nas organizações sem fins lucrativos, o objetivo principal não é o lucro financeiro, mas sim a provisão dos melhores serviços possíveis com os recursos disponíveis. Para que se possa fazer um estudo sobre a possibilidade de carreira para o administrador em entidades sem fins lucrativos, é preciso que antes se conheça um pouco mais sobre esse tipo de entidade, ou seja, sobre o Terceiro Setor. Existe uma série de organizações que não podem ser classificadas como pertencentes ao Estado nem ao mercado. Levando-se em conta esse fato, nota-se que, “para além do Estado e do mercado” (Landim, 1993), existem novas realidades que estão surgindo para suprir a carência do Estado em proporcionar à população um mínimo de bem-estar social. Essas novas realidades fazem parte de um Terceiro Setor não-lucrativo e não-governamental, que depende de doações de pessoas, empresas ou de ajuda do governo para poder existir. Devido à novidade do tema, não há muitos estudos sobre o assunto e constata-se que este ainda tem muito a ser explorado nos mais diversos âmbitos. Pode-se dizer que esses fatores dificultaram um pouco a obtenção de dados e de material, mas é de se esperar que a produção bibliográfica na área aumente com os anos devido à grande importância desse setor para a sociedade. Alguns dos principais autores que trabalharam na questão cujas idéias serão abordadas nesta introdução foram: Peter Drucker, Rubem César Fernandes, Leilah Landim, Jeremy Rifkin e Lester Salamon. Jeremy Rifkin, no seu livro “O Fim dos Empregos”, afirma: “O Terceiro Setor, também conhecido como setor independente ou voluntário, é o domínio no qual padrões de referência dão lugar a relações comunitárias, em que doar do próprio tempo a outros toma o lugar de relações de mercado impostas artificialmente, baseadas em vender-se a si mesmo ou seus serviços a outros” (p. 263). Rifkin, portanto, relaciona o Terceiro Setor a qualquer atividade comunitária voluntária. Ele chama a atenção para a possibilidade de trabalho no Terceiro Setor e para as relações sociais a ele associadas. Segundo Rifkin, o progresso tecnológico, a comunicação e a informação fazem com que a necessidade de mão-de-obra pelas empresas tenda a diminuir. Paralelo a essa situação, ele constata que os governos têm- se tornado mais fracos e incompetentes, sendo que a contratação de mão-de-obra está ficando cada vez menor, ou seja, eles estão deixando de ter a função de contratantes de última instância. Para ele, a diminuição da jornada de trabalho liberaria mais horas “de lazer” e, com isso, o trabalho no Terceiro Setor seria uma opção interessante, pois rompe com a lógica utilitarista e insaciável do apego ao dinheiro e às suas possibilidades de consumir cada vez mais. A economia de mercado, medida em termos de Renda e Produto, estaria sendo substituída por uma economia social, que considera ganhos econômicos indiretos e grau de solidariedade em uma região. O Terceiro Setor é também importante para servir de força aglutinante e de elo social e para manter os diferentes interesses de uma sociedade dentro de uma identidade social coesa. Tanto Peter Drucker quanto Jeremy Rifkin pensam em termos globais partindo das últimas mudanças dos países desenvolvidos. Para ambos, a sociedade estaria entrando numa era A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 3 pós-capitalista ou pós-mercado, na qual o fator de produção mais importante passa a ser o conhecimento, no lugar da mão-de-obra, da terra e do capital. O Terceiro Setor é uma alternativa para refazer a integração social. Drucker afirma, nesse sentido: “Historicamente, a comunidade era obra do destino. Na sociedade pós-capitalista, a comunidade precisa se tornar um compromisso.” Lester Salamon, pesquisador da Johns Hopkins University, foi um dos pioneiros no estudo do Terceiro Setor. Ele fez um levantamento e uma análise de dados econômicos como a capacidade do setor de gerar empregos e de movimentar renda. Salamon fez comparações entre vários países e definiu o setor não-lucrativo como sendo formado por organizações estruturadas, privadas, que não distribuem os seus lucros para os seus diretores ou acionistas, que são autogovernadas, que envolvem indivíduos voluntários, que são não- religiosas e não-políticas e que atendem o público. Para Salamon, o Terceiro Setor, ou setor não-lucrativo, pode receber outros nomes, como setor da caridade, setor independente, setor voluntário, setor tax-exempt. Salamon destaca que o Terceiro Setor deve diversificar suas origens de recursos para que não tenha que depender tanto do governo para funcionar, passando a ser um parceiro deste na provisão de serviços sociais. Para Salamon, as causas da expansão recente do Terceiro Setor são “forças históricas fundamentais”, que consistem na perda de confiança no Estado, na expansão das comunicações, na emergência de uma classe média comercial e profissional mais vibrante, na crescente demanda por uma série de serviços especializados e no colapso do socialismo. Logo, para Salamon, Rifkin e Drucker, o Terceiro Setor tende a crescer a fim de resolver os problemas sociais gerados pelo mercado e que o Estado não consegue resolver, principalmente aqueles relacionados com a geração de emprego, uma vez que, no Terceiro Setor, o trabalho humano é insubstituível e indispensável. O autor brasileiro, Rubem César Fernandes, idealizador do movimento Reage Rio e membro da CIVICUS (Aliança Mundial para a Participação dos Cidadãos), em seu livro “Privado porém Público - O Terceiro Setor na América Latina”, questiona a validade da definição de Lester Salamon de Terceiro Setor para a realidade da América Latina e de outros países não desenvolvidos. Fernandes argumenta que o conceito de Salamon de “organizaçõesestruturadas” (isto é, formais ou institucionalizadas em alguma medida) abrange apenas a “ponta do iceberg” da realidade do Terceiro Setor latino-americano, sendo por isso excludente. Na verdade, “abaixo da linha d'água”, existe um grande conjunto de organizações informais que possuem peso econômico (metade do PIB em alguns países). As dinâmicas “abaixo da linha d'água” incluem as formas tradicionais de ajuda mútua, tais como cura espiritual, magia e outras manifestações religiosas, como umbanda, candomblé, evangélicos, etc. Para Fernandes, o Terceiro Setor deve buscar “interações positivas” com o Estado e, para isso, deve buscar a independência em relação ao Estado quanto a financiamento de suas A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 4 atividades. Além disso, para ele, na América Latina o conceito de Terceiro Setor está muito ligado a uma dupla negação: não-lucrativo e não-governamental. Salamon, ao falar sobre o Brasil, diz que há “milhares de organizações comunitárias não registradas nas áreas pobres urbanas e rurais, que parecem ter aumentado em número significativamente na década passada [1980] como resultado do aprofundamento dos problemas econômicos e políticos”. A pesquisadora brasileira do ISER, Leilah Landim (em sua publicação “Para Além do Mercado e do Estado? - Filantropia e Cidadania no Brasil”), diz que um Estado “forte, patrimonialista e autoritário” numa sociedade como a brasileira contribuiria para a disseminação de organizações informais – isso devido às dificuldades colocadas pelo Estado (obtenção de benefícios, autorizações, regulamentos, subvenções, etc.). Essas dificuldades estimulariam a informalidade fazendo com que as organizações informais, ou seja, “abaixo da linha d'água”, provessem serviços sociais para a população sem possuir autorização formal do Estado. Peter Drucker destaca a importância do Terceiro Setor para a formação pessoal dos indivíduos em relação à conscientização para a ajuda ao próximo e para o aumento do bem- estar da população. Leilah Landim colocou em evidência a importância do Estado centralizador e da forte religiosidade sobre a realidade do Terceiro Setor na sociedade brasileira. Ela diz que: “... é difícil aplicar mecanicamente os modelos que vêm sendo pensados para o Terceiro Setor quanto às sociedades democráticas que completaram com sucesso a trajetória do desenvolvimento e da modernidade. Onde colocar um país como o Brasil na espécie de continuum que se vem estabelecendo entre os ‘modelos’ holandês e escandinavo, quanto à conformação desse setor?” (p. 41). Para ela, o fato de existirem nos países da América Latina sistemas, como “sociedade do favor” e do “jeitinho”, dificulta a formação de instituições horizontais modernas características do Terceiro Setor. Já para os EUA, seria mais fácil devido ao fato de eles não possuírem esses mecanismos. Para Landim, o fato de muitas fundações serem instituídas pelo Estado desvirtua um pouco o caráter privado e não-governamental das organizações do Terceiro Setor, sendo que isso acaba aproximando-as de organizações paraestatais. Dentre os autores analisados, aquele que parece sugerir medidas mais práticas de estímulo a organizações do Terceiro Setor é Jeremy Rifkin. Rifkin parte da idéia já consensualmente aceita do Programa de Renda Mínima ou Imposto Negativo sobre a Renda e a desdobra na idéia de um salário social, ou seja, o desempregado continuaria a receber uma renda mínima, mas, em troca, teria que trabalhar em organizações comunitárias, o que também seria útil para sua formação e auto-estima. Outra idéia de Rifkin é o salário indireto para trabalho voluntário, que se baseia no abatimento de imposto de renda por doação de horas de trabalho voluntárias. Seria difícil A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 5 avaliar quanto vale uma hora trabalhada voluntariamente. Além disso, seria difícil comprovar o número de horas que uma pessoa trabalhou voluntariamente. Rubem César Fernandes chama a atenção para o fato de as ONGs brasileiras ainda estarem muito voltadas para o aspecto político (exemplo: direitos humanos) e pouco para o econômico. A proposta de Fernandes e do CIVICUS consiste na promoção de interações e parcerias, principalmente por meio do estímulo da filantropia empresarial brasileira e apoio técnico do Estado; incentivo à doação particular e ao voluntariado; promoção e estímulo de um ambiente fiscal, político e legal propício para o desenvolvimento e crescimento da sociedade civil; estímulo à pesquisa e ao progresso sobre o Terceiro Setor a fim de apoiar as reivindicações de investimento social; empenho no diálogo com agências internacionais importantes; e valorização do poder do cidadão. Salamon afirma sobre as organizações sem fins lucrativos: “Por mais que se vangloriem de sua flexibilidade, as organizações não-lucrativas continuam a ser organizações. À medida que crescem em escala e complexidade, ficam vulneráveis a todas as limitações que afligem outras instituições burocráticas: indiferença, criação de obstáculos, rotinização e falta de coordenação.” Isso mostra que, à medida que as organizações do Terceiro Setor vão crescendo, surge a necessidade de uma pessoa para organizar as suas atividades a fim de que não se perca o controle e que o crescimento não cesse. Essa pessoa tem o perfil de um administrador. III. Carreira em organizações sem fins lucrativos Com o crescimento das organizações sem fins lucrativos (em tamanho e em número), a possibilidade de emprego e de carreira nessas organizações também aumenta e surgem então oportunidades para diversas categorias de profissionais. Nesta pesquisa, será enfatizada a possibilidade de carreira para os administradores que, nesse tipo de organização, devem dar atenção ao treinamento das pessoas, além de fornecer- lhes apoio na execução de trabalhos. Eles devem também realizar projetos de curto prazo que visem a melhorias sociais, que possam difundir o trabalho da organização garantindo a sua imagem no longo prazo. Além disso, devem buscar uma interação positiva com o governo a fim de obter apoio na execução de projetos e no cumprimento dos objetivos da organização para garantir o respeito a sua missão. Porém não podem deixar que a entidade seja comandada pelo Estado. Esta deve manter autonomia e independência nas suas decisões. Um administrador de organizações sem fins lucrativos deve possuir, além de preocupação econômica, uma preocupação social e uma capacidade de trabalhar em equipe para poder executar com sucesso o maior número de projetos possíveis. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 6 Segundo Denise Chirspin Marim, as organizações sem fins lucrativos são uma fonte de empregos que se está consolidando no Brasil nos últimos anos e que exige novas especializações. Ainda segundo ela, uma das tendências desse tipo de organização é trocar o trabalho voluntário pelo de profissionais, passando a requisitar administradores de entidades sem fins lucrativos e fund raisers (captadores de fundos). O administrador desse tipo de organização deve conhecer o papel das instituições sem fins lucrativos, modelos de gestão adequados a essas instituições, fund raising (captação de doações de empresas), marketing voltado para a divulgação da ação social, ética em instituições sem fins lucrativos, dentre outros. Ele se defrontará com uma série de dificuldades, tais como avaliação do impacto e dos resultados de seus projetos, planejamento da aplicação dos recursos, capacitação técnica administrativa e operacional, informatização e alimentação de sistemas de informação, desenvolvimento de marketing apropriado. Segundo Luiz Carlos Merege, o Terceiro Setor está ganhando uma grande importância devido a sua geração de empregos. Enquanto os outros dois setores, o Estado e o Mercado, estão demitindo, as organizações do Terceiro Setor não param de contratar.Logo, conclui-se que, no desenho da sociedade contemporânea, o Terceiro Setor constituirá uma base sobre a qual os sistemas econômicos se apoiarão. Ainda sobre esse assunto, Oded Grajew, em seu texto “Uma Saída para o Desemprego Estrutural”, diz que o avanço tecnológico combinado com a globalização da economia está ocasionando um aumento do desemprego. Esse tipo de desemprego recebe o nome de desemprego estrutural. Para ele, o setor governamental e o setor privado não-lucrativo (fundações e entidades que trabalham em projetos na área cultural, social e na defesa dos direitos básicos do homem) possuem como objetivo principal a melhoria da qualidade de vida da população. Pode-se notar que esses dois setores são grandes empregadores de mão-de-obra. Isso pode ser comprovado por um estudo da universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, que mostra que, em alguns países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão, o setor governamental representa 27,6% dos empregos e o setor privado não-lucrativo, 4,5% dos empregos. Esse autor propõe que a sociedade aporte recursos de forma obrigatória (impostos e taxas) e voluntária (doações e contribuições ao Terceiro Setor) para que esses dois setores possam empregar mais pessoas e melhorar a qualidade de vida da população. Segundo o National Summary: Not-for-Profit Employment Forum the 1990 Census of Population and Housing, realizado pelo Independent Sector, Washington, D.C., a maioria das pessoas que trabalham no Terceiro Setor são mulheres e pessoas de cor. Isso ocorre tanto em cargos operacionais como em posições de comando. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 7 Ainda segundo esse estudo, o setor não-lucrativo e o governo empregam pessoas com maior nível educacional que o setor lucrativo. Quatro em cada dez pessoas do setor não-lucrativo e do governo possuem faculdade ou graus avançados; já no setor lucrativo, somente 17% das pessoas. Dentre os 7.7 milhões de pessoas que trabalham no setor não-lucrativo, 65% são mulheres. Já no governo, 53% são mulheres e no setor lucrativo, 44%. Segundo Cassandra Hayes em seu artigo “Deeds over Dollars”, conforme o número de organizações sem fins lucrativos cresce, as oportunidades de empregos nessas organizações também crescem. Essa autora ressalta que as principais organizações do Terceiro Setor são: fundações, associações de comércio, entidades civis, sociais, religiosas, fraternais, culturais, artísticas, de preservação do meio ambiente e internacionais. Ressalta também que as pessoas que consideram a possibilidade de trabalhar no Terceiro Setor devem primeiramente decidir o tipo de organização que almejam trabalhar. Um outro ponto enfatizado é o fato de que as pessoas se sentem motivadas a trabalhar nessas organizações, pois estão ao mesmo tempo trabalhando e ajudando a comunidade. Cabe ressaltar que o setor não-lucrativo está competindo com os outros setores por pessoas de qualidade. Segundo um estudo do Nonprofit Academic Centers Council nos Estados Unidos, os empregos no Terceiro Setor cresceram 32% entre 1982 e 1990. Para Cassandra Hayes, os cortes no orçamento realizados pelo governo serviram de estímulo a alianças estratégicas entre várias organizações sem fins lucrativos e, como resultado, a necessidade de se ter administradores experientes é grande. Contadores e advogados são profissionais altamente necessários nesse setor devido à transparência que essas organizações devem possuir perante a sociedade e, principalmente, perante os doadores. Dependendo do tipo de organização, as necessidades com relação a profissionais variam. Por exemplo, em entidades relacionadas ao atendimento de doentes, são necessários médicos e enfermeiras. Os profissionais de recursos humanos devem estar preparados para recrutar e reter não só funcionários pagos como também voluntários. Segundo Ronald L. Krannich e Caryl Rae Krannich, em “Jobs and Careers with Nonprofit Organizations”, enquanto o mercado e o Estado realizam programas de downsizing, as organizações sem fins lucrativos tendem a crescer. Eles prosseguem dizendo que, pelo fato de as organizações sem fins lucrativos proporcionarem cada vez mais serviços para a sociedade, elas necessitarão possuir um quadro de funcionários altamente competentes, além de administrar da melhor forma possível os recursos financeiros disponíveis. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 8 Logo, as organizações sem fins lucrativos tendem a ser um grande alvo de pessoas que buscam empregos e oportunidades de carreira, em detrimento ao Estado e ao mercado. Os autores acrescentam que existem mais de 700.000 organizações sem fins lucrativos que empregam aproximadamente 10 milhões de pessoas nos Estados Unidos (em torno de 8% da população economicamente ativa dos EUA). Porém elas são negligenciadas pelas pessoas que estão em busca de um emprego, devido ao fato de estas conhecerem muito pouco sobre esse tipo de organização e do seu potencial de contratação de mão-de-obra. Essas organizações podem ser encontradas em qualquer lugar, tratam de vários assuntos e representam uma série de interesses da sociedade. Dependendo do tipo de organização, os profissionais e os perfis desejados são diferentes, mas a maioria das organizações sem fins lucrativos precisa de pessoas com habilidade de comunicação e com conhecimentos em fund raising, pois elas sempre deverão mobilizar o apoio das pessoas para as atividades da organização. Porém até mesmo indivíduos com uma experiência de trabalho limitada, mas que demonstrem fortes habilidades de comunicação, de organização e de controle, possuirão grandes possibilidades de ter sucesso e de fazer carreira nesse tipo de organização. Nas organizações sem fins lucrativos, as possibilidades variam desde altos executivos até profissionais de menor qualificação. Similarmente às organizações governamentais e empresas lucrativas, as organizações sem fins lucrativos trabalham com orçamentos anuais, mas os esforços são canalizados para a captação de recursos em detrimento do marketing ou da venda de produtos e serviços. A produtividade nas organizações do Terceiro Setor é medida em relação ao cumprimento de objetivos propostos. Logo, as organizações do Terceiro Setor oferecem uma grande gama de empregos em que as pessoas podem desenvolver carreira e atingir grandes níveis de satisfação. Um avanço na carreira freqüentemente significa sair de uma organização pequena para uma maior, que oferece mais responsabilidades e opera com orçamentos maiores. O nível de salários e benefícios varia dependendo da natureza da organização. Sabe-se que várias organizações oferecem trabalhos muito mal remunerados, pois é muito utilizado ainda o recurso do trabalho voluntário. Mas sabe-se também que organizações de pesquisa, fundações e associações comerciais e de profissionais oferecem altos salários e uma grande gama de benefícios. Para Ronald L. Krannich e Caryl Rae Krannish, normalmente, no Terceiro Setor ganha-se 25% a menos que em organizações com fins lucrativos. O trabalho em organizações pode ser altamente confortante, uma vez que as pessoas podem estar ajudando umas às outras, ou trabalhando em atividades interessantes como arte, cultura, história, educação, serviço social, direito, política, dentre outros. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 9 Algumas pessoas que trabalham no governo e em organizações com fins lucrativos sairão destas para trabalhar no Terceiro Setor. A experiência adquirida em organizações sem fins lucrativos pode servir de marco inicial para ótimas oportunidades de carreira tanto em organizações governamentais quanto em organizações com fins lucrativos. Para Regina E. Herzlinger em “Effective Oversight: a Guide for Nonprofit Directors”, cada vez mais pessoas estão vendo as organizações sem fins lucrativos como um “endereço” para a solução de problemassociais. Ela destaca que a transparência em relação à sociedade e aos doadores deve ser um fator essencial nas organizações sem fins lucrativos. O artigo “Careers in the Third Sector”, de Jenny Onyx e Madi Maclean, diz que o conceito de carreira tende a ser idealizado como a mobilidade ascendente em uma hierarquia. Embora estejam ocorrendo transformações nas organizações devido à globalização e ao conseqüente aumento da competitividade, é assumido que a maioria dos funcionários é motivada pelo aumento das responsabilidades, do status e da remuneração. Porém, segundo esse critério, as pessoas que trabalham no Terceiro Setor não teriam carreira. Esse artigo se refere a uma pesquisa realizada em New South Wales na Austrália. Foram perguntadas quais as razões para a entrada no Terceiro Setor, e os itens mais mencionados foram: comprometimento filosófico ou político, comprometimento com mudança social, horário ou local conveniente para a família, experiência de vida pessoal e experiência voluntária. Foram também perguntadas as razões para apresentar-se para empregos no Terceiro Setor e, dentre as respostas, 24% dos entrevistados pensam na possibilidade de carreira na organização. Uma informação interessante apresentada pelos autores é que a definição tradicional de carreira (linear) não se aplica a organizações do Terceiro Setor. Nas organizações sem fins lucrativos, o conceito de carreira espiral é mais aplicável. Nesse conceito, é enfatizado o estilo integrativo de decisão e o crescimento pessoal. As pessoas que possuem carreira espiral procuram criatividade, proximidade interpessoal e generosidade. IV. A questão dos salários nessas organizações Segundo o artigo “Nonprofit Executives See More Incentive Pay”, pelo medo de perder os seus melhores executivos para o setor lucrativo, as organizações do Terceiro Setor começaram a aumentar o pagamento para os seus executivos. Um estudo realizado por William M. Mercer Inc., New York, chegou à conclusão de que 58% das 72 fundações e associações pesquisadas oferecem incentivos anuais e outros elementos de pagamento que são novos para as organizações sem fins lucrativos. Esse artigo destaca que 61% dessas organizações adotaram esses incentivos de pagamento nos últimos 5 anos e que uma minoria significante (30%) ainda resiste a essa prática, citando a inconsistência desses métodos para o status das organizações sem fins lucrativos. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 10 Dentre as organizações sem fins lucrativos que oferecem salário variável, 2/3 relacionam os incentivos a objetivos de negócio e adesão de novos doadores, enquanto 35% os relacionam a objetivos orçamentários. Um outro ponto apresentado é o fato de que os executivos do Terceiro Setor chegam a receber uma grande variedade de benefícios, tais como concessão de carros, almoços, atendimento médico, estacionamento e telefones celulares. Mesmo com todos esses novos incentivos e bônus, a sua remuneração total freqüentemente fica abaixo daquela oferecida pelas organizações lucrativas. O artigo “Nonprofit Salaries: What Are You Paying for”, de Gretchen Gemeinhardt e Steve Werner, ajuda as organizações sem fins lucrativos a determinar os salários de seus empregados. Para a realização do artigo, foram pesquisadas organizações sem fins lucrativos e 2.333 empregados em todos os níveis organizacionais. Pela pesquisa, foi possível identificar que os salários variam em relação a raça, sexo, posição de supervisão, tempo de experiência, nível educacional, decisões tomadas pela pessoa e performance organizacional. A pesquisa ressalta que as pessoas do sexo masculino que trabalham em organizações sem fins lucrativos ganham mais que as do sexo feminino. O mesmo ocorre com os brancos que ganham mais que os não-brancos. Além disso, aqueles que possuem um cargo de supervisão ganham mais que os que não possuem. Nota-se também que a remuneração aumenta de acordo com o tempo de experiência de trabalho e o número de decisões tomadas, ou seja, quanto maior a experiência e o número de decisões, maior o salário. Também é possível identificar que a remuneração aumenta de acordo com o aumento do grau de instrução das pessoas. Por exemplo, uma pessoa sem colegial recebe em média US$ 1.000 por mês. Já uma pessoa com mestrado/MBA recebe em média US$ 2.500 e finalmente uma pessoa com doutorado recebe em média US$ 4.500 por mês. Isso mostra que a relação estudo/salário nessas organizações é diferente do que nas organizações com fins lucrativos onde um MBA traz maiores salários do que um doutorado. De acordo com Cassandra Hayes, um problema referente ao Terceiro Setor é a remuneração, que é em média 15% mais baixa que nas organizações com fins lucrativos. Porém isso está mudando, pois as organizações sem fins lucrativos estão passando a utilizar alguns fatores a fim de tornar esse setor mais atraente. Dentre esses fatores, é possível citar: incentivos, pagamentos de acordo com performance e bônus, dentre outros. De acordo com uma pesquisa sobre o salário em organizações sem fins lucrativos, realizada em 1994 pela Coopers & Lybrand, os diretores executivos ganham em média US$ 6.040,00 por mês; os administradores financeiros, US$ 3.833,00; e os altos executivos de recursos humanos, US$ 3.517,00. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 11 Já uma pesquisa realizada pela Ernest & Young em organizações sem fins lucrativos em Nova York apontou que, devido ao fato de o custo de vida nessa região ser mais elevado, os salários também são. Os altos executivos ganham em média US$ 11.417,00 por mês, e os administradores financeiros, US$ 6.775,00. V. Como a educação está se adaptando às necessidades do Terceiro Setor Para que os profissionais se adaptem às necessidades do Terceiro Setor, as universidades de administração estão oferecendo cursos sobre administração de organizações não lucrativas. Luiz Carlos Merege, em seu artigo “Filantropia e universidade”, fala sobre o 2o. Encontro Ibero-Americano de Filantropia realizado em Guadalajara na primeira semana de outubro de 1994. Este reuniu fundações e entidades filantrópicas da Europa, dos Estados Unidos e da América Latina. O encontro concluiu que caberá às universidades da América Latina: 1. formar dirigentes de organizações não-lucrativas, tendo em vista a necessidade urgente de profissionalização de suas atividades; 2. pesquisar a respeito do tamanho do setor (número de pessoas), assim como mensurar o volume de recursos que movimenta; 3. promover mudanças na legislação para que o setor possa se desenvolver em sua plenitude; 4. estudar as relações desse setor emergente com o Estado, a fim de definir melhor a sua área de atuação; 5. facilitar as relações entre doadores e organizações que necessitam de recursos; 6. servir de elo de união entre as organizações não-lucrativas do continente, assim como possibilitar que entidades com diferentes naturezas estabeleçam vínculos entre si, como, por exemplo, ONGs e fundações privadas. A autora Patrícia da Cunha Tavares, no seu artigo “O Papel das Universidades no Desenvolvimento do Terceiro Setor”, afirma que não se pode dizer que as organizações sem fins lucrativos realizam o seu trabalho da melhor forma possível, uma vez que lhes falta uma gerência profissional que possibilitaria sua transformação em uma empresa social, visando a sua auto-sustentação e aplicação eficiente dos recursos disponíveis. Ela destaca que, para conseguir realizar essa transformação, essas organizações precisam ser ajudadas pelas universidades e escolas de administração, devido aos seguintes motivos: * nesses lugares, são proporcionados conhecimento e pesquisa que podem ser multiplicados para organizações do Terceiro Setor; A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 12 * a interface universidade – Terceiro Setor proporciona umagrande riqueza tanto para o estudo das características organizacionais quanto para a formação do futuro profissional de administração. “O Terceiro Setor é mercado de trabalho com possibilidade de carreira, sendo isso valorizado pelos estudantes/futuros profissionais de administração.” Com a realização de consultorias e assessorias, são beneficiadas tanto as universidades quanto as organizações do Terceiro Setor. Ainda segundo a autora, as universidades devem formar um administrador socialmente responsável, sensibilizado para a questão social. Segundo o artigo “Unveiling the Hidden Sector” de Allan R. Clyde, existe um fundo de pesquisa do setor não-lucrativo - Nonprofit Sector Research Fund (NSRF) - que está trabalhando para aumentar a visibilidade pública, o entendimento e o suporte por meio de pesquisas. Esse artigo diz que, de acordo com o Nonprofit Almanac, muito mais pessoas trabalham no setor não-lucrativo do que na indústria americana de carros. O ganho com o emprego nesse setor cresceu de $ 75,9 bilhões para $ 254,8 bilhões entre 1977 e 1990. Apesar desses números que mostram o tamanho e a importância do setor não-lucrativo, existe a necessidade contínua de visibilidade mais forte desse setor para alcançar a compreensão de um público maior e para apoiar o papel desse setor na sociedade. Uma parcela dessa necessidade está sendo tratada pelo NSRF, criado para apoiar pesquisas independentes e de alta qualidade que podem informar qualquer pessoa interessada no setor não-lucrativo. A diretora do NSRF, Elizabeth T.Boris, diz: “O setor não-lucrativo é invisível para a maioria das pessoas que trabalham nele, para os acadêmicos que estudam a maneira como a sociedade americana funciona e para líderes políticos que fazem leis.” A necessidade de um fundo como o NSRF foi reconhecida não só pelo setor não-lucrativo, mas também pelas universidades. A lacuna de pesquisas independentes e o interesse contínuo em documentar o setor incentivaram algumas fundações a ajudar faculdades e universidades a estabelecer os seus próprios centros de pesquisa filantrópicos, tais como o programa de Organizações sem Fins Lucrativos da Yale University, o Mandel Center da Case Western University, o Center on Philanthropy da Indiana e o Center for Studies on Philanthropy da City University of New York. Exemplos de pesquisas financiadas pelo NSRF: * “Nonprofit Industrial Development Organizations - Accountability and Distributional Effects” (Organizações sem Fins Lucrativos de Desenvolvimento Industrial - Responsabilidade e Efeitos da Distribuição). * “The Efficiency and Effectiveness of Tropical African Private Voluntary Agency Development Consortia: Lessons for the Development Community and International Donors” (A Eficiência e a Efetividade do Consórcio de Agências Voluntárias de A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 13 Desenvolvimento na África Tropical: Lições para a Comunidade em Desenvolvimento e para Doadores Internacionais). * “Organizational Change and Transformation: Success, Survival and Decline Among Feminist Groups in the 1990s” (Mudança e Transformação Organizacional: Sucesso, Sobrevivência e Declínio entre Grupos Feministas nos anos 90). O NSRF está planejando aumentar a sua base de doadores e o número de pesquisas financiadas. Está também implementando fundos de pesquisa regionais para que doadores contribuam nas suas próprias regiões. Ele também planeja patrocinar conferências e desenvolver programas envolvendo as organizações sem fins lucrativos para identificar as questões práticas de pesquisa que tragam maiores benefícios para elas, além de provisionar assistência técnica para as pessoas interessadas em desenvolver propostas de pesquisa. Segundo Elizabeth T. Boris, o objetivo do fundo “é aumentar a quantidade de dinheiro que o setor não-lucrativo está investindo na sua própria pesquisa e desenvolvimento”. Ela prossegue dizendo que “o mercado, o governo e o setor sem fins lucrativos são parceiros na nossa sociedade, mas o setor não-lucrativo é o menos estudado, o menos documentado e o menos visível dentre os parceiros”. Para atender às necessidades do Terceiro Setor, a educação deve sofrer algumas modificações. Peter Baalen e Lucas Meijs, no seu artigo “The Unpaved Road to Entrepreneurship in the Third Sector, How Education Must Change too”, dizem que estão trabalhando em um projeto em conjunto com as faculdades de administração e de administração pública a fim de esboçar um novo programa educacional para estudantes que querem adquirir conhecimento sobre problemas administrativos em organizações do Terceiro Setor. A administração para organizações sem fins lucrativos deve ser diferente da administração para empresas públicas e empresas lucrativas. A diferença não está no esboço pedagógico do programa, e sim no conteúdo dos cursos. Para eles, os administradores das organizações sem fins lucrativos precisam ter habilidades específicas e responsabilidades que não são usuais. É freqüentemente dito que os administradores de organizações do Terceiro Setor devem ter um contato real com a missão da organização, devem ter “feeling” político. Os administradores, concebidos como trabalhadores com conhecimento, aplicam e criam conhecimento para resolver problemas particulares das organizações. O artigo “Nonprofit Management Education in the Year 2000”, de Naomi B. Wish e Roseanne Mirabella, fala sobre os resultados preliminares do projeto para avaliar a efetividade e os impactos nas faculdades e universidades em relação à educação para a administração das organizações sem fins lucrativos. Foram pesquisadas as universidades e faculdades que possuem programas com uma concentração na administração das A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 14 organizações sem fins lucrativos. O questionário foi mandado para mais de 1.000 faculdades e universidades que são membros da AACSB (Congregação das Escolas de Administração), da NASPAA (Associação Nacional de Negócios Públicos e Administração), da ARNOVA (Associação dos Pesquisadores de Organizações sem Fins Lucrativos e Ações Voluntárias) e do NACC (Conselho Nacional de Centros Acadêmicos). Mais de trezentos estabelecimentos de ensino responderam ao questionário. Destes, 102 possuem matérias sobre Administração de Organizações sem Fins Lucrativos para alunos de pós-graduação e 46 possuem essas matérias para alunos de graduação. No Brasil, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas foi pioneira em iniciativas, no que diz respeito ao ensino e pesquisa sobre o Terceiro Setor, ao criar o Centro de Estudos do Terceiro Setor, que concentra alunos e professores para oferecer cursos e realizar pesquisas nessa área. O Centro de Estudos do Terceiro Setor foi criado em setembro de 1994, com o objetivo de atuar na área acadêmica, treinando profissionais do setor por meio de cursos oferecidos pelo Programa de Educação Continuada da Fundação Getulio Vargas e oferecendo disciplinas nessa área para alunos de graduação e pós-graduação, e também com o objetivo de realizar pesquisas e fornecer serviços de assessoria e consultoria, realizando planejamento estratégico para as organizações do Terceiro Setor. Esse Centro é coordenado pelo Professor Luiz Carlos Merege. A Escola oferece também matérias sobre administração de organizações sem fins lucrativos para os alunos da graduação. É possível concluir que as universidades estão cada vez mais se preocupando em preparar profissionais para o Terceiro Setor, não só nos Estados Unidos como também no Brasil. Nas faculdades de Administração de Empresas, o número de disciplinas e cursos oferecidos sobre administração de organizações sem fins lucrativos, assim como o número de alunos interessados por esse novo campo de trabalho, está crescendo. VI. Conclusão As organizações sem fins lucrativos possuem crescentespapéis políticos, econômicos e sociais. Elas adquirem importância na provisão de serviços sociais para a população, uma vez que o Estado não consegue provê-la de todos. Logo, representam uma possibilidade de mudança social para aumentar a qualidade de vida das pessoas. Alguns pontos positivos dessas organizações são a possibilidade de mudança social, a possibilidade de as pessoas trabalharem em prol de uma causa social, o espírito de solidariedade que existe dentro dessas organizações, o espírito de crescimento em conjunto e de participação, o ambiente de trabalho agradável e o fato de que essas organizações não são burocráticas. Alguns pontos negativos são a probabilidade de que elas passem a depender do setor público e até mesmo do setor privado em virtude da falta de recursos, a A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 15 falta de organização interna e o fato de que algumas organizações não realizam prestação de contas. Essas organizações apresentam alguns valores bastante positivos, como transparência, solidariedade e gestão participativa. A quantidade e o tamanho das organizações sem fins lucrativos estão aumentando a cada dia e, com isso, elas estão contratando um número cada vez maior de profissionais. Enquanto o Estado e o setor privado lucrativo realizam cortes e enxugamento no quadro de funcionários, as organizações sem fins lucrativos não param de contratar. Uma característica importante das pessoas que trabalham nessas organizações é a vontade e o empenho em ajudar os outros, o que proporciona um aumento na qualidade de vida das pessoas. Nessas organizações, ainda existe muito trabalho voluntário, porém cada vez mais elas estão se profissionalizando. Conforme o tipo de entidade, diferentes especializações profissionais são requeridas. Por exemplo, uma entidade de ajuda médica necessita de médicos e enfermeiros e assim por diante. Com o crescimento dessas organizações, surge a necessidade de contratar um profissional que se encarregue da gestão dos recursos financeiros, materiais e humanos, além da organização das atividades, para que seja executado o maior número de projetos possíveis. Esse profissional possui o perfil de um administrador. Um administrador de organizações sem fins lucrativos não deve estar preocupado somente com o seu retorno econômico, mas também em ajudar ao próximo. Nessas organizações, ao contrário das organizações com fins lucrativos, não existe competição entre as pessoas; o que existe é competição para realizar o maior número de projetos possíveis, ou seja, todos trabalham juntos para executar projetos que ajudem a população. Logo, um administrador de organizações sem fins lucrativos também deve saber trabalhar em equipe. Um outro papel que pode ser exercido pelo administrador é o de captar recursos. As organizações sem fins lucrativos devem possuir uma constante e segura captação de recursos para que possam cumprir os seus objetivos. Muitas universidades de administração já possuem cursos e matérias para preparar o administrador para o trabalho nessas organizações. A Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas oferece matérias optativas no curso de Administração de Empresas sobre administração de organizações sem fins lucrativos. Além disso, a Escola possui um curso do Programa de Educação Continuada que visa atender profissionais que já estão trabalhando na área. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 16 As universidades também possuem o papel de formar administradores socialmente responsáveis, que não se preocupem somente com o retorno financeiro. Quanto aos salários nessas organizações, pode-se notar que estão sendo aumentados e que, por mais que estejam ainda de 15% a 25% mais baixos que os das organizações com fins lucrativos, a tendência é que subam cada vez mais. É possível concluir que o Terceiro Setor ainda tem muito para crescer, em tamanho, em conhecimento, em profissionalização, em número de funcionários contratados e principalmente em número de pessoas atendidas, em número de projetos executados com sucesso e também no aumento da qualidade de vida da população. Logo, cada vez mais profissionais, dentre eles administradores, serão contratados por essas organizações e conseqüentemente o Terceiro Setor será um campo que constituirá uma ótima oportunidade de carreira para esses profissionais. VII. Levantamento bibliográfico Foi realizado um levantamento bibliográfico na biblioteca da Fundação Getulio Vargas, na qual foram consultados todos os livros e artigos disponíveis sobre o assunto. Devido à novidade do tema, foi realizada uma pesquisa em CD-ROM (ABI) para obter algumas publicações recentes, em periódicos, específicas sobre o assunto. Os artigos obtidos pela pesquisa, via CD-ROM, foram solicitados na biblioteca da Fundação Getulio Vargas, porém somente dois artigos estavam disponíveis no acervo. Houve então a necessidade de realizar uma pesquisa no COMUT para localizar os artigos. Estes foram localizados no The British Library Document Supply Centre e foram remetidos para a biblioteca da Fundação Getulio Vargas, que posteriormente os entregou ao pesquisador. Ainda pela novidade do tema, houve a necessidade de se realizar uma pesquisa na Internet. Foram localizados três sites que possuíam oportunidades de emprego no Terceiro Setor. São eles: 1) http://www.careerexpo.com/pub/library/nonprofit.htm 2) http://www.phylantropy-journal.org 3) http://www.occ.com Outro site visitado e estudado foi o do Foundation Center que possui uma série de informações sobre fundações e sobre a elaboração de projetos na área. O endereço eletrônico é: http://www.fdncenter.org/2index.html. A CARREIRA DO ADMINISTRADOR EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 17 VIII. Bibliografia SIZING up employment. Association Management, Jan. 1995. NONPROFIT executives see more incentive pay. HR Focus, Nov. 1995. p.16. BAALEN, Peter J. Van, MEIJS, Lucas C. P. M. The unpaved road to entrepreneurship in the third sector, how education must change too. In: CONFERENCE “NONPROFIT MANAGEMENT EDUCATION 1996; A U.S. AND WORLD PERSPECTIVE”, Berkeley, California, Mar. 1996. CLYDE, Allan R. Unveiling the hidden sector. Foundation News, Jan./Fev. 1994. p. 48-50. DRUCKER, Peter Ferdinand. Administrando em tempos de grandes mudanças. São Paulo, Pioneira, 1996. FERNANDES, Rubem César. Privado porém público: o terceiro setor na América Latina. Rio de Janeiro, Relume-Dumara, 1994. GEMEINHARDT, Gretchen, WERNER, Steve. Nonprofit salaries: what are you paying for? Nonprofit World, July/Aug. 1995. p. 52-57. GODOY, Arilda Schmidt. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 2., mar./abr. 1995. p. 57-63. GRAJEW, Oded. Uma saída para o desemprego estrutural. 3º setor: grandes empresas investindo no desenvolvimento social. São Paulo, AIESEC, 1996. p. 10-12. HAYES, Cassandra. Deeds over dollars. 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