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Yunus A. Çengel Michael A. Boles Termodinâmica 7a Edição Inclui CD Com versão educacional do programa EES para resolução de problemas Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 Ç99t Çengel, Yunus A. Termodinâmica [recurso eletrônico] / Yunus A. Çengel, Michael A. Boles ; tradução: Paulo Maurício Costa Gomes ; revisão técnica: Antonio Pertence Júnior. – 7. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2013. Editado também como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-8055-201-0 1. Engenharia. 2. Termodinâmica. 3. Física – Calor. I. Boles, Michael A. II. Título. CDU 621.43.016:536 52 Termodinâmica 2–1 INTRODUÇÃO Estamos familiarizados com o princípio de conservação da energia, a expressão da primeira lei da termodinâmica que vimos no colégio. Ouvimos repetidas ve- zes que a energia não pode ser criada ou destruída durante um processo; ela só pode se transformar de uma forma para outra. Isso parece bastante simples, mas vamos nos testar e ver se entendemos e se verdadeiramente acreditamos nesse princípio. Considere uma sala cuja porta e janelas estejam hermeticamente fechadas e cujas paredes estejam bem isoladas, de modo que a perda ou o ganho de calor atra- vés das paredes seja desprezível. Um refrigerador com as portas abertas é colocado no meio da sala, e ligado a uma tomada (Fig. 2–1). É possível usar um pequeno ventilador para circular o ar e manter a uniformidade da temperatura dentro da sala. O que você acha que acontecerá com a temperatura média do ar na sala? Ela aumentará ou diminuirá? Ou permanecerá constante? Provavelmente a primeira ideia que lhe ocorre é que a temperatura média do ar da sala diminuirá à medida que o ar mais quente da sala se misturar ao ar res- friado pelo refrigerador. Alguns podem chamar nossa atenção para o calor gerado pelo motor do refrigerador, e podem argumentar que a temperatura média do ar pode subir se esse efeito de aquecimento for maior do que o efeito de refrigera- ção. Mas ficarão confusos se for mencionado que o motor é feito de materiais su- percondutores e, assim, dificilmente existirá qualquer geração de calor no motor. A discussão pode prosseguir sem previsão de conclusão até nos lembrarmos do princípio de conservação da energia: se tomarmos toda a sala – incluindo o ar e o refrigerador – como o sistema, que é adiabático, já que a sala está bem selada e isolada, esse sistema só poderá interagir com a energia elétrica, que cruza a fron- teira do sistema e entra na sala. A conservação da energia requer que o conteúdo de energia da sala aumente em uma quantidade igual à quantidade de energia elétrica consumida pelo refrigerador, que pode ser mensurada com um medidor elétrico comum. O refrigerador ou seu motor não armazena essa energia; ela deve estar no ar da sala e se manifestará como uma elevação da temperatura do ar. A elevação da temperatura do ar pode ser calculada com base no princípio de conservação da energia, usando as propriedades do ar e a quantidade de energia elétrica consu- mida. O que você acha que aconteceria se tivéssemos um aparelho de condicio- namento de ar em vez de um refrigerador no meio da sala? E se operássemos um ventilador no interior da sala (Fig. 2–2)? Observe que a energia é conservada durante o processo de operação do re- frigerador colocado em uma sala – a energia elétrica é convertida em uma quan- tidade equivalente de energia térmica armazenada no ar da sala. Se a energia se conserva, por que todos os debates sobre conservação de energia e adoção de medidas para conservar energia? Na verdade, “conservação da energia” significa conservação da qualidade da energia, não da quantidade. A eletricidade, que é a forma de energia de mais alta qualidade, por exemplo, sempre pode ser conver- tida em uma quantidade igual de energia térmica (também chamada de calor). Mas apenas uma pequena fração da energia térmica, a forma de energia de menor qualidade, pode ser convertida de volta em eletricidade, como discutiremos no Cap. 6. Pense sobre as coisas que você pode fazer com a energia elétrica que o re- frigerador consumiu, e sobre o ar da sala que agora está a uma temperatura mais alta. Se nos pedirem para nomearmos as transformações de energia associadas Ventilador Sala bem vedada e isolada FIGURA 2–2 Um ventilador funcionando em uma sala bem vedada e isolada elevará a temperatura do ar da sala. Sala bem vedada e isolada FIGURA 2–1 Um refrigerador operando com a porta aberta em uma sala bem vedada e isolada. Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Capítulo 2 Energia, Transferência de Energia e Análise Geral da Energia 53 à operação de um refrigerador, ainda podemos ter dificuldades em responder, porque tudo o que vemos é a energia elétrica entrando no refrigerador e o calor dissipado do refrigerador para o ar da sala. Obviamente, existe a necessidade de estudarmos primeiro as diversas formas de energia. É exatamente isso o que faremos agora, prosseguindo depois com um estudo dos mecanismos da transfe- rência da energia. 2–2 FORMAS DE ENERGIA A energia pode existir em inúmeras formas; ela pode ser térmica, mecânica, ciné- tica, potencial, elétrica, magnética, química e nuclear, e a soma delas constitui a energia total E de um sistema. A energia total de um sistema com base em uma unidade de massa é indicada por e. Ela pode ser expressa como (2–1) A termodinâmica nada afirma sobre o valor absoluto da energia total. Ela trata apenas da variação da energia total, que é o mais importante para os problemas de engenharia. Assim, é possível atribuir um valor zero (E � 0) à energia total de um sistema em algum ponto de referência conveniente. A variação da energia total de um sistema não depende do ponto de referência escolhido. A diminuição da ener- gia potencial de uma pedra em queda livre, por exemplo, só depende da diferença de altura, e não do referencial escolhido. Em uma análise termodinâmica, normalmente é útil considerar as diversas formas de energia que constituem a energia total de um sistema em dois grupos: macroscópico e microscópico. As formas macroscópicas de energia são aquelas que um sistema possui como um todo, com relação a algum referencial exter- no, como as energias cinética e potencial (Fig. 2–3). As formas microscópicas de energia são aquelas relacionadas à estrutura molecular de um sistema e ao grau de atividade molecular e são independentes de referenciais externos. A soma de todas as formas microscópicas de energia é chamada de energia interna de um sistema e é indicada por U. O termo energia foi criado em 1807 por Thomas Young, e seu uso na ter- modinâmica foi proposto em 1852 por Lord Kelvin. O termo energia interna e seu símbolo U apareceram pela primeira vez nos trabalhos de Rudolph Clausius e William Rankine na segunda metade do século XIX, e com o passar do tempo substituíram os termos alternativos trabalho interior, trabalho interno e energia intrínseca usados na época. A energia macroscópica de um sistema está relacionada ao movimento e à influência de alguns efeitos externos como gravidade, magnetismo, eletricidade e tensão superficial. A energia que um sistema possui como resultado de seu movi- mento relativo a algum referencial é chamada de energia cinética (EC). Quando todas as partes de um sistema se movem com a mesma velocidade, a energia ciné- tica é expressa como (2–2) FIGURA 2–3 A energia macroscópica de um objeto muda com a velocidade e a altura. Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce 54 Termodinâmica ou, por unidade de massa ec (2–3) onde V indica a velocidade do sistema com relação a um referencial fixo. A energia cinéticade um corpo sólido em rotação é dada por Iv2, onde I é o momento de inércia do corpo e v é a velocidade angular. A energia que um sistema possui como resultado de sua altura em um campo gravitacional é chamada de energia potencial (EP), e é expressa como (2–4) ou por unidade de massa (2–5) onde g é a aceleração gravitacional e z é a elevação do centro de gravidade do sis- tema com relação a algum nível de referência escolhido arbitrariamente. Os efeitos magnéticos, elétricos e de tensão superficial são significativos ape- nas em alguns casos específicos e, geralmente, ignorados. Na falta de tais efeitos, a energia total de um sistema consiste nas energias cinética, potencial e interna, e é expressa como (2–6) ou por unidade de massa (2–7) A maioria dos sistemas fechados permanece estacionário durante um processo e, assim, não sofre nenhuma variação em suas energias cinética e potencial. Os sistemas fechados cuja velocidade e posição do centro da gravidade permanecem constantes durante um processo são chamados de sistemas estacionários. A va- riação da energia total �E de um sistema estacionário é idêntica à variação de sua energia interna �U. Este livro pressupõe que um sistema fechado é também esta- cionário, a menos que seja informado o contrário. Tipicamente, volumes de controle envolvem o escoamento de fluidos por lon- gos períodos, sendo conveniente expressar o fluxo de energia associado a uma corrente de fluido na forma de taxa. Isso é feito incorporando o fluxo de massa , que é a quantidade de massa que escoa através de uma seção transversal por unidade de tempo. Ela está relacionada à vazão volumétrica , que é o volume de fluido que escoa através de uma seção transversal por unidade de tempo, por Fluxo de massa: (kg/s) (2–8) que é análoga a m � rV. Aqui, r é a densidade do fluido, Ac é a seção transversal do escoamento e Vmed é a velocidade média do escoamento normal a Ac. Em todo o livro, o ponto sobre um símbolo indica por unidade de tempo. Assim, o fluxo de energia associado a um fluxo de massa é (Fig. 2–4) Fluxo de energia: (kJ/s ou kW) (2–9) no qual é análogo a E � me. D Vapor Vmed Ac � pD 2/4 m � rAcVmed E � me • • • FIGURA 2–4 Fluxos de massa e energia associados ao escoamento de vapor em um duto de diâmetro interno D com velocidade média Vmed. Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce 58 Termodinâmica Energia mecânica Muitos sistemas de engenharia são projetados para transportar fluidos de um lugar a outro a uma vazão, velocidade e diferença de altura especificadas, e o sistema pode produzir trabalho mecânico em uma turbina ou pode consumir trabalho me- cânico em uma bomba ou ventilador durante o processo (Fig. 2–10). Esses siste- mas não envolvem conversão da energia nuclear, química ou térmica em energia mecânica. Da mesma forma, não há transferência de calor em quantidades signi- ficativas, e os sistemas operam essencialmente a temperatura constante. Tais sis- temas podem ser analisados de forma conveniente considerando apenas as formas mecânicas de energia e os efeitos de atrito que causam perda de energia mecânica (ou seja, conversão em energia térmica que, em geral, não pode ser utilizada para nenhuma finalidade útil). A energia mecânica pode ser definida como a forma de energia que pode ser convertida completa e diretamente em trabalho mecânico por um dispositivo mecânico ideal, como uma turbina ideal, por exemplo. As energias cinética e po- tencial são as formas conhecidas de energia mecânica. Entretanto, energia térmica não é energia mecânica, uma vez que não pode ser convertida direta e completa- mente em trabalho (a segunda lei da termodinâmica). Uma bomba transfere energia mecânica para um fluido elevando sua pressão, e uma turbina extrai energia mecânica de um fluido diminuindo sua pressão. As- sim, a pressão de um fluido em escoamento também está associada à sua energia mecânica. Na verdade, a unidade de pressão Pa é equivalente a Pa � N/m2 � N·m/m3 � J/m3,que é energia por unidade de volume, e o produto Pv ou seu equi- valente P/r tem unidade J/kg, que é energia por unidade de massa. Observe que a pressão por si só não é uma forma de energia. Mas uma força de pressão agindo sobre um fluido ao longo de uma distância produz trabalho, chamado de trabalho de escoamento, em uma quantidade P/r por unidade de massa. O trabalho de escoamento é expresso em termos de propriedades do fluido, e é conveniente ima- giná-lo como parte da energia do fluido e chamá-lo de energia de pressão. Assim, a energia mecânica de um fluido em escoamento pode ser expressa por unidade de massa como (2–10) FIGURA 2–10 A energia mecânica é um conceito útil para fluxos que não possuem significativas transferências de calor ou conversões de energia, tal como o fluxo de gasolina para um tanque em um automóvel. © Corbis RF. Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Capítulo 2 Energia, Transferência de Energia e Análise Geral da Energia 59 onde P/r é a energia de pressão, V2/2 é a energia cinética, e gz é a energia poten- cial do fluido, todas por unidade de massa. Ela também pode ser expressa na forma de taxa como (2–11) onde é o fluxo de massa do fluido. Então, a variação da energia mecânica de um fluido durante um escoamento incompressível (r � constante) torna-se (2–12) e (2–13) Portanto, a energia mecânica de um fluido não varia durante o escoamento se sua pressão, densidade, velocidade e altura permanecerem constantes. Na ausência de alguma perda irreversível, a variação da energia mecânica representa o trabalho mecânico fornecido ao fluido (se �emec � 0) ou extraído do fluido (se �emec � 0). A energia máxima gerada (ideal) por uma turbina, por exemplo, é max � �emec, como mostrado na Fig. 2–11. EXEMPLO 2–2 Energia do vento Um local avaliado para a instalação de uma estação eólica tem ventos estáveis de velo- cidade de 8,5m/s (Fig. 2–12). Determine a energia do vento (a) por unidade de massa, (b) para uma massa de 10 kg de ar e (c) para um fluxo de massa de 1.154 kg/s de ar. SOLUÇÃO Considera-se um local cuja velocidade do vento é conhecida. As ener- gias por unidade de massa, para uma massa especificada e para um certo fluxo de massa de ar devem ser determinadas. Hipótese O vento sopra de modo estável à velocidade especificada. Análise A única forma de energia do ar atmosférico aproveitável para esse fim é a energia cinética, a qual é capturada por uma turbina eólica. (a) A energia do vento por unidade de massa do ar é (b) A energia do vento para uma massa de ar de 10 kg é (c) A energia do vento para um fluxo de massa de 1.154 kg/s é Discussão É possível mostrar que o fluxo de massa especificado corresponde a uma seção de escoamento com diâmetro de 12 m quando a densidade do ar é de 1,2 kg/ m3. Portanto, uma turbina de envergadura de 12 m tem um potencial de geração de energia de 41,7 kW. Turbinas eólicas reais convertem cerca de um terço desse poten- cial em energia elétrica. 4 1 h W . Gerador Turbina Wmax � m�emec � mg(z1 – z4)� mgh desde P1 � P4 � Patm e V1 � V4 � 0 . . . . (a) (b) W . Gerador Turbina 2 3 Wmax � m�emec � m . . � m .. (P2 – P3) r �P r desde V2 � V3 e z2 � z3 FIGURA 2–11 A energia mecânica é demonstrada por meio de uma turbina hidráulica ideal acoplada a um gerador ideal. Na ausência de perdas irreversíveis, a potência máxima produzida é proporcional a (a) variação na elevação da água a partir da superfície a montante para jusante do reservatório ou (b) (close-up) a queda de pressão da água na turbina. Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce 60 Termodinâmica 2–3 TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA POR CALOR A energia pode cruzar a fronteira de um sistema fechado em duas formas diferen-tes: calor e trabalho (Fig. 2–13). É importante diferenciar essas duas formas de energia, e por isso ambas serão discutidas a seguir, para que se forme uma base sólida para o desenvolvimento das leis da termodinâmica. Nossa experiência mos- tra que uma lata de refrigerante gelado deixada sobre uma mesa se aquece após um certo tempo, da mesma forma que uma batata assada colocada sobre a mesma mesa se esfria. Quando um corpo é deixado em um meio que está a uma tempe- ratura diferente, a transferência de energia ocorre entre o corpo e o meio até que o equilíbrio térmico seja estabelecido, ou seja, até que o corpo e o meio atinjam a mesma temperatura. A direção da transferência de energia sempre é do corpo com temperatura mais alta para aquele com temperatura mais baixa. Depois de estabe- lecida a igualdade de temperaturas, a transferência de energia para. Nos processos descritos nesse parágrafo, diz-se que a energia é transferida sob a forma de calor. Calor é definido como a forma de energia transferida entre dois sistemas (ou entre um sistema e sua vizinhança) em virtude da diferença de temperaturas (Fig. 2–14). Ou seja, uma interação de energia só é calor se ocorrer devido a uma diferença de temperatura. Dessa forma, não pode haver qualquer transferência de calor entre dois sistemas que estejam à mesma temperatura. Várias frases de uso corrente hoje – como fluxo de calor, adição de calor, rejeição de calor, absorção de calor, remoção de calor, ganho de calor, perda de calor, armazenamento de calor, geração de calor, calor de reação, liberação de calor, calor específico, calor sensível, calor latente, calor perdido, calor do cor- po, calor do processo, sumidouro de calor e fonte de calor – não são consistentes com o significado termodinâmico rigoroso do termo calor, o qual limita seu uso à transferência da energia térmica durante um processo. Entretanto, essas expressões estão profundamente enraizadas em nosso vocabulário, sendo utili- zadas por leigos e cientistas sem causar nenhum mal-entendido, já que em geral são interpretadas adequadamente e não literalmente. (Além disso, não existe nenhuma alternativa aceitável para algumas dessas expressões.) Por exemplo, a frase calor do corpo é entendida como o conteúdo de energia térmica de um corpo. Da mesma forma, fluxo de calor é entendido como a transferência de energia térmica, e não o escoamento de uma substância fluida chamada de ca- lor, embora esta última interpretação incorreta, que se baseia na teoria calórica, seja a origem dessa frase. A transferência de calor para um sistema também é chamada de adição ou fornecimento de calor, e a transferência de calor para fora de um sistema é chamada de rejeição de calor. Talvez existam motivos termodinâmicos para relutar tanto em substituir calor por energia térmica: é preciso menos tempo e energia para dizer, escrever e compreender calor do que energia térmica. O calor é a energia em trânsito. Ele só é reconhecido ao cruzar a fronteira de um sistema. Considere mais uma vez o exemplo da batata assada. A batata con- tém energia, mas essa energia é transferência de calor apenas quando ela passa através da casca da batata (a fronteira do sistema) para alcançar o ar, como mostra a Fig. 2–15. Depois que está na vizinhança, o calor transferido torna-se parte da energia interna dessa vizinhança. Assim, em termodinâmica, o termo calor sim- plesmente significa transferência de calor. Um processo durante o qual não há transferência de calor é chamado de proces- so adiabático (Fig. 2–16). A palavra adiabático vem do grego adiabatos, que signi- Trabalho Sistema fechado (m � constante) Calor Fronteira do sistema FIGURA 2–13 A energia pode atravessar as fronteiras de um sistema fechado na forma de calor ou trabalho. Ar da sala 25 °CSem transferência de calor Calor Calor 25 °C 5 °C 8 J/s 16 J/s 15 °C FIGURA 2–14 A diferença de temperatura é a força motriz da transferência de calor. Quanto maior a diferença de temperatura, maior a taxa de transferência de calor. 8,5 m/s FIGURA 2–12 Potencial local para uma estação eólica, como discutido no Exemplo 2–2. © Vol. 36/ PhotoDisc/Getty RF. Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Capítulo 2 Energia, Transferência de Energia e Análise Geral da Energia 61 fica intransponível. Um processo pode ser considerado adiabático de duas formas: quando o sistema está bem isolado, de modo que apenas uma quantidade desprezível de calor passe através da fronteira, ou quando o sistema e a vizinhança estejam à mesma temperatura e, portanto, não haja força motriz (diferença de temperatura) para a transferência de calor. Um processo adiabático não deve ser confundido com um processo isotérmico. Embora não exista transferência de calor durante um pro- cesso adiabático, o conteúdo de energia (e, consequentemente, a temperatura de um sistema) ainda pode ser alterada por outros meios como o trabalho. Como uma forma de energia, o calor tem unidades também de energia, e kJ é a mais comum. A quantidade de calor transferida durante um processo entre dois estados (estados 1 e 2) é indicada por Q12 ou apenas Q. A transferência de calor por unidade de massa de um sistema é indicada por q e é determinada por (2–14) Às vezes, é desejável conhecer a taxa de transferência do calor (a quantidade de calor transferida por unidade de tempo), em vez do calor total transferido ao longo de um intervalo de tempo (Fig. 2–17). A taxa de transferência de calor é indicada por , onde o ponto significa a derivada com relação ao tempo, ou “por unidade de tempo”. A taxa de transferência de calor , tem a unidade kJ/s, que equivale a kW. Quando varia com o tempo, o calor total transferido durante um processo é determinado pela integração de no intervalo de tempo do processo: (2–15) Quando permanece constante durante um processo, essa relação se reduz a (2–16) onde t � t2 � t1 é o intervalo de tempo durante o qual o processo ocorre. Calor: contexto histórico O calor sempre foi percebido como algo que produz em nós uma sensação de aquecimento, e é possível pensar que a natureza do calor é uma das primeiras coisas percebidas pela humanidade. Entretanto, apenas na metade do século XIX tivemos uma verdadeira compreensão física da natureza do calor, graças ao de- senvolvimento da teoria cinética, que trata moléculas como pequenas esferas que estão em movimento e, portanto, possuem energia cinética. Assim, o calor é de- finido como a energia associada ao movimento aleatório de átomos e moléculas. Embora tenha sido sugerido no século XVIII e no início do século XIX que o calor é a manifestação do movimento no nível molecular (a chamada força viva), a visão do calor que prevaleceu até a metade do século XIX tinha por base a teoria calórica proposta pelo químico francês Antoine Lavoisier (1744-1794) em 1789. A teoria calórica afirma que o calor é uma substância chamada de calórico, semelhante a um fluido, que não tem massa, cor, odor e gosto, e pode ser passada de um corpo para outro (Fig. 2–18). Quando o calórico era adicionado a um corpo, sua tempe- ratura aumentava; e quando o calórico era retirado de um corpo, sua temperatura diminuía. Quando um corpo não podia mais conter calórico, da mesma forma que Q � 0 Isolamento Sistema adiabático FIGURA 2–16 Durante um processo adiabático, um sistema não troca calor com sua vizinhança. Q � 30 kJ m � 2 kg t � 5 s� Q � 6 kW q � 15 kJ/kg 30 kJ calor FIGURA 2–17 As relações entre q, Q e . Ar da vizinhança Batata assada Fronteira do sistema Calor 2 kJ energia térmica 2 kJ energia térmica 2 kJ calor FIGURA 2–15 A energia é somente reconhecida como calor transferido quando atravessa a fronteira do sistema. Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce Larissa Ale Realce 62 Termodinâmicanão se pode mais dissolver sal ou açúcar em um copo d’água, dizia-se que o corpo estava saturado com calórico. Essa interpretação deu origem aos termos líquido saturado e vapor saturado, ainda usados nos dias de hoje. A teoria do calórico foi questionada logo após sua apresentação. Ela pro- punha que o calor era uma substância que não podia ser criada ou destruída. Entretanto, sabia-se que o calor podia ser gerado indefinidamente esfregando as mãos ou esfregando dois pedaços de madeira. Em 1798, o norte-americano Benjamin Thompson, também conhecido como Conde Rumford (1754-1814), mostrou em seus trabalhos que o calor pode ser gerado continuamente por meio do atrito. A validade da teoria do calórico também foi desafiada por vários ou- tros cientistas. Entretanto, foram os cuidadosos experimentos que o inglês Ja- mes P. Joule (1818-1889) publicou em 1843 que finalmente convenceram os céticos de que o calor não era uma substância, colocando assim a teoria do calórico de lado. Embora a teoria do calórico tenha sido totalmente abandonada na metade do século XIX, ela contribuiu bastante para o desenvolvimento da termodinâmica e da transferência de calor. Calor é transferido por meio de três mecanismos: condução, convecção e ra- diação. A condução é a transferência de energia das partículas mais energéticas de uma substância para as partículas menos energéticas como resultado da interação entre as partículas. A convecção é a transferência de energia entre uma superfície sólida e o fluido adjacente que está em movimento, e envolve os efeitos combina- dos da condução e do movimento do fluido. A radiação é a transferência de ener- gia devido à emissão de ondas eletromagnéticas (ou fótons). Uma visão geral dos três mecanismos da transferência de calor é dada no final deste capítulo no quadro Tópico de Interesse Especial. Corpo quente Corpo frio Superfície de contato Calórico FIGURA 2–18 No início do século XIX, pensava-se que o calor era um fluido invisível, chamado de calórico, que escoava dos corpos mais quentes para os corpos mais frios. Larissa Ale Realce Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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