Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Material Teórico Direito Penal Militar – Parte Especial Crimes contra a Segurança Externa do País Prof. Ms. Cícero Robson Coimbra Neves cod PMilEspCDS1901_a01 2 Crimes contra a Segurança Externa do País Antes de ingressar nos crimes militares em espécie, resgate-se que, com a Lei nº 13.491/17, os crimes militares não estão limitados mais aos tipos penais incriminadores previstos no Código Penal Militar, mas também alcançam tipos penais incriminadores previstos na lei penal comum (Código Penal comum, abuso de autoridade, crimes ambientais, crimes de licitações etc.). Antes dessa lei, os crimes militares apenas estavam no CPM e podiam ser distribuídos entre 3 incisos do art. 9º: o Inciso I, que condensava os crimes militares existentes apenas no CPM ou nele previstos de forma diversa da legislação penal comum, e que não careciam de complementação típica; o Inciso II, que abarcava os crimes previstos de maneira idêntica na legislação penal comum e no CPM, e que careciam de complementação típica das alíneas “a” a “e”; o Inciso III que abarcava os crimes dos Incisos I e II, quando praticados por inativos ou civis, desde que contra as instituições militares e nos termos de suas alíneas “a” a “d”. Com a Lei n. 13.491/17, o inciso II foi alterado e agora abrange não só os crimes que existem no CPM com igual definição na legislação penal comum, mas também aqueles apenas existentes na legislação penal comum, desde que praticados em uma das hipóteses de suas alíneas, a saber, a prática do fato: • por militar em situação de atividade contra militar na mesma situação (alínea “a” do inciso II), • por militar em situação de atividade contra civil, militar reformado ou da reserva, • em lugar sob administração militar (alínea “b” do inciso II), • por militar em serviço ou atuando em razão da função contra civil, militar reformado ou da reserva (alínea “c” do inciso II), • por militar em período de manobra ou exercício contra civil, militar reformado ou da reserva (alínea “d” do inciso II) ou • por militar em situação de atividade contra a ordem administrativa militar ou contra o patrimônio sob administração militar (alínea “e” do inciso II). O inciso I não foi alterado, continuando com a mesma lógica, e o inciso III foi alterado indiretamente, pois, como assimila os crimes do inciso II, sendo este alterado, a reboque, altera-se o inciso III. Assim, na atualidade, estudar Direito Penal Militar Parte Especial é estudar todos os crimes existentes na legislação brasileira, o que se torna impossível em um curso específico. Por essa razão, presumindo-se que a legislação penal comum é conhecida previamente com as aulas da graduação, o foco do nosso curso será os principais tipos penais incriminadores, em tempo de paz, constantes da Parte Especial do Código Penal Militar. 3 Os crimes contra a segurança externa do País inauguram o Livro I da Parte Especial do Código Penal Militar, que trata dos crimes militares em tempo de paz, aqueles que serão objeto de exploração, posto que não há, felizmente, relevância no estudo dos crimes militares em tempo de guerra (Livro II da Parte Especial), capitulados a partir do art. 355 do CPM. Vejamos, então, alguns desses crimes. Hostilidade Contra País Estrangeiro Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de guerra: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. Resultado mais grave § 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, represália ou retorsão: Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. § 2º Se resulta guerra: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. • Objetividade jurídica: O crime, pela posição topográfica e pela descrição típica, busca tutelar a segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: ao utilizar a palavra “militar”, por força do disposto no art. 22 do CPM, entende-se que a sujeição ativa deve recair sobre militar ainda incorporado, ou seja, na ativa. O sujeito passivo: como a conduta nuclear pode afetar o País, tem-se como sujeito passivo o Estado. 4 • Elementos objetivos: O crime consiste na prática de qualquer ato hostil contra país estrangeiro. Necessário que o ato em questão tenha o potencial de colocar o nosso País em risco de guerra, o que mostra o grau lesivo da hostilidade perpetrada. Não é necessário que ela ocorra, mas é imprescindível que haja o perigo real de sua ocorrência (crime de perigo concreto), tanto que, se houver ruptura de relações diplomáticas, retaliação ou até mesmo a guerra, o legislador considerou tais circunstâncias como qualificadoras. Como se disse, o crime apresenta qualificadoras, de acordo com as consequências do ato de hostilidade (pelo resultado), ou seja, quando resultar rompimento de relações diplomáticas (declaração, geralmente do país hostilizado, mas não necessariamente, no sentido de não mais interagir com o Brasil no cenário internacional), retorsão (resposta em contraposição) ou represália (retaliação) ou se efetivamente conduzir à guerra. • Elemento subjetivo: Só o dolo, mas o dolo dirigido ao ato de hostilidade. Ato de hostilidade: inimizade, agressividade, ser pouco acolhedor, adverso, desfavorável. sustentando alguns que deve ser, em regra, por via armada (Cf. NUCCI, 2013, p. 220) . Guerra: luta armada entre dois ou mais Estados para solução de conflito havido entre eles, que não se tenha podido resolver por outro meio. (Cf. Plácido e Silva, 1996, p. 367). 5 • Consumação: Consuma com a prática do ato pelo autor, desde que demonstradamente capaz de levar o País à guerra, independentemente de esse resultado sobrevir. • Tentativa: Consuma com a prática do ato pelo autor, desde que demonstradamente capaz de levar o País à guerra, independentemente de esse resultado sobrevir (crime de perigo concreto). • Crime propriamente militar • Ação Penal: Exige-se requisição do Ministro da Defesa. Note-se que, pelo disposto no art. 122 do CPM, a requisição deveria ser de Ministério Militar, contudo, com o advento da Lei Complementar n. 97/99, não mais existem os Ministérios Militares, mas o Ministério da Defesa, aos quais se subordinam os Comandos das Forças Armadas. Provocação a País Estrangeiro Art. 137. Provocar o militar, diretamente, país estrangeiro a declarar guerra ou mover hostilidade contra o Brasil ou a intervir em questão que respeite à soberania nacional: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. 6 • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: militar da ativa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: Tipificação semelhante à do delito anterior, mas inverte-se a polaridade. No crime do art. 136, o militar brasileiro praticava hostilidade ao país estrangeiro e, agora, é o país estrangeiro que declara guerra ou pratica hostilidade contra o Brasil, motivado pela provocação do militar brasileiro que, não necessariamente, praticou atos previstos no delito anterior (hostis). Os conceitos de Hostilidade e Guerra que vimos no delito anterior se aplicam aqui também. • Elemento subjetivo: Apenas o dolo. • Consumação: O delito se consuma quando o autor realizar a provocação, materializada por uma conduta, exigindo-se o efetivo dano na segurança externa, pela declaração de guerra ou prática de hostilidade contra o Brasil ou a intervenção do país estrangeiro em questão que respeite à soberania nacional (crime de dano). • Tentativa: Possível. • Crime propriamente militar • Ação Penal: Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). 7 Ato de Jurisdição Indevida Art. 138. Praticar o militar, indevidamente,no território nacional, ato de jurisdição de país estrangeiro, ou favorecer a prática de ato dessa natureza: Pena - reclusão, de cinco a quinze anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País, no aspecto específico de sua soberania. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: militar da ativa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O militar pratica ato indevido de jurisdição de país estrangeiro, ou seja, ato determinado por um juiz estrangeiro em processo que tramite na justiça estrangeira. Poderia ainda o autor não chegar a praticar o ato, mas tão somente favorecer sua prática, o que já caracterizaria o tipo. Esse ato deve ser praticado em território brasileiro. Território brasileiro: todo espaço onde se exerce a soberania do Estado, compreendendo o espaço territorial delimitado pelas fronteiras do país, sem solução de continuidade, inclusive rios, lagos e mares interiores, bem como as ilhas e outras porções de terra separadas do solo principal, o mar territorial e o espaço aéreo. 8 Deve-se somar a previsão do art. 7º do CPM que traz o conceito de território nacional por extensão, na seguinte conformidade: para os efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de propriedade privada (§ 1º); é também aplicável a lei penal militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra as instituições militares. • Elemento subjetivo: Só admite o dolo. • Consumação: Com a prática do ato decorrente da decisão do juiz estrangeiro, ou concorre para sua prática, independentemente de uma efetiva lesão à segurança nacional, ou mesmo da demonstração do risco a ela, presumindo-se, pela inobservância da soberania, o risco indesejado. • Tentativa: Possível. • Crime propriamente militar • Ação Penal Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). Mar territorial: nos termos da Lei 8.617/93, compreende uma faixa de doze milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil. 9 Violação de Território Estrangeiro Art. 139. Violar o militar território estrangeiro, com o fim de praticar ato de jurisdição em nome do Brasil: Pena - reclusão, de dois a seis anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: militar da ativa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O militar entra, sem autorização, em território estrangeiro (terra, mar e ar) para praticar ato decorrente da decisão de um juiz brasileiro, invertendo-se a previsão do tipo anterior. O delito exige o ingresso em território estrangeiro, o que significa dizer que não estará configurado o crime em caso de prática em território internacional (seja terrestre, marítimo ou aéreo). Ademais, a prática do ato é pretensamente em nome do Brasil, o que, naturalmente é apenas uma aparente escusa, pois se houve efetivamente determinação regular para essa prática o militar que violou o território não poderá sofrer consequências penais militares, exceto em caso de excesso. • Elemento subjetivo: Só admite o dolo específico (elemento subjetivo específico do injusto). 10 • Consumação: Consuma-se o crime com a entrada do autor, com a finalidade já expressa, sendo irrelevante para a caracterização do delito se ele conseguiu ou não realizar o ato a que se propôs. • Tentativa: Possível. • Crime propriamente militar • Ação Penal: Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). Entendimento para Empenhar o Brasil à Neutralidade ou à Guerra Art. 140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendimento com país estrangeiro, para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra: Pena - reclusão, de seis a doze anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: militar da ativa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O militar busca, em nome do Brasil, utilizando-se de representatividade que não recebeu e nem lhe foi delegada, entender-se com país estrangeiro para levar a Nação à guerra ou à neutralidade (indiferença em relação à contenda entre nações ou à questão em que se veja obrigada a decidir). 11 Visão interessante versa Guilherme Nucci (2013, p. 222), ao entender que este delito não mais é possível, pois, militares “não negociam paz nem tampouco guerra, em particular, fazendo-o individualmente. Trata-se de atividade pertinente aos órgãos diplomáticos e políticos [...]”. Com todo respeito ao autor, o fato de militares não negociarem a paz na atual conformação do Direito é justamente o que torna o ato de o militar buscar entender-se com o país estrangeiro à margem da legalidade, tornando-se, pois, crime nos termos do artigo em estudo. • Elemento subjetivo: Só admite o dolo específico (hoje, elemento subjetivo específico do injusto). • Consumação: Quando o autor pratica qualquer ato que denote sua tentativa de entender-se com o país estrangeiro com o fim já apontado, independentemente do resultado advindo ou da demonstração de potencial risco à segurança externa do País. • Tentativa: Impossível (crime de atentado). • Crime propriamente militar • Ação Penal: Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). Neutralidade: posição do País de não concordar com partes em conflito ou prestes a nele ingressar. 12 Entendimento para Gerar Conflito ou Divergência com o Brasil Art. 141. Entrar em entendimento com país estrangeiro, ou organização nele existente, para gerar conflito ou divergência de caráter internacional entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes perturbar as relações diplomáticas: Pena - reclusão, de quatro a oito anos. §1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas: Pena - reclusão, de seis a dezoito anos. §2º Se resulta guerra: Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O autor entra em entendimento, acerta-se, combina, fecha questão, tanto podendo ser com país estrangeiro, como com organização (pública ou privada) que nele exista, com o fito de gerar conflito (contestação profunda que implica em adoção de medidas de retaliação ou até mesmo a guerra, quando o crime se qualificará pelo resultado) ou divergência de caráter internacional entre o Brasil e qualquer outro país (discussão de interesses), ou lhes perturbar as relações diplomáticas (atrapalhando a tranquilidade e a estabilidade das duas nações). Pode ser qualificado pelo resultado, quando a conduta (o entendimento) proporciona a efetiva quebra de relações diplomáticas entre as nações e ainda com mais rigor a que proporciona a guerra entre as duas nações. A definição de Guerra, já vimos anteriormente. 13 • Elemento subjetivo: Só admite o dolo específico (hoje, elemento subjetivo específico do injusto). • Consumação: Consuma-se quando o autor entra em entendimento com o país ou a organização com o fim específico já discutido, mesmo que o intento não se realize, e sem carecer de demonstração de potencial risco à segurança externa do País. • Tentativa: Possível. • Crime impropriamentemilitar • Ação Penal: Exige-se representação do Ministro da Defesa, se o sujeito ativo for militar, e requisição do Ministro da Justiça, se o sujeito ativo for civil (artigo 122 do CPM). Tentativa Contra a Soberania do Brasil Art. 142. Tentar: I - submeter o território nacional, ou parte dele, à soberania de país estrangeiro; II - desmembrar, por meio de movimento armado ou tumultos planejados, o território nacional, desde que o fato atente contra a segurança externa do Brasil ou a sua soberania; III - internacionalizar, por qualquer meio, região ou parte do território nacional: Pena - reclusão, de quinze a trinta anos, para os cabeças; de dez a vinte anos, para os demais agentes. 14 • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O autor é punido pela tentativa de uma das três condutas relacionadas no tipo: 1º. tentar submeter o país, no total ou parte dele (região, estado, município, vilarejo) a mando, domínio, autoridade de país estrangeiro, ou seja, tenta criar espaço geográfico brasileiro onde o próprio Brasil perderia a soberania, o domínio, entregando-o a outro país; 2º. tenta desmembrar, separar, destacar área geográfica, utilizando-se para tal de luta armada ou perturbações graves da ordem pública vigente, orquestradas no sentido de fazer com que o Estado Brasileiro perca o controle sobre a região. A tentativa, aqui, se inclina para a secessão do território nacional, não importando se a porção seccionada politicamente forme ou não um novo Estado. Não é demais lembrar que a República Brasileira não admite nenhuma possibilidade de secessão, justamente porque o art. 1º da CF dispõe que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. Caso a tentativa seja, não apenas a de desagregar o Estado Brasileiro, mas submetê-lo ao julgo estrangeiro, teremos a hipótese do inciso I e não do inciso II; 3º. tentar, como no inciso I, obstar o poder soberano do Brasil sobre determinada região, mas, em vez de lhe entregar a mando de país estrangeiro, a área é internacionalizada, ou seja, passa a ser domínio de um grupo de países ou de todos os países. 15 Os três incisos somente compreendem atos comissivos, não sendo possível a omissão própria pelo fato de ser a conduta nuclear uma tentativa. A pena para os “cabeças” é maior que aquela cominada aos demais agentes, ou seja, o preceito secundário consigna a pena de reclusão, de quinze a trinta anos, para os cabeças; de dez a vinte anos, para os demais agentes. Em verdade, há uma espécie de qualificadora, pois os patamares mínimo e máximo da pena são alterados, permitindo que haja a consideração na primeira fase de aplicação da pena. • Elemento subjetivo: Só admite o dolo específico (elemento subjetivo específico do injusto). • Consumação: O delito se consuma quando o autor tenta qualquer das condutas aqui descritas, ou seja, pratica qualquer ato buscando o alcance delas. • Tentativa: Impossível (crime de atentado). • Crime impropriamente militar • Ação Penal: Pública incondicionada. 16 Consecução de Notícia, Informação ou Documento para Fim de Espionagem Art. 143. Conseguir, para o fim de espionagem militar, notícia, informação ou documento, cujo sigilo seja de interesse da segurança externa do Brasil: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. § 1º A pena é de reclusão de dez a vinte anos: I - se o fato compromete a preparação ou eficiência bélica do Brasil, ou o agente transmite ou fornece, por qualquer meio, mesmo sem remuneração, a notícia, informação ou documento, a autoridade ou pessoa estrangeira; II - se o agente, em detrimento da segurança externa do Brasil, promove ou mantém no território nacional atividade ou serviço destinado à espionagem; III - se o agente se utiliza, ou contribui para que outrem se utilize, de meio de comunicação, para dar indicação que ponha ou possa pôr em perigo a segurança externa do Brasil. § 2º Contribuir culposamente para a execução do crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, no caso do artigo; ou até quatro anos, no caso do § 1º, nº I. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O núcleo da conduta descrita no caput é “conseguir” notícia, informação ou documento que são restritos a poucas pessoas, evidentemente, por questão de ofício, visto que tratam de assunto relacionado à segurança externa. 17 No inciso II, em que há uma nova tipificação, pune-se o autor que promove (dá impulso, põe em execução) ou mantém (dá continuidade a trabalho já existente) atividade (ação) ou serviço (estrutura para a ação) de espionagem em território nacional. O inciso III, em que também há uma nova tipificação, pune o autor que usa ou concorre para que outro use meio de comunicação (rádio, televisão, internet etc.) na divulgação de algo que coloque ou possa colocar em perigo a segurança externa do país, evidentemente pelas proporções que tais meios de comunicação alcançam. • Elemento subjetivo: Admite o dolo específico (caput e inciso I), dolo genérico (incisos II e III) e a culpa (de acordo com o § 2º, mas apenas para o caput e inciso I). • Consumação: Quando o autor consegue a notícia, informação ou o documento sigiloso (caput). Espionagem: “é o ato do indivíduo que, clandestinamente, colhe ou procura colher dados, informações ou documentos sobre os segredos políticos ou recursos militares de um Estado para, com a intenção de causar-lhe dano, divulgá-los ou comunicá-los a outro Estado” (José da Silva Loureiro Neto, p.113). Forma qualificada: a conduta que gera resultado, ou seja, compromete a preparação ou o bom emprego (eficiência) de meios bélicos (“poderio de fogo”) do Brasil ao mesmo passo que quando o autor faz o dado conseguido chegar à autoridade estrangeira (inciso I). 18 Na primeira parte da figura trazida pelo inciso I do § 1º, quando ocorrer o comprometimento da preparação ou a eficiência bélica do Estado Brasileiro, exigindo-se, portanto, a demonstração desse comprometimento, ainda que não signifique efetiva lesão à segurança externa (crime perigo concreto). Na segunda parte do dispositivo, quando o dado conseguido é fornecido a estrangeiro (autoridade ou não), configurando-se em crime de perigo abstrato. Na previsão do inciso II, quando o autor promove ou mantém (através de qualquer ato, gesto ou palavra) atividade ou serviço de espionagem, não se exigindo, embora esse seja o fim perseguido pelo autor, a demonstração potencial do risco pela espionagem (crime de perigo abstrato). No inciso III, quando o autor ou terceiro usa meio de comunicação para por em risco a segurança externa, exigindo-se que se demonstre a exposição da segurança externa a perigo (crime de perigo concreto). • Tentativa: Impossível no caso do inciso I do § 1º e na forma culposa. • Crime impropriamente militar. • Ação Penal: Pública incondicionada. 19 Revelação de Notícia, Informação ou Documento Art. 144. Revelar notícia, informação ou documento, cujo sigilo seja de interesse da segurança externa do Brasil: Pena - reclusão, de três a oito anos. §1º Se o fato é cometido com o fim de espionagem militar: Pena - reclusão, de seis a doze anos. § 2º Se o fato compromete a preparação ou a eficiência bélica do país: Pena - reclusão, de dez a vinte anos. § 3º Se a revelação é culposa: Pena - detenção, de seismeses a dois anos, no caso do artigo; ou até quatro anos, nos casos dos §§ 1° e 2º. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O núcleo da conduta é “revelar” (dar conhecimento, mostrar) e aqui o autor revela notícia (informal e de credibilidade menor), informação (pode ser formal e tem maior credibilidade) ou documento (segundo MIRABETE, p. 236, “toda a peça escrita que condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado de significação ou relevância jurídica” – neste caso o documento pode ser público ou particular) que era sigiloso e, portanto, restrito ao mínimo imprescindível de pessoas que precisam dele conhecer. 20 O objeto do delito (notícia, informação ou documento), além de sigiloso, deve referir-se à segurança externa do país, o que ataca a objetividade jurídica do tipo. • Elemento subjetivo: Dolo. O § 1º traz um elemento subjetivo especial do tipo (dolo específico). Há a modalidade culposa prevista no § 3º, aplicável ao tipo simples e às formas qualificadas dos parágrafos. • Consumação: Quando o autor torna público o teor do documento, informação ou notícia que era sigilosa, presumindo-se o risco à segurança externa (crime de perigo abstrato). Na modalidade do § 2º, exige-se a demonstração do risco à segurança externa pelo comprometimento da preparação ou da eficiência bélica do País (crime de perigo concreto). • Tentativa: Possível somente no caso em que a revelação se der de forma escrita e por dolo. • Crime impropriamente militar • Ação Penal: Pública incondicionada. Forma qualificada: se a conduta buscar a espionagem, no § 1º ou ainda se comprometer a preparação (estudo, fabricação, testes, armazenamento de armas, munições, engenhos de guerra motomecanizados etc.) ou o bom emprego (eficiência) das forças do País. 21 Turbação de Objeto ou Documento Art. 145. Suprimir, subtrair, deturpar, alterar, desviar, ainda que temporariamente, objeto ou documento concernente à segurança externa do Brasil: Pena - reclusão, de três a oito anos. § 1º Se o fato compromete a segurança ou a eficiência bélica do país: Pena - Reclusão, de dez a vinte anos. § 2º Contribuir culposamente para o fato: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: Os núcleos de conduta são “suprimir” (extinguir, eliminar, fazer desaparecer), subtrair (surrupiar, afanar, tirar à socapa de onde deveria estar), deturpar (desfigurar), alterar (modificar, no todo ou em parte), desviar (tirar da rota que deveria seguir). A conduta criminosa recai sobre “objeto” ou “documento”, desde que concernentes à segurança externa do País. Objeto: qualquer coisa móvel, capaz de ser suprimida, subtraída, deturpada etc. Documento: toda a peça escrita que condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado de significação ou relevância jurídica. 22 • Elemento subjetivo: Admite o dolo, assim como a culpa, essa última expressa no § 2º. • Consumação: O delito se consuma quando o autor pratica qualquer dos verbos expressos no tipo, ou seja, quando suprime, subtrai, deturpa, altera ou desvia objeto ou documento. Na forma do § 1º, exige-se a demonstração do risco à segurança externa pelo comprometimento da preparação ou da eficiência bélica do País (crime de perigo concreto). • Tentativa: É admissível, exceto na modalidade culposa. • Crime impropriamente militar • Ação Penal: Pública incondicionada. Forma qualificada: conduta que comprometer o bom emprego (eficiência) de armas, munições, engenhos de guerra motomecanizados etc. ou ainda a segurança externa do país que, em verdade, é a própria objetividade jurídica do delito. 23 Penetração com o Fim de Espionagem Art. 146. Penetrar, sem licença, ou introduzir-se clandestinamente ou sob falso pretexto, em lugar sujeito à administração militar, ou centro industrial a serviço de construção ou fabricação sob fiscalização militar, para colher informação destinada a país estrangeiro ou agente seu: Pena - reclusão, de três a oito anos. Parágrafo único. Entrar, em local referido no artigo, sem licença de autoridade competente, munido de máquina fotográfica ou qualquer outro meio hábil para a prática de espionagem: Pena - reclusão, até três anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: O núcleo da conduta é “penetrar”, entrar, transpor local sob sujeito à administração militar, ou centro industrial (de construção ou fabricação) sob fiscalização militar. O legislador, no parágrafo único, pune também aquele que entra, sem autorização, munido de máquina fotográfica ou aparelho similar (filmadora, scanner e, na atualidade, até alguns modelos de aparelhos de telefonia celular que transmitem imagens) em locais dessa ordem. 24 • Elemento subjetivo: Exige o elemento subjetivo específico do injusto (antigo dolo específico). • Consumação: O delito se consuma quando o autor penetra em local em que não deveria estar, mesmo que não consiga qualquer informação ou a captação de imagens. • Tentativa: Impossível (crime unissubsistente). • Crime impropriamente militar • Ação Penal: Pública incondicionada. Desenho ou Levantamento de Plano ou Planta de Local Militar ou de Engenho de Guerra Art. 147. Fazer desenho ou levantar plano ou planta de fortificação, quartel, fábrica, arsenal, hangar ou aeródromo, ou de navio, aeronave ou engenho de guerra motomecanizado, utilizados ou em construção sob administração ou fiscalização militar, ou fotografá-los ou filmá-los: Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. 25 • Elementos objetivos: A primeira conduta nuclear é “fazer” desenho, significando o ato de reproduzir por traços uma imagem. O tracejamento pode ser por meio mecânico ou virtual, como o traço em hardwares (palm tops, lap tops etc.). Também configura-se em conduta nuclear o “levantamento” de imagens (planos e plantas de fortificação etc.). Levantamento aqui tem o sentido de obtenção, de descoberta de modo que se possa utilizar posteriormente. Por fim, a reprodução do plano ou das plantas também pode se dar pela captação de imagens por maquinas fotográficas, filmadoras, scanners, enfim, todo e qualquer equipamento que capte com fidelidade a imagem. • Fortificação: construção destinada à defesa de um local, uma praça, uma cidade etc. • Quartel: edifício onde está estacionado de maneira permanente (“aquartelado”) um contingente de militares (regimento, batalhão, Grupo etc.). A elementar. • Fábrica: parque industrial onde se processa a transformação de matéria-prima em produto para o emprego bélico. • Arsenal: local, estabelecimento onde se fabricam e guardam armas, munições e petrechos de guerra. • Hangar: construção destinada a abrigar aeronaves. • Aeródromo: superfície destinada ao pouso e à decolagem de aeronaves. 26• Elemento subjetivo: Só admite o dolo. • Consumação: O delito se consuma quando o autor confecciona o desenho, fotografa ou filma o objeto do delito ou ainda levanta seu plano ou planta. • Tentativa: Possível, exceto nos casos em que a conduta se exaure em si mesma, como a fotografia e a filmagem do objeto. • Crime impropriamente militar • Ação Penal: Pública incondicionada. • Navio: conforme expõe o § 3º, do art. 7º, do próprio Código Penal Militar, é toda embarcação sob comando militar. • Aeronave: todo qualquer aparelho, com a função de transporte pessoal ou material, capaz de se sustentar e se conduzir no ar. • Engenho de guerra motomecanizado: máquina, aparelho ou mecanismo com emprego bélico, destinado a potencializar a capacidade de emprego em terra de uma força militar, seja pelo aumento da velocidade de emprego, seja pelo aumento do poder de fogo, ou mesmo com incremento de ambos, a exemplo dos carros de combate. • 27 Sobrevôo em Local Interdito Art. 148. Sobrevoar local declarado interdito: Pena - reclusão, até três anos. • Objetividade Jurídica: Segurança externa do País. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo: qualquer pessoa. O sujeito passivo: o Estado. • Elementos objetivos: Pode ser por qualquer forma, avião, planador, ultraleve, balão, pára- quedas etc., bastando que o autor passe por sobre ou paire sobre local cujo espaço aéreo foi proibido ou restrito. O art. 15 do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565, de 19 de dezembro de 1986), dispõe que por questão de segurança da navegação aérea ou por interesse público, é facultado fixar zonas em que se proíbe ou restringe o tráfego aéreo, estabelecer rotas de entrada ou saída, suspender total ou parcialmente o tráfego, assim como o uso de determinada aeronave, ou a realização de certos serviços aéreos. Sobrevoar: pairar ou se deslocar (por ar) por cima de local que foi declarado interdito, proibido, restrito. 28 • Elemento subjetivo: Só admite o dolo. • Consumação: O delito se consuma quando o autor penetra em espaço aéreo que não lhe era permitido. • Tentativa: Não é possível (delito unissubsistente). • Crime impropriamente militar • Ação Penal: Pública incondicionada.
Compartilhar