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Fase Metaconstitucional dos Direitos Humanos

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 1 
 
 
MBA GERENCIAMENTO DE 
PROJETOS 
DIREITOS E GARANTIAS 
FUNDAMENTAIS 
PROFESSOR: GUILHERME SANDOVAL GÓES 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 2 
ÍNDICE 
AULA 8: A FASE METACONSTITUCIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 3 
INTRODUÇÃO 3 
CONTEÚDO 4 
INTRODUÇÃO TEMÁTICA 4 
O FIM DA GUERRA FRIA E SEUS IMPACTOS NA FORMAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO DA 
PÓS-MODERNIDADE 7 
DIREITOS HUMANOS E PAX AMERICANA: A DESCONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA 
COSMOPOLITA 17 
ATIVIDADE PROPOSTA 25 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 26 
REFERÊNCIAS 29 
CHAVES DE RESPOSTA 31 
AULA 8 31 
ATIVIDADE PROPOSTA 31 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 31 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 3 
Direitos e Garantias Fundamentais – Apostila 
Aula 8: A fase metaconstitucional 
dos direitos humanos 
Introdução 
Nesta aula, serão estudados os elementos teóricos que informam a fase 
metaconstitucional dos direitos humanos, aqui vislumbrada como a fase do 
constitucionalismo da pós-modernidade que sucede os ciclos democráticos da 
modernidade, vale explicitar, o constitucionalismo garantista do Estado Liberal 
de Direito e o constitucionalismo dirigente welfarista do Estado Social de 
Direito. Para tanto, será necessário examinar sua antítese, que é o contexto 
do projeto neoliberal de Pax Americana. 
 
Objetivos 
1. Analisar os principais elementos teóricos que circunscrevem a fase 
metaconstitucional dos direitos humanos, cujo desenvolvimento será 
feito em termos comparativos com o projeto neoliberal de Pax 
Americana e sua posição geopoliticamente unipolar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 4 
Conteúdo 
Introdução temática 
O estudioso dos direitos humanos, independentemente de ser 
constitucionalista ou jusinternacionalista, deve ser capaz de captar a conexão 
entre a evolução social do Estado e as mutações ocorridas no regime jurídico 
de tutela dos direitos humanos. 
 
Sem dúvida nenhuma, esta é uma maneira simplificada de sistematizar a 
incessante marcha ético-filosófica de avanços e retrocessos que marca a 
trajetória jurídico-protetiva dos direitos humanos. Isto significa dizer que a 
efetividade ou eficácia social dos direitos humanos deve ser aferida a partir 
da proteção que cada um dos diferentes paradigmas estatais foi e é capaz de 
emprestar aos direitos do cidadão comum. 
 
Há, portanto, aqui, uma correspondência biunívoca entre o sistema jurídico 
de tutela dos direitos humanos e determinado tipo de Estado, como por 
exemplo, a proteção de direitos civis e políticos que se interliga 
umbilicalmente com o Estado liberal, da mesma forma que a garantia dos 
direitos sociais fica unida ao welfare state. 
 
Outrossim, em sede pós-moderna dos direitos humanos, pode-se, ainda, 
destacar a relação mútua entre a proteção transnacional dos direitos 
humanos e o transconstitucionalismo do Estado pós-social. 
 
Com rigor, a doutrina pátria não costuma investigar tais linhas paralelas que 
colocam, lado a lado, a trajetória ascensional do conceito de Estado (polis 
grega, Estado medieval, Estado absoluto, Estado liberal, Estado social e 
Estado pós-social) e as fases de evolução dos direitos humanos (direitos pré-
históricos, direitos naturais, direitos constitucionalizados e direitos 
transnacionalizados). 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 5 
No entanto, outro caminho não se tem senão o de trilhar a ordem sucessiva 
do regime jurídico-filosófico de proteção dos direitos humanos que existiram 
uns após os outros em consonância com a evolução histórica e social do 
Estado. 
 
Portanto, nosso desafio nesta aula é compreender o contexto do 
constitucionalismo da pós-modernidade que surge com o fim da Guerra Fria. 
Na linha do tempo, podemos denominar tal fase de metaconstitucional em 
substituição à fase anterior denominada de fase de constitucionalização dos 
direitos fundamentais. 
 
Esta fase de constitucionalização foi inaugurada com o advento da Revolução 
Francesa em 1789. É nessa ocasião que surge o constitucionalismo como 
limitação do Poder do Estado e, na sua esteira, nasce o Estado liberal de 
Direito. Agora, reconhece-se a fixação de um rol jusfundamental com 
supremacia sobre o próprio Estado, que tem o dever de respeitar os direitos 
constitucionais fundamentais do homem comum. 
 
Na fase de constitucionalização dos direitos fundamentais, nenhuma limitação 
pode ser imposta ao indivíduo pelo Estado se não houver previsão legal que a 
autorize. Assim sendo, esta fase simboliza a vitória da democracia (Estado 
Democrático de Direito) sobre o Estado de Não Direito do absolutismo 
monárquico e compreende os dois grandes ciclos democráticos da 
modernidade, a saber: 
 
1) democracia liberal de matriz antiabsolutista e de estatalidade negativa 
e mínima (iniciada a partir da Revolução Francesa de 1789 ou da 
Declaração da Virgínia de 1776); 
 
2) social democracia de cunho antiliberal e de estatalidade positiva, 
centrada na busca da igualdade material (iniciada a partir da 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 6 
Constituição de Weimar na Alemanha de 1919 ou da Constituição do 
México de 1917). 
 
Aqui é muito importante compreender que a fase metaconstitucional dos 
direitos humanos cosmopolitas surge em substituição à fase de 
constitucionalização. Em termos simples, parece razoável afirmar que a fase 
de constitucionalização dos direitos fundamentais vivenciou dois grandes 
ciclos democráticos, a saber: o Estado liberal de Direito e o Estado social de 
Direito. Tais ciclos democráticos perfazem a modernidade dos direitos 
fundamentais. 
 
Será o fim da Guerra Fria e, na sua esteira, a globalização da economia que 
marcará o nascimento do constitucionalismo da pós-modernidade aqui 
caracterizado como a busca da constitucionalização transnacional dos direitos 
humanos, ou seja, trata-se de um projeto epistemológico de direito 
cosmopolítico que substitui os projetos do liberalismo e do socialismo. 
 
Esta fase ainda se encontra em construção, sendo certo afirmar, entretanto, 
que representa o atual estado da arte na proteção dos direitos humanos, na 
medida em que projeta a ideia-força de um Estado de Direito Universal de 
inspiração kantiana, que não se submete às vontades nacionais soberanas. O 
indivíduo ganha proteção supranacional contra as violações do seu próprio 
Estado nacional. 
 
Assim sendo, a atual fase de constitucionalização transnacional aspira 
consolidar um novo ciclo democrático, agora dito democracia pós-moderna ou 
democracia cosmopolita, cujo empuxo arquimediano é o fim da Guerra Fria e 
o consequente colapso da opção comunista. No entanto, é importante 
compreender com clareza que o projeto epistemológico metaconstitucional 
kantiano encontra grande resistência advinda do seu principal opositor, qual 
seja, o projeto epistemológico neoliberal da Pax Americana. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 7 
Certamente, refutamos a perspectiva neoliberal, notadamente pelo retrocesso 
que representa em termos de proteção dos direitos sociais, daí nossa 
preferência pelo projeto cosmopolita de constitucionalização transnacional dos 
direitos humanos. No dizer de Vicente Barretto: 
 
(...) a proposta central da Pax Americana, que se expressa do 
ponto de vista econômico e social pelo Consenso de Washington, 
onde o “capitalismo democrático” torna-se o sistema ideal a ser 
instrumentalizado através do livre mercado global, como seu 
mecanismo, é contraditória, pois pretende transferir para o âmbito 
universal uma forma nacional.1 
 
Busca-se, aqui, nesta última fase, a construção de uma ordem internacional 
democrática cosmopolita. É por isso que vamos, em seguida, examinar os 
principais desafios que se colocam para tal perspectiva, notadamente a 
implantação do Estado neoliberal de Direito, da globalizaçãoda economia e 
mais especificamente na nossa região geopolítica o Consenso de Washington. 
 
É por tudo isso que vamos nesse primeiro momento examinar o contexto 
jurídico-político que se instaura nos países de modernidade tardia com o fim 
da Guerra Fria. 
 
O fim da guerra fria e seus impactos na formação do 
constitucionalismo da pós-modernidade 
O grande objetivo desta segmentação temática é investigar o contexto 
jurídico-político que se instaura com o fim da Guerra Fria. 
 
Nesse sentido, a questão fundamental que surge é saber se, com o colapso 
do império soviético, estamos vivendo um novo modelo de Estado, agora dito 
 
1
 BARRETTO, Vicente de Paulo. O fetiche dos direitos humanos e outros temas. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2010. p. 223. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 8 
pós-moderno e pós-social, algo compreendido entre o liberalismo burguês e o 
welfarismo dirigista. 
 
Ou melhor, se o fim da bipolaridade geopolítica e o triunfo do capitalismo 
sobre o socialismo real teriam criado as condições reais para a formação de 
um novo paradigma constitucional-democrático, agora dito cosmopolita de 
inspiração kantiana? 
 
Destarte, é nesse contexto de globalização, pós-modernidade e desprestígio 
do Estado social que se concentrarão nossas principais perscrutações 
acadêmicas acerca do atual estado da arte do regime jurídico de proteção dos 
direitos humanos. 
 
Como justificar, nessas condições pós-modernas, a universalidade dos direitos 
humanos, direitos estes que nascem da inspiração iluminista e cuja evolução 
ocorre dentro de um movimento pendular desequilibrado dos ciclos 
democráticos da modernidade? 
 
Como defender a ideia de "democracia cosmopolita” como fundamento do 
sistema universal dos direitos humanos se a única superpotência 
remanescente pós-Guerra Fria fere de morte as normas cogentes do direito 
internacional público na invasão do Iraque? 
 
Como insistir na afirmação kantiana de que "os povos da terra participam em 
vários graus de uma comunidade universal, que se desenvolveu a ponto de 
que a violação do direito, cometida em um lugar do mundo, repercute em 
todos os demais", 2 quando se constata o uso geopolítico dos direitos 
humanos pelas nações hegemônicas em prol dos seus próprios interesses 
nacionais? Enfim, são perguntas tais que nortearão nossa análise científica na 
sequência dos nossos estudos. 
 
2
 BARRETTO, Vicente de Paulo. O fetiche dos direitos humanos e outros temas. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2010. p. 233. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 9 
 
Vale, portanto, começar com a questão da efetividade dos direitos sociais a 
partir do novo cenário mundial pós-Guerra Fria e da ascensão da ordem 
política neoliberal, que impactam diretamente as ordens constitucionais dos 
países de modernidade tardia. 
 
Com efeito, o fim da Guerra Fria gestou a expansão da doxa neoliberal e a 
aceleração do processo de globalização da economia, edificadas sob a égide 
da predominância geopolítica dos Estados Unidos da América, única 
superpotência global remanescente. Tal perspectiva é denominada Pax 
Americana, que Vicente de Paulo Barreto 3 associa com precisão ao termo 
“globalização”: 
 
O termo "globalização" foi, também, associado a um projeto sócio-
político, a Pax Americana, que após a queda do Muro de Berlim, foi 
considerado como hegemônico. O projeto, tanto para alguns 
teóricos, como na prática das relações financeiras, passou a ser 
considerado como qualitativamente superior aos demais modelos 
de regimes políticos, econômicos e sociais, encontrados nas 
diferentes nações do planeta. Desde as suas origens, a 
identificação da globalização com uma experiência nacional trouxe 
consigo distorções na avaliação crítica do fenômeno. 
 
E assim é que a expressão "processo de globalização" ou "mundialização", 
como preferem os franceses, denota o fenômeno maior que se desdobra em 
diferentes epifenômenos (sociais, políticos, econômicos, militares, 
tecnológicos e culturais), que por sua vez se entrecruzam na concepção de 
Pax Americana. 
 
Portanto, o significado epistemológico de Pax Americana abarca um plexo de 
outros conceitos, tais como a universalização dos valores norte-americanos, 
ideologia política neoliberal, vitória do capitalismo financeiro, neutralização 
 
3
 Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 215-216. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 10 
axiológica da Constituição-Dirigente, abertura mundial do comércio, retomada 
da primazia da autonomia privada, não intervencionismo estatal, relativização 
da soberania estatal, desterritorialização, engrandecimento do direito 
internacional hegemônico, etc. 
 
De todos esses fenômenos, destaca-se, induvidosamente, a vertente 
econômico-financeira, como, aliás, muito bem salientam Lenio Streck e Bolzan 
de Morais 4 ao evidenciarem que a ideia de privatização é o “carro chefe das 
políticas neoliberais, objetiva a redução do déficit fiscal, aplicando para tal o 
receituário do Consenso de Washington. Os cortes incidem sobre gastos 
sociais, seguidos de compulsiva venda de patrimônio público a preços 
desvalorizados”. Já Vicente de Paulo Barretto, 5 ensina que “a globalização 
surge, antes de tudo, no âmbito do capitalismo financeiro para então 
repercutir e ganhar cores próprias nas relações intersubjetivas, intergrupais e 
interestatais na contemporaneidade”. 
 
De tudo se vê, por conseguinte, que o fim da Guerra Fria gerou um sistema 
internacional hipercomplexo, no qual se destaca a tentativa neoliberal de 
desconstrução do Estado nacional. É nesta esteira de complexidade que a 
dinâmica do constitucionalismo hodierno também se acelera, especialmente a 
partir da crise do welfare state e do surgimento de um novo ciclo estatal, 
ainda em construção e que a doutrina vem denominando de Estado pós-social 
ou Estado pós-moderno. O professor Guilherme Sandoval Góes 6 destaca o 
caráter ainda indefinido deste novo paradigma jurídico-constitucional que 
circunscreve o estado pós-social, também dito pós-bipolar, pós-moderno, 
cenário pós-tudo. Nas palavras do autor: 
 
Na esteira desta complexidade, descortina-se a pós-
modernidade, cuja dinâmica se abriga, como bem capturou a 
 
4
 STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política & teoria do estado. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 153. 
5
 Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 215. 
6
 GÓES, Guilherme Sandoval. Geopolítica e pós-modernidade. In: Revista da Escola Superior de 
Guerra, v.23, n. 48, p. 95, ago/dez. 2007. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 11 
maestria reflexiva do Professor Barroso, no desprestígio do Estado 
nacional dentro de um cenário pós-tudo, que em pouco mais de 
uma década já vivenciou dois grandes momentos de ruptura 
paradigmática: a queda do muro de Berlim (1989) e a queda das 
torres gêmeas (2001). Tais eventos têm desdobramentos 
jusgeopolíticos relevantes, na medida em que trazem no seu 
âmago a crise do Estado Social, a revivificação magnificada da 
ordem política liberal, e, especialmente, os riscos de neutralização 
ética da Constituição e da proteção constitucional dos 
hipossuficientes (camadas menos favorecidas do tecido social 
pátrio). 
 
Parece inexorável, portanto, a relevância do exame do atual estádio de 
proteção jurídica dos direitos humanos, herdeiro de um quadro de lutas e 
conquistas, cuja trajetória é longa e tortuosa e transita desde a pré-história 
dos direitos humanos, perpassando-se pela fase de afirmação dos direitos 
naturais até, finalmente, alcançar os tempos pós-modernos, uma nova era 
ainda indefinida entre dois grandes caminhos que coloca, de um lado, a Pax 
Americana, pautada na retomadada cidadania liberal burguesa de inspiração 
lockeana e, do outro, o metaconstitucionalismo, calcado na cidadania 
cosmopolita de inspiração kantiana. 
 
No plano teórico, o projeto epistemológico do metaconstitucionalismo 
fomenta a prática de um constitucionalismo democrático cosmopolita, no qual 
a fonte primária das normas jurídicas não vem do estado soberano nacional, 
mas, sim, da natureza do próprio elemento humano, cuja legitimidade é 
extraída da comunidade internacional como um todo e não do 
reconhecimento de um poder estatal soberano. 
 
De certa maneira, examinar o atual estado da arte da proteção internacional 
dos direitos humanos é comparar estes dois grandes paradigmas 
autoexcludentes, quais sejam, de um lado, a Pax Americana neoliberal e seu 
projeto geopolítico unipolar dos EUA, e, do outro, o projeto epistemológico 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 12 
metaconstitucional e seu projeto geopolítico de multipolaridade de escopo 
global. 
 
Trata-se, em essência, de um estudo voltado para a verificação das 
tendências de evolução dos direitos humanos e sua fundamentação ética em 
termos universais. É preciso desvelar a ética que circunscreve a evolução dos 
direitos humanos, seja na perspectiva da Pax Americana, seja na perspectiva 
do modelo metaconstitucional. 
 
Com efeito, não há outro caminho a trilhar senão o de traçar o panorama 
jurídico-constitucional que sucede os ciclos democráticos da modernidade, a 
saber: o ciclo da democracia liberal e o ciclo da social democracia. Tais ciclos 
democráticos compõem o que a melhor doutrina denomina de fase de 
constitucionalização dos direitos fundamentais. Com efeito, devemos a Klaus 
Stern a classificação da evolução dos direitos humanos em três fases 
distintas: pré-história dos direitos humanos, fase de afirmação dos direitos 
naturais e fase de constitucionalização. 
 
Aqui é importante destacar que nossa análise será feita sob a ótica do 
constitucionalismo dos países da periferia do sistema mundial, de modo a 
compreender as interferências jurídico-constitucionais advindas do projeto 
neoliberal implantado após a queda do Muro de Berlim, cujo foco passou a 
ser a abertura mundial do comércio. Nesse sentido, Paulo Bonavides,7 com a 
precisão acadêmica que lhe é peculiar, salienta que: 
 
O fato novo e surpreendente do modelo de globalização em curso 
é que ele não opera nas relações internacionais com valores e 
princípios; sua ideologia, aparentemente, é não ter ideologia, 
posto que esteja a mesma subjacente, oculta e invisível no 
monstruoso fenômeno de poder e subjugação, que é a maneira 
como a sociedade fechada e incógnita das minorias privilegiadas, 
 
7
 BONAVIDES, Paulo. Do país constitucional ao país neocolonial. A derrubada da constituição e a 
recolonização pelo golpe de estado institucional. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 6-7. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 13 
dos concentradores de capitais, faz a guerra de escravização, 
conquistando mercados, sem disparar um só tiro de canhão e sem 
espargir uma única gota de sangue. 
 
Desferem, simplesmente, a pretexto de reformar, modernizar e 
globalizar a economia, os sinistros golpes de Estado institucionais, 
tendo para tanto por instrumentos e executores os governos 
títeres da “ditadura constitucional” de que ora estamos sendo 
vítimas neste País. 
 
Enfim, examinar a matriz de impactos cruzados que envolve o projeto 
geopolítico unipolar neoliberal dos EUA e a efetividade dos direitos humanos 
sociais é uma das inquietações que nutre a presente aula. 
 
É preciso compreender que o advento da globalização traz no seu bojo a 
ideologia neoliberal e a ideia de pensamento único (fim da História de Francis 
Fukuyama), 8 fazendo ecoar voz uníssona que se espraia sobre a elite 
dominante da periferia do sistema mundial, facilmente seduzida pelo canto 
neoliberal do Consenso de Washington, “onde o capitalismo democrático 
torna-se o sistema ideal a ser instrumentalizado através do livre mercado 
global, como seu mecanismo” (Vicente Barretto).9 
 
É melancólico constatar que a camuflagem da ordem política neoliberal 
revelou-se eficiente na imposição da força normativa do mercado e seu 
consectário mais insensível, qual seja, a tentativa de neutralizar 
axiologicamente a Constituição, retirando-lhe a força normativa tão 
arduamente conquistada. 
 
A justificativa se acentua quando se constata a crise do Estado do Bem-Estar 
Social a partir do colapso da União Soviética. Com efeito, o fim da Guerra Fria 
gestou uma nova ordem constitucional calcada no laissez-faire absoluto em 
 
8
 FUKUYAMA, Francis. O fim da história. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998. 
9
 Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 223. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 14 
detrimento de uma democracia welfarista, como bem destaca a lição de 
Lindgren Alves, 10 in verbis: 
 
Com o fim da bipolaridade estratégica e da competição ideológica 
entre liberalismo capitalista e o comunismo, a ideologia que se impôs 
em escala planetária não foi, a da democracia baseada no welfare 
state, (...) Foi a do laissez-faire absoluto, com a alegação de que a 
liberdade de mercado levaria à liberdade política e à democracia. 
Eticamente justificou-se (...) mas a própria noção de Estado-
providência tornou-se condenada como inepta à competitividade, 
num momento em que o desemprego era aceito como fatalidade 
estrutural. 
 
É neste contexto jurídico-constitucional que se julga fundamental trazer de 
volta os direitos sociais fundamentais de segunda dimensão para a 
centralidade do constitucionalismo pós-moderno. Nas palavras de José 
Joaquim Gomes Canotilho:11 “Os direitos econômicos, sociais e culturais, na 
qualidade de direitos fundamentais, devem regressar ao espaço jurídico-
constitucional e ser considerados como elementos constitucionais essenciais 
de uma comunidade jurídica bem ordenada”. 
 
Com rigor, o que se quer demonstrar é que a queda do muro de Berlim é o 
grande momento de ruptura paradigmática em termos de efetividade dos 
direitos sociais, na medida em que o novo eixo epistemológico do mundo pós-
Guerra Fria se desloca para o arquétipo neoliberal, que somente se ocupa da 
primeira dimensão de direitos (direitos civis e políticos). Em termos simples, 
isto significaria dizer que o Estado pós-moderno não reconheceria os direitos 
sociais como direitos subjetivos. Patrícia Glioche ensina com precisão que: 
 
O fundamento dos direitos humanos também pode ser aquele que 
define os direitos humanos como direitos públicos subjetivos – de 
 
10
 ALVES, J.A. Lindgren. A declaração dos direitos humanos na pós-modernidade. Rio de Janeiro. 
Disponível em: <http:/www.no.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2004. 
11
 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estudos sobre direitos fundamentais. Coimbra: Coimbra 
Editora, 2004. p. 98. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 15 
origem alemã – e significa que as pessoas podem reivindicar 
juridicamente as pretensões relativas aos direitos humanos perante 
o poder público.12 
 
De observar-se, portanto, com a devida acuidade científica, que paira sobre o 
constitucionalismo pós-moderno o fantasma da era da 
descodificação/desregulamentação, imposta pela nova ordem política 
neoliberal. Inverte-se o sinal da engenharia constitucional no mundo 
periférico a partir de interesses geoestratégicos dos centros mundiais de 
poder, notadamente dos Estados Unidos da América. 
 
Ou seja, o parlamento do Estado periférico já não é mais a única fonte de 
poder, na medida em que se transforma em mero reprodutor de normas 
jurídicas concebidas fora do âmbito soberano do Estado; nas palavras de 
Bobbio, em mera câmara de ressonância de decisões políticas tomadasfora 
do parlamento.13 
 
A questão é complexa, mas não pode deixar de ser enfrentada pelos juristas 
do século XXI. Com efeito, o fim da bipolaridade geopolítica gestou um novo 
estádio epistemológico, cuja compreensão perpassa necessariamente pela 
interconexão entre a ideologia neoliberal e o constitucionalismo da pós-
modernidade. A ideia-força de um só mundo, uma só ideologia, uma só 
superpotência remanescente (implantação da Pax Americana) não resiste aos 
anseios do constitucionalismo global de inspiração kantiana. 
 
Há que se reconhecer que o contexto internacional pós-moderno é favorável 
à cooperação internacional. Não se refuta o amplo campo de reflexões a 
fazer, no entanto, é possível diagnosticar a possibilidade de implementação 
 
12
 GLIOCHE BÉZE, Patrícia Mothé. Os tratados internacionais de direitos humanos no direito 
brasileiro. In: Direito penal internacional. Estrangeiro e comparado. Coordenador Carlos 
Eduardo Adriano Japiassú. Rio de Janeiro: lúmen Júris, 2007. p. 156. 
13
 Para Bobbio, o parlamento, na sociedade industrial avançada, não é mais o centro do 
poder real, mas apenas, frequentemente, uma câmara de ressonância de decisões tomadas 
em outro lugar. Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson 
Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 159. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 16 
do metaconstitucionalismo calcado na cidadania cosmopolita. O resultado é 
inequívoco: a proteção dos direitos humanos passa da esfera das leis 
constitucionais nacionais para a esfera das normas metaconstitucionais 
cosmopolitas. 
 
É nesse lanço que desponta no horizonte o constitucionalismo global, que, na 
visão de Canotilho, é “centrado no núcleo essencial dos pactos sobre direitos 
individuais e políticos e sobre direitos econômicos, sociais e culturais. A 
paradoxia reside nisto: bondade dos direitos fora das fronteiras; maldade 
dentro das fronteiras constitucionais internas”.14 
 
Enfim, a esperança caminha no sentido de implantação de uma nova 
perspectiva para a efetividade dos direitos humanos, que supere os resquícios 
do antigo paradigma do Estado liberal de Direito, para se aproximar do assim 
chamado metaconstitucionalismo, aqui compreendido como uma nova visão 
de fundamentação ética dos direitos humanos, calcada nas normas 
metaconstitucionais cosmopolitas que transcendem o escopo da jurisdição 
constitucional de um determinado Estado soberano. 
 
Destarte, urge fazer avançar a dogmática dos direitos fundamentais, 
deslocando-a na direção da tutela supraconstitucional com o fito de garantir o 
núcleo essencial do princípio da dignidade da pessoa humana, 
independentemente de uma vontade soberana estatal específica. Na 
contemporaneidade, o metaconstitucionalismo de índole kantiana deveria 
ocupar o vértice do regime jurídico dos direitos humanos, mas, no entanto, 
tal regime vem correndo crescente risco de neutralização eficacial em virtude 
da avalanche neoliberal que se materializa dentro de um processo de 
globalização neodarwinista conduzida por um projeto hegemônico unipolar de 
poder nacional, que Vicente Barretto associa à Pax Americana. 
 
 
14
 Cf. Estudos sobre direitos fundamentais, p. 134-135. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 17 
Direitos humanos e Pax Americana: a desconstrução da 
democracia cosmopolita 
Os ataques terroristas aos símbolos do poder nacional dos Estados Unidos da 
América alteraram drasticamente a ordem jurídica internacional até então 
vigente. 
 
Com efeito, a queda das torres gêmeas é o marco de um novo tempo que 
fixou diferentes imperativos da postura externa dos EUA, imprimindo-lhes 
nova roupagem voltada para a Guerra contra o Terror. Nasce uma nova 
ordem denegadora dos direitos humanos. No dizer de Giorgio Agamben: 15 
 
O significado imediatamente biopolítico do estado de exceção como 
estrutura original em que o direito inclui em si o vivente por meio 
de sua própria suspensão aparece claramente na "military order", 
promulgada pelo presidente dos Estados Unidos no dia 13 de 
novembro de 2001, e que autoriza a "indefinite detention" e o 
processo perante as "military commissions" (não confundir com os 
tribunais militares previstos pelo direito da guerra) dos não 
cidadãos suspeitos de envolvimento em atividades terroristas. 
 
É neste contexto que surge a concepção da Doutrina Bush, que é – sem 
nenhuma dúvida – uma grande afronta ao constitucionalismo democrático 
global, porque viola as normas internacionais da Carta das Nações Unidas no 
que tange ao uso da força. Realmente, se, por um lado, a queda do muro de 
Berlim propiciou a retomada da onda neoliberal, fomentando a aceleração da 
globalização da economia, por outro, a queda das torres gêmeas estabeleceu 
o projeto hegemônico de Pax Americana, fomentando ações unilaterais 
neutralizadoras do direito internacional. Em lapidar lição, o Professor Antônio 
Celso Alves Pereira 16 ensina que: 
 
 
15
 Cf. Estado de exceção, p. 21. 
16
 ALVES PEREIRA, Antônio Celso. Direitos Humanos e terrorismo. In: Direitos Fundamentais: 
estudos em homenagem ao Professor Ricardo Lobo Torres (Orgs. Daniel Sarmento e Flávio Galdino). 
Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 130. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 18 
Consagrada como "Doutrina Bush", a nova estratégia destaca, entre 
seus pilares o contraterrorismo e a legítima defesa preventiva. For-
mulada pelo Conselho de Segurança Nacional, mais precisamente 
pela então assessora presidencial Condoleezza Rice, e anunciada de 
forma definitiva pelo presidente em discurso na Academia Militar de 
West Point, em 01/06/2002, representa uma radical mudança dos 
conceitos geoestratégicos que vigoravam no país desde a Guerra 
Fria, e se justificaria por sua finalidade, ou seja, criação de 
instrumentos legais para controle absoluto de todas as atividades 
individuais, principalmente de imigrantes, e, da mesma forma, de 
concessão ao presidente de poderes para atacar preventivamente, 
em qualquer parte do mundo, grupos terroristas ou Estados hostis 
aos norte-americanos. 
 
No plano da proteção internacional dos direitos humanos, a posição 
geopoliticamente unipolar dos EUA traz grande retrocesso – a partir da queda 
das torres gêmeas – na garantia das liberdades individuais. Trata-se da 
chamada lei patriótica, aprovada sob os influxos Guerra contra o Terror, que 
vem neutralizando os direitos fundamentais de primeira dimensão em prol da 
segurança nacional. De feito, o constitucionalismo estadunidense, no seu afã 
de proteger contra o terror, desloca para a sua centralidade a limitação dos 
direitos da personalidade. 
 
Com isso, parece inexorável afirmar que o alvorecer do terceiro milênio 
vivencia um fenômeno jurídico paradoxal, qual seja: o maior centro 
democrático do planeta veste a roupagem estatal hobbesiana para neutralizar 
os mais antigos direitos fundamentais do homem: os direitos civis e políticos 
de inspiração liberal burguesa. 
 
Sob a égide de um realismo hobbesiano-maquiavélico, os Estados Unidos 
adotam uma posição de unipolaridade geopolítica de Pax Americana 
totalmente incompatível com a multipolaridade e o metaconstitucionalismo da 
sociedade internacional pós-Guerra Fria. Portanto, o projeto de Pax 
Americana tem aspirações hegemônicas sobre o mundo globalizado, valendo 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 19 
ressaltar, com as palavras de José Luis Fiori,17 o poder global estadunidense 
que nasce com o fim da Guerra Fria, verbis: 
 
O fim da Guerra Fria transfere para os Estados Unidos uma 
centralidade militar e monetária sem precedentes na história da 
economia-mundo capitalista. Ambos os poderes seguem 
concentrados nas mãos de uma única potência que ainda responde 
pelo nome de EstadosUnidos. 
 
Eis que plenamente justificado, sob a perspectiva estadunidense, o projeto 
hegemônico unipolar, que traz no seu bojo os conceitos de ataque preventivo 
da Doutrina Bush (ataco primeiro e pergunto depois) e globalização da 
economia a partir da abertura mundial do comércio (engenharia neoliberal 
globalizante); tudo isso dentro de um quadro geopolítico mais amplo de 
implantação de uma ordem jurídica internacional unipolar, moldada 
exclusivamente pelos Estados Unidos da América. Ou melhor, como ensina 
Vicente Barretto: o termo “globalização” confunde-se com o de Pax 
Americana. 18 
 
Em essência, o contexto da Pax Americana desconstrói e nulifica as 
tendências de implantação do metaconstitucionalismo. Sem dúvida, as 
normas metaconstitucionais cosmopolitas são aquelas em função das 
quais se recorre a entidades de direito internacional público 
independentemente da jurisdição nacional. Por outras palavras, são 
normas que nos dá a faculdade de exigir do próprio Estado violador o 
cumprimento de uma obrigação decorrente de um direito da pessoa 
humana. 
 
A fase metaconstitucional dos direitos humanos pressupõe a 
superioridade normativa dos comandos cosmopolitas em relação às 
 
17
 FIORI, José Luís. O poder global e a nova geopolítica das nações. São Paulo: Boitempo, 2007. p. 
59. 
18
 Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 215. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 20 
normas constitucionais internas. Estão, assim, excluídas do conceito de 
metaconstitucionalismo a supremacia da Constituição e as imposições 
unilaterais de um determinado Estado nacional. Em síntese, o direito 
metaconstitucional cosmopolita tem eficácia para além do território do 
Estado que o sancionou. 
 
A ideia de territorialidade das leis é mitigada com o advento do 
metaconstitucionalismo, cujas formas jurídicas são variadas e 
desaguam, normalmente, na proteção internacional dos direitos 
humanos. 
 
Com tal tipo de intelecção em mente, fácil é identificar os sinais 
inequívocos de desconstrução desse contexto metaconstitucional que são 
emitidos pelo projeto neoliberal de hegemonia unipolar estadunidense, senão 
vejamos: 
 
a) Edição da já citada “Doutrina Bush”, violadora do DIP, que ataca 
primeiro e pergunta depois; 
 
b) Recusa aos novos imperativos internacionais de conservação do meio 
ambiente da Convenção de Kyoto; 
 
c) Não reconhecimento da aplicabilidade às forças militares 
estadunidenses das normas e princípios jurídicos envolvendo a 
formação do Tribunal Penal Internacional (TPI); 
 
d) O abandono da Conferência antirracismo; 
 
e) Promulgação das leis patrióticas; 
 
f) Quebra de sigilo e espionagem de pessoas, empresas e Estados feita 
em escala planetária; 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 21 
 
g) Imposição do Consenso de Washington para a periferia do sistema 
internacional em benefício das empresas multinacionais 
estadunidenses. 
 
De tudo se vê, por conseguinte, que o projeto neoliberal de Pax Americana 
nada mais faz senão enfraquecer as tendências de cooperação internacional 
dentro de uma perspectiva kantiana de democracia cosmopolita. Com efeito, 
o menosprezo que o projeto hegemônico estadunidense empresta aos demais 
Estados nacionais e, em especial, ao direito internacional público 
(enfraquecimento do papel nas Nações Unidas) em nada contribui para o 
aperfeiçoamento normativo-eficacial das normas metaconstitucionais 
cosmopolitas, ao revés, o projeto epistemológico de Pax Americana mantém 
as normas internacionais como fórmulas jurídicas vazias desprovidas de força 
normativa. 
 
É a dimensão maquiavélico-hobbesiana da Pax Americana que neutraliza a 
aplicação axiológica das normas metaconstitucionais cosmopolitas, e, na sua 
esteira, enfraquece a efetividade dos direitos humanos na esfera 
internacional. Nesse sentido, a normatividade internacional não consegue 
superar a lógica realista da geopolítica de poder do projeto hegemônico 
unipolar dos Estados Unidos da América. 19 
 
Destarte, as normas metaconstitucionais cosmopolitas não encontram 
ressonância no projeto epistemológico da Pax Americana, na medida em que 
não há valorização da normatividade internacional em relação às leis 
constitucionais internas, símbolos da vontade soberana dos Estados 
nacionais. Como amplamente visto, o modelo estadunidense é realista e 
 
19
 Ora, o melhor exemplo disso foi a invasão do Iraque, na qual os Estados Unidos feriram de morte a 
lei internacional que regula o uso da força a partir de autorização do Conselho de Segurança das 
Nações Unidas. Assim, é certo afirmar que a ideia de Pax Americana torna desnutrido o processo de 
evolução dos direitos humanos em sede internacional, vez que a efetividade de tais direitos deixa de 
contar com o jogo concertado de princípios morais internacionais, que são – hoje em dia – os principais 
instrumentos hermenêuticos de concretização de direitos. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 22 
caminha na direção da neutralização axiológica do metaconstitucionalismo, 
vale dizer a Pax Americana é um modelo político-institucional que visa 
atender aos interesses hegemônicos de uma única superpotência, não se 
coadunando, portanto, com o metaconstitucionalismo, que se atrela à 
geração de normas não dimanadas dos Estados soberanos. 20 
 
Infelizmente, a doutrina pátria ainda não despertou para a temática do 
projeto unipolar da Pax Americana e permanece alheia aos elementos teóricos 
que informam tal perspectiva e seus reflexos no campo jurídico-
constitucional. Além de Vicente Barretto, um dos poucos autores que 
enfrentou o tema foi Daniel Sarmento, e, mesmo assim, de forma 
perfunctória, valendo, pois, reproduzir seu magistério, in verbis: 
 
O colapso do comunismo, simbolizado pela queda do muro de 
Berlim, eliminou uma das ideologias rivais que se defrontavam e 
disputavam espaço num mundo até então bipolar. Com o fracasso 
retumbante da experiência marxista-leninista e o advento da Pax 
Americana, o capitalismo ficou mais à vontade para impor, agora 
sem concessões, o seu modelo econômico e social, que constituiria, 
segundo alguns, o “fim da história”. Como se o fiasco do socialismo 
pudesse ofuscar os problemas crônicos do capitalismo, em especial 
a sua tendência para promover a desigualdade e aprofundar a 
exclusão social.21 
 
Com a devida vênia, não concordamos com a visão do eminente jurista, na 
medida em que associa o conceito de Pax Americana ao fim da história de 
Francis Fukuyama 22 e, portanto, com a ideia de triunfo do capitalismo e 
fiasco do socialismo. 
 
 
20
 Nesse sentido, precisa a lição de Vicente de Paulo Barretto, in verbis: “O projeto epistemológico do 
metaconstitucionalismo privilegia, como fonte teórica e prática da ordem constitucional da democracia 
cosmopolita, normas que não são geradas pelo estado soberano nacional e nem são válidas por causa 
do reconhecimento estatal. Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 227. 
21
 SARMENTO, Daniel. Os direitos fundamentais nos paradigmas liberal, social e pós-social-(pós-
modernidade constitucional?). In: FERRAZ Jr., Tércio Sampaio (Coord.). Crises e desafios da 
Constituição brasileira. Rio de Janeiro, 2002. p. 399. 
22
 FUKUYAMA, Francis. O fim da história. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 23 
Preferimos a intelecção de Vicente Barretto 23 que associa a Pax Americana a 
um projeto muito mais amplo e superior aos demais modelos de regimes 
políticos, econômicos, e sociais, encontrados nas diferentes nações do 
planeta. Para Vicente de Paulo Barretto, “desde as suas origens, a 
identificação da globalização com uma experiência nacional trouxe consigo 
distorções na avaliação crítica do fenômeno”.O argumento adiantado pelos 
teóricos da globalização neoliberal consistia em proclamar as qualidades 
intrínsecas do projeto político e econômico norte-americano, pois ele, e 
somente ele, representaria a etapa mais avançada da democracia liberal. 24 
 
Na verdade, como bem destaca Guilherme Sandoval, 25 por ser a única 
superpotência ainda remanescente, acredita-se que estamos vivendo sob os 
auspícios dessa Pax Americana. No entanto, acreditamos que tal tipo de 
intelecção é errôneo, na medida em que os EUA não têm capital geopolítico 
suficiente para impor um cenário internacional unipolar, vale dizer, um quadro 
mundial onde não haja reação política, econômica, militar, cultural e 
tecnológica por parte das demais nações do mundo. 
 
Esta visão mais ampla bem revela que o problema central na construção da 
democracia cosmopolita reside no modelo político-institucional a ser 
estabelecido pelo Estado pós-moderno, sucessor dos ciclos democráticos da 
modernidade (Estado liberal de Direito e Estado social de Direito). É nesse 
sentido que a reflexão metaconstitucional propõe como solução a instauração 
do Estado universal de Direito, um paradigma estatal no qual a supremacia 
das normas metaconstitucionais cosmopolitas garantiriam a realização da 
dignidade da pessoa humana em escala planetária. 
 
 
23
 Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 215 e 216. 
24
 Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 215 e 216. 
25
 Portanto, é importante compreender que a concepção de Pax Americana é um conceito geopolítico, 
cujo significado é a imposição de um cenário internacional unipolar com predominância cêntrica norte-
americana em todos os campos do poder nacional (político, econômico, militar, cultural e tecnológico) 
Cf. Geopolítica e pós-modernidade, p. 111. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 24 
É uma nova perspectiva que se perfaz a partir da ruptura da teoria 
constitucional clássica, calcada na supremacia de normas constitucionais 
criadas por um poder constituinte originário soberano dentro dos limites 
territoriais do Estado nacional. Portanto, é a superação histórica do 
constitucionalismo clássico que abre caminho para o metaconstitucionalismo e 
para a democracia cosmopolita. 
 
Neste sentido, existe, indubitavelmente, um campo amplo de reflexões a 
fazer, no entanto, já é possível diagnosticar a dimensão humana da sociedade 
internacional cosmopolita, cujo centro de gravidade gira em torno de dois 
grandes níveis: nível local e nível global. Eis aqui, por conseguinte, um 
primeiro desdobramento sistêmico do metaconstitucionalismo e da 
democracia cosmopolita. 
 
Assim sendo, é preciso avançar nessa investigação teórica acerca dos 
fundamentos do metaconstitucionalismo e seu epicentro jurídico-normativo, 
qual seja: o reconhecimento do regime transnacional de proteção dos direitos 
humanos no seu sentido mais amplo como matéria-prima para a teoria 
constitucional. 
 
O principal desafio teórico do metaconstitucionalismo reside, portanto, 
em substituir os modelos constitucionais da modernidade (garantismo 
constitucional e dirigismo constitucional), colocando em seu lugar uma 
nova engenharia constitucional que tivesse a capacidade de garantir a 
cidadania cosmopolita. 
 
É tempo de concluir, ressaltando a relevância da compreensão da perspectiva 
cosmopolita na teoria constitucional contemporânea. Não há mais espaço 
para intelecções ingênuas no campo político-constitucional. O estudioso dos 
direitos humanos tem a tarefa de desvelar os princípios fundantes do 
metaconstitucionalismo, notadamente aqueles focados na proteção da 
dignidade da pessoa humana e do estado democrático de direito. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 25 
 
Afastando o projeto hegemônico de Pax Americana, aqui vislumbrado como 
verdadeira antítese do metaconstitucionalismo e da democracia cosmopolita, 
o novo paradigma deve buscar a implantação do Estado Universal de Direito. 
Atividade proposta 
Leia o trecho abaixo, de autoria de Patrícia Glioche: 
 
“Os direitos humanos devem ser vistos como o produto das lutas sociais e 
dependeram sempre de fatores históricos e sociais que refletem os valores e 
aspirações de cada sociedade. Os direitos humanos têm, assim, um caráter 
fluido e dinâmico que corresponde às relações de poder e às ideias 
prevalentes no seio da sociedade em que eles adquirem vigência, mas uma 
vez reconhecidos como tais sua condição se torna irreversível. (...) Os últimos 
acontecimentos internacionais, como o atentado terrorista de 11 de setembro 
de 2001, vêm fazendo com que haja uma alteração no desenvolvimento e 
reconhecimento dos direitos humanos, na medida em que os Estados Unidos, 
hoje potência hegemônica, vêm se recusando a se submeter às normas 
internacionais de proteção aos direitos humanos, e "o que predomina hoje, 
em lugar da solidariedade internacional contra a guerra e a miséria, 
convocada pelo presidente norte-americano, é a subordinação da huma-
nidade aos interesses exclusivos das grandes potências.” 
 
A partir da leitura do texto, responda: O projeto neoliberal de Pax Americana 
tende a fortalecer, com espeque na globalização da economia, a fase 
metaconstitucional dos direitos humanos? 
 
 
 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 26 
Exercícios de fixação 
Questão 1 
Leia o trecho abaixo, de autoria de Luís Roberto Barroso: 
 
“Entre a luz e a sombra, descortina-se a pós-modernidade. O rótulo genérico 
abriga a mistura de estilos, a descrença no poder absoluto da razão, o 
desprestígio do Estado. Vive-se a angústia do que não pôde ser e a 
perplexidade de um tempo sem verdades seguras. Uma época aparentemente 
pós-tudo: pós-marxista, pós-kelseniana, pós-freudiana. O Estado passou a ser 
o guardião do lucro e da competitividade. E a triste constatação é a de que o 
Brasil chega ao neoliberalismo sem ter conseguido ser liberal nem moderno.” 
 
A partir do espírito do texto acima transcrito, assinale a resposta CORRETA: 
a) ( ) A ideia de que o Estado é o guardião do lucro e da competitividade 
é compatível com o paradigma do welfare state; 
b) ( ) O desprestígio do Estado é característica do modelo do bem-estar 
social; 
c) ( ) O novo ciclo estatal da pós-modernidade tem por característica a 
busca da democracia direta participativa; 
d) ( ) A concepção de Estado guardião do lucro e da competitividade é o 
eixo do Estado neoliberal de Direito, que defende a não intervenção do 
Estado no domínio das relações jurídicas privadas. 
 
Questão 2 
A ideologia que se implanta com o fim da bipolaridade geopolítica da Guerra 
Fria é a concepção do neoliberalismo, cujo núcleo central enquanto 
paradigma da estatalidade pós-moderna pode ser caracterizado pela: 
 
a) ( ) Promoção dos direitos sociais e pela proteção dos hipossuficientes. 
b) ( ) Garantia do exercício incondicional da livre iniciativa. 
c) ( ) Valorização axiológica da Constituição e de sua força normativa. 
d) ( ) Promoção do constitucionalismo dirigente. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 27 
Questão 3 
Leia as assertivas a seguir reproduzidas e assinale a alternativa que contém 
aquelas características que pertencem ao metaconstitucionalismo de 
inspiração kantiana: 
 
I. Retomada do Estado legislativo de Direito. 
II. Neutralização axiológica da Constituição e dos direitos sociais. 
III. Supremacia das normas internacionais sobre os ordenamentos 
constitucionais internos. 
IV. Projeto epistemológico neoliberal de Pax Americana. 
V. Estado Universal de Direito. 
 
Somente é correto o que se afirma em: 
a) ( ) I , III e V; 
b) ( ) III e V; 
c) ( ) II,III e IV; 
d) ( ) I e IV; 
e) ( ) II, IV e V. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 28 
Questão 4 
Analise as assertivas abaixo e assinale aresposta CORRETA: 
 
I. O significado epistemológico de Pax Americana abarca um plexo de 
outros conceitos, tais como a universalização dos valores norte-
americanos, ideologia política welfarista, vitória do intervencionismo 
keynesiano, neutralização axiológica da Constituição-Garantia, abertura 
mun 
II. dial do comércio, retomada da primazia da dignidade da pessoa 
humana e da justiça social, não intervencionismo estatal, revalorização 
dos direitos sociais, desterritorialização, engrandecimento do direito 
metaconstitucional cosmopolita etc. 
III. As normas metaconstitucionais cosmopolitas encontram grande 
ressonância no projeto epistemológico da Pax Americana, na medida 
em que há valorização da normatividade internacional em relação às 
leis constitucionais internas, símbolos da formação do Estado Universal 
de Direito. 
a) ( ) As duas assertivas são falsas; 
b) ( ) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; 
c) ( ) Ambas as assertivas são verdadeiras; 
d) ( ) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. 
 
Questão 5 
Assinale o evento histórico que gera um reordenamento mundial 
unimultipolar e na sua esteira grandes transformações do Estado 
contemporâneo, notadamente no que tange ao enfraquecimento das 
liberdades individuais em detrimento da segurança nacional: 
 
a) ( ) Os atentados terroristas de 11 de Setembro. 
b) ( ) O fim do apartheid na África do Sul. 
c) ( ) Os acordos de paz entre israelenses e palestinos. 
d) ( ) O protocolo de Kyoto 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 29 
Referências 
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Fundamentais: estudos em homenagem ao Professor Ricardo Lobo Torres 
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modernidade. Rio de Janeiro. Disponível em: <http:/www.no.com.br>. 
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Hutchinson Schild Silva. São Paulo: Landy Livraria Editora e Distribuidora, 
2001. 
ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos 
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derrubada da constituição e a recolonização pelo golpe de estado 
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Escola Superior de Guerra, v.23, n. 48, ago/dez 2007. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 30 
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humanos no direito brasileiro. In: Direito penal internacional. 
Estrangeiro e comparado. Coordenador Carlos Eduardo Adriano Japiassú. 
Rio de Janeiro: lúmen Júris, 2007. 
HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República 
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pós-social (pós-modernidade constitucional?). In: FERRAZ Jr., Tércio Sampaio 
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STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política & teoria 
do Estado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 31 
Chaves de Resposta 
Aula 8 
Atividade proposta 
Chave de resposta: A resposta é negativa, porque o texto entremostra um 
longo caminho a percorrer até atingir o patamar almejado pelo direito 
cosmopolítico. A temática dos direitos humanos circunscreve, sem nenhuma 
dúvida, uma complexa matriz de impactos cruzados que rege as relações 
internacionais entre centro e periferia do sistema mundial; uma relação de 
poder e influência que penetra no núcleo essencial dos princípios da 
soberania estatal, da autodeterminação dos povos, da não interferência e, 
principalmente, nos valores morais que alicerçam a vida democrática. Com 
rigor, a Pax Americana é a negação do pensamento kantiano, senão vejamos: 
a violação do direito, cometida em um lugar do mundo estrategicamente 
aliado aos EUA, não repercutirá em todos os demais. Já a violação do direito, 
cometida em um lugar do mundo que resiste aos EUA, repercutirá em todos 
os demais. 
 
E mais: na Guerra Antiterror, legitima-se a redução das liberdades individuais 
como meio para a obtenção de segurança nacional; justifica-se a substituição 
das garantias democráticas por leis patrióticas capazes de levar ao estado de 
não liberdade. Um "Estado de Exceção" permanente. 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1: D 
Justificativa: A assertiva D é a correta, porque a fusão maligna envolvendo a 
desconstrução do Estado social e os riscos de neutralização axiológica da 
Constituição são características da ordem constitucional neoliberal, cujo 
objetivo é retroceder aos tempos inaugurais do constitucionalismo liberal, 
deixando a autonomia privada livre da intervenção estatal. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 32 
Questão 2: B 
Justificativa: A alternativa B é a correta, porque como bem afirma Lindgren 
Alves, a ideologia que se implanta com o fim da bipolaridade geopolítica da 
Guerra Fria não foi a do welfare state, mas, sim, neoliberalismo, cujo núcleo 
central é o retorno ao estado constitucional pré-weimariano, cuja 
característica mais marcante é a garantia do exercício incondicional da livre 
iniciativa, um dos motores do processo de globalização da economia. 
 
Questão 3: B 
Justificativa: A alternativa B é a correta, porque as seguintes características 
não pertencem ao metaconstitucionalismo de inspiração kantiana: retomada 
do Estado legislativo de Direito, neutralização axiológica da Constituição e dos 
direitos sociais e projeto epistemológico neoliberal de Pax Americana. 
 
Questão 4: C 
Justificativa: As duas assertivas estão erradas. Com efeito, o significado 
epistemológico de Pax Americana não abarca os seguintes fatores: a ideologia 
política welfarista, a vitória do intervencionismo keynesiano, a neutralização 
axiológica da Constituição-Garantia, a retomada da primazia da dignidade da 
pessoa humana e da justiça social, a revalorização dos direitos sociais e o 
engrandecimento do direito metaconstitucional cosmopolita. Os demais 
fatores estão corretos. 
 
Já com relação à segunda assertiva, as normas metaconstitucionais 
cosmopolitas não encontram ressonância no projeto epistemológico da Pax 
Americana, na medida em que não há valorização da normatividade 
internacional em relação às leis constitucionais internas, símbolos da vontade 
soberana dos Estados nacionais. 
 
Questão 5: A 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 8 33 
Justificativa: A assertiva A é a correta, porque o primeiro grande passo 
hermenêutico do intérprete dentro de um processo de ponderação de valores 
deve ser a ponderação harmonizante e o princípio da concordância prática.

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