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1 PM-PR Soldado de 2ª Classe 1. População e estruturação socioespacial em múltiplas escalas (Paraná, Brasil, Mundo). 1.1. Teorias e conceitos básicos em demografia e políticas demográficas. 1.2. Estrutura demográfica, distribuição da população e novos arranjos familiares. Movimentos, redes de migração e impactos econômicos, culturais e sociais dos deslocamentos populacionais. População, meio ambiente e riscos ambientais ........................................................................ 1 1.3. Transformação das relações de trabalho e economia informal. 1.4. Diversidade étnica e cultural da população. 1.5. Geografias das diferenças: questões de gênero, sexualidade e étnico-raciais. 1.6. Espacialidades e identidades territoriais ................................................... 27 2. Estrutura produtiva, economia e regionalização do espaço em múltiplas escalas (Paraná, Brasil, Mundo). 2.1. O espaço geográfico na formação econômica capitalista. 2.2. Exploração e uso de recursos naturais. 2.3. Estrutura e dinâmica agrárias. 2.4. Industrialização, complexos industriais, concentração e desconcentração das atividades industriais. 2.5. Espacialidade do setor terciário: comércio, sistema financeiro. 2.6. Redes de transporte, energia e telecomunicações. 2.7. Processos de urbanização, produção, planejamento e estruturação do espaço urbano e metropolitano. 2.8. As relações rurais-urbanas, novas ruralidades e problemáticas socioambientais no campo e na cidade. 2.9. Evolução da estrutura fundiária, estrangeirização de terras, reforma agrária e movimentos sociais no campo. 2.10. Agronegócio: dinâmica produtiva, econômica e regional .............................................................................. 54 2.11. Povos e comunidades tradicionais e conflitos por terra e território no Brasil. 2.12. Produção e comercialização de alimentos, segurança, soberania alimentar e agroecologia. 3. Formação, estrutura e organização política do Brasil e do mundo contemporâneo. 3.1. Produção histórica e contemporânea do território no Brasil .................................................. 129 3.2. Federalismo, federação e divisão territorial no Brasil. 3.3. Formação e problemática contemporânea das fronteiras. 3.4. Conflitos geopolíticos emergentes: ambientais, sociais, religiosos e econômicos ....................................................................................................... 155 3.5. Ordem mundial e territórios supranacionais: blocos e fluxos econômicos e políticos, alianças militares e movimentos sociais internacionais. 3.6. Regionalização e a organização do novo sistema mundial. 3.7. Globalização: características, impactos negativos e positivos ... 203 4. A representação do espaço terrestre. 4.1. A evolução das representações cartográficas e a introdução das novas tecnologias para o mapeamento, através do sensoriamento remoto (fotografias aéreas e imagens de satélite) e dos Sistemas de Posicionamento Terrestre (GPS). 4.2. As formas básicas de representação do espaço terrestre e das distribuições dos fenômenos geográficos (mapas, cartas, plantas e cartogramas). 4.3. Escalas, reconhecimento e cálculo. 4.4. Sistema de coordenadas geográficas e a orientação no espaço terrestre. 4.5. Projeções cartográficas. 4.6. Identificação dos principais elementos de uma representação cartográfica, leitura e interpretação de tabelas, gráficos, perfis, plantas, cartas, mapas e cartogramas .... 258 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 2 Olá Concurseiro, tudo bem? Sabemos que estudar para concurso público não é tarefa fácil, mas acreditamos na sua dedicação e por isso elaboramos nossa apostila com todo cuidado e nos exatos termos do edital, para que você não estude assuntos desnecessários e nem perca tempo buscando conteúdos faltantes. Somando sua dedicação aos nossos cuidados, esperamos que você tenha uma ótima experiência de estudo e que consiga a tão almejada aprovação. Pensando em auxiliar seus estudos e aprimorar nosso material, disponibilizamos o e-mail professores@maxieduca.com.br para que possa mandar suas dúvidas, sugestões ou questionamentos sobre o conteúdo da apostila. Todos e-mails que chegam até nós, passam por uma triagem e são direcionados aos tutores da matéria em questão. Para o maior aproveitamento do Sistema de Atendimento ao Concurseiro (SAC) liste os seguintes itens: 01. Apostila (concurso e cargo); 02. Disciplina (matéria); 03. Número da página onde se encontra a dúvida; e 04. Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhar em e-mails separados, pois facilita e agiliza o processo de envio para o tutor responsável, lembrando que teremos até três dias úteis para respondê-lo (a). Não esqueça de mandar um feedback e nos contar quando for aprovado! Bons estudos e conte sempre conosco! 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 1 MUDANÇA NO PERFIL DEMOGRÁFICO E JANELA DEMOGRÁFICA1 A Transição Demográfica é um processo natural que recai sobre todas as regiões do mundo, ainda que sua extensão e velocidade sejam variadas. Em geral, o envelhecimento populacional é um processo conhecido nos países desenvolvidos, mas relativamente novo nos países em desenvolvimento. Até a década de 1960, a população brasileira apresentava uma distribuição etária praticamente constante, de perfil extremamente jovem. Já no final da década, houve um rápido declínio da fecundidade, de 6,28 filhos por mulher em 1960 para 1,87 em 2010, com projeção de 1,59 para o ano de 2015 (IBGE, 2013). Com isso, espera-se uma nova distribuição na estrutura etária do País, onde os jovens diminuirão sua parcela na população de 42% em 1950 para 18% em 2050, enquanto que os idosos, no mesmo período, aumentarão sua participação de 2,4% para 19%. Este novo perfil da demografia brasileira implica um novo ambiente econômico e institucional para a sociedade, em que ocorrerão novas demandas e preocupações socioeconômicas. Em um primeiro momento, a queda da fecundidade faz com que ocorra um aumento da população em idade ativa (PIA) em decorrência da queda contínua da população dependente. Com isso, abre-se uma possibilidade de crescimento da renda, que é denominado de Bônus Demográfico (ou Primeiro Dividendo Demográfico). Em um segundo momento, associam-se vários desafios econômicos ante ao crescimento acelerado da proporção de idosos na população. Entre eles, destacam-se as dificuldades quanto ao financiamento da seguridade social e dos gastos com saúde pública. Ressalta-se também que as dificuldades na formação de capital físico e humano em uma sociedade envelhecida são maiores, uma vez que as pessoas tendem a poupar enquanto trabalham e a despoupar quando idosas, mantendo o padrão de consumo estável. Apesar das dificuldades apresentadas, acredita-se que é possível mudar o quadro e ter um Segundo Dividendo Demográfico. Para isso, faz-se necessário ampliar o capital físico e humano, de maneira a elevar a produtividade e a capacidade de amparo financeiro. O autor destaca ainda que esse momento exige empenho dos governos, especialmente em formar instituições que possam transformar estas possibilidades em reais vantagens econômicas e sociais. A pesquisa tem como objetivo avaliar as mudanças demográficas ocorridas no Brasil e identificar algumas oportunidades e desafios para o governo e a sociedade. Tendo como objeto de análise um país em desenvolvimento, o estudo ganha mais relevância, uma vez que existem diversos entraves na gestão e na qualidade dos serviços públicos disponibilizados, além da dificuldade macroeconômica na formação de capital. Portanto, ter a compreensão da influência demográfica sobre a economia é um passo importante para visualizar as possibilidades e necessidades deste novo percurso. Aspectos Teóricose Metodológicos O Referencial Teórico Na história mundial, pode-se afirmar que houve pelo menos três grandes regimes populacionais: o Regime Malthusiano, o Pós-Malthusiano e o Regime de Crescimento Moderno. O primeiro deles sustenta que a dinâmica de crescimento da população está relacionada a mudanças restritivas e qualitativas no comportamento das famílias, as quais são determinadas pelo ambiente econômico (produção de alimentos). O elemento principal que separa o Regime Malthusiano do Pós-Malthusiano é a aceleração do progresso tecnológico, e a passagem do regime de crescimento Pós-Malthusiano para o Moderno é a Transição Demográfica. O Regime de Crescimento Moderno se caracteriza por um rápido crescimento da renda per capita, devido às inúmeras inovações tecnológicas e aumento do capital humano. 1 REICHERT, Henrique; e MARION FILHO, Pascoal José. O Brasil no bônus demográfico: uma janela de oportunidades e desafios. Rev. Econ. NE, Fortaleza, v. 46, n. 3, p. 171-184, jul. - set., 2015. 1. População e estruturação socioespacial em múltiplas escalas (Paraná, Brasil, Mundo). 1.1. Teorias e conceitos básicos em demografia e políticas demográficas. 1.2. Estrutura demográfica, distribuição da população e novos arranjos familiares. Movimentos, redes de migração e impactos econômicos, culturais e sociais dos deslocamentos populacionais. População, meio ambiente e riscos ambientais 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 2 A Transição Demográfica no Regime de Crescimento Moderno resultou da redução nas taxas de mortalidade e fecundidade, o que gera um envelhecimento da população. Pode-se definir o envelhecimento populacional como um processo dinâmico. A parcela de jovens na população depende do número de indivíduos em idade fértil e dos níveis de fecundidade existentes. Já as taxas de mortalidade determinam a proporção das pessoas que sobrevivem até o grupo de idosos. Como as taxas de fecundidade e mortalidade estão em declínio, diminui a proporção de jovens concomitantemente com o aumento do grupo de idosos. Do ponto de vista econômico, entende-se que jovens e idosos não contribuem produtivamente, embora mantenham certo padrão de consumo. Esse fato faz com que se mantenha um excedente de renda nas faixas etárias produtivas, de modo que se consiga abastecer os demais grupos. Ainda que cada população possa apresentar distintos comportamentos financeiros, tem-se normalmente um padrão de consumo constante durante toda a vida, que é sustentado por um rendimento do trabalho que se sobressai apenas no período produtivo. Para determinar a proporção da população que não contribui produtivamente em relação à população em idade ativa, utiliza-se a Taxa de Dependência. Este indicador é o resultado do quociente entre a população dependente, que é igual à soma do número de crianças (com menos de 15 anos de idade) com o número de pessoas idosas (com idade igual ou maior que 65 anos), e a população em idade ativa (faixa etária de 15 a 64 anos). Nota-se que esta relação assume que todas as pessoas com menos de 15 anos e com 65 anos ou mais são improdutivas, enquanto todas as outras são produtivas, o que pode não ser inteiramente verdade. O elemento essencial para compreender os níveis de dependência e a distribuição etária na sociedade é a taxa de fecundidade. Estes autores entendem que, do mesmo modo que uma família com número elevado de crianças tende a consumir mais e poupar menos, um país caracterizado por altas taxas de nascimento também desvia parte de seu capital acumulado para gastos assistenciais. Por outro lado, com a redução da fecundidade haverá queda na proporção de crianças e crescimento do grupo de adultos, reduzindo o ônus da dependência. Isto ocorre até o momento em que estes adultos adentram na fase idosa, aumentando novamente a taxa de dependência. O impacto econômico das mudanças demográficas era geralmente reconhecido como um Bônus Demográfico, mas passou recentemente a ser apresentado como uma combinação de dois dividendos demográficos. Nessa perspectiva, o Primeiro Dividendo Demográfico corresponde a um simples aumento numérico da proporção de trabalhadores, o qual se refletirá em uma produção per capita mais elevada, caso se mantenham fixas a produtividade e a taxa de desemprego. Na medida em que o ciclo de vida de produção e consumo interage com as alterações na estrutura etária, este dividendo surge e se dissipa. As mesmas forças que levam ao fim o primeiro estágio, podem também levar a um Segundo Dividendo Demográfico, diferente do primeiro. Este processo é reflexo do envelhecimento da população, e caracteriza-se por elevar, novamente, as taxas de dependência. Ainda que tanto as crianças como os idosos sejam tratados como dependentes, suas participações econômicas são diferenciadas, o que implica novos padrões de renda e poupança. O Segundo Dividendo Demográfico pode se apresentar como uma nova oportunidade de geração de excedente. O desafio-chave para que isso ocorra encontra-se na capacidade de investir em novos nichos de mercado e acumular capital físico e humano, de forma a elevar a produtividade. Destaca ainda que o envelhecimento da população não tem natureza transitória, desde que se consiga manter uma dinâmica econômica favorável com alta participação de idosos. Com isso, tem-se uma posição econômica permanente e sustentável sobre a formação da renda. Ainda que estas interações entre ciclo de vida e economia gerem benefícios em termos teóricos, ressalta-se que tal relação não pode ser considerada determinista. Na ausência de aparatos institucionais que complementem os dividendos demográficos, os efeitos sobre a economia podem ser variados. Nesse sentido, no Primeiro Dividendo, o ganho econômico do crescimento da população em idade ativa só poderá ser realizado se houver disponibilidade de empregos no mesmo montante da expansão da população disposta a trabalhar. Já no Segundo Dividendo, o incentivo à poupança dependerá do comportamento dos mercados financeiros, dos programas de pensões e da seguridade, que dependem da atuação governamental. Em suma, tem-se a definição de que o Primeiro Dividendo é resultado do crescimento percentual de pessoas dispostas a trabalhar (ou da redução na Taxa de Dependência) enquanto que o Segundo opera pelo crescimento da produtividade, o qual é induzido pelo acúmulo de riqueza. Além disso, destaca-se que alguns efeitos da transição demográfica sobre a economia têm recebido atenção especial de economistas, tais como o comportamento da previdência e da poupança. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 3 Aspectos Metodológicos Para avaliar as mudanças demográficas no Brasil e seus diferenciais regionais e sociais, bem como as perspectivas demográficas futuras, utilizam-se os censos demográficos e o conjunto de dados e projeções populacionais divulgadas e revisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano de 2013. Nessa última versão, a série de projeções é calculada até o ano de 2060 para o Brasil e 2030 para as Unidades da Federação, tendo como base o Censo Demográfico de 2010, o último realizado no País. A partir das informações populacionais, calculam-se taxas de dependência total, de jovens e de idosos para a população brasileira e grandes regiões. Definida como a razão entre população dependente e a população ativa, as taxas consideram como dependentes jovens o número de pessoas com menos de 15 anos de idade e dependentes idosos as pessoas com 65 anos ou mais. A parcela da população em idade ativa concentra-se na faixa etária entre 15 a 64 anos. Após situar a posição do Brasil diante das mudanças demográficas, faz-se uma revisão de literatura a fim de deduzir as consequências econômicas e sociais da transição demográfica para o País. Aspectos Demográficos do Brasil O processo de redução da fecundidade e damortalidade em alguns países (França e Suécia) ocorre desde o século XIX e tem se ampliado nas últimas décadas, principalmente nas regiões menos desenvolvidas. De acordo com a instituição, as regiões mais avançadas apresentaram declínio da fecundidade de 2,8 em 1950-1955 para 1,6 em 2000-2005, enquanto que nas regiões mais atrasadas a queda neste período foi de 6,1 filhos para 2,7. A dinâmica da transição demográfica tem se tornado mais rápida nos países em desenvolvimento. O tempo necessário para que a proporção de idosos aumentasse de 7% para 14% foi de 115 anos na França, 85 na Suécia e 69 nos Estados Unidos da América (E.U.A.). No entanto, na China estima-se que o aumento ocorra em 26 anos, no Brasil 21 e na Colômbia 20 anos. As mudanças demográficas no Brasil decorrem principalmente da queda no nível de fecundidade, pois a mesma caiu de seis em 1960-1965 para dois em 2005-2010. A queda da taxa reprodutiva, por sua vez, encontrou patamar abaixo do nível de reposição em 2005 (com 2,09 filhos por mulher) e deve continuar declinando até o nível de 1,5 filhos por mulher em 2030. Dessa maneira, o número total de residentes no País, que ultrapassou a faixa dos 200 milhões de habitantes em 2013, tende a alcançar seu máximo em 2042, com 228,350 milhões de habitantes (IBGE, 2013). As mudanças produzidas pelo declínio da fecundidade alteram as participações relativas das faixas etárias, ocasionando uma Transição de Estrutura Etária (TEE). Assim, a divisão etária deixa de apresentar um formato acentuadamente piramidal, marcado pela significativa presença de jovens, e passa a entrar em processo de envelhecimento, aumentando a idade média da população. A ferramenta mais conhecida para avaliação destas distribuições etárias é a Razão de Dependência Total e suas variações (Razão de Dependência de Jovens e de Idosos). Segundo Brito (2007), a taxa de dependência total brasileira apresenta valores elevados desde a década de 1950, quando possuía 79 dependentes para cada 100 pessoas ativas, sendo 75 jovens e 4 idosos. Passados dez anos, a manutenção de elevado nível de fecundidade e a ascensão da proporção de idosos aumentaram esta relação, que alcançou um auge de 83 dependentes (78 jovens e 5 idosos). Informações do IBGE (2008, 2013) destacam a longa fase de declínio no número de dependentes, iniciada pouco antes da década de 1980. Contudo, segundo as projeções do IBGE (2013), este movimento findará no ano de 2022, quando a relação de dependência total alcançará um mínimo de 43,35. A partir deste ano, a crescente participação de idosos na população torna a dependência total ascendente (Figura 1). 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 4 Figura 1 – Razão de dependência total, de jovens e de idosos no Brasil (2000-2060) Fonte: Elaborada pelos autores a partir das Projeções da População do IBGE (2008, 2013). Ainda que a relação de dependentes aumente a partir de 2022, deve-se atentar que a inserção de pessoas em idade ativa se perpetua, em ritmo de desaceleração, até o ano de 2033. Projeta-se também que em 2060 o número de dependentes por 100 pessoas ativas aumente para 66, dos quais 2/3 serão idosos. Dadas estas relações entre os três principais grupos etários, não restam dúvidas de que o Brasil se encontra diante de uma janela de oportunidades, também chamada de Bônus Demográfico. Contudo, deve-se ressaltar que há diferentes formas de se categorizar a extensão deste período. Comumente, classifica-se o bônus como o período onde a taxa de dependência total mantém trajetória decrescente. No Brasil, este movimento se prolonga até o ano de 2022. Contudo, ainda que esta data represente o começo de uma nova fase expansiva no número de dependentes e, consequentemente, sinaliza para os novos desafios socioeconômicos, deve-se atentar que de 2007 até 2040, a relação entre pessoas dependentes e ativas é de um para dois (50 dependentes para 100 ativos), caracterizando um período ainda favorável para a produção e organização dos serviços públicos. Mesmo que aumente a taxa de dependência total a partir da segunda década, deve-se atentar para o fato de que ela ocorre com maior proporção de idosos, o que pode ser benéfico para a renda familiar, especialmente nas regiões mais pobres do País. Ao contrário dos jovens, que raramente têm renda, os idosos são amparados, em sua grande maioria, pelo sistema previdenciário ou programas assistenciais do governo, o que garante para muitas famílias a única renda regular. Nas regiões ricas, a população idosa acumula ativos na fase produtiva e pode manter a sua independência financeira durante a velhice. Além disso, é crescente o número de pessoas que continuam produzindo após os 65 anos. A Transição Demográfica é única e múltipla, uma vez que, ao mesmo tempo em que é um processo global que atinge a sociedade como um todo, ela também se manifesta de várias maneiras diferentes, de acordo com as diversidades regionais e sociais. A partir de dados acerca da fecundidade, pode-se verificar que as regiões Norte e Nordeste possuem perfis etários mais joviais que as regiões Sudeste e Sul. Assim, não surpreende que a Taxa de Dependência da região Norte, em 2010, seja relativamente alta (57,97) e significativamente composta por dependentes jovens (89,2%), como apresenta a figura 2. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 5 Figura 2 – Taxas de Dependência nas Grandes Regiões do Brasil (2000-2030) 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 6 Fonte: Elaborada pelos autores a partir das Projeções da População do IBGE (2013). Pode-se destacar que o Bônus Demográfico desta Região findará mais tardiamente do que no restante do País, uma vez que até as projeções de 2030 o número de dependentes tem se mostrado continuamente em declínio. Ainda que de modo menos expressivo, a proporção de jovens no Nordeste brasileiro também compõe a maior parte dos dependentes em 2010 (81,9%). Nesta Região, a queda da taxa de dependência total se mantém até o ano de 2027, quando é esperada uma taxa de 43,66. Já as regiões Sudeste e Sul se encontram em posições mais avançadas na transição etária. Em 2010, a taxa de dependentes do Sudeste foi de 44,29, sendo 75% composta por dependentes jovens. Ao mesmo tempo, o Sul tem taxa de 44,34, com 74% de jovens. Outra semelhança entre as regiões está na projeção do número de dependentes para o ano de 2030, quando a relação de jovens representará 50% do total de dependentes para a região Sudeste e 49,9% para a Sul. Diferentemente do Norte e Nordeste, projeta- se uma razão de dependentes ascendente a partir de 2017 no Sul e de 2018 no Sudeste. Já a região Centro-Oeste tem características peculiares, pois apresenta a menor reposição de crianças e a mais baixa participação de idosos na população. As projeções indicam que ela pode ser a região que mais tem a ganhar com o primeiro dividendo demográfico. Estima-se que o movimento de ascensão da taxa de dependentes tenha início a partir de 2023, ano em que se espera uma taxa de 40,19% de dependentes, a relação mais baixa entre todas as grandes regiões brasileiras. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 7 Fonte: Elaborada pelos autores com base no Censo Demográfico do IBGE (2010). *Devido a restrições nos dados, considera-se como idoso dependente a classe etária com 60 anos ou mais. Além das diferenças inter-regionais, a relação entre fatores demográficos e indicadores sociais também apresenta caráter múltiplo sobre a transição demográfica brasileira. A razão de dependência está altamente correlacionada aos níveis de renda per capita domiciliar, o que torna as diferenças sociais tão ou mais importantes que as regionais. Isso significa que as famílias pobres têm dupla dificuldade,pois possuem menor capacidade financeira e os poucos ganhos precisam ser repartidos entre maior quantidade de pessoas. Nessa perspectiva, ao se analisar as taxas de dependência por classes de rendimento domiciliar per capita para o ano de 2010 (Figura 3), não surpreende que a alta dependência de jovens se concentre nas camadas mais pobres da população brasileira. Entre os extremos, a relação de dependentes jovens cai de 65,85 para 19,45, menos de um terço do número inicial. O contrário ocorre com a classe de idosos, que apresenta uma ascensão na medida em que se têm domicílios com maior rendimento per capita. As oportunidades e desafios impostos pela transição demográfica vão depender significativamente das peculiaridades regionais e sociais. Neste contexto, para as políticas públicas obterem êxito elas devem estar atentas não só ao processo global da transição demográfica no Brasil, como também nas suas diversas facetas regionais e sociais. Oportunidades e Desafios na Transição Demográfica O conjunto de informações demográficas referentes ao Brasil indica que o Bônus Demográfico, ou o Primeiro Dividendo, começou na década de 1980 e se desenrola ao longo de mais de quatro décadas, quando no final a taxa de dependência total deve alcançar nível mínimo. Esse bônus somente trará vantagens sobre a renda se a maior oferta de trabalho se transformar em produção efetiva. Com a finalidade de averiguar o crescimento induzido na renda pelas mudanças da estrutura etária se propôs decompor a renda per capita entre ganhos de produtividade e de ocupação. De forma análoga elabora-se um conjunto de indicadores para interpretar a dinâmica do PIB per capita (PIB/População) via decomposição em: i) produtividade do trabalho (PIB/PO), sendo PO = pessoas ocupadas; ii) taxa de ocupação econômica (PO/PEA), sendo PEA = população economicamente ativa; e, iii) taxa de participação econômica (PEA/Pop), sendo Pop = população total. Utilizando-se da decomposição em três elementos e determinando o ano de 1992 como período base (em função da disponibilidade de dados), é possível ilustrar a aceleração da participação econômica. Tal como apresentado pelos autores, a elevação da renda per capita na década de 1990 se deve majoritariamente ao crescimento da produtividade do trabalho (Figura 4). Já nos anos 2000, a produtividade apresentou desempenho moderado e a taxa de participação econômica foi a responsável por dar fôlego ao crescimento do produto. Enquanto isso, a taxa de ocupação econômica se apresentou em níveis abaixo ou próximos do período base. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 8 Figura 4 – Decomposição e crescimento do PIB per capita brasileiro (1992-2012) Sendo assim, é possível verificar que a inserção de pessoas aptas ao trabalho, dada pela transição demográfica, tem sido vantajosa para o crescimento da renda per capita. A taxa de crescimento média anual da participação econômica nestes 20 anos corresponde a um terço do aumento do produto. Destaca-se, contudo, que somente a partir de 1999 se conseguiu utilizar de forma clara e efetiva esta mão de obra disponível em ocupação formal. De um lado, este fato pode reforçar o argumento que o bônus demográfico não é um processo determinista, sendo preciso um ambiente econômico favorável para a absorção da mão de obra. Por outro lado, também se poderia indicar que este atraso na inserção de pessoas no mercado laboral se deve a um crescente número de anos dedicados aos estudos e à preparação para o trabalho pelos jovens. Esta tendência atual, especialmente nos países em desenvolvimento, permite questionar o critério de se utilizar como ativas as pessoas com idade de 15 anos, o que torna o Bônus Demográfico mais precoce do que realmente ocorre. Também é importante frisar que a participação econômica mostrou-se declinante após 2009. Segundo projeções do IBGE (2013), a população em idade ativa é crescente até o ano de 2033 e sua proporção na população total apresenta taxas positivas até 2022. Tem-se, portanto, diferenças nas taxas de crescimento da PIA e da PEA sobre a população total. A explicação deste descolamento pode ser encontrada na definição de cada variável, uma vez que a população em idade ativa (PIA) mensura todas as pessoas aptas a exercer trabalho e a população economicamente ativa (PEA) é formada pelos indivíduos que buscam ocupação. Assim, a diferença nas taxas é causada devido a parte da PIA que não procura ocupação produtiva. Em suma, visto que o aumento da produção brasileira do início dos anos 2000 se deu via inserção de pessoas no mercado de trabalho, queda nos níveis de desemprego e manutenção da produtividade, é possível indicar que a economia nacional foi efetivamente favorecida pelo Bônus Demográfico. Todavia, verificou-se que a importância da participação econômica sobre a renda declinou a partir de 2009. Deste modo, tem-se, por um lado, que o crescimento brasileiro recente foi beneficiado pela transição demográfica e que o País ainda se encontra nesta janela de oportunidades. Por outro lado, ainda que a estimativa demográfica assegure crescimento da PIA até a próxima década, parte deste grupo em idade ativa retarda a oferta de trabalho, limitando o ganho de renda com a simples elevação do número de trabalhadores. Por essa razão, não se sabe até que momento será possível usufruir do processo demográfico como combustível econômico. Ressalta-se também sobre a importância de aumentar a produtividade, elemento-chave para aliar maior número de dependentes com crescimento econômico. Além disso, é necessário voltar a atenção para as demandas de uma sociedade com maior dependência de idosos, tais como a oferta de serviços públicos na saúde, previdência e assistência social. As maneiras tradicionais de financiamento da seguridade social não serão suficientes para lidar com o ritmo crescente da população idosa. As crescentes dificuldades no equacionamento das contas provavelmente forçarão novas estratégias, tais como incentivos para aposentados permanecerem na força de trabalho e novos limites de idade. Para verificar o impacto do envelhecimento populacional sobre as contas do Estado, analisa-se as transferências governamentais médias sobre oito coortes da população, supondo constante o montante 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 9 de gastos para essas faixas etárias. Após, estima o efeito das alterações de uma nova estrutura etária sobre os custos governamentais. De acordo com os cálculos, cada pessoa idosa recebeu em 1996, em média, US$ 4.046 (quatro mil e quarenta e seis dólares) em transferências governamentais, quase dez vezes mais que as despesas infantis. Com estas características, fica claro que o equilíbrio nos gastos teria que ocorrer via maior arrecadação no segmento da população economicamente ativa, uma vez que os gastos per capita na faixa etária idosa superam os das demais. A relação entre receitas e despesas do ano de 2000 se aproxima de um equilíbrio, o que se deve, em parte, ao baixo nível da taxa de dependência (Tabela 1). Na medida em que a transição demográfica avança, as estimativas passam a mensurar uma estrutura etária brasileira mais envelhecida. Assim, ao supor constante o perfil de transferências do governo por faixa etária, a relação entre as contas apresenta declínio considerável para os anos de 2025 e 2050. Neste último ano, a receita representa somente 57,1% da despesa total. A conclusão lógica deste exercício, encontra-se na necessidade de investir na atual geração de crianças, de modo a qualificar a força de trabalho futura. Nesse sentido, destacam-se que a continuidade do crescimento da renda per capita dependerá da capacidade de alcançar aumentos de produtividade e inovação. Para isso, faz-se necessário a acumulação de capital físico e humano, de modo que cada trabalhador consiga agregar maiorvalor aos seus serviços. Além das já existentes resistências macroeconômicas para formação de capital, a dinâmica do envelhecimento tende a agravar tais dificuldades. Não bastasse isso, o Brasil tem mostrado uma baixa capacidade histórica de formar poupança. A poupança doméstica encontra-se em patamares abaixo da média mundial. Além disso, quando comparadas as taxas de poupança da América Latina e da Ásia Oriental fica claro que a baixa acumulação brasileira é parte de um fenômeno latino-americano. Desde o final da década de 1970, o Brasil enfrenta uma queda expressiva dos níveis de investimento e poupança agregada, reflexo da evolução do consumo privado. O boom populacional dos anos de 1970 certamente influenciou no comportamento da acumulação de capital, pois o forte ritmo no crescimento da população jovem diminuiu a proporção da população em idade ativa e, por consequência, diminuiu a capacidade de produção da economia. Além disso, o autor constatou que a mudança de perfil etário brasileiro, de jovem para maduro, deveria ter conduzido a um aumento na taxa de poupança, o que efetivamente não ocorreu. A enorme rede de proteção social instalada no Brasil no período pós-redemocratização foi a principal responsável por contrabalançar a tendência de crescimento da acumulação de capital. Segundo o autor, isto se deve a uma série de regras institucionais e políticas que produzem um comportamento sobre a poupança independente do crescimento econômico. Em outras palavras, o gratuito acesso à saúde, à educação básica e às aposentadorias, além da disponibilidade de cursos superiores com apoio no financiamento, são elementos que retiram a importância da poupança para as famílias. Dessa forma, o autor acredita que o assistencialismo brasileiro e o subsequente envelhecimento populacional formam uma perspectiva sobre a formação de poupança com notáveis dificuldades. A baixa perspectiva para a formação de capital brasileira reflete maiores dificuldades para o aumento da produtividade do trabalho. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 10 Verifica-se que a relação entre Produto Interno Bruto e o número de pessoas ocupadas na economia brasileira se mantém em ritmo lento de crescimento, com taxa de 1,03% ao ano em mais de quatro décadas (Figura 5). Para os países latino-americanos ela é ainda menor, de 0,56% ao ano, ainda que o nível de produção por trabalhador se apresente acima do brasileiro. Destaca-se ainda o salto de produtividade coreano e japonês. A Coreia chama atenção pela proximidade à produtividade do Brasil até o início da década de 1980. O Japão, por sua vez, detém alto nível de produtividade desde 1970 (em função do crescimento significativo nas décadas anteriores) e continua com forte ritmo expansionista. Além do capital físico, a produtividade do trabalho vai depender do acúmulo de capital humano. Este elemento torna o serviço mais eficiente e conduz a um aumento do valor agregado por trabalhador. Em uma análise conjunta da produtividade e do capital humano brasileiro, concluiu-se que no intervalo de tempo entre 1992 e 2007, o capital humano mostrou contribuição praticamente nula sobre a economia. Para os autores, uma possível explicação para este resultado reside na baixa oferta de trabalho qualificado, o que indica que se deve implementar políticas de educação. Ressalta-se que apesar da expansão do ensino no Brasil, as políticas nacionais não tiveram êxito ao tratar da qualidade do ensino. No entanto, Brito (2007) entende que a educação pode ser melhorada no País com a ampliação de horas-aula e baixo custo, porque já dispõe de uma capacidade de oferta de ensino, e a redução da demanda por esse serviço contribui para a universalização e para a qualidade. Nas avaliações internacionais, o desempenho do ensino brasileiro não é satisfatório, principalmente em função do alto grau de repetência dos alunos. Há ainda de se considerar a categoria preocupante de jovens que não estudam e nem procuram trabalho, ou seja, não exercem qualquer tipo de ocupação. Os dados do Censo Demográfico de 2010 mostram que do total de pessoas com mais de 25 anos de idade no Brasil, somente 11,29% possuem diploma de ensino superior e praticamente a metade dessa população (49,18%) não possui ensino fundamental completo. Dados da OCDE (2012) apontam que este percentual de brasileiros com nível superior subiu para 12,96%, patamar ainda abaixo da média dos países da OCDE (32,62%) e de países vizinhos, como o Chile (17,81%) e a Colômbia (19,75%). Dessa forma, ao mesmo tempo em que houve incentivos para a população prolongar o tempo de estudo, há ainda várias lacunas na agenda da política educacional que devem ser preenchidas, tais como maior número de pré-escolas, maior grau de titulação dos professores, mais avaliações e autonomia das unidades escolares e dos diretores. Além disso, os resultados sinalizam que o desafio de qualidade hoje não pode ser enfrentado sem alterações profundas na agenda de políticas educacionais. Constatou-se que a transição demográfica brasileira apresenta heterogeneidade regional e por faixa de renda, coexistindo perfis mais avançados nas regiões Sul e Sudeste e atrasados nas regiões Norte e Nordeste. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 11 Já a região Centro-Oeste apresenta desempenho peculiar, pois ao mesmo tempo em que mantém nível de fecundidade reduzido, a dependência de idosos evolui timidamente. Em relação às diferenças que permeiam o envelhecimento populacional por faixas de renda, verificou- se que as famílias de menor rendimento possuem as maiores taxas de dependência de jovens, exatamente o grupo que necessita de auxílio para estudar e se qualificar, e as menores taxas de idosos, a parcela da população que precisa de atenção especial, mas que normalmente tem alguns ativos e amparo pela previdência social. O contrário ocorre com as famílias que têm renda mais elevada. O aumento da renda per capita foi favorecido pelo Primeiro Dividendo Demográfico, a partir de 1999, uma vez que houve maior inserção de pessoas em idade ativa, e os níveis de desemprego e de produtividade permaneceram favoráveis. O intervalo temporal entre a identificação do Bônus Demográfico, em 1980, e a efetiva utilização de mão de obra disponível, nos anos 2000, pode ressaltar o caráter não determinista dos dividendos demográficos e indicar que existe um tempo maior de qualificação técnica, o que atrasa a entrada de jovens no mercado de trabalho, e um prolongamento do período ativo dos idosos, ou seja, que continuam trabalhando a partir dos 65 anos. Contudo, deve-se atentar para a necessidade do aumento da produtividade, que depende dos esforços para a acumulação de capital físico e humano, de modo a sustentar crescente parcela de dependentes idosos e suas novas demandas. Contrariando as expectativas de crescimento da renda e da poupança pela maior participação de adultos na economia, a acumulação de capital físico permaneceu em níveis aquém do desejado. Desse modo, os entraves institucionais brasileiros somam-se ao iminente estado de população envelhecida, formando expectativas não promissoras dos atuais níveis de poupança interna e de acumulação de capital físico. Já o acúmulo de capital humano, por sua vez, não encontra entrave institucional e tampouco é prejudicado pela dinâmica demográfica. De forma contrária, identificou-se que a trajetória de alteração etária contribui para o aumento da cobertura e da qualidade da educação pública, já que diminui o número de jovens. Assim, pode-se considerar que as políticas voltadas à educação compõem a via mais factível de agregar valor à produção. Em suma, averiguou-se, de um lado, que o Brasil se utilizou dos benefícios gerados pela transição demográfica para aumentar a renda per capita, ainda que em período de tempo relativamente curto. Por outrolado, esta janela de oportunidades não foi capaz de aumentar o nível de investimento nem a poupança interna brasileira. Assim, pode-se considerar que há sérios desafios a serem enfrentados pela sociedade brasileira, incluindo a melhoria na qualificação da mão de obra, maiores incentivos à acumulação de capital e o equacionamento das contas financeiras da seguridade social. POPULAÇÃO MUNDIAL Crescimento Populacional no Mundo População é o conjunto de pessoas que reside em determinada área. Ela pode ser caracterizada de acordo com vários aspectos, como gênero, faixa etária, religião, etnia, idioma, local de moradia, atividade econômica praticada, entre outros. As condições de vida e o comportamento da população, no entanto, são retratados por meio de indicadores sociais, ou seja, taxas de natalidade e mortalidade, expectativa de vida, índices de analfabetismo, participação na renda, etc. A dinâmica da população varia bastante entre os países. Nas economias desenvolvidas o crescimento demográfico é inexpressivo, sendo até mesmo negativo em alguns locais. Nos países em desenvolvimento e emergentes ocorrem as mais variadas situações: em algumas nações, o elevado crescimento populacional compromete a busca pelo desenvolvimento sustentável; em outras, a população tende a se estabilizar nas próximas décadas, como é o caso do Brasil. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em 2017, o planeta Terra era habitado por 7,5 bilhões de pessoas, distribuídas de maneira distinta pelos países e pelas regiões. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 12 População Mundial Em 2013, segundo o relatório World Development Indicators 2017, do Banco Mundial, aproximadamente 11% da população vivia em condições de pobreza extrema. A maior parte estava em países em desenvolvimento da África subsaariana e da Ásia meridional. Muitos países apresentaram um expressivo crescimento econômico e as condições de vida de suas populações melhoraram, principalmente durante a segunda metade do século XX e o início do século XXI. De acordo com o Banco Mundial, em 1990 cerca de 1,9 bilhão de pessoas viviam em condições de pobreza extrema (com menos de US$ 1,90 por dia). Esse número foi reduzido quase pela metade, apesar do crescimento populacional do período. No período de 2010 a 2020, segundo o UNFPA, nos países desenvolvidos a esperança de vida média era de 76 anos para os homens e 82 anos para as mulheres; na América Latina e no Caribe, 72 e 79; e na África ocidental e na África central, 56 e 58 anos. Tais diferenças se explicam pela deficiência ou, muitas vezes, pela completa falta de acesso a ´[agua potável; a coleta e tratamento de esgoto; a alimentação, educação e condições de habitação adequadas e, principalmente, a bons programas de saúde destinados à população, incluindo campanhas de vacinação, hospitais e maternidade de qualidade, entre outros. As Taxas – Fundamentos Básicos para a Leitura dos Dados Demográficos Taxa de natalidade: número de nascidos vivos em um ano por mil habitantes. É a relação entre os nascimentos e a população total, expressa por mil habitantes. Exemplo: Nascimentos anuais: 775 000; População total: 55 173 000 habitantes; Taxa de natalidade: 775 000 x 1000 = 14% Ou seja, para cada grupo de 1000 habitantes, nasceram 14 crianças vivas num ano. Taxa de mortalidade: número de óbitos em um ano por mil habitantes. É calculada a partir da relação entre óbitos anuais, multiplicados por mil, e a população total. Exemplo: Óbitos anuais: 335 000; População total: 55 173 000 habitantes; Taxa de mortalidade: 335 000 x 1000 = 6% Ou seja, para cada grupo de 1000 habitantes, morreram 6 pessoas num ano. Obs.: As taxas de natalidade e de mortalidade também são expressas em porcentagem. Assim, baseando-se nos dados dos exemplos anteriores: taxa de natalidade, 1,4%; taxa de mortalidade, 0,6%. Taxa de crescimento vegetativo: diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. Conforme os exemplos de taxas de natalidade e mortalidade anteriores: Taxa de natalidade: 14%; Taxa de mortalidade: - 6%; Crescimento vegetativo: 8% ou 0,8% Obs.: A taxa de crescimento vegetativo é também denominada taxa de crescimento natural. Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher em idade de procriar, entre 15 e 49 anos. Taxa de mortalidade infantil: é o número de óbitos de crianças com menos de u mano de vida, a cada mil nascidas vivas, considerando-se o período de um ano. A Revolução Industrial e o Crescimento Demográfico A Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, teve forte repercussão na organização socioespacial. Passaram a ocorrer um intenso processo de migração do campo para as cidades, mudanças de hábitos 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 13 e novas relações de trabalho. As condições de vida nas áreas industriais eram inicialmente precárias, mas aos poucos nas cidades foram ocorrendo melhorias sanitárias significativas e a população urbana passou a ter maior acesso aos serviços de saúde. A Revolução Industrial, enfim, não foi apenas uma transformação no modo de produzir mercadorias, mas uma transformação tecnológica e cientifica que atingiu todas as áreas do conhecimento, entre as quais a medicina. A solução de problemas sanitários e o avanço na medicina contribuíram para a diminuição da mortalidade infantil e da mortalidade da população em geral. A elevação da média de vida provocou o aumento do número de habitantes nos países que primeiramente se industrializaram. A vacina contra a varíola, entre o final do século XVIII e o início do XIX, foi a descoberta médica mais importante para o crescimento populacional, já que houve redução das taxas de mortalidade e a natalidade permaneceu por longo tempo ainda em patamares elevados. Alguns pesquisadores do período da Revolução Industrial consideram outros fatores também responsáveis pela elevação do crescimento populacional nos países industrializados do século XIX. Por exemplo, a utilização generalizada da mão-de-obra infantil nesse período pode ter estimulado o aumento do número de filhos para ampliar a renda das famílias. Assim, o crescimento populacional teria resultado não apenas da diminuição da mortalidade, mas também do aumento da natalidade. Crescimento da População e a Primeira Teoria Populacional – o Malthusianismo A Grã-Bretanha, pioneira na Revolução Industrial, tinha pouco mais de 5 milhões de habitantes por volta de 1750. A partir daí o processo de crescimento populacional foi rápido. Em 1840 haviam atingido mais de 10 milhões de habitantes. Meio século depois passou a marca dos 20 milhões. Essa tendência generalizou-se nos demais países europeus que acompanharam a primeira fase da Revolução Industrial. Foi justamente a partir da observação da etapa inicial desse processo que surgiu a primeira e mais polêmica teoria sobre o crescimento populacional. Em 1798, Thomas Robert Malthus, um pastor protestante, escreveu a obra Ensaio sobre o Princípio da População. Malthus acreditava que a população tinha um potencial de crescimento ilimitado enquanto a natureza tem recursos limitados para alimentar a crescente população. Afirmava que as populações humanas cresciam em progressão geométrica (2, 4, 16, 32 ...), enquanto a produção de alimentos crescia em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10 ...). Colocava-se assim a fatalidade de a humanidade ter que conviver no futuro com subnutrição, fome, doenças, epidemias, infanticídio, guerras por disputas de terras para ampliar a produção de alimentos e, consequentemente, com a desestruturação de toda a vida social. Para evitar a tragédia anunciada, Malthus defendia o “controle moral”. Descartava a utilização de métodos contraceptivos para limitar o crescimento populacional, conforme a sua formação religiosa. Do ponto de vista prático, pregava umasérie de normas de conduta que incluíam a abstinência sexual e o adiamento dos casamentos, que só deveriam ser permitidos mediante capacidade comprovada de renda para sustenta a provável prole. É evidente que tais normas atingiam apenas os pobres, que Malthus considerava os grandes responsáveis pela própria pobreza, devido à tendência de se casarem cedo e se reproduzirem em excesso. A principal refutação às ideias malthusianas foi elaborada por Karl Marx, para quem o grande responsável pela fome e pela carência da população era o sistema capitalista. As injustiças sociais e a má distribuição de riquezas entre as classes sociais seriam os verdadeiros responsáveis pela fome e pela miséria. Argumentava que os empresários capitalistas mantinham estrategicamente certo número de desempregados (Exército Industrial de Reserva) para manter baixos os salários, e que manipulavam esses desempregados de acordo com as necessidades do mercado de trabalho. Para Marx, Malthus subestimava a capacidade da tecnologia em elevar a quantidade de alimentos produzidos no mundo. De fato, a validade desse argumento foi comprovada pela própria história. A fome, que condena quase 1 bilhão de seres humanos nos dias atuais, não se deve à incapacidade de produção de alimentos e sim à má distribuição dos alimentos produzidos, devido às desigualdades sociais e econômicas. O Baby Boom A partir do final da Segunda Guerra Mundial, a população dos países desenvolvidos teve um rápido surto de crescimento. Esse fenômeno ficou conhecido como Baby Boom e foi o resultado do grande número de casamentos, adiados durante o período da guerra. Esse fenômeno atingiu principalmente os países europeus, o Japão, os Estados Unidos e outros diretamente envolvidos no conflito. Depois de dois ou três anos as taxas de crescimento voltaram a declinar. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 14 A Estabilização Demográfica no Mundo Desenvolvido As migrações em massa da população europeia em direção à América e a outros continentes, e a Revolução Agrícola, que elevou a produção de alimentos, diluíram os efeitos do grande crescimento populacional na Europa do século XIX. O estágio de desenvolvimento europeu no final do século XIX e início do XX refletiu na demografia. As taxas de natalidade e mortalidade começaram a cair devido à urbanização de parcela significativa da sociedade, ao atendimento médico e hospitalar, ao aumento das possibilidades de acesso à informação e às mudanças no papel da mulher, que passou a participar ativamente do mercado de Trabalho industrial. As taxas de crescimento entraram em declínio na Europa e continuaram caindo durante todo o século XX. Nos últimos 50 anos, o mundo desenvolvido, em geral – sobretudo os países europeus -, entrou num processo de crescimento lento, com a efetivação do modo de vida urbano para a maioria de seus habitantes. Nas cidades, o custo de criação dos filhos é maior do que no campo; os jovens ingressam mais tarde no mercado de trabalho; o trabalho feminino extradomiciliar leva à necessidade do cuidado dos filhos por outras pessoas ou instituições, gerando outros gastos para as famílias. Nesse contexto, a invenção da pílula anticoncepcional, em 1960, e a consolidação de algumas conquistas femininas – como a ampliação de sua participação no mercado de trabalho e nas relações familiares – foram fundamentais nesse processo. No final do século XX, as duas taxas (mortalidade e natalidade) estavam praticamente em equilíbrio, determinando taxas de crescimento vegetativo em torno de 0% ao ano e inaugurando uma nova fase, conhecida como estabilização demográfica. Essa situação também foi denominada por alguns demógrafos de implosão demográfica. A partir da década de 1980, vários países do continente europeu registraram, em alguns anos, crescimento natural negativo, pois as taxas de mortalidade superaram as taxas de natalidade. Como visto, o processo de urbanização, interligado a outros fatores, como a presença marcante da mulher no mercado de trabalho, a redefinição de seu papel na família e o modo de vida baseado na preservação da individualidade são questões incorporadas pela cultura europeia ao longo do tempo. Muitos filhos significam, nesse sentido, abrir mão dessa individualidade e, no caso das mulheres, podem constituir uma barreira às suas perspectivas profissionais. Explosão Demográfica e Novas Teorias Populacionais A explosão demográfica do século XX foi um fenômeno do mundo subdesenvolvido, que a partir da década de 1950 passou a registrar elevadas taxas de crescimento demográfico. Alguns países subdesenvolvidos chegaram a dobrar a sua taxa de crescimento em menos de uma geração. É importante ressaltar que a expressão explosão demográfica é criticada por alguns demógrafos, pois sugere um crescimento descontrolado da população, o qual tornaria caótica a vida humana na Terra. Foram esses países que mais contribuíram para o crescimento da população mundial no século XX. Atualmente concentram mais de 80% da população do planeta e esse índice tende a ampliar-se. Muitas doenças infecciosas que assolavam principalmente os países subdesenvolvidos foram derrotadas com a descoberta de novas vacinas e dos antibióticos. Esses avanços na medicina obtidos nos países desenvolvidos foram estendidos a várias regiões do mundo e provocaram um declínio significativo nas taxas de mortalidade, com consequente crescimento da população. Com o avanço do processo de urbanização em vários países do mundo subdesenvolvido, sobretudo nos que industrializaram, as taxas de crescimento vegetativo também têm se mostrado declinantes nas últimas duas décadas. No continente africano, onde a maioria dos países ainda se verificam índices de população urbana inferiores a 50%, as taxas de crescimento vegetativo permaneceram superiores a 2% ao ano. A taxa de fecundidade nos países subdesenvolvidos é praticamente o dobro da registrada nos países subdesenvolvidos. No entanto, se na África o número médio de filhos por mulher está próximo de 5, na América Latina, onde a urbanização tem sido intensa, essa taxa é praticamente a metade da africana. As Teorias Antinatalistas da Segunda Metade do Século XX O fenômeno da explosão demográfica contribuiu para que surgissem novas teorias relacionadas ao crescimento populacional. As primeiras teorias associavam o crescimento demográfico à questão do desenvolvimento e propunham soluções antinatalistas para os problemas econômicos enfrentados pelos países subdesenvolvidos. Ficaram conhecidas como teorias neomalthusianas, por serem catastrofistas e por apontarem o controle populacional como única saída. Mas, ao contrário de Malthus, os 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 15 neomalthusianos eram favoráveis ao uso de métodos anticoncepcionais e propunham a sua difusão em massa nos países do mundo subdesenvolvido. Argumentavam que os países que mantêm elevadas taxas de crescimento veem-se obrigados a investir doa parte de seus recursos em educação e saúde, devido à grande porcentagem de jovens que abrigam. Essas elevadas somas de investimentos poderiam ser aplicadas em atividades produtivas, ligadas à agricultura, à indústria, aos transportes, etc., que dinamizariam a economia do país. Os neomalthusianos ressaltavam ainda que o crescimento acelerado da população de um país acarretava a diminuição da sua renda per capita. Portanto, para aumentar a renda média dos habitantes, era necessário controlar o crescimento populacional. Os argumentos convincentes dos neomalthusianos foram desfeitos pela dinâmica demográfica real. Os países que tiveram quedas acentuadas em suas taxas de natalidade foram aqueles cujas conquistas econômicas estenderam-se à maioria dos habitantes, na forma de maior renda e melhoria do padrão cultural. A história comprovou que havia uma inversão no pensamento neomalthusiano. A reduçãodo crescimento populacional não é o ponto de partida para a conquista do desenvolvimento social e econômico, mas o ponto de chegada. Essa dinâmica demográfica já havia sido apontada pelos reformistas, que destacavam as conquistas socioeconômicas como responsáveis pela redução das taxas de crescimento populacional. Para os reformistas, uma melhor distribuição de renda e o maior acesso à cultura e à educação podem modificar os padrões de crescimento e promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Outra visão antinatalistas surgiu com alguns ecologistas já no final da década de 1960, com a publicação do livro A bomba populacional de Paul Ehrlich. Mas esses ecologistas não se limitaram à questão demográfica para discutir as ameaças dos problemas ambientais. Ressaltaram o papel negativo do consumismo da população dos países desenvolvidos e, portanto, a necessidade de transformação do modelo econômico do mundo atual. O Método para os Estudos de População As características de uma determinada população mudam em função de condições socioeconômicas, políticas e territoriais, submetidas a múltiplas determinações culturais. A análise da orientação, do ritmo e da natureza do crescimento dessa população, a par dos deslocamentos, permite entender seu comportamento e fazer projeções para o futuro. O termo técnico mais comum para designar esse comportamento populacional é dinâmica demográfica. Em geral, a análise da dinâmica demográfica considera um período de tempo predeterminado. Crescimento, Composição Etária e Impactos Sociais Os padrões demográficos gerais de um país ou região (natalidade, mortalidade, migrações) determinam a distribuição da população por faixas de idade. Essa distribuição, ao mesmo tempo que resulta do estágio de desenvolvimento, causa impacto na economia e na distribuição dos recursos em saúde, educação, formação profissional e outros. Não existe um único critério para a distribuição da população por faixa etária, mas o mais utilizado e adotado (inclusive pelo IBGE atualmente) divide a população em jovens (0-14 anos), adultos (15-65 anos) e idosos (acima de 65 anos). Essa divisão tem por base a população ligada ao mercado de trabalho (pessoas de 15 a 65 anos), empregada ou não, e as pessoas que são consideradas fora desse mercado (com menos de 15 anos e com mais de 65 anos). É evidente que tal critério não atende ás condições de diversos países em que, entre as camadas sociais pobres, o trabalho infantil é um fato comum e os idosos veem-se, em muitos casos, obrigados a trabalhar até morrerem ou se tornarem incapazes de qualquer atividade por motivo de doença ou de incapacidade física. Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), em 2000, quase três milhões de crianças entre cinco e 14 anos trabalhavam no Brasil. O subemprego é uma forma precária de complementação de renda para os idosos que não conseguem reingressar no mercado de trabalho formal. Fundamentos Básicos para a Análise de um Histograma de Distribuição Etária e Sexual e as Fases de Crescimento Demográfico A pirâmide etária é uma representação da população por sexo e idade em um gráfico conhecido como histograma. Deve ser analisado a partir dos percentuais de homens e mulheres em cada faixa etária com relação à população total. O tamanho de cada barra corresponde à proporção de cada grupo de idade, 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 16 conforme o sexo: masculino, cujas barras estão no lado esquerdo da pirâmide; ou feminino, cujas barras estão no lado direito. No eixo horizontal do gráfico (base) está registrado o percentual da população por sexo. No eixo vertical estão indicadas as diferentes faixas etárias da população. Por meio das pirâmides etárias é possível analisar algumas alterações demográficas dos países e as tendências dessas alterações. Como as barras da base da pirâmide correspondem às faixas de idade, uma pirâmide de base larga com formato piramidal (triangular) representa um país de população jovem acentuada e menor expectativa de vida, como os países subdesenvolvidos, que ainda permanecem em fase de crescimento acelerado, ou na primeira fase da transição demográfica. As pirâmides que apresentam pequeno estreitamento na base mas o restante da pirâmide triangular, como as de alguns países subdesenvolvidos industrializados (Brasil, México, Argentina) ou de nível sociocultural mais elevado (Chile, Uruguai, Costa Rica) estão na segunda fase da transição demográfica. As pirâmides com formas irregulares e topo largo correspondem aos países com predomínio de população adulta e população envelhecida, caso dos países desenvolvidos que atingiram a fase de estabilização demográfica. A Questão Etária nos Países Subdesenvolvidos de Elevado Crescimento Demográfico Nos países subdesenvolvidos que ainda mantêm um elevado padrão de crescimento populacional, o número de jovens é superior às demais faixas etárias da população. Os custos de manutenção e de formação da população na faixa etária dos jovens são um sério problema nos países onde o Estado, além de desprovido dos recursos necessários, está mal estruturado para atender às necessidades de saúde e educação. Além disso, o grande número de jovens coloca as populações dos países mais pobres numa situação desfavorável. A necessidade de sustentar um número maior de filhos limita a formação da poupança familiar e dificulta oferecer a educação necessária à ascensão social e ao progresso econômico. De um ponto de vista mais amplo, os países subdesenvolvidos são impedidos de aproveitar seu melhor recurso, o humano. No estágio atual da globalização econômica e transformações tecnológicas, os trabalhadores menos qualificados têm sido os mais afetados pelo desemprego, e a tendência é de que as inovações dos 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 17 processos de produção os afastem ainda mais do mercado de trabalho. O baixo investimento na formação educacional dos jovens, que ainda por algumas décadas constituirão a parcela maior da população do planeta, aponta questões difíceis de serem resolvidas a curto e a médio prazos. A Questão Etária nos Países Desenvolvidos Nos países desenvolvidos o crescimento da população que não trabalha decorre basicamente do aumento da população idosa, pois as baixas taxas de fecundidade não contribuem para a formação de um grupo etário numeroso. Enquanto a média mundial de fecundidade da mulher situa-se em torno de 2,6 filhos, nos países desenvolvidos é de 1,5 e nos países subdesenvolvidos é de 2,8 filhos. Para que um país mantenha a sua população em volume constante é preciso que a taxa seja de 2 filhos para cada mulher, necessária para a reposição da população que morre. O processo de aumento na participação dos idosos no conjunto total da população é denominado envelhecimento da população, o qual obriga os países desenvolvidos (cuja população com mais de 65 anos, a maioria fora do mercado de trabalho, é superior à 15% da população total) a destinarem um volume crescente de recursos ao sistema de previdência. No Japão, na Itália, Alemanha e Grécia, por exemplo, 1 em cada 5 pessoas tem mais de 65 anos de idade. Nos países classificados pela ONU como “emergentes”, caso do Brasil, a situação também é preocupante. Nesses países, embora o índice de crescimento populacional venha diminuindo (e, consequentemente, o número de jovens), o índice da população idosa vem aumentando. Envelhecimento Populacional e Previdência Social A questão da previdência social pode, segundo alguns economistas – sobretudo os de orientação neoliberal -, acarretar consequências negativas para os orçamentos dos governos e ter repercussões também ruins no mercado financeiro mundial quando o número da população idosa for bem superior ao de contribuintes inseridos no mercado de trabalho. Esse problema ameaça tanto os paísesdesenvolvidos quanto os subdesenvolvidos, nos quais é ainda mais grave. É o que ocorreu com o Brasil no começo deste século. Os países desenvolvidos enriqueceram e depois “envelheceram”, mas alguns países subdesenvolvidos estão “envelhecendo” antes de enriquecerem. Se, por um lado, a elevação da expectativa de vida prolongou o tempo de recebimento dos benefícios da aposentadoria, por outro lado, a redução da fecundidade provocará, a médio e longo prazos, a diminuição do número de contribuintes ao sistema previdenciário. Distribuição da População por Sexo Há pouco mais de um século havia equilíbrio entre o número de homens e o de mulheres na composição da população mundial. Porém, desde o final do século XIX, os recenseamentos vêm acusando um aumento progressivo no número de mulheres. Ocorre que até o século XIX as principais causas de mortalidade eram as doenças infectocontagiosas, que atingiam proporcionalmente homens e mulheres. A partir do século XX, gradativamente, aumenta o número de mortes resultantes de doenças cardiovasculares, que afetam especialmente os homens. Assim, há um número um pouco maior de mulheres na faixa etária dos idosos. Naquela época, o IBGE registrou uma expectativa de média de vida de 71 anos, no Brasil. Para os homens era de 67,3 anos, enquanto a das mulheres chegava a 74,9. Atualmente, a média está entre 75,2 anos, no geral. No caso brasileiro influi significativamente o fato de que os homens são as principais vítimas da violência. Os homicídios e acidentes atingem principalmente os homens na faixa de idade entre 15 e 35 anos. A alteração do papel da mulher na sociedade, ao mesmo tempo que representa uma conquista, tem elevado a taxa de estresse da população feminina. São comuns, também, os casos em que mulheres separadas são obrigadas a assumir sozinhas a responsabilidade de cuidar dos filhos e garantir os custos de subsistência e de formação. Os países ou regiões que atraem imigrantes apresentam um predomínio da população masculina. Ocorre o contrário nos países ou regiões de emigração, onde há predomínio de mulheres. No caso brasileiro, esse fator manifesta-se por um número superior de população feminina e mesmo de mulheres “chefes de família” na região Nordeste, devido à emigração da população masculina para outras regiões. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 18 ASPECTOS DA POPULAÇÃO BRASILEIRA2 A população do Brasil foi formada após a ocupação portuguesa, principalmente de povos nativos ou indígenas, africanos e europeus. Nesse período, a maior parte dos africanos tinha origem etnolinguística banto e ioruba, enquanto os europeus eram oriundos especialmente de Portugal, mas, em menor número, também da França, dos Países Baixos, do Reino Unido, entre outros. Desde meados do século XIX até os dias atuais, a população brasileira teve influência de variados povos que imigraram em épocas diferentes para o país em busca de melhores condições de vida. São exemplos os europeus, como italianos, espanhóis, alemães e poloneses; os asiáticos vindos do Japão, da Coreia do Sul e de países do Oriente Médio; os latino-americanos vindos principalmente da Bolívia, do Chile e do Haiti; além dos africanos de distintas nacionalidades, como moçambicanos, guineenses, angolanos e cabo-verdianos. Primeiros Habitantes A quantidade de indígenas que ocupava o que é hoje o território brasileiro antes da chegada dos portugueses ainda não é consenso entre os pesquisadores. As etnias com maiores populações e que ocupavam as maiores extensões territoriais eram a jê e a tupi-guarani. É inquestionável, entretanto, que, de 1500 aos dias atuais, os indígenas sofreram intenso genocídio. No passado, as causas principais foram as doenças trazidas pelos europeus, para as quais os nativos não tinham imunidade, e os conflitos com os colonizadores. Havia ainda as guerras entre diferentes nações indígenas, que se intensificavam quando alguns grupos fugiam das regiões ocupadas pelos europeus em direção a terras de outros povos, ou quando alguns grupos se aliavam militarmente a portugueses, franceses e holandeses para lutar contra nações inimigas. Muitos povos também sofreram etnocídio3, pois passaram a adotar hábitos dos colonizadores, como falar outra língua, professar uma nova religião e alterar o próprio modo de vida, como a vestimenta e a alimentação. De acordo com a Funai e o Censo demográfico do IBGE, em 2010, a população de origem indígena estava reduzida a 817 mil indivíduos (0,4% da população total do país), distribuídos entre 505 terras indígenas e algumas áreas urbanas e concentrados principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Essas estimativas revelaram também que há pelo menos 107 referências de grupos isolados, isto é, que não estabeleceram contanto com a sociedade brasileira. Somente a partir da metade do século passado verificou-se uma tendência de aumento desse contingente, principalmente em razão da demarcação de terras indígenas que em 2018 ocupavam 12,5% do território brasileiro. A Constituição Federal assegura aos indígenas o direito à terra: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Apesar disso, a invasão de terras indígenas é uma realidade que esses povos continuam enfrentando até os dias atuais. Em 2010, 39% dos indígenas viviam em áreas urbanas e 61%, na zona rural. A taxa de crescimento da população indígena, de 3,5% ao ano, era bem superior à média da população não indígena, de 0,8%. Entre as 305 etnias existentes no país, os Yanomami ocupavam a terra indígena mais populosa, com 25,7 mil habitantes, distribuídos entre os estados do Amazonas e de Roraima. A etnia ticuna (AM) é a mais numerosa, com 46 mil pessoas distribuídas por várias terras esparsas, seguida dos Guarani Kaiowá (MS), com 43 mil membros. Os grupos indígenas isolados não foram contabilizados no Censo 2010 em razão da política de preservação cultural. 2 SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018. 3 Etnocídio é a destruição da cultura de um povo. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 19 Povos Indígenas: Condições de Vida Brasil: Terras Indígenas 2017/2018 http://brasildebate.com.br/demarcacao-e-disputa-pelas-terras-indigenas/ A criação de parques e terras indígenas, onde ficam asseguradas as condições de vida em comunidade dos povos nativos, constitui o reconhecimento do direito de existência de culturas distintas, com valores e costumes próprios. O princípio que embasa a demarcação dessas terras é o fato de que os indígenas foram os primeiros habitantes desse território. Esse tipo de garantia é importante por causa da visão de mundo de diversas nações indígenas. A terra é considerada a base do grupo por ser o lugar onde reproduzem a cultura, desenvolvem sua organização social e jazem seus ancestrais. Formação da População Brasileira Desde o século XVI, início da colonização, os portugueses foram se fixando no Brasil. Entre 1532 e 1850, os africanos foram trazidos forçadamente para o território brasileiro. Depois de 1870, a imigração de europeus, asiáticos e latino-americanos foi ampliada e, com isso, o país foi sendo povoado e novas famílias se formaram. Os descendentes de todos esses povos compõem o povo brasileiro atual. Como a População Brasileira se Identifica Segundo o IBGE, o percentual de pessoas que se consideram brancas tem caído e o número das que se consideram pretas caiu de 1950 a 1980 e voltou a aumentar em 2010. Já a auto identificação como parda está crescendo desde a década de 1950. Isso pode indicar que o processo de aceitaçãoe de valorização da identificação afrodescendente da população brasileira tem se ampliado nas últimas décadas. Os dados levantados pelo IBGE refletem a forma como as pessoas se identificam. Nem sempre os pardos se declararam como tal, havendo muitos que se declaravam como brancos. Além disso, o Censo 2010 foi o primeiro a oferecer a opção “indígena” como auto identificador. Existem ainda muitas pessoas que, por particularidades culturais, não se identificam com nenhuma das cindo opções oferecidas para enquadramento da resposta (branca, preta, amarela, parda e indígena). A espécie humana é única, não existem raças. O conceito de raça (além do de cor, que seria expressão fenotípica de um indivíduo), como aparece nas pesquisas e relatórios do IBGE, não tem embasamento biológico; ele corresponde a uma construção social ao longo da história. Imigração Internacional (Forçada e Livre) Como a Coroa portuguesa não fazia registros oficiais do tráfico de pessoas escravizadas, não existem dados precisos sobre o número de africanos que ingressaram no Brasil, quais foram os anos de maior fluxo, por qual porto entraram e de que lugar da África vieram. Segundo estimativas, ingressaram no país pelo menos 4 milhões de africanos entre 1550 e 1850, a maioria proveniente do golfo de Benin e das 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 20 regiões que atualmente compreendem os territórios de Angola (ao sul do continente, costa ocidental) e Moçambique (também ao sul, costa oriental). A participação brasileira no total de escravizados por destino mundial é muito grande, o mesmo ocorrendo com o Rio de Janeiro e São Paulo em relação à quantidade de escravizados para o Brasil. Entre as correntes migratórias livres a mais importante foi a portuguesa, que se estendeu até os anos 1980 e voltou a acontecer depois da crise econômica mundial iniciada em 2008, com a vinda de profissionais qualificados em busca de empego. Além de serem numericamente mais significativos, os imigrantes portugueses espalharam-se por todo o território nacional. Até 1883, a segunda maior corrente de imigrantes livres foi a italiana, que nessa época se dirigiu aos cafezais do Sudeste; a terceira, a alemã, que se concentrou no Sul, em colônias; e a quarta, a espanhola, que se dirigiu a várias cidades do Sudeste e Sul do país. A partir de 1850, a expansão dos cafezais pelo Sudeste e a necessidade de efetiva colonização da região Sul levaram o governo brasileiro a criar medidas de incentivo à vinda de imigrantes europeus para substituir a mão de obra escravizada. Algumas das medidas adotadas e divulgadas na Europa foram o financiamento da passagem e a suposta garantia de emprego, com moradia, alimentação e pagamento anual de salários. Embora atraente, essa propaganda governamental revelou-se enganosa e escondia uma realidade perversa: a escravidão por dívida. A saída do imigrante da fazenda somente seria permitida quando a dívida fosse quitada. Como não tinha condições de pagar o que devia, ele ficava aprisionado no latifúndio, vigiado por capangas. Essa prática, de escravidão por dívida, é comum até hoje em vários estados do Brasil, sobretudo na região Norte. Além dos cafezais da região Sudeste, outra grande área de atração de imigrantes europeus, com destaque para portugueses, italianos e alemães, foi o Sul do país. Nessa região, os imigrantes ganhavam a propriedade da terra, onde fundaram colônias de povoamento. Os espanhóis não fundaram colônias; em vez disso espalharam-se pelos grandes centros urbanos de todo o Centro-Sul brasileiro, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1908, aportou em Santos a primeira embarcação trazendo colonos japoneses. O destino de quase todos foram as lavouras de café do oeste do estado de São Paulo e do norte do Paraná; alguns se instalaram no vale do Ribeira (SP) e ao redor de Belém (PA). Da década de 1980 até 2008/2009, porém, alguns descendentes de japoneses passaram a fazer o caminho inverso de seus ancestrais, emigrando em direção ao Japão como trabalhadores, e a ocupar postos de trabalho menos procurados por cidadãos japoneses, geralmente em linhas de produção industrial. Essas pessoas são conhecidas como decasséguis (do japonês deru, “sair”, e kasegu, “para trabalhar”). Com a crise econômica mundial que se iniciou em 2008 e o aumento do desemprego no Japão, esse fluxo se estagnou, e muitos decasséguis retornaram ao Brasil. As correntes imigratórias de menor expressão numérica incluem judeus, espalhados pelo Brasil e oriundos de diversos países, principalmente europeus; árabes, sírios e libaneses, também distribuídos pelo país; chineses e coreanos, mais concentrados em São Paulo; eslavos, sobretudo poloneses, lituanos e russos, mais concentrados em Curitiba e outras cidades paranaenses. Há também sul-americanos, com argentinos, uruguaios, paraguaios, bolivianos, venezuelanos e chilenos, a maioria na Grande São Paulo; e haitianos e pessoas de vários países africanos, com destaque para Angola, Cabo Verde e Nigéria. Migração (Movimentos Internos) Segundo dados do IBGE, em 2015, 38% dos habitantes do Brasil não eram naturais do município em que moravam, e cerca de 15% deles não eram procedentes da unidade da federação em que viviam. Esses dados revelam que predominam os movimentos migratórios dentro do estado de origem. Atualmente há um crescimento dos fluxos urbano-urbano e intrametropolitano, isto é, aumenta o número de pessoas que migram de uma cidade para outra no mesmo estado ou em determinada região metropolitana em busca de melhores condições de vida. Analisando a história brasileira, percebemos que, desde o século XVI, os movimentos migratórios estão associados a fatores econômicos. Quando o ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste decaiu, por exemplo, se intensificou o do ouro em Minas Gerais, e muitas pessoas foram atraídas para este estado. Esses grandes deslocamentos provocam um intenso processo de urbanização na nova centralidade econômica do país. Mais tarde, com o ciclo do café e o processo de industrialização, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro se tornou o grande polo de atração de migrantes, que saíam da região de origem em busca de emprego ou de melhores salários. Somente a partir da década de 1970, por causa do processo de desconcentração da atividade industrial e da criação de políticas públicas de incentivo à ocupação das regiões Norte e Centro-Oeste, a migração para o Sudeste começou a apresentar significativa queda. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 21 Se determinada região do país começa a receber investimentos produtivos, públicos ou privados, que aumentam a oferta de emprego, em pouco tempo ela se torna polo de atração de pessoas. É o que acontece atualmente com os municípios de médio porte em vária regiões do país. Municípios médios e grandes do interior do Estado de São Paulo, como Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Sorocaba e São José do Rio Preto, e alguns menores apresentam índices de crescimento econômico maiores do que os da capital, o que gera atração populacional. Isso de deve ao desenvolvimento dos sistemas de transporte, energia e telecomunicações. Emigração Os movimentos de população sempre estão associados a fatores de repulsão e de atração e, muitas vezes, os emigrantes saem contrariados de seu país de origem. A partir da década de 1980, o fluxo imigratório do Brasil começou a se tornar negativo, ou seja, o número de emigrantes tornou-se maior do que o de imigrantes. Do início da década de 1980 até a crise mundial que começou em 2008, muitos brasileiros se mudaram para Estados Unidos, Japão e países da Europa (sobretudo Portugal, Reino Unido, Espanha e França), entre outros destinos, em busca de melhores condições de vida. Os principais motivos para a evasão eram os salários muito baixos pagos no Brasil, comparados aos desses países, e os índices
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