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O CONCEITO DE CULTURA

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ESTHER SILVA DE SOUSA
 O CONCEITO DE CULTURA
	IRECÊ- BA
		2018	
Texto dissertativo sobre o conceito de cultura da disciplina Estudos Socioantropologicos.
IRECÊ- BA
2018
 
 O conceito de cultura ainda é constantemente associado à intelectualidade, conhecimento e até mesmo sofisticação, ou seja, ligado ao nível social e educacional, sendo atribuída a indivíduos considerados letrados e conhecedores da arte, literatura e outras áreas do conhecimento. Nesse sentido, aqueles que não possuem esses certos conhecimentos são taxados como “sem cultura”. Assim, segundo Roberto da Matta, em “Você tem cultura?”, onde faz a distinção entre os vários conceitos de cultura, considera que o termo nesse aspecto é confundido com inteligência:
Cultura aqui é equivalente a volume de leituras, a controle de informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundido com inteligência, como se a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência), fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode falar, ou ao quadros e pintores que pode, de memória, enumerar. (DA MATTA, 1891, pág. 1)
Dessa forma, a palavra cultura como senso comum, está sendo empregada para discriminar, separar de forma ambivalente, entre “ter” ou “não ter” cultura, caracteriza os indivíduos pelo seu aparato educacional e intelectual.
 Antropologicamente, o conceito de cultura não se refere à forma hierárquica ou individual, mas sim a um conjunto de regras onde indivíduos distintos, cercados de significados que dão sentido ao mundo inserido, enlinhados em uma rede de crenças, valores, costumes, leis e moral que influencia no comportamento de uma comunidade. Assim, de acordo com o conceito antropológico:
Para nós ''cultura" não é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de "civilização" mas a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia Social e Sociologia, um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas. (DA MATTA, 1891, pág. 2)
 Sendo assim, a cultura é organizada por um numero finito de regras, que permite variações dentro de uma única cultura, onde esse conjunto de regras classifica uma visão de mundo. Não é um código que se pode escolher, já estamos inseridos internamente e externamente nele. Assim, de acordo com Da Matta, “As regras que formam a cultura (ou a cultura como regra) é algo que permite relacionar indivíduos entre si e o próprio grupo com o ambiente em que vivem.” (1891, pág. 2) - essa relação resulta das diversas configurações que são estabelecidas nas sociedades no decorrer das próprias historias.
 Esse compartilhamento de códigos entre um conjunto de indivíduos divergentes permite que, como um grupo, estes possam viver juntamente com um sentimento de pertencimento de uma totalidade horizontal, que permitem- se desenvolver normas consideradas como modos adequados de comportamento perante a cada situação.
 Roque de Barros Laraia vai dizer que “Mesmo antes da aceitação do monogenismo, os homens se preocupavam com a diversidade de modos de comportamento existente entre os povos” (1989, pág. 6) – evidenciando assim, que os seres humanos estiveram atentos as diferenças comportamentais de outros grupos, e para conviver “respeitosamente” desenvolveram códigos de interação.
 Entretanto, a variedade de culturas que convivem e interagem dentro de uma comunidade ou fora dela, consequentemente nos faz perceber que a cultura não é um sistema puro, ou que um individuo é dotado apenas de um todo conjunto cultural, assim segundo Laraia, “Nenhum individuo é capaz de participar de todos os elementos da sua cultura.” (pág. 82). Desse modo, o individuo pode preservar aspectos de sua cultura e ao mesmo tempo aderir costumes de outra cultura que independe de sua nacionalidade.
 Nesse sentido, as sociedades interagem- se constantemente e assim cada cultura possui um código de funcionamento. Ao depararmos com uma cultura distinta, a tendência é condenar o diferente como algo absurdo e irracional, portanto, se as culturas forem compreendidas em seus determinados contextos e particularidades, pode- se então, evitar conflitos e estereótipos criados para considerar uma única cultura correta e uniforme.
Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro. Infelizmente, a tendência mais comum é de considerar lógico apenas o próprio sistema e atribuir aos demais um alto grau de irracionalismo. (LARAIA, 1986, p.90)
 Essa maneira de condenar o diferente é chamada de etnocentrismo, onde os indivíduos pertencentes a uma cultura consideram que apenas ela agi de maneira correta, onde Laraia vai definir como um fenômeno universal:
O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a reação, ou pelo menos, a estranheza, em relação aos estrangeiros (...) comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais. (LARAIA, 1986, p. 75)
 Mas é na negação ou aceitação do novo, que através do contato com outras culturas, as sociedades se modificam ou reafirmam a própria cultura que os leva a construção de uma identidade.
REFERÊNCIAS
DA MATTA, Roberto. Você tem cultura?. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zhar, 1987.

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