Buscar

O CONCEITO DE TERCEIRO SETOR (OK)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

www.prattein.com.br
prattein@prattein.com.br
1
CONSULTORIA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
O CONCEITO DE TERCEIRO SETOR 1
Fábio Ribas Jr.2
O crescimento do chamado terceiro setor traz uma oportunidade para a participação das
organizações não-governamentais e das empresas socialmente responsáveis em ações voltadas ao
desenvolvimento do país.
Porém, para que formule uma adequada compreensão das potencialidades atuais do terceiro setor
é preciso compreender o sentido de sua evolução na sociedade brasileira.
A tradição das doações de caridade remonta, no Brasil, ao início do período colonial, com a
criação de uma grande quantidade de obras filantrópicas de caráter religioso. Até hoje é possível
sentir a influência dessa tradição em práticas de doação e assistência, largamente denunciadas
pela crítica sociológica como tendentes a lidar apenas com os efeitos perversos, e não com as
causas, de uma estrutura da qual elas mesmas fariam parte.
No tempo de transição em que vivemos, o emergente terceiro setor parece possibilitar uma
abordagem renovada de velhos e não resolvidos problemas da sociedade. Nele renascem práticas
sociais solidárias que objetivam fortalecer a autonomia das comunidades e capacitá-las para
resolver seus próprios problemas, diferentemente das práticas assistencialistas que inibem
iniciativas de auto-ajuda, lidam apenas com os efeitos perversos das desigualdades sociais, e não
com as suas causas, e acabam ajudando a reproduzir a condição subalterna dos grupos sociais
desprotegidos.
Expressando os limites tanto do Estado quanto do mercado na promoção do bem comum, o
conceito de terceiro setor renova a significação da esfera pública, através de iniciativas privadas
que, à diferença do setor privado empresarial, não são guiadas pelo lucro, ou de iniciativas com
fins públicos que não são conduzidas pelo setor estatal, mas por cidadãos e organizações da
sociedade civil.
Trata-se de um setor independente, mas profundamente interessado nos problemas sociais;
crescentemente organizado e tendente à profissionalização; assentado no associativismo e na
dimensão voluntária do comportamento das pessoas; caracterizado pela defesa de causas e
valores; inspirado pelos princípios da solidariedade e da participação na construção da cidadania
democrática. Se os recursos que utiliza são privados, os bens e serviços que deve gerar são
públicos, não podendo ser apropriados privadamente. Dizer que suas finalidades são públicas
 
1 Este artigo é uma síntese de textos produzidos pelo autor para as publicações: “Programa Vale Cidadania: uma
estratégia para o fortalecimento do terceiro setor no Vale do Aço” (Fundação Acesita, s/d) e “Mulheres voluntárias:
experiências empreendedoras no terceiro setor (Editora Prêmio, 2002)”. Permite-se a reprodução ou uso deste artigo,
desde que citada a fonte.
2 Diretor Executivo da Prattein – Consultoria em Educação e Desenvolvimento Social.
www.prattein.com.br
prattein@prattein.com.br
2
CONSULTORIA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
significa também assumir que não se limitam à esfera de competência da burocracia estatal, e que
a vida pública resulta da atividade dos cidadãos.
Do ponto de vista organizacional, o terceiro setor brasileiro envolve um grande número de
entidades sociais e filantrópicas (que começam a se constituir desde o período colonial com
traços predominantemente assistencialistas) e organizações não-governamentais (que começam a
emergir a partir da década de 60, focalizando preferencialmente a defesa de direitos de
populações oprimidas ou excluídas), às quais vem-se agregando um número crescente de
fundações e institutos sem fins lucrativos, criados na última década por empresas privadas.
Constituído por essas novas organizações e pela modernização da forma de agir das antigas
entidades sociais, o terceiro setor poderá impulsionar o desenvolvimento social na medida em
que puder oferecer alternativas às formas tradicionais de exercício do poder na condução das
políticas públicas e promover a participação efetiva da cidadania na condução dos assuntos de
interesse coletivo.
Projetos do terceiro setor podem alargar o conceito de espaço público, sem procurar substituir o
Estado em suas atribuições básicas. Tampouco pode o terceiro setor subordinar-se a interesses
mercadológicos, sob a simples justificativa de reforço à filantropia. Ao fazer interface com o
poder público e com as empresas privadas, o terceiro setor assume o papel essencial de promover
sinergias. Para ele, a empresa privada é parceira fundamental, não apenas no aspecto financeiro,
mas em sua qualidade de centro de competências gerenciais e tecnológicas que podem ser
mobilizadas e transferidas para atividades sem fins lucrativos voltadas ao desenvolvimento da
comunidade. A ação e os resultados de projetos do terceiro setor não devem ser avaliados
principalmente por critérios quantitativos de capacidade de atendimento, mas, sobretudo, pela
capacidade que possam apresentar de gerar know-how na área de práticas sociais solidárias, que
possa ser disseminado, multiplicado, adaptado, reinventado em contextos diversos.
O conceito de trabalho voluntário
Embora o interesse pelo voluntariado tenha ressurgido de forma renovada no Brasil no final da
década de 90, a presença dessa prática em nossa cultura é muito antiga.
Nas décadas que sucederam o período pós-guerras, a caridade foi criticada como auxílio material
que reproduzia a condição servil de quem a recebia. Para a visão crítica ela estabelecia a
“sociedade do assistencialismo”, na qual a proteção das elites traria como decorrência a
submissão das massas empobrecidas.
Historicamente marcado por práticas de natureza privada e de caráter assistencialista, nos anos
recentes o trabalho voluntário vem experimentando um processo conceitual e prático de
transformação.
www.prattein.com.br
prattein@prattein.com.br
3
CONSULTORIA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
O voluntariado tradicional era caracterizado essencialmente pela boa vontade ou pela caridade de
fundo religioso. Suas ações destinavam-se basicamente a apoiar indivíduos necessitados e, na
maioria dos casos, não transcendiam a perspectiva de remediar a pobreza.
Sem perder essas motivações clássicas, o voluntariado social que emerge nos dias atuais busca
articular competência técnica e compromisso com o fortalecimento da cidadania, o que o
aproxima do conceito de trabalho como ação intencional voltada à mudança social (opondo-se,
assim, ao conceito de trabalho como atividade estritamente determinada por fatores econômicos
ou movida por interesses individualistas).
Na conjuntura atual, a idéia da caridade parece resgatar aspectos fundamentais de seu significado
original, que lhe conferem o sentido da solidariedade – a preocupação com o outro para além das
retribuições pessoais imediatas. Com isto, o trabalho voluntário pode definir-se mais claramente
como uma ação de caráter público, voltada à melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Este “novo voluntariado” se expressa, hoje, como um renascimento da participação das pessoas
na vida social, após décadas marcadas por fenômenos como o consumismo, o individualismo e o
desinteresse pela política partidária. Aparentemente, apresenta-se como uma forma de
participação direta e pouco organizada. Sentindo a insuficiência do governo e dos partidos
políticos para a solução de problemas sociais, muitas pessoas começam a procurar canais
próprios para a prática da solidariedade. Vai-se formando, assim, um novo segmento de
voluntários de variados perfis, que passa a atuar em organizações do terceiro setor, hospitais,
escolas ou diretamente nas comunidades pobres, prestando assistência direta a pessoas
necessitadas ou defendendo variadas causas sociais.
Os próximos tempos dirão em que medida o novo voluntariado poderá ir além do engajamento
filantrópico pontual e fragmentário e criar novas relações e instituições sociais que constituam
fundamento significativo parao desenvolvimento social do país. O voluntariado é hoje um tema
em aberto e uma prática em (re)construção, que certamente admite variadas interpretações. Com
certeza, à medida que a tendência de sua evolução for ficando mais nítida, estudos acadêmicos
buscarão dar contornos conceituais mais definidos ao tema. E entre os aspectos que precisarão ser
melhor compreendidos certamente está a capacidade crescente que o voluntariado vem
demonstrando para mobilizar o entusiasmo de setores crescentes da população, das entidades
sociais, das empresas e do próprio governo.
A profissionalização do terceiro setor e a necessidade um novo modelo de
gestão social
A sociedade brasileira vive um momento de mudanças e rearticulações nos papéis que o Estado, a
iniciativa privada e a sociedade civil organizada desempenham no desenvolvimento social.
www.prattein.com.br
prattein@prattein.com.br
4
CONSULTORIA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
O Estado tende cada vez menos a atuar como provedor único de serviços públicos e gradualmente
passa a valorizar a ação em sintonia com os demais segmentos da sociedade. A forma
centralizada e burocrática de definir e implementar políticas sociais começa a ceder espaço a uma
estratégia baseada na articulação de parcerias intersetoriais, originadas na sociedade civil. Até
pouco tempo, a realização de parcerias com o Estado em projetos sociais era vista com certa
descrença pelas organizações do terceiro setor e pelas empresas privadas engajadas em ações
comunitárias. Nos últimos anos essa visão vem sendo substituída pelo entendimento de que a
formação de parcerias responsáveis entre o setor privado e o setor público pode viabilizar
programas sociais de alcance mais amplo e contribuir para a própria modernização do Estado
brasileiro.
As empresas privadas vêm demonstrando um crescente interesse pela participação mais ativa e
responsável na área social. Pesquisas realizadas mostram um avanço na consciência social do
empresariado e revelam o crescimento das iniciativas de utilização dos talentos, competências e
tecnologias das empresas para a solução de problemas sociais.1 A discussão sobre a função social
da empresa privada ressurge, neste momento da vida brasileira, menos marcada por visões
ideológicas e renovada por exigências de racionalidade e equilíbrio sistêmico do processo de
globalização. Hoje, a prática da cidadania empresarial se desliga gradualmente da matriz
filantrópica que a envolveu no passado e passa a ganhar um significado ampliado de busca de
integração entre mercado e cidadania, desenvolvimento econômico e justiça social, que urge no
presente.
Por seu turno, o terceiro setor brasileiro está em crescimento e seus múltiplos significados e
potenciais vão sendo descobertos por cidadãos e organizações em busca de uma participação
social mais efetiva. As ONGs e entidades assistenciais estão sendo valorizadas hoje como
organizações portadoras de valores fundamentais para a sociedade, passando a receber atenção
crescente dos setores público e privado.
A concretização deste processo de mudança depende da existência de um terceiro setor
estruturado e fortalecido. O desenvolvimento do terceiro setor não é apenas mais um tema da
moda, mas uma condição efetiva de mudança social e de criação, na sociedade brasileira, de um
novo espaço público capaz de fortalecer a democracia e de beneficiar as populações mais
desfavorecidas.
O cenário atual favorece e solicita o desenvolvimento de um novo paradigma de gestão social, no
qual as organizações do terceiro setor deverão desempenhar importante papel. Há hoje um
 
1 A Prattein realizou pesquisas sobre este tema para a FIESP (Responsabilidade social empresarial: panorama e
perspectivas na indústria paulista), FIRJAN (Iniciativa privada e responsabilidade social: uma pesquisa sobre as
ações das empresas do Estado do Rio de Janeiro nas áreas de recursos humanos, apoio à comunidade e
responsabilidade ambiental) e FIEMG (Empresas e responsabilidade social: um estudo sobre as ações sociais
realizadas pelo setor privado em minas gerais). Informações e acesso aos relatórios completos podem ser
encontrados no endereço: www.prattein.com.br.
www.prattein.com.br
prattein@prattein.com.br
5
CONSULTORIA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
consenso quanto ao fato de que, para desempenhar tal papel, as próprias entidades do terceiro
setor necessitam mudar no sentido de alcançar uma maior profissionalização de suas atividades.
A profissionalização das entidades sociais deve ser entendida em múltiplas dimensões:
aprimoramento da qualidade dos seus programas de atendimento; maior capacidade de buscar
parcerias e recursos para promover a sua sustentabilidade; aprimoramento de sua competência
administrativa e de sua estrutura organizacional. A busca de profissionalização pressupõe uma
autocrítica dos aspectos restritivos da cultura assistencialista na qual grande parte das entidades
sociais foi formada, mas também um reconhecimento de qualidades próprias, desenvolvidas no
decorrer desta mesma formação, que lhes permitem desempenhar um papel essencial na
promoção do desenvolvimento social: vínculos de confiabilidade com comunidades locais,
agilidade no atendimento às necessidades dos grupos de baixa renda, aptidão para prestar
serviços em escala humana, capacidade para mobilizar o apoio e a participação popular para a
implementação de mudanças sociais necessárias.
Em tempos de mudanças, o contato das entidades sociais com outras culturas de gestão
organizacional (tanto do setor empresarial quanto do setor público) pode possibilitar a articulação
entre conceitos como técnica e carisma, voluntarismo e profissionalismo, e estimular o
desenvolvimento de novos princípios e metodologias de ação social.
Capacitação das organizações do terceiro setor
Um diagnóstico ainda disseminado sobre as deficiências do terceiro setor brasileiro aponta para a
sua falta de profissionalização, entendida esta, sobretudo, como ausência de tecnologias de
planejamento e gestão empresarial. Nessa linha de raciocínio, a capacitação direcionada às
entidades sociais deveria focalizá-las como organizações essencialmente semelhantes a quaisquer
empresas, cuja eficiência e eficácia dependeria da assimilação e correta utilização de conceitos e
práticas de gestão baseados no pensamento estratégico e na lógica de mercado.
Esta visão tem o mérito de apontar lacunas de competência no setor social e de colocá-lo frente a
um desafio de modernização. As entidades sociais necessitam, efetivamente, incorporar novos
conceitos e ferramentas que as ajudem a aprimorar a qualidade do seu trabalho, a comunicar-se
com maior eficácia com todos os seus públicos e a ganhar maior autonomia e capacidade de
sustentação. Porém, nenhuma modernização será bem-sucedida sob a base de uma
incompreensão ou desvalorização da cultura e dos potenciais próprios do mundo não-lucrativo.
Implantado de forma unilateral ou pouco refletida, um programa de profissionalização baseado
em paradigmas de gestão empresarial pode ser percebido pelos atores do mundo não-lucrativo
como uma inversão entre meios e fins, uma proposta que subordina valores filantrópicos ou
propósitos de mudança social a critérios instrumentais de gerenciamento.
O trabalho de capacitação não pode ser bem-sucedido se for baseado no pressuposto de que as
entidades sociais são vazias de um saber que estaria inteiramente contido em um outro pólo,
www.prattein.com.br
prattein@prattein.com.br
6
CONSULTORIA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
supostamente modernizador. Processos de capacitação assim orientados não enraízam e não
produzem resultados duradouros. Por outro lado, é preciso que a incorporação de novas práticas
de gestão pelas organizações sem fins lucrativos não traga como resultado simplesmente um
aumento de eficiência sem um correspondente aumento de relevância da ação social.
Trata-se, pois, de buscar uma articulação construtiva entre os novos paradigmas do mundoempresarial e os valores e potencialidades das entidades sociais, que traga uma efetiva inovação
na área de gestão social.
Um trabalho consistente de capacitação das organizações do terceiro setor deve ser planejado a
partir da hipótese da possibilidade de uma integração criativa entre as culturas organizacionais do
setor não-lucrativo e do setor empresarial. A busca de interfaces entre esses dois campos traz
ganhos de aprendizagem e resultados práticos para as entidades sociais, embora nem sempre seja
fácil ir além da simples justaposição de esforços e chegar ao desenvolvimento de uma linguagem
comum, capaz de promover explorar adequadamente as interfaces citadas.
É preciso procurar convergências que favoreçam a construção de novos saberes, sem
desconsiderar as diferenças de ponto de vista e a tensão crítica existente em situações tais como a
tentativa de aplicação da noção de planejamento estratégico (típica do mundo empresarial) ao
processo de planejamento de organizações sociais (mais afeitas a um conceito humanístico de
assistência); ou a tentativa de aplicação de um sistema de avaliação por resultados (próprio de
organizações que competem no mercado) a um trabalho eminentemente baseado na qualidade do
contato humano (próprio de entidades assistenciais centradas na interação cotidiana com seus
beneficiários).
Quanto maior for a consciência das diferenças entre estes modelos de ação, maior será a
possibilidade de uma assimilação refletida de novos conceitos (que evite o modismo e a
banalização de idéias) e de uma articulação criativa entre pontos de vista diferentes.
Como afirma João Clemente de Souza Neto1: “Precisamos descobrir a vocação das entidades
assistenciais para o terceiro milênio. Segundo minha percepção e vivência, elas terão um duplo
papel: ajudar as pessoas que estão excluídas da sociedade a serem incluídas e recuperar a ética da
solidariedade como um instrumento poderosíssimo para evitar que a humanidade se destrua e
acabe com o planeta. Diria eu, de uma maneira otimista, mas sem perder a dimensão realista, que
as entidades assistenciais são portadoras de uma reserva de solidariedade. Para cumprirem essa
dupla missão elas devem deixar de ser pedintes, de fazer coisas pobres para os pobres. Devem,
isto sim, criar uma rede de solidariedade por meio de parcerias com o Estado, com empresários e
com outros segmentos da sociedade, para consolidação de um trabalho em que o carisma e a
técnica ajudem na construção da cidadania. Não podemos pensar hoje num trabalho social que
não integre o carisma e a profissionalização. Não se faz um trabalho social sem paixão. Mas
temos que profissionalizá-lo para que possa gerar resultados objetivos. Cada trabalho social tem
 
1 Consultor da Prattein.
www.prattein.com.br
prattein@prattein.com.br
7
CONSULTORIA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
que pensar a cidade como um todo, pois o pobre não é propriedade de um setor público, de uma
entidade social ou de uma empresa. A situação de pobreza em que ele vive é uma
responsabilidade de todos, isto é, do Estado, das empresas, do município, dos órgãos públicos,
das entidades e de todas as pessoas que praticam a justiça. Erradicar ou reduzir a pobreza não é
tarefa de um único segmento, mas de toda a sociedade. É por isso que a assistência, hoje, deixou
de ser objeto de favores, para ser concebida como direito. Esta concepção requer a formação de
redes de solidariedade em que todos possam participar e que favoreçam a escolha das prioridades
sociais, uma vez que não existem recursos suficientes para atender a todas as demandas”.
Entende-se, assim, que a profissionalização do terceiro setor pode resultar da fecundação entre
experiências diferentes de gestão e trabalho, capaz de gerar inovações e novas perspectivas para
todos os envolvidos. Trata-se de um duplo movimento, que expressa uma tendência atual do
desenvolvimento das organizações: por um lado, as entidades sociais sem fins lucrativos
começam a se aproximar das empresas privadas e a tentar assimilar a racionalidade técnica e
instrumental subjacente às suas práticas de gestão; por outro lado, empresas privadas estão
gradualmente incorporando valores de responsabilidade social e, como as entidades sem fins
lucrativos e as ONGs, buscando transformar-se em organizações que aprendem a interagir de
modo mais solidário e equilibrado com o ambiente físico e social. Nesse processo, cada um dos
agentes suspende temporariamente sua cultura prévia e, colocando-se no ponto de vista do outro,
reconhece nele aquilo que lhe falta. Abre-se aí a possibilidade de articulação entre técnica e
carisma, profissionalismo e voluntarismo, e de invenção de novas formas de trabalho social.

Continue navegando