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Identidade Cultural em Porto Alegre

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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
FADERGS – FACULDADE DE DESENVOLVIMENTO DO RIO GRANDE DO SUL
Cínara Dupont de Sousa 
Psicologia/2021
INTRODUÇÃO
 A identidade é construída ao longo do tempo, geralmente resultante de enfrentamentos por um território, quando os indivíduos lutam por um único ideal. Canclini (1999). Unindo assim as diferenças e conflitos, aculturando-se e desenvolvendo regras de convivência que legitimem seu modo de ser e garantam sua posteridade. Desse modo, suas preferências, seus hábitos rotineiros, sua culinária e sua indumentária, entre outros aspectos, fazem parte da formação de sua identidade. Hall (2006, p.39) corrobora a ideia de Canclini (1999), afirmando que, psicanaliticamente, o ser humano “continua buscando a identidade e construindo biografias que tecemos em Bombacha: o símbolo da identidade gaúcha”. Assim a identidade é formada, ao longo do tempo, através de processos inconscientes. Existe sempre algo imaginário ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em processo”, ou seja, sempre em construção (HALL, 2006, p.39). Bauman (2001, p.102) complementa o dito acima dizendo que:
“A identidade cultural no Brasil é atribuída de uma forma simplificada: uma origem a miscigenação entre brancos, negros e indígenas. No entanto, a realidade não é tão simples assim. “
 A identidade cultural é um conceito das áreas da sociologia e antropologia, que indica a cultura em que o indivíduo está inserido. Ou seja, a que ele compartilha com outros membros do grupo, seja tradições, crenças, preferências, entre outros. É um conceito muito abordado nas últimas décadas, no entanto, sempre existiu. Ou seja, desde os primórdios os homens se organizavam em grupos sociais, os quais compartilhavam informações e identificações com seus membros. A interação social entre os seres humanos fez surgir as diversas culturas, ou seja, o conjunto de costumes e tradições de um povo, os quais são transmitidas de geração em geração. O sentimento de pertencimento surge então, a partir das experiências que os seres humanos desenvolvem durante sua vida social, no entanto, o local e a história de tais civilizações são essenciais para compreender esse conceito.
 É muito importante deixar claro que um brasileiro pode não se identificar com os aspectos mais relevantes e os elementos culturais associados à sua Nação, como acontece com diversos brasileiros que não gostam de futebol ou do Carnaval. Portanto, vale lembrar que o conceito de identidade cultural é muito complexo e depende de vários fatores e experiências de vida. Como depende dos locais e da história. No Rio Grande do Sul teremos hábitos, interações com os grupos em rodas de chimarrão e churrasco, enquanto no Rio de Janeiro a reunião será na praia, jogando futevôlei. Sendo assim, analiso Porto Alegre sob vários aspectos sendo eles: Cor e Raça, Religião, Língua, Vestuário, Música e Dança, Manifestações Festivas, Tempos Livres, Gastronomia, Habitações, Usos e Costumes, História e Patrimônio, para identificar a sua identidade cultural e como se relaciona com os diversos acontecimentos e forma de vida e que nos trouxe até onde estamos.
1 ANTROPOLOGIA
1.1 HISTÓRIA E PATRIMÔNIO
 A cidade de Porto Alegre tem como data oficial de fundação 26 de março de 1772, com a criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, um ano depois alterada para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. O povoamento, começou em 1752, com a chegada de 60 casais portugueses açorianos trazidos por meio do Tratado de Madri para se instalarem nas Missões, região do Noroeste do Estado que estava sendo entregue ao governo português em troca da Colônia de Sacramento, nas margens do Rio da Prata. A demarcação dessas terras demorou e os açorianos permaneceram no então chamado Porto de Viamão, primeira denominação de Porto Alegre. Porto Alegre se tornou a capital da capitania, com a instalação oficial do governo de José Marcelino de Figueiredo, o qual passou a receber imigrantes de todo o mundo, em particular alemães, italianos, espanhóis, africanos, poloneses, judeus e libaneses, isto em 1824. José Marcelino de Figueiredo (JMF) ao chegar no Porto dos Casais, proveniente do Rio de Janeiro, trazia consigo a Ata do vice-rei, Marquês do Lavradio que o nomeava governador da Capitania, com plenos poderes para erguer as construções necessárias à proteção da localidade e todas as iniciativas que modificassem o “status” do então Porto dos Casais. O detalhe é que JMF precisou de muito pouco tempo para concluir sobre a realidade daquele povoado, situado às margens do rio Guaíba – “a estratégica posição do Porto dos Casais, situado a meio caminho entre Rio Grande e Rio Pardo, os dois polos mais fortificados do Continente, é uma garantia de segurança e de fácil acesso”, proclamou Marcelino sobre a localização do então Porto dos Casais. (PMPA)
 É nessa região que nasceu o gaúcho, figura histórica, dotada de bravura e espírito guerreiro, resultado de lendárias batalhas e revoltas por disputas de fronteiras entre os Reinos de Portugal e Espanha, a partir do século XVI. (PMPA)
 Revoltas, ocorreram várias. Mas, a chamada Guerra dos Farrapos se iniciou com um enfrentamento ocorrido na própria capital, nas proximidades da atual ponte da Azenha, no dia 20 de setembro de 1835. Mesmo sufocado, foi este conflito que gravou na história o mito do gaúcho e é até hoje cantado em hino, comemorada em desfiles anuais e homenageada com nomes de ruas e parques (PMPA). Com o fim da Guerra dos Farrapos, a cidade retomou seu desenvolvimento e passou por uma forte reestruturação urbana nas últimas décadas do século XVIII, principalmente pelo rápido crescimento das atividades portuárias e dos estaleiros. 
 O lago contorna a cidade numa extensão de 70 km de orla fluvial, a expressão geográfica mais marcante da capital gaúcha. O conjunto de ilhas, parques e de áreas de preservação natural, somado à área rural e ao elevado índice de arborização das vias públicas, fazem de Porto Alegre uma cidade verde, acima do recomendado pela organização Mundial da Saúde (OMS).
 A paisagem da capital do Rio Grande do Sul, mostra o cenário de uma cidade que se transforma em metrópole, mas ainda conserva ares de uma pequena província. 
No dia-a-dia, quando existe a interação com os pontos importantes da cidade, passa desapercebido, toda história por trás dos 245 anos, do qual Porto Alegre já existe e como estes locais se encaixam hoje na rotina dos gaúchos do século XXI.
 No início da década de 1920, Porto Alegre começa a recuperar a hegemonia econômica que havia perdido para Pelotas. A arquitetura da cidade, que tinha grande influência açoriana, passa a receber edifícios maiores. Em 1923, é inaugurada a primeira parte do Majestic Hotel, na Rua da Praia, com quatro pavimentos e 150 quartos. Surge um concorrente para o Grande Hotel, até então o mais luxuoso da cidade. A segunda parte do Majestic foi concluída em 1927, e o hotel passou a ter 300 quartos, alguns apartamentos especiais para famílias nobres e salão de refeições para 600 pessoas. O declínio do Majestic Hotel ocorreu na década de 1940 com o crescimento acelerado da população de Porto Alegre. O centro da cidade entra em processo de degradação e é abandonado pelas classes mais abastadas. Depois de diversas alterações administrativas, o luxuoso Majestic Hotel passa a funcionar como pensão mensalista e abrigar, em sua grande maioria, aposentados e idosos. Em 1982, o governo do estado adquire o edifício, que passa a ser patrimônio histórico, com sua transformação na Casa de Cultura Mário Quintana. O poeta viveu por muitos anos no hotel. O quarto onde o escritor morava entre 1968 e 1980 foi preservado e é aberto para a visitação dos admiradores. 
 A Ponte de Pedra, que começou a ser construída em 1846 pelo Conde de Caxias na Rua da Figueira, no chamado Largodos Açorianos, é considerada um testemunho da Porto Alegre de antigamente. Surgiu para substituir a ponte de madeira que ficava sob o Riachinho, atual Arroio Dilúvio, depois dos danos provocados pelas enchentes de 1833 e 1844. Inaugurada em 1848, era o caminho que ligava as chácaras ao centro da cidade.
No ano de 1937, depois que o Arroio Dilúvio sofreu alterações de curso, a obra foi transformada em monumento. A Ponte de Pedra foi tombada pelo município em 1979 e ganhou um espelho d'água sob os seus três pilares em arco. Mais de um século depois, mesmo ociosa e sofrendo ações de vândalos, é um dos pontos turísticos da capital gaúcha.
 A história da Avenida Borges de Medeiros é recente, data do início da década de 1920. A via, no entanto, é a antiga Rua General Paranhos, um estreito beco que subia desde a Rua General Andrade Neves até a Duque de Caxias. No princípio, a rua era conhecida principalmente pelos focos de prostituição e crimes. Projetos de urbanização, melhoria e alargamento foram desenhados em 1894, mas só se concretizaram em 1925, no governo do intendente Otávio Rocha. “Será construído um viaduto de cimento armado, em arco batido, por onde se fará a passagem da Rua Duque de Caxias”, relatou o político na época. Com 21 metros de largura e 1.050 metros de extensão, corria por ali uma linha dupla de bondes. Atualmente, corta o centro da cidade até a Avenida Praia de Belas, carregando consigo grandes edifícios comerciais e uma das avenidas mais belas da capital. À noite, com a iluminação, transforma-se em cartão postal porto-alegrense.
 A primeira escritura pública de compra e venda na antiga Rua do Arvoredo é de 1788 e descreve o local como “uma casa e cozinha de palha”. Dentre os muitos crimes cometidos na cidade, foi naquela rua em que o açougueiro José Ramos matou três pessoas em sua casa, tornando-se um dos assassinatos mais lembrados até a atualidade.
“A história é muito antiga, mas muitos boatos surgiram depois do acontecimento. Teve historiador que enfatizou que o homem fez linguiça com carne humana”, desmente o historiador Sérgio da Costa Franco. Este fato chocou os cerca de 20 mil habitantes em 1894.
 A Rua mais antiga de Porto Alegre carrega nas calçadas sujas histórias de pluralidade cultural. Um dos primeiros lugares a receber calçamento, a Rua da Praia ficava de frente com o Porto de Viamão (onde hoje se localiza o Cais do Porto), por onde chegavam mercadorias a serem comercializadas. Em 1865, em comemoração ao 7 de setembro, vereadores decidiram que a Rua da Praia passaria a se chamar Rua dos Andradas. O centro de tudo.
No início do século XX a Rua da Praia passou a ser o ponto de encontro para os lojistas e o comércio elegante, políticos, estudantes, além de ser o núcleo principal dos cafés, confeitarias e cinemas. Antes da televisão, pelo menos cinco cinemas eram instalados ali: Cacique, Guarani, Imperial, Central e Rex.
Atualmente, o espaço se mostra ainda como uma grande passarela do comércio, muitas vezes informal, em que passos apressados não têm tempo para observar os edifícios históricos e a diversidade da rua mais famosa de Porto Alegre. 
1.2 COR E RAÇA
 O último Censo do IBGE (2010) divulgou os números de raça e cor de Porto Alegre, onde a pesquisa de auto declaração mostra uma queda de 48,98% nas pessoas que se intitulavam indígenas em Porto Alegre. Em 2000, esse número que era de 6355 pessoas, e representava 0,47% da população total, os dados divulgados em 2010 mostram 3.308 pessoas representando apenas 0,23% de nossa população atualmente, com uma queda importante do número de pessoas indígenas em Porto Alegre. Estes números são muito maiores do que os apresentados pela Coordenação Local da FUNAI de Porto Alegre que contabilizam 379 índios divididos nas etnias, Guarani, Kaigang e Charrua. Porto Alegre conta com o último grupo Charrua do estado com apenas 26 indivíduos. Como a pesquisa é espontânea, cada entrevistado pode livremente escolher sua raça/cor. Outro ponto que chama a atenção é que a cidade de Porto Alegre possui 10,21% de indivíduos de raça/cor preta, enquanto o estado do Rio Grande do Sul apresenta apenas 5,57% do total de sua população. Sendo assim, esta parcela da população de Porto Alegre, representa 24,18% do total de indivíduos de raça/cor preta do Rio Grande do Sul. A população raça/cor preta nestes 10 anos teve um aumento de apenas 1,48% em Porto Alegre. No entanto, as pessoas que se identificaram como brancos em Porto Alegre, representam um percentual menor do que o estado do RS, com números de 79,23% e 83,2% respectivamente. Já nos grupos amarela, parda e indígena a cidade de Porto Alegre possui números percentualmente muito semelhantes ao nosso Estado. 
 Este censo, conseguiu atingir uma abrangência maior dos municípios brasileiros e inclui perguntas relacionadas ao pertencimento étnico e à língua falada para as pessoas que se autodeclaravam indígenas no termo “cor/raça”. Analisando de maneira geral, pode-se perceber que a redução da população indígena na cidade está associada à negação da identidade indígena, principalmente porque muitos índios que migram para lugares distantes de suas comunidades de origem não retornam para visitar seus parentes e, com isso, perdem os vínculos e acabam deixando de falar a sua língua indígena. Ainda de acordo com Santos e Teixeira, essa prática vivenciada pelos indígenas em contexto urbano influenciou nas respostas do censo de 2010, especificamente no momento de se vincular a uma etnia específica e se autodeclarar falante da língua. Nesse sentido, é possível verificar indícios de lacunas com relação aos números populacionais de índios em contexto urbano; ou seja, o número de índios vivendo na cidade pode ser maior do que o apresentado pelo censo do IBGE de 2010.
 Falamos um pouco sobre os índios e a sua identidade agora daremos destaque ao papel dos negros que foi negligenciado na sua importância e relevância na construção da nossa identidade sulista.
 Na sociedade sulista, os grupos afrodescendentes interagiam com dificuldade com a sociedade branca. Desde os primeiros tempos da escravidão, houve um esforço em converter os negros à cultura dominante, um esforço no branqueamento cultural e apagamento da memória negra. Com a introdução de grandes levas de colonos alemães e italianos no século XIX fez os negros perderem espaços de atuação e serem considerados trabalhadores menos capacitados, menos saudáveis e de moralidade inferior.
 Em matéria do Correio do Povo, datada de novembro de 2019 – Onde estão os negros do RS, Eduardo Amaral fala sobre constatações do historiador Jorge Euzébio, onde diz que o Rio Grande do Sul foi um dos estados mais escravistas, só que esse tipo de coisa passa despercebido quando se fala na economia do sul que dá valor à imigração. Mas antes do imigrante vir, tivemos o trabalho dos escravizados e isso foi sonegado (EUZEBIO, 2019). Aqui no Sul formou-se uma sociedade baseada na mão de obra livre e não escravizada mesmo que não seja assim de fato. A identidade do gaúcho foi construída em cima de um imaginário de raça branca, então esse também é um critério que nos diferencia na identidade regional para a nacional. A identidade nacional está baseada em uma ideia de miscigenação entre índios, europeus e africanos, e o Rio Grande do Sul acredita que tem uma identidade pura, o que nunca se evidenciou. (EUZEBIO, 2019)
 Essa falta de protagonismo dos negros nos livros de história, nos nomes de ruas e monumentos espalhados por Porto Alegre e outras cidades do Estado vai de encontro à realidade dos fatos, já que a presença negra na história do Rio Grande do Sul é muito forte e foi fundamental para que o Estado chegasse a ser um dos mais importantes do país no Império. 
 Historiadores relatam que os primeiros africanos a chegar no Estado datam de 1717, tão logo se iniciou a colonização da região, por aqui permaneceram durante todo o período imperiale até hoje se fazem presentes. Mesmo assim, isso não garantiu que seus nomes fossem gravados em placas de bronze, dignos de homenagens nas ruas. Historiadores dedicados a reconstruir a narrativa sobre a relação e importância dos negros para a formação do estado não apontam uma data e um movimento específico no qual tenha ocorrido apagamento da história e a falta de informações sobre os negros que aqui estiveram. (MARCUS ROSA,2019) 
 Os trabalhadores negros que haviam sido os suportes da acumulação primitiva de capital nas charqueadas do Rio Grande do Sul, com o início do processo de imigração em 1824, vão ocupar cada vez mais as bordas do capitalismo emergente. Nas cidades, a maioria morava nos piores lugares, nos cortiços, nos morros e zonas alagadas; no meio rural se tornaram agregados e afilhados que trabalhavam para comer e morar nas terras dos antigos senhores. No período pós-abolição a discriminação dos negros foi o componente fundamental da construção da ideologia e cultura gaúcha.
 O movimento para o resgate e valorização da cultura afro-gaúcha não é recente. Muitas iniciativas foram registradas ao longo do século XX e podemos começar por uma série de periódicos fundados e dirigidos por negros, dedicados a defender suas bandeiras, especialmente nos campos da discriminação, identidade, organização coletiva, educação e formação profissional. Em Porto Alegre também surgiram 72 clubes e sociedades recreativas, além de várias associações de mútuo socorro, que tiveram um papel central na organização da etnia. Com estas e outras mudanças restava a construção de uma nova alternativa, baseada agora na afirmação de uma identidade negra que se mostra presente e que trouxe muitos pontos importantes para a cultura do povo gaúcho.
1.3 RELIGIÃO
 O povo gaúcho não difere muito de outras regiões do país quanto ao seu perfil religioso. É um estado em que a presença católica e protestante fica dentro da média de outros estados, em termos estatísticos. Difere, no entanto, quanto à presença afro, de modo que no censo religioso o Rio Grande do Sul aparece como um dos estados em que a percentagem das religiões afro é mais significativa, pelo menos com base na declaração das pessoas. Isso se deve ao fato de que os gaúchos se posicionam mais claramente em termos de seu pertencimento religioso. Na população de outros estados, muitas pessoas que frequentam a religião afro não assumem, pois preferem se declarar como católicas. Assim, se há uma tendência das pessoas procurarem esconder seu pertencimento afro sob a identidade católica, no Rio Grande do Sul parece que elas tendem a declarar mais a sua identidade afro do que em outras regiões do Brasil.(STEIL,2008)
 Detalhando um pouco mais sobre o perfil religioso, no estado do Rio Grande do Sul, buscamos ainda mais o que o professor Carlos Steil tem a dizer: 
“...que no Rio Grande do Sul, temos uma presença protestante bastante significativa, mas com uma diferença, aqui temos um percentual maior de pessoas que estão associadas ao protestantismo de migração. Ou seja, são pessoas que não se converteram dentro de um protestantismo de missão, mas, quando vieram para cá como migrantes, já eram protestantes, especialmente os luteranos. Uma outra característica peculiar em relação ao perfil religioso do Rio Grande do Sul é a presença bastante forte do espiritismo, especialmente entre os jovens.”
 A porcentagem de espíritas entre os jovens universitários, segundo pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos da Religião da UFRGS, chega a 20%, o que está bem acima da média nacional de espíritas. Pode estar relacionado a uma característica mais geral do Rio Grande do Sul, que é uma tradição racionalista, um certo positivismo que foi forte no século XIX e adentra o século XX, tendo uma semelhança bastante forte com o espiritismo kardecista. (STEIL, 2009)
 Em relação ao catolicismo, também temos uma peculiaridade. É bastante forte aqui no estado um catolicismo mais clerical, eclesiástico, que está relacionado com a própria presença institucional da Igreja no Rio Grande do Sul, através da migração. Os migrantes que chegaram aqui ao longo do século XIX e início do século XX, como colonos, vieram acompanhados de congregações e ordens religiosas. A presença do seminário sempre foi marcante, representativa de um catolicismo mais intransigente, marcado por uma perspectiva mais romanizada, que suplantou o catolicismo mais popular e tradicional que existia no estado antes disso. Já sobre o crescimento da igreja neopentecostais é um fenômeno recente que, assim como em outras partes do Brasil, aqui no Rio Grande do Sul é bastante forte. Está relacionado a um processo que chamado de inculturação do protestantismo no Brasil. O protestantismo pentecostal veio para cá com características marcadamente norte-americanas. Durante muitos anos, ele foi assumindo características de uma cultura mais nacional, uma forma mais “abrasileirada” de pentecostalismo, especialmente através da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), mas que se estende também para outras igrejas pentecostais que, depois do surgimento da IURD, também se moldaram segundo este modelo neopentecostal. (STEIL,2009) Além disto, o crescimento atual do pentecostalismo no país se deve em grande medida a este processo de inculturação e incorporação do “jeito brasileiro de ser” pela matriz de origem norte-americana e que hoje, estamos exportando para o mundo inteiro este protestantismo abrasileirado. (STEIL,2009)
 O que alinhamos com a identidade cultural do gaúcho e tudo isto que estamos falando até o momento é que existe uma cultura, um jeito, um estilo de ser gaúcho que se reflete em muitos campos, em muitas formas de vida, que vão sendo assumidas pelos cidadãos rio-grandenses. Essa mesma cultura e estilo de ser também se refletem na religião. Não é possível separar a religião do estilo de vida dos gaúchos. Estes aspectos se determinam um ao outro. Além disto, existe uma característica que é própria do ser gaúcho, um posicionamento mais firme em termos da identidade religiosa. É o que falamos acima sobre o pertencimento à religião afro no Rio Grande do Sul. É uma característica do povo gaúcho a clara definição do seu pertencimento em muitos campos, que se reflete também no campo religioso.
1.4 LINGUA
 O brasileiro do Sul, comparado com os brasileiros de outras regiões, se apresenta como um tipo único, caracterizado pelos aspectos, que de maneira alguma podemos atribuir como influência de apenas um povo. As características do homem que habita os pampas são o resultado de uma mistura de raças, origens, culturas diversas, as quais uma vez em contato, uma com as outras e com o meio ambiente provocaram uma interação que originou o “Gaúcho”. E em sua capital, Porto Alegre, não é diferente. Esta mistura foi feita de forma natural e progressiva. O gaúcho é um tipo original, hospitaleiro, sentimental e de espírito aguerrido. 
(IVAN MAROTZKY – A Imigração e sua Contribuiçäo Sócio-Economica)
Ivan Marotzky, fala mais sobre tudo isto:
 “Toda esta gente, não são mais alemães, italianos, poloneses nem outros povos étnicos. São brasileiros de origem alemã, italiana, polonesa e outros povos étnicos; muitas tradições ancestrais foram mantidas em parte e ainda o são, como legítimo enriquecimento de nossa formação social. Mas são todos gaúchos autênticos, brasileiros autênticos. Não estão aqui enquistados, mas inteiramente arraigados na terra e na sociedade que ajudaram a formar e a transformar. Estão inteiramente integrados no novo Rio Grande do Sul. O que tinha sido inicialmente enxerto audaz, transformou-se em ramos floridos.”
 Podemos dizer que desta mistura surgiu um dialeto. É um dialeto do português falado no Rio Grande do Sul e alguns locais do Paraná e Santa Catarina. Esta linguagem é influenciada pelo espanhol, pela colonização com uma pitada do guarani e outras línguas indígenas que possuem algumas diferenças doportuguês padrão, o que pode trazer uma dificuldade de entendimento num dialogo informal entre gaúcho e povos de outras regiões brasileiras, muito embora os gaúchos buscam se adaptar quando falam com pessoas de outras regiões. Na fronteira com o Uruguai e Argentina tem mais a influência castelhana, enquanto que regiões colonizadas por alemães e Italianos mantem as respectivas influências. Algumas palavras de origem africana e até mesmo da língua inca também podem ser encontradas. 
 Foi publicado pelo filósofo Batista Bossle, um dicionário “gaúcho-brasileiro" com algumas expressões regionais e seus significados. Gramaticalmente, uma das características mais notáveis é o uso do pronome "tu" em vez de "você", mas com o verbo na terceira pessoa ("tu ama", "tu vende", "tu parte") porém não é raro ouvir a conjugação do "tu" de acordo com a norma culta bastante usada em Pelotas. E no interior do Rio Grande do Sul, outra característica é a ausência de redução da última vogal nas palavras terminadas em "e" (por exemplo "leite", "frente"), diferentemente de outras regiões do país (e da capital Porto Alegre) que trocam o "e" por "i" ("leiti", "frenti").
Algumas expressões mais usadas:
aguentar o tirão = suportar as consequências ou uma situação difícil
arrastar a asa = enamorar-se
bem capaz = ênfase na negação
botar os cachorros = xingar, ofender alguém
dar com os burros n'água = ser malsucedido
deitar nas cordas = fazer corpo mole
é tiro dado e bugio deitado = acertar de primeira; ter certeza do que faz
frio de renguear cusco = Temperatura muito baixa
índio velho = camarada
ir aos pés = fazer as necessidades na patente
juntar os trapos = casar, viver juntos
lamber a cria = mimar o filho
lagartear = ficar sem fazer nada, ao sol
matar cachorro a grito = estar sem dinheiro, estar na miséria, viver com dificuldade
me caiu os butiá do bolso = ficar de queixo caído, espantado
meter a viola no saco = calar-se, desistir, acovardar-se
na ponta dos cascos = pronto, preparado
no mato sem cachorro = em dificuldade, em apuros
se aprochegar = chegar mais próximo, se acomodar
tunda de laço = apanhar
 Talvez quem viva no RS não note a quantidade de expressões que são utilizadas e que podem dificultar o entendimento da linguagem. 
 Citamos também abaixo, algumas interjeições típicas, sendo a primeira e a segunda as mais usadas pelos gaúchos com diferentes significados e dependendo muito da entonação.
Bah! = Puxa! Nossa!, Que coisa! - é primariamente, uma interjeição de espanto, mas pode ter outros usos, como, por exemplo, mostrar hesitação ao iniciar uma frase.
Tchê! = Expressão utilizada para enfatizar a frase. Assim como Bah pode ser utilizado para muitas coisas, como por exemplo, Tchê, ganhei na loteria!.
Mas que barbaridade! = Que coisa! - é uma interjeição que indica indignação.
Capaz? = É mesmo? Imagina! - indica espanto e dúvida ao mesmo tempo quanto ao que a pessoa acabou de ouvir.
Bem Capaz! = Com uma entonação típica, significa "De jeito nenhum".
Que tri! = Que legal!
Também é utilizada a palavra guri ou piá (nem todos os locais no RS) que em São Paulo por exemplo é o moleque. Estas são algumas expressões e palavras usadas, mas existem ainda línguas/dialetos nativos, chamados nativos por que se desenvolveram no RS e região. 
1.5 VESTUÁRIO
 A bombacha é uma peça de roupa, calças típicas abotoadas no tornozelo, usada pelos gaúchos. O nome foi adotado do termo espanhol "bombacho", que significa "calças largas". Pode ser feita de brim, linho, tergal, algodão ou tecidos mesclados; de padrão liso, listrado ou xadrez discreto. As cores podem ser claras ou escuras, fugindo-se de cores agressivas, chocantes e contrastantes. 
 No Rio Grande do Sul, a vestimenta passou a ser utilizada inicialmente pelos mais pobres, no trabalho nas estâncias, logo após a Guerra do Paraguai, por causa da sua funcionalidade. Depois, passou a ser usada por todos. 
 De acordo com a Lei Estadual nº 8.813, de 10 de janeiro de 1989, a forma como a indumentária gaúcha tradicional deve ser utilizada deve seguir as recomendações do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), considerado a autoridade maior da preservação da cultura gaudéria. Entre os principais pontos, destacam-se:
“a largura das pernas da bombacha devem coincidir com a medida da cintura; ou seja, uma bombacha com 40 cm de cintura deve ter 40 cm de largura em cada perna;
o uso de favos é opcional;
deve-se sempre utilizar a bombacha por dentro das botas;
é vedado o uso de bombachas coloridas ou plissadas, bem como de camisas de cetim e estampadas, de bonés ou boinas e túnicas militares, quando se está vestindo a pilcha gaúcha;
não é recomendado o conjunto todo em cor preta (botas, bombacha e camisa), caracterizando o que se chama popularmente por zorro;
é vedado o uso de bombachas por mulheres em ocasiões formais e fandangos.” 
 A indumentária do gaúcho traça o perfil de um povo de trabalhadores rurais, antes livres e que no século XXI já estavam habituados aos cercamentos das estâncias. Por isso, muito mais do que uma peça de roupa, a bombacha carrega simbolismos fortes (FAGUNDES, 1985), passando a ser a identidade do gaúcho. No final do século XIX, os senhores coronéis não apreciavam o uso da bombacha em eventos festivos da época, mesmo porque os trabalhadores faziam uso dela para o serviço no galpão (FAGUNDES, 1985). Com base nos estudos do autor citado, o gaúcho, com menos condição financeira do Rio Grande do Sul, foi o primeiro a usar a bombacha como forma de suprir a carência de roupa e, assim, foi adaptando suas vestes com base nos trajes da época. O gaúcho adotou a bombacha por sentir-se confortável, para andar a cavalo e, também, para enfrentar os inimigos nas batalhas. E acrescenta: “Era o símbolo do companheirismo e da liberdade que tanto buscava”. (FAGUNDES,1985)
 Para o Movimento Tradicionalista Gaúcho do Paraná – MTG-PR (2014), a bombacha é um traje histórico que revela a imagem do homem gaúcho, constituindo-se em marca exclusiva de sua identidade.
 Até o ano de 1976, o tecido com que era confeccionada a bombacha variava de acordo com a condição financeira do gaúcho. Caso o gaúcho fosse rico, a bombacha acompanhada do casaco era feita por um alfaiate, e o tecido usado era casemira, e se fosse pobre, a costureira encarregava-se de o fazer, usando o brim (FAGUNDES, 1985). Importante destacar que as cores para as bombachas, naquela época, tendiam sempre para o azul-marinho e para o marrom. Preto só em caso de luto, diferente dos dias de hoje, quando a bombacha pode ser usada tanto nas cores claras como escuras, mas sempre em harmonia com o resto da indumentária (MTG,2014). 
 Segundo o Manual das Pilchas Gaúchas, a bombacha é usada como traje de trabalho, traje de honra, em ocasiões informais, desportivas e de serviço, enfim, uma indumentária que faz parte do gaúcho e da sua história.
 Ficou entendido que a indumentária gaúcha, mais especificamente a bombacha, é o elemento símbolo do companheirismo e da liberdade que identifica o sul-rio-grandense em qualquer lugar do mundo. 
A bombacha (calça masculina) é parte da pilcha gaúcha, o traje típico previsto até na Constituição do Rio Grande do Sul.
Pilcha masculina - Bombacha – recomendações do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) determinados acima.
Camisa - Cores sóbrias ou claras, com padrão liso ou riscado discreto com gola esporte ou social. Mangas curtas para ocasiões informais ou de lazer e longas para eventos sociais-formais.
Lenço - Atado ao pescoço, de uma ou duas cores ou xadrez miúdo e mesclado. Na cor vermelha, branca, azul, amarelo, encarnado, preto (para luto) e bege. Xadrez de branco e preto é para luto aliviado.
Existem diversos tipos diferentes de nós:
Comum: Simples e ximango
Farroupilha: Três-galhos, amizade, saco-de-touro
Pachola: 2 posições - destro e canhoto
Republicano: Borboleta e dois-topes
Quadrado:Quatro-cantos, rapadura e maragato
Namorado: 3 posições - Livre, querendão e apaixonado
Crucifixo: Religioso
 Importante ressaltarmos que um simples nó de um lenço pode trazer tanta representatividade em relação a quem usa. A roupa comunica muito sobre quem somos e na pilcha não é diferente.
Pala - Origem indígena e serve para proteger contra o frio, sendo de lã ou algodão, e de seda para proteger contra o calor.
Bota - O uso de botas brancas é vedado.
Guaiaca (espécie de cinto) - Para guardar moedas, palhas e fumo, cédulas, relógio e até pistola.
Esporas - "Chilenas" ou "nazarenas" de prata ou de outro metal.
Tirador - Para lida campeira, sem enfeites.
Colete
Chapéu e barbicacho - Usados como proteção contra o sol. Não é recomendado o uso do chapéu em lugares fechados, como no interior de um galpão.
Paletó
Faixa - Tira de pano, preferencialmente de lã, usada na cintura com o propósito de prender a bombacha.
Pilcha Feminina - Procura não contrastar com o recato da mulher gaúcha, havendo recomendações quanto a mangas, decotes, golas, cabelos, maquiagens, etc.
Vestido - Vestido, saia e casaquinho, de uma ou duas peças, com a barra da saia no peito do pé. Pode ser godê, meio-godê, em panos, em babados, ou evasês.
Saia de armação - Discreta e leve, na cor branca, diferentemente da indumentária típica baiana.
Bombachinha - Ciroulas na cor branca, de comprimento até os joelhos. Pode ser rendada ou não.
Meias - As meias devem ser longas, brancas ou beges, para moças e senhoras, admitindo-se as coloridas discretas para as gurias (mirins). As mais maduras podem usar meias de tonalidades escuras.
Sapatos - Os sapatos (pretos, brancos ou beges) podem ter salto 5 ou meio salto com tira sobre o peito do pé, que abotoe do lado de fora, para moças e senhoras. As gurias (mirins) usarão sapatos com tira sobre o pé, tipo sapatilha. Também podem ser usadas botinhas fechadas atendendo às respectivas descrições.
Acessórios Permitidos - Fichu de seda com franjas ou de crochê, preso com broche ou camafeu, xale (especialmente para as senhoras), brincos discretos, anéis (um ou dois), camafeu ou broche, capa de lã ou seda, leque, faixa de prenda ou crachá, chapéu (em ambientes abertos).
Não permitidos - Brincos de plástico ou similar colorido, relógios e pulseiras, luvas ou meia luvas e colares. Sombras, batons ou unhas coloridas em excesso, sapatilhas amarradas nas pernas, saias de armação com estruturas rígidas.
Cabelo - O cabelo é solto ou semi preso, para as prendas mirins e também juvenis mas, e para prendas adultas pode-se usar coque.
 Atualmente, apesar de observar-se mulheres adornadas por bombacha, o costume tem sido criado pela modernidade, e não diz respeito as antigas formas de vestimentas, às mulheres em geral. Entretanto, a cultura gaúcha, tal como qualquer outra, está sujeita a mudanças que podem ser observadas no nosso dia a dia.
 Portanto, compreende-se que a vestimenta pode caracterizar uma cultura e é de extrema importância por ser formadora dos instintos que arraigam um povo, como também influencia outras culturas desde os tempos mais remotos até a atualidade e até os mais distantes horizontes futuros. Por isso, deve- se celebrá-la, registrá-la, mantê-la sempre em constante evolução e como peça formadora de nossa identidade cultural. Enfim, a vestimenta do gaúcho, mais especificamente a bombacha, mostra o símbolo da identidade do sul-rio-grandense, que foi mudando com o decorrer dos tempos, recebendo heranças de outras culturas e servindo de inspiração a outras regiões no que tange à cultura do gaúcho do Rio Grande do Sul.
1.6 MÚSICA E DANÇA
 As danças gaúchas são algumas das mais antigas danças populares brasileiras. Tiveram origem na Espanha em meados dos séculos XVII e XVIII.
 As danças tradicionalistas gaúchas são legítimas expressões da alma gauchesca. Em todas elas estão presentes o espírito de fidalguia e de respeito à mulher, que sempre caracterizou o campesino rio-grandense. Todas elas dão margem a que o gaúcho extravase sua impressionante teatralidade.
 Segundo Paixão Côrtes (1997), a primeira dança regional gaúcha que colheram em suas pesquisas veio da Vila de Palmares (atual município de Osório-RS). As danças, inicialmente, apenas integravam as festas regionais do Rio Grande do Sul e hoje são divulgadas e praticadas por diversos estados como a mais bela manifestação do folclore gaúcho. Tamanho é o seu alcance que existem Centros de Tradição Gaúcha (CTG) espalhados por 23 estados brasileiros além dos Estados Unidos, Paraguai e Portugal.
 A mais típica representação do Rio Grande do Sul é o “fandango” que, posteriormente, se entremeou ao sapateado, originado nas antigas danças de par solto da romântica Espanha. Estes bailados espanhóis constituíram o primeiro ciclo/geração coreográfica de formação das danças populares brasileiras.
 As danças tradicionalistas são acompanhadas de músicas típicas gaúchas. Nestas prepondera o som do acordeom, também conhecida como gaita, violão e alguns outros instrumentos de corda e percussão. Pela tradição Gaúcha a dama é chamada de “prenda” e o cavalheiro de “peão”.
 Cada Centro de Tradição Gaúcha (CTG), possuem seus grupos de dança que se chamam invernadas. As invernadas podem ser categorizadas em mini mirim (de 5 a 8 anos), mirim (de 8 a 11 anos), juvenil (de 12 a 14 anos) e adulta (de 15 a 30 anos). As classificações etárias variam de acordo com a postura e o tamanho do dançarino. Nas competições de danças artísticas dos rodeios, cada invernada é integrada por casais que dançam uma sequência sorteada de danças. Para tanto o grupo deve ter ensaiado todas, pois serão avaliados por quesitos técnicos e artísticos em qualquer das danças sorteadas. 
 Com traços camponeses, as danças gaúchas têm como características principais o sapateado forte e os movimentos velozes. São danças desafiadoras e contagiantes, sempre valorizando o respeito e a diversidade. Podemos citar como danças gaúchas, as seguintes: 
Fandango: O fandango é um estilo musical proveniente da Espanha, sendo que sua dança é derivada do flamenco. As principais características dessa dança gaúcha são os seus movimentos considerados frenéticos pela agilidade e velocidade com que são executados. Outro ponto marcante é o sapateado. Em função do fandango originou-se, no Rio Grande do Sul, uma série de outras danças, com nomes e características próprias. No fandango gaúcho, utiliza-se principalmente a gaita e o violão. As principais influências vêm da Escócia e da Polônia, além de uma mescla argentina e uruguaia. Para os espetáculos de dança são usados trajes de pilcha.
Anú: É dividido em duas partes: a cantada e a sapateada. Popularizou-se em meados do século XX. É conhecida como uma dança de pares soltos, porém dependentes entre si. O sapateado caracteriza por poucas palavras e muitos movimentos. Já na cantoria torna-se uma dança mais grave.
Balaio: O nome da dança vem por causa da aparência das saias vestidas pelas mulheres dançarinas, que acabam por se assemelhar a um balaio. Originada na região Nordeste, essa dança mistura dois estilos: o sapateado e a dança de conjunto. Formam-se dois grupos, um de homens e um de mulheres. Então, a história contada acompanha os movimentos e a coreografia se repete por três vezes.
Chimarrita: De origem portuguesa dos Açores, a dança traz uma coreografia em pares, onde cada um se posiciona em uma fileira oposta, de frente para o outro. Em seguida se cruzam, se afastam e depois voltam a se aproximar.
Pezinho: Uma das danças gaúchas mais singelas e simples, que encantam a quem vê. Popular na região dos Açores, adaptou-se no Rio Grande do Sul de modo a ser realizada da seguinte forma: primeiro há uma marcação de pés. Depois, duplas de dançarinos cruzam os braços e giram em redor de si mesmos. É a única dança gaúcha em que todos os dançarinos realmente dançam, não ficando limitados a executar a coreografia.
Xote: Tem origemhúngara. É muito popular no Rio Grande do Sul e precisa de pares para ser realizada a coreografia. Os passos são simples: um e um, dois e dois ou dois e um.
 Na explicação de Rogério Ratner sobre a música regionalista gaúcha ,ele fala que as matrizes culturais nas quais se encontram as raízes da música dita típica gaúcha feita atualmente no RS foram se articulando pouco a pouco, “cozidas” em “fogo lento” no amplo “caldeirão” de influências étnicas e culturais em que se assenta a região, e que constantemente foram acrescidas por novas informações trazidas pelos imigrantes e migrantes que se assomaram em seu espaço geográfico ao longo do tempo, e por visitantes nacionais e estrangeiros. Se tentarmos buscar estes elementos que corresponderiam às matrizes centrais mais evidentes em torno das quais se estrutura esta produção musical, devemos, naturalmente, evidenciar o elemento ibérico. Vale dizer que as formas musicais advindas de Portugal têm muitos pontos de contato com as espanholas - as quais deram substrato à música típica da região do Prata -, sem embargo das suas especificidades. 
 Contudo, é importante ressaltar que, em seu perfil cultural, o gaúcho brasileiro tem inúmeros elos comuns com os tropeiros, boiadeiros, peões, cavaleiros, vaqueiros, sertanejos, carreteiros do resto do país, mesmo porque o Estado, economicamente falando, sempre esteve muito articulado com o centro do país. Com a chamada “Rota dos Tropeiros”, que levavam daqui especialmente mulas, cavalos, gado e carne seca ao centro do país, retornando com produtos de lá para uso das populações locais. De fato, os chamados “tropeiros” foram de fundamental importância para a povoação e ocupação do solo gaúcho, estando na origem da criação de inúmeros povoados, lugarejos, aldeias e cidades. Culturalmente, exerceram o papel de realizar um grande intercâmbio com as populações do centro do país. Desta forma, há na cultura gaúcha tradicional não apenas elementos comuns aos países do Prata, mas talvez ainda mais significativamente características dos patrícios de outras regiões do país, especialmente em relação ao restante do sul e do sudeste brasileiro, e que são de origem lusitana. Realmente, são inúmeros os elos comuns entre as populações sertanejas/interioranas do Brasil, sendo pouco a pouco sedimentadas as diferenças regionais, a partir da própria fixação da população em cada região, com a consolidação de seus hábitos locais. Isto naturalmente refletiu-se na música, não sendo à toa, por isso, que em muitos discos antigos de música gaúcha as canções fossem denominadas como “sertanejas”, além de que houvesse a utilização de ritmos comuns a outras regiões como a “rancheira”, a “toada”, o “chote”, o “rasqueado”, etc. Pedro Raimundo, pode ser apontado como o primeiro grande responsável pela divulgação da canção típica gaúcha em nível nacional, apresentando com muito sucesso o seu clássico “Adeus Mariana” na Rádio Nacional do Rio de Janeiro (que hoje, guardadas as proporções, corresponderia, em importância, como veículo de comunicação, à Rede Globo). Nos anos 1960, surgiu a figura do Teixeirinha, um fenômeno de popularidade. No início dos 80, a produção artística, que havia sido mantida sob a pressão da censura, rearticulou-se sob uma forma altamente politizada, reivindicando a normalização da vida institucional e cultural brasileira. A historiadora Sandra Pesavento, afirma que neste período em Porto Alegre começa o movimento local “Deu pra ti Anos 70 “que comemorava o fim da década. Neste novo panorama da vida urbana porto-alegrense, um dos espaços mais importantes foi o bairro Bom Fim e seus bares, como o Lola e o Ocidente, formando quase uma república independente encravada no coração da cidade. Ali se reuniam os principais líderes da atividade contestatória da época, frequentadores de diferentes ideologias, que viviam utopias transformadas em estilos de vida - como os punks, os rockers, darks junto com artistas, filósofos e literatos - das quais resultaria a definição de identidade de toda uma geração. Foi o ponto de efervescência da cena musical underground e pop, com o surgimento de várias bandas e cantores que marcaram a música local, como Os Replicantes, Bebeto Alves, Os Cascavelletes, Nei Lisboa, TNT, Graforréia Xilarmônica, entre outros, e que foram louvados pela crítica do Brasil. 
 Pode-se concluir que, a música gaúcha, não são somente canções gaudérias que são entoadas em CTGs. Importante mostrarmos que outros estilos de músicas ganharam os palcos do Brasil e sempre novos talentos vão surgindo neste cenário.
1.7 MANIFESTAÇÕES FESTIVAS
 “As manifestações festivas nada mais são do que cultos que reúnem milhares de homens e mulheres em grandes celebrações. Além da fé e demonstrações de fraternidade e tolerância, são eventos que movimentam a economia das cidades, com potencial turístico dentro do segmento religioso”, justifica o parlamentar Olibone. (OLIBONE, 2012)
 A diversidade cultural brasileira é reconhecida e com isto muitas manifestações festivas são criadas e que permitem que diferentes regiões realizem eventos com atrações peculiares. São elaborados calendários com as atividades promovidas nas zonas urbana e rural, com o intuito de divulgar regiões e as culturas ali praticadas. Muitos utilizam, como temática para tais festas, os costumes coloniais; outros destacam os produtos que são produzidos na região, outros ainda valorizam a dança e as atividades populares (GASTAL; SCHWABB, 2011). 
 Porto Alegre possui uma série de eventos e atividades culturais. Além da programação tradicional, há grandes eventos que marcam a passagem do tempo com um calendário peculiar. Claro que o nosso objetivo, não é colocar o calendário de eventos da cidade, mas falar um pouco mais sobre as principais manifestações festivas e como surgiram e se desenvolveram ao longo dos anos.
 Iniciamos pela feira do livro. A primeira edição da Feira foi em 1955, a primeira do Brasil. Estima-se que quase dois milhões de pessoas visitaram a Feira e seu idealizador foi o jornalista Say Marques, diretor-secretário do Diário de Notícias. Inspirado por uma feira que visitara na Cinelândia no Rio de Janeiro, Marques convenceu livreiros e editores da cidade a participarem do evento. A Praça da Alfândega era um local muito movimentado na Porto Alegre dos anos 50 e de 400 mil habitantes. A primeira edição, que começou no dia 16 de novembro de 1955, contava com 14 expositores, sendo as bancas criadas pelos carpinteiros da Livraria e Editora Globo. O objetivo era popularizar o livro, movimentando o mercado e oferecendo descontos atrativos. Na época, as livrarias eram consideradas elitistas. Por esse motivo, o lema dos fundadores da primeira Feira do Livro foi: Se o povo não vem à livraria, vamos levar a livraria ao povo. Na segunda edição do evento, iniciaram as sessões de autógrafos. Na terceira, passaram a ser vendidas coleções pelo sistema de crediário. Nos anos 70, a Feira assumiu o status de evento popular, com o início da programação cultural. A partir de 1980, foi admitida a venda de livros usados. Mas, foi nos anos 90 que a Feira ampliou, obrigando aos seus visitantes algumas voltas a mais, com um número maior de barracas e usos de novos espaços, incorporando a suas atividades encontros com autores, além dos tradicionais autógrafos. Em 94, algumas alamedas ganham coberturas, pois é histórica a relação da Feira com a chuva. No ano seguinte, 95, passa por um processo de profissionalização, buscando o apoio decisivo das Leis de incentivo à Cultura e, também, criando um espaço para os novos leitores, crianças, jovens e adultos em fase de alfabetização. A Feira acompanha a transformação e internacionalização da cidade de Porto Alegre. No inicio dos anos 2000, a partir de conquistas na área do patrimônio e criação de novos centros culturais no entorno da Praça da Alfândega (como o Santander Cultural, o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, além dos já existentes Margse Memorial do RS), a programação cultural da Feira do Livro cresce em número de autores participantes e público visitante.
 A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes realiza-se no dia 2 de fevereiro, anualmente desde 1871 e constitui parte significativa da memória, da história e da identidade religiosa da população de Porto Alegre. É considerada uma das mais importantes festividades religiosas celebradas na cidade por sua intensa mobilização e participação popular. Sua origem remonta ao século XIX, com a fundação da “Devoção à Santa Virgem Nossa Senhora dos Navegantes” por um grupo de portugueses vinculados aos transportes marítimos da cidade. Em 1871, uma imagem da Virgem, encomendada ao escultor português João de Affonseca Lapa, chegou a Porto Alegre e, após alguns dias em exposição, foi levada à Igreja do Menino Deus. No mesmo ano, aconteceu a primeira Festa de Nossa Senhora dos Navegantes. Em 1877, a imagem foi transferida para a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, então concluída. Em 1910, um incêndio destruiu o local e uma nova imagem da Virgem foi encomendada ao mesmo escultor português. Em 1913, a capela reabriu suas portas após grande reforma. A diversidade religiosa dos habitantes de Porto Alegre fez com que a festa fosse adquirindo, com o passar dos anos, seu atual caráter integrador e socialmente democrático. Desde 2010, a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes é bem cultural de natureza imaterial de Porto Alegre. O culto reúne mais de 100 mil devotos que percorrem 5km no caminho de retorno da imagem ao santuário.
 A Semana Farroupilha é um momento especial de culto às tradições gaúchas, transcendendo o próprio Movimento Tradicionalista Gaúcho. Ela envolve praticamente toda a população do Estado, se não fisicamente nos locais organizados para festejos, participando das iniciativas do comércio, dos serviços públicos, das instituições financeiras ou das indústrias. A Semana Farroupilha é regulada por uma Lei Estadual e Regulamentada por um Decreto. Sua organização é feita em duas instâncias, a estadual com a definição de diretrizes gerais, escolha do tema básico e atividades que envolvem as distâncias públicas estaduais, e no nível local onde, na prática ocorrem os festejos as manifestações culturais, artísticas e onde se realizam as mostras e os desfiles destacando-se o realizado a cavalo. Em Porto Alegre, a Semana Farroupilha tem seu núcleo concentrado no Parque Maurício Sirotski Sobrinho e oferece uma intensa programação sócio, cívica e cultural, com constituição de um grande Acampamento Farroupilha que tem uma duração de quase 30 dias. Durante a Semana Farroupilha são relembrados os feitos dos Gaúchos no Decênio Heróico (1835-1845), através de palestras, espetáculos, lançamento de livros entre outras atividades. O Acampamento Farroupilha é o maior evento alusivo à cultura tradicionalista gaúcha, ocorre durante o mês de setembro, entre os dias 7 e 20 , ou até o domingo posterior, para comemorar a Revolução Farroupilha. Nasceu junto com a criação do Parque da Harmonia em 1981. Entre 1981 e 1983 não havia exatamente um acampamento, e sim grupos de amigos ou piquetes que ficavam na área da fazendinha. Nesta época, considerado "pioneiro", o Piquete Chimango, da família Carrão, fundado em 1979. Eles cavalgavam até o parque, um ou dois dias antes do desfile de 20 de setembro, fazendo do parque uma pousada ou ponto de concentração. Os mais antigos frequentadores do parque da Harmonia faziam suas gauchadas bebendo e tocando gaita ponto e violão, principalmente nos finais de semana. Em 1984 a Fazendinha do Harmonia passou a ser administrada pela antiga Epatur (Empresa Pública Municipal, responsável pelo turismo da Capital). O galpão que existia na época foi alugado para a churrascaria Galpão Crioulo (que incendiou em outubro de 1986, sendo reconstruído com as mesmas características). O Parque da Harmonia em março de 1987 recebeu o nome de Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Neste ano foi formalmente realizado o 1º Acampamento Farroupilha, reunindo diversos centros de tradições gaúchas (CTG’s) e entidades congêneres um tanto menores ou de abrangência mais localizada, chamadas Piquetes, que fazem parte do evento até hoje. O pioneiro em montagem de galpão são os piquetes Velho Camboim e Marasquim. Nessa mesma época os acampamentos incorporam CTG's, DTG's, piquetes e entidades diretamente ligadas à cultura nativista gaúcha. Em 1990 passou a ser cobrado espaço para o comércio, quando a entidade 1ª Região Tradicionalista assumiu a coordenação. Em 1997, esse posto foi assumido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).
1.8 TEMPOS LIVRES
 Podemos informar que 30 anos atrás a Rua da Praia se tornara um dos pontos mais glamorosos da cidade, onde desfilava a elite entre cinemas, cafés e lojas de artigos finos. Na verdade, nesta época pareceu se consagrar definitivamente o papel que a Rua da Praia já vinha desempenhando na cultura urbana desde muito antes, o de coluna vertebral e principal artéria de circulação de bens e ideias da cidade, centro aglutinador e irradiador de tendências e cultura, e emblema de identidade para os porto-alegrenses. Passara até ela mesma a se tornar um tema ou cenário recorrente na produção cultural da cidade (Monteiro, 2006)
 Durante os anos 1940/1950, na Noite porto- alegrense, nossa elite se exibia nos bailes no Clube do Comércio, das festas de caridade do Leopoldina-Juvenil, no Country, no Jockey Club, nos clubes de vela da Zona Sul. Nesses salões, onde a sociedade apresentava suas debutantes, aconteceram bailes e carnavais inesquecíveis. O homem da classe média (e milionários menos conservadores) se divertiam nos dancing, boates e cabarés da região do Centro.
 Nos anos 1940, havia 24 casas noturnas, todas com música ao vivo, nos anos 1950 já são 29 casas noturnas. Marabá, com seus sambas e boleros, era reduto de resistência aos ritmos do Tio Sam. Lupicínio Rodrigues frequentava o Castelinho do Alto da Bronze, espécie de clube de músicos, ou os modestos botequins da Ilhota (na Praça Garibaldi), na Cidade Baixa. O fim da noite terminava no Treviso, restaurante do Mercado Público que congregava a boemia da cidade. Os anos 1950 são marcados pela popularização dos nossos compositores regionalistas e da “velha guarda”, voltado para o samba-canção e o choro.
 Mostrando um pouco de história podemos observar como o uso do tempo livre vai variando. Os lugares que antes eram pontos de encontro, já não existem mais. Se existem já não são como antes. A Porto Alegre mais atual, se mostra uma cidade que reúne uma boa quantidade de passeios para todos os tipos de gostos, estilos e bolsos. Em uma capital como esta, é quase que impossível ficar sem ter alguma programação para se fazer, seja relacionada à cultura, gastronomia, lazer, esporte ou entretenimento. Basta querer fugir da rotina. Claro que em cada bairro teremos as peculiaridades onde as praças mais bem cuidadas são as mais usadas, onde vizinhos e amigos se encontram sem se distanciar muito de suas casas, onde conhecem e sabem que é seguro e que poderão ficar tranquilos com seus filhos ou netos. É difícil que os “nativos” fiquem visitando pontos turísticos, então percebemos que o maior programa fica sem duvida com os parques e o chimarrão quando o tempo/estação do ano ajuda para que isto aconteça. Os principais parques ficam cheios: Parcão, Parque Farroupilha, Germânia etc. 
 É claro que em domingos, mesmo ensolarados de jogos importantes em Porto Alegre, os estádios ficam lotados. É impossível não falarmos sobre o clássico regional mais conhecido Grêmio X Internacional. A cidade é dividida em vermelho e azul e os torcedores em épocas sem pandemia lotavam estádios e acompanhavam mais de perto os times do coração. Outro programa que é um verdadeiro clássico é o famoso churrasco em família.O ritual para muitas famílias começa com a compra da carne, com o levantar cedo, com receber parentes e amigos com um belo churrasco que é um cartão de visitas do RS. No verão, famílias tem também o hábito de passar o final de semana na casa da praia. Muitas famílias, mantem uma segunda morada no litoral e fazem disto um programa. Passam a temporada de férias ou mesmo viajam nos finais de semana e aproveitam com seus velhos conhecidos e família. É uma oportunidade de sair da correria de Porto Alegre.
 Segundo o Observatório da cultura – Usos do tempo livre em práticas culturais dos Porto Alegrenses (2015) temos o seguinte levantamento:
 Claro, que muitas mudanças de hábitos teremos aprendido no período pós pandemia. Estamos sempre em construção. Com este levantamento podemos perceber que programas ao ar livre são o grande ponto alto para as pessoas que moram em Porto Alegre. Além disto, as idas ao shopping ou simplesmente com destino aos cinemas também são pontos altos. Porto Alegre com hábitos simples de cidade de interior.
 
1.9 GASTRONOMIA
 O Rio Grande do Sul é marcado por sua diversidade de paisagens e etnias, aproveitando estas particularidades para impulsionar sua economia que se baseia, atualmente, na agricultura (soja, trigo, arroz e milho), na pecuária e na indústria (de couro e calçados, alimentícia, têxtil, madeireira, metalúrgica e química) (IBGE, 2016). 
 O território sul rio-grandense foi palco para grandes momentos históricos que moldaram seu povo, história e cultura. Este fato pode ser percebido pela heterogeneidade de sua população. Foi possível identificar que a população do estado é, em grande parte, formada por descendentes de portugueses, alemães, italianos, africanos e indígenas e em pequena parte por espanhóis, poloneses e franceses, dentre outros imigrantes. Primeiramente habitado por indígenas, com destaque para os Guarani, Pampeanos e Gês (Kaigang) (Moure, 1994), a história do estado, marcada por movimentos migratórios, o configurou como um território de múltiplas etnias que hoje configuram o povo gaúcho. Fatos como a ocupação dos colonizadores espanhóis e portugueses a partir do século XVI, a dominação e extirpação indígena, instalação dos jesuítas e o desenvolvimento da pecuária, o movimento separatista da Guerra dos Farrapos, ocorrida entre 1835 a 1845, e, finalmente, a imigração europeia no final do século XIX dos povos alemães, italianos, pomeranos e poloneses, configuraram não só um cenário social multicultural, mas também, um caldeirão gastronômico pautado no saber tradicional dos diferentes povos, no hibridismo cultural e na adaptação da alimentação ao dado contexto histórico. 
 Segundo Marques e Campos (2013), cada etnia deixou suas contribuições para a gastronomia gaúcha, sendo a herança indígena percebida pela utilização da mandioca e de seus produtos, no cozimento dos alimentos, que era realizado na tucuruva (trempe de pedras), no moquém (grelha de varas) utilizado para assar carne ou peixe e, finalmente, o mate, difundido como chimarrão. 
 A cultura do gado e das migrações com as boiadas desenvolveu o prato símbolo do estado, o churrasco e também outro produto emblemático do estado: a carne de charque, que é a carne bovina cortada em mantas, salgada e seca ao sol, ingrediente principal do arroz de carreteiro, que também ocupa posição de destaque entre os preparos considerados típicos do estado. Hoje o arroz com carne e temperos é um prato nacional, mas teve origem no desenvolvimento do extremo sul do Brasil. Surgiu quando mercadores (carreteiros) atravessavam a região em carretas puxadas por bois e precisam de uma refeição prática que não estragasse rápido diz Roberta Martins quando fala sobre as comidas típicas do RS. Os imigrantes italianos introduziram as massas recheadas, o galeto al primo canto (frango pequeno assado na brasa), a polenta, o salame, a sopa de cappelletti (massa recheada de carnes cozida no caldo de frango) e o vinho. Dos alemães herdou-se o joelho de porco, as cucas, küschimier, as salsichas, os salsichões, preparos a base de batata e as cervejas; e, dos monastérios e portugueses, a produção de doces, principalmente de ovos, feitos na região de Pelotas. Apesar da influência das diversas etnias ser tão presente na identidade gaúcha, em suas várias regiões e na própria capital Porto Alegre, os hábitos tradicionais de cada uma destas etnias vêm sofrendo um processo de hibridização cultural. Esse processo influencia e é influenciado tanto pela cultura já instalada no Rio Grande do Sul e pelos turistas vindos de outras localidades do Brasil e do mundo, como, também, pelas mudanças econômicas, tecnológicas e sociopolíticas forçando a sua adaptação ao novo contexto e às novas demandas, como relatam Machado e Menasche (2012, p. 7):
“Com o passar dos anos, novas práticas alimentares foram sendo incorporadas ao cotidiano destas famílias, pela convivência e troca com os brasileiros (gaúchos), o que permitiu que hábitos e costumes fossem introduzidos e ressignificados. O chimarrão, hoje muito presente, é o momento em que as famílias se reúnem para conversar e assistir televisão, ou seja, não é mais o preparo da polenta e o rezar o terço que reúne a família. Este momento foi substituído, em parte, pela televisão. O churrasco, atualmente considerado nas festas da comunidade o prato principal, é comida valorizada pelas famílias.” 
1.10 HABITAÇÕES
 O problema de habitação assola a capital de Porto Alegre há muito tempo. Para melhor constatação disto, fazemos um retrospecto que pode auxiliar no entendimento dos vários problemas e das mudanças que ocorreram ao longo do tempo. 
 A ocupação da cidade se apresentava de forma muito intensa na área da península central e diminuía à medida que se afastava dela. Assim como todas as grandes e mais importantes cidades, o desfecho do rápido desenvolvimento de Porto Alegre e o considerável aumento da população, não foi acompanhado pela expansão urbana. No final do século XIX o excesso de população e a falta de moradias adequadas levou parte das pessoas a habitarem porões e edificações destinadas a outros usos. Nesse momento já era possível identificar as diferenças sociais e estabelecer parâmetros de vida entre pobres e ricos. 
 No começo da última década do período, em 1891, Porto Alegre entrou em sua fase de industrialização, fortemente ligado à produção colonial e à acumulação de capital do comércio local que foram responsáveis por produzir um nível de vida relativamente bom aos que se dedicavam a esses ofícios A incorporação do setor industrial objetivava a aceleração e a modernização da economia e, para tanto, estruturou-se a primeira zona industrial e operária da cidade no arraial Navegantes que abrigava, inclusive, casas operárias. Aliado ao advento industrial houve um significativo acréscimo populacional na cidade de Porto Alegre entre os anos de 1900 e 1910 que trouxe consigo a pobreza e o aumento do número de pessoas em situação de rua que passavam longe da vida elegante da aristocracia porto-alegrense. Em uma manchete no jornal Diário de Noticias em 1925 dizia: “Andam infelizes o dia inteiro a mendigar a caridade pública, e quando chega a noite, vão procurar por cama os rígidos e incômodos bancos das praças, e tendo por coberta o manto azul do céu” (DIÁRIO DE NOTÍCIAS apud BAKOS, 1996, pág. 32). 
 Os periódicos também criticavam o governo do Estado e de Porto Alegre pela carência financeira dos mais desfavorecidos. Paralelamente, a elite porto-alegrense, formada basicamente pelos donos das fábricas, comerciantes e políticos, impulsionaram novas formas de sociabilidade urbana firmando uma nova área residencial à rua Independência para fugir da insalubridade do centro e da proliferação dos cortiços. Tendo como aliada a proximidade com o centro, a Rua Independência recebeu melhorias de infraestrutura, transporte coletivo, abastecimentode água, iluminação pública e redes de esgoto. 
 O desenvolvimento de Porto Alegre, deu-se pela exploração econômica da classe operária que era submetida a jornadas de trabalho que chegavam até 14 horas em ambientes muitas vezes insalubres. 
 Os cortiços, construídos nos bairros operários juntamente com outras casas de estrutura bastante simples, foram as primeiras habitações populares da modernidade ligados à industrialização-urbanização e também foram resultado da proliferação de diversos becos pelo centro da cidade. Os cortiços eram moradias coletivas multifamiliares horizontais ou verticais de aluguel barato e ambientes muito pequenos que abrigavam várias funções no mesmo cômodo. 
 O Código de Posturas de Porto Alegre de 1829 a 1950 regrava algumas restrições a respeito da construção de cortiços, como segue:
 “Artigo 1 — Fica proibida na área da cidade, limitada pela rua Coronel Fernando Machado ao sul, pela rua Conceição no nascente, pela rua 7 de Setembro até a Vasco Alves ao norte, e por esta ao poente, a construção de casas denominadas — cortiços” (SCHENKEL, 2014). 
“Artigo 2 — Fica proibida a morada em porões, nos limites da cidade, que não tenham pelo menos dois metros de altura, a contar da soleira da porta, sem ar e luz convenientes. Os proprietários ou moradores, que alugarem ou sublocarem porões que não estejam nestas condições, incorrerão na multa de vinte mil réis, e na reincidência na de trinta mil" (SCHENKEL, 2014). 
 O tempo foi passando e muitos problemas ocorreram e muitas atitudes foram tomadas, mas mesmo assim em 1945 foram contabilizadas cerca de 250 malocas espalhadas pela cidade. O termo “malocas” ou “vilas de malocas” era utilizado pela população, órgãos governamentais e entidades para definir as ocupações irregulares. No início de 1945 muitas malocas foram transferidas para uma área distante do centro com o apoio da Legião Brasileira de Assistência (LBA) onde estão localizados hoje os bairros Higienópolis e São João. 
 Nos anos 2000 Porto Alegre continuou se deparando com o crescimento da cidade e os mesmos problemas que a acompanhara desde o início do século XX, acrescido agora pela preocupação com a poluição, desemprego e aumento da violência.
 A proximidade com a Copa do Mundo, em 2014, fez de Porto Alegre um verdadeiro canteiro de obras, assim como as demais cidades sede dos jogos espalhadas pelo Brasil. As obras impactaram (e continuam impactando) com pontos positivos e negativos para a cidade. Com obras em favor da mobilidade urbana e da boa estética, muitas famílias foram removidas de suas casas para darem espaço para as novas intervenções. Das 15 grandes obras previstas para o Mundial, apenas 3 foram concluídas a tempo.
 Podemos nos encaminhar para uma avaliação geral, através dos dados apresentados na tabela abaixo, que é possível observar de forma bastante clara o aumento desenfreado dos núcleos sub-habitacionais, suas unidades, famílias e moradores desde a década de 50, que refletiu no aumento da pobreza e da desigualdade social ao longo dos anos. É preciso sempre controlar estes dados para que não piorem ao longo do tempo, mesmo que lentamente.
 Vale destacar que o DEMHAB considera núcleos sub-habitacionais os assentamentos irregulares sem infraestrutura adequada para moradias a partir de 20 unidades habitacionais. Uma prova de que a cidade aumentou as distâncias sociais e obedeceu a lógica excludente. 
 O tempo passou e não tivemos muitas mudanças neste aspecto. Os terrenos em locais mais nobres são muito valorizados e extremamente caros, as pessoas com baixa renda correm para a periferia. Das 230 cidades mais caras para se viver no mundo pelo menos 15 estão no Brasil e neste ranking de custo de vida do site colaborativo Expatistan, Porto Alegre está em sétimo lugar. Neste estudo, o valor dos aluguéis dos imóveis, também são levados em conta. Além disto, o metro quadrado de Porto Alegre está em quarto lugar no Brasil no ranking dos mais caros. Isto mostra que é um dos importantes problemas a serem resolvidos para melhorar as condições de existência dos mais necessitados. Este continuará sendo um ponto a ser melhorado, embora milhares e milhares de unidades habitacionais tenham sido financiadas ao longo dos anos.
1.11 USOS E COSTUMES
 A cultura regionalista gaúcha caracteriza-se por uma busca constante da manutenção de suas raízes, mesmo nos tempos globalizados que se vive. Quanto aos aspectos ideológicos instaurados em toda a produção cultural podemos citar o “mito do gaúcho”, Jacks (2003) que diz que ele foi construído desde muito tempo pela literatura e pelas historiografias oficiais. Uma das características básicas é o enaltecimento de um passado guerreiro, onde o historiador busca nas lutas fronteiriças com os castelhanos vitórias grandiosas, lances de heroísmo e, dominando o cenário de pampa, verdadeiro campo de batalha, encontra-se a figura altaneira, viril e destemida do gaúcho, centauro dos pampas, monarca das coxilhas.
 Vale ressaltar que as tradições encontradas na cultura do Rio Grande do Sul foram produzidas em dado momento, quando se instaurou o tradicionalismo e sentiu-se a necessidade de buscar nas características do povo que formou o estado, bem como nos colonizadores, formas de relações, costumes e crenças para formar esta tradição inventada – baseada nos conceitos de Eric Hobsbawn – por pesquisadores como Paixão Côrtes e Barbosa Lessa. A partir destes pressupostos, a origem do povo gaúcho está ligada ao campo, a vida campeira – laçar, domar e marcar potro, conduzir tropa e sair para a faina diária quebrando a geada nas madrugadas de inverno. A virilidade passou a ser a qualidade mais exigida e apreciada do gaúcho, porém, em algumas regiões do estado os grandes estancieiros da época não descuidaram da educação de seus filhos homens que na maioria das vezes, eram mandados para a Europa para estudar. Aqueles que não saíam do país estudavam no Rio de Janeiro, na época ainda capital do Brasil. Estes voltavam formados, cultos, alguns doutores, mas na volta o seu lugar já estava definido pelo pai: a frente dos seus negócios – estância que podia ser de criação de animais, charqueadas ou ambas entre outras. 
 A figura do gaúcho, alimentada e enriquecida pela legenda, ia projetar-se no tempo e ganhar espaço, já agora liberta de seus caracteres primitivos, e acabaria como uma espécie de mimetismo sociológico, absorvendo na sua estrutura moral todos os rio-grandenses identificados com a terra não só por filiação histórica, mas ainda por aculturação ou adesão afetiva (Vellinho, 1969) 
 Muitas peculiaridades da cultura regionalista gaúcha vêm de longa data, tornando-se hoje elementos fundamentais na sua construção. Plantio, criação de animais, trabalhos domésticos e a indústria caseira formaram as primeiras relações de produção desenvolvendo a economia local. A alimentação era quase toda extraída da propriedade, lavoura e de animais – as diversas maneiras de assar partes especiais do animal apuraram o gosto do churrasco. Como bebida, começou bem cedo o largo uso do MATE. Ele foi também o principal veículo dos remédios com propriedades genéricas de certas ervas (chás) descobertas ou reveladas pelos índios e negros. Toda a medicina do gaúcho cabia na sua cuia (Xavier, 1969) 
“O uso dessa bebida é geral aqui. Toma-se ao levantar da cama e depois várias vezes ao dia. A chaleira de água quente está sempre ao fogo e logo que um estranho entra em casa se lhe oferece o mate”. Estas são palavras do naturalista francês Auguste de Saint Hilaire, após visita em solo gaúcho por volta do ano de 1820.
 Bebida símbolo do Rio Grande do Sul, o chimarrão é um legado dos índios Guaranis. Sempre presente no dia a dia, constitui-se de uma das tradições mais representativas deste povo. É também conhecido como mate amargo, mas não tem nada de amargo em seu significado:é sinônimo da hospitalidade e da amizade do gaúcho. Ao longo da história o chimarrão ganhou popularidade e passou a ser uma bebida de caráter social, comunhão entre amigos e vizinhos e tradicionalistas. Nestes tempos de pandemia e cuidados com o vírus, deve ser evitado o compartilhamento da cuia e da bomba. Cada um deve usar a sua e a distância deve ser maior que o comprimento do braço.
 Em 1898 em Porto Alegre a fundação do Grêmio Gaúcho, foi um dos principais marcos do tradicionalismo gaúcho. Um século depois, ocorreu a fundação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas – CTG, fundado por um grupo de estudantes também de Porto Alegre. Depois destes precursores do renascimento das tradições do Rio Grande do Sul, inúmeros CTG’s foram fundados, todos com o principal objetivo de reunir pessoas de todas as idades para manifestar o seu apego à tradição gaúcha (MTG–RS, 2010). O MTG também ganhou destaque no Rio Grande do Sul ao final da Segunda Guerra Mundial, quando existia um conflito cultural muito grande, pois naquela época os Estados Unidos estabeleciam forte influência em todo o mundo. Ferreira e Corso (2008: 15) afirmam que “(...) o mundo ocidental encontrava-se sob grande influência exercida pela posição dos E.U.A se tornando assim o principal centro de irradiação da moda e da cultura para as elites urbanas, principalmente para os jovens que começaram a imitar o americano Way of life.”. De acordo com Ferreira e Corso (2008), nesse período uma minoria riograndense observou que em pouco tempo suas práticas seriam absorvidas pelo sistema, que seus hábitos seriam esquecidos e que um novo estilo de vida seria a opção de um número massivo de cidadãos. Este momento foi um marco para o povo gaúcho, onde a valorização de seus usos e costumes foram a tentativa certeira de não serem absorvidos por aquela cultura imposta. Atualmente, os MTG’s atuam como guias orientadores dos princípios filosóficos gaúchos, dando sustentabilidade e manutenção às tradições. Filiados aos MTG`s de cada estado brasileiros estão os CTG’s, sendo mais de mil só no Rio Grande do Sul. Toda esta organização torna o Movimento Tradicionalista Gaúcho a maior entidade de características sócio-cívico-culturais da América Latina (MTG-RS, 2010). Dentro de um CTG existe a organização hierárquica, sendo que a figura maior está no patrão, o responsável por todo e qualquer integrante. Os CTG’s e as manifestações gaúchas do dia-a-dia espalharam-se por todo o Brasil, “são exportadas”. 
 Nos costumes do Gaúcho, temos também a trova galponeira tipo de música gauchesca que foi criada em galpões de fazendas e consiste na boa música gaúcha acompanhada da capacidade do cantor improvisar durante o “grito da sanfona”. Há vários tipos de trova: campeira, milonga, martelo, etc. 
 No Rio Grande do Sul são muitas pessoas que sabem cantar o hino da sua terra. É uma responsabilidade com o tradicionalismo e respeito ao local em que moram. As paixões pelas terras do extremo sul brasileiro podem ser definidas nesse verso do hino gaúcho: Povo que não tem virtude/Acaba por ser escravo”. 
 Outro ponto importante são elementos culturais incorporados, como jogos de futebol que criam rivalidade entre as maiores do país, como o clássico Grenal, Na linguagem os usos são muitos, a palavra "bah" serve para basicamente qualquer sentimento que existe: decepção, alegria, espanto, medo, admiração, raiva. O "tchê" é uma interjeição para chamar a atenção de alguém. Tem quem acredite que "tchê" significa "cara", mas é muito mais que isso: "tchê" significa "bah, cara!". Também vale destacar o uso do "tri", uma versão minimalista, adaptada pela geração Y, do antigo "tri legal", que caiu em desuso nos anos 1990. E o clássico exclamativo "capaz!" significa "não precisa" ou "não se preocupe". Enquanto isso, dizer "bem capaz" significa "não", algo negativo e dizer "capaz que não" significa "sim", algo positivo. Pode ser difícil de entender, mas fazem parte de usos e costumes do povo gaúcho. Em algumas regiões, se vai no super (supermercado) para comprar “umas” carne e “umas” cerveja. Tudo é pago com pila, que não tem plural mesmo e é como se chama a moeda local. 
 Óbvio que na gastronomia temos uma infinidade de usos e costumes, mas resolvemos aqui fazer um pequeno relato sobre um sanduíche, que na verdade não é sanduiche, não é um hambúrguer. Ele é feito num “pão de xis” que é mais massudo, é prensado, com recheio diversos, sendo que o mais tradicional é coração de galinha ou também estrogonofe. É um clássico, um lanche que só o gaúcho tem.
 
 São tantas as influências do povo gaúcho para chegarmos até aqui, que este trabalho é somente um resumo. Percebo que os porto alegrenses não precisam se conectar com o que tem de mais tradicional ou convencional nos costumes e na vestimenta. Talvez muitos nem tenham entrado em um CTG, comemorado a Semana Farroupilha ou mesmo vestido uma bombacha ou vestido de prenda. Mas, isto somente não determina ser “gaúcho”. Esta identidade é forjada em muitas outras experiências, no respeito, no orgulho de fazer parte desta história e valorizar as tradições, tudo isto diz muito sobre este povo.
Referências
https://veja.abril.com.br/blog/rio-grande-do-sul/movimento-tradicionalista-gaucho-cobra-uso-de-bombacha-original/
Feira do Livro – Porto Alegre. http://www.feiradolivro-poa.com.br/feira.aspx Agosto de 2006
Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, de Zeno e Rui Cardoso Nunes, editado por Martins Livreiro
JACKS, Nilda. Mídia Nativa: Indústria Cultural e Cultura Regional. Porto Alegre, RS: Universidade/UFRGS, 2003.
https://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/produtos-ingredientes/chimarrao-origem-e-misterios-da-bebida-simbolo-do-gaucho/ 
Perfil Religioso do Gaúcho – Edição 264 – HIU on-line
Observatório da Cidade de Porto Alegre – 26/10/2013 – Rio Grande do Sul – adesão a religiões Afro.
Revista Veja – Movimento Tradicionalista gaúcho cobra uso de bombacha “original”
Jornal Tradição – 03/05/2021 – Edição 761
Movimento Tradicionalista Gaúcho – 17/07/2018 – Danças gaúchas
A música tradicionalista Gaúcha – R.Ratner
Secretaria Especial da Cultura – Portal da Cultura – Ministério do Turismo
Página da Prefeitura de Porto Alegre – portoalegre.rs.gov.br
Jornal Alto Taquari – 27/06/2013 – José Marcelino de Figueiredo fundou Porto Alegre, mas seu nome é quase desconhecido
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