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Comércio Exterior W B A 0 5 3 3 _ V 1. 2 2/230 Comércio Exterior Autoria: Eline Fernanda de Santana Como citar este documento: SANTANA, Eline Fernanda de. Comércio Exterior. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Fatores Econômicos para o Comércio Internacional 04 Unidade 2: Teorias Básicas do Comércio Exterior 31 Unidade 3: Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais 60 Unidade 4: Órgãos Reguladores do Comércio Internacional 89 Unidade 5: Sistema de Solução de Controvérsias da OMC 118 Unidade 6: O Balanço de Pagamentos 146 Unidade 7: Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) e Incoterms 172 Unidade 8: Principais Fontes de Dados sobre Comércio Exterior 203 2/230 3/230 Apresentação da Disciplina Ao iniciar o estudo acerca de um determina- do assunto, é necessário que sejam lança- das as bases de compreensão do objeto da análise, para que assim fique assegurado que conceitos mais complexos sejam pos- teriormente observados e percebidos cor- retamente. Esta disciplina tem a função de introduzir a discussão a respeito do Comércio Exteri- or, abordando os fundamentos necessários para compreensão de sua existência, com- plexibilidade e extensão. Por meio desta disciplina, você com- preenderá as razões econômicas para a ex- istência do comércio internacional, como as teorias das vantagens competitivas e das economias de escalas. A partir das te- orias econômicas essências para o comér- cio entre nações, perceberá como os fatores econômicos, culturais e políticos influen- ciam no comércio internacional. Também conhecerá conceitos básicos relacionados à operacionalização das atividades de expor- tação e importação, assim como os princi- pais reguladores do comércio internacional. O alicerce conceitual fornecido por meio de- sta disciplina será essencial para que você progrida no conhecimento e compreensão de temas mais complexos relacionados ao Comércio Exterior. As portas que se abrirão em sua mente, por meio da compreensão dos fundamentos do Comércio Exterior, incitarão sua curiosidade e seu interesse por esse tema que interliga nações, culturas e pessoas, promove mu- danças estruturais na organização das em- presas e movimenta milhares de milhões de dólares anualmente. 4/230 Unidade 1 Fatores Econômicos para o Comércio Internacional Objetivos 1. Apresentar os principais fatores eco- nômicos que influenciam na existên- cia do comércio internacional. 2. Entender os conceitos de economia de escala e concorrência imperfeita. 3. Conhecer o que é a prática de dum- ping e entender suas implicações no comércio internacional. 4. Compreender como os aspectos eco- nômicos de economia de escala e concorrência monopolística se corre- lacionam para criar ambientes favo- ráveis ao comércio internacional. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional5/230 Introdução Ao estudar o tema Comércio Exterior é ne- cessário que, inicialmente, você compreen- da o que leva as nações a vislumbrarem o comércio internacional como benéfico. Em suma, os principais motivos que levam ao engajamento no comércio internacional são de caráter econômico. As nações se re- lacionam porque não conseguem produzir, dentro de suas fronteiras, todos os bens e serviços que são necessários para o bom funcionamento de sua economia, ou se os produzem, talvez não o faça com a eficiên- cia e baixo custo que outros países podem fazer. Ao estudar as teorias econômicas que expli- cam as razões para a existência do comércio internacional, você se deparará com duas principais explicações: vantagens compa- rativas e economia de escala. Esta aula apresentará o conceito de econo- mia de escala e esclarecerá como esse con- ceito está intimamente relacionado à exis- tência do comércio internacional. Durante este módulo, você compreenderá o que é o conceito de economia de escala, seus tipos e suas implicações no comér- cio internacional por meio da concorrência monopolística e da prática do dumping. A teoria das vantagens comparativas será abordada na próxima aula. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional6/230 1. Economias de Escalas Para compreender o conceito econômico de economia de escala é necessário enten- der como a Economia interpreta o ambiente produtivo das empresas. Ao se analisar um ambiente produtivo a par- tir da perspectiva econômica, você se depa- rará com três possibilidades: rendimentos constantes, crescentes ou decrescentes. A perspectiva de rendimentos constante, utilizada para compreender o conceito de vantagens comparativas, considera que a produção de uma determinada empresa é diretamente proporcional à quantidade de insumos utilizada, por exemplo, se a empre- sa dobra a quantidade de horas de trabalho em seu processo produtivo, espera-se que a quantidade de mercadorias produzidas também seja o dobro, ou seja, o custo médio de produção não se altere com o aumento da quantidade de insumos. Já a perspectiva de rendimentos crescen- tes, também conhecida como economia de escala, considera que ao se ampliar a pro- dução por meio da utilização do dobro de insumos a empresa terá um ganho de pro- dutividade e sua produção será ampliada em mais que o dobro, gerando assim uma redução do custo de produção. Por fim, a perspectiva de rendimentos de- crescentes afirma que aumentando a quan- tidade de um dos insumos, e mantendo os demais inalterados, a produção inicialmen- te aumentará. No entanto, após a utilização de uma certa quantidade desses insumos, a produção crescerá a níveis cada vez meno- res, até atingir taxas decrescentes. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional7/230 Como exemplo desse cenário, pode-se citar a utilização de terra e mão de obra na produ- ção de um determinado alimento. Manten- do-se o insumo terra e aumentando gradu- almente a mão de obra, tem-se, inicialmen- te, um aumento da produção. Contudo, se o insumo mão de obra continuar aumentando e os níveis de insumo terra forem mantidos nos mesmos patamares, a produtividade média da mão de obra e a produção total cairão. Utilizando ainda o exemplo anterior, na eco- nomia de escala, espera-se que ao dobrar a quantidade de horas de trabalho a empre- sa mais que dobre a quantidade de unida- des produzidas, dada uma maior eficiência produtiva, ou seja, quanto maior for a pro- dução, menor será a necessidade de horas de trabalho, gerando assim um menor custo médio de produção. Um exemplo numérico pode ajudá-lo a me- lhor compreender esse conceito. Imagine que uma determina empresa de pneus pro- duza 10 pneus a cada 1 hora trabalhada, já para se produzir 20 pneus são necessárias 1,5 horas de trabalho, ou seja, graças aos ganhos de produtividade, é possível pro- duzir o dobro de pneus com menos que o dobro das horas trabalhadas, consequen- temente, o custo de produção das 20 uni- dades será menor que das 10 unidades, pois no segundo momento requereu menos ho- ras trabalhadas. Ou seja, quanto maior for a produção, menor será o custo de produção e maiores os ganhos de escala. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional8/230 1.1 Economias de escala internas e externas Na economia de escala, utilizar-se-á menos insumos quanto maior for a quantidade produzida. Nesse contexto, é relevante considerar o que gerou o aumento de produção, se as empresas sim- plesmente passaram a produzir mais ou se houve um aumento de empresas produtoras naquele setor específico. Para analisar o que gerou a redução do custo médio de produção numa economia de escala, deve-se entender o que gerou tal redução. Partindo dessa perspectiva, as economias de escala podem ser classificadas como internas ou externas. Segundo Krugman (2001 p. 127): as economias de escala externas ocorrem quando o custo por unidade depen- de do tamanho da indústria, mas não necessariamente do tamanho de qualquer firma (empresa). Já as economias de escala internas ocorrem quandoo custo por unidade depende do tamanho de uma firma individual (empresa), mas não ne- cessariamente de toda a indústria. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional9/230 1.2 Economias de escala e o co- mércio internacional Agora que você já compreende o conceito de economia de escala, poderá entender também como esse conceito influencia o comércio entre as nações. Imagine o mesmo exemplo hipotético dos pneus aplicados a dois países, Brasil e Ar- gentina. Ambos teriam a mesma capacida- de produtiva, 10 pneus por 1 hora trabalha- da. Em escala mundial, para termos 20 pneus fabricados, seriam necessárias duas horas de trabalho, 1 hora no Brasil e 1 hora na Argentina. Se apenas o Brasil se dedicasse à fabricação dos mesmos 20 pneus, ele in- vestiria apenas 1,5 horas de trabalho para Para saber mais Paul Robin Krugman é um destacado economis- ta americano, vencedor do Nobel de Economia de 2008 e professor de Economia e Assuntos Inter- nacionais na Universidade de Princeton, nos Es- tados Unidos. Krugman é reconhecido internacionalmente por seu trabalho nas áreas de Comércio internacional e Finanças, como cofundador da “Nova teoria do Comércio” que repensa o funcionamento do Co- mércio Internacional. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional10/230 atender essa demanda, ou seja, teria um menor custo médio de produção. Isso repre- sentaria um ganho para ambos países, que poderiam obter os pneus a preços mais bai- xos em seus mercados, e a Argentina pode- ria investir o capital e trabalho que investiria na fabricação de pneus em outros produtos que o Brasil não é competitivo. Compreende-se, então, que para obter van- tagens das economias de escalas a nível do comércio internacional é necessário que os países se concentrem na produção de um número limitado de bens, e que, por meio do comércio com demais nações, obtenha a variedade de produtos e serviços que ne- cessita para o funcionamento de sua eco- nomia. De acordo com Krugman (2001), a economia de escala permite que cada país se especia- lize na produção de uma variedade limitada de produtos, o que possibilita produzir es- ses bens mais eficientemente do que se o país tentasse produzir por si mesmo, e a fim de atender à necessidade de variedades de produtos no mercado, essas economias co- mercializam entre si. 2. Economias de Escalas Interna Como estudado no início desta aula, as eco- nomias de escala interna são aquelas em que a redução do custo de produção depen- de do tamanho da empresa. A fim de compreender melhor o conceito de economias de escala interna e seus efeitos, é necessário que você compreenda Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional11/230 também como as empresas se organizam no mercado quanto a sua estrutura. 2.1 Estruturas de mercado Ao analisar as estruturas de mercado, você encontrará, simplificadamente, duas situa- ções: 1. Concorrência pura ou perfeita: um mercado altamente competitivo, onde há grande quantidade de comprado- res e vendedores e nenhum deles é significativamente grande ao ponto de influenciar os níveis de oferta do mercado e o preço de vendas. Nesse contexto, as empresas são denomina- das como tomadoras de preços. 2. Concorrência imperfeita: um merca- do em que poucas empresas produ- zem um determinado bem, e dentro desse contexto uma dessas empresas decide aumentar sua produção, isso implicará em uma consequente redu- Para saber mais Empresas tomadoras de preços (price takers) são aquelas que quando atuam num mercado com vários concorrentes estão sujeitas aos preços re- sultantes das curvas de oferta e demanda do pro- duto, ou seja, são definidos pelo mercado e a em- presa não tem influência suficiente para alterar essas variáveis. Um exemplo de tomadoras de preços são os mer- cados de produtos hortifrutigranjeiros. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional12/230 ção de preços, nesse caso as empre- sas são denominas como formadoras de preços. Quando as empresas não são tomadoras de preços, existem outros mecanismos que de- terminam como elas decidirão seus preços e quantidades a serem produzidas, e esses mecanismos dependerão da classificação que as empresas possuem quanto a sua es- trutura de mercado, e podem se organizar como monopólios, oligopólios ou concor- rência monopolísticas. 2.2 Concorrência Monopolísti- ca e o Comércio Internacional No ambiente do comércio internacional, a estrutura de concorrência monopolística tem seu destaque. Ela se diferencia do mo- nopólio por não ser constituída por uma úni- ca empresa, mas um conjunto de empresas que atuam no mesmo ramo, mas apresen- tam produtos diferenciados; e se diferencia ainda do oligopólio por não apresentar uma política de preços interdependentes, mas segue uma política de preços que ignora o impacto de seu próprio preço sobre o preço de seus concorrentes. Esse modelo então assume que mesmo competindo com demais concorrentes em um determinado mercado, a empresa ainda se comporta como uma monopolista, por isso o modelo leva o nome de concorrên- cia monopolística. De acordo com Krugman (2001, p. 137): Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional13/230 Subordinada à aplicação do modelo de concorrência monopolística está a ideia de que o comércio aumenta o tamanho do mercado. Nas indústrias em que exis- tem economias de escala, tanto a variedade dos bens que um país pode produ- zir como a escala de sua produção são restringidas pelo tamanho do mercado. Comercializando entre si e, portanto, formando um mercado mundial integrado que é maior que qualquer mercado nacional individual, os países estão aptos a livrar-se dessas restrições. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional14/230 Vê-se, portanto, que o modelo de concor- rência monopolística pode ser utilizado para demonstrar como o comércio melhora a opção entre escala e variedade que os pa- íses individualmente possuem. 2.3 Dumping Uma das consequências dos mercados de concorrência imperfeita para o comércio internacional é a discriminação de preços, através da prática do dumping. De forma geral, o dumping ocorre quando uma empresa cobra pelos produtos expor- tados um preço inferior ao que é praticado em seu mercado doméstico. Muitas vezes, também é necessária uma análise mais de- talhada, envolvendo custos e outros fato- res para determinar qual seria o preço ade- quado (denominado de valor normal) deste produto no mercado exportador e, poste- riormente, no mercado importador. Link O que é Dumping? Artigo da Revista de informações e debates do Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicadas traz explicações acerca do conceito de dumping e as ra- zões que levam algumas empresas à tal prática comer- cial. Deste modo, exercite sua capacidade crítica reali- zando a consulta no artigo na internet. BRASIL. WOLFFENBUTTEL, Andréia. Ipea, O que é? – Dumping. Ipeia, Brasília, 01 de jan. de 2006. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional15/230 Tal prática é utilizada no mercado interna- cional como uma estratégia de ganho de parcelas do mercado consumidor externo, já que nesse mercado reduções de preços podem gerar mais vendas que no mercado interno, onde a demanda já é mais sensível a reduções de preço, dada a menor parcela do mercado que a empresa domina interna- cionalmente em comparação à porcenta- gem do mercado local. Internacionalmente, essa prática não é vista com bons olhos, por promover um comércio desleal entre produtos nacionais e importa- dos, gerando danos às indústrias locais. O dumping e as medidas implementadas pelos países para coibir sua prática serão abordados com mais detalhes em outra aula. 3. Economias de Escala Externa Como você viu no início desta aula, quando as economias de escalas ocorrem a nível de indústrias e não de empresas individuais te- mos as chamadas economias externas. Sãofrequentes os casos em que a redução de custos de produção seja fruto da concen- Link Polo Calçadista de Franca/SP. Informações do Sin- dicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindi- franca) acerca de história do desenvolvimento de Franca como polo calçadista. Agora é a sua vez, exercite sua capacidade crítica realizando a con- sulta da história do Polo Calçadista de Franca/SP no site do referido sindicato para compreender melhor os ensinamentos explicados até aqui. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional16/230 tração de uma indústria em uma determina localização, mesmo que as empresas que compõem essa indústria sejam pequenas e não influenciem isoladamente na formação dos preços ao consumidor. Esse fenômeno dos “distritos industriais” foi objeto de estudo do economista britâni- co Alfred Marshall há mais de um século, e alguns exemplos atuais de indústrias onde nota-se o modelo de economia externas é a indústria de semicondutores, localizada na Califórnia, conhecida como Vale do Silício; a indústria de montadoras de automóveis localizada no ABC Paulista; e a indústria de calçados, concentrada na cidade de Franca/ SP. Para Marshall (apud KRUGMAN, 2001), ha- via três principais razões para um grupo de empresas ser mais eficiente do que cada uma delas isoladamente: desenvolvimento de fornecedores especializados, criação de Para saber mais ABC Paulista é uma região tradicionalmente in- dustrial do estado de São Paulo, parte da Região Metropolitana de São Paulo. A sigla vem das qua- tro cidades, que originalmente formavam a re- gião, sendo: Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C). O ABC é mar- cado historicamente por ser o primeiro centro da indústria automobilística brasileira. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional17/230 um mercado de trabalho comum e o trans- bordamento de conhecimento. 3.1 Fornecedores especializa- dos A proximidade física de empresas do mesmo ramo permite que tais empresas desenvol- vam uma rede de fornecedores que estejam preparados a atendê-las de forma rápida e a baixo custo. Um exemplo disso são os distritos industriais do ABC Paulista, onde está concentrada boa parte das montadoras de automóveis do Brasil. Nessa região também se instalaram as principais empresas produtoras de auto- peças, que são os principais fornecedores das montadoras. 3.2 Mercado de trabalho comum Uma vez que as empresas de uma mesma indústria estão geograficamente próximas, os profissionais especializados dessa indústria tenderão a estarem localizados próximos a essas empresas. Para saber mais ABC Paulista é uma região tradicionalmente in- dustrial do estado de São Paulo, parte da Região Metropolitana de São Paulo. A sigla vem das qua- tro cidades, que originalmente formavam a re- gião, sendo: Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C). O ABC é mar- cado historicamente por ser o primeiro centro da indústria automobilística brasileira. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional18/230 Um exemplo dessa realidade é a cidade de Campinas, localizada no Estado de São Pau- lo, conhecida como o Vale do Silício brasi- leiro, dada a concentração de empresas do segmento tecnológico que fez com que a cidade apresentasse vários centros de pes- quisa e desenvolvimento nas áreas tecno- lógicas, além de grandes universidades, incentivando a formação de profissionais qualificados para tal indústria, evitando as- sim a escassez de mão de obra. 3.3 Transbordamento do co- nhecimento A proximidade de empresas do mesmo ramo permite que exista uma maior troca de co- nhecimentos entre os profissionais que as compõem. Essa troca, que pode ocorrer de maneira formal ou informal, é benéfica para as empresas onde tais profissionais atuam, por incentivarem a capacidade inovadora dos profissionais e manter as empresas atu- alizadas acerca dos avanços tecnológicos em sua indústria. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional19/230 3.4 Economias externas e o co- mércio internacional Segundo Krugman (2001), as economias ex- ternas desempenham um papel importante no comércio internacional, por criar condi- ções favoráveis ao fortalecimento da indús- tria local, permitindo que ela se desenvolva e vislumbre o mercado internacional como alternativa à expansão de mercados. No entanto, as economias externas podem também fazer com que os países estejam restritos a padrões indesejáveis de especia- lização, levando a perdas no comércio in- ternacional. Em casos onde um país possui uma forte indústria local que apresenta bai- xos custos e economia de escala é provável que esse país não se abra ao comércio in- ternacional nessa área específica, por mais que outros países possam fornecer o mes- mo produto a um menor custo. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional20/230 Glossário Economias de escala: são aquelas em que o aumento na produção resulta em uma queda do custo médio de produção. Custo médio de produção: é a soma dos custos fixos e variáveis dividida pelo número de unida- des produzidas. Insumos: insumo é todo e qualquer elemento diretamente necessário em um processo de produ- ção. Nesse grupo estão os itens utilizados na fabricação do bens, desde o maquinário, a energia elétrica, até a própria mão de obra empregada. Monopólio: estrutura de mercado com uma única empresa, produto sem substitutos próximos, e em que existem barreiras à entrada de novas firmas. Oligopólio: estrutura de mercado com pequeno número de empresas que dominam o mercado, sendo que existem barreiras à entrada de novas empresas. Questão reflexão ? para 21/230 Dentro do conceito de economias de escala, foram apre- sentadas as economias externas, onde os ganhos de es- cala são resultado do trabalho da indústria que a em- presa está inserida. Além dos exemplos apresentados no texto de distritos industriais que podem ser classifi- cados como economias externas, quais outros exemplos de sua região você poderia citar? 22/230 Considerações Finais • Os países não são autossuficientes economicamente a fim de produzirem em seu território todos os produtos e serviços que são necessários para o funcionamento de sua economia. • O comércio entre países pode ser explicado por meio das teorias das vanta- gens comparativas e economia de escala. • A economia de escala, que pode ser interna ou externa, é compreendida como aquela em que o aumento de produção gerará a redução nos custos de produção, ou seja, quanto maior o volume de unidades produzidas, me- nor será o custo médio de produção. • O comércio internacional é impulsionado pela economia de escala ao in- centivar que os países especializem suas produções em áreas onde podem apresentar as vantagens em relação a demais economias, fazendo com que exportem produtos nos quais são competitivos e importem produtos nos quais sua indústria local não é competitiva em comparação ao demais países. Unidade 1 • Fatores Econômicos para o Comércio Internacional23/230 Referências ALBERGONI, L. Fundamentos de Economia. Curitiba: IESDE, 2010. 236 p. KRUGMAN, P. R. Economia Internacional - Teoria e Política. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2001. 797 p. VASCONCELLOS, M. A; GARCIA, M. E. Fundamentos da Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 246 p. 24/230 1. Em uma economia de escala, pode-se dizer que os rendimentos são: a) Constantes. b) Crescentes. c) Decrescentes. d) Instáveis. e) Nulos. Questão 1 25/230 2. Quanto ao fator que gerou o aumento de escala e provocou a redução de custos, pode-se classificar as economias de escala em: a) Concentradas ou dispersas. b) Locais ou internacionais. c) Crescentes ou decrescentes. d) Internas ou externas. e) Tomadoras ou formadoras. Questão 2 26/230 3. A economia de escala, numa perspectiva internacional, incentiva as na- ções a: a) Especializar suas produções.b) Produzir em suas fronteiras todos os bens que necessitam. c) Promover barreiras à entrada de produtos importados. d) Engajarem-se na redução de custos. e) Promover políticas de incentivo à exportação. Questão 3 27/230 4. Uma empresa exportadora realiza dumping quando: a) Seus preços de venda praticados no mercado doméstico e internacional são iguais. b) Seus preços de venda praticados no mercado doméstico são menores que no mercado inter- nacional. c) Seus preços de venda praticados no mercado doméstico são maiores que no mercado inter- nacional. d) Não há relação entre os preços e as vendas praticadas nas exportações e no mercado inter- no. e) Os preços de compra dos insumos no mercado internacional são maiores que no mercado doméstico. Questão 4 28/230 5. O Vale do Silício nos Estados Unidos, o ABC Paulista e o polo calçadista de Franca podem ser compreendidos como: a) Economias de escala interna. b) Economias de escala externa. c) Fornecedores especializados. d) Áreas de desenvolvimento econômico. e) Áreas exportadoras. Questão 5 29/230 Gabarito 1. Resposta: B. No contexto de economia de escala, os ren- dimentos são crescentes, ou seja, o aumen- to de produção será maior que o aumento de insumos utilizados. 2. Resposta: D. As economias de escalas podem ser clas- sificadas como internas (custo por unidade depende do tamanho da empresa individu- almente) ou externas (custos por unidade dependem do tamanho da indústria em que a empresa está inserida). 3. Resposta: A. A economia de escala permite que cada país se especialize na produção de uma varieda- de limitada de produtos, o que possibilita produzir esses bens mais eficientemente do que se o país tentasse produzir por si mes- mo. 4. Resposta: C. O dumping ocorre quando uma empresa cobra pelos produtos exportados um preço inferior ao que é praticado em seu mercado doméstico. 30/230 Gabarito 5. Resposta: B. P A indústria de semicondutores, localiza- da na Califórnia, conhecida como Vale do Silício; a indústria de montadoras de auto- móveis localizada no ABC Paulista; e a in- dústria de calçados, concentrada na cidade de Franca/SP são conhecidas como distri- tos industriais, e representam exemplos de economias de escalas externas. 31/230 Unidade 2 Teorias Básicas do Comércio Exterior Objetivos 1. Apresentar as principais teorias eco- nômicas clássicas que explicam a razão para a existência do Comércio Exterior. 2. Explicar as seguintes teorias sob a perspectiva do Comércio Internacio- nal: Abordagem mercantilista; Teoria das vantagens absolutas; Vantagens comparativas; e Teoria de Heckscher e Ohlin. 3. Demonstrar como a evolução do ra- ciocínio econômico contribuiu para o Comércio Internacional. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior32/230 Introdução Ao profissional que busca uma forma- ção holística e generalista não basta saber como as operações são realizadas em seu contexto atual, o mesmo deve também de- dicar-se a compreender a evolução de sua área de estudos, para que tenha a capaci- dade de analisar e criticar as mais diversas realidades. Por esse motivo, dentro dos te- mas abordados nesta disciplina de Comér- cio Exterior, você também terá contato com as teorias que explicam o desenvolvimento do comércio entre nações. A evolução do Comércio Internacional está intimamente ligada à forma como a econo- mia dos países organizou-se ao longo dos séculos. Por conta disso, para que você, es- tudante da temática do Comércio Exterior, entenda as razões da existência da prática do comércio internacional é necessário que conheça a evolução das teorias econômicas e suas perspectivas em relação às importa- ções e exportações. Nesta aula você conhecerá as principais te- orias econômicas clássicas que explicaram como os países, em suas respectivas épo- cas, enxergavam e praticavam o Comércio Internacional. Você compreenderá como o pensamento econômico evoluiu para explicar o Comér- cio Internacional, partindo da abordagem Mercantilista que vigorou do século XV ao século XVIII, passando pelas Teorias das Vantagens Absolutas e Comparativas, ela- boradas no final do século XVIII e início do século XIX, até o desenvolvimento, no sécu- lo XX, da Teoria de Heckscher e Ohlin. Esta Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior33/230 última conhecida também como teoria da dotação relativa dos fatores de produção, que se mostra atual e pode ser utilizada para compreender como os países se organizam atualmente para a efetivação do Comércio Internacional. 1. Abordagem Mercantilista O Mercantilismo, apesar de não ser consi- derado uma teoria econômica, por não ter tido um representante que organizasse me- todicamente seus princípios, trata-se do conjunto de práticas econômicas que vigo- rou na Europa entre os séculos XV e XVIII. Durante esse período, vê-se, na Europa, a constituição e o fortalecimento dos Esta- dos-nações, ou seja, os países começaram a se organizar como nações por meio das definições de fronteiras, formação de iden- tidade nacional e fortalecimento do Estado através do acúmulo de riquezas. Para os mercantilistas, a acumulação de ri- quezas necessárias para o fortalecimento do Estado ocorreria através do Comércio In- ternacional. Algumas das práticas que jus- tificam esse posicionamento foram: a busca por uma balança comercial superavitária, o protecionismo e o pacto colonial. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior34/230 Na abordagem mercantilista, os países de- veriam buscar que o comércio com outras nações fosse sempre superavitário, ou seja, o valor monetário de suas exportações fos- sem maior que o de suas importações, pois isso permitiria a geração de riquezas. Para que o superávit fosse possível, os Es- tados aplicavam medidas protecionistas, como aumento de tarifas de importação, a fim de dificultar a entrada de produtos im- portados em seus territórios. Nesse contexto, as colônias eram vistas como fontes de riquezas naturais (ouro e minério) e matérias-primas para a produ- ção fabril, além disso, por meio do pacto colonial, as metrópoles se beneficiavam dos produtos e da atividade econômica de seus territórios coloniais, já que as colônias eram obrigadas a ter relações comerciais exclusi- vas com suas metrópoles. Essa postura mercantilista de ânsia pelo aumento de exportações e redução drás- tica de importações mostra-se prejudicial ao Comércio Internacional, já que se todos Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior35/230 os países se fecharem para as importações não haverá compradores para as exporta- ções que todos almejam vender. Por compreenderem a nocividade do Mer- cantilismo para o Comércio Internacional, vários pensadores criticaram seus princí- pios, e um dos principais críticos desse mo- delo foi Adam Smith, criador da Teoria das Vantagens Absolutas que se contrapõe ao modelo Mercantilista. 2. Teoria das Vantagens Absolu- tas Como você viu no item anterior, o Mercan- tilismo enxergava o Comércio Internacional como um jogo em que não era possível que todos se beneficiassem, para um ganhar, o outro deveria perder. Essa visão foi muito criticada por aqueles que, no século XVIII, influenciados pelas ideias do Iluminismo, rompendo com o pensamento medieval e mercantilista, e discordando da forte influ- ência do Estado na economia. Para saber mais O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século XVIII na Europa, que de- fendia o uso da razão (luz) contra o antigo regi- me (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política. Esse movimento promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ide- ais de liberdade, igualdade e fraternidade. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior36/230 Adam Smith, filósofo e economista escocês, foi um dos principais combatentes da abor- dagem mercantilista. Em sua obra mais im- portante Uma investigação sobre a natureza e as causas dariqueza das nações, mais co- nhecida simplesmente como A Riqueza das Nações, publicada em 1776, Smith aborda como a economia de uma nação deveria ser conduzida, inspirado nos princípios ilumi- nistas. Suas contribuições foram tão relevantes para as ciências econômicas que o levaram a ser considerado o “pai da economia mo- derna”. Smith era crítico da intervenção do Estado na economia e acreditava que a economia deveria ser regida pelas forças de mercado, o que ele chamava de “mão invisível”. Em relação ao comércio internacional, contrá- rio aos mercantilistas e suas ações prote- cionistas, o economista defendia o livre-co- mércio. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior37/230 A fim de exteriorizar seus pensamentos eco- nômicos, Smith elaborou a teoria das van- tagens absolutas, onde, por meio de uma simplificação da realidade, demonstrou seu entendimento de como o Comércio Interna- cional pode ser benéfico para todos os en- volvidos. Para a construção de seu modelo, Smith ins- pirou-se em um caso de sua época e con- cebeu uma realidade em que haveria ape- nas dois países: Portugal e Inglaterra; e dois bens: vinho e tecido. Nesse modelo, o cus- to de um bem pode ser compreendido pela quantidade de horas de trabalho necessária para produzi-lo. A Tabela 2.1 traz um exemplo de repre- sentação numérica baseado no modelo de Smith, onde você verá que a Inglaterra dis- pende de 70 horas de trabalho para produ- zir uma unidade de tecido, enquanto Portu- gal necessita de 90 horas de trabalho para produzir a mesma quantidade desse bem. Já quanto à produção de vinho, você nota- rá que Portugal gasta 60 horas de trabalho para produzir uma garrafa de vinho e a In- glaterra investe 100 horas para apresentar a mesma produção desse bem. Para saber mais Para Adam Smith, se o Estado deixasse de intervir na Economia, haveria uma força, uma “mão invisí- vel” que regularia as atividades econômicas. Essa “mão” que Smith se referia, hoje conhecemos como “lei da oferta e procura”. Pode-se entender que essa foi uma alegoria utilizada por Smith para o sistema de formação de preços. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior38/230 Tabela 2.1| Horas necessárias para produzir tecido e vinho na Inglaterra e em Portugal Fonte: Adaptado de Tripoli e Prates (2016, p. 54). Pode-se dizer, então, por meio da análise dos dados contidos na Tabela 2.1, que Portugal é mais produtiva que a Inglaterra na produção de vinhos e a Inglaterra é mais produtiva que Portugal na produção de tecidos. Portanto, seria mais saudável para o Comércio Internacional, segun- do Adam Smith (apud TRIPOLIS; PRATES, 2016), que Portugal e Inglaterra especializassem suas produções nos bens que são mais competitivos, e abandonassem a produção dos itens que não apresentam vantagem e os obtenha por meio de importações. Outro ponto defendido por Smith é que, por meio do modelo de vantagens absolutas, perceber- -se que o livre-comércio contribui para o bem-estar da sociedade. Através da especialização das produções dos países envolvidos é possível aumentar a quantidade de bens que a população dos países terá acesso em comparação a realidade em que cada país produza. Com o exemplo numé- rico a seguir você poderá compreender mais claramente essa premissa. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior39/230 Suponha-se que Portugal e Inglaterra estejam em situação de independência e autossuficiência econômica, conhecida como autarcia, e produzam em seus territórios todos os bens que neces- sitam, dispensando assim a necessidade de bens importados. Nessa realidade, ambas nações dispõem de 15.200 horas de trabalho para produzir vinhos e tecidos, e dividem essas horas igualmente entre as produções, destinando 7.600 horas de tra- balho para cada uma das produções. Ao dividir a quantidade de horas de trabalho disponíveis diariamente pela quantidade de horas que leva para produzir uma unidade, você identificará a produção diária de vinho e tecido em cada país. Tabela 2.2| Quantidade de bens produzidos em autarcia Fonte: Adaptado de Tripoli e Prates (2016, p. 55) Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior40/230 Como você pode notar na Tabela 2.2, nesse contexto de autarcia, a produção total de vinho seria de 192 unidades de tecido e 202 unidades de vinho. Agora, na Tabela 2.3, considerando que os países se especializem na produção do bem que apre- sentam maior vantagem absoluta, ou seja, a Inglaterra foque sua produção apenas em tecido; e Portugal em vinhos, nota-se que houve um aumento na produção total de vinhos e tecidos, pro- movendo assim uma maior disponibilidade desses produtos para a população dos países consi- derados. Tabela 2.3| Quantidade de bens produzidos no livre-comércio Fonte: Adaptado de Tripoli e Prates (2016, p. 58). Assim, de acordo com o exemplo estudado, seria mais vantajoso à economia mundial que Por- tugal se especialize na produção de vinhos, e exporte tal bem para a Inglaterra, que por sua vez, especializar-se-ia na produção de tecidos e os exportaria para Portugal. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior41/230 Um ponto importante a ser considerado so- bre o modelo de Smith é que ele se aplica somente num contexto onde um país pos- sui vantagens em um bem, e outro país em outro bem, ou seja, ele não considera a possibilidade de um país ser mais efi- ciente na produção de todos os bens. Essa defasagem foi considerada pelo eco- nomista David Ricardo quando desenvolveu sua teoria das vantagens comparativas, que pode ser considerada como um aprimora- mento da teoria das vantagens absolutas criada por Adam Smith. 3. Teoria das Vantagens Compa- rativas Ao lado de Adam Smith, David Ricardo é considerado um dos economistas clássicos mais influentes. Sua principal contribuição para as teorias do comércio internacional foi a elaboração da teoria das vantagens comparativas. Ricardo reafirma a importância da especia- lização para o sucesso do comércio interna- cional, já que será ela que permitirá que os países alcancem altos padrões de eficiência. Por meio de sua teoria das vantagens com- parativas, formulada em 1817, o economis- ta afirma que ainda que se um país tivesse o custo de produção mais baixo para to- dos os bens que produz em relação aos Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior42/230 demais países, o comércio internacional ainda seria vantajoso, desde que as produtividades de cada um fossem relativamente diferentes. No exemplo construído por -David Ricardo, assim como no de Smith, existem dois países, dois produtos e apenas um fator de produção (mão de obra) que podem ser visualizados graficamen- te na Tabela 2.4. Tabela 2.4| Quantidade de horas para a produção de uma unidade de mercadoria Fonte: Adaptado de Tripoli e Prates (2016, p. 62). Ao analisar os dados da Tabela 2.4, você notará que, em termos absolutos, Portugal é mais pro- dutivo na produção de ambas mercadorias, o que nos levaria a concluir, pelo modelo de Smith, não ser possível o comércio entre esses dois países. No entanto, se você analisar mais atentamente os dados, notará que, em termos relativos, o custo de produção de tecidos em Portugal é maior que o da produção de vinhos, e que na Ingla- Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior43/230 terra o custo de produção de vinho é maior que a produção de tecidos. Pode-se dizer então, que comparativamente, Portugal tem vantagem relativa para produção de vinho, e a Inglaterra na produção de tecidos. Os benefícios desse modelo podem ser percebidos quando se observa uma situação sem e com comércio internacional, conforme observa Vasconcellos e Garcia (2005, p. 164): Percebe-se, então, que para se compreender a teoria das vantagens comparativas temos que, inicialmente, entender o conceito de custo de oportunidade. Portanto, é necessário identificar quantas unidades de um produto A (nesse exemplo, o vinho) um país teria que deixar de produzir para passar a produziro produto B (nesse caso, o tecido). Sem comércio internacional, na Inglaterra são necessárias 100 horas de trabalho para a produção de 1 unidade de tecido e 120 horas para a produção de 1 unida- de de vinho. Desse modo, 1 unidade de vinho deve custar 1,2 unidade de tecido (120/100). Por outro lado, em Portugal, essa unidade de vinho custará 0,89 uni- dade de tecido (80/90). Se houver comércio entre os países, a Inglaterra poderá importar 1 unidade de vinho por um preço inferior a 1,2 unidade de tecido, e Por- tugal poderá comprar mais que 0,89 unidade de tecido vendendo o seu vinho. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior44/230 A partir do exemplo de Vasconcellos e Gar- cia (2005) entende-se que os países devem se especializar na produção dos bens cujo custo for comparativamente menor em re- lação àqueles existentes, para os mesmos bens, nos demais países exportadores, ou seja, onde apresentar menor custo de opor- tunidade. Portanto, a Inglaterra deverá se especializar na produção de tecidos, exportando-os e importando vinho de Portugal, que, por sua vez, se especializou vinhos e passou a im- portar tecidos da Inglaterra. A principal crítica à teoria ricardiana das vantagens comparativas é que ela consi- dera apenas um fator de produção, que é o trabalho, é a partir dessa crítica que sur- ge a teoria de dotação relativa dos fatores de produção, desenvolvida por Heckscher e Ohlin. Link Consulte o artigo para compreender o a impor- tância do valor agregado que o EVA (Economic Value Added) possui dentro das empresas. Nas páginas 1 a 6 do artigo o autor define o con- ceito de custo de oportunidade a luz de vários autores e exemplos: DENARDIN, Anderson Antonio. A Importância do Custo de Oportunidade para a Avaliação de empreendimentos baseados na criação de valor econômico (Economic Value Added - EVA). Con- Texto, Porto Alegre, v. 4, n. 6, 1º semestre 2004. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior45/230 4. Teoria da Dotação Relativa dos Fatores de Produção O mundo está em constante evolução e transformação em suas relações sociais, políticas e econômicas, por conta disso, te- orias que se encaixavam na realidade dos séculos XVIII e XIX podem não se aplicar completamente a realidade existente a par- tir do século XX. Nota-se essa inadequação de realidades quando buscamos aplicar a teoria de Ricar- do à realidade do século XX, quando se con- sidera que para produção de um determi- nado bem se faz necessário um único fator de produção: o trabalho. Na época de Ricardo a economia baseava-se na produção advinda da agricultura e das manufaturas, onde realmente se aplicava o Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior46/230 trabalho como fator de produção, mas com a evolução das indústrias de transformação essa realidade foi alterada, e a produção passou a incluir outros fatores além do tra- balho, como o capital e os recursos naturais (terra). Essa alteração de cenário levou à necessi- dade de reformulação da teoria das vanta- gens comparativas, e esse trabalho foi rea- lizado por Eli Heckscher e Bertil Ohlin, que em 1933 apresentaram seu modelo que in- cluía um segundo fator de produção à teoria das vantagens comparativas. Esse modelo é conhecido como 2 x 2 x 2, já que considera dois países que produzem dois bens utili- zando dois fatores de produção. Esses fa- tores de produção podem ser a combinação de duas das três opções consideradas como existentes pela teoria: o trabalho, o capital e a terra. O conceito central da teoria apresentada por Heckscher e Ohlin é que, em um am- biente de livre-comércio cada país se es- pecializará na produção do bem que requer a utilização mais intensiva do seu fator de produção abundante. Para saber mais Bertil Gotthard Ohlin foi um importante econo- mista e político sueco que viveu entre os anos de 1899 e 1979. Foi reconhecido com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1977, por sua contribuição pioneira para a teoria do comércio internacional e da movimentação internacional de capitais. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior47/230 É importante destacar que o cenário con- siderado para desenvolvimento dessa teo- ria foi o de concorrência perfeita e que não existem diferenças entre as funções de pro- dução, ou seja, tecnologia, entre os países analisados. Os custos de transporte e po- líticas que restringem a movimentação de bens também não são considerados. Nota-se, portanto, que um ponto relevante agora é o fator de produção mais abundan- te no país. Nessa equação, consideram-se como fatores de produção: o trabalho, o ca- pital e a terra. Analisando alguns países quanto ao fator de produção que lhe é abundante, pode-se concluir que o Brasil, México e Argentina possuem abundância no fator terra, dada sua extensão territorial, condições climáti- cas e recursos naturais, já a China e a Índia seriam exemplos de abundância do fator trabalho, graças a suas grandes populações. Alemanha e Japão seriam países que se en- caixariam em abundância de capital. Uma vez conhecendo o fator de produção, que é abundante no país, é necessário tam- bém analisar se o bem em questão é inten- sivo no fator de produção abundante, ou seja, demanda grande quantidade desse fa- tor em sua produção. Um exemplo da aplicação da teoria da do- tação relativa dos fatores de produção é a especialização do Brasil na produção e ex- portação de soja e a especialização dos EUA na produção e exportação de processadores para eletrônicos. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior48/230 O Brasil é um país que possui ampla exten- são territorial, ou seja, seu fator de produção abundante é a terra, e a produção de soja demanda uma grande extensão de áreas cultiváveis, ou seja, o bem (soja) em questão é intensivo no fator de produção abundan- te (terra). Já os Estados Unidos são um país com abundância de capital e as indústrias de tecnologia demandam grande investi- mento de capital, temos, portanto, um bem (processadores) que é intensivo no fator de produção abundante do país (capital). Visando confirmar as premissas da teoria de Hechscher e Ohlin, o economista russo, naturalizado estadunidense, Wassily Leon- tief realizou uma série de testes empíricos sobre o comércio internacional dos EUA, por meio da análise de dados de importações e exportações do ano de 1947. Leontief obteve um resultado oposto ao es- perado ao notar que, apesar dos Estados Unidos serem um país onde o fator capital esteja mais abundante, suas importações concentravam bens intensivos de capital e suas exportações, bens intensivos de mão de obra. Este resultado, que é contrário ao esperado pelo modelo de Heckscher-Ohlin, ficou conhecido como Paradoxo de Leon- tief, e levou ao desenvolvimento de outros estudos teóricos e análises empíricas para investigação do cénario de comércio inter- nacional. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior49/230 Glossário Autarcia: situação de independência e autossuficiência econômica de um Estado. Tem implícita a ideia de que um país deve produzir tudo aquilo de que necessita para consumir, não ficando dependente das importações. Fatores de produção: são os recursos de produção da economia, constituídos pelos recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), terra, capital e tecnologia. Livre-comércio: é um modelo de mercado no qual a troca de bens e serviços entre países não é afetada por restrições do Estado. Questão reflexão ? para 50/230 Adam Smith defendeu que o livre-comércio pode pro- mover o bem-estar da sociedade, no entanto não con- siderou os efeitos que tal prática poderia ter sob países que possuem baixo desenvolvimento tecnológico. Considere quais seriam os principais pontos contra e a favor ao livre-comércio, levando em consideração a ex- periência do Brasil, vivenciada nos anos 1990, com aber- tura do mercado nacional à concorrência internacional. 51/230 ConsideraçõesFinais • Nesta aula, você pôde compreender a evolução das principais teorias sobre o comércio internacional. • As principais teorias que se dedicaram a explicar a razão do comércio entre nações são: a abordagem mercantilista, a teoria das vantagens absolutas, a teoria das vantagens comparativas e a teoria da dotação relativa dos fa- tores de produção. • A abordagem mercantilista acreditava que o comércio internacional era a chave para o fortalecimento do Estado. Para alcançar tal propósito utili- zavam práticas como a busca por uma balança comercial superavitária, o protecionismo e o pacto colonial. • Adam Smith, que se contrapunha aos ideais mercantilista ao pregar o li- vre-comércio e a não intervenção do Estado, criou a teoria das vantagens absoluta. 52/230 Considerações Finais • Essa teoria argumentava que cada país deveria se especializar na produ- ção do bem que tivesse maior vantagem absoluta em comparação a outro país. Essa especialização geraria um aumento na quantidade total de bens produzidos, promovendo, consequentemente, o bem-estar das nações en- volvidas. • A teoria das vantagens comparativas, criada por David Ricardo, diz que o comércio entre países é vantajoso, ainda que um país seja mais eficiente que os demais na produção de todos os bens. Isso será verdadeiro, desde que as produtividades relativas sejam diferentes entre os países. • Por fim, a teoria de Heckscher e Ohlin, conhecida como teoria da dotação relativa dos fatores de produção, afirma, num contexto de livre-comércio, a especialização dos países se dará de acordo com o fator de produção mais abundante no país e sua utilização na produção de determinado bem. Unidade 2 • Teorias Básicas do Comércio Exterior53/230 Referências KRUGMAN, P. R. Economia Internacional - Teoria e Política. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2001. 797 p. TRIPOLI, Angela C. K; PRATES, Rodolfo C. Comércio internacional: teoria e prática. Curitiba: In- tersaberes, 2016. 325 p. VASCONCELLOS, M. A; GARCIA, M. E. Fundamentos da Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 246 p. 54/230 1. A balança comercial é superavitária quando: a) O volume monetário das exportações é maior que o volume monetário das importações. b) O volume monetário das importações é maior que o volume monetário das exportações. c) O volume monetário das importações é superior a 10 milhões USD. d) O volume monetário das importações é igual ao volume monetário das exportações. e) O volume monetário das exportações é superior a 10 milhões USD. Questão 1 55/230 2. De acordo com as ideias que Adam Smith defendia, no livre-comércio, a economia é: Questão 2 a) Sempre superavitária. b) Controlada pelo Estado. c) Autorregulada por meio da “mão invisível”. d) Controlada pelo proletariado. e) Regulada pelos comitês econômicos governamentais. 56/230 3. A teoria desenvolvida por Smith para explicar a existência do comércio internacional é conhecida como: Questão 3 a) Teoria das vantagens crescentes. b) Teoria das vantagens absolutas. c) Teoria das vantagens comparativas. d) Teoria das vantagens relativas. e) Teoria das vantagens intensivas. 57/230 4. Segundo teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, caso um país seja eficiente na produção de todos os bens: Questão 4 a) Não é necessário que ele se engaje no comércio internacional. b) É impossível que esse país realize comércio com outras nações. c) O comércio com outros países ainda pode ser vantajoso. d) O comércio com outros países não será vantajoso. e) O comércio com outros países deve ser evitado ao máximo. 58/230 5. Os principais fatores de produção considerados na teoria de Heckscher e Ohlin são: Questão 5 a) Capital, trabalho e tecnologia. b) Tecnologia, pessoas e dinheiro. c) Terra, tecnologia e trabalho. d) Terra, capital e trabalho. e) Tempo, terra e trabalho. 59/230 Gabarito 1. Resposta: A. A balança comercial apresenta-se supera- vitária quando o volume monetário das ex- portações é maior que o volume monetário das importações. 2. Resposta: C. Smith era crítico da intervenção do Estado na economia e acreditava que a economia deveria ser regida pelas forças de mercado, o que ele chamava de “mão invisível”. 3. Resposta: B. A teoria econômica criada por Adam Smi- th para explicar a existência do comércio internacional é conhecida como teoria das vantagens absolutas. 4. Resposta: C. Segundo a teoria das vantagens compara- tivas desenvolvida por David Ricardo, o co- mércio entre nações é benéfico mesmo se um país for eminente na produção de todos os bens, desde que as produtividades relati- vas sejam diferentes entre os países. 5. Resposta: D. Os principais fatores de produção conside- rados na teoria de Heckscher e Ohlin são terra, capital e trabalho. 60/230 Unidade 3 Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais Objetivos 1. Conhecer os principais fatores, externos às empresas, que influenciam no comér- cio internacional. 2. Entender como os fatores culturais, eco- nômicos, políticos e legais influenciam nos negócios internacionais. 3. Correlacionar os fatores culturais, eco- nômicos e políticos no contexto global de valorização dos clientes. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais61/230 Introdução Quando uma empresa decide ampliar seus horizontes e enxerga o comércio exterior como uma possiblidade de ampliação de mercado consumidor, aumento de receitas e diversificação de fornecedores, é necessá- rio que ela esteja também atenta a todas as variáveis que influenciarão suas atividades no âmbito internacional, já que apresenta maiores complexibilidades que o mercado doméstico. Além da preparação interna que a empresa precisa ter em termo de estratégias, opera- ções e pessoas, precisa-se também com- preender que o ambiente de negócios inter- nacionais é composto de vários fatores que estão fora do controle das empresas, mas influenciam diretamente os resultados das operações internacionais. Os principais fatores que interferem nos negócios internacionais são: os fatores cul- turais, como a linguagem verbal e não ver- bal, religiões e costumes; os fatores econô- micos, representados pelas características dos mercados quanto à população, renda e padrão de consumo etc.; e fatores políti- cos e legais, como as leis vigentes, contro- les impostos à importações e exportações e outros. Considerando essa realidade, nesta aula você conhecerá como esses fatores exter- nos às empresas influenciam os negócios internacionais e perceberá a importância de estar ciente de sua ação e preparado para lidar com eles. Dada a complexibilidade que esses fatores trazem aos negócios internacionais, é de Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais62/230 extrema importância que o profissional de comércio exterior tenha ciência dos mes- mos e saiba se comportar diante deles, pois essa postura será o diferencial entre suces- so e fracasso no ambiente internacional de negócios. 1. Fatores Culturais Seria muita ingenuidade considerar que os consumidores ao redor do mundo são iguais e possuem o mesmo padrão de consumo. O advento da globalização, a partir do desen- volvimento de novas tecnologias, permitiu a proximidade de pessoas e culturas, mas isso não significa que ele criou um consu- midor global padronizado. O sucesso das operações no contexto inter- nacional depende da sensibilidade cultural. Essa competência é desenvolvida pela com- preensão das motivações do consumidor em diferentes mercados, por meio do estu- do dos hábitos e preferências das pessoas de diferentes países. A análise dos fatores culturais permite que a empresa se adapte ao modo de funciona- mento de seu mercado-alvo, favorecendo assim a receptividade do mesmo aos seus produtos e serviços. Percebe-se, então, que a compreensão do fator cultural é essencial para o sucesso dos negócios internacionais. Ignorá-lo pode promover situaçõesque gerem aversão dos consumidores ao produto ou empresa es- trangeira, o que pode ser desastroso às or- ganizações que buscam a inserção no mer- cado internacional. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais63/230 1.1 Definição de Cultura A cultura está associada ao conceito de identidade e à orientação de conduta do indivíduo den- tro de uma determinada sociedade. Ela é apreendida, compartilhada e transmitida. Czinkota e Ronakainen (2008, p. 44) definem cultura como: Diante dessa definição, percebe-se a importância de compreender o fator cultural de uma socie- dade, já que ele determina seu modus operandi e influencia diretamente seus padrões de consu- mo. O respeito às diferenças culturais é indispensável para os profissionais que atuam ou pretendem atuar no âmbito internacional. A identificação de tais diferenças e a correta atitude dos profis- sionais frente a elas determinará o sucesso das operações internacionais. um sistema integrado de padrões de comportamento apreendidos, que são ca- racterísticas distintas dos membros de qualquer sociedade em particular. Inclui tudo o que um grupo pensa, diz, faz e realiza – seus costumes, idiomas, produtos manufaturados, e sistemas compartilhados de atitudes e sentimentos. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais64/230 1.2 Elementos da Cultura Segundo Czinkota e Ronakainen (2008), a cultura é composta por um conjunto de va- riáveis dinâmicas, ao qual eles denominam elementos da cultura. Os elementos da cultura compreendem: linguagem verbal e não verbal, religião, va- lores e atitudes, maneiras e costumes, esté- tica, educação e instituições sociais. Linguagem - Envolve tanto os aspectos re- lativos aos idiomas utilizados como a lin- guagem não verbal, composta por gestos, postura corporal, contato visual e tom de voz. No âmbito da comunicação, a lingua- gem refere-se ao que é dito e a forma que a mensagem é transmitida. Quanto a esse item, é importante ressaltar a importância do domínio de idiomas pelo profissional de comércio exterior. Esse deve ir além da competência técnica, já que co- nhecer um idioma envolve também sua par- te interpretativa aos olhos da cultura que Link Artigo que apresenta um exemplo de como as diferenças culturais afetam os negócios internacionais, por meio da análise do case das exportações brasileiras de carne para a Arábia Saudita. ARVATI, Mariana C. Diferenças Culturais e Negociações In- ternacionais: Brasil e Arábia Saudita. Rev. de Negócios In- ternacionais, Piracicaba, 5(9):19-24 2007.Para exercitar sua capacidade crítica consulte o artigo intitulado “As dife- renças culturais nas negociações internacionais”. MACHADO, Jéssica Ghellere. As diferenças culturais nas negociações internacionais: um estudo comparativo com executivos brasileiros e angolanos. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais65/230 lhe representa. As diferenças entre o inglês falado nos EUA, na Inglaterra e na Austrália são exemplos de como a linguagem reflete a cultura da sociedade que representa. Religião – Para muitos, a religião expressa o sentido para a vida, e compreendê-la tor- na-se relevante, pois os ideais religiosos re- fletem nos valores e nas atitudes das socie- dades e dos indivíduos, influenciando seu comportamento, inclusive o de consumo. Aspectos religiosos intervêm em questões como o papel da mulher na sociedade e nos negócios, os calendários civis dos países e as próprias leis, como é o caso do islamismo. Valores e atitudes – Os valores compreen- dem as crenças e os princípios que determi- narão as atitudes de um indivíduo. Em al- gumas culturas, a necessidade de estabele- cer vínculos de confiança antes de iniciar a tratativa de assuntos comerciais demonstra como os valores podem influenciar os ne- gócios internacionais. Ignorar essa necessi- dade de laços mais próximos pode parecer ofensivo a ponto de impedir que as nego- ciações prossigam. Maneiras e costumes – Compreender as maneiras e costumes do país que se pre- tende atuar é relevante por evitar situações desconfortáveis que podem ser geradas por interpretações erradas frente a uma atitu- de. Como exemplo temos a diferente forma como cada cultura compreende a troca de presentes no ambiente de negócios. Um presente que destoe dos costumes locais pode fazer com que a outra parte interprete como uma tentativa de suborno ou corrup- ção. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais66/230 Elementos materiais – Trata-se da forma como uma sociedade organiza sua ativida- de econômica, referindo-se a infraestrutu- ras básicas econômicas sociais, financeiras e de marketing que essa sociedade possui. Inclui os sistemas de transporte, energia, comunicação, saúde, educação, bancário e demais sistemas que compõe a infraestru- tura da sociedade em questão. Estética – Cada cultura tem suas definições de bom gosto e de belo. O que é aceitável ou não varia de acordo com a cultura de cada sociedade. Um exemplo dessa realidade é o valor simbólico que as cores têm em di- ferentes países, a cor de luto nas Américas e na Europa é o preto, já no Japão e alguns países do Oriente o luto é simbolizado com a cor branca. Educação – Possui sua relevância por ter seu papel de transmissão e compartilhamento da cultura. O conhecimento dos níveis edu- cacionais de um país pode influenciar sua atitude frente a um produto de alta tecno- logia, por exemplo. Instituições sociais - Um exemplo dessa re- alidade é como a unidade familiar pode ser compreendida em diferentes culturas. Há Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais67/230 culturas em que as famílias são mais nume- rosas, em outras elas se resumem ao casal que pode ter ou não um filho. Isso influencia no padrão de consumo dessas sociedades, já que a unidade familiar apresenta diferen- tes tamanhos. Dada sua complexibilidade, a cultura é vista, por muitos, como um dos fatores mais desa- fiadores dos negócios internacionais. Saber lidar com as diferenças culturais, apresen- tando inteligência cultural, é essencial para o sucesso dos negócios internacionais. 2. Fatores Econômicos Ao considerar as possibilidades de atuação no mercado internacional, cabe à empresa se preparar e planejar sua atividade de co- Para saber mais A inteligência cultural engloba a capacidade de conhecer e entender as diferenças culturais e de se adaptar aos diversos ambientes culturais, con- forme requerido. Esse conceito é amplamente trabalhado por David Thomas e Kerr Inkson em seu livro Inteligência Cultural: Instrumentos para negócios globais onde os autores apresentam téc- nicas que podem facilitar as relações com dife- rentes culturas. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais68/230 mércio exterior por meio da obtenção do máximo de informações acerca do mercado que tem como alvo. Além dos aspectos cul- turais, deve-se também buscar entender os fatores econômicos que influenciam esse mercado. A fim de conhecer as características eco- nômicas do país que se pretende atuar, a empresa deve avaliar as principais variáveis econômicas relativas ao tamanho e à natu- reza desse mercado. Essa análise permitirá a identificação do potencial do mercado es- colhido e sua capacidade de compra. Publicações dos principais organismos mundiais relacionados ao comércio inter- nacional, como do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e da Organização Mundial do Comércio (OMC), são fontes confiáveis de informações econômicas dos países ao redor do mundo. Outra fonte também confiável são os dados publicados pelos próprios países e em seus institutos de pesquisas. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) são exemplos de fontes confiáveis de dados acerca da população brasileira. Link Para elucidar os conceitos abordadosaté aqui, exercite sua capacidade crítica realizando a con- sulta no site Instituto Brasileiro de Geografia e Es- tatística (IBGE), um dos principais fornecedores de dados organizados sobre a população brasileira. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais69/230 2.1 Características de mercado De acordo com Czinkota e Ronakainen (2008), os principais dados econômicos que podem trazer informações relevantes acer- ca de um mercado são aqueles referentes à sua população e diversidade, infraestrutura, características geográficas e envolvimento estrangeiro na economia. População Informações sobre a população do país per- mitem a empresa ter uma perspectiva acer- ca da demanda potencial. Nesse item são relevantes informações como distribuição etária, expectativa de vida, distribuição ge- ográfica, tamanho dos domicílios, grau de urbanização, pois permitem que se tenha detalhes sobre a quantidade de pessoas e Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais70/230 característica que compõem o público-alvo. Um exemplo da aplicabilidade dessas infor- mações é a definição do tamanho das em- balagens de um determinado alimento que será exportado para um mercado interna- cional. Ao estudar o tamanho dos domicí- lios pode-se perceber se o país tem domi- cílios com mais ou menos pessoas, o que pode influenciar na determinação da quan- tidade de porções que um produto alimen- tício deve ter. Renda Variáveis relacionadas à renda per capita, PIB per capita, preços e poder aquisitivo po- dem contribuir na compreensão do poder de compra de uma determinada população e auxiliar a empresa a determinar o nicho de mercado que atuará. A distribuição da so- ciedade quanto às classes econômicas de acordo com a renda também é significativa na análise de mercado. Nesse quesito, é importante também con- siderar variáveis como inflação, variação cambial e taxa de juros. Tais itens influen- ciam, direta ou indiretamente, o consumo das populações, dada sua relação com a formação do preço de venda de um produ- to importado e a capacidade de compra do mercado. Padrões de consumo Os padrões de consumo de uma sociedade podem ser compreendidos por meio de da- dos que revelam a porcentagem de gastos Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais71/230 de acordo com a classe de bens, por exem- plo, para uma indústria de chinelos, é rele- vante saber quanto seu mercado-alvo in- veste em produtos de vestuário e calçados. No caso de produtos eletroeletrônicos, da- dos sobre a porcentagem de domicílios que apresentam aquele determinado produto podem apresentar oportunidades de ex- pansão de vendas. Infraestrutura Dados referentes à infraestrutura do país- -alvo podem preparar a empresa quanto às dificuldades logísticas de distribuição de seu produto dada a insuficiência do sistema de transportes, o que pode encarecer o pre- ço final do produto, tornando-o não atrati- vo naquele mercado. 3. Fator Político e Legal Os fatores políticos têm papel crítico nas operações de comércio internacional, já que as empresas podem ter problemas tan- to localmente quanto no país de destino, por conta de equívocos na interpretação e Para saber mais Infraestrutura é o conjunto de atividades e es- truturas da economia de um país que servem de base para o desenvolvimento de outras ativida- des. Fazem parte da Infraestrutura de um país: rodovias, usinas hidrelétricas, portos, aeroportos, rodoviárias, sistemas de telecomunicações, ferro- vias, rede de distribuição de água e tratamento de esgoto, sistemas de transmissão de energia etc. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais72/230 aplicação das regulamentações. Para compreender a dimensão da influência dos fatores políticos e legais nos negócios internacionais é importante considerar sua ação no país de origem, no país de destino e no ambiente internacional. 3.1 País de Origem Onde quer que a empresa esteja localizada, ela estará sujeita às determinações políti- cas e legais instituídas pelos governos. Em seu país de origem, é fundamental que a empresa considere as medidas legais locais que regulamentam o comércio internacio- nal, já que elas podem interferir na compe- titividade da empresa no mercado interna- cional por meio do aumento de custos e in- viabilização de negócios. Em geral, os governos costumam incenti- var as atividades exportadoras locais, pois compreendem os benefícios que essa prá- tica traz ao seu país por meio da geração de riquezas e empregos à sua população. No entanto, em determinadas situações, por conta de interesses políticos e razões con- Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais73/230 correnciais, os países podem determinar ações que proíbam ou restrinjam as expor- tações para determinados países. Alguns exemplos dessas ações restritivas e proibitivas que um país pode exercer sobre o comércio internacional são os embargos, sanções, controles de exportações e impor- tações, e a regulamentação acerca da con- duta comercial das empresas. Os embargos e sanções referem-se a ações governamentais que visam impedir o livre- -comércio com determinados países por razões variadas. Um exemplo clássico de ações restritivas a exportações é o embar- go dos EUA a Cuba, estabelecido em 1962, permanecendo vigente até os dias atuais. Esse embargo proíbe a exportação de uma série de produtos e serviços a Cuba. Os controles de exportação e importação podem se dar por meio de medidas tarifárias ou não tarifárias. Como exemplos de medi- das não tarifárias têm-se a exigência de li- cenças prévias à exportação ou importação de determinado produto e a utilização de sistema de cotas que restringe a quantida- de de produtos a serem importados. 3.2 País de Destino Para adentrar em um mercado internacio- nal é necessário conhecer as leis e normas que regimentam aquele mercado para evi- tar situações que possam minar as chances da empresa e prejudicar sua marca. Perce- be-se, então, a importância de conhecer como funciona o sistema político e legal do Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais74/230 país de destino. É comum que as empresas busquem mercados que apresentam estabilidade política e econômi- ca, mas como as sociedades são dinâmicas nem sempre é fácil encontrar países estáveis, por isso é importante estar atento ao grau de risco político apresentado pelo país-alvo. De acordo com Czinkota e Ronakainen (2008, p. 134): Risco político é definido como o risco de perdas quando se investe em um de- terminado país, devido a mudanças na estrutura política e legal do mesmo, tais como leis de taxação, tarifas, expropriação de bens, ou restrições à repatriação de lucros. [...] Em geral, o risco político é menor nos países que possuem um his- tórico de estabilidade e consistência. O risco político tende a ser mais alto em nações que não possuem esse tipo de histórico. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais75/230 O risco político, em grande parte, é reflexo das ações do governo do país em questão, no entanto, ele também é impactado por questões que estão além do controle go- vernamental, como é o caso do surgimento de movimentos populares que externalizam suas insatisfações com decisões do gover- no local. Dada tal realidade, nota-se a necessidade do profissional que conduz negócios in- ternacionais estar atento e bem informa- do acerca da realidade política do país que pretende atuar. Algumas das ações do governo do país des- tino que podem prejudicar os negócios in- ternacionais de uma empresa estrangeiras são: a aplicação de leis antidumping, impo- sições de restrições sanitárias, utilização de cotas de importação e aplicação de taxas sobre as importações. 3.3 Ambiente Internacional Embora não exista nenhum código de leis internacionais, as relações comerciais entre os países são estabelecidas conformeacor- dos e alianças comercias, portanto, além de considerar os fatores políticos e legais locais do país destino, faz-se necessário também conhecer os acordos bilaterais entre o país de origem e o país destino, assim como os acordos multilaterais que possam influen- ciar as condições de negociação entre os países. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais76/230 A Organização Mundial do Comércio (OMC) é responsável por definir, em nível global, as práticas comerciais aceitáveis, orientando assim o comércio internacional entre os pa- íses membros. 4. Fatores Culturais, Econômicos e Políticos no contexto Global É importante ter claro que os fatores cultu- rais, econômicos, políticos e legais de um mercado não se apresentam de forma iso- lada, eles constroem um conjunto de ele- mentos que constituem o ambiente do co- mércio internacional do país em questão, e esse ambiente está em constante evolução. Graças ao advento da globalização o mun- do vivenciou uma variedade de transforma- ções. No âmbito das corporações, esse fe- nômeno promoveu alterações significativas nas relações de concorrência entre empre- sas e nas relações das empresas com seus consumidores. Para saber mais A globalização é um processo de integração so- cial, política e econômica entre os países e as pessoas ao redor do mundo. Esse processo ocor- reu graças às inovações tecnológicas nas áreas de tecnologias da informação, com o aprimoramen- to das comunicações e da internet. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais77/230 Os avanços tecnológicos oriundos da globalização aproximaram pessoas e mercados, um exem- plo dessa realidade é o comércio eletrônico em que as fronteiras físicas já não mais existem. Atualmente, é de extrema importância que as empresas conheçam bem seus clientes e estejam atentas às suas necessidades, pois a concorrência passou de local para global com a abertura dos mercados para o comércio internacional. Cabe ao profissional que atua nessa realidade estar preparado para atender seus clientes da me- lhor forma possível, fidelizando-os em escala global, e isso tudo só é possível através do conhe- cimento daquilo que os clientes realmente necessitam e querem. Estar atento à voz dos clientes é estar preparado para enfrentar às mudanças mercadológicas. Conhecer o cliente em uma perspectiva global não é apenas ouvi-lo, mas também entendê- lo por meio da compreensão de sua cultura, das condições econômicas que lhe cercam e dos aspectos políticos e legais que regimentam sua vida. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais78/230 Glossário Modus operandi: é uma expressão em latim que significa “modo de operação”. Esta expressão determina a maneira que determinada pessoa utiliza para trabalhar ou agir, ou seja, as suas ro- tinas e os seus processos de realização. BIRD: Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento OMC: Organização Mundial do Comércio IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA: Instituto de pesquisa econômica aplicada Questão reflexão ? para 79/230 Você é um profissional de comércio exterior e o diretor de sua empresa está interessado em expandir as expor- tações por meio da entrada em novos mercados. Após assistir uma reportagem sobre a Índia e ficar impres- sionado com o tamanho de sua população, o diretor acredita que o mercado indiano é perfeito para o novo produto feito à base de carne bovina e pede sua opinião acerca dessa ideia. Quais considerações você faria para determinar se essa proposta é ou não válida? 80/230 Considerações Finais • Os principais fatores que influenciam os negócios internacionais são os fatores culturais, econômicos, políticos e legais do contexto comercial em questão. • Os fatores culturais determinarão como uma sociedade se comportará, in- fluenciando assim seus padrões de consumo. • Os fatores econômicos apresentam as oportunidades e desafios do país-al- vo quanto às características quantitativas de seu mercado, como renda e infraestrutura. • Os fatores políticos e legais são considerados, também, como influenciado- res dos negócios internacionais, já que onde quer que esteja, a empresa es- tará sujeita às leis e normas desse local e suas ações em outros países serão regimentadas pela legislação local. 81/230 Considerações Finais • É importante ter claro que todos esses fatores atuam de forma conjunta em um ambiente globalizado, onde é imperativo conhecer os clientes para a obtenção de sucesso nas relações comerciais. Unidade 3 • Fatores que Influenciam os Negócios Internacionais82/230 Referências CZINKOTA, Michael R.; RONAKAINEN, Ilkka A. Marketing Internacional. 8. ed. São Paulo: Cenga- ge Learning, 2008. SILVA, Ultemar da (org.). Gestão das relações econômicas internacionais e comércio exterior. N/d: Editora Cengage, 2008. 224 p. THOMAS, David C; INKSON, Keer. Inteligência Cultural: habilidades pessoais para negócios glo- balizados. Rio de Janeiro: Record, 2006. 276 p. 83/230 1. Os principais fatores externos às empresas que influenciam nos negócios internacionais são: a) Produtivos, especulativos e tecnológicos. b) Econômicos, políticos e produtivos. c) Culturais, econômicos, políticos e legais. d) Econômicos, legais e estruturais. e) Culturais, produtivos e tecnológicos. Questão 1 84/230 2. É correto afirmar que a cultura está associada: a) À identidade do indivíduo. b) À educação do indivíduo. c) Ao destino do indivíduo. d) Ao passado do indivíduo. e) À família do indivíduo. Questão 2 85/230 3. As características de um mercado podem ser obtidas a partir de informa- ções sobre: a) Sua população, renda, padrões de consumo e infraestrutura. b) Sua polução, história e progresso tecnológico. c) Sua renda, infraestrutura e tecnologia. d) Suas origens, desenvolvimento histórico e tecnológico. e) Sua renda, classes sociais e nível de endividamento. Questão 3 86/230 4. No âmbito dos negócios internacionais os fatores políticos e legais devem ser considerados: a) Apenas no país de origem. b) Apenas no país de destino. c) No ambiente internacional. d) No país de destino e no ambiente internacional. e) No país de origem, de destino e no ambiente internacional. Questão 4 87/230 5. Quanto aos fatores políticos e legais é correto afirmar que, no ambiente internacional, deve-se considerar: a) Os acordos bilaterais entre o país de origem e o país de destino. b) Os acordos multilaterais que o país de origem participa. c) Os acordos multilaterais que o país de destino participa. d) Os acordos com países vizinhos. e) Os acordos bilaterais entre o país de origem e o país destino, e os acordos multilaterais dos países de destino e origem. Questão 5 88/230 Gabarito 1. Resposta: C. Os principais fatores que interferem nos ne- gócios internacionais, e estão fora do con- trole das empresas, são os fatores culturais, econômicos, políticos e legais. 2. Resposta: A. A cultura está associada ao conceito de identidade e à orientação de conduta do in- divíduo dentro de uma determinada socie- dade. 3. Resposta: A. Os principais dados econômicos que podem trazer informações relevantes acerca de um mercado são aqueles referentes à sua po- pulação e diversidade, infraestrutura, renda e padrões de consumo. 4. Resposta: E. Para compreender a dimensão da influência dos fatores políticos e legais nos negócios internacionais é importante considerar sua ação no país de origem, no país de destino e no ambiente internacional. 5. Resposta: E. As relações comerciais entre os países são estabelecidas conforme acordos e alianças comercias, portanto, faz-se necessário co- nhecer os acordos bilaterais entre o país de origem e o país destino, assim como os acor- dos multilaterais que possam influenciar as condições de negociação entre os países. 89/230 Unidade 4 Órgãos Reguladores do Comércio Internacional Objetivos 1. Discorrer
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