Buscar

ENGENHARIA SUSTENTÁVEL (24)

Prévia do material em texto

Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
Construção Sustentável: Benefícios e Desafios
Sustainable Construction: Benefits and Challenges
Antônio Henrique Correa de Freitas1
Poliana Miranda França2
Tamiris Miranda França3
RESUMO
O presente artigo teve por objetivo pesquisar os benefícios e desafios da Construção Sustentável,
visando atestar sua viabilidade ambiental, econômica e social. Acima de tudo, cada vez mais as
empresas vêm sendo obrigadas a repensar seu modelo de atuação, buscando tecnologias
compatíveis com as questões socioambientais. Por isso, faz-se necessário o conhecimento e a
revisão dos paradigmas de gestão.
Palavras-chave: Construção, Sustentável, Ambiental, Projeto.
Abstract: This article aims to investigate the benefits and challenges of Sustainable Building, aimed
prove its environmental sustainability, economic and social. Above all, more and more companies are
being forced to rethink their operating model, seeking technologies compatible with social and
environmental issues, so it is necessary knowledge and review of management paradigms.
Keywords: Construction, Sustainable, Environmental, Design.
1 - Introdução
Na sociedade atual fica clara a necessidade de se criar uma consciência
socioambiental, considerando os problemas urbanos como poluição, falta de
saneamento básico, miséria, desperdício, entre outros, tão graves quanto à
destruição dos ecossistemas. Todavia, sabe-se da dificuldade de se mudar toda a
forma de pensar de uma população, principalmente no que se refere ao meio
ambiente, devido ao fato da sociedade ainda possuir uma visão antropocentrista.
Paralelamente a isso, sabe-se também que o desenvolvimento é essencial
para sustentar o atual modo de vida da sociedade. No entanto, o crime ameaça a
vida, da mesma forma que a exploração demasiada do meio ambiente também
impacta. A maneira sobre como o preserva hoje, refletirá na qualidade de vida atual
e futura.
De tal modo que, na busca de soluções para a melhoria dessa ordem vigente,
a sustentabilidade propõe modelos baseados em valores, ao qual o relacionamento
dos humanos com seu meio seja mais harmônico, onde esses possam adotar uma
visão holística, exercitando plenamente a cidadania.
1 Professor de Engenharia Civil das Faculdades Kennedy - hcorreafreitas@hotmail.com2 Estudante de Engenharia Civil das Faculdades Kennedy – pollyfranca@gmail.com3 Estudante de Engenharia Civil das Faculdades Kennedy – tamirismfranca@gmail.com
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
Perante isso, este artigo se propõe a pesquisar os benefícios e desafios da
Construção Sustentável, buscando atestar sua viabilidade ambiental, econômica e
social. Acreditando-se que, com isso, a Engenharia Civil pode contribuir
consideravelmente para o desenvolvimento, contudo, com sustentabilidade.
2 - Meio Ambiente: Aspectos Históricos e Legais
Um dos primeiros registros da preocupação com a problemática ambiental
surgiu na década de 60, quando a escritora, cientista e ecologista norte-americana,
Carson, alertou sobre os efeitos nocivos de inúmeras ações humanas sobre o
ambiente:
O homem é parte da natureza e sua guerra contra a natureza é inevitável
uma guerra contra si mesmo... Temos pela frente um desafio como nunca a
humanidade teve, de provar nossa maturidade e nosso domínio, não da
natureza, mas de nós mesmos. (CARSON, 1992, p.1)
Posteriormente, cientistas colocaram o desafio ambiental em nível planetário.
Assim, em 1970, a entidade relacionada à revista britânica The Ecologist elabora o
manifesto para sobrevivência, onde insistiram que o aumento indefinido de demanda
não poderia ser sustentado por recursos finitos.
Já em 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, aconteceu a Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, a conhecida Conferência de Estocolmo,
resultando documentos importantes como a Declaração sobre o Ambiente Humano
ou Declaração de Estocolmo, que anuncia a certeza de que tanto as gerações
presentes como as futuras tenham o direito a um ambiente saudável. Outro
resultado desse mesmo evento foi a criação, pela Organização das Nações Unidas
(ONU), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Dando retorno às recomendações da Conferência de Estocolmo, em 1975, a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
promoveu, em Belgrado, Iugoslávia, o Encontro Internacional em Educação
Ambiental, estabelecendo princípios orientadores para o tema. No encontro foram
definidos os objetivos da educação ambiental, publicados na chamada ”A Carta de
Belgrado”, um dos documentos mais inteligentes e respeitáveis produzidos naquela
década. Esse Congresso definiu também o significado da educação ambiental que,
de acordo com ele, deverá garantir que a população seja consciente, respeite o
ambiente e atue coletivamente, a fim de solucionar as dificuldades planetárias.
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
Com isso, no ano de 1990, a Declaração Mundial sobre a Educação para
Todos, realizada em Jontien, Tailândia, ressalta que todos devem ser responsáveis
pela defesa da justiça social e pela proteção do meio ambiente.
Um referencial importante para se compreender a filosofia da sustentabilidade
é a Agenda 21, documento que visa promover um novo padrão de desenvolvimento,
harmonizando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Esse foi o principal produto da Rio-92, recebendo esse nome devida à menção com
o futuro do planeta a partir do século XXI. Assinado por 170 países, inclusive o
Brasil, foi considerada a proposta mais consciente de como alcançar o
desenvolvimento sustentável.
Em 1977 aconteceu, no Japão, o Protocolo de Quioto, realizado com o
objetivo de fazer exigências aos países para redução dos gases de efeito estufa,
dando a opção da comercialização das emissões, quando necessário.
Passados dez anos da efetivação da Rio-92, em agosto de 2002, a ONU
realiza em Johanesburgo, África do Sul, nova Conferência das Nações Unidas sobre
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, dessa vez nomeada Rio + 10. O encontro
teve o objetivo de discutir os acordos propostos pela Agenda 21 e estabelecer novo
acordo mundial em busca das respostas para as questões que ficaram conhecidas
como o tripé da sustentabilidade: social, econômica e ambiental. Na Conferência
também surgiu um importante documento para nortear os trabalhos propostos,
conhecida como Agenda 21 para Construção Sustentável em Países em
Desenvolvimento, ela busca:
[...] aprimorar o processo de construção nos países em desenvolvimento,
formulando novas tecnologias da construção para a preservação dos
recursos, operações com consumo de energia eficiente, conservação de
água e práticas responsáveis de gestão de recursos hídricos. Além disso,
foram abordados os problemas da habitação sustentável e da justiça social
tanto rural como urbana. (BURKE; KEELER, 2010, pg. 46)
Com a expiração do Protocolo de Quioto em 2012 iniciou-se, em 2007, o
Diálogo de Mudanças Climáticas do G8 + 5, visando auxiliar os países emergentes
nas metas para o consumo consciente de energia e na redução de emissões
atmosféricas.
Sendo assim, ao longo da evolução, os seres humanos tornaram-se os
maiores responsáveis pela degradação do meio ambiente. Como confirmam as
palavras de Neiman (1989) “A poluição, os desmatamentos, a exploração irracional
dos recursos naturais, a degradação dos solos agricultáveis e outras agressões
atingiram, no último século, níveis inadmissíveis”. (p. 1). Contudo, ultimamente, tem-
se vivenciado grandes preocupações ambientais. Isto se dá porque atualmente a
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
natureza vem sendo degradada de forma tão rápida que a vida no planeta já vem
sendo ameaçada.
Desta forma, a humanidade atual vem se deparando com problemas
socioambientais relativamente novos. Com a migração para os grandes centrosurbanos, caracterizando-se pelo afastamento da natureza, as pessoas passaram a
encará-la apenas como recursos naturais disponíveis, exclusivamente como bens
consumíveis, esquecendo-se que a biota é um sistema em equilíbrio.
Baseando-se nisso, em pouco tempo tornaram-se claros os sintomas que
provavam a não sustentabilidade desse modelo. Primeiro, porque alguns recursos
naturais são finitos e insuficientes para atender às crescentes demandas dessa
sociedade consumista. E, finalmente, os seres humanos dependem, como as outras
espécies, que o sistema esteja em pleno funcionamento. Entretanto, o único ser
racional do Planeta nem sempre tem a consciência de que suas atitudes podem
intervir positiva ou negativamente para esse meio e, logo, sua responsabilidade é
inigualável.
Assim, o aumento populacional aliado à má distribuição da riqueza e ao
extremo consumismo tem transformado a espécie humana numa ameaça aos
demais seres do planeta. Esse consumismo exige das indústrias um acelerado
aumento no processo produtivo. Se elas continuarem nesse ritmo, estar-se-á fadado
a assistir um colapso total dos sistemas biológicos.
Com isso, por meio de constantes debates nacionais e internacionais sobre
questões em prol da preservação do meio ambiente, a população vem sendo
informada quanto à problemática ambiental planetária. A imprensa também tem
desempenhado papel importante no processo de divulgação dos problemas
ambientais. Contudo, há uma carência de informações técnicas capazes de oferecer
subsídios para que cada cidadão possa fazer suas próprias constatações.
Hoje, a maioria dos seres humanos vive em cidades e, talvez por esse motivo,
se esqueçam dos problemas ambientais. Entretanto, as condições de vida da maior
parcela dessa população estão muito aquém do minimamente digno. Assim, pode-se
constatar que, dificilmente, um cidadão que vive à margem da sociedade irá se
preocupar com os problemas ambientais, pois possuem problemas diários muito
mais indispensáveis, ou seja, sua sobrevivência imediata.
Contudo, ciente dessa urgência, Neiman apresenta outra situação evidente,
mas nem sempre notada:
A luta por uma distribuição de renda mais justa para a população brasileira
deve ser, sem dúvida, a prioridade nacional, mas a morte de nossos
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
ecossistemas só agravaria o quadro de degradação de nossa qualidade de
vida. (NEIMAN, 1989, p. 93)
Partindo desse pressuposto, a construção sustentável vai muito além do
conservacionismo, ela é mais uma opção de vida, ao qual se tem uma relação
equilibrada do ser humano com o meio, do que a simples memorização de
informações técnicas.
Com isso, o indivíduo deve-se preocupar em ter a consciência de que tudo o
que se tira em excesso, e não se repõe devidamente, acabará chegando ao fim. É o
que poderá acontecer se não houver a preocupação com os desgastes excessivos
de recursos naturais, utilizados inadequadamente, para muitas vezes sanar a
vaidade e o consumismo, como cita Dias em sua obra:
Os recursos da Terra são suficientes para atender as necessidades de
todos os seres do planeta se forem manejados de forma eficiente e
sustentada. Tanto a opulência quanto a pobreza podem causar problemas
ao meio ambiente. (DIAS, 1998, p. 141)
Desta forma, entende-se que é necessária a mudança de hábitos e a reflexão
sobre a problemática ambiental, para que as gerações futuras possam ter a mesma
qualidade de vida atual. Sendo necessárias, para isso, mudanças comportamentais
do cidadão quanto sua relação com o meio ambiente, acabando-se com o
paradigma de que os recursos naturais são benefícios eternos, exclusivos dos seres
humanos. E compreender que esse é parte integrante da natureza e do meio em
que se vive, formando uma relação de troca, onde ela reage de acordo com a
integração que sofre, devolvendo o que recebe. As palavras de Reigota expressam
perfeitamente a importância do desenvolvimento sustentável.
O problema ambiental não está na quantidade de pessoas que existe no
planeta e que necessita consumir cada vez mais os recursos naturais para
se alimentar, vestir. [...] o problema está no excessivo consumo desses
recursos por uma pequena parcela da humanidade e no desperdício e
produção de artigos inúteis e nefastos à qualidade de vida. (2001, p. 9).
Destarte, parece que o “cinza” criado nas grandes cidades fez o ser humano se
esquecer de que toda a matéria-prima usada para seu conforto é proveniente dos
recursos naturais, recursos esses que, se não forem usados com responsabilidade,
poderão se extinguir mais rápido que se pode imaginar.
3 - Construção Sustentável
Algumas culturas usam os animais por inteiro – do focinho ao rabo e do bico
à garra – para fins de alimentação e vestimenta; devemos fazer o mesmo
com as árvores, o granito e os recursos ameaçados e superexplorados,
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
utilizando todo o seu potencial de maneira criteriosa. (BURKE; KEELER,
2010, p. 24).
Sabe-se que as atividades desenvolvidas pelos seres humanos sempre
causaram impactos ambientais, contudo, desde o início da Revolução Industrial, ao
se visar alcançar um alto grau de industrialização, ao qual atendesse ao
consumismo vigente, os problemas relacionados à poluição e ao uso acentuado dos
recursos naturais foram potencializados. Desse modo, de acordo com Burztyn
(1994), esse pensamento levava-se em conta “A utilização de um padrão tecnológico
que parte do pressuposto da inesgotabilidade dos recursos ambientais, bem como a
grande diversificação e mobilidade poluentes [...]”. (p. 13). Sendo assim, fica claro
que este processo sistemático e espesso de degradação ambiental contribui para o
crescente elemento de escassez dos recursos naturais.
Para tanto, somente após a 2ª Guerra Mundial, foi que se deu início à
preocupação com o crescimento econômico, priorizando a construção de novas
indústrias. Onde, apenas na década de 70 surgiu a consciência ecológica. Dessa
forma, nos anos 80 começou a ser realizado o planejamento ambiental visando
minimizar os impactos ambientais causados pelas indústrias. As palavras de Castro,
1996 confirmam essa passagem:
A Constituição de 88 confirmou a tendência à maior regulamentação
ambiental para o funcionamento das empresas, seguida também pelos
Estados e Distrito Federal. A partir daí, passou a existir instrumento jurídico
para qualquer cidadão brasileiro interferir nos processos de degradação
ambiental. (p. 39)
Ou seja, a Constituição Federal de 88 regulamentou a obrigatoriedade do
licenciamento, um instrumento de controle para o exercício legal das atividades que
modificam o meio ambiente. Sendo assim, para a implantação dessas atividades, as
empresas passaram a ter que solicitar as licenças junto aos órgãos ambientais,
dependendo do porte e potencial poluidor.
No mesmo período, na Alemanha, passa a existir o conceito de gestão
ambiental, quando as empresas verificaram que os custos utilizados para a proteção
ambiental poderiam ser revertidos em diferencial competitivo. Sendo assim, em 90,
esse termo foi questionado devido aos acidentes ambientais que traziam catástrofes
mundiais, constatando-se que, esses problemas não são apenas locais, mas
globais.
Com isso, novas leis vêm se formando com o intuito de alinhar esses padrões
de atuação e, hoje, a sociedade tem tido mais atenção ao comportamento ético das
empresas. De tal modo que, já é inadmissível que uma empresa não tenha o mínimo
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
de comprometimento ambiental, sendo cobrada, em escalas crescentes. Como
confirma o relato de Júnior:
A sobrevivência da organização está intimamente ligada ao conceito de
desenvolvimento sustentável, pois a sociedade não mais tolera ou tolerará
as agressões ao meio ambiente como aquelas causadas nas décadas
passadas por empresas que não tinham essa preocupação. (1998, p. 15).
Ou seja, ultimamente,além de implantar um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA), as empresas precisam mantê-lo em constante melhoria, buscando, cada vez
mais, métodos e equipamentos que evitem ou reduzem os impactos ambientais
inerentes à atividade. Assim: “Cada vez mais as organizações devem se preocupar
em aumentar sua ‘eco-eficiência’, ou seja, sua eficiência na utilização dos recursos
não renováveis, matérias-primas, energias, água e uso do solo e do ar.” (JÚNIOR,
1998, p. 14).
Deste modo, a fim de se padronizar as normas, foi criada a International
Organization for Standardization (ISO), federação mundial de entidades nacionais,
tendo como principal objetivo criar normas internacionais. De onde surgiu a série
ISO 14000, as quais indicam as ferramentas e um padrão de SGA. Com isso, por
meio da política ambiental, a instituição poderá sistematizar sua gestão visando à
melhoria contínua em relação às questões ambientais. Nesse sentido, de acordo
com Castro a série ISO 14000 tem por finalidade:
[...] contribuir para a melhoria da qualidade ambiental, diminuindo a poluição
e integrando o setor produtivo na otimização do uso dos recursos
ambientais. São normas que também atendem às exigências ambientais do
consumidor consciente de nossa época. (CASTRO, 1996, p. 67)
Igualmente, congregando centenas de países, o Brasil também participa da
ISO por meio da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sociedade
privada, sem fins lucrativos, que foi fundada em 1940, certificando produtos e
sistemas e elaborando normas para diversos domínios de atividades.
Durante muitos anos, acreditava-se, no entanto, que o atendimento às
normas ambientais era mais um grande ônus para a empresa, que comprometeria
até na sua capacidade de se manter no mercado e que, com isso, aumentaria a taxa
de desemprego. Ao contrário do que se pensava o processo para a certificação
ambiental não é necessariamente caro e, hoje, já se consegue provar sua
viabilidade econômica, ambiental e social.
Além disso, utilizando-se as palavras de Donaire (1995), atualmente, pôde-se
provar que “o envolvimento das organizações com as questões sociais pode
transformar-se numa oportunidade de negócios [...]” (p. 23). Isso se dá por vários
motivos, entre outros: mantimento da capacidade de produção; venda dos resíduos
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
industriais como sucatas, insumos, óleo e graxa usados, que outrora eram
descartados inadequadamente; e, principalmente, o atendimento às partes
interessadas, à saúde e à qualidade de vida em geral. Essas atitudes têm propiciado
grande economia que poderia não ser adquirida caso a questão socioambiental não
entrasse no enfoque.
De tal modo que, segundo Donaire (1995): “[...] não pode haver nenhuma
esperança de existir uma organização viável economicamente em uma sociedade
deteriorada socialmente” (p. 22). O que quer dizer que os problemas relacionados à
poluição gerada pela industrialização, somados às dificuldades de saneamento
básico, saúde pública deficiente, grande crescimento demográfico e pobreza,
contribuem para o processo de degradação ambiental, o que evidencia a
necessidade de se assegurar um desenvolvimento que seja realmente sustentável.
Para que assim, de acordo com as palavras de Burztyn (1994) possam-se buscar
estratégias “fundamentadas na idéia de que é muito mais interessante, tanto do
ponto de vista ambiental como do ponto de vista econômico, prevenir os danos
ambientais do que procurar remediá-los posteriormente”. (p. 21)
Sendo assim, dentre outros, os principais problemas ambientais atuais são
relacionados a:
 Recurso Hídrico
Estima-se que 74% da superfície terrestre é composta por água. Contudo, por
mais abundante que pareça ser, apenas 0,8% é própria para o consumo humano,
incluindo as subterrâneas, que podem estar a 4000 metros de profundidade. O
restante do líquido encontra-se nas geleiras e oceanos.
Portanto, a atividade humana vem contaminando os recursos hídricos por
meio do lançamento de efluentes e produtos químicos e da disposição inadequada
dos resíduos, onde, de acordo com o Campalini e Ricardo (2007) “[...] com isso, o
País dos rios começa a se transformar no País dos esgotos” (p. 291). O fato mais
preocupante nesta questão é que, de acordo com estudos, a renovação de um
lençol freático pela Natureza ocorre num prazo de 1.400 anos.
 Atmosfera
As principais fontes de poluição do ar são resultados da queima de carvão e
de combustíveis fósseis e do lançamento de poluentes industriais, como dióxido de
enxofre e de nitrogênio, que, além de prejudicar a saúde humana, também é
responsável pelos gases de efeito estufa, podendo ocasionar reversões climáticas,
superaquecimento da terra e até mesmo o descongelamento das geleiras. Estes
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
gases impedem que os raios solares que incidem sobre a terra retornem para o
espaço, acumulando calor.
Igualmente, outro problema decorrente da poluição atmosférica é a chuva
ácida, onde esses gases combinam-se com o hidrogênio presente na atmosfera sob
a forma de vapor d’água. A água da chuva, assim como a geada, a neve e a neblina
ficam carregadas de ácido sulfúrico ou ácido nítrico. Ao caírem na superfície, alteram
a composição química do solo e das águas, atingem as cadeias alimentares,
destroem florestas e lavouras, atacam estruturas metálicas, monumentos e
edificações.
A destruição da camada de ozônio é outro fator preocupante, pois o ozônio é
o gás responsável por proteger o Planeta Terra, retendo cerca de 95% da radiação
ultravioleta solar. A intensa utilização do clorofluorcarboneto (CFC), utilizado em
aerossóis e sistemas de refrigeração é a responsável por essa perda, que, além de
outros efeitos, vem aumentando o índice de câncer de pele nos seres humanos.
 Resíduos Sólidos
O humano é o único ser que gera resíduo e, até pouco tempo, não havia
nenhum tipo de preocupação com o seu descarte, era comum se livrar dele de
qualquer forma e em qualquer lugar, poluindo os recursos hídricos e o solo, além da
potencial transmissão de doenças. Hoje, as pessoas vêm se conscientizando quanto
à disposição adequada desses materiais, que, se for segregado corretamente,
poderá ser reutilizado ou reciclado. Como pode ser observado na frase de Addis:
Embora possa ser considerado um conceito bastante não científico, é
provável que a abordagem mais prática para decidir entre alternativas de
reúso ou reciclagem seja o bom senso, baseado em algum entendimento da
natureza dos resíduos e do impacto ambiental, moderado pelo uso e pela
disponibilidade de materiais. (2010, p. 113)
Entretanto, o Brasil ainda precisa melhorar ou mudar muitos dos seus hábitos,
conforme estudos, em 2010, os brasileiros produziram, diariamente, em média 240
mil toneladas de resíduos sólidos, onde, 98% desses detritos foram direcionados aos
aterros ou lixões e o restante para a reciclagem ou compostagem - processo de
fabricação de adubo orgânico utilizando restos de alimentos e podas de árvores.
Portanto, o trecho a seguir constata que:
As quantidades de lixo produzidas no Brasil mostram que ainda temos o que
reduzir ou reutilizar. No entanto, os índices de reciclagem e as quantidades
de lixo que ainda são aterradas mostram que ainda temos muito para
reciclar. (CAMPALINI; RICARDO, 2007, p. 404)
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
 Consumo dos Recursos Naturais
A pressão exercida pelos humanos sobre os recursos naturais vai muito além
do atendimento às necessidades básicas de sobrevivência, pois, está calcada na
busca insaciável de manter padrões de vida ditados pela sociedade atual.
Tal modelo de desenvolvimento econômico se fundamenta no lucro a
qualquer custo, e este é atrelado à lógica do aumento da produção os
recursos naturais são utilizados sem respeitar a capacidade natural de
recomposição, e a natureza é vista com um grande supermercado gratuito,com recomposição infinita de estoque, observando-se os benefícios e
desprezando-se os custos. (DIAS, 2002, p. 116)
Nesse sentido, a Construção Sustentável trata-se de um conjunto de
alternativas adotadas antes, durante e após a execução da obra, com o intuito de
garantir economia financeira, utilização consciente dos recursos naturais, evitando a
poluição e garantindo maior conforto e qualidade de vida para os moradores ou
usuários da edificação.
Sendo assim, na fase de projeto deve-se prever a utilização de recursos
reciclados ou menos impactantes, assim como sua procedência, priorizando
materiais, mão-de obra e fornecedores locais.
Assim como a utilização de energias alternativas e o aproveitamento da
luminosidade e ventilação naturais, devendo-se avaliar os impactos ambientais da
obra, como também o ciclo de vida do empreendimento. Igualmente, um plano de
gerenciamento de resíduos deve ser elaborado, visando à redução da geração, a
reutilização interna e a reciclagem da sobra.
Da mesma forma, durante a execução da construção devem-se colocar em
prática os planos desenvolvidos na fase de projeto, buscando-se a priorização da
adoção de técnicas de engenharia que evitem desperdícios e retrabalhos. Logo, com
o término da construção, devem ser previstos mecanismos que permitam, aos
moradores e usuários, manter atitudes sustentáveis.
Nesse ínterim, a ideia desse tipo de construção já existe em países
desenvolvidos há algum tempo, onde os construtores recebem benefícios e
incentivos para as obras de cunho socioambiental. No Brasil, essa questão é mais
recente, mas vem atingindo grande espaço, incentivando a execução de projetos
sustentáveis, com reconhecimento internacional.
Dessa forma, serão apresentados os principais materiais e métodos para que
uma construção possa ser considerada sustentável:
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
 Estrutura e revestimento
Importantes para a economia energética, as principais estruturas e
revestimentos para o alcance desse objetivo são:
 Adobe: mistura de argila, areia, água, palha e fibra de coco ou esterco. É um bom
isolante térmico e acústico.
 Pedra natural: apresenta boa durabilidade e baixa manutenção, assim como bom
isolamento térmico e acústico, entretanto, aumenta custo e tempo.
 Palha: recurso ecológico e econômico que pode ser usado na construção civil,
porém, os cuidados com incêndio devem ser altamente observados.
 Madeira: produto de origem vegetal, mas que deve ser certificado, trabalhado de
maneira correta, pode atingir a resistência do concreto armado, porém com mais
elasticidade.
 Bambu: cultivado de maneira adequada dispensa o uso de pesticidas.
 Tijolo: pode ser produzido com o biogás, o que reduz as emissões atmosféricas e
garante menor energia incorporada ao produto.
 Jardim vertical: complemento estético e funcional, além de servir como isolante
térmico e acústico, ajuda na purificação do ar.
 Consumo de energia
O projeto sustentável deverá priorizar a utilização de energia renovável, o
diferencial, neste caso, é a diversificação da fonte de consumo:
 Solar fotovoltaica: placas solares que geram cargas elétricas quando expostas ao
sol, onde o sistema faz a conversão em corrente alternada para consumo doméstico.
 Solar térmica: aproveitamento da energia solar para aquecimento da água e de
ambientes.
 Eólica: produzida pelo vento, pode ser aplicada sobre o telhado ou em mastros.
 Geotérmica: reaproveitamento do calor interno da Terra para abastecimento de
edificações ou infraestrutura com água quente e aquecimento. Sua instalação deve
ser feita durante a terraplenagem.
 Ciclos combinados calor e energia: sistemas duplos de produção de calor e
eletricidade, gerando economia devido a pouca perda de transferência energética.
 Estratégias passivas: as mais sustentáveis, onde o projeto leva em consideração
o alto isolamento térmico e o aproveitamento do calor e iluminação natural.
 Economia de água
Item essencial, devendo ser previsto em projeto:
 Coleta e reutilização de água pluvial: podendo gerar a economia de 30 a 45% de
água.
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
 Durante a obra, deve-se buscar reutilizar a água, sempre que possível.
 Gestão de resíduos sólidos
Implantação da coleta seletiva. Nesse aspecto, o conceito de Construção
Sustentável vai muito além da solução de um único problema ambiental, de acordo
com Burke e Keeler (2010) deve:
Tratar das questões de demolição no terreno e de resíduos da construção,
bem como dos resíduos gerados pelos seus usuários; Buscar a eficiência na
utilização dos recursos; Minimizar o impacto da mineração e do extrativismo
na produção de materiais e contribuir para a recuperação dos recursos
naturais; Reduzir o consumo de solo, água e energia durante a manufatura
dos materiais, a construção da edificação e a utilização por seus usuários;
Planejar uma baixa energia incorporada durante o transporte dos materiais
do terreno; Buscar a conservação de energia e projetar visando ao consumo
eficiente de energia [...]; Oferecer um ambiente interno “saudável”; Evitar o
uso de materiais de construção e limpeza que emitam compostos orgânicos
voláteis [...]; Controlar a entrada de poluentes externos por meio de filtragem
do ar, ventilação e capachos adequados [...]; Projetar uma conexão com o
exterior que forneça ventilação natural, iluminação diurna e vistas para o
exterior. (p. 49 e 50)
 Campanhas para Consumo Consciente
Os colaboradores devem ser treinados e incentivados à adoção de práticas
conscientes no dia-a-dia, como: reduzir o desperdício de materiais, água e energia;
reutilizar quando possível; e reciclar sempre.
Portanto, de acordo com estudiosos, para que um empreendimento seja
sustentável, ele deve buscar a união entre os aspectos econômicos, ambientais e
sociais, ou seja, ele não deve onerar o custo da construção, pelo contrário, deve
buscar redução, inclusive pós-obra, precisa utilizar produtos e energia mais limpas e
menos impactantes e propiciar melhor qualidade de vida aos moradores ou usuários.
Por isso, a certificação LEED (Leardership on Energy and Environmental
Design), traduzindo, Liderança em Projetos de Energia e Ambientais, utilizada em
diversos países de todo o mundo, trata-se de um sistema internacional de
certificação ambiental para edificações e tem como objetivo estabelecer diretrizes e
orientações para projetos e obras focados na sustentabilidade. Deste modo: “[...] as
edificações sustentáveis do século XXI fazem tanto sentido quanto as máquinas, os
eletrodomésticos e o desenho industrial, ou seja, são invenções de alto
desempenho.” (BURKE; KEELER, 2010 p. 52)
A certificação LEED também possui o intuito de incentivar a transformação
dos projetos, obras e operação das edificações, sempre com foco na
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
sustentabilidade de suas atuações. De acordo com dados GBG Brasil, referentes ao
ano de 2014, no país há 182 edifícios certificados e 391 em processo de
certificação. O que comprova que as construções atuais estão mais engajadas em
buscar métodos construtivos e sistemas mais sustentáveis, e que a construção civil
vem buscando aprimoramento. De tal modo que, os benefícios da implantação de
um sistema como esse são:
 Econômicos
Redução dos custos operacionais e de riscos, valorização do imóvel,
velocidade da ocupação, aumento da retenção e modernização da edificação.
 Sociais
Desenvolvimento e capacitação profissional, priorização da saúde e
segurança dos colaboradores, inclusão social, melhoria da produtividade, destaque
daqueles fornecedores que apresentam mais responsabilidade socioambiental,
satisfação e qualidade de vida dos usuários e estímulo à Construção Sustentável.
 Ambientais
Consumo consciente de água, energia e demais recursos naturais, obra mais
organizada, redução das emissões atmosféricas, redução, reutilizaçãoe reciclagem
dos resíduos e utilização de tecnologias com menor impacto ambiental.
Portanto, a determinação dos mecanismos de economia, dos recursos e
materiais que serão utilizados na construção e funcionamento do empreendimento
deve ser definida na fase de projeto, como afirma Duran, 2010: “Um projeto bem
resolvido evita muitas decisões de última hora derivadas do planejamento deficiente
e que impedirão seu bom funcionamento durante a sua vida útil.” (p. 50)
Entretanto, enquanto esse tipo de certificação não se tornar obrigatório para
as construções atuais, será difícil manter um modelo de construção sustentável que
seja realmente respeitado. Em outras palavras: [...] diretrizes sólidas surgirão apenas
quando o ato de construir sustentavelmente deixar de ser uma opção e se tornar
uma necessidade. (BURKE; KEELER, 2010, p. 50)
4 - Considerações Finais
O artigo buscou apresentar que, ao longo dos tempos, a sociedade sempre foi
responsável pelo processo de degradação ambiental, potencializado pelo avanço da
industrialização. Foi visto que, caso continue esse modelo atual, poderão surgir
consequências irreversíveis.
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
Contudo, a construção civil poderá contribuir para a mudança desse cenário,
por meio da aplicação de tecnologias conscientes e, em conjunto com as áreas do
conhecimento, será possível transformar atitudes e valores.
Diante do exposto, pode-se constatar que é possível e viável a construção
sustentável, já existem os meios e as estratégias, porém, faz-se necessário, neste
momento, o reconhecimento da sua importância e o incentivo de sua aplicação, pois,
muitos exemplos de sucesso foram executados e são diversas as soluções técnicas
disponíveis.
Enfim, pode-se concluir que, cada dia mais, a engenharia vem evoluindo e
executando projetos antes considerados impossíveis, isso, graças ao avanço da
tecnologia, a pesquisa, e a experimentação de novos métodos e materiais. Nela, não
existe uma solução universal para todos os projetos, mas sim recursos diversos para
cada situação, buscando, ainda, a sustentabilidade.
5 - Referências Bibliográficas
ADDIS, Bill. Reuso de materiais e elementos de construção. São Paulo: Oficina
de Textos, 2010.
BURZTYN, Maria Augusta Almeida. Gestão Ambiental: instrumentos e práticas.
Brasília: IBAMA, 1994.
BURKE, Bill; KEELER, Marian. Fundamentos de Projeto de Edificações
Sustentáveis. Porto Alegre: Bookman, 2010.
CAMPALINI, Maura; RICARDO, Beto. Almanaque Brasil Socioambiental. São
Paulo: 2007.
CARSON, Rachel Louise. Primavera Silenciosa. Disponível em:
http://ongcea.eco.br/?p=8260 Acesso em 02 set. de 2013.
CASTRO, Newton de (et al). A questão ambiental: o que todo empresário precisa
saber. Brasília: SEBRAE, 1996.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental Princípios e Práticas. 5. ed. São
Paulo: Global, 1998.
DIAS, Genebaldo Freire. Fundamentos de Educação Ambiental. Brasília:
Universa, 2000.
Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015
DIAS, Genebaldo Freire. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São
Paulo: Gaia, 2002.
DONAIRE, Denis. Gestão ambiental na empresa. São Paulo: Atlas, 1995.
DURAN, Sergi Costa. A casa ecológica: ideias práticas para um lar ecológico e
saudável. Barcelona: GG, 2010.
FRANÇA, Poliana Miranda. A Educação como instrumento de gestão ambiental.
Belo Horizonte: 2010.
GBC BRASIL. Certificação LEED. Disponível em: http://gbcbrasil.org.br/sobre-
certificado.php Acesso em: 10 mar. de 2015.
GOLDEMBERG, José. Et al. O desafio da sustentabilidade na construção civil.
São Paulo: Blucher, 2011.
JUNIOR, Ênio Viterbo. Sistema Integrado de Gestão Ambiental: como
implementar um sistema de gestão que atenda a norma ISO 14001, a partir de um
sistema baseado na norma ISO 9000. São Paulo: Aquariana, 1998.
JOURDA, Francoise-Hélène. Pequeno manual do projeto sustentável. Barcelona:
GG, 2012.
MÜLLER, Dominique Gauzin. Arquitetura ecológica. São Paulo: Senac, 2010.
NEIMAN, Zysman. Era verde? Ecossistemas brasileiros ameaçados. 18.ed. São
Paulo: Atual, 1989.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001.
VENÂNCIO, Heliomar. Minha casa sustentável: guia para uma construção
residencial responsável. São Paulo: Zambini, 2010.

Continue navegando