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| Espiritualidade Cristã | FTSA Disciplinas espirituais| FTSA Disciplinas espirituais2 Fevereiro/ 2019 Professor/Autor: Dr. Jonathan Menezes Coordenadoria de Ensino a Distância: Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida Projeto Gráfi co e Capa: Departamento de desenvlvimento institucional Todos os direitos em língua portuguesa reservados por: Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR 86055-670 Tel.: (43) 3371.0200 3Espiritualidade Cristã | FTSA | SUMÁRIO Unidade 1 - Introdução a espiritualidade cristã Introdução...............................................................................................................04 Capítulo 1: O que é espiritualidade........................................................................05 Capítulo 2: O lugar da conversão...........................................................................08 Capítulo 3: O caminho da santidade......................................................................14 Capítulo 4: A vocação da humanidade..................................................................24 Unidade 2 - Religião, fé e espiritualidade Introdução...............................................................................................................38 Capítulo 1: O que é religião?...................................................................................39 Capítulo 2: O que é fé?............................................................................................51 Capítulo 3: Raciovitalismo: a fé e a razão em diálogo..........................................60 Capítulo 4: Sobre a arte de perder chãos..............................................................64 Unidade 3 - Disciplinas espirituais Introdução...............................................................................................................73 Capítulo 1: Oração..................................................................................................74 Capítulo 2: Deserto.................................................................................................86 Capítulo 3: Comunidade.........................................................................................98 Unidade 4 - Espiritualidade vocação e missão Introdução.............................................................................................................109 Capítulo 1: O exemplo de Henri Nouwen............................................................110 Capítulo 2: A missão da espiritualidade na Missão...........................................123 Capítulo 3: Espiritualidade como busca e resposta a uma vocação...............129 Capítulo 4: O lugar da fraqueza na espiritualidade.............................................138 Para assistir os vídeos, ouvir os PodCasts e fazer os exercícios, acesse o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) Atenção! Lembre-se que faz parte de suas obrigações: 1- Participação na disciplina por meio da realização dos exercícios; 2- Exercício integrativo - Resumo da disciplina, 800 a 900 palavras; 3- 2 Provas objetivas (5 questões cada); 4- Leitura de textos complementares (100 páginas); Consulte o “Programa de curso” e veja mais detalhes! | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã4 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã UNIDADE I - INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE CRISTÃ Introdução A espiritualidade cristã diferencia-se de outras formas existentes, e bastante em voga até, de espiritualidade no mundo atual. E a razão básica é: seu centro gravitacional não é o próprio ser humano e suas necessidades, mas Deus – Pai, Filho, Espírito Santo. E mais: não poderá ser chamada de “cristã” se sua fonte de inspiração primária não for a experiência cristã1, ou melhor, a experiência de fé em e a partir da pessoa de Jesus Cristo. “Cristã”, nesse sentido, é sinônimo de “cristocêntrica” (centrada em Cristo, o Deus encarnado). A tese dessa unidade é a de que espiritualidade cristã é um modo de ser expresso a partir de um encontro, relacionamento e compromisso com a pessoa de Jesus Cristo. Discutiremos essa tese a partir de três temas transversais: conversão, santifi cação e humanidade. Objetivos da unidade 1. Defi nir espiritualidade cristã e sua relação com outros conceitos transversais; 2. Desenvolver uma visão de espiritualidade cristã mais ampla e integral; 3. Relacionar os temas da conversão, da santifi cação e da encarnação sob a ótica da espiritualidade cristã. Assista o vídeo: O que signifi ca ser espiritual? Para assistir os vídeos e ouvir os PodCasts, acesse o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) 1 Isto não signifi ca, em hipótese alguma, que a experiência cristã seja exclusivista e isolada de uma convivência com outras experiências, como uma espécie de destacamento da humanidade, da vida e do mundo. Diálogos e encontros humanos, tais como os que vimos em Jesus, são fundamentais para a espiritualidade cristã, como veremos adiante. 5Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã 1. O que é a espiritualidade cristã? De acordo com Alister McGrath (2008, p. 20), a palavra espiritualidade procede do termo hebraico ruach, que pode ser traduzido por “espírito”, inclusive no sentido de “vento”, “alento”. Refere-se ao ânimo de vida, tanto que a gera como que a sustenta. Também tem a ver como cada cristão responde à sua fé nas diversas representações cristãs existentes, o que, de acordo com ele, permite-nos também falar de “espiritualidades cristãs”. Exercício de reflexão Defi na “espiritualidade”, a partir de sua própria experiência de fé e vida até aqui. Para assistir os vídeos, ouvir os PodCasts e fazer os exercícios, acesse o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) Atenção! Lembre-se que faz parte de suas obrigações: 1- Participação na disciplina por meio da realização dos exercícios; 2- Exercício integrativo - Resumo da disciplina, 1500 palavras; 3- 2 Provas objetivas (5 questões cada); 4- Leitura de textos complementares (100 páginas); Consulte o “Programa de curso” e veja mais detalhes! Pode-se entendê-la, em sentido mais geral, como uma qualidade não material que diz respeito à vivência, envolvimento, dedicação religiosa em geral, à luz de refl exão e entendimento. Mas, podemos falar também de espiritualidade cristã, que é aquela forma de espiritualidade específi ca da fé cristã e sua vivência. | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã6 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã Neste aspecto, eu fi caria com uma defi nição mais simples, que deve perpassar nossas conversas daqui para diante: Espiritualidade é o modo de ser do cristão guiado pelo Espírito Santo. A espiritualidade cristã baseia-se na fé, pois é por ela que acolhemos a palavra de Deus. A experiência mística e a devoção fazem parte e auxiliam nossa espiritualidade, mas não são sua fonte principal. A fonte principal da espiritualidade cristã é Jesus Cristo, que conhecemos prioritariamente pela palavra de Deus. A vida não é a razão da nossa espiritualidade, mas seu contexto. A espiritualidade cristã, conforme o próprio nome diz, é cristocêntrica. E isso signifi ca, antes de tudo, que o centro da vida espiritual não deve estar mais em mim enquanto indivíduo, mas no próprio Cristo. Saiba mais Em seu livro A implacável ternura de Jesus (2010), Brennan Manning dedica um capítulo para falar da “vida excêntrica” ou fora do centro. Ela começa, segundo ele, com a admissão de que: Jesus se fez o núcleo vital da vida cristã.Jesus não é apenas o coração do cristianismo, Ele é o centro da humanidade e nos revela o que signifi ca ser um humano. Ser cristão é ser completamente humano. Nós cristãos realmente acreditamos nisso? O que signifi ca ser completamente humano, viver uma vida na qual Cristo é o centro? O que signifi ca viver fora do centro? Primeiro, signifi ca que um cristão autêntico é total e literalmente excêntrico – isso é, fora do centro, de tudo o que diz respeito a gerir, conduzir e controlar a própria vida. Isso exige uma mudança revolucionária do foco em si próprio. (Manning, 2010, p. 93) 7Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã Eis abaixo alguns insights importantes de Manning neste capítulo sobre o que signifi ca “viver fora do centro”: a) “Viver fora do centro signifi ca compartilhar a experiência íntima de Jesus com Deus como Pai. O signifi cado da palavra pai nas Escrituras tem dois aspectos: Antes de mais nada signifi ca senhor e soberano, total controle e autoridade. Jesus confi rmou a absoluta soberania de Seu Pai. Ele nunca tentou justifi car Deus por toda confusão, dor e tragédia do mundo. (...) O segundo aspecto da palavra pai nas Escrituras envolve cuidado, preocupação, compaixão e fi dedignidade. Não somos apenas convidados, mas somos realmente chamados para entrar nessa afetuosa, libertadora experiência com a paternidade” (p. 94-95). b) “Viver fora do centro nos liberta da tirania da pressão do grupo social. Viver para agradar o Pai, como Jesus fez, se torna o impulso básico de uma vida cristã – mais importante que agradar as pessoas. E isso requer um nível singular de liberdade” (p. 96). c) “Viver fora do centro faz a diferença de tantas maneiras. Capacita-nos a enxergar que a igreja é um lugar para celebrarmos e nem sempre reformarmos, que o mundo é um lugar que deveria ser desfrutado, nem sempre infl uenciado, que a vida é uma experiência sem uma agenda, que o amor, o maior de todos os nossos feitos, é sempre imerecido, injusto e inesperado” (p. 98). d) “Viver fora do centro me ensinou que todo fracasso tem sucesso de alguma forma. Ele proporciona a oportunidade não apenas de humilhar o eu, mas também de ser gentil com o fracasso dos outros. Se a minha vida ou a sua fosse uma história bem-sucedida e imaculada, um crescimento rápido e contínuo em direção à santidade, nunca poderíamos entender o coração humano” (p. 100). | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã8 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã 2. O lugar da conversão Já apresentei o que aqui gostaria de chamar de “defi nição de trabalho” de espiritualidade – isto é, o ponto de partida para qualquer discussão envolvendo este conceito ao longo deste curso. Também foram delineadas algumas diferenças importantes, no campo conceitual, entre espiritualidade e outras expressões normalmente associadas a esta. Sabemos, portanto, que a espiritualidade cristã, acima de qualquer outra, estará em nosso horizonte daqui para diante. Assim sendo, qual é o ponto de partida da espiritualidade cristã? A afi rmação basilar desse tópico é de que o caminho da espiritualidade cristã começa com a conversão. Dito de modo breve e provocativo: sem conversão, não há espiritualidade. Pelo menos não no sentido cristão. O que, porém, signifi ca passar por uma “conversão”? Que implicações importantes o tema da “conversão” evoca, e o que elas têm a nos ensinar sobre a espiritualidade? No contexto da fé cristã, a conversão designa a nova condição ou vida do ser humano em Cristo, normalmente (mas não sempre) iniciada por uma experiência pessoal e individual de “encontro”, ou mesmo de “retorno” à casa do Pai, como no exemplo da parábola do fi lho pródigo (ver Lc 15:11-32). PodCast Reflexão “A conversão na parábola do fi lho pródigo”. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem! A raiz da conversão, de acordo com Orlando Costas (2014, p. 180), está na literatura profética, por exemplo, expressa na ideia (que aparece aproximadamente mil vezes) de “voltar-se”, do verbo hebraico shub. Está ligado ao chamado de Deus, que vemos ocorrer reiteradas vezes nos livros 9Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã proféticos, para que o povo se arrependa, abandone seus pecados e se volte para o Senhor, renovando seus votos de fi delidade somente a Ele. E voltar-se para Deus, como vimos anteriormente no caso emblemático da crítica de Amós à religião, signifi ca deixar-se ser encharcado pelo caráter divino – um Deus que quer um “mar de justiça” e ver correr em nós “rios de integridade” – e, consequentemente, mudar o curso da existência (isto é, converter-se) de acordo com este referencial absoluto. Outra palavra importante vem do Novo Testamento, e é traduzida como “metanóia”, do verbo grego metanoeo, que designa uma mudança (meta) de mente (noia) ou a adoção de outro ponto de vista ou cosmovisão. Segundo Costas (2014, p. 181), este termo “é usado no contexto do chamado ao perdão do pecado e a libertação do julgamento futuro (At 2:38; 3:19; 17:30; 26:20) e em referência ao problema da apostasia no seio da igreja (Ap 2:5, 16, 21-22; 3:3, 19). Vários conceitos bíblicos de conversão são retratados nestes termos, de acordo com Costas (2014, p. 181): 1. Signifi ca voltar-se do pecado (e de si mesmo) para Deus (e para a obra de Deus). 2. Este ato envolve uma mudança de mente, o que implica no abandono de uma cosmovisão antiga e a adoção de uma nova. 3. A conversão envolve uma nova lealdade, uma nova confi ança e um novo compromisso. 4. A conversão é apenas o início de uma nova jornada e veicula implicitamente a semente de novas mudanças. 5. A conversão é circundada pelo amor redentor de Deus como revelado em Jesus Cristo e testemunhado pelo Espírito Santo. Desse modo, a conversão pode se dar por meio de uma experiência interior em que uma profunda convicção do pecado vem à tona no ser humano, como no famoso relato de conversão de Agostinho (ver texto na próxima página). | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã10 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã Texto de Apoio Quando, por uma análise profunda, arranquei do mais íntimo toda a minha miséria e a reuni perante a vista do meu coração, levantou-se enorme tempestade que arrastou consigo uma chuva torrencial de lágrimas. [...] Retirei-me, não sei como, para debaixo de uma fi gueira, e larguei as rédeas ao choro. Prorromperam em rios de lágrimas os meus olhos. Este sacrifício era-Vos agradável. Dirigi-Vos muitas perguntas, não por estas mesmas palavras, mas por outras do mesmo teor: “E Vós, Senhor, até quando? Até quando continuareis irritado? Não Vos lembreis das minhas antigas iniquidades”. [...] Assim falava e chorava, oprimido pela mais amarga dor do coração. Eis que, de súbito, ouço uma voz vinda da casa próxima. Não sei se era de menino, se de menina. Cantava e repetia frequentes vezes: “Toma e lê; toma e lê”. [...] Abalado, voltei aonde Alípio estava sentado, pois eu tinha aí colocado o livro das Epístolas do Apóstolo, quando de lá me levantei. Agarrei-o, abri-o e li o primeiro capítulo em que pus os olhos: “Não caminheis em glutonarias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em contendas e rixas; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a satisfação da carne com seus apetites” [Rm 13:13]. Não quis ler mais, nem era necessário. Apenas acabei de ler estas frases, penetrou-me no coração uma espécie de luzserena, e todas as trevas da dúvida fugiram (Agostinho, 1996, p. 222-223). Nessa experiência, volto-me para Deus na medida em que me volto para dentro de mim, e eventualmente recebo uma iluminação interior acerca de minha natureza pecaminosa. Desse modo, espiritualidade se torna sinônimo de interioridade ou, nos dizeres de Eugene Peterson (2000, p. 14), é “a atenção que prestamos à nossa alma”. Não há dúvidas de que essa é uma dimensão importante da espiritualidade cristã; o problema 11Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã é quando imaginamos que não haja nada além dela, isto é, de que a espiritualidade é “apenas” essa atenção dada ao interior e nada mais. Segundo Galilea (1979), autor chileno de textos pastorais e de espiritualidade, apresenta uma analogia muito interessante a esse respeito. Ele compara a espiritualidade com um grande bosque, repleto de árvores, cada uma delas representando uma dimensão possível da espiritualidade. Algumas vezes, certas árvores nos impedem de ver todo o bosque. Em outros casos, tendemos a confundir uma árvore apenas com todo o bosque. Ora, Galilea está nos alertando para algo importante, em matéria de espiritualidade, que é a questão do reducionismo. Glossário REDUCIONISMO: pode ser identifi cado pela tendência de reduzir um fenômeno complexo a uma forma simplifi cada, ou mesmo setorizada, de compreensão desse fenômeno. No caso da teologia, por exemplo, é o mesmo que dizer que tudo em teologia se resume na Soteriologia ou o no “estudo da salvação”. Um exemplo bíblico de reducionismo: Jesus se depara com um cego de nascença, e os discípulos perguntam: “Quem pecou para que fi casse cego: ele ou os pais?”. É um reducionismo, pois atribui uma causa possível apenas para a cegueira: o pecado (restando saber se do cego ou de seus pais). A resposta de Jesus é mais complexa, fugindo da lógica de causa e efeito de sua cultura (ver: João 9:1-5). O antídoto para fugir do reducionismo, segundo esse autor, está na identifi cação da conversão a Jesus com o seguimento de Jesus: converter-se signifi ca segui-lo em seu caminho e reino de vida. Isso nos faz olhar para a vida, e para a espiritualidade, sob uma perspectiva mais ampla: os compromissos que assumimos (como o compromisso com a justiça do reino), e as particularidades que compõem a vida espiritual (como orar, jejuar, adorar, refl etir, comer, amar, e assim por diante) são | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã12 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã expressões ou resultados de um seguimento, e não todo o seguimento. Logo, como explica Galilea, não há como dizer que a espiritualidade é a “espiritualidade da cruz”, a “espiritualidade da adoração” ou a “espiritualidade da paz”. Trata-se, antes, da espiritualidade do seguimento de Jesus, que nos leva a incorporar a cruz, a adoração e a paz (dentre tantos outros aspectos) “daquele a quem seguimos” (Galilea, 1979, p. 9). O importante a se ressaltar, à luz da experiência de Agostinho acima citada, é que a experiência da conversão é singular, isto é, única e irrepetível. Ela pode ter um “início distinto” – uma espécie de virada decisiva em direção à Jesus Cristo e a seu reino de vida – mas, como lembra Costas (2014, p. 182), ela pressupõe um “movimento transformador contínuo”. O que isso signifi ca? Em primeiro lugar, signifi ca que toda conversão genuína é um processo corrente e interminável, em que minha vida passa por inúmeras revisões – passando pela dinâmica de arrependimento e conversão – sempre na busca de se in-conformar com este século, conformando-se, em contrapartida, com o caráter da pessoa de Cristo. Ou seja, o cristão convertido está sempre se convertendo. Em segundo lugar, signifi ca que o mais importante não é saber se uma pessoa é cristã convertida ou não, mas se vive como convertida. Se, como disse Jesus (cf. Mt 7:24-27), ela é como o homem que construiu sua casa sobre a rocha (pois “ouve e pratica”), ou se coaduna mais com o homem que edifi cou sua casa sobre a areia (pois “ouve, mas não pratica”). Em outras palavras, se a espiritualidade cristã começa com a conversão – como salientei no início deste tópico – a conversão pressupõe uma “vida espiritual”, isto é, uma vida que está sempre se movendo de uma “existência desumanizada e desumanizadora para uma vida humanizada e humanizadora” (Costas, 2014, p. 183) – como veremos melhor no último tópico sobre “a vocação da humanidade”. Por último, este movimento transformador e contínuo implica em uma contínua saída de si mesmo – no abandono de uma vida egoísta, voltada apenas para si – em direção ao outro, o próximo, o irmão e a irmã de caminhada histórica, começando pelos da mesma fé, até toda e qualquer pessoa com quem nos comprometamos e que seja, assim, “próxima” para 13Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã nós. Dessa maneira, seguimos, servimos e amamos a Jesus também no outro. Como bem nos lembra o apóstolo João, “ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar o seu irmão, a quem vê” (1Jo 4.20). Texto de Apoio A transformação que o/a discípulo/a de Cristo e sua comunidade afi rmam ter obtido através do Evangelho deve, por sua própria natureza, se estender porta afora, para seu entorno ou contexto mais amplo. Cremos e ensinamos que ela não pode ser apenas individual e/ou comunitária, mas também social, historicamente situada, e sensível às necessidades integrais do ser humano. Visando essa transformação integral, uma teologia contextual não se limita a apenas observar e compreender o nosso contexto latino- americano, mas observa, compreende e, por conseguinte, promove ações transformadoras na e da realidade. Ações que identifi quem e anunciem, por palavras e obras, a presença do Reino de amor de Jesus e de sua justiça entre nós. Acreditamos em vidas sendo transformadas pelo poder do Evangelho, porque temos visto e experimentado isso na FTSA em sua história até aqui. Aqui certamente apostamos que a educação é um dos meios mais profícuos de libertação do ser, e de conferir-lhe dignidade e propósito. Mas também sabemos que a educação teológica, em especial, tem uma função ainda mais específi ca, que é libertar corações e mentes por meio do e para o Evangelho do Reino de Deus. Neste lugar, vidas têm sido convertidas não a um tipo específi co de teologia, mas ao Reino de Deus e sua Missão. E essa é uma conversão/transformação decisiva para a igreja em nossos dias. Extratos de: “A identidade teológica da FTSA”, Práxis Missional 01, 2018 | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã14 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã Exercício de fi xação A forma de espiritualidade advinda da conversão, entendida como uma mudança interior promovida por uma “iluminação interior” que, por sua vez, me leva a ter uma profunda convicção de minha natureza pecaminosa, também pode ser entendida como: Metanoia Interioridade Inconformidade Metamorfose Acesse o AVA para fazer o exercício ever a reação do professor! 3. O caminho da santidade É hora de caminhar um pouco mais nessa unidade introdutória sobre a espiritualidade cristã, a partir do conceito de “santidade”. Eis minha ideia central: Se a espiritualidade começa com a conversão, ela floresce ou amadurece com uma vida de ou em santidade. Saímos ao mundo para viver em santidade. A questão principal, porém, é: o que, afi nal, signifi ca “santidade”,no contexto a espiritualidade ou vida cristã? 3.1. Um chamado: “sede santos” Para começo de conversa, voltemo-nos ao texto da Primeira Carta de Pedro, capítulo 1, versos 15 e 16: “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fi zerem, pois está escrito: ‘Sejam santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.15-16). 15Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã Quatro... É o número de vezes em que a sentença “sejam santos, porque eu sou santo” aparece somente no livro de Levítico – sem contar com a passagem acima da primeira carta de Pedro, é claro, que faz referência àquela. Qual é a possível mensagem implícita nesta sentença? A de que devemos ser “iguais a Deus”? A de que nos compararemos a Ele em sua Santidade? A de que devemos lutar para que a santidade seja possível? Três vezes não! Mas, num primeiro plano, aparece a mensagem de que Deus, o Senhor, que tirou seu povo da terra do Egito, é “Santo”, isto é, incomparável, está “acima de todo nome”, não há outro igual a Ele, não é e nem pode ser idêntico a outros deuses, nem tampouco às formas, formulas ou nomes que tentam “descrever” Deus. Ele é o que é... A Santidade, nesse sentido, é o que torna impossível qualquer espécie de cogitação sobre Deus, qualquer teologia que possa ser feita, por ser “sobre Deus”, ou visando “nomear Deus”. E a graça é o que torna, em contrapartida, possível a teologia como resposta ao falar e ao agir desse Deus Santo, no nível de nosso entendimento sobre ou de nossa experiência com este Deus. Santos, portanto, são chamados. Pedro diz: “Santo” é “aquele que os chamou”. Paulo, quando escreve aos Romanos – e esta é uma linguagem que repetidamente aparecerá em suas cartas – assim endereça: “A todos os que em Roma são amados de Deus e chamados para serem santos” (Rm 1.7). Santidade não é essencialmente um alvo humano, mas alvo de Deus para a humanidade; os que são chamados “santos” na perspectiva bíblica não o são porque perseguiram este caminho ou porque fi zeram “das tripas o coração” para se tornarem “santos” aos olhos de Deus e do mundo, mas porque foram “perseguidos” e atraídos por e para esta via, que é uma via de graça. Por ser uma vida de pura e divina graça, a santidade, assim como a humildade, torna-se uma qualidade da humanidade da pessoa sem que ela normalmente saiba que é santa. | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã16 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã Texto de Apoio A sombra santifi cada Havia antigamente um homem tão piedoso que até os anjos se alegravam quando o viam. Mas, apesar de sua grande santidade, ele não tinha ideia de que era santo. Simplesmente realizava suas prosaicas tarefas espalhando bondade, da mesma forma que as fl ores espalham fragrância e os postes de luz claridade, se forma natural. Sua santidade estava no fato de que esquecia o passado da pessoa e as olhava como eram agora e olhava além da aparência da pessoa, no íntimo da existência delas onde eram inocentes e puras e ignorantes demais para saberem o que estavam fazendo. Assim, amava e perdoava a todos que encontrava – e não via nada de extraordinário nisso, pois era o resultado do modo como olhava as pessoas. Um dia, um anjo lhe disse: – Fui enviado por Deus. peça o que desejar e lhe será concedido. Gostaria de ter o dom de curar? – Não – respondeu o homem. – Prefi ro que Deus mesmo realize as curas. – Gostaria de trazer pecadores de volta ao caminho do bem? – Não – disse ele. – Não cabe a mim tocar os corações humanos. Essa é a tarefa dos anjos. – Gostaria de ser tal modelo de virtudes que as pessoas sejam levadas a imitá-lo? 17Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã – Não – disse o santo –, pois isso me transformaria no centro das atenções. – Que deseja, então? – perguntou o anjo. – A graça de Deus – foi a resposta. – Com ela, terei tudo o que desejo. – Não, você deve pedir um milagre – disse o anjo – ou será obrigado a aceitar um. – Bem, então pedirei que o bem seja feito por meu intermédio, sem que eu perceba. Assim, foi decretado que a sombra do santo homem seria dotada de poderes de cura, sempre que estivesse atrás dele. Em todo lugar onde sua sombra se projetasse – desde que ele estivesse de costas – os doentes eram curados, a terra tornava-se fértil, fontes jorravam e a cor voltava às faces dos que estavam acabrunhados pelas tristezas da vida. Mas o santo não fi cava sabendo de nada disso, porque a atenção das pessoas estava tão centralizada na sombra que se esqueciam do homem e, assim, seu desejo de que o bem fosse feito por seu intermédio e que ele fosse esquecido foi plenamente realizado. (Mello, 2000, p. 148-149) | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã18 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã 3.2. Dois modelos: ascetismo e participação Mas, em que medida se pode ser santo “como Deus é...”? Diria que não na medida em que ambicionamos a santidade, pois ser santo não é propriamente ambição, mas vocação. Ninguém “ambiciona” a santidade neste sentido (bíblico) estrito, pois não há vantagem, status ou benefício direto algum em ser santo. Não me torno melhor e nem pior que ninguém. Não recebo nenhum “Prêmio Nobel de Santidade”. Sou apenas “diferente”, e diferente “apenas”. E assim sou na medida em que me deixo levar pelo jeito divino de me fazer diferente sem ser extraterreno ou extra-humano – o que demonstra que a santidade bíblica não tem nada a ver com a conotação religiosa do santo-beato, que se afasta do mundo para não se contaminar com o mal. Não. A diferença só aparece quando há mistura; a luz brilha onde há trevas; o sal, dentro do saleiro, não faz diferença alguma. Precisa entrar na salada para dar sabor. Somente santos, que não se eximem dos húmus que também compõem o humano e a vida terrena, podem ser “sal e luz da terra”. O resto é vaidade, orgulho, exibicionismo espiritual. Dois modelos advêm daqui. O primeiro é o do ascetismo: santidade como separação do mundo. Ela vem de uma interpretação duvidosa da própria ideia de “santidade como separação”, como se tal separação fosse uma separação de e não separação para, como vimos na ideia de vocação. Em outras palavras, para se manterem incontaminados do mundo, muitos ditos “santos”, ao longo da história, decidiram que era preciso se afastar do mundo, procurando uma via alternativa, normalmente orientada pela vida piedosa e de sacrifícios, regada a muita oração, devoção e jejum. Glossário ASCETISMO: palavra que vem de “ascese” ou a reunião de uma série de práticas e disciplinas que devem servir para que o santo (o asceta) se aproxime mais e mais da vontade de Deus e, porque não dizer, do paraíso celestial. Espiritualidade da ascese: disciplina e separação do mundo. 19Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã Ora, a própria “Oração Sacerdotal” de Jesus é um divisor de águas nesse sentido, pois ele ora ao Pai dizendo: “Não peço que os tire do mundo [kósmos], mas que os guardes do Maligno” (Jo 17.15, NTLH). Ou seja, Jesus está dizendo: não os arranque desta época, deste tempo, desta terra, mas, enquanto eles se encontram no meio disso tudo, desse mundo repleto de contradições, de complexidades e que tende a rejeitar e a perseguir aqueles/asque não se conformam com seus modos de operar, que eles/as aprendam a discernir a presença do mal no meio do mundo e, pelo poder da sua Graça, que eles/as possam ter seus corações guardados dele, escolhendo a vida e não a morte, a integridade e não a iniquidade, a espiritualidade e não a desumanidade. Esse é o segundo modelo: o da santidade como participação no mundo. Um exemplo dado por Paulo Brabo, no livro Em seis passos o que faria Jesus (em alusão ao famoso Em seus passos o que faria Jesus, de Charles Sheldon), é bastante útil para pensar estes dois modelos, a partir de João Batista e Jesus. Primeiro, ele defende a tese atípica, para muitos, de que os maiores antagonistas de Jesus nos evangelhos não são “fi gurantes” como os fariseus, os sacerdotes ou mesmo Satanás. O “verdadeiro antagonista” é João Batista, pois, como explica ele, “de todos os que em algum momento da história se opõem a Jesus ele é o único que representa verdadeira autoridade; de todos que se atiram no caminho de Jesus, querendo exercer sobre ele alguma infl uência, é João Batista que, em seu recato, chega a corresponder, contrapor-se a ele”. Mais do que isso, prossegue Brabo, de todos os personagens que protagonizaram histórias do Evangelho, “João Batista é o único que apresenta e representa uma alternativa ao estilo de vida que Jesus está propondo. João é o último habitante legítimo de um mundo que Jesus veio abolir” (Brabo, 2009, p. 36, 37). Vejamos a tabela na próxima página, a partir da explicação de Brabo, algumas características que distinguem João (o asceta) de Jesus (o participante): | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã20 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã João Batista, o outsider ou asceta Jesus, o insider ou participante Um profeta que clama do deserto. Um profeta que clama e age no meio da vida. Homem que se afasta deliberadamente do mundo, como parte essencial de sua missão. O caminho de Jesus é ‘caminho estreito’: é um caminho mais exigente que o do ascético, pois implica em presença no mundo, sem receio de se contaminar com sua “sujeira”. Não come frescuras como pão e vinho (dieta de gafanhoto e mel silvestre); não bebe, não aceita convites para festas, nunca é visto na cidade. Foi chamado de “comilão e beberrão”; não havia virtualmente ninguém a quem ele recusava sua proximidade: religiosos e pecadores; fariseus e prostitutas; ricos e pobres; fazendeiros e pescadores; cegos, loucos, possessos; homens e mulheres. Duvida da conduta do primo, e chega a questionar se ele é “aquele que estávamos esperando ou devemos esperar mais”. Não tem a menor dúvida sobre o importante papel exercido pelo Batista. Chega a dizer que, de todos os homens que já nasceram, “João é o maior”. Porém, adverte: “quem é o menor no Reino de Deus, é maior que ele” (Lc 7.28). 21Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã 3.3. Quatro teses sobre santidade Ser santo, como vimos no começo, é um fado, isto é, um destino, uma vocação. Um fado que pode se tornar fardo, às vezes, seja (dentro de um estado “normal” de coisas) quando reconheço a complexidade dessa carreira que me está proposta (fardo-desafi o, que pode ter tonalidades positivas), ou, pior, é fardo quando penso que a santidade depende de mim e de meus esforços “apenas” para existir. Ou seja, uma atividade menos pneumática (ou procedente do Espírito) e mais “anímica”, isto é, procedente dos instintos e disposições naturais do ser humano, como pontuou certa vez Dietrich Bonhoeffer (2006, p. 20). Ao mesmo tempo, é uma vocação que pode e deve ser alegre, leve, cheia de vida, à medida que não se separa da graça de Deus, nem da beleza de viver e de ser humano, conformando-me com o exemplo do “fi lho do homem”. Gostaria de propor, em suma, quatro teses (não inéditas) que endereçarão (parcialmente) a perspectiva desta disciplina sobre santidade: 1. Ser santo, como Deus é santo, implica em despretensiosidade ou em aceitar-se como se é. O que, no caso da santidade, signifi ca assumir-se como um ser pecador e naturalmente incapaz de santidade. Nisto se confi gura o que Tillich (1972, p. 128) chamou de “a coragem de ser”: “aceitar-se como sendo aceito, apesar de ser inaceitável”. Ele ainda acrescenta que “não é o bom, ou o sábio, ou o piedoso, quem está destinado à coragem de aceitar a aceitação, mas aqueles que são faltos de todas estas qualidades e estão certos de serem inaceitáveis”. 2. Ser santo, como Deus é santo, implica em abraçar a condição (contingente) de “ser como uma parte”, continuando a pensar com Tillich, e de se colocar, assim, como um ser sempre a caminho de se tornar. Nisto também se confi gura a vocação: ela não é para aqueles que | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã22 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã já-são, mas para os que, pela graça, podem vir-a-ser. Não seria este o convite do próprio Jesus: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores” (Mc 2.17)? 3. Ser santo, como Deus é santo, implica em esvaziar-se da ambição diabólica de “ser como (igual) a Deus”, e cobrir-se, em contrapartida, de humanidade, de “nova humanidade”. Parafraseando Zélia Duncan e Mosca na música “Carne e sangue”, me cobrir de humanidade me fascina e me aproxima do céu. Caminhar com Deus é um privilégio e uma dádiva, e não a conquista dos “caçadores de Deus” e suas formas de religiosidade sem conteúdo e sem vida, e, como disse J. Urteaga (1967, p. 75), cheias de “falsas virtudes que ocultam uma vergonhosa covardia”. Santidade que nos priva da vida e da benção de ser apenas humano não vem de Deus. Pois, segundo Elienai Cabral Jr. (2009, p. 17), ela “subestima a vida humana e impõe uma agenda de pretensa divinização da vida. Insinua uma existência sem tensões, medos, dúvidas e afl ições. Sem pequenos prazeres. Sem alegrias banais. Sem dança, festa, riso, vinho e amor”. 4. Ser santo, como Deus é santo, implica, por fi m, na inconformidade com qualquer outra medida que não seja a “medida da estatura da plenitude de Cristo”, sobre a qual falou Paulo (Ef 4.13). Para isto, é preciso “estar em Cristo”, que é tudo o que possibilita o caminhar em santidade de vida. O estar em Cristo me torna uma nova criatura. O “velho”, fraturado, vai dando lugar ao “novo”, em construção, e à “novidade de vida”. Em suma: tendo sido feito-santo, não deixo de ser humano, que, por si só, é incapaz de santidade ou contingente. A diferença é que, agora que fui alcançado pela graça, existe algo que me move rumo a um horizonte de vida abundante ao qual, por enquanto, experimento apenas de relance. A ideia de santidade como vocação me faz pensar, assim, que existe um já 23Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã que se apresenta como convite e como possibilidade de um vir a ser diário na graça. O santo-humano tem também seus demônios. Aprendendo a conviver com eles, sem a eles se render totalmente, é o que consiste em aceitar diariamente ao convite. Santidade sem sanidade – expressão de Robinson Cavalcanti (1997) – gera gente doente, e não gente santa. Em outras palavras, o anseio pela santidade sem o Evangelho não vira santidade, vira patologia. Agora assista o vídeo: “Santidade como trivialidade” (por Ed René Kivitz) Acesse o AVA para assistir! Exercício de aplicação Voltemos, por um momento,à tese central desse tópico: “Se a espiritualidade começa com a conversão, ela floresce ou amadurece com uma vida de ou em santidade. Saímos ao mundo para viver em santidade”. Assinale a alternativa cujas assertivas sejam uma implicação direta dessa tese (considerando ainda o modo como foi desenvolvida ao longo desse tópico): I. Santidade implica em saída ao mundo, mas não do mundo. II. Santidade implica em saída ao mundo, mas isso não signifi ca que compactuemos com todos os modos de operar (ou modus operandi) do mundo. III. Santos são separados por Deus para viver uma vida de santidade, o que deve signifi car ascese ou separação do mundo. IV. Santos são separados por Deus para uma vida de santidade, ou seja, eles possuem uma vida no mundo, se envolvem com seus meios próprios, participam dela, e no meio dela expressam, muitas vezes sem saber, sua santidade. Acesse o AVA para fazer o exercício e ver a reação do professor! | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã24 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã 4. A vocação da humanidade Para continuar a conversa, busquemos inspiração no livro de Gênesis, um livro que mostra como essa “aposta de Deus”, chamada humanidade, se desenvolveu. Pois minha tese aqui é de que quanto mais humanos nos tornamos, mais espirituais seremos. No princípio, Gênesis diz, Deus criou o céu e terra – tudo aquilo que nossos olhos veem, e o invisível também –, e em dado momento disse: “façamos o ser humano à nossa imagem, de forma que refl itam nossa natureza”. E o texto prossegue dizendo que “Deus criou os seres humanos; criou-os à semelhança de Deus, refl etindo a natureza de Deus, ele os criou macho e fêmea...” (Gn 1.26-28, TAM). Ou seja, parte da afi rmação de que “somos humanos, graças a Deus” vem dessa mensagem original: não apenas a de que Deus nos fez – humanos, mulher e homem – mas a de que ser humano signifi ca participar da natureza divina. Isso implica que todo amor, toda criatividade, toda energia e toda boa dádiva que provêm do divino estão potencialmente presentes na humanidade, transbordando nela (ou em nós). No início, porém, de nossa formação humana, nossos ancestrais míticos, Adão e Eva, decidiram balizar a defi nição de quem eram e, por conseguinte, de quem se tornariam, sobre uma falsa premissa ou crença: a de que mais do que humanos, era possível “ser como Deus” – conhecedores de bem e mal – e, ainda assim, não morrer. Existem teses diferentes sobre qual seria a “essência” do pecado original – e não poderia ser diferente, já que ninguém chega a conhecer a essência de nada. Afi nal, estamos falando de orgulho ou acedia (preguiça)? C. S. Lewis acreditava que o orgulho é “o grande pecado” e que, por causa do orgulho, o diabo se tornou quem é. Que o orgulho “leva a todos os outros vícios” e que, portanto, “é o estado mental mais oposto a Deus que existe” (Lewis, 2005, p. 162). Harvey Cox, por sua vez, se opôs a essa tese (embora não a Lewis diretamente) com a ideia de que comer do 25Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã fruto não foi um pecado de orgulho, mas de acedia, também traduzida como indolência, preguiça ou ociosidade. Para ele, “não desafi amos os deuses roubando corajosamente o fogo da lareira celeste e trazendo, assim, benefícios ao homem. Nada de heroísmos. Malbaratamos nosso destino ao permitir que uma cobra qualquer dissesse o que devíamos fazer” (Cox, 1970, p. 8). As duas teses têm seus atrativos. No primeiro caso, pecamos por querer “ser mais”. No segundo, pecamos por aceitar “ser menos”, ou melhor, por rejeitar nossa responsabilidade de “plasmar e realizar” nosso próprio destino. Para todos os efeitos, um mal engendrado em nós por um deslumbramento: o de que ser humano – nem mais e nem menos – não basta. Aumentar ou ceder o privilégio implica em deixar de ser humano. Signifi ca trair o projeto original, seja (a) usurpando a imagem e semelhança de Deus em busca de uma equivalência com Deus – querendo ser protagonistas demais –, ou (b) aceitando trocar a responsabilidade de ser “imagem e semelhança” pela indolência, ou o conforto de ter uma serpente qualquer decidindo sobre nosso destino – ou seja, abrindo mão de qualquer forma de responsabilidade. Que é precisamente o que Adão e Eva fazem no momento em que são indagados por Deus sobre as razões de terem comido o fruto: “foi a mulher que o Senhor me deu que me persuadiu a comer”, disse Adão; ou “é tudo culpa da serpente, que me enganou”, disse Eva. Como a humanidade se engendra, portanto, segundo Gênesis? Em primeiro lugar, por meio de uma afi rmação: Deus nos afi rma como participantes, tanto da própria divindade (como sua imagem e semelhança) quanto de toda a criação, como co-criadores e corresponsáveis pelo cuidado com a criação. Em segundo lugar, por meio de um deslumbramento ou ilusão: a possibilidade de ser mais ou menos do que “humanos, demasiadamente humanos”, como diria Nietzsche, fez com que rejeitássemos essa participação, e assim passássemos a afi rmar (egoisticamente) somente a nós mesmos e a nos tomar como “mais importantes que o mundo” (Nietzsche, 2005, p. 38) ou como a medida de todas as coisas. | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã26 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã O pecado original pode ser descrito, portanto, como a debandada humana de sua própria condição. E a inimizade para com nossa condição – também entendida como desumanização – implica em distanciamento e inimizade em relação a Deus. 4.1. A espiritualidade da serpente Tudo começa, porém, pelo que José M. Castillo chama de uma “sedução desorientada pelo divino”, que é “a atração perversa por tudo o que nós atribuímos a Deus: a atração pelo poder e pela glória, pelo domínio e pela grandeza, pelo êxito e pelo triunfo, pelo saber, e por ter tudo o que imaginamos ser próprio do divino” (Castillo, 2010, p. 31). O relato de Gênesis diz que “a mulher olhou para árvore e percebeu que o fruto era apetitoso. Pensando na possibilidade de conhecer todas as coisas, pegou o fruto, comeu e o repartiu com o marido – que também o comeu” (Gn 3.6, TAM). No mesmo momento, o relato diz, “eles perceberam a realidade: descobriram que estavam nus” (3.7). A condição que, até então, era apenas parte do modo natural de ser humano, passou a ter nome-próprio – “nudez” – acompanhado de um sentimento de vergonha e medo, pelo que o homem disse: “fi quei com medo, porque estava nu. Então, me escondi” (3.10). O jardim, a presença do Eterno e a natureza humana deixam naquele momento de ser motivo de alegria, migrando para o lugar do estranhamento. A humanidade passa a ser vergonhosa. Aqui também temos o protótipo de uma oferta de espiritualidade – porque o diabo é um fanático da espiritualidade desencarnada, e oferece à mulher, portanto, a possibilidade de um “espiritualismo puro, longe de toda dependência com relação a um pomar, longe da bovinidade de toda manducação”, como disse Fabrice Hadjadj (2017, p. 94); ou seja, longe da trivialidade humana do comer, evacuar e dormir. Temos aqui a fórmula da espiritualidade demoníaca ou da serpente: a espiritualidade como antídoto contra a humanidade. Opa, espera: já vimos esse fi lme em algum outro lugar? 27Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã Tenho a impressão de que sim. Saltando de Gênesis para a história, é possível dizer que um dos aguilhões da espiritualidade cristã ocidental esteveem seu estranhamento com a humanidade. Estranhamento grego (platônico), eu diria, que criou dualismos perversos: alma versus corpo; espírito versus matéria; sagrado versus secular; o cristão versus “o mundo”. Como resultado, a espiritualidade seria então a atenção que prestamos ao que acontece em nossa alma – morada do divino – deixando de lado, para não dizer desprezando, o corpo, a matéria e as atividades corriqueiras da vida. Em outras palavras, trata-se de uma espiritualidade “do jeito que o diabo gosta”, por separar o que Deus uniu e “viu que era bom”; por banalizar as boas dádivas da criação; por criar uma piedade domesticada e sem graça, que inibe o que Paul Tillich (1972) chamou de “coragem de ser”: a coragem de aceitar a aceitação (graça) e a coragem de ser como uma parte. Desde o princípio parece que criamos um estranhamento com o fato de que Deus nos aceita e nos ama do jeito que nós somos. E por que não amaria, se Ele nos fez assim? 4.2. A maldição da humanidade Olhar para o Gênesis é interessante pois percebemos que esse sentimento de desajuste para com nossa natureza – esse desconforto em estar na própria pele – está, de certo modo, inscrito em nossos genes e nos acompanha há milênios. Em primeiro lugar, pode-se dizer que há algo de irremediavelmente divino no ser humano, que Eclesiastes elaborou de modo trágico, quando disse que: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fi m” (Ec 3.11, ARA). Na tradução A Mensagem do mesmo verso, diz: “Sei que Deus pôs tudo no seu devido lugar e no tempo certo, mas nos deixou na escuridão, e a verdade é que não sabemos bem o que Deus quer, nem agora, nem no futuro”. Espera, deixa eu ver se eu entendi direito: | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã28 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã Deus fez tudo perfeito, tudo no seu devido lugar, a melhor criação possível, e também nos fez, humanos, graças a Deus! Mas deixou dentro da gente uma chama acesa, um senso ou gosto pelo que excede o nosso entendimento (o que também poderíamos chamar de aperitivo do infi nito), mas sem que pudéssemos dar conta, explicar ou satisfazer plenamente esse sentimento? Por que Ele faria algo assim? Uma ilustração: quando Moisés começou a fazer alguns apelos ao Senhor, em Êxodo 33, dentre eles estava o pedido: “Por favor, permita que eu veja a tua glória”, a sua kavod. E o Senhor responde com um “vamos fazer assim”: meu brilho e minha bondade passarão diante de você; o meu nome estará diante de você; minha compaixão e minha misericórdia desfi larão diante dos seus olhos. Mas, o meu rosto você não poderá ver, porque você não suportaria. Então, “você me verá pelas costas. Mas não verá o meu rosto” (Êx 33.21-23). Bem, a resposta à pergunta acima então pode ser: Ele nos disponibiliza somente aquilo que a gente consegue aguentar. Em pequenas doses, sempre parcialmente. O aperitivo do infi nito, ou a eternidade no coração, nos põe em busca, mas a experiência e, porque não dizer, a teologia daí resultantes, são apenas em bocadinhos, sempre um começo de conversa. Porque, em segundo lugar, também podemos dizer que há algo de irremediavelmente humano no ser humano, que pode ser endereçado pela palavra contingência (falta ou insufi ciência). E, com ela, vem a sensação de que nunca somos, nem seremos: fortes o bastante, inteligentes o bastante, felizes o bastante, bons o bastante, espirituais o bastante. E não seremos mesmo. Robert Louis Stevenson, no clássico O médico e o monstro – o estranho caso do dr. Jekyll e o sr. Hyde, de 1885, apresenta, indiretamente, o que eu chamaria de uma parábola moderna do pecado original. O personagem principal, o dr. Henry Jekyll, é descrito como um cientista sério e de reputação ilibada, que sempre fez de tudo para manter publicamente essa imagem de homem virtuoso, profi ssional excelente, uma pessoa de disposição alegre e entusiástica, e que assim faria a felicidade de 29Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã muitos. Algo que ele, Jekyll, descrevia, porém, como seu pior defeito: o de ser pretensamente bom, e duro demais consigo mesmo. Para isso, ele precisava esconder seus impulsos e prazeres, e logo se viu no que chamou de “uma profunda duplicidade”: seu lado bom e o que ele julgava como “a parte inferior de si mesmo” estavam em guerra (a exemplo de Romanos 7). Tomado por um sentimento de vergonha dessa condição (veja o paralelo com os primeiros humanos), ele teve um devaneio: por que não inventar uma fórmula que seja capaz de separar essas duas partes? Cito o personagem: Se cada um, pensei, pudesse ocupar identidades distintas, a vida seria aliviada de tudo que é insuportável; o injusto seguiria seu caminho, livre das aspirações e do remorso de seu gêmeo mais digno; e o justo poderia percorrer com passos fortes e seguros seu caminho ascendente, praticando as boas ações que lhe dão prazer, não mais exposto à desgraça e à penitência causada por obra daquele mal extrínseco. A maldição da humanidade foi que esses dois feixes incongruentes tivessem sido amarrados juntos – que no ventre angustiado da consciência aqueles gêmeos opostos lutem continuamente. (Stevenson, 2015, p. 126, grifo meu) Na pele de seu atormentado personagem, Stevenson nos faz imaginar (ou recordar) um ser humano quase divino, porque puro e livre das “angústias e agruras dessa vida que são postas sobre nossos ombros” (aqui parece Eclesiastes falando); um ser soberano em relação aos apetites mais primitivos do humano e, assim, livre da vergonha, do fardo e da culpa, e para um fi m nobre: fazer o bem e tão somente o bem! Ao colocar em prática seu plano, Jekyll ainda relata ter reconhecido que seu “corpo natural era apenas a aura e a radiância de alguns poderes” que compunham seu espírito, até então destronados pelos “elementos inferiores de sua alma” (Stevenson, 2015, p. 126). Quem condenaria Jekyll por esse ato imponderado? Quem não gostaria de poder ser humano, sem ter de carregar todas as esquisitices e neuroses que povoam nossos variados modos de ser e personalidades? Jekyll é | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã30 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã uma nova versão de Adão e Eva; Jekyll sou eu e é você. Como nossos pais humanos, ele também foi atraído pela espiritualidade da serpente. Exercício de fi xação Escolha abaixo a alternativa que melhor representa o que chamei de “espiritualidade da serpente”: a) Uma proposta de espiritualidade existente desde o Éden que passou a existir como uma espécie de antídoto contra a humanidade. b) Uma proposta de espiritualidade existente desde o Éden e que signifi ca basicamente harmonia com Deus e com a criação. Escolha a alternativa e acesse o AVA para ver a reação do professor! 4.3. É preciso manter todas as partes unidas! Agora, é claro que é uma representação que tem limites (Stevenson escreveu em 1885!), que na natureza humana há uma rede intrincada de laços e de rupturas, de modo que não é apenas “dual”, mas múltipla. De fato, o personagem dr. Jekyll faz uma descrição interessante de si mesmo, humano, como um “amálgama contraditório cuja reforma e aperfeiçoamento [ele] já perdera a esperança de realizar” (Stevenson, 2015, p. 129). Há duas lições importantes aqui: (1) Primeira, a humanidade em nós não é algo que vem pronto em uma bandeja pelo simples fato de que somos humanos, mas deve ser desenvolvida, reformada, e aperfeiçoada sempre– parafraseando Paulo Freire, o ser humano não é, ele está sendo, ou lembrando do que disse outro Paulo, o apóstolo: eu não considero ter alcançado a perfeição, eu não tenho tudo junto (cf. Fp 3.12); (2) Segunda, diante da enorme tarefa que é se tornar mais e mais humanos, e de todas as difi culdades, eventuais fracassos, as injustiças e desigualdades 31Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã da vida – a vida não é justa, nem faz sentido, Eclesiastes que o diga –, muitas pessoas se desesperam, cansam de tentar, cansam de fazer o bem, cansam de lutar, e logo são atraídas, de novo, pela oferta da serpente que está sempre à espreita. Uma poção mágica quem sabe e “bam!”, confl ito resolvido? Não, o Eterno nos alertou lá no livro de Gênesis: querer ser mais ou menos que humanos signifi ca morte. E, não custa lembrar (alerta para spoiler!): esse foi o triste fi m do dr. Jekyll, que sabia dos riscos e mesmo assim arriscou. A sabedoria bíblica, entretanto, nos ensina uma terceira importante lição: (3) É preciso (aprender a, e ter coragem de) manter todas as partes unidas! Um último exemplo, extraído de Eclesiastes, e caminhamos para o fi nal dessa minha provocação: Em Eclesiastes (7.15-20, TAM), lemos: 15 A minha vida tem sido uma ilusão, mas nela eu tenho visto de tudo. Há pessoas boas que morrem, e há pessoas más que continuam a viver a sua vida errada. 16 Por isso, não seja bom demais, nem sábio demais; por que você iria se destruir? 17 Mas também não seja mau demais, nem tolo demais; por que você iria morrer antes do tempo? 18 Evite tanto uma coisa como a outra. Se você temer a Deus, terá sucesso em tudo. 19 A sabedoria pode fazer mais por uma pessoa do que dez prefeitos juntos podem fazer por uma cidade. 20 Não existe no mundo ninguém que faça sempre o que é direito e que nunca erre. A primeira má-notícia – sim, porque em toda boa-nova existe uma “má- nova” mais ou menos explícita –: justiça (e bondade) não garante bem- estar e longevidade, assim como a maldade não resulta necessariamente em fracasso ou sofrimento. Então, se você deseja fazer o bem, que não | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã32 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã seja pelos louros, porque pode ser que não alcance. Depois, segunda má-notícia: ele mostra pra gente que isso era mais pretensiosidade que realidade, ou seja: ninguém “é” inteiramente bom ou inteiramente mau, e que quem vive com essa pretensão é uma pessoa dividida (ou não íntegra), sugada para os extremos. Só que aqui ele quebra com a tradicional teoria da recompensa e a moralidade baseada em causa e efeito, que afi rma: o justo alcança uma larga vida enquanto o malvado perderá no fi m. Em seguida, ele diz algo que é uma aparente contradição: “Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer antes da hora?” (v. 17, TJC). Parece indicar que os extremos levam à autodestruição, mesmo que, no caso da maldade, por exemplo, se possa ter alguma sobrevida. A última recomendação é bem inusitada, e eu encaro como uma grande boa-nova: “retenha uma coisa e não abra mão da outra”. Isso signifi ca evitar o caminho ilusório do Dr. Jekyll. Sobre isso, leiamos sua triste confi ssão: Aqui preciso falar teoricamente, não dizendo o que sei, e sim o que suponho ser mais provável. O lado mau de minha natureza, ao qual eu havia agora concedido a capacidade de corporização, era menos robusto e menos desenvolvido que o recém-deposto lado bom. Por certo, no curso de minha vida – nove décimos da qual compostos de esforço, virtude e controle –, aquele lado fora menos exercitado e menos gasto. (Stevenson, 2015, p. 128) Quer dizer, esse homem fez exatamente o oposto do que sugere o Pregador. Que, a meu ver, não é para que exercitemos nossa maldade inerente de caso pensado, mas que reconheçamos que ela existe, que está dentro da gente, que faz parte de nossa humanidade. Harold Kushner (1999, p. 66) traduz esse mesmo v. 17 de modo muito interessante: “Permita que sua vida seja uma mistura de devoção e pecado, tudo de forma moderada!”. Eis então o retrato de um ser humano insuportável (para si e para os outros): aquele/a que crê piamente na equivalência entre suas crenças e sua vida prática. Imagina-se demasiadamente justo e bom. Ledo engano. Integridade também signifi ca admitir sua incapacidade de viver 33Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã inteiramente o que acredita e prega. É preciso fazer o possível para manter todas as partes unidas? Sim. Mas, eis o paradoxo: ninguém tem tudo junto. E se afi rma ter, mente. E o demônio exulta. Por isso, é preciso reverberar outra vez Eclesiastes: “não há um justo sequer sobre a terra que faça [apenas] o bem e nunca peque” (TJC). Ou: “Não há uma única pessoa perfeita no mundo; nenhuma que seja pura e sem pecado” (TAM). Elsa Tamez (1998, p. 160) conclui que “a luta infi nita por ser bom é também desumanizante. O que Qohélet está dizendo é que é próprio do humano não ser justo sempre”, bem como não ser mau o tempo todo. Quem teme a Deus procura evitar os extremos. Texto de Apoio Em seu livro Na liberdade da solidão, Thomas Merton diz o seguinte: A vida espiritual é, antes de mais nada, uma vida. Não é apenas algo a ser conhecido e estudado; tem de ser vivido. Como toda vida, defi nha e morre quando separada de seus elementos próprios. A Graça está enxertada em nossa natureza e o homem todo está santifi cado pela presença e ação do Espírito Santo. A vida espiritual não é, portanto, uma vida completamente separada, desarraigada da condição humana e transplantada para o ambiente angélico. Vivemos como criaturas espirituais quando vivemos como homens que procuram a Deus. Para sermos espirituais, temos de permanecer homens. E, se isso não fosse evidenciado em toda parte na teologia, o Mistério da Encarnação seria disso, amplamente, uma prova. Por que Cristo se fez homem senão para salvar os homens unindo-os misticamente a Deus por meio de sua santa Humanidade? Jesus viveu a vida – ordinária – dos homens de todos os tempos. Se queremos, pois, ser espirituais, vamos em primeiro lugar viver a nossa própria vida. Não tenhamos medo das responsabilidades e inevitáveis distrações inerentes à tarefa a nós confi ada pela vontade de Deus. Abracemos a realidade; assim nos encontraremos imersos na vontade vivifi cadora e na sabedoria de Deus, que por toda parte nos envolve. (Merton, 2001, p. 40) | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã34 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã Resumindo a ideia: ser espiritual é ser mais e mais humano! A espiritualidade é uma integridade. A falta de integridade, a sedução da espiritualidade da serpente, nos faz querer optar por um ou outro extremo, e viver divididos. A integridade, porém, implica em assumir quem somos, discernindo com maturidade nossas ações, e agindo de acordo com o que acreditamos [afi nando-se o mais possível à vontade de Deus]. O equilíbrio, por outro lado, também envolve não se deixar paralisar diante das difi culdades – permitindo que uma “lei moral”, que às vezes milita contra a vida, fale mais alto, deixando, assim, de viver e realizar o potencial da vida em função dessas interdições. Quanto mais amadurecemos e crescemos enquanto pessoas de fé e humanas, mais os nossos “joios” (lembrando da parábola do joio e do trigo), ou o que em nós estava obscuro, vem à tona. E nãoé nossa tarefa extinguir o “Mr. Hyde”, pois se o fi zermos provavelmente eliminaremos também o “Dr. Jekyll”. É preciso, por mais estranho que isso possa parecer aos nossos ouvidos cartesianos, deixar que eles cresçam juntos! Nilton Bonder (1998, p. 82) disse o seguinte: “Aquele que não faz uso de todo o potencial de sua vida, de alguma maneira diminui o potencial de todos os demais. Se fôssemos todos mais corajosos e temêssemos menos a possibilidade de sermos perversos, este seria um mundo de menos interdições desnecessárias e de melhor qualidade”. Exercício de aplicação Leia o texto seguinte e em seguida responda o que se pede: Jesus lhes contou outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo. Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi. Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu. Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa semente em seu campo? 35Introdução à espiritualidade cristã Espiritualidade Cristã | FTSA | Introdução à espiritualidade cristã Então, de onde veio o joio?’ ’Um inimigo fez isso’, respondeu ele. Os servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que vamos tirá-lo?’ Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderão arrancar com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até à colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’. (Mateus 13.24-30) 1. De acordo com a parábola, qual alternativa melhor corresponde ao que se diz sobre o funcionamento das coisas no “reino dos céus”: a) No reino dos céus, no mesmo solo em que a bondade germina e cresce, também cresce a maldade e a impiedade. b) No reino dos céus a bondade e a justiça estão onde a maldade e a impiedade não estão e vice-versa. 2. O que o estranhamento e a atitude dos servos do dono do campo representam? a) Representam a concepção de santidade como participação, que não teme perder-se e se contaminar com o mundo. b) Representam a concepção de santidade como ascetismo, que teme que o santo se torne profano pelo contato com o mundo, e propõe separá-los. 3. Em que medida a postura do dono do campo nos ajuda a evitar o caminho adotado pelo doutor Jekyll, em O médico e o monstro? a) Na medida em que nos instiga a encontrar uma fórmula de separar bem e mal na humanidade; o bem crescerá quando o mal for extirpado. b) Na medida em que nos instiga a ver bem e mal como realidades inseparáveis no mundo e no ser humano; não saberíamos o que é o bem, não fosse o mal. Escolha as alternativas, depois acesse o AVA para ver a reação do professor em cada questão! | Espiritualidade Cristã | FTSA Introdução à espiritualidade cristã36 | FTSA Introdução à espiritualidade cristã Referências bibliográfi cas AGOSTINHO. Confi ssões. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1996. BARTH, Karl. Introdução à teologia evangélica. São Leopoldo: Sinodal, 2003. BONDER, Nilton. A alma imoral: traição e tradição através dos tempos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. BONHOEFFER, Dietrich. Vida em comunhão. São Leopoldo: Sinodal, 2006. BRABO, Paulo. Em seis passos o que faria Jesus. São Paulo: Garimpo, 2009. CABRAL JR., Elienai. Salvos da perfeição. Mais humanos e mais perto de Deus. Viçosa: Ultimato, 2009. CASTILLO, José M. A ética de Jesus. São Paulo: Loyola, 2010. CAVALCANTI, Robinson. A utopia possível. Viçosa: Ultimato, 1997. COSTAS, Orlando. Proclamar libertação. Uma teologia de evangelização contextual. São Paulo: Garimpo, 2014. COX, Harvey. The Future of Faith. New York: HarperOne, 2009. _________. Que a serpente não decida por nós. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. GALILEA, Segundo. Seguir a Jesus. São Paulo: Paulinas, 1979. HADJADJ, Fabrice. A fé dos demônios ou a superação do ateísmo. 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São Paulo: Quadrante, 1967. Atenção! Lembre-se de realizar as atividades avaliativas da disciplina. 1- Faça todos os exercícios desta unidade; 2- O "Exercício integrativo" consiste em um resumo de toda disciplina contendo entre 800 e 900 palavras, portanto, sugerimos que você já faça o resumo desta unidade como parte desta avaliação. Faça esse resumo em um arquivo de texto, salve-o em seu computador e use-o novamente para adicionar no resumo das outras unidades e ao fi nalizar o resumo de toda a disciplina, poste-o ao completar esta tarefa acessando o link "Avaliações"; 3- Lembre-se de ler alguns dos textos complementares (em torno de 25 páginas) para cumprir a exigência de leitura de pelo menos 100 páginas da lista disponibilizada aqui; 4- Ao fi nal da unidade II, você deverá fazer a primeira prova objetiva. Consulte o “Programa de curso” para mais informações sobre as "avaliações". Fique atento ao prazo fi nal para a realização das "avaliações". | Espiritualidade Cristã | FTSA Religião, fé e espiritualidade38 | FTSA Religião, fé e espiritualidade UNIDADE II – RELIGIÃO, FÉ E ESPIRITUALIDADE Introdução A busca por uma espiritualidade encarnada – meu mote na primeira unidade – passa, também, pelo reconhecimento das mais esquisitas e paradoxais paragens humanas, lugares em que não apenas damos signifi cado à vida, como também construímos e damos sentidos a nossa relação com o divino e sua criação. A religião é certamente um desses lugares, que demarcam nossa ambiguidade humana: somos movidos pelo incondicional e, ao mesmo tempo, muito presos à condicionalidade, isto é, às crenças, aos conceitos, às ideias e imagens que fazemos do divino e do mundo. Quais são as consequências ou implicações disso para a fé? Sim, porque a fé é diferente da religião, que é diferente da espiritualidade, embora sejam conceitos em relação. E precisamente por estarem em relação é que decidi escrever o relato que você lerá nesta unidade. Num segundo momento, tentarei fazer uma síntese sobre o que signifi ca permanecer crendo, escolhendo a fé, diante das eventuais desconstruções pelas quais passamos em meio a um universo de descrença e ceticismo, ou mesmo de dúvidas e incertezas que cercam nossa espiritualidade tanto no plano intelectual quanto no plano existencial. Farei isso em dois momentos: no primeiro, discorrendo sobre a sustentação e os limites da crença e, no segundo, apresentando o que aqui chamarei de “arte de perder chãos”. Objetivos da unidade 1. Perceber o que uma teoria ou concepção de religião pode revelar sobre seu objeto – que, para Tillich (1973), é o “incondicional”; 2. Defi nir fé também apartir das relações entre o condicional e o incondicional; 3. Descobrir um novo tipo de racionalidade, orgânica e vital, na expressão da fé; 4. Refl etir sobre a necessidade e (arte) de perder chãos, de desconstrução para uma nova construção. 39Religião, fé e espiritualidade Espiritualidade Cristã | FTSA | Religião, fé e espiritualidade 1. O que é religião? A palavra “religião” é antiga e remonta aos tempos bíblicos. No Novo Testamento, por exemplo, a aparição mais conhecida do conceito se encontra na carta de Tiago (1:27-28), no que ele denomina de “religião verdadeira”. Outras ocorrências podem ser vistas em Colossenses 2:18 e Atos 26:5. No primeiro, o termo em grego (threskeia) signifi ca “adoração religiosa”, e, no segundo, “sistema religioso”. Sabemos que na antiguidade cristã existiam inúmeras religiões entre os diferentes povos; até mesmo os gregos e os romanos eram bastante religiosos (vide o que disse Paulo aos atenienses em Atos 17), praticavam o politeísmo, que é a crença em ou culto a vários deuses. Sabemos também que o cristianismo primitivo teve uma base religiosa, advinda do judaísmo, sobretudo. Jesus e os apóstolos eram judeus e seguiam os princípios da religião judaica. Como explica Frank Whaling (in McGrath, 1993, p. 547), “o simples uso da palavra ‘religião’ implica em uma teoria sobre a religião”. Assim, gostaria de utilizar outra defi nição possível como ponto de partida para nossa conversa aqui: Religião é um sopro humano na busca pelo incondicional. De onde a retiro? Primeiramente, da ideia de que a religião nasce do desejo ou busca pela transcendência (ou pelo infi nito) que há em todo ser humano. Eclesiastes – como já observei na unidade temática anterior e quero retomar aqui – chama isso de um senso de “infi nito” que há no coração humano: “Deus pôs a eternidade no coração do homem sem que este saiba as obras que Deus fez do princípio até fi m” (Ec 3:11). De acordo com Harold Kushner (1999, p. 25), “Deus plantou em nós uma fome que não pode ser saciada, uma fome de sentido e signifi cado”. Essa “eternidade no coração”, expressa bem essa fome pelo inexplicável, indizível, pelo que está além de nós; é o senso de vazio e escuridão diante de uma infi nitude que não cabe dentro de nós, mas que desejamos desesperadamente: viver, e viver eternamente! Como diz Luiz Felipe Pondé (2015, p. 23), “somos seres feitos de abismos”. A busca pela transcendência na contemporaneidade assume outras facetas, mas expressa o mesmo anseio. Segundo John Stott (1998, p. 246), consiste no anseio “pela realidade suprema, que se encontra além | Espiritualidade Cristã | FTSA Religião, fé e espiritualidade40 | FTSA Religião, fé e espiritualidade do universo material. É um protesto contra a secularização, isto é, contra a tentativa de eliminar Deus de seu próprio mundo”. Trata-se de uma reabertura que vemos crescer no mundo atual de um espaço, que vinha sendo ocupado pelo racionalismo, o progresso e a ciência, por exemplo, como conquistas modernas, para a experiência do transcendente. Daí vem o renascer da espiritualidade, ou melhor, das espiritualidades, em um renovado senso do divino, do mistério e do temor. Neste tempo vemos o fl orescer da religiosidade, como expressão espontânea e busca de relacionamento das pessoas com Deus através de ritos, performances e adorações, e menos da religião institucional e seus mecanismos de controle ou domesticação. Aqui vai mais uma ideia importante: O senso de infi nito no coração humano nos conduz ao transcendente. Minha defi nição aqui pretende convergir tanto com a visão clássica romântica de Friedrich Schleiermacher (2000, p. 35), para quem a religião, em sua essência humana, “é sentido e gosto pelo infi nito”, como a de Paul Tillich (1973, p. 61), que a defi ne como “a orientação do espírito ao signifi cado incondicional”. Em outro lugar, o autor defi ne religião como “preocupação suprema (ultimate concern), manifesta em todas as funções criativas do espírito bem como na esfera moral na qualidade de seriedade incondicional que essa esfera exige” (Tillich, 2009, p. 45). Gosto pelo infi nito, orientação para o incondicional, preocupação suprema: todas indicando tanto uma origem no ser, como um fi m último para a religião. Mas isso, é claro, não é tudo. O texto de Eclesiastes também diz que isto se dá sem que o ser humano conheça as obras ou o percurso de Deus do princípio até o fi m, exceto, acrescento, por aquilo que Deus mesmo deixou, seus rastros, primeiramente no universo criado. Ou seja, o ser humano tateia pelo infi nito, mas só consegue encontrá-lo através de expressões fi nitas. Em Romanos, o apóstolo Paulo diz que “os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas...” (Rm 1:20). Quer dizer, parte do que de Deus se pode conhecer está, desse modo, manifesto na vida que pulsa em nós e além de nós, na natureza. Pode-se inferir então que a religião nasce, em segundo lugar, do seguimento humano pelo caminho em que se encontram os vestígios, os rastros, ou as pegadas do divino ou do incondicional. 41Religião, fé e espiritualidade Espiritualidade Cristã | FTSA | Religião, fé e espiritualidade Exercício de aplicação Observe o seguinte trecho do livro do profeta Amós (na tradução “A Mensagem”, de Eugene Peterson), e em seguida responda às questões: Não suporto os encontros religiosos de vocês. Estou cheio dos seus congressos e convenções. Não me interessam seus projetos religiosos, seus lemas e alvos presunçosos. Estou enojado das suas estratégias para levantar fundos, das suas táticas de relações públicas e criação da própria imagem. Não suporto mais sua barulhenta música de culto ao ego. Quando foi a última vez que vocês cantaram para mim? Alguém aí sabe o que eu quero? Eu quero justiça – um mar de justiça. Eu quero integridade – rios de integridade. É isso que eu quero. Isso é tudo que eu quero (Am 5.21-24 – Grifos meus). 1. Qual das alternativas abaixo melhor corresponde a visão ou o conceito que Amós transmite sobre religião? a) Religião é uma expressão sincera do coração humano que se conjuga com o desejo de adorar e servir somente a Deus. b) Religião é uma criação humana, cujos projetos, convenções, instituições e estratégias revelam mais do ego humano do que do Deus, a quem se diz adorar. Acesse o AVA para fazer e ver a reação do professor! 2. O que signifi caria, no contexto da argumentação de Amós, “cantar para Deus”? a) Cantar com o coração voltado para Deus e o que o move, e não primordialmente para si mesmo. b) Erguer sua voz e cantar de modo fervoroso para que Deus ouça. Acesse o AVA para fazer e ver a reação do professor 3. O que é preciso para viver uma espiritualidade íntegra, segundo Amós? a) É preciso andar retamente, respeitando os costumes de sua igreja e frequentando constantemente seus cultos. b) É preciso amar a justiça e viver de acordo com aquilo que prega. Acesse o AVA para fazer e ver a reação do professor | Espiritualidade Cristã | FTSA Religião, fé e espiritualidade42 | FTSA Religião, fé e espiritualidade 1. Religião, revelação e o condicional Como seres humanos, somos, contudo, condicionais. Pertencemos à humana condição: mortal, limitada e, biblicamente falando, pecaminosa ou concupiscente. O pecado é o que, originalmente, segundo Gênesis (3:1-7), nasceu de uma tentativa do homem e da mulher originais de se igualar a Deus na ciência do bem
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