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Transcrição: Aspectos Psicossociais da Gestação

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Nicolle Souza
Transcrição: Aspectos Psicossociais da Gestação
Muitos médicos não acabam dando a devida atenção e com isso acabam dificultando esse momento tão importante na vida da família e na vida da gestante, que são esses os aspectos psicossociais da gestação. 
Ao longo da gestação, em torno dessas 40 semanas em média, a mulher passa por muitas alterações, muitas mudanças: tanto físicas quanto psicológicas e sociais, ela precisa reformular o seu papel: seu papel como mulher, como esposa, como um membro da família que trabalha; isso tudo ela precisa se adaptar a esta nova etapa da vida que ela está vivendo e a futura etapa com essa criança. Então são muitos conflitos que essa mulher passa, por diversos motivos e que precisamos estar atentos para dar o suporte adequado e para identificar até que ponto isso é normal e até que ponto isso é patológico, se está trazendo algum prejuízo para essa mulher, para essa gravidez e essa criança, para que possamos intervir se for necessário. 
Então a mulher passa por vários conflitos, ao mesmo tempo que ela está feliz porque afinal ela é fértil, a maioria das mulheres desejam ser mães, desejam ter um filho, e quando ela consegue isso ela se sente realizada, se sente feliz, ela percebe que o corpo dela é perfeito, que o corpo dela é normal, afinal ela é fértil, ela consegue gerar uma vida, ela é capaz! Mas ao mesmo tempo vem a dúvida, será que realmente ela é capaz? Será que realmente ela vai dar conta? Essa gestação, será que o corpo dela realmente vai se adaptar? Será que ela vai ter uma DMG? Será que a pressão vai aumentar? Ou até mesmo ter um aborto? Ou perder a criança em qualquer etapa da gestação, por algum motivo. Então ao mesmo que ela está feliz, que ela se sente super poderosa, ela se sente frágil e incapaz e vem aquela dúvida. Ela sempre, como na maioria das mulheres, ela planejou, ela sonhou, como diferente dos homens, a mulher é criada brincando de boneca, cuidando de uma boneca, ela é criada cuidando de uma cozinha, cuidando de uma casinha, essas são as brincadeiras. A menina é criada já assumindo esse papel, e ao mesmo tempo ela se sente cansada, porque no começo da gravidez vem muito sono, náuseas, desconfortos; cada etapa da gravidez vem acompanhada de algum desconforto diferente, então isso tudo gera conflitos. 
Muitas planejam a gestação, muitas demoram a conseguir a gestação, e tem aquelas que engravidam sem planejamento, a gravidez vem para mudar os planos da mulher, precisamos entender em qual contexto essa mulher está. Ela não se importava? Ela tinha uma união estável? Ou era casada? Ou usava um método não tão eficaz porque não via problema em engravidar? Ou ela já vinha tentando, e isso é uma conquista na vida dela? Ou ela estava em plena faculdade e com seus projetos... e agora se vê tendo que mudar seus planos de uma gestação não planejada. 
Algumas no início tem dificuldade de aceitar. Isso às vezes não está relacionado ao desejo de gestar, algumas mulheres queriam engravidar, estavam tentando, mas quando se pegam gestante a insegurança é tão grande que elas demoram a aceitar aquela gestação, e ficam na dúvida: será que era isso mesmo que eu queria? Será que eu tô preparada mesmo? Será que essa é a hora certa? Então isso tudo são questões que vem na parte psicológica e emocional da gestante, isso tudo só reforça o apoio não só da equipe de saúde, como também o apoio da família, essa paciente precisa de alguém para apoiar durante a gestação. Enfim, ela precisa de apoio nesse momento, principalmente se a gestação não foi planejada, elas esconderem esse diagnóstico, só temos que tomar cuidado para que ela não perca os exames importantes do pré-natal, então ela tem que se sentir segura, tem que realizar o acompanhamento adequado, para estar a um passo à frente dos problemas.
O objetivo do pré-natal é cuidar dessa gestante, para minimizar os riscos e prevenir os riscos. Então se a paciente tem risco de pré-eclâmpsia, o que podemos fazer para minimizar isso? Se ela tem risco de DMG, o que podemos fazer para diminuir? Se tem risco de parto prematuro? Quais condutas têm que tomar. Primeiro passo é identificar esses fatores de risco (identificar a psicopatologia), a partir do momentos que os conflitos são tão grandes, que impede a paciente de procurar o profissional de saúde, então ela pode estar retardando esse diagnóstico e aumentando o risco para essa gravidez. 
Hoje em dia tudo é mais comum, é muito comum aquelas que demoram muito a engravidar, como os casais acabam se planejando muito, vão adiando muito a gestação, então a mulher que antes engravidava por volta de 25 anos agora engravida pela primeira vez por volta dos 30 anos, isso faz com que os riscos aumentem, tanto para a mãe quanto para o bebê; isso temos que orientar a paciente desde a consulta pré anticoncepcional, o ideal é que essa gravidez seja planejada e sejam feitos os exames, para avaliar o risco gestacional mesmo antes dela engravidar. Que ela comece a tomar o ácido fólico, para ver se ela tem indicação do uso de AAS, cálcio ou de qualquer outra substância para que seja feito a prevenção de alguma afecção durante a gestação. 
Uma pesquisa eles perguntaram: Vocês concordam que o pré-natal é muito importante na gestação? Então 69% achavam que sim, que realmente o pré-natal era muito importante durante a gestação, porém 86% achavam que não tinha problema da aceitação da mulher com a gestação; sendo que sabemos que do ponto de vista psicológico essa criança esta sendo gerada, com todo o seu sistema nervoso sendo formado, recebendo todos os tipos de emoção, ela não é imune, ela não é protegida das emoções da mãe durante a gestação; pelo contrario aquilo ali já vai rondando aquela criança desde a sua formação, então se a mulher não aceita a criança, deseja passar por aborto ou até mesmo doar aquela criança tudo isso influencia depois na formação e no desenvolvimento psicológico dessa criança. Tem muito trabalho que associa isso, não que um episódio de raiva vá causar tudo isso, mas que grandes rejeições, mas que grandes traumas durante a gestação podem sim influenciar na personalidade dessa criança mesmo tão pequenininha, então é importante cuidar desse aspecto emocional da gestação. 
Como tudo a mulher passa por fases, ela precisa de compreensão, porque ela se torna muito fragilizada, ela dorme fácil, acorda fácil, chora fácil, se irrita fácil; então ela precisa ser compreendida nesse momento, precisa de apoio, precisando perceber que ela não está passando por isso sozinha, que ela tem alguém para ajudá-la tanto durante a gestação como depois com a criança, são muitos os sentimentos, ela tem que se adaptar ao novo papel que ela vai assumir na sociedade e na família, com esse novo membro da família que está chegando, tem que se adaptar isso; ou contratar alguém ou organizar os seus horários de alguma maneira, parar durante um determinado tempo o seu trabalho para cuidar e se dedicar a esse novo membro, então vai ter uma reorganização de toda família. 
A gestação é dividida em 3 fases: 1º, 2º e 3º trimestre. Cada uma delas vai ser marcada por sentimentos e alterações no organismo materno. A cada fase ela vai ter suas adaptações do seu organismo, então terá que se adaptar e ser compreendida por cada uma delas. 
Tudo é comum, tudo é normal, mas não deve ser menosprezado. Exemplo: os enjoos na gravidez, acontece na maioria das mulheres mesmo que o mínimo, mas pode acontecer; não significa que a mulher não vai se incomodar com isso, que isso não seja ruim, temos mania de minimizar: “Ah você está reclamando muito! Todo mundo enjoa na gravidez!” e passa por menos, só que ela está tendo muito enjoo e está vomitando toda hora, imagina você vomitando toda hora, não consegue comer, dizem: “ela é mole! É frescura”, ninguém está passando e vivendo aquele momento; então precisamos compreender cada fase e dar o suporte, e perguntar: como posso te ajudar? Se eu fizer uma comida para você, te ajuda? Apesar de ser normal, incomoda muito, ela passa muito mal, então não podemos simplesmente menosprezar.No 1º trimestre: tem toda essa parte da aceitação, tem mulheres que não desejavam e precisam aceitar essa nova fase vida, e tem aquelas que desejam que também precisam aceitar essa fase da vida, aquilo que ela está vivendo agora, as vezes elas acham “ah essas mulheres são muito frescas eu não vou ser assim! Quando eu engravidar vou mostrar que eu sou diferente”, o grande desafio da ginecologista obstetra mulher é simplesmente essa: engravidar e parir. porque se vive na pele tudo o que se passa para a paciente, precisando se colocar no lugar da paciente. 
Do ponto de vista emocional vem essa questão da fertilidade, mas também vem a dúvida se eu sou capaz, eu fui capaz de engravidar, será que eu vou ser capaz de chegar até o final? Será que eu posso pegar peso? Será que eu posso pintar o cabelo?... Fui ao Rock in Rio tomar um porre e não sabia que estava grávida, meu filho vai nascer com síndrome alcoólica fetal; e precisamos estar preparados para tirar todas essas dúvidas, dando abertura para a paciente contar suas experiências. 
Da parte física o 1º trimestre é marcado por: enjoo, sono, cansaço, adaptação dessa nova situação, a esse novo parasita que está ali sugando tudo o que pode do corpo da mãe, e isso é muito comum, fazendo alguns rastreios para descartar algumas coisas no primeiro trimestre, para garantir que isso seja uma consequência da gestação e não algo patológico. Por isso que toda consulta convoca-se a presença do parceiro, se o parceiro não puder vir, que ela venha acompanhada por alguém que vai ajudar no suporte, alguém do lado dela; é diferente que ela chegar em casa e dizer que está com enjoo e que não consegue chegar perto do fogão, do que o médico chegar e dizer que realmente é ruim, que ela precisa tomar bastante água, se alimentar corretamente, então pede-se para a paciente tomar água gelada de pouco a pouco, porque água em temperatura ambiente piora o enjoo, bebendo de pouco a pouco e bem gelada, se o marido está junto ele vai lembrá-la de beber água, de colocar a garrafinha no congelador e levar na hora de sair, se não estiver na consulta vai reclamar dizendo: “já vem você com essa garrafinha molhando tudo”, quando você diz a gestante que ela precisa escolher melhor os alimentos tipo: diminuir o açúcar e massas, se o marido está do lado ele não vai comprar e vai ajudá-la a se policiar quanto a essa ingestão, vai ter mais apoio, não vai encarar como frescura, vai entender e ajudar no cumprimento das orientações médicas, reduzindo a violência doméstica, acaba aproximando o casal, apresentando a esse pai o novo papel dele na família, promovendo saúde para esse homem (medindo a pressão, pedindo sorologias, colesterol, glicemia, cálculos de IMC). Falar na consulta: e aí já começaram a arrumar o quartinho? (porque os homens sempre acham que é cedo demais), agora já está na hora de arrumar a mala da maternidade, então o pai percebe que não é ela que está pressionando e sim que já está na hora. 
O MS, em 2016 lançou um guia de pré-natal para o parceiro, para poder inseri-lo no SUS, para que possa proporcionar tudo isso para esse casal. Síndrome de Couvade: o parceiro acaba sentindo tudo o que a mulher sente: sono, enjoo... e isso mostra o quão envolvido está este homem com a gestação. 
No 2ª trimestre é o melhor momento da gravidez, os enjoos passam, ela ainda não estão com as dores do final da gestação (na perna, costas, pé...) ela se sente bem e disposta, começa a sentir o bebe mexer, sente a felicidade da gestação, porque ela sente o bebe mexer, sente as mudanças do corpo, se sentindo disposta. 
Porém, também vêm os resultados dos exames de rastreio que ai tem aquelas que ficam tranquilas, porque o morfológico esta bem, o de glicose esta bem, sem anemia, o comprimento do colo esta ótimo, ganhando pouco peso, é ápice da felicidade da gestante; acabou de descobrir o sexo, começa a comprar as coisinhas, planejar o quartinho. Mas, tem outro lado, daquela que descobriu uma alteração morfológica, DMG, comprimento do colo obtém risco de prematuridade, tendo uma negação desse diagnóstico como? “Dra você não vai repetir minha glicose eu comi muito doce ontem?”, uma glicemia alterada já é diagnóstico, diagnosticando os riscos e prevenindo de alterações maiores. 
Nessa fase começa se preparar para a chegada do parto, começam a pensar se querem normal ou cesárea, começa a ver as vantagens de um e de outro, fazendo escolhas ainda felizes, quando chega o terceiro trimestre que percebem que o feto precisa sair e que tudo dá medo, ai vem os medos do parto, a barriga já está grande e vários desconfortos. 
Começa a redução da velocidade de caminhar, fica mais cansada, já não aguenta mais, podendo ter contrações de treinamento. 
Indicamos a paciente a se informar sobre os tipos de parto. Porque a cesárea é melhor ou mesmo normal? Quais os benefícios de uma ou de outra? Quando cada tipo de parto é indicado. 
O médico tem que orientar e dizer as vantagens de um e de outro parto. 
O trabalho de parto e o parto normal, são uma dificuldade, uma superação, uma capacitação durante o trabalho de parto, ela superar aquelas dificuldades e nasce madura, nasce pronta, um fator importante. 
A criança que nasce de cesárea para não infectar a mãe, fazemos a cirurgia toda com campo estéril, assepsia e antissepsia, veste os capotes estéreis, tira o bebe em um ambiente estéril, a primeira bactéria que ele tem contato é a hospitalar, ele é todo colonizado com as bactérias do hospital, quando o neném nasce de parto normal ele é todo colonizado pelas bactérias da flora normal da mãe, isso promove uma imunidade maior, ficando mais resistente para qualquer infecção, do ponto de vista imunológico terá menos alergia, menos asma, menos bronquite... e torna essa criança mais forte para combater essas infecções, tudo por causa da flora normal da mãe. Então faz muita diferença para a criança. 
O parto psicológico, o corpo da mulher foi feito para o parto normal, toda mulher é capaz de ter um parto normal, porém a cesariana é salvadora em alguns casos, salva neném e salva mãe quando bem indicada. A cesariana tem o seu lugar, mas o parto normal é muito importante ele é psicológico, igual a relação sexual, se a mulher está preparada para a relação ela se sente preparada para aquilo, agora se ela não quer, não tem desejo é obrigada a ter é indicativo de estrupo, a mesma coisa acontece com o parto, então se você tem a paciência de ir em uma consulta médica gastar seu tempo explicando sobre o parto. 
O apoio familiar na hora do parto é essencial, tipo: “você consegue! Está se saindo muito bem! Tá quase amor! Vamos conseguir! Você está ótima!”. 
Explicar à gestante tudo o que vai acontecer, aqui será a sala de parto, aqui é o banco de leite, Utin; você explicando tudo ela se sente mais confiante, faz com que ela confie mais na equipe. Se ela tem informação, ela pode querer tentar o parto normal. Independente se é o primeiro filho, sempre existe dúvida, conflito, temos que dar o espaço, não é porque a mulher já teve mais filhos que ela está tranquila com essa gestação. 
Se for uma paciente adolescente, temos que ter cuidado redobrado, porque essa paciente precisa de apoio, gravidez na adolescência muda a vida e toda a perspectiva dessa adolescente, sabe-se que as adolescentes têm mais chance de ter fracasso escolar, que quando ela chegue no consultório ela encontre o apoio que ela precisa, que a vida dela não será fácil, mas terá o apoio que ela precisa para que ela continue buscando o que almeja na vida dela. 
A gravidez na adolescência traz riscos, porque o organismo da paciente não está preparado para se adaptar a essa gestação, então ela tem maior risco de pré-eclâmpsia, DMG, parto prematuro, maior risco de abortamento, o apoio da família é fundamental.

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