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FUNDAMENTOS-DA-EDUCAÇÃO-INCLUSIVA

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1 
 
SUMÁRIO 
1 A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS .................. 2 
2 FUNDAMENTOS LEGAIS DO AEE ............................................................ 3 
3 AS NORMAS LEGAIS DE GARANTIA DOS DIREITOS DAS PESSOAS 
COM DEFICIÊNCIA OS DIREITOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ......................... 6 
4 AO TRABALHO .......................................................................................... 7 
4.1 À Atenção do Estado (Poder Público) à saúde e proteção................... 8 
5 O MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM 
DEFICIÊNCIA .............................................................................................................. 8 
6 EDUCAÇÃO INCLUSIVA .......................................................................... 15 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 20 
7 ARTIGO PARA REFLEXAO ..................................................................... 21 
8 FUNDAMENTOS PARA UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA.......................... 21 
9 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA, HOJE ........................................................... 22 
10 LÓGICA DA EXCLUSÃO ....................................................................... 23 
11 LÓGICA DA INCLUSÃO ........................................................................ 26 
12 A RELAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES ................................................... 28 
13 DA INTERDEPENDÊNCIA .................................................................... 29 
14 DA CO-DEPENDÊNCIA ........................................................................ 32 
15 AUTONOMIA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA ............................................ 36 
16 COMO AGIR NA CO-DEPENDÊNCIA? ................................................ 37 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 43 
 
 
 
2 
 
1 A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS 
 
Fonte: www.catracalivre.com.br 
Incluir quer dizer fazer parte, inserir, introduzir. E inclusão é o ato ou efeito de 
incluir. Assim, a inclusão social das pessoas com deficiências significa torná-las parti-
cipantes da vida social, econômica e política, assegurando o respeito aos seus direitos 
no âmbito da Sociedade, do Estado e do Poder Público. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das 
Nações Unidas (ONU), em 1948 relaciona os seguintes direitos que valem para todos, 
isto é, os chamados direitos humanos ou da cidadania: 
 Direitos Civis: direito à liberdade e segurança pessoal; à igualdade pe-
rante lei; à livre crença religiosa; à propriedade individual ou em socie-
dade; e o direito de opinião (Art. 3° ao 19). 
 Direitos Políticos: liberdade de associação para fins políticos; direito de 
participar do governo; direito de votar e ser votado (Arts. 20 e 21). 
 Direitos Econômicos: direito ao trabalho; à proteção contra o desem-
prego; à remuneração que assegure uma vida digna, à organização sin-
dical; e direito à jornada de trabalho limitada (Arts. 23 e 24). 
 Direitos Sociais: direito à alimentação; à moradia; à saúde; à previdên-
cia e assistência; à educação; à cultura; e direito à participação nos fru-
tos do progresso científico (Art.25 ao 28). 
 
3 
 
2 FUNDAMENTOS LEGAIS DO AEE 
 
Fonte: www.diversidadenarua.cc 
 Plano de Desenvolvimento da educação-PDE. 
 Política Nacional de educação Especial na perspectiva da educação in-
clusiva. 
 Decreto nº6571 de 17/09/2008, regulamenta o AEE, como um dos ser-
viçoes disponibilizados pela educação especial. 
 Parecer nº13 do CNE 
 Resolução nº4 do CNE. 
Esses direitos foram conquistados arduamente nos últimos 200 anos. Contudo, 
segundo as condições históricas de cada país, podem ser descumpridos ou bastantes 
fragilizados, o que indica que o esforço do Estado e da Sociedade por sua vigência 
deva ser permanente. Uma coisa é certa: para fortalecê-los entre nós, a Sociedade e 
o Estado brasileiros devem agir com base no princípio da associação interdependente 
dos direitos, isto é, o cumprimento efetivo de um depende do cumprimento dos outros. 
Por exemplo, o direito à igualdade perante a lei depende do direito de votar e ser 
votado, o qual está por sua vez associado ao direito de opinião aos direitos à educação 
e à saúde. 
Quando isto não ocorre, os direitos de todos perdem as suas forças e, em con-
seqüência, os direitos específicos das pessoas com deficiência também. Ora, se o 
direito universal à saúde não está associado aos demais e além disso, é cumprido de 
 
4 
 
modo insuficiente pelo Estado, o direito à saúde específico das pessoas com defici-
ência igualmente será fragilizado ou mesmo negado. 
Portanto a inclusão social tem por base que a vigência dos direitos específicos 
das pessoas com deficiência está diretamente ligada à vigência dos direitos humanos 
fundamentais. Em virtude das diferenças que apresentam em relação às demais, as 
pessoas com deficiência possuem necessidades especiais a serem satisfeitas. Tal 
fato significa que: 
 Os direitos específicos das pessoas com deficiências decorrem de suas 
necessidades especiais; 
 É preciso compreender que as pessoas não deficientes e as pessoas 
com deficiências não são “iguais”. 
 O exercício dos direitos gerais bem como nos direitos específicos destas 
últimas está diretamente ligado à criação de condições que permitam o 
seu acesso diferenciado ao bem-estar econômico, social e cultural. 
Assim orientada, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em 
1975, a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências. Ponto de chegada de 
uma luta histórica de entidades nacionais e internacionais e, em particular, das pró-
prias pessoas com deficiências e de suas organizações, a Declaração tornou-se, em 
todo mundo, o ponto de partida para a defesa da cidadania e do bem-estar destas 
pessoas, assegurando os seguintes direitos: 
 O direito essencial à sua própria dignidade humana. As pessoas com 
deficiência, 
 Independente da origem, natureza e gravidade de suas incapacidades, 
têm os mesmos direitos que os outros cidadãos, o que implica no direito 
de uma vida decente, tão normal quanto possível; 
 As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos civis e políticos dos 
demais indivíduos. O parágrafo 7° da Declaração dos Direitos do Defici-
ente Mental indica a possibilidade de limitar ou de suprimir tais direitos 
no caso das pessoas com deficiência mental; 
 O parágrafo 7 da Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente Re-
tardadas estabelece: “Sempre que pessoas mentalmente retardadas fo-
rem incapazes devido à gravidade de sua deficiência de exercer todos 
 
5 
 
os seus direitos de um modo significativo ou que se torne necessário 
restringir ou denegar alguns ou todos estes direitos, o procedimento 
usado para tal restrição ou denegação de direitos deve conter salvaguar-
das legais adequadas contra qualquer forma de abuso. Este procedi-
mento deve ser baseado em avaliação da capacidade social da pessoa 
mentalmente retardada, por parte de especialistas e deve ser submetido 
à revisão 
 Periódica e ao direito de apelo a autoridades superiores”; 
 As pessoas com deficiências têm o direito de desenvolver capacidades 
que as tornem, tanto quanto possível, autoconfiantes; 
 O direito ao tratamento médico, psicológico e reparador, incluindo próte-
ses e órteses, visando a sua reabilitação, bem como o acesso a serviços 
que as habilitam a desenvolver capacidades voltadas para sua integra-
ção ou reintegração social; 
 As pessoas com deficiência têm o direito à segurançasocial econômica 
e a um nível de bem-estar digno. Elas têm o direito, segundo suas capa-
cidades, ao emprego ou de participar de ocupação útil e remunerada; 
 O direito a que suas necessidades especiais sejam incluídas no plane-
jamento econômico e social; 
 As pessoas com deficiência têm o direito de viver com sua família e de 
participar das atividades sociais. Elas não serão submetidas, mesmo em 
suas residências, a tratamento diferente (discriminatório) que não seja o 
necessário para melhorar o seu bem-estar. Se a sua permanência em 
instituição especializada for indispensável, o ambiente e as condições 
deverão ser as mais próximas da vida normal; 
 O direito à proteção contra toda a exploração e todo o tratamento discri-
minatório, abusivo e degradante; 
 As pessoas com deficiência têm o direito ao apoio jurídico qualificado 
quando tal apoio mostrar-se indispensável para sua proteção. Se pro-
cessos judiciais forem estabelecidos contra elas, o procedimento legal 
respeitará as suas condições físicas e mentais; 
 
6 
 
 As organizações das pessoas com deficiência devem ser consultadas 
em todos os assuntos que dizem respeito aos direitos mencionados; 
 As pessoas com deficiência, suas famílias e a comunidade devem ser 
plenamente informadas, pelos meios apropriados, dos direitos contidos 
na Declaração. 
Pode-se perceber que a inclusão social das pessoas com deficiência depende 
do seu reconhecimento como pessoas, que apresentam necessidades especiais ge-
radoras de direitos específicos, cuja proteção e exercício dependem do cumprimento 
dos direitos humanos fundamentais. 
3 AS NORMAS LEGAIS DE GARANTIA DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM 
DEFICIÊNCIA OS DIREITOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 
Fonte: saberprevidenciario.com.br 
Logo no artigo 1° da Constituição são mencionados dois dos fundamentos que 
amparam os direitos de todos os brasileiros, incluindo, é claro, as pessoas com defi-
ciência: a cidadania e a dignidade. 
 Cidadania: é a qualidade de cidadão. E cidadão é o indivíduo no gozo 
de seus direitos civis, políticos, econômicos e sociais numa Sociedade, 
no desempenho de seus deveres para com esta. 
 Dignidade: é a honra e a respeitabilidade devida a qualquer pessoa pro-
vida de cidadania. 
 
7 
 
São fundamentos que orientam os objetivos de nossa República, tais como, 
“construir uma sociedade livre, justa e solidária “; “erradicar a pobreza e a marginali-
zação e reduzir as desigualdades sociais e regionais” e “promover o bem de todos, 
sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de dis-
criminação”. 
A expressão o bem de todos indica que os direitos e deveres da cidadania 
pressupõem que todos são iguais perante a lei, com a garantia de que são invioláveis 
o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Artigo 5°). 
Todavia, as pessoas com deficiência possuem necessidades especiais que as 
distinguem das outras. Desta forma, é importante compreender que, além dos direitos 
relativos a todos, as pessoas com deficiência devem ter direitos específicos, que com-
pensem, na medida do possível, as limitações e/ou impossibilidades a que estão su-
jeitas. 
Por isto é preciso repetir que os não deficientes e as pessoas com deficiência 
não iguais, no sentido de uma igualdade apenas abstrata e formal, isto é, que não 
considera as diferenças existentes entre os dois grupos. 
E que as pessoas com deficiência apresentam necessidades especiais, que 
exigem um tratamento diferenciado para que possam realmente ser consideradas 
como cidadãos. Assim, a Constituição estabelece as seguintes normas relativas: 
4 AO TRABALHO 
 Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros 
que visem à melhoria de sua condição social: 
 XXXI. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e crité-
rios de admissão do trabalhador com deficiência. 
 Art.37 – Administração pública direta, indireta ou fundacional, de qual-
quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nicípios obedecerá aos Princípios de legalidade, impessoalidade, mora-
lidade, publicidade e, também ao seguinte: 
 VII. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as 
pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua admissão. 
 
8 
 
4.1 À Atenção do Estado (Poder Público) à saúde e proteção 
 Art. 23 – é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Fe-
deral e dos 
Municípios: 
II cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas 
com deficiência. 
Art. 24 – Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrente-
mente sobre: 
XIV. proteção e integração social das pessoas com deficiência 
5 O MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊN-
CIA 
 
Fonte: www.pessoascomdeficiencia.com.br 
O movimento pela integração da pessoa deficiente, na Europa, pode ser consi-
derado como decorrente da conjunção histórica de três fatores, segundo estudiosos 
do assunto: o advento das duas grandes guerras mundiais, o fortalecimento do movi-
mento pelos Direitos Humanos e o avanço científico. 
Como consequência das duas grandes guerras, surgiu nos países atingidos 
uma grande quantidade de pessoas mutiladas, debilitadas e perturbadas mental-
mente. As sociedades desses países viram-se diante da necessidade de criar formas 
 
9 
 
de atendimento e reintegração desses indivíduos ao meio social. Além disso, o curto 
intervalo entre as duas guerras e o número de baixas ocorridas gerara um déficit de 
mão de obra, o que levou à implantação de programas de educação, saúde e treina-
mento para que trabalhadores deficientes pudessem preencher as lacunas da força 
de trabalho européia (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997). 
A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o fortalecimento 
dos movimentos de luta em defesa dos direitos civis, influenciados pelas grandes 
transformações sociais ocorridas ao longo da segunda metade do Século XX, estão 
na gênese das recentes disposições de igualdade de oportunidades educativas para 
crianças com necessidades educacionais especiais. Despontava, então, uma fase de 
esperança e luta por melhores tempos, espelhada num renascimento humanista, cada 
vez mais crescente e que atingiu seu auge nos anos 60. Nesse período, ocorreu uma 
mudança de perspectiva em relação ao tipo de inserção das pessoas deficientes na 
força de trabalho, que havia sido originada no pós-guerra. A demanda, que antes tinha 
por objetivo preencher lacunas, agora se daria no sentido de integrar os indivíduos 
deficientes com base em seus direitos como seres humanos e indivíduos pertencentes 
a uma sociedade (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997). 
Paralelo aos dois fatos já mencionados, o avanço científico dessa época trouxe 
informações importantes sobre aqueles grupos considerados minorias sociais. Estu-
dos sociológicos, realizados nos Estados Unidos, citados por Santos (1995), revela-
ram a escassez ou carência total de acesso às provisões sociais, de saúde e educa-
cionais, pelas minorias étnicas. 
Pesquisas nas áreas médica, educacional e psicológica defendiam uma abor-
dagem menos paternalista em relação aos indivíduos deficientes e enfatizavam que a 
“excepcionalidade”, necessariamente, não deve se constituir num impedimento total 
para a aprendizagem dos indivíduos deficientes, nem significar uma incapacidade de-
les em frequentar o ambiente escolar. 
As novas tendências no campo educacional, em oposição à visão positivista, 
trariam à tona a concepção de educação como instrumento para o desenvolvimento 
de um saber e de uma consciência críticas; com abordagens pedagógicas centradasno aluno, visando a sua formação, como futuro cidadão, como agente social ativo e 
histórico. 
 
10 
 
Os movimentos a favor da integração dos deficientes mentais surgiram nos pa-
íses nórdicos no início da década de 60, quando, em 1950, na Dinamarca, traçava-se 
pela primeira vez, um plano para integração de crianças portadoras de deficiência. A 
ideia da integração nascia para derrubar a prática da exclusão social a que foram 
submetidas as pessoas portadoras de deficiências, durante vários séculos. 
Na década de 60, observou-se um boom de instituições especializadas que 
ofereciam aos grupos específicos de indivíduos deficientes, todos os serviços 
possíveis correspondentes àqueles encontrados fora da instituição, disponibilizados 
para a população considerada normal. A segregação continuava, só que agora no 
âmbito institucional, dentro de escolas especiais, centros de reabilitação, oficinas pro-
tegidas de trabalho, clubes recreativos especiais, etc. (SASSAKI, 1997). 
Ao final daquela década, a ideia de integração social foi ampliada e o objetivo 
da nova abordagem passou a promover a integração das pessoas portadoras de de-
ficiência nos sistemas sociais gerais, como a educação, o trabalho, a família e o lazer. 
O fator propulsor de tal mudança de perspectiva foi a elaboração e a divulgação de 
um importante princípio – o princípio da normalização (SASSAKI, 1997). 
Em 1969, na Dinamarca, Nirje – Diretor da Associação Sueca para Crianças 
Retardadas - formula o princípio da normalização, que se constituiria na base 
conceitual do processo de integração social dali em diante. Em sua redação inicial, o 
princípio referia-se apenas a pessoas com deficiência, como se pode constatar: “O 
princípio de normalização significa colocar ao alcance dos retardados mentais, uns 
modos e umas condições de vida diários o mais parecidos possível às formas e con-
dições de vida do resto da sociedade” (STEELNLANDT 1991, in CARVALHO, 1997, 
p.45). 
Este princípio foi generalizado a partir de 1972, por Wolfensberg, para todas as 
pessoas com deficiências e contemplou tanto os meios possíveis, quanto os resulta-
dos alcançados. Isto quer dizer que, para Wolfensberg, a normalização era a utilização 
de meios tão culturalmente normativos quanto fosse possível para estabelecer e/ou 
manter condutas e características pessoais o mais culturalmente normativas quanto 
fosse possível (STEELLANDT, 1991). 
 
11 
 
O pressuposto básico do princípio da normalização era que toda pessoa porta-
dora de deficiência, especialmente, as deficientes mentais, tinham o direito de experi-
enciar um estilo, ou padrão de vida, que fosse comum ou normal à sua própria cultura, 
ou seja, a todos os membros de uma sociedade deveriam ser oferecidas oportunida-
des iguais de participar em atividades comuns àquelas partilhadas por seu grupo de 
pares (MENDES, 1994). 
Definida como um princípio ou como um objetivo a ser alcançado, a normaliza-
ção não era específica da escola; ela passava a englobar os diversos aspectos da 
existência em sociedade e de todas as etapas de vida dos indivíduos com deficiência. 
Além disso, o princípio da normalização não permaneceu restrito aos fatores relacio-
nados à vida dos indivíduos afetados por uma incapacidade ou uma dificuldade, ele 
passava a envolver também todas as outras pessoas que estavam em contato com 
aqueles indivíduos, ou seja, sua família e a sociedade que se relacionasse com eles 
(DORÉ et. al., 1996). 
 
 
Fonte: www.casadaptada.com.br 
Uma das opções de integração escolar denominava-se mainstreaming, ou seja, 
“inserção na corrente principal” e seu sentido seria análogo à existência de um canal 
educativo geral, que, em seu fluxo, vai carregando todo tipo de aluno com ou sem 
capacidade ou necessidade específica. Pelo conceito de mainstreaming, o aluno por-
tador de deficiência, ou com dificuldades de aprendizagem, deve ter acesso à educa-
ção, sendo que essa formação deverá ser adaptada às suas necessidades específicas 
(MANTOAN,1998). 
 
12 
 
Foi a partir da década de 80 que a integração social, como movimento, teve 
seu maior impulso com o fortalecimento da luta pelos direitos das pessoas portadoras 
de deficiência. No Brasil, essa influência é vista, claramente, na redação dos textos 
oficiais que normatizaram o atendimento educacional especial. 
Ocorreu, também nessa década, a despeito das críticas iniciais, o desenvolvi-
mento de estratégias de operacionalização do princípio de normalização por meio de 
integradores. O processo de “mainstreaming” firmou-se como filosofia de integração 
amplamente aceita (MENDES, 1994). 
A defesa da integração social da pessoa com deficiência, sem dúvida alguma, 
foi um avanço social muito importante, pois teve o mérito de inserir esse indivíduo na 
sociedade de uma forma mais efetiva, se comparado à situação anterior de segrega-
ção. Entretanto, se o processo de integração social tem consistido no esforço de in-
serir na sociedade pessoas com deficiência que alcançaram um nível compatível com 
os padrões sociais vigentes, tal esforço tem se mostrado unilateral em nossos dias; 
um esforço somente da pessoa portadora de deficiência e de seus aliados - a família, 
a instituição especializada e algumas pessoas envolvidas na causa da inserção social 
- segundo Sassaki (1997). 
Da forma como está sendo realizada hoje, a integração escolar/social pouco ou 
nada exige da sociedade em termos de modificação de atitudes, de espaços físicos, 
de objetos e de práticas sociais. A sociedade “cruza seus braços” e aceita o deficiente 
desde que ele se torne capaz de adaptar-se ao seu contexto social e às formas de 
desempenhar os papéis sociais necessários. 
Essa prática reflete o, ainda vigente, modelo médico de compreensão da defi-
ciência. O modelo médico de compreensão da deficiência significa compreender este 
fenômeno tendo, como referência, um conjunto de significados construídos historica-
mente, fundamentados em uma explicação médica da deficiência. Dentro de uma vi-
são organicista de Ser Humano, a explicação médica focaliza a deficiência no indiví-
duo desviante, enfatiza o diagnóstico e prognóstico clínico (a médio e longo prazo) e 
tem como objetivo fundamental: classificar, comparar e normatizar o desviante. 
O modelo médico de deficiência parte do pressuposto de que as pessoas por-
tadoras de uma deficiência são doentes e debilitadas, pois estão afastados de um 
 
13 
 
“estado normal” de condição humana, que, nesse caso, seria aquele estado conside-
rado dentro da norma – o ser normal, o ser saudável. 
Por conta das diferenças que apresentam os deficientes, dentro desse modelo, 
são discriminados como incompetentes para o exercício de atividades sociais (educa-
ção, lazer e trabalho), desconsiderados em seus direitos e deveres, reconhecidos 
como indivíduos incompetentes para aprender, pensar e decidir, estando submetidos 
a um 
permanente estado de dependência em relação a outras pessoas. De forma 
geral, nas interações sociais realizadas tendo como referência este modelo de com-
preensão do fenômeno, as pessoas acabam se relacionando com o quadro etiológico 
da condição deficiente e não com o seu portador. 
O modelo médico de compreensão da deficiência está arraigado na realidade 
da educação especial brasileira e, em parte, tem sido responsável pela resistência da 
sociedade em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para inserir 
em seu meio os indivíduos com deficiência, de modo a favorecer-lhes o desenvolvi-
mento pessoal, social, educacional e profissional. Partindo do pressuposto de que a 
deficiência é um problema existente exclusivamente na pessoa deficiente, a socie-
dade semprefoi levada a crer que bastaria oferecer a esses indivíduos algum tipo de 
serviço especializado e o problema estaria solucionado. 
Fundamentado em um modelo médico de deficiência, que “tenta ‘melhorar’ as 
pessoas com deficiência para adequá-las aos padrões da sociedade” (WEST-
MACOTT, in SASSAKI, 1997), o processo de integração social tem concentrado es-
forços no sentido de inserir na sociedade pessoas com deficiência que já tenham al-
cançado um nível de desempenho compatível com os padrões sociais vigentes. O 
processo de integração baseado num modelo médico de deficiência, para Sassaki, 
pouco ou nada exige da sociedade no que se refere a mudanças de atitudes, de es-
paços físicos, de objetos e de práticas sociais. 
De forma geral, a defesa do modelo de integração escolar do indivíduo com 
deficiência por meio do processo de mainstreaming está muito presente nos projetos 
de Educação Especial desenvolvidos, atualmente, no Brasil. No processo de mains-
treaming, o aluno deficiente deve ter acesso à educação, sendo sua formação escolar 
adaptada às suas necessidades específicas. 
 
14 
 
Para que tal objetivo seja alcançado, deve haver uma diversidade de possibili-
dades e de serviços disponíveis a esse aluno, opções que vão da inserção em classes 
regulares ao ensino em escolas especiais. O processo de integração, nesse modelo, 
é representado por uma estrutura denominada “sistema de cascata” em que é ofere-
cido ao deficiente um ambiente menos restritivo possível, em todas as etapas da inte-
gração, com a garantia desse aluno poder transitar ao longo do “sistema”. 
“Mainstreaming“ seria uma concepção de integração parcial, porque o sistema 
de cascata prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da 
normalização. Os alunos que se encontram em serviços segregados, raramente se 
deslocam para outros menos segregados (MANTOAN, 1998). 
O sistema de cascata e as políticas de integração no modelo mainstreaming, 
em muitos casos, acabam sendo usados pela escola para ocultar o seu fracasso em 
relação a alguns alunos, isolando-os e somente integrando aqueles que não consti-
tuem um desafio à sua competência (DORÉ et al.,1996). 
A seleção dos alunos que se enquadram nas situações de mainstreaming é 
feita utilizando-se um processo de avaliação e seleção (supostamente “objetivo”), que 
irá apontar quais serão elegíveis para serem integrados. Entretanto, a objetividade 
desse processo é questionável e os critérios utilizados, em muitos casos, são subjeti-
vos, arbitrários e inadequados para revelar a real condição daquele aluno. 
Seguindo o curso das transformações das práticas sociais relacionadas à forma 
de inserção social das pessoas com necessidades especiais e aos tipos de atendi-
mento oferecidos a eles, observamos o surgimento de uma quinta fase, na segunda 
metade da década de 80, incrementando-se nos anos 90: é a fase da Inclusão Esco-
lar. 
 
15 
 
6 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 
 
Fonte: www.cdn.wp.clicrbs.com.br 
O fenômeno da Inclusão Escolar surgiu contextualizado nos eventos e trans-
formações sociais que vêm ocorrendo ao longo da história da Educação Especial, 
caracterizando uma quinta fase na evolução do atendimento educacional que a soci-
edade, de forma geral, tem oferecido às pessoas com necessidades especiais. 
Já havia, na segunda metade dos anos 80, em alguns países da Europa e nos 
EUA, um consenso entre os estudiosos e pesquisadores referente à necessidade de 
mudanças na forma como o processo de integração/mainstreaming vinha ocorrendo. 
Se havia consenso quanto a essas mudanças, as opiniões dividiam-se em relação às 
soluções encontradas para implementá-las, daí surgindo basicamente duas orienta-
ções. 
Uma delas propunha a melhoria e o aprofundamento do conceito de integra-
ção/mainstreaming por meio de experiências mais controladas, concomitante ao de-
senvolvimento de pesquisas. O principal promotor do conceito de integração, Wol-
fensberger sugeria a substituição do termo normalização pela expressão “valorização 
dos papéis sociais”, esperando, com esta mudança, enfatizar o objetivo da normaliza-
ção, ou seja, o apoio ao exercício dos papéis sociais valorizados pelas pessoas sus-
cetíveis de desvalorização social (DORÉ et al.,1997). 
A outra orientação de mudanças trazia para o foco da discussão um novo con-
ceito – a Inclusão Escolar. A Inclusão Escolar despontava como outra opção de inser-
ção escolar e vinha questionar as políticas e a organização da educação especial, 
 
16 
 
assim como o conceito de integração (mainstreaming). De todas as críticas que os 
defensores da inclusão fazem ao processo de integração/mainstreaming, talvez, a 
mais radical seja aquela que afirma que a escola acaba ocultando seu fracasso em 
relação aos alunos com dificuldades, isolando-os em serviços educacionais especiais 
segregados (DORÉ et al.,1996). 
Em relação ao surgimento do movimento inclusivista na Educação, apesar dos 
estudiosos da área concordar que países desenvolvidos como os EUA, o Canadá, a 
Espanha e a Itália foram os pioneiros na implantação de classes e de escolas inclusi-
vas, não foi possível definir, com exatidão, a partir da bibliografia pertinente, o marco 
exato do início do movimento de Inclusão Escolar. Em sua retrospectiva histórica, Se-
meghini (1998) comenta que, desde a década de 50, a escola inclusiva está atuante 
em vários países da Europa com o desenvolvimento de projetos e programas de in-
clusão, apontando a década de 70 como sendo o marco do surgimento do processo 
de Inclusão Escolar nos EUA. 
Mrech (1997; 1998; 1999) acredita que tanto o movimento de Integração Esco-
lar e o subsequente movimento da Educação Inclusiva surgiram nos EUA em conse-
quência da promulgação da Lei Pública 94.142, de 1975. Outros autores relatam que 
o conceito de inclusão surgiu, nos EUA, relacionado à implantação em 1986 de uma 
política educacional denominada “Regular Education Iniciative (REI)”, que defendia a 
adaptação da classe regular de modo a tornar possível inserir ali o maior número pos-
sível de alunos com necessidades especiais; incentivando os serviços de educação 
especial e outros serviços especializados a associarem-se ao ensino regular (COR-
REIA,1997; DORÉ et al.,1996). 
Sem a preocupação com a precisão histórica de seu surgimento, o fato é que 
depois de um período de intensas discussões e críticas a respeito do processo 
de integração/mainstreaming e suas possíveis limitações, ao final dos anos 80 e início 
da década de 90, começaram a tomar vulto as discussões em torno do novo para-
digma de atendimento educacional – a Inclusão Escolar. 
Na realidade, tanto o processo de integração quanto o de inclusão escolar são 
formas de inserção escolar ou sistemas organizacionais de ensino cuja origem se fun-
damenta no mesmo princípio, o princípio da normalização. Apesar da origem comum 
no mesmo princípio e de terem basicamente o mesmo significado, os conceitos de 
 
17 
 
Integração e de Inclusão escolar estão fundamentados em posicionamentos divergen-
tes quanto à consecução de suas metas. A Integração Escolar remete à ideia de uma 
inserção parcial e condicionada às possibilidades de cada pessoa, enquanto que o 
processo de Inclusão refere-se a uma forma de inserção radical e sistemática, total e 
incondicional, de toda e qualquer criança no sistema escolar comum (WERNECK, 
1997; MANTOAN, 1997; 1998). 
Normalizar uma pessoa, dentro do paradigma inclusivista, segundo Werneck 
(1997), não significa torná-la normal; significa garantir-lhe o direito de ser diferente e 
de ter suas necessidades reconhecidas e atendidas pela sociedade. Em relação à 
área educacional, continua Werneck, normalizar é oferecerao aluno com necessida-
des especiais os recursos profissionais e institucionais adequados e suficientes para 
que ele tenha condições de desenvolver-se como estudante, pessoa e cidadão. 
Dessa forma, o objetivo fundamental da Inclusão Escolar é não deixar criança 
alguma fora do sistema escolar e garantir que todas possam frequentar a sala 
de aula do ensino regular da escola comum, e, que esta escola, por sua vez, adapte-
se às particularidades de todos os alunos para concretizar o objetivo da diversidade, 
proposto pelo modelo inclusivista. O paradigma da Inclusão não admite diversificação 
de atendimentos pela segregação e, na busca de um ensino especializado no aluno, 
procura soluções que atendam às suas diversidades, sem segregá-los em atendimen-
tos especializados ou em modalidades especiais de ensino (WERNECK, 1997; MAN-
TOAN, 1996; 1997). 
Portanto, a inserção proposta no modelo da inclusão é muito mais completa, 
radical e sistemática, não admitindo que ninguém fique fora da escola; por isso, os 
pressupostos da inclusão provocam o questionamento das políticas educacionais e 
da organização da educação especial e regular, assim como o conceito de mainstre-
aming e de integração. 
Nesse sentido, as escolas inclusivas propõem um modo de constituir um sis-
tema educacional que considere as necessidades de todos os alunos e que seja es-
truturado em virtude dessas necessidades. A proposta inclusivista, assim, provoca 
uma ampliação na perspectiva educacional, dentro do contexto escolar, já que sua 
prática não prevê apenas o atendimento aos alunos que apresentam dificuldades na 
 
18 
 
escola. Além disto, o trabalho educacional desenvolvido dentro do paradigma da in-
clusão apoia a todos os que se encontram envolvidos no processo de escolarização, 
professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente 
educativa geral (MANTOAN, 1997). 
 
 
Fonte: www.portalbaixada.com.br 
A ênfase da escola inclusivista não se restringe ao atendimento das crianças 
com necessidades especiais. A meta do novo paradigma é incluir todos aqueles que 
se encontra em situação de exclusão, quer sejam eles deficientes físicos, mentais, 
sensoriais, ou crianças fracassadas na escola; ou alunos marginalizados por conta de 
suas peculiaridades raciais ou culturais; ou qualquer outra criança que esteja impedida 
de usufruir seu direito de acesso à educação democrática e de qualidade que lhe ga-
ranta um desenvolvimento social, emocional e intelectual adequado. 
A escola inclusivista respeita e valoriza as diversidades apresentadas por seus 
alunos. A proposta da Inclusão exige uma transformação radical da escola, pois ca-
berá a ela adaptar-se às necessidades dos alunos, ao contrário do que acontece atu-
almente, quando são os alunos que devem se adaptar aos modelos e expectativas da 
escola. Se a meta do processo de Inclusão é que todo e qualquer educando seja 
inserido na escola comum, então, a escola inclusivista deve preparar-se para oferecer 
um ambiente propício ao desenvolvimento das potencialidades de todos os tipos de 
alunos, qualquer que seja sua deficiência, diferença, déficit ou necessidades individu-
ais (WERNECK, 1997; SEMEGHINI, 1998). 
O princípio da Inclusão, sintetiza Correia (1997), apela para uma escola que 
tenha sua atenção voltada para a criança-todo, e não só a criança-aluno, respeitando 
 
19 
 
os três níveis de desenvolvimentos essenciais – o acadêmico, o sócio-emocional e o 
pessoal, de modo a proporcionar a essa criança uma educação apropriada, orientada 
para a maximização de seu potencial. 
Em termos teóricos e ideológicos, a ideia da inclusão escolar é, sem dúvida 
alguma, revolucionária. Entretanto, há que se refletir sobre importantes questões de 
natureza pragmática e operacional levantadas pelos pesquisadores da área. A insta-
lação de uma prática educacional inclusivista não será garantida por meio de promul-
gações de leis que, simplesmente, extingam os serviços de educação especial e obri-
guem as escolas regulares a aceitarem a matrícula dos alunos “especiais”, ou seja, a 
inserção física do aluno com deficiência mental em sala de aula regular não garante 
a sua “inclusão escolar”. 
Por outro lado, conforme observa Bueno (1999), a implementação de uma es-
cola regular inclusivista demanda o estabelecimento de políticas de aprimoramento 
dos sistemas de ensino, sem as quais não será possível garantir um processo de 
escolarização de qualidade. 
Uma política de Inclusão Escolar implica no (re) planejamento e na reestrutura-
ção da dinâmica da escola para receber esses alunos (GLAT, 1998). 
Em relação a estas mudanças da escola, alguns autores alertam que devam 
ser feitas com cautela, ponderação e conscientização, alertando que a realização de 
uma reforma de fundo não ocorre de imediato; ao contrário, trata-se de um processo 
em curso, que deve ser devidamente estudado e planejado, considerando todos os 
fatores envolvidos na questão educacional (CORREIA, 1997; CARVALHO, 1998). 
Apesar do conceito de inclusão conciliar-se com uma educação para todos e 
com o ensino especializado no aluno, a opção por esse tipo de inserção escolar não 
poderia ser realizada sem o enfrentamento de desafios importantes, uma vez que o 
maior deles recai sobre o fator humano. Na adoção do paradigma da inclusão, as 
mudanças no relacionamento pessoal e social e na maneira de efetivar os processos 
de ensino e aprendizagem têm prioridade sobre o desenvolvimento de recursos físicos 
e os meios materiais para a realização de um processo escolar de qualidade (MAN-
TOAN, 1998). 
Essas novas atitudes e formas de interação na escola dependem de fatores, 
tais como: o aprimoramento da capacitação profissional dos professores em serviço; 
 
20 
 
a instituição de novos posicionamentos e procedimentos de ensino, baseados em con-
cepções e práticas pedagógicas mais modernas; mudanças nas atitudes dos educa-
dores e no modo deles avaliarem o progresso acadêmico de seus alunos; assistência 
às famílias dos alunos e a todos os outros que estejam envolvidos no processo de 
inclusão. 
Todas estas mudanças, na opinião de Mantoan (1997; 1998), não devem ser 
impostas, ao contrário, devem resultar de uma conscientização cada vez mais evolu-
ída de educação e de desenvolvimento humano. 
 
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SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidades terminais. As transformações na Política da 
Pedagogia e na Pedagogia da Política. Rio de Janeiro: Vozes, 1998. 
7 ARTIGO PARA REFLEXAO 
8 FUNDAMENTOS PARA UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 
Lino de Macedo 
O objetivo deste texto é refletir sobre o desafio, agora proposto à Escola Fun-
damental, de incluir alunos com necessidades especiais (deficientes mentais, crianças 
com limitações sensoriais ou neurológicas etc.). Como proporcionar, no espaço e no 
tempo escolares, um conhecimento para todas as crianças, quaisquer que sejam suas 
condições físicas, sociais, de saúde ou suas possibilidades relacionais? Nossa hipó-
tese é de que, para isso, seja necessário repensarmos o modo de funcionamento ins-
titucional, pautado na lógica da exclusão, em favor de outro, pautado na lógica da 
inclusão. Quais são essas duas lógicas? Como nosso raciocínio se organiza preferen-
cialmente em termos de uma ou de outra? Quais são os desafios, as mudanças de 
hábitos, as reformulações pedagógicas necessárias para se substituir um modo de 
raciocínio por outro? Como aprender com os excluídos? Questões como essas serão 
colocadas a seguir. 
 
22 
 
9 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA, HOJE 
Como cuidar, integrar, reconhecer, relacionar-se com crianças (e pessoas de 
um modo geral) com necessidades especiais e que, por isso, diferenciam-se ou utili-
zam recursos diferentes dos normalmente conhecidos ou utilizados, sempre foi um 
problema social e institucional. Essa tarefa estava, antes, restrita à família ou a alguma 
pessoa que, por alguma razão, assumisse esse papel, bem como às instituições pú-
blicas (hospitais, asilos, escolas especiais etc.), especialmente dedicadas ao pro-
blema. Agora, espera-se que as escolas fundamentais incluam crianças que apresen-
tem limitações. 
Refletir sobre os fundamentos da educação inclusiva significa analisar o que 
está na base, apóia, e – mesmo que não tenhamos consciência, que não tenhamos 
obrigação de trabalhar em sala de aula –, está presente e de alguma forma regula 
nosso trabalho. É fundamental refletir sobre isso, procurar saber e tomar uma posição 
sobre o que pode estar definindo as características de nosso trabalho. 
Como base de nossa reflexão queria colocar a premissa de que há, pelo me-
nos, dois modos de organizarmos nossa vida e nosso trabalho na escola: pela classe 
ou pelo gênero. Um modo não exclui o outro: coordenam-se, ora como meio, ora como 
fim. O que define a exclusão é como os articulamos e como negamos um ou outro. 
Na Educação Inclusiva, propõe-se uma forma de articulação entre eles diferente da-
quela à qual estamos acostumados. 
Há, agora, dispositivos legais favoráveis à inclusão, ou seja, aos relacionamen-
tos pela lógica do gênero e não mais preferencialmente pela lógica da classe; relaci-
onamentos em um contexto de integração, de presença de uma coisa em relação à 
outra. Gostaria de analisar os aspectos positivos da inclusão; mas, também, seu lado 
perverso e negativo que já pode ser observado. Talvez seja útil começar analisando 
os aspectos positivos da classe, da forma de organizar a vida por classes. Gostaria 
de lembrar, também, os aspectos negativos que todos nós chegamos a sofrer na pró-
pria pele ou, então, na pele de nossos filhos, de nossos pais, de nossos amigos, ou 
de quem quer que tenha alguém próximo e excluído na sociedade. 
O que é organizar o conhecimento, a vida, pela lógica da classe? Por que isso 
é positivo e, também, perverso ou negativo? Lembraria, primeiro, a ironia que pode 
 
23 
 
estar contida na expressão Educação Inclusiva. Se considerarmos como excluídos, 
além dos portadores de alguma deficiência, também os pobres, analfabetos, famintos, 
os que não têm onde morar, os doentes sem atendimento, então, a maioria de nossa 
população estaria na categoria dos excluídos. 
A minoria “normal” seria de vinte ou trinta por cento. Então, se os excluídos são 
a maioria, a Educação Inclusiva é uma proposta tardia de colocar essa maioria junto 
aos que têm acesso às boas condições de aprendizagem e de ensino na escola e que 
podem receber uma educação em sua versão ordinária, comum, ou seja, não-especial 
ou excepcional. 
10 LÓGICA DA EXCLUSÃO 
A lógica da exclusão apoia-se na lógica das classes. Classificar é uma forma 
de conhecimento, que nos possibilita definir a extensão dos termos que, por possuí-
rem um critério comum, são equivalentes entre si, quanto a esse critério. Ou seja, 
classificar é uma forma de conhecimento pela qual reunimos, abstraindo as semelhan-
ças, todos os termos que satisfazem a um critério comum, tornando-os, por isso, equi-
valentes entre si com relação a esse critério. 
Todos nós classificamos, necessitamos classificar para conhecer as coisas. 
Classificar é, portanto, uma forma de organização ou de raciocínio que coloca os 
iguais, os que respondem ao mesmo critério, em um mesmo lugar, em uma mesma 
caixa. Iguais, significa, aqui, que os elementos – por terem sido reunidos e por se 
enquadrarem no mesmo critério, não guardam diferenças e por isso são equivalentes 
entre si, isto é, substituem-se uns aos outros. 
“Caixa” é uma metáfora da pertinência, pois os objetos, distantes ou inexisten-
tes, podem estar dentro de uma caixa (a criança “normal”, que ainda não nasceu, já 
pertence à caixa dos normais). Fora da “caixa” ficam os que não se ajustam ao critério. 
Classificar, portanto, é reunir pessoas, objetos, que tenham uma propriedade comum 
e, por terem uma propriedade comum, são substituíveis uns pelos outros. 
É o caso dos alunos em uma sala de aula. Do ponto de vista da definição, em 
termos de série ou ciclo escolar, todos são substituíveis entre si, pois obedecem ao 
mesmo critério. Esse é o poder da lógica da classe: abstrair diferenças. 
 
24 
 
Hoje, critica-se o lado negativo de se pensar ou organizar o conhecimento pela 
classe. É importante, porém, aprendermos a analisar os dois lados de cada coisa. O 
“bem” e o “mal” que lhe atribuímos. Como desfrutar o bem e conviver com os impasses 
do mal, considerando que nem sempre eles podem ser dissociados? 
A ideia de classe como possibilidade de reunir pessoas que, sob um certo cri-
tério, sob uma certa condição, se substituem, ou seja, se equivalem, é uma ideia muito 
poderosa na prática. Poderosa, porém, na condição de que, para reunir, seja neces-
sário excluir, deixar fora todos os que não caibam no critério. Esses formarão, agora, 
o grupo dos sem-critério, sem-categoria, o grupo dos excluídos. 
No que diz respeito aos excepcionais, aos portadores de deficiência auditiva, 
física, visual, foi esse o raciocínio reinante na nossa educação até há bem pouco 
tempo. Eles estavam, de certa forma, excluídos da escolaridade normal porque não 
entravam na categoria privilegiada e formavam uma outra classe de pessoas, uma 
outra classe de alunos. 
Em alguns casos, uma classe que dispunha de alguns recursos, de bom aten-
dimento; mas, infelizmente, em muitos casos, um depósito de pessoas que, a partir 
de um certo momento, não se conseguia saber o que era pior nelas, se era a sua 
cegueira ou tudo aquilo que, podendo ser normal, tinha sido destruído, prejudicado – 
em nome de uma dificuldade nossa em ver o cego além da sua cegueira – ver aquilo 
que um cego compartilha com os videntes e que, muitas vezes, são todas as outras 
funções. 
Então, na verdade, muitas vezes, a nossa cegueira – se euposso usar essa 
metáfora – é maior do que a cegueira do cego, nossa surdez maior do que a do surdo, 
nossa limitação maior do que a do mutilado ou do excepcional. 
O problema da classe, em outras palavras, é reunir os que entram por um cri-
tério comum e excluir aqueles que estão fora do critério. Se, do ponto de vista cogni-
tivo, do ponto de vista teórico, do ponto de vista de conhecimento, isso é muito sim-
pático, é muito potente; do ponto de vista social, do ponto de vista político, do ponto 
de vista educacional, cria, na prática, situações indesejáveis e muitas vezes insupor-
táveis. 
 
25 
 
Dizer que a exclusão se apóia na lógica da classe não significa que classificar 
seja algo errado. Classificar é necessário e, por isso, bom. Todos necessitamos clas-
sificar: a classificação é uma fonte de conhecimento. Pela classificação, pode-se se-
parar, por exemplo, as frutas maduras das que ainda estão verdes, pode-se formar 
agrupamentos segundo um certo critério. Sem a classificação, é difícil aprender ou 
conhecer. 
O problema, então, não reside em agrupar as coisas por classe, o problema 
reside no uso político, nas visões educacionais decorrentes de um raciocínio de 
classe, que cria preconceitos, separa, aliena. 
Como, durante séculos, a organização familiar e escolar foi determinada pela 
classe, o desafio de uma educação inclusiva consiste em romper com o preconceito, 
ao conviver com pessoas que, em nossa fantasia, não são como nós, não têm nossas 
propriedades ou características. 
Essa atitude permanece até que um acidente, uma morte, uma doença em fa-
mília nos lembre que essa é uma circunstância de todos nós, em algum momento de 
nossa vida. Alguns têm essa circunstância permanentemente; para outros, ela se 
torna permanente e, para outros ainda, ela é momentânea, ou seja, vem e vai. 
Se fui claro até agora, o problema da classe consiste em estruturar as coisas 
numa relação de dependência, ou seja, depende-se do critério para estar dentro ou 
fora. É o critério, como forma, quem autoriza a exclusão ou a inclusão na classe, ou 
seja, o critério é o referente; portanto depende-se de atender, ou não, ao critério para 
pertencer, ou não, a uma classe. 
Além disso, quem está fora do critério, ou seja, excluído em relação ao critério, 
não é nada. Em outras palavras, na lógica da exclusão, os que estão fora do critério 
compõem algo indefinido, por isso são frequentemente designados pelo termo “sem”: 
sem-terra, sem-teto, sem-projeto. 
Na lógica da classe, a exclusão dos termos que não possuem o critério que 
define a classe é obtida pelo raciocínio do “sim” e do “não”. O “sim” afirma a pertinên-
cia, isto é, autoriza a inclusão. O “não” nega a pertinência, autoriza a exclusão. 
Crianças (ou pessoas em geral) que não se encaixem em certos critérios estão 
fora e, portanto, entregues à própria sorte. Ou seja, a exclusão é o destino dos que 
não pertencem, por não satisfazerem os critérios, a uma certa classe. 
 
26 
 
11 LÓGICA DA INCLUSÃO 
Define-se a inclusão pela lógica da relação, por intermédio da qual um termo é 
definido em função de outro. A lógica da exclusão, como vimos, é definida pela exten-
são dos termos que possuem algo em comum, ou seja, atendem a um critério ou 
referente (exterior). A lógica da inclusão é definida pela compreensão, ou seja, por 
algo interno a um conjunto e que lhe dá um sentido. 
Há um discurso simpático, politizado e bem-intencionado, favorável à relação. 
Em tese, somos todos favoráveis ao raciocínio da relação; mas, gostaria de analisar 
os riscos de uma relação perversa que, nesse sentido, pode repetir o que já conhece-
mos sob o nome de classe ou exclusão. O que é relação? 
Relação é uma forma de interação, de organizar o conhecimento, ou de pensar 
o que quer que seja, na perspectiva de outro. Do ponto de vista da classe, por exem-
plo, se uma mulher for casada com um alcoólatra, se o referente for beber, e se ela 
não beber, então, ao contrário de seu marido, ela é considerada não-alcoólatra, ou 
seja, está excluída da classe das pessoas que bebem. 
Em outras palavras, seu marido pertence à classe das pessoas alcoólatras e 
ela não; ele é dependente do álcool, ela não. Do ponto de vista da relação, dá-se o 
inverso. Se uma pessoa for casada com um alcoólatra, então, todas as pessoas que 
pertencem à sua família, também estão compreendidas por essa relação, ou seja, são 
mulher ou filho de um “alcoólatra”. 
Em outras palavras, pode ser que uma pessoa que pertença à família de um 
alcoólatra não beba uma gota de álcool, mas o fato de pertencer à mesma família, em 
termos relacionais, implica que ela, também, sofra as consequências do alcoolismo, 
pois é também parte de um mesmo todo. 
Sei que a análise do tema inclusão/exclusão pode causar um certo embaraço, 
pois, em certos conteúdos, a exclusão é ruim, mas, em outros, proporciona a ilusão 
de liberdade. Pela lógica da classe, se um marido for impotente e sua mulher, não, a 
dificuldade dele não a atingirá, pois ela é potente. 
Do ponto de vista da relação, a impotência será algo comum ao marido e à 
mulher, ainda que os dois possam ocupar, quanto ao problema, diferentes posições. 
 
27 
 
Sei que isso pode parecer desagradável e difícil de suportar, mas esse é um dos prin-
cípios da lógica da inclusão. 
O objetivo desse texto é analisar o fundamento dessa lógica. Ou seja, não dá 
para ser contra a exclusão, em certos domínios, e, em outros, ser a favor, por se sentir 
menos mal, menos afetado. Por exemplo, pode ser que quem use droga seja o filho 
ou o irmão. 
Do ponto de vista da classe, é verdade; do ponto de vista da relação, é falso. 
Se o filho ou irmão é um drogado os outros integrantes da família também estão en-
volvidos no problema. Assumir isso é, muitas vezes, a condição para um trabalho de 
recuperação do doente. 
O que está sendo analisado aqui, em termos da relação entre o alcoólatra e 
sua mulher, pode ser pensado, igualmente, quanto à relação professor/aluno. Se uma 
criança tem dificuldades de aprendizagem ou de convivência em sala de aula, se suas 
limitações causam “problemas” quanto aos hábitos pedagógicos do professor (estra-
tégias de ensino, organização do espaço e tempo didáticos, expectativas, etc.), pela 
lógica da classe, a dificuldade é do aluno e não necessariamente do professor. 
Na lógica da relação o “problema” é de todos, o que desafia o professor a refletir 
sobre a insuficiência de seus recursos pedagógicos, nesse novo contexto, a rever 
suas formas de se relacionar com os alunos, a estudar temas que pensava nunca ter 
que estudar. Tudo isso altera muito a situação tradicional da escola, por mais que ela 
seja, também, julgada insatisfatória. 
Classificar, como mencionado, é reunir coisas que tenham um critério comum 
e, portanto, sejam substituíveis entre si. Relacionar é reunir coisas que façam parte 
uma da outra, e que, nesse sentido, não valham por si mesmas, pois é a relação com 
o outro, e vice-versa, que as define. 
Consideremos, por exemplo, duas canetas, uma medindo 10 cm e outra, 15 
cm. O fato de que, pela classe, ambas sejam canetas não anula o fato de que, pela 
relação, uma seja maior (ou menor) do que a outra. Portanto, na relação, quem nos 
define são também os outros com quem nos relacionamos, pois somos definidos por 
esse jogo de posições que nos situa uns e em relação a outros, de diversos modos. 
Para analisar o problema da inclusão, penso ser útil usar exemplos, considera-
dos ora na perspectiva da classe, ora na perspectiva da relação, e, algumas vezes, 
 
28 
 
usar exemplos “fortes” para tomarmos consciência do preço do estarmos juntos, isto 
é, para refletirmos sobre uma certa idealizaçãode que incluir sempre seja bom e tran-
quilo. 
Numa reunião de pais, podemos estar juntos com um alcoólatra, ladrão ou pros-
tituta. Na relação “o meu e o seu filho são alunos dessa escola”, todos estamos com-
preendidos no mesmo contínuo. Suportamos isso? Suportamos, por exemplo, sen-
tarmo-nos ao lado de uma prostituta e vê-la, nesse momento, apenas como a mãe de 
uma criança que, eventualmente, está tendo dificuldades? Porque os incluídos não 
são os deficientes mentais, os incluídos somos nós, e a inclusão não vale só para 
essas pessoas; vale para todos nós porque, caso contrário, estaremos novamente 
raciocinando pela classe, não pela relação. 
12 A RELAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES 
Relacionar é definir algo em relação ao outro, pela sua posição ou lugar, por 
aquilo que está entre os dois, não nele ou no outro. Para insistir no exemplo, pela 
lógica da classe, o alcoolismo está no marido, não na esposa. Pela lógica da relação, 
o alcoolismo é um problema deles e é por isso que viver com ele, alcoólatra, significa 
conviver com aquilo que nos relaciona. 
Caso contrário, raciocinamos novamente pela classe, como se a educação in-
clusiva significasse colocar os cegos e mutilados dentro da classe e nós continuarmos 
normais. Não é isto, isto é mentira, ilusão, perversidade, arrogância. Incluir significa 
abrir-se para o que o outro é e para o que eu sou ou não sou em relação ao outro. 
Por isso, a educação inclusiva supõe, sobretudo, uma mudança em nós, em 
nosso trabalho, das estratégias que utilizamos, dos objetos e do modo como organi-
zamos o espaço e o tempo na sala de aula. 
Temos que rever as estratégias para ensinar matemática e língua portuguesa. 
Temos que rever a grade curricular, os critérios de promoção ou de avaliação. 
Temos que rever nossa posição ou lugar frente a esses outros, outrora excluí-
dos, que agora fazem parte do todo ao qual pertencemos. 
Incluir significa aprender, reorganizar grupos, classes; significa promover a in-
teração entre crianças de um outro modo. 
 
29 
 
Na lógica da exclusão ou da classe, o referente é externo (isto é, independente 
dos objetos que são por ele classificados), único (mesmo podendo integrar várias qua-
lidades ao mesmo tempo) e sucessivo (podemos classificar um objeto de infinitas for-
mas, mas em “tempos” ou “espaços” diferentes). 
Na lógica da inclusão ou da relação, o referente (que compreende ou dá sentido 
a ela) é interno (é o que faz a mediação entre um termo e um outro e, nesse sentido, 
está entre eles) e, por isso, é múltiplo e simultâneo (podemos nos relacionar no 
mesmo espaço e tempo de muitas e muitas formas). 
13 DA INTERDEPENDÊNCIA 
Se, na classe, a estrutura é de dependência ou de independência, numa rela-
ção que se queira verdadeira, a propriedade é de interdependência[3]. Já discuti a 
dependência e a independência, no raciocínio sobre a classe. Penso que, agora, seja 
interessante analisar a interdependência, que caracteriza o raciocínio da relação. 
Uma relação estrutura-se pela propriedade da interdependência, cujas carac-
terísticas são: ser indissociável, complementar e irredutível. 
Ser indissociável significa que, na relação, não existe a não-dualidade, não 
existe o separado ou separável. É por isso que, conforme já comentei, enquanto, na 
classe, uma pessoa pode ser alcoólatra e a outra, normal, na relação, predomina o 
princípio da indissociabilidade, ou seja, o que vale para um vale para outra, mesmo 
que ocupem posições diferentes, nesse mesmo contínuo relacional. 
Então, a indissociabilidade é o princípio pelo qual compartilhamos um mesmo 
todo, ainda que eventualmente em posições diferentes. Ou seja, pertencemos todos 
a um mesmo contínuo, mesmo quando negamos esse contínuo, mesmo querendo sair 
fora dele, mesmo tendo medo dele. 
Na classe, isso não ocorre porque, o que decide a presença ou não é o critério 
que junta ou separa os termos em função de sua equivalência, ou possibilidade de 
substituição. Na relação, nos limites do sistema que está sendo considerado (família, 
escola, etc.) estamos sempre dentro, compondo as partes que definem o sistema 
como um todo. 
 
30 
 
A complementaridade é o princípio pelo qual, num todo, a parte que falta para 
a outra parte virar todo é complementar. Por exemplo, do ponto de vista pessoal, o 
homem, enquanto gênero, não depende da mulher. O homem pode viver a sua vida 
inteira independente da mulher, do ponto de vista pessoal. 
Do ponto de vista biológico, o homem é complementar à mulher, enquanto es-
pécie. Porque há uma parte do homem que ele só encontra na mulher. 
Do ponto de vista da espécie, portanto, do ponto de vista biológico, há uma 
parte da mulher que só os homens têm. 
Por isso, do ponto de vista biológico, a relação homem-mulher é uma relação 
complementar. 
Recorrendo a outro exemplo biológico: nosso sistema respiratório é composto 
por uma parte, o ar, que nosso aparelho respiratório não produz. O ar complementa o 
que nos falta para respirar. Complementaridade significa que há uma parte que nos 
completa e que está fora de nós. 
É isso que quer dizer interação e assimilação, na teoria de Piaget. O que quer 
dizer assimilação? Por que somos fadados à interação? Interação quer dizer relação. 
Porque o nosso sistema respiratório precisa do ar e nós não fabricamos o ar. Por isso, 
assimilar significa poder incorporar do outro aquela parte sem a qual eu não sou, eu 
não me completo. 
Tomemos, agora, um outro exemplo, no âmbito social. Um texto, enquanto 
texto, não depende de sua leitura. Se tiver as propriedades, a estrutura, a forma etc., 
de um texto, é um texto. Mas, do ponto de vista funcional, um texto que não continue 
sendo lido deixa de ser um texto. 
Porque um texto que tenha sido construído como texto e que ninguém leia não 
é um texto. Por isso, leitura e escrita são atos sociais complementares: a leitura é 
aquilo que complementa a escrita enquanto ato social de comunicação e vice-versa, 
ou seja, o princípio da complementaridade baseia-se na ideia de que uma parte do 
todo, que não esteja em um lado, há de estar no outro. 
Para se afirmar, por exemplo, que uma caneta B é maior que uma caneta C, é 
necessário considerá-la como referência. Só que, ao mesmo tempo, a caneta B, pode 
ser maior que uma caneta A, pois, nessa outra referência, ela tem mais comprimento. 
Qual é a relação disso com complementaridade? Complementar é o que falta para 
 
31 
 
algo se completar. Para se dizer que uma coisa é maior ou menor que outra, a outra 
é que lhe falta para se definir sua condição de maior ou menor. 
O interessante, do ponto de vista teórico, e talvez injusto do ponto de vista prá-
tico, é que, às vezes, usamos as pessoas portadoras de deficiência, como referência 
para afirmarmos que somos normais, que não temos o que elas têm. Ou seja, usamos 
o critério da classe, pois deficiência, por definição, indica a pessoa, segundo o critério 
“eficiência”. Se usássemos o critério da relação, isso nos desafiaria para outras formas 
de compreensão. 
A proposta de inclusão, pela qual tenho a maior simpatia, apesar de todos os 
desafios que nos coloca, é considerar a relação entre as pessoas de forma interde-
pendente, ou seja, indissociável, irredutível e complementar. 
 Como, de um ponto de vista relacional, nos comportarmos de modo in-
dissociável com uma criança deficiente, por exemplo? 
 Como não a reduzir aos nossos medos, dificuldades ou preconceitos? 
 Como não a reduzir ao que gostaríamos que fosse, aos nossos anseios 
ou expectativas? 
 Como reconhecê-la por aquilo que é ou pode ser, nos limites que a de-
finem, como, aliás, definem qualquer um de nós? 
 Como pensá-la como partede nós, que nos desafia naquilo que sempre 
recusamos ou negamos em nós e, graças a isso, aprender com ela e, 
quem sabe, nos aperfeiçoarmos, graças a ela? 
 
Outro aspecto da relação é o da irredutibilidade. Numa relação, nada é redutível 
porque tudo depende da relação, que se estabelece entre uma coisa e outra. Por 
exemplo, simultaneamente, se em uma relação algo é menor, em outra pode ser maior 
e em outra ainda pode ser igual. Por isso, na relação, o princípio é o da irredutibilidade, 
pois um objeto não se reduz ao nosso referente, ele admite múltiplos referentes, ou 
seja, pode ser compreendido de muitas formas. 
Na lógica da classe, ao contrário, somos redutíveis, redutíveis ao critério que 
nos define. Na lógica da relação, somos irredutíveis no sentido de que não somos 
reduzidos a uma coisa ou outra porque quem nos define é a relação. 
 
32 
 
14 DA CO-DEPENDÊNCIA 
Eu queria, agora, voltar ao caso do alcoólatra ou de pais que tenham filhos 
“deficientes” ou de professores que trabalhem com crianças com dificuldades para 
fazer ou aprender algo. Trata-se da questão de analisar a interdependência em rela-
ção à co-depedência e refletirmos sobre suas semelhanças e diferenças. O objetivo, 
contudo, é propor uma revisão, dentro de nós, da co-dependência, para que ela possa, 
pouco a pouco dar lugar ou ser transformada em interdependência. 
Co-dependência é um termo criado na sociologia (Giddens, 1992/1993) para 
analisar as relações, por exemplo, entre uma esposa e seu marido alcoólatra, uma 
mãe e seu filho deficiente, uma mulher e seu marido dependente. Co-dependência é 
um princípio que, na aparência, é de interdependência, de relação, complementari-
dade, indissociabilidade, mas, na prática, é uma complementaridade, muitas vezes 
doentia. 
Pensemos na figura clássica de uma mulher e seu marido alcoólatra ou de uma 
mãe e seu filho excepcional. A co-dependência implica a ideia de que o marido alcoó-
latra ou o filho deficiente dependam dos cuidados da esposa ou mãe. Isso é verdade. 
Pela lógica da classe, como vimos, essa mulher pode-se pensar saudável (não-alcoó-
latra) e “normal” (não-deficiente). Além disso, ela pode estar trabalhando, ganhando 
dinheiro, cuidando da casa, levando seu marido ao hospital, etc., ao contrário deles 
(do alcoólatra ou do deficiente) que, em nosso exemplo, não têm autonomia para isso. 
A co-dependência refere-se a um tipo de relação na qual o que cuida torna-se 
dependente do que é cuidado, fazendo com que esse não possa sair dessa posição 
(por exemplo, deixar de ser alcoólatra ou, mesmo sendo deficiente, ganhar autono-
mia). Ou seja, a doença do marido ou a limitação física ou neurológica do filho trans-
formam-se na “doença” ou “limitação” de quem cuida deles. 
Vamos imaginar um alcoólatra que, por alguma razão, deixe de beber, volte a 
trabalhar, reivindicando uma nova ou a antiga posição na casa, assumindo responsa-
bilidades etc. As relações, então, modificam-se, tornam-se outras. O mesmo vale para 
uma criança ou pessoa deficiente, que ganhe autonomia, ou seja, liberte-se de uma 
certa dependência, porque mudou de hábitos, desenvolveu habilidades que lhe pos-
sibilitam realizar, a seu modo, coisas antes impossíveis para ela. 
 
33 
 
Essas conquistas implicam uma alteração na conduta das pessoas que, antes, 
eram responsáveis por isso. Quantas pessoas suportarão essa mudança de relação, 
aceitarão mudanças de posição ou “prestígio”, por mais sofrido, choroso, por mais 
que, por exemplo, uma mulher tenha apanhado e passado noites em claro? Se, por 
um “milagre”, seu marido deixar de beber, ela suportará com alegria e com facilidade 
perder o seu posto de salvadora? Muitas vezes não. 
O objetivo de nossa reflexão não é julgar ninguém. É apenas lembrar as trapa-
ças em que podemos nos envolver, mesmo ou principalmente quando há um pressu-
posto relacional. Às vezes, é muito difícil perder um lugar duramente conquistado, 
mesmo se conquistado em um contexto de sofrimento, luto, tristeza ou dor. Habitu-
amo-nos a uma certa posição, a uma certa função, isto é, transformamo-nos, pouco a 
pouco nessa própria função. 
A co-depedência é uma análise interessante para aqueles que devem confiar 
seus filhos com problemas de deficiência para uma nova escola ou novos professores. 
Para aqueles, portanto, que vão perder um pouco suas funções. Eles podem reagir, 
sentindo-se perdendo coisas, tendo medo etc. 
É uma pena que pensemos assim, pois uma criança que ganha autonomia li-
bera sua mãe para outros projetos ou realizações. Além de aprender a compartilhar 
com essa “nova” pessoa (o alcoólatra ou deficiente, na medida que modificam seu 
modo de ser) funções de responsabilidade, implica um jogo de ganhos e perdas, nem 
sempre fácil de ser regulado. 
No caso da mulher do alcoólatra, ela vai ter que respeitar um certo direito seu, 
por exemplo, junto aos filhos. Ela vai ter que suportar que ele traga também dinheiro 
para a casa, que tome decisões, que discorde. Ela vai ter que dividir papéis que, ou-
trora, por razões muito compreensíveis, eram gerenciados exclusivamente por ela, ou 
seja, muitas vezes a recuperação do marido significa um outro tipo de sofrimento, o 
sofrimento de perder a importância que tinha, mesmo que isso, na teoria, não seja 
formulado. 
O mesmo vale para uma criança excepcional, que depende das pessoas que 
cuidam dela, às vezes, vinte e quatro horas por dia. Se essa criança entra em uma 
escola e aprende, pouco a pouco, a ser responsável por si própria; se, por uma edu-
cação inclusiva, que todos nós desejamos; se, por uma educação qualquer que seja, 
 
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que todos desejamos bem-sucedida, essa criança adquirir recursos próprios para cui-
dar de si, por exemplo, se essa criança passar a ter responsabilidades por si mesma, 
se ela dispensar aquele cuidado sofrido, choroso, difícil da sua mãe porque agora ela 
pode ser ela mesma, essa mãe cederá o seu lugar com alegria? Ou usará argumentos 
para manter uma situação que agora já não tem mais sentido? 
O difícil, quando nos relacionamos com uma pessoa deficiente, é a deficiência 
em nós, não nela. É claro que ela é deficiente e a deficiência dela está assumida na 
sua pele e no seu rosto, na sua cabeça. É claro que o deficiente é ele, mas é esse 
tipo de deficiência, na relação, que quero sublinhar aqui. 
Porque, para mim, o pior numa deficiência é isso: é o gozo de uma superiori-
dade sobre alguém, por alguma razão, que muitas vezes poderá valer para todos nós. 
Todos somos deficientes em alguma coisa, só que a gente não sabe: é a nossa arro-
gância que não nos permite dizer. Não estou querendo afirmar que todas as pessoas 
são iguais. As diferenças são legítimas, as diferenças são reais e há perdas que são 
reais e as pessoas precisam aprender a compensá-las. Esse é o outro aspecto bonito 
da relação. 
Quando pensamos em termos de classe, o problema é de afirmação ou nega-
ção. É tudo (o termo atende ao critério) ou nada (não atende). Na relação, temos um 
jogo de compensações, de lugares ou posições relativas, em que os termos se ex-
pressam de muitas formas. Isso também é uma questão de afirmação e negação; 
mas, funciona ou opera de outro modo. 
A co-dependência pode ser a face perversa da interdependência. Implica a 
ideia de que, se o filho se torna mais livre e autônomo, já não se sabe mais de quem 
cuidar! Vou usar um outro exemplo para deixar isso, quem sabe, mais claro. Vou usar 
o exemplo da enfermeira e o do professor. 
A enfermeira, em uma visão positiva, é aquela que cuida de doentes, mas que 
não se fixa em um doente particular, ou seja, em alguém que, em consequência, não 
poderia sarar, pois caso contrário ela ficaria sem função. A enfermeira,em uma visão 
de interdependência, cuida para que seus pacientes sarem logo, pois há muitos outros 
esperando e que precisam do lugar. 
O mesmo vale para um professor. Ele não é só para um aluno. Seu propósito 
é que o aluno aprenda para que outros possam ocupar seu lugar. Esse é o desafio de 
 
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uma relação construtiva. Ensinar ou cuidar é “perder” por ter ensinado ou cuidado, 
aquele a quem ensinamos ou a quem cuidamos. É deixá-lo partir ou alterar a posição 
relacional conosco, pois já não precisa mais de nós. 
Em verdade, não se trata de “perder”, mas ganhar. Um filho que ganha autono-
mia desenvolve recursos próprios, abre-se para um mundo maior, amplia seu espaço 
relacional, o mesmo ocorrendo com sua mãe, que sempre “vai junto”, ainda que em 
outro lugar ou de outra forma. 
Um professor que ensina um aluno, ganha tudo aquilo que o conhecimento traz 
como abertura ou inclusão de novas possibilidades. Na co-dependência, isso não 
ocorre. Precisamos que uma determinada pessoa continue dependente de nós, pois 
nos definimos por essa relação. 
A co-dependência refere-se a uma enfermeira ou um professor que cuidam de 
um único “doente” ou “aluno”. O doente não pode melhorar para que ela não se sinta 
ameaçada em sua função ou lugar. “Se o doente sarar eu não sou mais enfermeira 
porque quem me define é este doente concreto, particular”. “Eu sou professora desse 
aluno, ele vai ficar velho e vou continuar dando aulas para ele, explicando as mesmas 
coisas, pegando em sua mão e ensinando-o a escrever. O aluno, nesse sentido, nunca 
pode aprender. Como é que eu fico, se ele aprender? Fico sem lugar, sem definição. 
Essas considerações são importantes, quando analisamos a questão da Edu-
cação Inclusiva. Se aceitamos crianças “deficientes” (não importa o grau), em uma 
escola para todas as crianças, e se elas forem tratadas de um modo excludente ou 
co-dependente, não terão um tratamento comparável aos outros, teremos a exclusão 
da inclusão, teremos uma farsa de inclusão. 
Olhar com pena para um “deficiente” pode significar uma relação de co-depen-
dência, principalmente se estiver associada a uma ideia de superioridade: ele tem 
problemas ou limitações que eu não tenho (como se não tivéssemos alguma). Ou seja, 
pode significar a pretensão de que somos melhores do que ele e, em um contexto de 
relação, o melhor (no sentido de uma diferença para mais ou para menos) é sempre 
relativo e transitório. 
Além disso, a pena pode implicar uma ajuda na perspectiva de co-dependência. 
Como ajudar pessoas que sofrem limitações ou que necessitam de algo especial para 
realizar uma tarefa na perspectiva da interdependência? Não se trata de dizer que os 
 
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“deficientes” não tem limitações reais, ou seja, que não possuem um problema con-
creto, seja no plano físico, sensorial, mental etc. 
A questão é como nos relacionamos com essas limitações. Nesse sentido, ao 
invés de ter dó de um cego, poderíamos ter respeito e admiração por uma pessoa 
que, tendo essa limitação, sobrevive num mundo que é visual. Por isso, nosso desa-
fio, enquanto professores ou educadores, é pesquisar o que ele pode fazer, o que, 
apesar de sua restrição, ele tem condições de melhorar, o que, de resto, vale para 
qualquer um de nós. Como vê-lo não por aquilo que, eventualmente, temos a mais do 
que ele, mas por aquilo que ele, sendo o que é, pode ser melhor? 
15 AUTONOMIA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA 
Há uma visão de autonomia que pode ser assim definida: ser autônomo é fazer 
o que quer, do jeito que quer, na hora em que quer. Ser autônomo é ser livre dos 
outros. Não concordo com essa noção de autonomia: nem o pior dos ditadores faz o 
que quer, do jeito que quer, na hora em que quer. Ele pensa que faz. Para mim, o 
conceito construtivo de autonomia é: ser autônomo é ser parte e todo, ao mesmo 
tempo. Esta é a ideia de educação inclusiva, ou seja, ser parte e todo ao mesmo 
tempo. 
Enquanto todo, sou eu, com minhas singularidades, características, tamanho, 
cheiro, com meus olhos ou sem meus olhos, com minha inteligência desenvolvida ou 
não, com minhas pernas ou sem as minhas pernas. Sou eu naquilo que eu sou, na 
minha identidade, enquanto todo. Ao mesmo tempo, eu sou sempre parte. Autonomia 
nesse sentido é ser responsável, como parte e como todo, numa relação. 
Tomemos o jogo, como exemplo. Em um jogo de damas, xadrez ou cartas, 
autonomia significa que, em cada jogada e ao longo de toda a partida, somos respon-
sáveis por nossas ações e sofremos as consequências do modo como as realizamos. 
Nesse sentido, trata-se de um todo (um jogador ou time) contra um outro todo (o ad-
versário ou o time contrário), cada qual com suas responsabilidades. 
Ao mesmo tempo, somos parte porque dependemos do outro para continuar 
jogando. Além disso, dependemos das regras, do tabuleiro, das peças, do tempo. De-
pendência não em um sentido negativo, mas, no sentido de que, em uma relação, 
 
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somos irredutíveis, temos algo singular, próprio e, ao mesmo tempo, somos comple-
mentares, formamos partes, indissociáveis, no sistema que as constituem. 
O que teremos de aprender com os professores das APAES? Como vamos 
convocar pais e mães de crianças deficientes e aprender com eles a lidar com essas 
crianças? Qual vai ser a nossa disponibilidade de repensarmos o ritmo, a rotina, os 
objetos, o mobiliário, os recursos materiais? Como vamos repensar o espaço na sala 
de aula? 
Como vamos suportar, nós professores, o fato de que a educação inclusiva veio 
tornar mais complexa a nossa vida, mais desafiadora a nossa tarefa de professores. 
Vamos precisar estudar o que antes estávamos dispensados de estudar, vamos ter 
que aprender técnicas nas quais antes não precisávamos pensar, vamos ter que 
aprender a ver mais devagar quando estávamos acostumados a ver numa certa velo-
cidade, vamos ter que aprender a ouvir sem audição, a acompanhar num ritmo mais 
rápido quando estávamos acostumados a um ritmo mais lento. 
Vamos ter que rever as nossas expectativas de professores, rever as nossas 
formas de avaliar, de aprovar, de reprovar. Vamos ter que melhorar a nossa condição 
de trabalho. 
É importante enfatizar esse ponto porque muitas pessoas veem essas inclu-
sões como piora, como mais uma dificuldade no caminho dos professores, como mais 
uma pressão. O salário é pouco, as condições de trabalho são ruins, o tempo é pouco 
e, agora, há mais essa exigência de incluir crianças com dificuldades, deficientes. 
É isso que afirmam muitas pessoas que têm coragem de dizer o que pensam, 
que não têm vergonha de falar do incômodo, por mais justo que possa ser, que é 
receber crianças que se diferenciam muito da “média da classe”. É importante assu-
mirmos o preconceito, a nossa dificuldade, o nosso medo, a nossa impotência porque 
só assim vamos poder, pouco a pouco, assumir de fato, uma formação que promova 
a educação inclusiva. 
16 COMO AGIR NA CO-DEPENDÊNCIA? 
A ideia da co-dependência foi desenvolvida em relação a alcoólatras. Sabemos 
que a droga é um problema muito difícil no mundo todo, e que o índice de recuperação 
 
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de drogados é de apenas 30%, aí incluídos pobres, ricos, remediados, pessoas que 
se internam em hospital particular, público. 
No caso da Associação dos Alcoólatras Anônimos, um recurso que tem ajudado 
muito na problemática da co-dependência é, por exemplo, filhos, irmãos, pais, espo-
sas de alcoólatras se associarem e, numa reunião, discutirem sua dependência. Eles 
não são alcoólatras, são filhos, são pais, são mulheres. 
No caso da escola é fundamental que professores, que trabalhem com educa-
ção inclusiva e que queiram ser sérios e responsáveis, se reúnam e discutam as suas 
dificuldades

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