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Maria Eduarda de Alencar - Odontologia 2019.2 Somestesia Anatomicamente, o sistema nervoso (SN) é dividido em central (SNC) e periférico (SNP). → SNC está completamente protegido por um arcabouço ósseo, compreende a medula espinhal, envolvida pela espinha dorsal, e o encéfalo, recoberto pelo crânio. → SNP é composto pelos receptores sensoriais, pelos nervos sensoriais e motores e pelos gânglios. Fisiologicamente, o SN é dividido em sensorial ou aferente e motor ou eferente. → Sensorial: Informação da periferia (Interno e Externo) → SNC → Motora: Informação do SNC → Músculos Ambas as divisões sensorial e motora envolvem componentes dos sistemas nervosos central e periférico. SOMESTESIA Compreende o processamento de informações sensoriais referentes ao tato, à temperatura, à dor e à propriocepção. As informações somestésicas são iniciadas a partir de receptores sensoriais, que são constituintes do sistema nervoso periférico. → Receptores Sensoriais: Permitem que nós consigamos captar as informações do ambiente externo (exteroceptores) ao nosso corpo, e reagir sobre esse ambiente, ou permitem a captação de alterações internas (interoceptores), levando a informação aos órgãos do SN, que são responsáveis pelo ajuste daquela função; Obs.: As informações podem ser percebidas ou não, as que são novidade e as essenciais para nossa sobrevivência, no geral, são percebidas, mas existem outras que nos adaptamos a elas ou que não afetam a nossa sobrevivência, essas não são percebidas pelo indivíduo. As sensações são subjetivas, ou seja, são sentidas de acordo com as experiências do indivíduo ou fatores culturais ligados a ele. → Estrutura dos receptores sensoriais: São neurônios do tipo pseudounipolares. Esses neurônios possuem o corpo celular localizado no gânglio da raiz dorsal da medula espinhal. Do corpo celular parte um prolongamento axonal, que se divide em dois ramos. Um dos ramos inerva pele e músculos, o outro faz sinapse no SNC. Os receptores são considerados transdutores de energia, pois eles detectam os sinais e transformam eles em energia elétrica – potencial de ação. Os sinais vão ativar os receptores e induzir a abertura de canais iônicos, o que causará a despolarização da célula e gerará um P.A, esse P.A vai percorrer todo o axônio até chegar no outro ramo, que faz sinapse com o SNC, fazendo com que seja possível a sensação. A velocidade de propagação dos potenciais de ação depende de características das fibras axonais, tais como o diâmetro e a presença ou não de bainha de mielina. A maioria das sensações táteis e proprioceptivas é propagada através de axônios calibrosos e mielinizados, são fibras do tipo Aα e Aβ. A maior parte das sensações térmicas e nociceptivas é propagada através de fibras delgadas (Aδ) e de fibras amielínicas (C). → Classificação dos receptores sensoriais: Além da divisão em exteroceptores e interoceptores, os receptores sensoriais podem ser classificados de acordo com o tipo de energia que detectam e quanto a estrutura que possuem: TIPO DE ENERGIA QUE DETECTAM - Termoceptores; - Baroceptores; - Nociceptores; - Mecanoceptores; *Proprioceptores: são, geralmente, interoceptores e mecanoceptores; - Fotoceptores: captam a energia luminosa e são interoceptores; - Quimioceptores; *Osmorreceptores captam energia química, são um tipo de quimiorreceptores e são interoceptores. ESTRUTURA - Simples: Terminação nervosa livre; - Encapsulados: A terminação nervosa é revestida por cápsula de tecido conjuntivo; - Associados a células: Possuem uma célula especializada associada à terminação neuronal. ESPECIFICIDADE AO ESTÍMULO A maioria dos receptores somestésicos é específica para um determinado tipo de estímulo, que é chamado de estímulo adequado ao receptor. O neurônio que capta calor, por exemplo, captará apenas calor, outro neurônio sensorial é que irá captar frio. Existem células diferentes para cada estímulo, o estímulo adequado mesmo sendo fraco, muitas vezes, ainda consegue gerar P.A. Obs.: Um estímulo não adequado potente pode chegar a gerar P.A. Contudo, existem receptores que respondem com a mesma intensidade a diversos sinais, esses são chamados de Receptores Polimodais, os nociceptores, por exemplo, respondem a estímulos químicos, térmicos e de pressão da mesma forma. MECANISMO FISIOLÓGICO DA SENSAÇÃO A função do receptor sensorial é interagir com os estímulos no ambiente. O estímulo produzirá uma alteração no potencial de membrana do receptor. Caso essa alteração seja suficiente para alcançar o limiar de despolarização da célula, será gerado um potencial de ação que se propagará até o SNC. Nem todas as informações se propagam até o córtex cerebral, mas para tomarmos consciência de algo a informação deve chegar até lá. O mecanismo fisiológico da sensação é semelhante para todos os receptores, independente do estímulo ou do receptor, os impulsos nervosos que se originam nos receptores chegam ao SNC da mesma maneira. Dessa forma, o que diferencia uma sensação de outra são as diferentes partes do córtex cerebral que recebem as mensagens, cada sensação é processada em uma região específica do cérebro. ➔ MAPA SOMATOTÓPICO: A área de representação cortical não é proporcional à área do corpo. A cabeça, por exemplo, tem uma grande área de representação cortical, sendo então uma área de grande sensibilidade. Se um determinado receptor é perdido, por exemplo a visão, a área responsável pela visão vai reduzir no córtex e outras regiões, adjacentes ou não, vão aumentar sua conexão, tato e audição, por exemplo. Obs.: Quanto maior a estimulação em uma área, maior será o número de sinapses naquela região – Plasticidade cerebral. FATORES QUE INFLUENCIAM NAS RESPOSTAS SOMESTÉSICAS → Núcleos de Relé (retransmissão): Os neurônios sensoriais que inervam pele e músculos são considerados neurônios de 1a ordem. Eles farão sinapse ao nível da medula espinhal ou do tronco encefálico. O neurônio seguinte será considerado de 2a ordem e, assim, sucessivamente. A transmissão das informações sensoriais até o córtex cerebral depende da retransmissão que ocorre nos núcleos de relé que se localizam na medula espinhal ou no tronco encefálico (núcleos são corpos neuronais dentro do SNC). Nos conscientizamos apenas de sensações que alcançam o córtex cerebral; → Campo receptivo: A região receptiva de cada neurônio aferente (sensorial) na pele ou no músculo é chamada de campo receptivo. Esses campos podem ser grandes ou pequenos. Quanto menor o campo receptivo, maior a densidade de campos e maior a capacidade de discriminação de dois pontos. O inverso ocorre se os campos receptivos forem grandes. A polpa digital, por exemplo, possui elevada densidade de campos receptivos pequenos, isto a torna uma região de alta sensibilidade a estímulos próximos e simultâneos. Já a escápula possui regiões com campos receptivos maiores, portanto, ela é uma região com menor capacidade de discriminação de dois estímulos simultâneos. → Inibição lateral: A região central de excitação é limitada por regiões de inibição a cada lado. Auxiliam na localização precisa do estímulo. Quando determinada região periférica é estimulada, há uma tendência de que as áreas adjacentes ao estímulo também o sejam. Entretanto, o neurônio estimulado faz sinapse com neurônios inibitórios localizados no SNC, que influenciam as regiões circunvizinhas, fazendo com que o neurônio estimulado fique despolarizado e os neurônios adjacentes fiquem hiperpolarizados. Isto promove um contraste mais forte entre a área estimulada e a área vizinha que se tornou inibida. Esta propriedade se expressa mais fortemente nas regiões mais distais e se torna mais fraca nas regiões axiais (no tronco, eixo do corpo). Nas vísceras, ela praticamente inexiste, por isso nesses locais ocorre o que conhecemoscomo dor referida, difícil de ser identificada com precisão. → Adaptação do receptor: Um determinado estímulo pode deixar de ser percebido, gradativamente, com o passar do tempo, ainda que esse estímulo permaneça presente, na mesma intensidade inicial. A adaptação pode ocorrer de forma lenta ou rápida. - Sensações táteis (mecanoceptores): os receptores de adaptação lenta captam estímulos tônicos (de força), enquanto que os receptores de adaptação rápida detectam estímulos de velocidade, movimento, vibração; - Termoceptores: possuem adaptação lenta; Há relatos de que, fisiologicamente, alguns receptores não se adaptam: - Nociceptores: captam dor; - Quimioceptores: captam as pressões parciais de oxigênio no sangue; - Baroceptores: detectam a pressão arterial. Dentre os mecanismos para explicar o fenômeno de adaptação está a dessensibilização (acomodação) do receptor. Inicialmente, o estímulo induz a geração e propagação de um potencial de ação, ocorrendo a percepção de uma sensação. Para tanto, são ativados os canais de Na+ dependentes de voltagem, mas se o estímulo permanece, os canais deixam de ser sensibilizados, tornando-se hiporresponsivos ao estímulo presente. Assim, potenciais de ação não ocorrem e as sensações deixam de ser percebidas. Uma nova percepção ocorrerá se um estímulo adicional for realizado, ou, quando o estímulo é removido. Outro mecanismo de adaptação ocorre no corpúsculo de Pacini, quando ocorre o estímulo, há inicialmente deformação das lamelas de tecido conjuntivo, fazendo com que elas alcancem a terminação neuronal. Posteriormente, as camadas internas das lamelas se reorganizam, finalizando a estimulação da terminação neuronal e, consequentemente, a propagação do potencial de ação, com sua respectiva sensação. MODALIDADES SOMESTÉSICAS → RECEPTORES TÁTEIS (MECANOCEPTORES) • Não encapsulados: - Terminações nervosas livres: Podem detectar toque e pressão, mas são pouco discriminativos; - Órgão piloso terminal: Fibra nervosa entrelaçada na base dos pelos. O deslocamento do pelo causa a sensação tátil. A adaptação é muito rápida e discriminativa. • Encapsulados: - Corpúsculo de Meissner: Terminação nervosa encapsulada alongada que excita uma fibra nervosa sensorial de grande diâmetro. Estão localizados na pele sem pelos (pele glabra), são muito abundantes na ponta dos dedos e lábios. Possuem elevada capacidade em discernir as características espaciais das sensações de toque; - Discos de Merkel: Coexistem com os corpúsculos de Meissner, mas também ocorrem na pele com pelos (onde não há Meissner). Transmitem sinais inicialmente fortes, depois reduzem seu ritmo, mantendo um sinal fraco contínuo (adaptação parcial). Detectam tato, principalmente a textura das superfícies tocadas; - Terminações de Ruffini: Localizados nas camadas mais profundas da pele e em outros tecidos mais profundos. Estão também presentes nas articulações, ajudando a sinalizar o grau de rotação da articulação. São receptores de adaptação lenta, detectam o estado de deformação contínua da pele e dos tecidos profundos, tais como toque e pressão mais fortes e contínuos; - Corpúsculo de Pacini: Situam-se abaixo da derme e em tecidos profundos, são estimulados por movimentos muito rápidos dos tecidos, são de adaptação muito rápida. Detectam vibração ou modificações extremamente rápidas do estado mecânico tecidual; - Bulbos terminais de Krause: Estão presentes em regiões limítrofes da pele com as membranas mucosas, ao redor dos lábios e dos genitais. → PROPRIOCEPTORES As sensações proprioceptivas são também conhecidas como sensações de posição. Propriocepção é a capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural a cada instante. As sensações proprioceptivas podem ser de dois tipos: - Sensação de posição estática: A percepção consciente da orientação das diferentes partes do corpo relacionadas entre si; - Sensação de velocidade de movimento, cinestesia ou propriocepção dinâmica. • Proprioceptores: - Fuso muscular: São receptores intramusculares que detectam o grau de estiramento muscular; - Órgãos tendinosos de Golgi: Encontrados nos tendões musculares, informam ao SN o grau de tensão muscular; - Receptores articulares e cervicais (mecanoceptores); - Aparelho vestibular: Localizados no ouvido interno, são considerados órgãos do equilíbrio, detectam estímulos de desequilíbrio corporal. → TERMOCEPTORES A sensibilidade térmica não é uniformemente distribuída na pele. Há regiões com número maior de receptores para o calor e, outras, para o frio. Os termoceptores consistem de terminações nervosas livres, que se adaptam a estímulos de longa duração (adaptação lenta). - Receptores para o calor: estão ativos em temperaturas entre 30 °C e 45 °C, quanto mais alta a temperatura, maior o número de receptores ativos. Acima de 45 °C esses receptores se inativam e passam a ser ativados os nociceptores. As fibras sensoriais para o calor são do tipo C (amielínicas); - Receptores para o frio: são estimulados em temperaturas entre 35 °C e 10 °C; quanto mais baixa a temperatura, maior a ativação desses receptores. Os receptores para o frio se tornam inativos abaixo de 10 °C; temperaturas inferiores a essa induzem um efeito anestésico. As fibras aferentes para o frio são do tipo Aδ (mielinizadas). → NOCICEPTORES Os nociceptores são terminações nervosas livres, sensíveis a diversas modalidades sensoriais, tais como temperaturas superiores a 45 °C, substâncias químicas (ácidos, bases, hipóxia), estímulos mecânicos. As vias aferentes que conduzem as informações da dor lenta são compostas por axônios amielínicos (fibras do tipo C), as que propagam a dor rápida são fibras do tipo Aδ (delgadas, porém mielinizadas). O neurotransmissor liberado na sensação de dor rápida é o glutamato e, na sensação de dor lenta, o glutamato e a substância P. VIAS SOMATOSSENSORIAIS Há duas vias ascendentes principais que conduzem as informações sensoriais até o córtex somatossensorial. - Via leminiscal: É o sistema da coluna dorsal que propaga as informações de tato discriminativo, pressão, vibração, discriminação de dois pontos e propriocepção. - Via espinotalâmica: consiste do sistema anterolateral que conduz os sinais de dor, temperatura e tato suave. Se todos os estímulos, da mesma via, estiverem acontecendo ao mesmo tempo a sensação percebida é reduzida, mesmo o estímulo continuando o mesmo, visto que na condução das informações a via neuronal é a mesma até o córtex.
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