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DPMEspecial - Aula 1 - Crimes Contra Seguranca

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Material Teórico 
Direito Penal 
Militar – Parte Especial 
 
Crimes contra a Segurança 
Externa do País 
 
Prof. Ms. Cícero Robson Coimbra Neves 
cod PMilEspCDS1901_a01 
 
 
 
 
2 
Crimes contra a Segurança Externa do País 
 
Antes de ingressar nos crimes militares em espécie, resgate-se que, com a Lei 
nº 13.491/17, os crimes militares não estão limitados mais aos tipos penais 
incriminadores previstos no Código Penal Militar, mas também alcançam tipos 
penais incriminadores previstos na lei penal comum (Código Penal comum, 
abuso de autoridade, crimes ambientais, crimes de licitações etc.). 
 
Antes dessa lei, os crimes militares apenas estavam no CPM e podiam ser 
distribuídos entre 3 incisos do art. 9º: o Inciso I, que condensava os crimes 
militares existentes apenas no CPM ou nele previstos de forma diversa da 
legislação penal comum, e que não careciam de complementação típica; o 
Inciso II, que abarcava os crimes previstos de maneira idêntica na legislação 
penal comum e no CPM, e que careciam de complementação típica das 
alíneas “a” a “e”; o Inciso III que abarcava os crimes dos Incisos I e II, quando 
praticados por inativos ou civis, desde que contra as instituições militares e nos 
termos de suas alíneas “a” a “d”. 
 
Com a Lei n. 13.491/17, o inciso II foi alterado e agora abrange não só os 
crimes que existem no CPM com igual definição na legislação penal comum, 
mas também aqueles apenas existentes na legislação penal comum, desde 
que praticados em uma das hipóteses de suas alíneas, a saber, a prática do 
fato: 
 
• por militar em situação de atividade contra militar na mesma situação 
(alínea “a” do inciso II), 
• por militar em situação de atividade contra civil, militar reformado ou da 
reserva, 
• em lugar sob administração militar (alínea “b” do inciso II), 
• por militar em serviço ou atuando em razão da função contra civil, militar 
reformado ou da reserva (alínea “c” do inciso II), 
• por militar em período de manobra ou exercício contra civil, militar 
reformado ou da reserva (alínea “d” do inciso II) ou 
• por militar em situação de atividade contra a ordem administrativa militar 
ou contra o patrimônio sob administração militar (alínea “e” do inciso II). 
 
O inciso I não foi alterado, continuando com a mesma lógica, e o inciso III foi 
alterado indiretamente, pois, como assimila os crimes do inciso II, sendo este 
alterado, a reboque, altera-se o inciso III. 
 
Assim, na atualidade, estudar Direito Penal Militar Parte 
Especial é estudar todos os crimes existentes na legislação 
brasileira, o que se torna impossível em um curso específico. 
Por essa razão, presumindo-se que a legislação penal 
comum é conhecida previamente com as aulas da 
graduação, o foco do nosso curso será os principais tipos 
penais incriminadores, em tempo de paz, constantes da 
Parte Especial do Código Penal Militar. 
 
 
 
 
3 
 
 
Os crimes contra a segurança externa do País inauguram o Livro I 
da Parte Especial do Código Penal Militar, que trata dos crimes 
militares em tempo de paz, aqueles que serão objeto de 
exploração, posto que não há, felizmente, relevância no estudo 
dos crimes militares em tempo de guerra (Livro II da Parte 
Especial), capitulados a partir do art. 355 do CPM. 
 
 
Vejamos, então, alguns desses crimes. 
 
 
 
Hostilidade Contra País Estrangeiro 
 
 
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estrangeiro, 
expondo o Brasil a perigo de guerra: 
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. 
Resultado mais grave 
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, represália ou retorsão: 
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. 
§ 2º Se resulta guerra: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
 
 
• Objetividade jurídica: 
O crime, pela posição topográfica e 
pela descrição típica, busca tutelar 
a segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: ao utilizar a palavra “militar”, por força do disposto no 
art. 22 do CPM, entende-se que a sujeição ativa deve recair sobre 
militar ainda incorporado, ou seja, na ativa. 
O sujeito passivo: como a conduta nuclear pode afetar o País, tem-se 
como sujeito passivo o Estado. 
 
 
 
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• Elementos objetivos: 
O crime consiste na prática de qualquer ato hostil contra país 
estrangeiro. 
 
 
 
 
 
 
 
Necessário que o ato em questão tenha o potencial de 
colocar o nosso País em risco de guerra, o que mostra o 
grau lesivo da hostilidade perpetrada. Não é necessário 
que ela ocorra, mas é imprescindível que haja o perigo real 
de sua ocorrência (crime de perigo concreto), tanto que, se 
houver ruptura de relações diplomáticas, retaliação ou até 
mesmo a guerra, o legislador considerou tais circunstâncias 
como qualificadoras. 
 
 
 
 
 
Como se disse, o crime apresenta qualificadoras, de 
acordo com as consequências do ato de hostilidade (pelo 
resultado), ou seja, quando resultar rompimento de 
relações diplomáticas (declaração, geralmente do país 
hostilizado, mas não necessariamente, no sentido de não 
mais interagir com o Brasil no cenário internacional), 
retorsão (resposta em contraposição) ou represália 
(retaliação) ou se efetivamente conduzir à guerra. 
 
• Elemento subjetivo: 
Só o dolo, mas o dolo dirigido ao ato de hostilidade. 
 
 
Ato de hostilidade: inimizade, agressividade, 
ser pouco acolhedor, adverso, desfavorável. 
sustentando alguns que deve ser, em regra, 
por via armada (Cf. NUCCI, 2013, p. 220) . 
 
 
Guerra: luta armada entre dois ou mais Estados 
para solução de conflito havido entre eles, que não 
se tenha podido resolver por outro meio. (Cf. 
Plácido e Silva, 1996, p. 367). 
 
 
5 
• Consumação: 
Consuma com a prática do ato pelo autor, desde que 
demonstradamente capaz de levar o País à guerra, 
independentemente de esse resultado sobrevir. 
 
• Tentativa: 
Consuma com a prática do ato pelo autor, desde que 
demonstradamente capaz de levar o País à guerra, 
independentemente de esse resultado sobrevir (crime de perigo 
concreto). 
 
• Crime propriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Exige-se requisição do Ministro da Defesa. Note-se que, pelo 
disposto no art. 122 do CPM, a requisição deveria ser de Ministério 
Militar, contudo, com o advento da Lei Complementar n. 97/99, não 
mais existem os Ministérios Militares, mas o Ministério da Defesa, 
aos quais se subordinam os Comandos das Forças Armadas. 
 
 
Provocação a País Estrangeiro 
 
 
 
Art. 137. Provocar o militar, diretamente, país estrangeiro a 
declarar guerra ou mover hostilidade contra o Brasil ou a intervir em 
questão que respeite à soberania nacional: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
 
 
 
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• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: militar da ativa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
Tipificação semelhante à do delito anterior, mas inverte-se a 
polaridade. No crime do art. 136, o militar brasileiro praticava 
hostilidade ao país estrangeiro e, agora, é o país estrangeiro que 
declara guerra ou pratica hostilidade contra o Brasil, motivado pela 
provocação do militar brasileiro que, não necessariamente, praticou 
atos previstos no delito anterior (hostis). 
Os conceitos de Hostilidade e Guerra que vimos no delito anterior se 
aplicam aqui também. 
 
• Elemento subjetivo: 
Apenas o dolo. 
 
• Consumação: 
O delito se consuma quando o autor realizar a provocação, 
materializada por uma conduta, exigindo-se o efetivo dano na 
segurança externa, pela declaração de guerra ou prática de 
hostilidade contra o Brasil ou a intervenção do país estrangeiro em 
questão que respeite à soberania nacional (crime de dano). 
 
• Tentativa: 
Possível. 
 
• Crime propriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). 
 
 
 
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Ato de Jurisdição Indevida 
 
 
 
Art. 138. Praticar o militar, indevidamente,no território nacional, 
ato de jurisdição de país estrangeiro, ou favorecer a prática de ato dessa 
natureza: 
Pena - reclusão, de cinco a quinze anos. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País, no aspecto 
específico de sua soberania. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: militar da ativa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O militar pratica ato indevido de jurisdição de país estrangeiro, ou 
seja, ato determinado por um juiz estrangeiro em processo que 
tramite na justiça estrangeira. Poderia ainda o autor não chegar a 
praticar o ato, mas tão somente favorecer sua prática, o que já 
caracterizaria o tipo. 
 
Esse ato deve ser praticado em território brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Território brasileiro: todo espaço onde se 
exerce a soberania do Estado, compreendendo 
o espaço territorial delimitado pelas fronteiras do 
país, sem solução de continuidade, inclusive 
rios, lagos e mares interiores, bem como as ilhas 
e outras porções de terra separadas do solo 
principal, o mar territorial e o espaço aéreo. 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
Deve-se somar a previsão do art. 7º do CPM que traz o conceito de 
território nacional por extensão, na seguinte conformidade: para os 
efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território 
nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se 
encontrem, sob comando militar ou militarmente utilizados ou 
ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de 
propriedade privada (§ 1º); é também aplicável a lei penal militar ao 
crime praticado a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde 
que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra 
as instituições militares. 
 
• Elemento subjetivo: 
Só admite o dolo. 
 
• Consumação: 
Com a prática do ato decorrente da decisão do juiz estrangeiro, ou 
concorre para sua prática, independentemente de uma efetiva lesão 
à segurança nacional, ou mesmo da demonstração do risco a ela, 
presumindo-se, pela inobservância da soberania, o risco indesejado. 
 
• Tentativa: Possível. 
• Crime propriamente militar 
• Ação Penal 
Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). 
 
 
Mar territorial: nos termos da Lei 
8.617/93, compreende uma faixa de doze 
milhas marítimas de largura, medidas a 
partir da linha de baixa-mar do litoral 
continental e insular, tal como indicada 
nas cartas náuticas de grande escala, 
reconhecidas oficialmente no Brasil. 
 
 
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Violação de Território Estrangeiro 
 
 
 
Art. 139. Violar o militar território estrangeiro, com o fim de 
praticar ato de jurisdição em nome do Brasil: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: militar da ativa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O militar entra, sem autorização, em território estrangeiro (terra, mar 
e ar) para praticar ato decorrente da decisão de um juiz brasileiro, 
invertendo-se a previsão do tipo anterior. 
 
O delito exige o ingresso em território estrangeiro, o que significa 
dizer que não estará configurado o crime em caso de prática em 
território internacional (seja terrestre, marítimo ou aéreo). 
 
Ademais, a prática do ato é pretensamente em nome do Brasil, o 
que, naturalmente é apenas uma aparente escusa, pois se houve 
efetivamente determinação regular para essa prática o militar que 
violou o território não poderá sofrer consequências penais militares, 
exceto em caso de excesso. 
• Elemento subjetivo: 
Só admite o dolo específico (elemento subjetivo específico do 
injusto). 
 
 
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• Consumação: 
Consuma-se o crime com a entrada do autor, com a finalidade já 
expressa, sendo irrelevante para a caracterização do delito se ele 
conseguiu ou não realizar o ato a que se propôs. 
 
• Tentativa: 
Possível. 
• Crime propriamente militar 
• Ação Penal: 
Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). 
 
 
Entendimento para Empenhar o Brasil à Neutralidade ou à Guerra 
 
 
 
Art. 140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendimento com 
país estrangeiro, para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra: 
Pena - reclusão, de seis a doze anos. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: militar da ativa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O militar busca, em nome do Brasil, utilizando-se de 
representatividade que não recebeu e nem lhe foi delegada, 
entender-se com país estrangeiro para levar a Nação à guerra ou à 
neutralidade (indiferença em relação à contenda entre nações ou à 
questão em que se veja obrigada a decidir). 
 
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Visão interessante versa Guilherme Nucci (2013, p. 222), ao 
entender que este delito não mais é possível, pois, militares “não 
negociam paz nem tampouco guerra, em particular, fazendo-o 
individualmente. Trata-se de atividade pertinente aos órgãos 
diplomáticos e políticos [...]”. Com todo respeito ao autor, o fato de 
militares não negociarem a paz na atual conformação do Direito é 
justamente o que torna o ato de o militar buscar entender-se com o 
país estrangeiro à margem da legalidade, tornando-se, pois, crime 
nos termos do artigo em estudo. 
 
 
 
 
 
• Elemento subjetivo: 
Só admite o dolo específico (hoje, elemento subjetivo específico do 
injusto). 
 
• Consumação: 
Quando o autor pratica qualquer ato que denote sua tentativa de 
entender-se com o país estrangeiro com o fim já apontado, 
independentemente do resultado advindo ou da demonstração de 
potencial risco à segurança externa do País. 
 
• Tentativa: 
Impossível (crime de atentado). 
• Crime propriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Exige-se requisição do Ministro da Defesa (art. 122 do CPM). 
 
 
 
 
 
Neutralidade: posição do País de não 
concordar com partes em conflito ou prestes a 
nele ingressar. 
 
12 
Entendimento para Gerar Conflito ou Divergência com o Brasil 
 
 
Art. 141. Entrar em entendimento com país estrangeiro, ou 
organização nele existente, para gerar conflito ou divergência de caráter 
internacional entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes perturbar 
as relações diplomáticas: 
Pena - reclusão, de quatro a oito anos. 
§1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas: 
Pena - reclusão, de seis a dezoito anos. 
§2º Se resulta guerra: 
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O autor entra em entendimento, acerta-se, combina, fecha questão, 
tanto podendo ser com país estrangeiro, como com organização 
(pública ou privada) que nele exista, com o fito de gerar conflito 
(contestação profunda que implica em adoção de medidas de 
retaliação ou até mesmo a guerra, quando o crime se qualificará pelo 
resultado) ou divergência de caráter internacional entre o Brasil e 
qualquer outro país (discussão de interesses), ou lhes perturbar as 
relações diplomáticas (atrapalhando a tranquilidade e a estabilidade 
das duas nações). Pode ser qualificado pelo resultado, quando a 
conduta (o entendimento) proporciona a efetiva quebra de relações 
diplomáticas entre as nações e ainda com mais rigor a que 
proporciona a guerra entre as duas nações. A definição de Guerra, já 
vimos anteriormente. 
 
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• Elemento subjetivo: 
Só admite o dolo específico (hoje, elemento subjetivo específico do 
injusto). 
 
• Consumação: 
Consuma-se quando o autor entra em entendimento com o país ou a 
organização com o fim específico já discutido, mesmo que o intento 
não se realize, e sem carecer de demonstração de potencial risco à 
segurança externa do País. 
 
• Tentativa: 
Possível. 
• Crime impropriamentemilitar 
• Ação Penal: 
Exige-se representação do Ministro da Defesa, se o sujeito ativo for 
militar, e requisição do Ministro da Justiça, se o sujeito ativo for civil 
(artigo 122 do CPM). 
 
Tentativa Contra a Soberania do Brasil 
 
 
Art. 142. Tentar: 
I - submeter o território nacional, ou parte dele, à soberania de país 
estrangeiro; 
II - desmembrar, por meio de movimento armado ou tumultos 
planejados, o território nacional, desde que o fato atente contra a 
segurança externa do Brasil ou a sua soberania; 
III - internacionalizar, por qualquer meio, região ou parte do território 
nacional: 
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos, para os cabeças; de dez a 
vinte anos, para os demais agentes. 
 
 
 
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• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O autor é punido pela tentativa de uma das três condutas 
relacionadas no tipo: 
1º. tentar submeter o país, no total ou parte dele (região, estado, 
município, vilarejo) a mando, domínio, autoridade de país 
estrangeiro, ou seja, tenta criar espaço geográfico brasileiro 
onde o próprio Brasil perderia a soberania, o domínio, 
entregando-o a outro país; 
2º. tenta desmembrar, separar, destacar área geográfica, 
utilizando-se para tal de luta armada ou perturbações graves 
da ordem pública vigente, orquestradas no sentido de fazer 
com que o Estado Brasileiro perca o controle sobre a região. A 
tentativa, aqui, se inclina para a secessão do território 
nacional, não importando se a porção seccionada 
politicamente forme ou não um novo Estado. Não é demais 
lembrar que a República Brasileira não admite nenhuma 
possibilidade de secessão, justamente porque o art. 1º da CF 
dispõe que a República Federativa do Brasil é formada pela 
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito 
Federal. Caso a tentativa seja, não apenas a de desagregar o 
Estado Brasileiro, mas submetê-lo ao julgo estrangeiro, 
teremos a hipótese do inciso I e não do inciso II; 
3º. tentar, como no inciso I, obstar o poder soberano do Brasil 
sobre determinada região, mas, em vez de lhe entregar a 
mando de país estrangeiro, a área é internacionalizada, ou 
seja, passa a ser domínio de um grupo de países ou de todos 
os países. 
 
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Os três incisos somente compreendem atos comissivos, não sendo 
possível a omissão própria pelo fato de ser a conduta nuclear uma 
tentativa. A pena para os “cabeças” é maior que aquela cominada 
aos demais agentes, ou seja, o preceito secundário consigna a pena 
de reclusão, de quinze a trinta anos, para os cabeças; de dez a vinte 
anos, para os demais agentes. Em verdade, há uma espécie de 
qualificadora, pois os patamares mínimo e máximo da pena são 
alterados, permitindo que haja a consideração na primeira fase de 
aplicação da pena. 
 
• Elemento subjetivo: 
Só admite o dolo específico (elemento subjetivo específico do 
injusto). 
 
• Consumação: 
O delito se consuma quando o autor tenta qualquer das condutas 
aqui descritas, ou seja, pratica qualquer ato buscando o alcance 
delas. 
 
• Tentativa: 
Impossível (crime de atentado). 
 
• Crime impropriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Pública incondicionada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Consecução de Notícia, Informação ou Documento para Fim de 
Espionagem 
 
 
 
 Art. 143. Conseguir, para o fim de espionagem militar, notícia, 
informação ou documento, cujo sigilo seja de interesse da segurança 
externa do Brasil: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
§ 1º A pena é de reclusão de dez a vinte anos: 
I - se o fato compromete a preparação ou eficiência bélica do Brasil, ou 
o agente transmite ou fornece, por qualquer meio, mesmo sem 
remuneração, a notícia, informação ou documento, a autoridade ou 
pessoa estrangeira; 
II - se o agente, em detrimento da segurança externa do Brasil, promove 
ou mantém no território nacional atividade ou serviço destinado à 
espionagem; 
III - se o agente se utiliza, ou contribui para que outrem se utilize, de 
meio de comunicação, para dar indicação que ponha ou possa pôr em 
perigo a segurança externa do Brasil. 
§ 2º Contribuir culposamente para a execução do crime: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, no caso do artigo; ou até 
quatro anos, no caso do § 1º, nº I. 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O núcleo da conduta descrita no caput é “conseguir” notícia, 
informação ou documento que são restritos a poucas pessoas, 
evidentemente, por questão de ofício, visto que tratam de assunto 
relacionado à segurança externa. 
 
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No inciso II, em que há uma nova tipificação, pune-se o autor que 
promove (dá impulso, põe em execução) ou mantém (dá 
continuidade a trabalho já existente) atividade (ação) ou serviço 
(estrutura para a ação) de espionagem em território nacional. 
 
O inciso III, em que também há uma nova tipificação, pune o autor 
que usa ou concorre para que outro use meio de comunicação (rádio, 
televisão, internet etc.) na divulgação de algo que coloque ou possa 
colocar em perigo a segurança externa do país, evidentemente pelas 
proporções que tais meios de comunicação alcançam. 
 
• Elemento subjetivo: 
Admite o dolo específico (caput e inciso I), dolo genérico (incisos II e 
III) e a culpa (de acordo com o § 2º, mas apenas para o caput e 
inciso I). 
 
• Consumação: 
Quando o autor consegue a notícia, informação ou o documento 
sigiloso (caput). 
 
 
 
 
Espionagem: “é o ato do indivíduo 
que, clandestinamente, colhe ou 
procura colher dados, informações 
ou documentos sobre os segredos 
políticos ou recursos militares de um 
Estado para, com a intenção de 
causar-lhe dano, divulgá-los ou 
comunicá-los a outro Estado” (José 
da Silva Loureiro Neto, p.113). 
 
 
Forma qualificada: a conduta que 
gera resultado, ou seja, compromete 
a preparação ou o bom emprego 
(eficiência) de meios bélicos 
(“poderio de fogo”) do Brasil ao 
mesmo passo que quando o autor 
faz o dado conseguido chegar à 
autoridade estrangeira (inciso I). 
 
 
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Na primeira parte da figura trazida pelo inciso I do § 1º, quando 
ocorrer o comprometimento da preparação ou a eficiência bélica do 
Estado Brasileiro, exigindo-se, portanto, a demonstração desse 
comprometimento, ainda que não signifique efetiva lesão à 
segurança externa (crime perigo concreto). 
Na segunda parte do dispositivo, quando o dado conseguido é 
fornecido a estrangeiro (autoridade ou não), configurando-se em 
crime de perigo abstrato. 
Na previsão do inciso II, quando o autor promove ou mantém 
(através de qualquer ato, gesto ou palavra) atividade ou serviço de 
espionagem, não se exigindo, embora esse seja o fim perseguido 
pelo autor, a demonstração potencial do risco pela espionagem 
(crime de perigo abstrato). 
No inciso III, quando o autor ou terceiro usa meio de comunicação 
para por em risco a segurança externa, exigindo-se que se 
demonstre a exposição da segurança externa a perigo (crime de 
perigo concreto). 
 
• Tentativa: 
Impossível no caso do inciso I do § 1º e na forma culposa. 
 
• Crime impropriamente militar. 
 
• Ação Penal: 
Pública incondicionada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Revelação de Notícia, Informação ou Documento 
 
 
Art. 144. Revelar notícia, informação ou documento, cujo sigilo 
seja de interesse da segurança externa do Brasil: 
Pena - reclusão, de três a oito anos. 
§1º Se o fato é cometido com o fim de espionagem militar: 
Pena - reclusão, de seis a doze anos. 
§ 2º Se o fato compromete a preparação ou a eficiência bélica do país: 
Pena - reclusão, de dez a vinte anos. 
§ 3º Se a revelação é culposa: 
Pena - detenção, de seismeses a dois anos, no caso do artigo; ou até 
quatro anos, nos casos dos §§ 1° e 2º. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O núcleo da conduta é “revelar” (dar conhecimento, mostrar) e aqui o 
autor revela notícia (informal e de credibilidade menor), informação 
(pode ser formal e tem maior credibilidade) ou documento (segundo 
MIRABETE, p. 236, “toda a peça escrita que condensa graficamente 
o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de 
algum ato dotado de significação ou relevância jurídica” – neste caso 
o documento pode ser público ou particular) que era sigiloso e, 
portanto, restrito ao mínimo imprescindível de pessoas que precisam 
dele conhecer. 
 
20 
O objeto do delito (notícia, informação ou documento), além de 
sigiloso, deve referir-se à segurança externa do país, o que ataca a 
objetividade jurídica do tipo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Elemento subjetivo: 
Dolo. O § 1º traz um elemento subjetivo especial do tipo (dolo 
específico). Há a modalidade culposa prevista no § 3º, aplicável ao 
tipo simples e às formas qualificadas dos parágrafos. 
 
• Consumação: 
Quando o autor torna público o teor do documento, informação ou 
notícia que era sigilosa, presumindo-se o risco à segurança externa 
(crime de perigo abstrato). Na modalidade do § 2º, exige-se a 
demonstração do risco à segurança externa pelo comprometimento 
da preparação ou da eficiência bélica do País (crime de perigo 
concreto). 
 
• Tentativa: 
Possível somente no caso em que a revelação se der de forma 
escrita e por dolo. 
 
• Crime impropriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Pública incondicionada. 
 
 
 
 
Forma qualificada: se a conduta buscar a 
espionagem, no § 1º ou ainda se 
comprometer a preparação (estudo, 
fabricação, testes, armazenamento de armas, 
munições, engenhos de guerra 
motomecanizados etc.) ou o bom emprego 
(eficiência) das forças do País. 
 
 
21 
Turbação de Objeto ou Documento 
 
Art. 145. Suprimir, subtrair, deturpar, alterar, desviar, ainda que 
temporariamente, objeto ou documento concernente à segurança 
externa do Brasil: 
Pena - reclusão, de três a oito anos. 
§ 1º Se o fato compromete a segurança ou a eficiência bélica do país: 
Pena - Reclusão, de dez a vinte anos. 
§ 2º Contribuir culposamente para o fato: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
Os núcleos de conduta são “suprimir” (extinguir, 
eliminar, fazer desaparecer), subtrair (surrupiar, 
afanar, tirar à socapa de onde deveria estar), deturpar (desfigurar), alterar 
(modificar, no todo ou em parte), desviar (tirar da rota que deveria seguir). 
A conduta criminosa recai sobre “objeto” ou “documento”, desde que 
concernentes à segurança externa do País. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objeto: 
qualquer coisa móvel, capaz de 
ser suprimida, subtraída, 
deturpada etc. 
 
 
Documento: 
toda a peça escrita que condensa 
graficamente o pensamento de 
alguém, podendo provar um fato 
ou a realização de algum ato 
dotado de significação ou 
relevância jurídica. 
 
 
 
22 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Elemento subjetivo: 
Admite o dolo, assim como a culpa, essa última expressa no § 2º. 
 
• Consumação: 
O delito se consuma quando o autor pratica qualquer dos verbos 
expressos no tipo, ou seja, quando suprime, subtrai, deturpa, altera 
ou desvia objeto ou documento. 
Na forma do § 1º, exige-se a demonstração do risco à segurança 
externa pelo comprometimento da preparação ou da eficiência bélica 
do País (crime de perigo concreto). 
 
• Tentativa: 
É admissível, exceto na modalidade culposa. 
 
• Crime impropriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Pública incondicionada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Forma qualificada: 
conduta que comprometer o bom emprego (eficiência) 
de armas, munições, engenhos de guerra 
motomecanizados etc. ou ainda a segurança externa 
do país que, em verdade, é a própria objetividade 
jurídica do delito. 
 
 
23 
 
Penetração com o Fim de Espionagem 
 
 
Art. 146. Penetrar, sem licença, ou introduzir-se 
clandestinamente ou sob falso pretexto, em lugar sujeito à 
administração militar, ou centro industrial a serviço de construção ou 
fabricação sob fiscalização militar, para colher informação destinada a 
país estrangeiro ou agente seu: 
Pena - reclusão, de três a oito anos. 
Parágrafo único. Entrar, em local referido no artigo, sem licença de 
autoridade competente, munido de máquina fotográfica ou qualquer 
outro meio hábil para a prática de espionagem: 
Pena - reclusão, até três anos. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
O núcleo da conduta é “penetrar”, entrar, transpor local sob sujeito à 
administração militar, ou centro industrial (de construção ou 
fabricação) sob fiscalização militar. 
O legislador, no parágrafo único, pune também aquele que entra, 
sem autorização, munido de máquina fotográfica ou aparelho similar 
(filmadora, scanner e, na atualidade, até alguns modelos de 
aparelhos de telefonia celular que transmitem imagens) em locais 
dessa ordem. 
 
 
 
 
24 
• Elemento subjetivo: 
Exige o elemento subjetivo específico do injusto (antigo dolo 
específico). 
 
• Consumação: 
O delito se consuma quando o autor penetra em local em que não 
deveria estar, mesmo que não consiga qualquer informação ou a 
captação de imagens. 
 
• Tentativa: 
Impossível (crime unissubsistente). 
 
• Crime impropriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Pública incondicionada. 
 
Desenho ou Levantamento de Plano ou Planta de Local Militar ou de 
Engenho de Guerra 
 
 
Art. 147. Fazer desenho ou levantar plano ou planta de 
fortificação, quartel, fábrica, arsenal, hangar ou aeródromo, ou de navio, 
aeronave ou engenho de guerra motomecanizado, utilizados ou em 
construção sob administração ou fiscalização militar, ou fotografá-los ou 
filmá-los: 
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais 
grave. 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
25 
 
• Elementos objetivos: 
A primeira conduta nuclear é “fazer” desenho, significando o ato de 
reproduzir por traços uma imagem. O tracejamento pode ser por 
meio mecânico ou virtual, como o traço em hardwares (palm tops, lap 
tops etc.). 
Também configura-se em conduta nuclear o “levantamento” de 
imagens (planos e plantas de fortificação etc.). Levantamento aqui 
tem o sentido de obtenção, de descoberta de modo que se possa 
utilizar posteriormente. 
Por fim, a reprodução do plano ou das plantas também pode se dar 
pela captação de imagens por maquinas fotográficas, filmadoras, 
scanners, enfim, todo e qualquer equipamento que capte com 
fidelidade a imagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Fortificação: construção destinada à defesa de 
um local, uma praça, uma cidade etc. 
• Quartel: edifício onde está estacionado de 
maneira permanente (“aquartelado”) um 
contingente de militares (regimento, batalhão, 
Grupo etc.). A elementar. 
• Fábrica: parque industrial onde se processa a 
transformação de matéria-prima em produto 
para o emprego bélico. 
• Arsenal: local, estabelecimento onde se 
fabricam e guardam armas, munições e 
petrechos de guerra. 
• Hangar: construção destinada a abrigar 
aeronaves. 
• Aeródromo: superfície destinada ao pouso e à 
decolagem de aeronaves. 
 
 
26• Elemento subjetivo: 
Só admite o dolo. 
 
• Consumação: 
O delito se consuma quando o autor confecciona o desenho, 
fotografa ou filma o objeto do delito ou ainda levanta seu plano ou 
planta. 
 
• Tentativa: 
Possível, exceto nos casos em que a conduta se exaure em si 
mesma, como a fotografia e a filmagem do objeto. 
 
• Crime impropriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Pública incondicionada. 
 
• Navio: conforme expõe o § 3º, do art. 7º, do 
próprio Código Penal Militar, é toda embarcação 
sob comando militar. 
• Aeronave: todo qualquer aparelho, com a 
função de transporte pessoal ou material, capaz 
de se sustentar e se conduzir no ar. 
• Engenho de guerra motomecanizado: 
máquina, aparelho ou mecanismo com emprego 
bélico, destinado a potencializar a capacidade 
de emprego em terra de uma força militar, seja 
pelo aumento da velocidade de emprego, seja 
pelo aumento do poder de fogo, ou mesmo com 
incremento de ambos, a exemplo dos carros de 
combate. 
• 
 
27 
 
 
Sobrevôo em Local Interdito 
 
 
Art. 148. Sobrevoar local declarado interdito: 
Pena - reclusão, até três anos. 
 
 
• Objetividade Jurídica: 
Segurança externa do País. 
 
• Sujeitos do delito: 
O sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O sujeito passivo: o Estado. 
 
• Elementos objetivos: 
 
 
 
 
 
Pode ser por qualquer forma, avião, planador, ultraleve, balão, pára-
quedas etc., bastando que o autor passe por sobre ou paire sobre 
local cujo espaço aéreo foi proibido ou restrito. 
 
O art. 15 do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565, de 19 de 
dezembro de 1986), dispõe que por questão de segurança da 
navegação aérea ou por interesse público, é facultado fixar zonas em 
que se proíbe ou restringe o tráfego aéreo, estabelecer rotas de 
entrada ou saída, suspender total ou parcialmente o tráfego, assim 
como o uso de determinada aeronave, ou a realização de certos 
serviços aéreos. 
 
 
 
Sobrevoar: pairar ou se deslocar (por 
ar) por cima de local que foi declarado 
interdito, proibido, restrito. 
 
 
28 
• Elemento subjetivo: 
Só admite o dolo. 
 
• Consumação: 
O delito se consuma quando o autor penetra em espaço aéreo que 
não lhe era permitido. 
 
• Tentativa: 
Não é possível (delito unissubsistente). 
 
• Crime impropriamente militar 
 
• Ação Penal: 
Pública incondicionada.

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